Ano vii
Número 19 Junho de 2014
revista laboratório do 3º semestre do curso de comunicação social – jornalismo | ufsm
ditadura na ufsm: onde estão os arquivos?
especial
Mudanças no ingresso e na permanência na Universidade
junho de
2014
a o leitor
tempo de mudanças Inesperada e com um ritmo que sempre surpreende quem passa por ela, a mudança vem pra quem não tem medo de arriscar. Toda a construção desta edição de .TXT foi cercada de transformações. O projeto gráfico é novo e há outras editorias. Mudou também a forma de acesso à UFSM e a porcentagem de vagas para cotistas. Caíram matérias, entraram novas e aos poucos construímos uma revista diferente daquela que imaginamos quando começamos a planejá-la no início do semestre. Nós arriscamos desde o início. Criar um novo projeto gráfico levou tempo. Tivemos discussões, propostas aceitas e outras rejeitadas mas buscamos um consenso para acolher as ideias. As pautas e seus possíveis desdobramentos, as cores de cada título e as artes de ilustração pensadas e feitas à mão mostram a vontade de mudar da nossa equipe e de fazer um trabalho de qualidade para os leitores. Algo que mostre que não somos apenas estudantes; somos, antes de tudo, apaixonados pelo que fazemos. Falamos em mudanças, mas não ignoramos o passado. Para que fosse possível modificar a revista,
nos debruçamos nas edições anteriores para conhecermos o caminho percorrido até então por jovens estudantes de Jornalismo que, assim como nós, ajudaram a construir a história de .TXT. Assim, projetar essas alterações e pensar o futuro só foram possível graças aos olhares que lançamos ao passado. Um exemplo desse movimento de retrospecção é apresentado em nossa reportagem de capa, que investiga o paradeiro de documentos do regime ditatorial iniciado em 1964, bem como as relações da UFSM com o governo militar. Há transformaçõess cujo resultado conseguimos ver na hora. Outras, o tempo é que irá mostrar. A mudança no acesso à UFSM foi uma das mais significativas. O vestibular substituído pelo SiSU e os 50% de cotas são avanços cujos reflexos serão vistos com o decorrer dos anos. Esperamos que todas essas mudanças sirvam para democratizar o acesso à universidade e fazer com que ela se pinte de povo. Daniela Sangalli, Maria Helena da Silva, Marlon Dias e Viviane Borelli
revista laboratório do 3º semestre do curso de jornalismo da ufsm edição editores de produção projeto gráfico
Viviane Borelli Daniela Sangalli Gonçalves, Maria Helena da Silva e Marlon Dias Marcelo Kunde – Curso de Produção Editorial (ufsm)
diagramação
Jocéli Bisonhim Lima - Coordenadora; Aline Silva Witt, Clara Sitó Alves, Jéssica Loss Barrios, Júlio Porto Desordi, Marina Fortes Barin, Matheus Ribeiro Santi e Vitória Faturi Londero
revisão
Andressa Doré Foggiato e Gustavo Martinez - Coordenadores. Bárbara De Barros Barbosa, Camila Hartmann, Carolina Escher Gonçalves, Luana Soares Mello, Luiza Moura Tavares, Mateus Martins de Albuquerque e William Ricardo Boessio
foto e arte
divulgação e distribuição
edição on - line foto de capa professora responsável endereço
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data de fechamento impressão
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tiragem
Nadine Kowaleski Ribeiro - Coordenadora; Jéssica Loss Barrios, João Moro de Oliveira, Lenon Martins de Paula, Matheus Ribeiro Santi, Nicolas Limberger Correa, Nicoli Stürmer Saft e Thiago Álvares da Trindade Amanda Boeira, Gabriele Wagner de Souza , Julia Nadine Feltraco Schapowal, Lucas Altamor Delgado, Mateus Martins de Albuquerque e Vanessa Gonzaga Noronha Lenon Martins de Paula e Luan Moraes Romero Nadine Kowaleski Ribeiro Viviane Borelli Mtb/RS 8992 Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234 Telefone: (55) 3220-8487 13 de junho de 2014 Imprensa Universitária da UFSM | 700 exemplares
www.ufsm.br/txt txt.revista@gmail.com facebook.com/txt.ufsm
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Entrevista com a diretora do Ipê Amarelo Laboratório inovador na área da saúde e do esporte
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Cooperação entre UFSM e exército
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Expansão do Ensino a Distância A busca por arquivos dos anos de chumbo
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Atendimento psicológico à comunidade
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Especial: as consequências da adesão da UFSM ao Sisu
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Incertezas na nova gestão do HUSM
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Materiais descartados devem ser recolhidos
Situação da ciclovia
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UFSM é destino para jovens intercambistas
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Opções de diversão noturna
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Bandas universitárias Produção literária de docentes
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Ipê Amarelo comemora 25 anos com conquistas A Ipê Amarelo é a Unidade de Educação Infantil da Universidade Federal de Santa Maria e completa 25 anos em 2014. Quando foi criada, em 24 de abril de 1989, a creche tinha o intuito de atender aos filhos de servidores e alunos da UFSM, mas, a partir deste ano, isso mudou. A implantação do concurso público para professores e a abertura da escola para a comunidade santa-mariense representam grandes conquistas. A fim de saber mais sobre a escola Ipê Amarelo, a .txt realizou uma entrevista com a atual diretora da creche e presidente da Associação das Unidades Universitárias de Educação Infantil (Anuufei), professora Viviane Ache Cancian. REPORTAGEM: Marina Fortes; FOTOGRAFIAS: Nicoli Saft; DIAGRAMAÇÃO: Jocéli Lima
.txt – Como ocorreu a abertura da Ipê Amarelo para .txt – De que forma se constrói o ensino na Ipê a comunidade? Amarelo? Viviane – Nós conseguimos, depois de muitas tentativas, Viviane – Nós seguimos as Diretrizes Curriculares Naabrir o edital público para ingresso de crianças de toda co- cionais de Educação Infantil e baseamos toda a nossa munidade. Foram aproximadamente 600 inscritos para con- proposta pedagógica nelas. Trabalhamos as múltiplas correr às vagas. Antes da abertura do edital, as vagas eram linguagens: artística, corpórea e musical. A leitura esdivididas em porcentagens para servidores e estudantes da crita aparece através do professor, ele é o leitor e o esUniversidade. Essa reserva foi abolida, porque nós somos criba da criança na sala de aula. Nós focamos muito na uma escola pública; o direito de ingresso é igual para qual- leitura, na literatura infantil e nos textos informativos, quer criança concorrer através do sorteio. Nós realizamos porque assim contemplamos a importância da educao sorteio publicamente, ao vivo via internet e com a pre- ção infantil sendo um espaço formativo de leitores e sença dos auditores da Universidade. Tivemos ingresso de não de antecipação da alfabetização, que é dever dos filhos de pessoas vinculadas à UFSM, mas, principalmente, três primeiros anos do Ensino Fundamental. Com isso, crianças da comunidade externa. A procura foi muito gran- garantimos o tempo da criança ser criança, já que o eixo de, mas só temos capacidade para 106 crianças, sendo que norteador das diretrizes é “brinquedos e brincadeiras”. a maior parte é de turno integral, o que diminui o número das vagas. Mesmo assim, estamos muito contentes de ter as .txt – Como é o processo de aproximação da Unidanossas crianças de volta, porque no final de 2013 estávamos de com os cursos da UFSM? com um número bem reduzido, de mais ou menos 50. En- Viviane – Nós não somos apenas uma unidade de edutão, começar o ano com essa conquista e com as crianças é cação infantil, mas também uma unidade universitáuma realização para nós. ria, na qual atendemos crianças de forma qualificada e, principalmente, porque nós temos acadêmicos de graduação aqui dentro. A Ipê Amarelo é um espaço formativo de ensino, pesquisa e extensão. Com isso, os estudantes ganham muito na hora da formação, na hora de estar dentro da sala de aula e efetivar um planejamento na prática. Há uma grande diferença entre um aluno ir algumas vezes em uma escola, durante ou no final do curso, e ele estar inserido em uma unidade como a Ipê todos os dias. Os estagiários são, na sua maioria, da Pedagogia e da Educação Especial. Os bolsistas são de diversos cursos: Fonoaudiologia, Desenho Industrial, Música, Artes Cênicas, Odontologia, Nutrição. Nós sempre renovamos as inscrições, para dar espaço a todos.
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.txt – Como os bolsistas, estagiários e outros profissionais atuam na Ipê? Viviane – Além dos alunos, nós temos profissionais da saúde como fonoaudiólogos e nutricionistas, mas eles não atuam diretamente com as crianças. Eles realizam o diagnóstico e veêm de fato quais são os problemas que as crianças têm e guiam os professores para que eles possam corrigi-los em sala de aula. Esses profissionais acabam orientando a formação dos docentes. Nessa perspectiva, não é um trabalho especializado à parte, eles realizam um trabalho conjunto na formação. Os bolsistas, normalmente, trabalham por fora. Os do Desenho Industrial, por exemplo, criam, dentre outras coisas, projetos para um parquinho. Já os estagiários atuam mais diretamente no ensino das crianças e acompanham as professoras em sala de aula. .txt – Como é realizado o trabalho com as crianças com necessidades especiais? Viviane – Esse ano, nós temos cinco crianças portadoras de necessidades especiais: com síndrome de down, cadeirante e com múltiplas deficiências. O Ministério da Educação nos cedeu uma sala para atendimento a essas crianças. O ensino que elas recebem é o mesmo, não há diferenciação na sala de aula. A professora de Educação Especial entra, às vezes, para auxiliar no trabalho a ser desenvolvido. Uma das coisas que mais nos chama atenção é a capacidade de recepção das crianças. É fantástico, porque elas sempre querem ajudar o coleguinha. O mais importante é que nós conseguimos fazer a inclusão. txt – Esse ano houve uma grande procura pela Ipê. Vocês pensam em ampliar o espaço? Viviane – Sim, o sonho da Ipê Amarelo é tornar a Unidade um colégio de aplicação do Ensino Fundamental também. Nós queremos seguir o molde do Núcleo de Educação da
Infância (NEI) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que são colégios que tem continuidade da Educação Infantil no Ensino Fundamental. Porém, nós não pensamos em ampliar este espaço, onde nos localizamos hoje. O que nós realmente queremos é uma nova unidade. Num outro espaço, no qual as crianças possam ter mais parques externos, mais espaço livre e para que nós possamos ter mais vagas e salas de aula. Há uns três anos, realizamos um projeto pra essa nova casa, que inclusive foi solicitado pela Reitoria da UFSM. Nós enviamos, mas, infelizmente, não conseguimos levar a ideia adiante. .txt – Qual foi a maior conquista nesses 25 anos da Ipê Amarelo? Viviane – A abertura da Unidade à comunidade santa-mariense e o concurso público para docentes, foram duas conquistas importantíssimas. Elas marcam uma nova fase para nós. Outro sonho que nós tínhamos e que eu, particularmente, tinha desde que cheguei aqui em 2007, era ter um apoio administrativo. Porque eu sempre me questionei, como nós podíamos estar dentro da UFSM e, ao mesmo tempo, ter essa fragilidade financeira e administrativa. Então esse apoio que estamos recebendo é muito importante. O diferencial é sermos reconhecidos e tratados como uma unidade aqui dentro da Universidade. O aporte financeiro para podermos desenvolver projetos é muito importante, mas o fato essencial é que agora acreditam no nosso espaço, acreditam que ele é muito significativo para a educação das crianças. A partir de agora, nós esperamos ter um crescimento e uma valorização maior da Ipê Amarelo. Afinal, nós somos uma Unidade de Educação Infantil que cuida das crianças, mas também auxilia muito na formação dos estudantes de graduação da UFSM.
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Sumá rio gia tecnolo
UFSM INAUGURA LABORATÓRIO INOVADOR RELACIONADO À SAÚDE E AO ESPORTE a universidade ganhou recentemente mais um motivo para figurar entre os principais polos de pesquisa do país. por meio de desenvolvimento tecnológico realizado na área da hipoxia e coordenado pelo professor luiz osório portela, o centro de educação física e desportos inaugurou o lapas – laboratório de performance e ambiente simulado. REPORTAGEM: Júlio Desordi e Lucas Delgado; FOTOGRAFIAS: Matheus Santi; DIAGRAMAÇÃO: Júlio Desordi
Construído a partir de uma parceria entre o professor Luiz Osório e o médico e fisiologista Jorge Luiz Palma Freire com o Ministério do Esporte, o novo laboratório possibilita o estudo da fisiologia humana em um ambiente que pode ser predeterminado pelo pesquisador. Há diversas possibilidades de simulações relacionadas às condições climáticas, tais como: umidade, altitude, vento e temperatura. Cria-se o ambiente necessário de acordo com o objetivo almejado nos resultados finais, seja ele para atletas olímpicos, ou para pesquisas. A história começou em 2010, quando Jorge Luiz Freire, na época diretor do Hospital Universitário, recebeu o convite do amigo Luiz Osório para começar um projeto de pesquisa na área da saúde, iniciando assim a sua relação com o CEFD. Formada a parceria, foi criado o projeto para a construção do LAPAS, que substitui o anterior método usado no laboratório. A técnica antiga utilizava máscara facial que, por vezes, atrapalha-
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va alguns dos voluntários na pesquisa e tratamento. Juntos, os professores buscaram o Ministério da Ciência e Tecnologia para construir um novo local de preparação para pilotos de caça da Base Aérea, localizada em Santa Maria. A ideia inicial utilizava pilotos, pois em voôs com caças (aviões de altíssima velocidade) eles poderiam sentir dificuldades por causa da diferença de altitude e pressão além de correr o risco de perder os sentidos. Após a alteração do enfoque do projeto – a fim de adaptar o resultado final àquilo que era pretendido pelos idealizadores -, passou a ser direcionado à preparação de atletas para competições esportivas. Com esse pretexto, a dupla novamente buscou o Governo Federal e, através do Ministério do Esporte, conseguiu a verba - em torno de R$ 1 milhão - para construir a câmara e adquirir a aparelhagem necessária. Entretanto, para Osório, como o LAPAS fica na Universidade, é ideal também que o la boratório seja usado no ensino e na pesquisa – além de aplicar o conhecimento no esporte. A metodologia pode ser ainda eficaz no tratamento de doenças, porém é pouco explorada no contexto atual da medicina. Doenças cardiovasculares (como hipertensão arterial), colesterol alto, diabetes, doenças respiratórias, por exemplo, poderão ser tratadas nos laboratórios associados ao LAPAS e já estão em atividade no CEFD.
Com o laboratório em funcionamento, a pesquisa dos professores procura produzir um aumento do desempenho físico, tendo como objeto de análise atletas de alto nível, inclusive desportistas do cenário olímpico. Após o treinamento realizado durante dez dias no LAPAS, a ciclista Clemilda Fernandes conquistou o quarto lugar no Campeonato Pan-Americano no México, ocorrido neste ano. Com o resultado, ela assegurou o índice necessário para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, que ocorrerão em 2015. “Quando a equipe da ciclista chegou, comentaram que esperavam uma sala com um ar-condicionado e se surpreenderam com a estrutura. Fizemos então o treinamento em dez dias, o que já foi suficiente para render o excelente resultado. A partir disso, a Confederação Brasileira de Triathlon já manifestou interesse em utilizar o Laboratório”, comenta Freire. Aos desportistas que desejam participar de competições, o laboratório é fundamental no processo prático, tendo em vista simular locais com condições climáticas distintas às usuais de treino. “Quando os atletas praticam esportes em condições adversas e ainda sem preparação, colocam em risco a sua própria saúde. Então estamos dando a oportunidade para quem quiser se preparar de forma adequada”, afirma Osório. Além disso, há um leque de possibilidades que se abrem tanto para o progresso de atletas – para os quais o programa é destinado - quanto para a população em geral que busque essa experiência. “É uma estrutura única no Brasil, comporta uso de cadeira de rodas e bicicletas na esteira, que simula subida, descida e outros possíveis cenários. Isso é prestígio para a universidade, gera novos recursos e melhorias no CEFD e em toda UFSM”, complementa Freire.
Os alunos também poderão ter acesso ao moderno laboratório para fins de estudos. Grupos de pesquisa da Universidade também terão a possibilidade de participar de projetos no LAPAS. Porém, como o projeto foi financiado pelo Ministério do Esporte, o enfoque será na preparação de atletas. Os responsáveis do Laboratório têm o compromisso de enviar ao governo relatórios que comprovem a eficiência e a fidelidade ao projeto, para que investimentos continuem a ser feitos no CEFD. Além dos benefícios à pesquisa, o LAPAS é um primeiro passo para a construção de um Centro de Treinamento. Com as infraestruturas necessárias, o objetivo é que a UFSM se torne um polo de preparação de atletas na América do Sul. “O objetivo é fazer um centro de treinamento completo, com um prédio adequado, laboratórios e dormitórios”, diz Freire. Osório complementa essa ideia: “O setor da hotelaria precisa ser melhorado, já que Santa Maria fica totalmente fora do eixo Rio-São Paulo. A ideia principal é procurar pessoas interessadas daqui, para que possamos desenvolver a região e tornarmos a cidade e a Universidade referências”. Com um futuro ambicioso, o CEFD deverá receber atletas olímpicos em preparação para os Jogos de 2016, no Rio de Janeiro. Esse é o primeiro passo a fim de abrigar uma quantidade maior de atletas. Além disso, há a possibilidade de desenvolvimento de pesquisas ligadas à saúde e à performance esportiva.
ENTENDA A HIPOXIA: - É uma redução no teor de oxigênio no sangue, seja ela por um processo natural devido ao ambiente, ou simulado. - Com menos oxigênio, o corpo perde potência muscular, logo, os atletas de alto rendimento precisam se adaptar ao novo cenário. - Para que isso ocorra os atletas treinam em altitude, que pode ser simulada no LAPAS.
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tecnolo gia
UFSM E EXÉRCITO: acordo promove desenvolvimento e modernização de simuladores
quando o assunto é tecnologia aplicada à defesa, tem-se a ufsm como uma referência nacional. o acordo firmado com o exército no ano passado proporcionou uma relação que só se fortalece entre ambas as partes: a de cooperação para o desenvolvimento tecnológico na área de defesa. reportagem e fotografia :
Lenon Martins de Paula;
O acordo corresponde a um Memorando de Entendimento e faz parte de um projeto mais amplo no qual estão incluídos vários subprojetos que envolvem a criação de simuladores para veículos em desenvolvimento e a modernização dos já existentes. A assinatura do Memorando de Entendimento ocorreu no dia 30 de agosto de 2013, no Centro de Instruções de Blindados (CIBld), e contou com a presença do chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, general de Exército Sinclair Mayer; do Comandante da 3ª Divisão de Exército, general Geraldo Miotto; do ex-reitor da UFSM, professor Felipe Müller; entre outras autoridades militares e convidados. Este foi o primeiro Memorando de Entendimento estabelecido no estado e o oitavo no Brasil. Segundo o general Mayer, este é o maior acordo já firmado entre o Exército e uma universidade pública, o que torna a UFSM o centro dos projetos militares. Conforme o professor do Centro de Tecnologia (CT), João Baptista Martins, após um ano da assinatura do memorando, um grupo formado por seis professores e quatro alunos, todos do CT, trabalham no primeiro subprojeto: a modernização do Dispositivo de Simulação e
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diagramação :
Aline Witt
Engajamento Tático (DSET, na foto, ao lado), no valor de quase R$ 2 milhões. Trata-se de um laser posicionado no canhão dos blindados Leopard 1A5 que simula a trajetória de uma munição real. O DSET utilizado atualmente faz o processamento e registro dos dados do tiro simulado (velocidade, angulação do canhão, margem de erro, entre outros dados) através de uma impressora térmica localizada internamente em cada blindado e, para fins de análise, é necessário recolher as impressões após o exercício de simulação para verificá-las lado a lado. Para não haver erros na interpretação da análise, essa tarefa é feita minuciosamente, de forma a tornar este processo lento e custoso. Além disso, os dados impressos são compostos por abreviaturas no idioma alemão, o que também dificulta a efetividade do processo de interpretação. O trabalho de modernizar este dispositivo ocorre desde janeiro e pretende aprimorar esta tecnologia em dois principais aspectos: transmissão dos dados e idioma. Atualmente se faz necessário dispor todas as impressões do DSET em uma mesa e analisar detalhadamente os dados apenas após a simulação, além de enfrentar a barreira dos dados em alemão. Com a modernização proposta pelos pesquisadores do CT será possível transmitir os dados da simulação em tempo real para um receptor móvel, de forma que a interpretação da análise ocorra simultaneamente aos tiros disparados pelo dispositivo de simulação. Além disso, os dados processados poderão ser transmitidos em três idiomas: português, espanhol e inglês. Assim, será estabelecida uma redução significativa do tempo de treinamento, tanto no processo de transmissão dos dados para a análise como no processo de interpretação, facilitado pela incorporação do idioma português ao dispositivo. A modernização do DSET deve estar concluída no final de 2015.
e s pe c ial
nova forma de ingresso
lei das cotas regularizada
obras para moradia e alimentação
PĂĄginas 10 a9 15
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Sumá es pecial rio
Nova forma de ingresso na UFSM Dia 22 de maio de 2014 passa a ser um dos mais importantes para a história da Universidade Federal de Santa Maria. Em reunião, realizada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), decidiu-se que o ingresso nos cursos de graduação da instituição passa a ocorrer, em sua totalidade, por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). Reportagem: Andressa Foggiato e Jocéli Lima; Arte: Web; Diagramação: Jocéli Lima
O vestibular da UFSM existia há mais de 30 anos e era considerado tradição na cidade. Santa Maria era destino de muitos estudantes que procuravam preparação pré-vestibular e uma vaga na Federal. Nas suas últimas edições, a UFSM contava com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para complementar sua avaliação. O novo modelo de ingresso na UFSM, o SiSU,é um sistema online que por meio das notas do ENEM seleciona candidatos interessados a ingressar em instituições de Ensino Superior de todo o Brasil. As inscrições são feitas pela internet, no site www.mec.gov.br, no início de cada semestre letivo. O candidato pode se inscrever para duas opções de curso na mesma universidade, ou em diferentes instituições. No ano de 2014, 57 das 59 universidades federais do país já adotavam o SiSU totalmente ou parcialmente, como forma de ingresso nos seus cursos de graduação. A prova do ENEM é realizada anualmente e é dividida em dois dias. No primeiro dia, são 45 questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias e 45 de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. No segundo dia, são 45 questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, 45 de Matemática e suas Tecnologias,além da prova de redação.
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A DECISÃO Os membros do CEPE (Reitor, Vice-Reitor, representantes de cada Centro, docentes, servidores e alunos) decidiram, após votação, pelo ingresso na UFSM através do SiSU a partir do primeiro semestre 2015. O objetivo principal da mudança é democratizar o acesso ao ensino superior público no país, já que do total de 5,95 milhões de estudantes matriculados no ensino superior, 4,43 milhões estão na rede privada e 1,52 milhões estão na rede pública. O índice de alunos em instituições públicas é de 25%, segundo resultados do Censo Escolar de 2010. Sobre o fato da decisão ter sido tomada de forma repentina, na avaliação da população, o reitor da UFSM, Paulo Burmann afirma que “o debate esteve aberto sempre, e todas as possibilidades de 10, 20, 30, 50, 70, 100% sempre foram uma possibilidade naplenária.” Quando questionado a respeito da adoção ocorrer na véspera do encerramento das inscrições para o ENEM, Burmann declarou que já havia sido anunciado oficialmenteque a UFSM utilizaria 20% da nota do ENEM para completar sua avaliação. Os alunos interessados em prestar vestibular para ingressar na universidade já deveriam ter se inscrito para o exame. Com a extinção do vestibular, a Comissão Permanente do Vestibular (Coperves) não perde sua função na UFSM. A partir de então, seu encargo estará ligado ao auxílio do processo de seleção pelo SiSU, assim como na relação da Universidade com as escolas de Santa Maria. A única alteração prevista é na nomeação do órgão.
O REFLEXO Comércio
Em nota oficial conjunta, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Maria (CDLSM) e o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Santa Maria (Sindilojas) denotam insatisfação quanto à extinção do vestibular já para este ano. Alegando prejuízos econômicos, sociais, culturais e de adaptação imediata, o CDL e o Sindilojas afirmam “justamente atendendo ao chamado da inclusão, que defendemos a reavaliação da decisão tomada. Pela inclusão daqueles milhares de estudantes que hoje, sem tempo hábil para se inscrever em outro processo seletivo, adiarão o sonho de ingressar à Universidade por mais um ano.” Ensino
Os cursos pré-vestibulares de Santa Maria relataram que já possuíam conhecimento da possibilidade de adoção de 100% de vagas para ingresso por meio do SiSU. Porém, a surpresa foi a iminência desta mudança, já que ocorreu no meio do semestre letivo, precedida do anúncio de mudanças no modelo de redação. Agora, haverá um processo de adaptação não somente profissional, mas também metodológico, já que os materiais deverão ser revisados, assim como o calendário letivo, para que ambos se adequem à proposta do ENEM. O diretor do pré-vestibular Riachuelo, Marcos Falkenbach, não descarta o prejuízo para o aluno que jáestava em processo de preparação para um modelo de prova diferente do proposto pelo ENEM. Já para o diretor Roberto Müller, do Totem Vestibulares, a mudança foi um desrespeito com os alunos. “Mas o aluno não será prejudicado, visto que o foco, embora dado na UFSM, já englobava questões referentes ao ENEM”, enfatiza. A professora de História do cursinho Pré-vestibular Popular Alternativa, Eliza Militz, afirma que embora os alunos tenham ficado nervosos quanto à perspectiva de mudança no vestibular, essas alterações tendem a trazer benefícios. Para ela, a partir de agora haverá maior democratização da educação e o público alvo do cursinho - alunos de escolas públicas e pessoas que já terminaram seus estudos eque não possuem condições financeiras - passa a ter maiores chances no ingresso na Universidade. Nas escolas públicas, as alterações não serão tão grandes. Os conteúdos distribuídos no ensino médio não estavam atrelados à UFSM, pois já havia a busca por uma visão mais reflexiva dos conteúdos,direcionada tanto para o ENEM quanto para outros concursos e vestibulares do estado. No entanto, para
a diretora do Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac, Méri Nogueira, a escola pública de Santa Maria encontra-se a mercê de todos os processos e decisões da UFSM, já que o investimentona educação básica é menor quando comparado ao Ensino Superior. Para as escolas particulares, além da mudança de foco no ensino, medidas externas são tomadas. Além da manifestação ocorrida no dia 28 de maio contra as alterações na forma de ingresso na UFSM, um grupo de escolas entregou um documento à UFSM com uma ação jurídico-administrativa de quebra de contrato pedagógico. Aprendizagem
Dentre os estudantes, a reação e as palavras proferidas são semelhantes. Vários apontaram insatisfação quanto à mudança repentina na forma de ingresso na UFSM, assim como falaram em angústia e medo da concorrência. Escolas públicas e particulares, além dos cursinhos realizam um plano de apoio para os estudantes, alertando-os e direcionando-os para uma melhor prática de estudo. Para a estudante do 2º ano do ensino médio do Colégio Riachuelo, Natália Almeida, a mudança inesperada da UFSM surpreendeu a todos “afinal, que Universidade faria tal mudança após o início do ano letivo e no dia anterior ao encerramenWto das inscrições do Enem? Desvalorizaram o trabalho de cada instituição de ensino e modificaram totalmente o rumo dos estudantes”. Para a aluna do último ano da Escola Estadual de Ensino Médio Cilon Rosa, Tarcieli Martins, a decisão da UFSM desestimula os alunos que já vinham com uma rotina de estudos específica para as provas da UFSM.Entretanto, se a mudança tivesse ocorrido no início do ano, ela seria bem-vinda, já que o tempo de adaptação seria maior.
REVERSÃO Há movimentações e tentativas para reverter a situação por parte dos estudantes, do comércio e das escolas de Santa Maria. O reitor não descarta o retorno da discussão acerca das mudanças no vestibular: “se houver algum argumento muito consistente é possível que o conselho volte a discutir a existência do vestibular”.
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ufsm regulariza lei de cotas a democratização do acesso ao ensino superior em santa maria teve uma vitória histórica. além da mudança na forma do ingresso (o sisu substitui o vestibular tradicional), o conselho de ensino, pesquisa e extensão (cepe) também aprovou a reserva de 50% das vagas dos cursos de graduação das instituições federais para alunos de escolas públicas, o que finaliza o processo de regulamentação da lei 12.711. reportagem :
Luan Romero, Maria Helena da Silva, Nicoli Saft e Vanessa Gonzaga;
A lei sancionada em agosto de 2012 garante a reserva de 50% das vagas para alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas, com recortes socioeconômicos, em que a metade é destinada aos estudantes com renda familiar menor que um salário mínimo e meio per capita. Também prevê que haja uma reserva para alunos afro-brasileiros e indígenas, porém a percentagem destinada a esses estudantes é variável conforme
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fotografia :
Nicoli Saft; diagramação : Clara Sitó Alves
o percentual mínimo da soma de pretos, pardos e indígenas de cada estado brasileiro, conforme o censo do IBGE. As universidades têm até 2016 para gradativamente adequarem-se à lei. A importância dessa medida pode ser vista pelos argumentos apresentados em artigo escrito pelo reitor da Universidade Federal de Santa Maria, Paulo Burmann: “É do conhecimento público que os estudantes de escola pública re-
presentam a maior parcela da comunidade estudantil do país. No entanto, basta olhar para dentro das universidades federais para constatar que muitos deles não têm acesso à universidade pública planejada, construída e sustentada pelo dinheiro público”. A UFSM já possuía um Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Social e Racial. Desde 2007, a resolução N. 011/07 define a reserva de vagas para alunos afro-brasileiros, pretos e pardos, indígenas, portadores de necessidades especiais e estudantes oriundos de escolas públicas. O programa de ações afirmativas também propõe medidas para o acompanhamento e a permanência desses alunos. O Afirme é o observatório responsável pelas questões de acesso e assistência para esses alunos. Há uma preocupação não somente no ingresso, mas também na permanência durante os anos de curso. O Plano de Assistência Estudantil (Pnaes) é o responsável pelos recursos que serão disponibilizados para as universidades atenderem esses acadêmicos. Casa do estudante, restaurante universitário, benefício socioeconômico, bolsa trabalho e auxílio material são algumas das ações existentes na UFSM. Assistência estudantil é uma pauta corrente
nos debates tanto dentro do Afirme quanto em movimentos sociais e representações estudantis, como o Diretório Central dos Estudantes. Apesar de a UFSM ser uma referência nessas questões, para o representante do DCE, Felipe Costa, é preciso que a universidade atinja um novo patamar a partir da implementação dos 50% de cotas. Para ele, a democratização do acesso à universidade é um primeiro passo para que surjam novas demandas. O DCE entende que é preciso mais que ‘casa e comida’ como medidas de permanência, uma vez que ações que envolvam a formação profissional, desenvolvimento cultural e apoio pedagógico são essenciais para que o estudante continue dentro da universidade. O aumento do número de alunos cotistas já no próximo ano torna algumas questões mais urgentes, como a ampliação da Casa do Estudante Universitária (CEU) e do Restaurante Universitário, a conversão das bolsas trabalho para bolsas de ensino, pesquisa e extensão, a construção de uma lavanderia coletiva na CEU e a construção de uma unidade de saúde para o atendimento dos alunos. Segundo Felipe Costa, atualmente essas são as principais demandas do DCE frente à reitoria.
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Sumá es pecial rio No mês de junho está programada uma Jornada de Lutas que tem como pauta a assistência estudantil. O objetivo é que o debate, tanto das cotas como o da permanência, seja colocado para toda a comunidade acadêmica. Por já haver uma portaria que regulamenta as ações afirmativas dentro da UFSM, a distribuição das vagas será diferente a partir da implementação da Lei 12.711. Atualmente são disponibilizadas 14 vagas extras para estudantes indígenas na UFSM, que entra em contato com o cacique de cada tribo para saber quais os interesses e as necessidades para depois os encaminhar aos
cursos escolhidos. Contudo, os alunos indígenas não têm um futuro definido. A lei estabelece a obrigatoriedade do estudo em escola pública, o que segundo a professora e coordenadora o PET Indígena, Ceres Karam, não constitui uma realidade comum. Os portadores de necessidades especiais, que não são contemplados na lei de cotas e têm o seu acesso à Universidade por meio de ações afirmativas próprias da UFSM, irão ter um novo índice de reserva de vagas. O Pró-reitor de graduação, Albertinho Gallina ainda não sabe dizer como as ações afirmativas vão ficar com os 50% das cotas. Todas as decisões sobre esse assunto irão ser tomadas em reunião do CEPE (sem data prevista) para a elaboração de um novo edital, em que todas as questões que ainda estão em aberto serão definidas.
Cotistas matriculados depois da Lei das Cotas
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2014 2013 Aluno do Sistema Público de Ensino Médio com renda familiar bruta mensal igual ou inferior a 1,5 salário mínimo nacional Aluno do Sistema Público de Ensino Médio com renda familiar bruta mensal superior a 1,5 salário mínimo nacional Aluno do Sistema Público de Ensino Médio, autodeclarado preto ou pardo, com renda familiar bruta mensal igual ou inferior a 1,5 salário mínimo nacional Aluno do Sistema Público de Ensino Médio, autodeclarado preto ou pardo, com renda familiar bruta mensal superior a 1,5 salário mínimo nacional Aluno com necessidades especiais Aluno indígena
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CEU E RU: OBRAS ADIADAS
R$ 307 mil. Esse é o custo para reformar o Bloco 11 da Casa do Estudante Universitário II, a CEU. O bloco, que está atualmente em obras, tem capacidade para receber aproximadamente 90 alunos em seus 1.062 metros quadrados. Tão importante quanto a moradia, o Restaurante Universitário está em processo de ampliação para melhor receber e auxiliar os alunos da UFSM. REPORTAGEM: Gustavo Martinez e Nícolas Limberger
FOTOGRAFIAS: Nícolas Limberger
Apesar de ter uma das maiores estruturas de moradia estudantil do país, a UFSM ainda encontra problemas para alojar todos os estudantes que necessitam desse auxílio. Atualmente, cerca de 25 alunos ainda moram na União Universitária (localizada acima do Restaurante Universitário) e aguardam vagas na CEU II. Porém, a direção da Casa estima que mais alunos devam solicitar a moradia no segundo semestre deste ano, não só pela entrada de novos acadêmicos na universidade, como também pelo aumento do teto do benefício, devido ao reajuste no salário mínimo. Para o próximo ano existe também o fator do aumento no número de vagas reservadas para cotistas – após decisão tomada pela universidade, as vagas reservadas aumentaram de 34% para 50% – assim, mais estudantes que dependem da assistência estudantil entrarão no campus, o que torna a demanda por mudanças inevitável. No dia 15 de abril, ocorreu uma manifestação organizada nas redes sociais por moradores da CEU no hall do prédio da reitoria. Os estudantes reivindicavam a ampliação das vagas nas CEUs e a melhoria da conexão à internet. Depois desse ato, um diálogo entre a direção da Casa e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, a PRAE, foi estabelecido. “A partir desse ato tivemos uma maior visibilidade, mostramos que, se nos unirmos, a gente tem voz, eles estão nos recebendo com reuniões”, comentou a integrante da atual gestão do CEU II, Ana Paula Marques. “Hoje o número de estudantes que ingressa na universidade é muito superior ao dos que estão deixando”, informa a integrante da atual gestão do DCE e acadêmica de Engenharia Florestal, Marjana Lourenço, . “A estrutura física é algo que ninguém tira, que vai estar sempre aí”, ressalta. Para ela, a construção de uma casa do estudante é a melhor alternativa para a assistência estudantil em moradias, e não o recente aumento das bolsas permanência ofertadas por universidades brasileiras. A ampliação do Restaurante Universitário também é uma demanda antiga da UFSM. O refeitório principal da universi-
DIAGRAMAÇÃO: Marina Fortes
dade é responsável pela produção de alimentos para todos os restaurantes universitários de Santa Maria, além de abrigar todos os suprimentos em seu estoque. Está em andamento no RU uma obra para criar uma nova zoinha e um armazém para alimentos. O restaurante hoje tem uma capacidade de produção de até três mil refeições diárias, no entanto, há dias em que este número chega a nove mil, segundo dados da PRAE. Porém, somente a reforma do RU não atende as necessidades da UFSM. O que é pautado pelo DCE é a construção de um novo restaurante que atenda aos alunos do Centro de Ciências Sociais e Humanas, (CCSH), por ser o centro com o maior número de estudantes e com salas de aulas que ficam mais afastadas do restaurante. Ainda assim, não há nada de concreto para o futuro próximo, comenta Marjana: “a ideia é se construir um novo RU, agora, por exemplo, o local onde ficaria, isso aí não se sabe ainda”. Quando questionada sobre o impasse da melhoria a ser realizada ou no Restaurante Universitário, ou na Casa dos Estudantes, a posição da direção local é bem clara: “enquanto gestão, a gente se posiciona nem a favor de uma ou outra, a gente entende que essas melhorias devem acontecer concomitantemente”, afirma Ana Paula. Apesar dos esforços e reivindicações, a PRAE já afirmou que não há planos para a construção de novos prédios para a Casa do Estudante ou para um novo restaurante.
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para lelo
EAD em desenvolvimento na UFSM No ano de 1939 surgem as primeiras atividades de Ensino a Distância via correspondência no Brasil. Já na década de 70, emissoras de televisão e rádio passaram a oferecer cursos para auxiliar na educação de adultos e crianças. A internet representa, hoje, a terceira geração do EAD. Através de chats, fóruns, e-mails e redes sociais, a rede online é responsável por uma interação maior entre professores e alunos dos quatro cantos do país. REPORTAGEM: Carolina Escher e Jéssica Lóss; FOTOGRAFIAS: Jéssica Lóss ILUSTRAÇÃO: Ricardo Antunes Machado; DIAGRAMAÇÃO: Carolina Escher e Jéssica Lóss
Ainda que existam muitos projetos do governo que viabilizem e facilitem a aproximação da população com o ensino gratuito, falta muito para que se universalize o acesso a um curso superior. A UAB (Universidade Aberta do Brasil) tem isto por objetivo: levar a universidade pública de qualidade aos locais distantes e isolados para incentivar o desenvolvimento dos municípios com baixos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). O Ministério da Educação lançou a UAB em dezembro de 2005, a serviço da expansão e da interiorização do acesso à graduação e à pós-graduação, para evitar o fluxo migratório para as grandes cidades que concentram a oferta dos cursos presenciais. Para estimular os alunos, a associação dos governos federal, estadual e municipal em prol da educação, a UAB possui centros de formação permanentes, ou seja, pólos de apoio presencial, localizados em determinadas regiões estratégicas. Além disso atende, atualmente, a
A UAB pertencente à UFSM possui graduações básicas de licenciatura que duram no mínimo 4 anos: Física Geografia Sociologia Pedagogia Educação Especial Formação Especial dos Professores Ainda há especializações 18 meses de duração, dentre elas: Gestão Educacional, Gestão Púbica, Eficiência Energética, Educação Ambiental e Agricultura Familiar.
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800 mil alunos por ano em todo o território nacional. Em 2007, o programa UAB passou a integrar ações da Diretoria de Educação a Distância, com o objetivo de colaborar com o processo de formação de professores para a educação básica do país. O coordenador do programa UAB, Marcelo Pustilik Vieira, explica a história do EAD na UFSM desde o começo. O ensino teve início no ano de 2005 e conta com uma equipe especializada para fazer o trabalho de produção dos cadernos didáticos e dos objetos de estudo necessários para as aulas. Para isso, há o encontro de analistas de educação com professores do programa, que estudam as melhores estratégias educacionais. Entretanto, o conteúdo do material didático é de responsabilidade do professor que leciona o curso. A estratégia de ensino é construída com ferramentas do Moodle que visam compensar a falta de comunicação simbólica existente nas aulas presenciais e que complementam as aulas, como vídeos, jogos, perguntas interativas e cadernos online. Para que o curso seja aplicado à distância, é necessário que passe por um processo chamado de “transposição paralela”, a fim de adequar as aulas aos sujeitos que recebem o material online. Vieira afirma que “os vídeos focam na aprendizagem e não no ensino”, assim, “não basta simplesmente disponibilizar um material que demonstra um fenômeno físico acontecendo juntamente com um texto ou um gráfico que, para muitas pessoas, isso não significa nada”. Os estudantes de EAD possuem, em média, uma faixa etária de 28 a 34 anos. Vieira conta que há muita evasão, devido à falta de regularidade de presença, o que faz com que o aluno, muitas vezes, se esqueça das aulas ou dos dias de entrega das tarefas. As aulas são disponibilizadas para qualquer pessoa interessada e estão no endereço online www.uab.capes.gov.br O coordenador do EAD do CTISM (Colégio Técnico In-
dustrial de Santa Maria) , professor Paulo Roberto Colusso, explica que essa modalidade de ensino profissionalizante existe na universidade desde 2007, quando o MEC lançou um edital que procurava distribuir para mais instituições federais essa outra forma de repassar o conhecimento. Colusso participou das reuniões e trouxe para UFSM o EAD profissionalizante. Fez parte da organização, distribuição e instalação de novos polos no Rio Grande do Sul, que primeiramente foram localizados nas cidades interioranas cuja população tinha menor acesso à educação gratuita de qualidade. Em 2007, havia apenas sete polos no estado, que foram distribuídos de forma a privilegiar a metade sul empobrecida, conta o professor. Com o passar do tempo, o EAD obteve maiores proporções e foi aberto para que pudessem ser ofertados polos para os demais municípios que solicitavam e tinham demanda para novos cursos. Hoje já são mais de 20 polos distribuídos por todo o estado. O método de ensino consiste em vídeo-aulas, cadernos didáticos, aplicação de provas e viagens aos polos. Os vídeos das aulas são produzidos no estúdio televisivo do centro EAD e contam com o trabalho de diversos profissionais que gravam, editam e publicam o material online. Entretanto, não são somente os alunos do EAD que possuem acesso aos vídeos: qualquer pessoa interessada, vinculada ou não à UFSM, pode acessar o material no site. (http://estudioead.ctism.ufsm.br/) Os cadernos didáticos são importantes para os cursos profissionalizantes, visto que muitos alunos não possuem internet e a falta do material físico inviabilizaria a possibilidade de realizar o estudo a distância. Eles são responsabilidade dos professores de cada disciplina, que são auto-
res deste material que vão utilizar para as aulas. Entretanto, esses materiais devem se adequar ao template, ou seja, ao modelo de documento que foi organizado pelo MEC. Colusso destaca que “os cadernos didáticos são a espinha dorsal da disciplina” devido ao fato de o material remeter a outros links, outras tecnologias e outras dias que complementam essa “espinha dorsal”. Já as viagens aos polos são necessárias não somente para as avaliações, mas também para a realização de aulas práticas. Colusso conta que houve a especial preocupação em adquirir laboratórios que pudessem ser transportados até os alunos, juntamente com kits didáticos para seres colocados em um veículo, e professores com disponibilidade de viajar para ofertar aulas presenciais. Esse modelo letivo existe desde 2007 e é utilizado até hoje. Um professor de cursos profissionalizantes se diferencia dos docentes dos cursos de graduação quanto à didática na produção dos vídeos. Um educador EAD do CTISM, por exemplo, deve se preocupar em privilegiar a parte prática da disciplina, o funcionamento do equipamento e a tecnologia sobre a qual o curso trata. Já ministrar um curso de graduação busca dar mais atenção à teoria do que à prática nos estudos. A seleção dos alunos é feita através de uma prova organizada pela Copes (Comissão Permanente de Exame de Seleção), porém o sistema Sisutec pode passar a ser utilizado a partir de 2015. “Isso é educação para nós, para brasileiros”, ressalta Colusso.Hoje a UFSM possui sete cursos profissionalizantes: Fruticultura, Cooperativismo, Informática para a Internet, Manutenção de Informática, Automação Industrial, Mecânica e Agroindústria.
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DOCUMENTOS PERDIDOS:
A BUSCA PELOS ARQUIVOS DA REPRESSÃO NA UFSM Quinto andar. Sala 521. Para os que passam por ali, é apenas mais uma das salas da Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria, sem qualquer adorno ou placa de identificação. Os mais bem informados sabem que ali funciona o gabinete de Paulo Bayard, vice-reitor da instituição. Mas, se voltássemos no tempo, num passado não tão distante, veríamos que aquela sala já guardou fatos obscuros dessa que é a primeira universidade do interior do país. REPORTAGEM: Mateus de Albuquerque e William Boessio; FOTOGRAFIA: Nadine Kowaleski; ILUSTRAÇÃO: Moro de Oliveira; DIAGRAMAÇÃO: Jéssica Lóss
Durante a ditadura militar, funcionou ali a Assessoria Especial de Segurança e Informação, ou AESI, responsável por monitorar atividades consideradas subversivas dentro de repartições públicas, incluindo Universidades Federais: estudantes, docentes e técnicos administrativos em educação eram constantemente investigados pelo órgão. Em 1986, um ano após a redemocratização do Brasil, a AESI que funcionava na Universidade foi a última a ser fechada no país. Os documentos que comprovariam os anos de perseguição cometida pelo órgão não foram encontrados, e o cofre que os guardava estava vazio. Desde aquela época, levanta-se a questão: onde foram parar os arquivos da repressão na UFSM?
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É preciso contextualizar o período para se obter algumas respostas. O Golpe de 1964 não foi mal recebido pela alta hierarquia da Universidade. O então reitor e fundador José Mariano da Rocha Filho era um declarado apoiador do novo regime. Foi também um dos idealizadores e oradores da chamada “Marcha de Agradecimento”, que, em 17 de abril de 1964, enalteceu a presença militar no governo federal. Um texto de sua autoria foi publicado no dia seguinte à passeata, no jornal A Razão, em agradecimento aos militares que trouxeram ao Brasil a “derrocada do comunismo, que pretendia substituir por imagens humanas a imagem de Deus e o Cruzeiro do Sul por uma Ursa Polar”. O mesmo jornal noticiaria, um dia depois, uma viagem de Mariano da Rocha a Brasília para uma reunião com o novo ministro da Educação, Flávio Lacerda. Naquele ano, com o aval de Mariano e outros reitores, Lacerda implementaria os termos do polêmico acordo MEC-Usaid, que instaurava o modelo tecnocrático do ensino superior americano, que visa o mercado de trabalho, nas Universidades Federais brasileiras. Dez dias após a reunião, o professor Mariano da Rocha seria consagrado cidadão emérito de Santa Maria, louro também noticiado pelo jornal A Razão. A fidelidade da UFSM com o Regime se faria sentir também nos movimentos estudantis. O então estudante de Engenharia Civil, Dartagnan Albertini, comenta que as gestões do Diretório Central dos Estudantes foram simpatizantes aos militares, com exceção da gestão de 1966, da qual fez parte. Como o movimento estudantil estava cerceado pelos militares, a alternativa para a juventude militante de esquerda se encontrar e se organizar era a Vanguarda Cultural, um grupo que realizava peças de teatro e outras atividades culturais na antiga sede da União Santa-mariense de Estudantes, na Rua do Acampamento.
Em 18 de abril de 1964, Mariano da Rocha defende abertamente a ditadura no jornal A Razão. Um dia depois, é publicada a nota de que o reitor estava em Brasília em reunião com o novo ministro de Educação. Poucos dias depois, em 28 de abril de 1964, recebe o título de cidadão emérito de Santa Maria.
Com a UFSM comprometida com o regime e os movimentos estudantis ligados à clandestinidade, é notório que a AESI tinha o ambiente perfeito para realizar suas investigações. Logo, é de se surpreender que o vasto material que ocupou a sala 521 nunca tenha sido encontrado. O professor do curso de História da UFSM, Diorge Konrad, pesquisador sobre o período, aponta três possíveis destinos para os documentos: ou estão no Arquivo Nacional, em Brasília (recentemente abertos pelo governo Dilma); ou na residência de alguém (como o caso dos documentos do Departamento de Ordem Política e Social, DOPS, encontrados na casa dos familiares de Filinto Müller, coordenador deste órgão); ou na própria UFSM. Se esta possibilidade existe, a Universidade nega. Com base na Lei de Acesso à Informação, o Comitê Santa-mariense pelo Direito à Memória e a Verdade solicitou estes documentos ao ex-reitor Felipe Müller. A resposta contundente da reitoria foi de que estes documentos não se encontram mais lá. Para dar sequência às buscas, o Comitê é uma peça chave nessa luta. Fundado em 2011 pelos diretórios acadêmicos de História, Arquivologia e Direito da UFSM, ele trabalha aliado às conjunturas nacionais em busca de dados sobre o regime na cidade. Os documentos da AESI são fundamentais para esclarecer a atuação militar dentro do Campus. Caso os documentos tenham sido eliminados, o Comitê afirma que isso ocorreu de maneira ilegal, já que para qualquer descarte, faz-se necessário um registro oficial do ato. O pesquisador Diorge Konrad afirma que provavelmente a UFSM não seja, hoje, um empecilho para esta busca, já que boa parte do material que se tem para análise vem do próprio Departamento de Arquivo da Universidade, como atas e registros de contabilidade da época, que podem revelar informações interessantes sobre o período.
Em resposta ao pedido de informações sobre a contribuição da UFSM nas investigações, o reitor Paulo Burmann ressalta o apoio da instituição a este processo: “A Reitoria tem o maior interesse em ver apurados os crimes políticos cometidos dentro das universidades públicas, e irá colaborar para que isso aconteça, prestando toda a informação disponível em seus arquivos”.
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Concomitantemente, o mandatário máximo da Universidade confirma oficialmente que houve repressão na instituição: “A Universidade foi atingida em cheio pela Ditadura. O chamado ‘AI-5 das universidades’, decreto-lei nº 477, previa a punição de professores, alunos e TAEs considerados culpados de subversão ao regime”. A declaração de Burmann entra em choque com a de Derblay Galvão, único reitor vivo a ter atuado durante o regime militar e que ocupou o prédio da reitoria de 1977 até 1981: “No período em que estive na Reitoria, não sofri nem um tipo de pressão ou interferência do governo em meu mandato”. Derblay Galvão afirma que as movimentações de estudantes estiveram circunscritas ao Campus e reafirma que a “Reitoria sempre os tratou no âmbito da administração, sem interferência de órgãos de repressão”. Não só os documentos da antiga AESI se encontram perdidos. De acordo com Olga Herbertz, membro do Comitê Santa-mariense pelo Direito à Memória e a Verdade, os arquivos do DCE anteriores a 1985 estão de posse de um ex-membro das gestões daqueles anos. Estes arquivos seriam importantes para analisar o papel efetivo do regime dentro do Diretório. O detentor desses documentos alega que não os devolve pela falta de estrutura do atual DCE para armazená-los adequadamente. Apenas uma caixa com documentos desse período foi encontrada, provavelmente por esquecimento do ex-membro que levou os arquivos.
Esta caixa não contém documentos incriminadores, mas revela informações curiosas sobre o DCE da época. A presença de recortes de jornais publicados em diversas regiões do estado mostra o interesse do Diretório em monitorar como a política nacional era tratada na mídia gaúcha. Este trabalho era realizado pela chamada “Comissão de Imprensa” Além desses recortes, páginas avulsas de diferentes estatutos do DCE podem ser encontradas lá. Quanto às acusações de falta de estrutura, um dos atuais coordenadores gerais do DCE, Felipe Costa, responde: “Há muito tempo a Universidade não vem dando a devida atenção para esta questão. Atualmente, temos um bolsista para trabalhar no Arquivo, mas isso de nada adianta se não tivermos condições estruturais, como um local de qualidade, com estrutura adequada. Estamos tentando trabalhar na solução destes problemas”. O Comitê diz que irá entrar com ação judicial para reaver os documentos. A sala 521 se mantém no prédio da reitoria como um símbolo de uma UFSM que se choca entre a memória e a retratação. Não só os documentos da AESI, mas também de outras entidades se perderam no tempo, formando peças invisíveis de um quebra-cabeça que se esforça para ser sutil. Será que a UFSM de hoje dedicará esforços para acobertar o seu passado ainda sombrio, ou servirá ao seu propósito para com a memória santa-mariense?
Sala onde o DCE guarda seus arquivos. Aqui apenas uma caixa foi achada do período entre 1963 e 1985
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atendimento psicológico para a comunidade clínica-escola: assim é conhecido o serviço psicológico disponibilizado no ambiente acadêmico para a população. o projeto é realizado pela clínica de estudos e intervenções em psicologia (ceip), localizada no prédio de apoio da ufsm, que torna o atendimento psicológico uma realidade acessível à comunidade. o serviço também auxilia os alunos, que enriquecem a grade curricular e a sua formação. reportagem :
Bárbara de Barros Barbosa;
Atualmente, 92 pessoas são atendidas semanalmente pelo projeto, entre elas crianças, adolescentes, adultos e idosos. A psicóloga e supervisora local, Amanda Schreiner Pereira, comenta que o processo pelo qual os pacientes passam até serem atendidos é fundamentado no conceito de acolhimento, que inicia no começo de cada ano, com a abertura de vagas para os interessados no tratamento. Basta ligar para a clínica e marcar a escuta com o estagiário que o acompanhará durante os 12 meses, período referente ao exercício clínico da CEIP. Inicialmente, todos que comparecerem à etapa de escuta já são acolhidos pelo projeto, com ressalva de casos diagnosticados como graves, que necessitam ser encaminhados a outras instituições com as quais a clínica-escola possui vínculo. Para as eventuais desistências no decorrer do processo, há uma lista de espera computada por ordem de chegada. Para os acadêmicos, a possibilidade de estagiar na clínica dá a chance de transitar entre a posição de estudante e a de clínico. A grande vantagem da clínica-escola é presenciar os obstáculos e aprendizagens do dia a dia profissional. Os estagiários são guiados pela ética psicanalítica e baseados na linha da psicanálise freudiana, que é o eixo de trabalho escolhido pela clínica. Após uma série de mudanças e adaptações, a clínica criou uma estrutura organizada. “Hoje, é possível considerar que criamos uma estrutura que se mantém quase sozinha, construímos pilares fortes que constituem a
fotografias :
Divulgação;
diagramação :
Clara Sitó
base da clínica e remodelamos somente alguns outros pontos”, salienta Amanda. A partir dessa nova estrutura, como enfatiza a também psicóloga e supervisora local, Aline Bedin Jordão: “este lugar tornou-se uma referência importante no município e região no que tange ao acesso da população a uma possibilidade de tratamento psicológico”. A iniciativa conta, atualmente, com onze estudantes do curso como estagiários em períodos específicos, auxiliados pelas responsáveis pela supervisão local, Amanda e Aline, e pelos supervisores acadêmicos que são professores do curso, todos sob a coordenação geral do professor doutor Luis Fernando Lofrano de Oliveira. Além da parceria com o curso de Psicologia da UFSM, existe a cooperação e o reconhecimento do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH). Segundo Amanda, a expectativa é que com a mudança do curso de Psicologia para o Campus da Universidade, em Camobi, o CCSH ofereça um andar para acomodar a estrutura da clínica.
Contato Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta Manhã: 8h - 12h Tarde: 13h30min - 17h30min Prédio de Apoio da UFSM - Rua Floriano Peixoto, nº 1750, térreo. (55) 3220-9229 ufsmceip@gmail.com
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EBSERH: problema ou solução?
No final do ano passado, a UFSM assinou um contrato que autoriza a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) a fazer a gestão administrativa do HUSM. Foram realizados, até agora, o concurso público para ingresso de novos funcionários e a nomeação das pessoas que vão coordenar cada setor. Desde então, com a chegada da empresa ao Hospital Universitário, vários problemas foram detectados. REPORTAGEM E DIAGRAMAÇÃO: Marina Fortes; FOTOGRAFIAS: Nicoli Saft
A EBSERH foi criada em 15 de dezembro 2010, por um projeto de lei do Governo Federal, com o intuito de gerenciar os hospitais universitários do Brasil, em um modelo de gestão privada. A empresa integra o Projeto Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários (Rehuf) e, por meio dele, atua nas unidades de saúde. A assinatura do contrato com a empresa deve ser votada pelo Conselho Universitário, para que ela atue na administração do Hospital e também possa realizar os projetos previstos pelo governo. Após a aprovação, a empresa começa sua instalação nas unidades. A EBSERH está inserida em 23 dos 47 Hospitais Universitários que existem no Brasil. A adesão mais recente à empresa foi da UFSM, em dezembro de 2013.
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Segundo o gerente administrativo do HUSM, João Batista Vasconcelos, o principal objetivo da EBSERH é regularizar a contratação dos funcionários do hospital. Atualmente, a unidade conta com 130 funcionários empregados pela Fundação e Apoio à Tecnologia (Fatec), sendo que 90% deles são contratados pelo órgão e 10% são concursados. A proposta da empresa para Santa Maria é inverter esses números, por meio de concurso público. Nesse ponto, surge o primeiro problema com relação à adesão à EBSERH. A cedência dos trabalhadores para a empresa gera incertezas não só em Santa Maria, mas também em outras universidades federais que assinaram contrato com a empresa. De acordo com a coordenadora de Comunicação da Associação dos Servidores de Santa Maria (Assufsm), Loiva Isabel Chansis, a cessão só será realizada quando houver total segurança de que a empresa vai prosseguir no HUSM. Visto que a Fatec já não possui mais nenhum vínculo com o HUSM, a EBSERH deveria assumir os funcionários através de um contrato emergencial, mas isso não foi feito pela empresa.
Outro aspecto apontado pela Assufsm foi a diferença entre empregado e funcionário público. Diante disso, os concursados que vão começar a trabalhar no HUSM não vão ter a mesma estabilidade que um servidor público. Loiva explica que a forma de consolidação é diferente, já que os novos serão empregados públicos da empresa e não da Universidade. Ela ainda menciona que poderá ocorrer instabilidade no serviço à população, devido à alta rotatividade que vai ocorrer na área da saúde. A autonomia da Universidade é uma questão discutida, pois como a EBSERH é uma empresa vinculada ao Ministério da Educação, sua sede fica em Brasília e as decisões serão tomadas à distância. Segundo Loiva: “isso representa sim uma quebra da autonomia que ocorre, também, nos aspectos políticos e pedagógicos. Vai ser lá e não aqui que vão ditar como deverá ser a vida no HUSM”. O gerente administrativo do HUSM, João Batista Vasconcelos garante que “o HUSM não deixou de ser o Hospital da Universidade Federal de Santa Maria, a única diferença é que agora há uma empresa contratada para administrar a unidade”. O ensino no Hospital é outro ponto que gera incerteza e indagação. Do ponto de vista da empresa, o ensino só tende a melhorar, porque o Rehuf prevê a implantação de tecnologias altamente avançadas no HUSM. Vasconcelos cita que a UFSM tem total controle sobre o ensino, a pesquisa e a extensão, pois a EBSERH realiza apenas a gestão administrativa do HUSM. Além disso, o hospital permanece como um campo de estágio e aprendizado para todos os acadêmicos. Segundo a representante do Diretório Acadêmico da Medicina (DAZEF), Renata Santi, desde o início das discussões, os alunos nunca foram procurados pela empresa ou pela direção do hospital para dialogar. A EBSERH não projetou a prestação do ensino dentro do HUSM e, assim, este setor pode ser prejudicado com a cedência do hospital à empresa. Além da falta
de comunicação da organização para com os estudantes, uma das maiores preocupações é a escassez de médicos preceptores, responsáveis por acompanhar e orientar os acadêmicos de Medicina na hora da prática no hospital. Renata cita outros problemas: “procedimentos de alta complexidade que antes eram realizados no HUSM e que tinham um papel importante em nosso aprendizado já estão sendo transferidos para hospitais privados da cidade e ainda há o temor de que futuramente novas brechas possam ser abertas para que o ensino e o trabalho lá desenvolvidos sejam cada vez mais sucateados”. A legislação da EBSERH permite que haja convênio entre o Hospital Universitário e outras consignatárias. Além de diminuir o campo de estágio para os acadêmicos de Medicina, isso implica na possibilidade de privatização do HUSM. Segundo a representante da Assufsm e, há chances do Sistema Único de Saúde (SUS), através do qual o hospital opera hoje, ser prejudicado, visto que a EBSERH é uma empresa de caráter público e privado. Caso algum convênio de saúde seja implantado dentro da unidade, o contrato público pode começar a ser negligenciado. Tal fato representaria um indício de privatização, que, a longo prazo, pode extinguir o caráter popular do Hospital Universitário. A implantação da EBSERH no HUSM ocorre de forma gradual. Após a assinatura do contrato, foi realizada a nomeação dos gerentes e superintendentes. No concurso realizado em abril, foram 11.834 candidatos inscritos para concorrer a 791 vagas nos setores Assistencial (453), Médico (261) e Administrativo (77). As áreas que têm maior carência de funcionários vão ser priorizadas no momento de convocação dos aprovados, que deve acontecer entre julho e agosto desse ano. Enquanto os novos empregados aguardam as contratações, a Assufsm, atua na defesa dos funcionários, do ensino e do caráter público do HUSM. Para isso, são promovidas reuniões (foto acima) para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto. Loiva acrescenta: “as questões que envolvem a EBSERH vem sendo muito discutidas, devemos lembrar que não é uma situação irreversível e nós vamos lutar para mudar isso”.
“Eu não curto a EBSERH” - A Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm) e a Assufsm promoveram, junto com outros coletivos da Universidade, a campanha “Eu não curto a EBSERH.” Houve protestos e palestras para explicitar o porquê de ser contra a implantação do órgão do Governo Federal como gestor administrativo do HUSM. Foram meses de campanha até a data em que o Conselho Universitário (Consu) votaria a assinatura do contrato. No dia 12 de dezembro de 2013, cerca de 50 membros do Consu estavam presentes na reunião que decidiria o futuro da gestão do hospital universitário.
Os manifestantes ocuparam o auditório e deram fim à assembleia. O antigo reitor da UFSM, Felipe Müller, assinou, a portas fechadas e sem ouvir o Consu, o contrato de adesão à EBSERH. Uma nota foi redigida à comunidade acadêmica para justificar a ma- n e i r a como a decisão foi tomada e a urgência de resolver algumas questões, como a terceirização, no HUSM. A Assufsm e a Sedufsm tentaram entrar com um processo judicial contra a decisão na base do “canetaço” do ex-reitor, mas, por enquanto, nada mudou.
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Sumálrio gera
divisão de pat ri m ô n io p ro m e t e recol h er m at eriais depois de doze anos sem haver recolhimento de materiais colocados para descarte na universidade, a divisão de patrimônio (dipat) busca recuperar o tempo perdido. a instituição prevê, até o final do ano, a retirada de 500 toneladas de sucata
fotografias :
reportagem : Clara Sitó e Gabriele Wagner de Souza Matheus Santi e Paulo Tarso Rocha da Silva (Estúdio 21); diagramação/arte: Clara Sitó
Há muito tempo se vê mobiliários acumulados rios de metal, computadores, cadeiras e mobipelos corredores da UFSM, mas esse cenário co- liários que não têm mais conserto. Outro tipo meça a se modificar. Depois do Departamento de de material descartado é aquele que ainda teria Materiais e Patrimônio (Demapa) abrir três edi- utilidade, mas que é considerado obsoleto para tais de licitação para recolhimento de materiais e o setor. Neste caso, o destino é a doação, exclunão haver empresas interessadas, finalmente, na sivamente, para entidades sem fins lucrativos, quarta licitação, o edital foi preenchido. A limpe- geralmente escolas. za começou a ser feita em alguns prédios, como o Centro de Educação, o Colégio Técnico Industrial, No limite o Centro de Tecnologia, o Politécnico e o Cen- “A situação da divisão de patrimônio não é comtro de Processamento de Dados (CPD), segundo plicada, é crítica”, lamenta Gilson Peres. Atualinformações do diretor da DIPAT (órgão perten- mente os espaços que a DIPAT possui para armacente ao Demapa), Gilson Peres. zenamento de materiais que são adquiridos ou O acúmulo de materiais se deve, em grande esperam para ser descartados são inadequados. O parte, ao crescimento do poder de compra da órgão possui apenas dois galpões. No começo de universidade, que passou a adquirir mais bens março, um deles incendiou e, desde então, está com a entrada de verba do programa de Reestru- sem uso. Já o outro, além de ser pequeno, apreturação e Expansão das Universidades (Reuni) e, senta problemas na estrutura física, como goem consequência, descartar mais. “Depois que a teiras e defeitos na fiação, o que compromete a universidade entrou no Reuni é como se tives- durabilidade dos materiais alocados. Além disso, sem pegado Porto Alegre e jogado dentro de San- o DIPAT utiliza provisoriamente o Parque de Exta Maria, ou seja, a universidade cresceu, e muito, posições da UFSM para estocar materiais, porém, e a Divisão de Patrimônio continua quase com a como não pertence à divisão, deve estar disponímesma estrutura da época da fundação da uni- vel para a agenda de eventos. versidade”, afirma Gilson Peres. Como a instituiO local que antes era garagem para os ônição não dispõe de um espaço físico temporário bus da universidade, chamado de Garajão, lopara depositar esses mobiliários até que che- calizado no centro da cidade, também serve de guem ao seu destino final, os materiais acabam abrigo temporário para as sucatas. Porém, com amontoados em salas e corredores dos prédios. o início do recolhimento pela empresa licenDentre os materiais a serem descartados es- ciada, o local agora não é mais utilizado como tão os que são considerados inutilizáveis, ou depósito de entulhos. De lá, foram retirados 24 seja, sucatas; como ares-condicionados, armá- caminhões de sucatas.
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Atualmente, existe um projeto para reconstrução do galpão que incendiou, a fim de diminuir a sobrecarga atual. O espaço foi planejado de modo que o setor administrativo da Divisão de Patrimônio seja construído no pavimento superior, enquanto que no inferior ficariam os setores de estoque e o recebimento de materiais. Porém, não há previsão para a concretização desse projeto.
Como funciona o processo de descarte para doação
Todo material pertencente à universidade deve possuir um registro acoplado, em que consta um código número que identifica a qual setor pertence. Todo setor que desejasse fazer uma doação deveria abrir um processo no DIPAT para exclusão do material da relação patrimonial do seu setor e retirada do código numérico. Após esse registro de intenção de doação, o órgão – que é o responsável legal pelo recolhimento dos materiais da universidade – recolheria esses objetos do setor e armazenaria em seus galpões até que surgisse alguma entidade para que pudessem ser doados. Porém, com os problemas de falta de espaço, a administração tem passado a responsabilidade adiante. Assim, recomenda que os setores que tenham materiais para doar realizem essa doação, não mais com o envolvimento direto do órgão, mas através do próprio Centro, mediante apenas uma autorização da Divisão.
Essa impotência sentida pela DIPAT também se reflete nos professores e servidores que querem descartar seus materiais. Dentre eles está a professora do Departamento de Letras Modernas, Maria Tereza Marchesan. Ela esperou cinco anos para que as cadeiras registradas no seu departamento fossem retiradas dos corredores do prédio 67. “Eu me sinto muito constrangida de ser responsável pelo material que incomoda outras pessoas. Eu me sinto constrangida, mas também me sinto impotente”, desabafa. A professora do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Rosmari Horner, também aguarda há quatro anos para que um computador sem uso seja retirado dos corredores. Ela afirma que estes materiais estão em lugares indevidos e atrapalham a passagem dos alunos, professores e servidores. Rosmari também espera há quase nove anos para que antigos microscópios inutilizáveis sejam removidos de uma sala do prédio do CCS. A retirada dos materiais da universidade começou a ser feita em abril e, segundo as previsões do diretor do DIPAT, espera-se que até o mês de agosto tanto as doações como o recolhimento das sucatas sejam normalizados. Quem sabe assim, as salas e corredores que servem de abrigo temporário para os entulhos possam voltar a ser o que eram antes: um lugar de circulação.
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Sumálrio gera
CICLO
SITUAÇÃO no campus
atualmente a universidade dispõe de apenas uma ciclovia de 500 metros. para melhorar a vida dos que pedalam no campus, há a possibilidade de ampliação da via ainda este ano, visando sanar a disputa diária dos ciclistas com os veículos motorizados na rua. já os bicicletários são escassos e estão em péssimo estado de conservação. porém, a melhora dessa situação não está na lista de prioridades da proinfra. reportagem:
Aline Witt e Luana Mello; fotografias: Nadine Kowaleski; diagramação: Aline Witt
“A bicicleta é um meio de transporte rápido, prático e precisa de pouca manutenção”. Os motivos apontados pelo professor de Engenharia de Controle e Automação, Rodrigo Guerra, são também os de muitos daqueles que escolheram ser chamados de ciclistas. Mas nem só de benefícios é feita tal escolha. Assim como a maioria das cidades brasileiras, Santa Maria é pouco – ou quase nada – inserida ao cicloativismo e são mínimos os incentivos ao uso desse meio de transporte. A UFSM não fica de fora desse problema. Os blocos de lutas estão fortemente inseridos no meio acadêmico da cidade, mas nenhum voltado para o uso de bicicletas. Além do risco de disputar lugar na rua com veículos motorizados, adaptar bicicletários também é um problema comum vivido cotidianamente pelos ciclistas do Campus. A Universidade conta com uma média aproximada de 210 vagas para estacionar bicicletas, distribuídas para mais de 25 mil alunos e 4 mil docentes e técnicos administrativos. De 38 prédios percorridos, 18 não possuem suporte para guardar bicicletas, entre eles: Biblioteca Central, CEU II e Hospital Veterinário. Os paraciclos do Hospital Universitário, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Colégio Técnico Industrial estão localizados em lugares pouco evidentes. Já os bicicletários do Centro
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de Educação Física e Desportos são os que se encontram em pior estado: escassos, enferrujados e amassados. A Reitoria conta com seis vagas para bicicletas, cujos suportes são de modelos mais práticos e em melhor estado de conservação. Os bicicletários da Universidade são de uma época em que a bicicleta não era um meio de transporte tão comum como é hoje. Isso deixa aos atuais usuários suportes velhos, que não comportam a quantidade de novas bicicletas que circulam pela UFSM. A solução desse problema seria a atualização do número de usuários, visando à ampliação dos locais reservados para o estacionamento das bicicletas onde são insuficientes e a implantação de novos em quantidade satisfatória para a demanda. Porém, esse estudo não se tornará tão cedo um projeto para a Pró-Reitoria de Infraestrutura (ProInfra), visto que é preciso seguir uma lista de prioridades: “Agora, por exemplo, a gente está com uma equipe extremamente reduzida, com somente dois arquitetos e uma demanda gigantesca, que além das obras internas que a gente tem aqui no dia a dia, ainda existe todo um campus em Cachoeira para ser implantado”, conta o arquiteto da ProInfra, Alberto Wolle. A relação com os outros meios de transporte, nem sempre mutuamente respeitosa, é um dos pontos mais citados pelos ciclistas. Eles precisam redobrar a atenção para evitar acidentes em potencial: motoristas de carros que não enxergam as bicicletas, que não acionam o pisca-alerta, caminhões que jogam ciclistas para fora da faixa, ônibus que ultrapassam sem necessidade.
Mas utilizar a bicicleta ainda vale a pena, afinal, mesmo com todos os transtornos, é um meio de transporte rápido, principalmente quando o trânsito de veículos está muito intenso, como conta o aluno do curso de História, Júlio Daniel: “Eu pegava um ônibus que demorava de 50 minutos a uma hora e dez no horário de pico. De lá onde eu moro até aqui são uns 12 km, eu venho em 25, 30 minutos pela faixa velha”. Para facilitar a vida dos que pedalam dentro do Campus, a Universidade idealiza dois projetos: um emergencial, que levaria do arco até a reitoria; outro de caráter mais utópico, que serviria tanto para deslocamento quanto para contemplação do campus. Segundo Wolle, o projeto emergencial contaria com um tronco principal, com cerca de 2,4km. Essa obra já está com seu edital lançado e espera apenas o resultado da empresa vencedora e sua execução está prevista para ainda este ano. Mas a ideia de ciclovia que mais encanta é a que planeja ramificar a pista para levar os ciclistas aos principais centros e servirá, principalmente nos fins de semana, como forma de recreação. O arquiteto declara que junto a essa, existe a possibilidade de empréstimo de bicicletas, em que o aluno consegue fazer a retirada do veículo com um sistema semelhante à retirada de livros da biblioteca. Ele é responsável por esse livro assim como seria pela bicicleta – qualquer dano que ocorra, envolve toda a parte burocrática que tem: se houver atraso na entrega, paga multa; se não, ele não renova a matrícula. Conforme Wolle, “a ideia é que tivessem centros de distribuição de bicicletas e que qualquer aluno pudesse fazer a retirada de uma e transitar no campus, largando ela em outros centros de retirada/devolução”. No Estado, temos como exemplo a Universidade Federal de Rio Grande (FURG), que implementou a instalação de parquímetros no seu Campus – que tem cerca de 230 hectares, aproximadamente 8 vezes menor que o campus da UFSM. Para realizar a retirada, o usuário deve solicitar a chave do destravamento e o banco da bicicleta na Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da Universidade. Existem muitos questionamentos quanto à criação de um trans-
porte interno no Campus, que junto à ideia da ciclovia, seria um avanço para a locomoção dentro da Universidade. A proposta mais interessante, apresentada por Wolle, é a de que o transporte coletivo da cidade, que já circula normalmente internamente, seja usado para levar os alunos de uma ponta a outra sem a necessidade de pagamento. A questão da falta de ciclovia, como observa o ciclista e aluno de Engenharia Elétrica, Josué Sehnem, é que “não tem espaço para a bicicleta. Ou tu invades a rua, disputando espaço com os carros; ou na calçada, atrapalhando os pedestres”. Para possibilidades como essas terem algum espaço, é preciso maior centralização das ideias e mais investimento da Universidade. A UFSM possui infraestrutura para receber projetos como esses, o problema é que não há nenhum tipo de incentivo, como campanhas publicitárias dentro da instituição, para o uso das bicicletas. Se houvesse mais organização e as ideias de ciclovias pudessem virar projetos para, futuramente, se transformarem em obras, seria um grande avanço para a instituição. Para o professor de Agronomia, Cláudio Lovato, “é mais problemático para quem tem carro do que para quem tem bicicleta”. Não incentivar o uso dessa mobilidade sustentável dentro do Campus é não tomar providências para diminuir o engarrafamento que aumenta gradativamente, dia após dia, na principal via da Universidade.
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para lelo
Destino: UFSM Intercâmbio é a expressão que originalmente designa uma relação de troca mútua entre duas instâncias e é uma atividade recorrente nas universidades brasileiras.
reportagem :
Camila Hartmann e Vitória Londero;
fotografias :
A partir dos anos 1980, com a diversificação dos programas de estudo no exterior, o termo passou a ser usado para nominar qualquer período em que o estudante vive fora de seu país para aperfeiçoamento educacional ou profissional, independente de reciprocidade. Engana-se quem acredita que são só os estudantes brasileiros que desejam ir para o exterior: também cresce o número de intercambistas que vêm para o Brasil. Viagens e oportunidades de estudo em outros países são uma realidade na maioria das universidades brasileiras. Para quem almeja estudar no Brasil, programas de intercâmbio possibilitam não apenas um aprimoramento na formação educacional, mas também uma troca entre diferentes culturas, que enriquece a vivência do estudante. Na Universidade Federal de Santa Maria, não é diferente: o órgão responsável pelos assuntos internacionais da universidade é a Secretaria de Apoio Internacional (SAI), institucionalmente vinculada ao Gabinete do Reitor e responsável por manter e atualizar as ofertas de oportunidades no exterior – por meio das quais os jovens realizam os intercâmbios. Todos os intercambistas que chegam à UFSM precisam passar pela SAI. Ela atua como um órgão de apoio aos estudantes estrangeiros. Segundo o secretário executivo, Marcelo Tascheto da Silva, esse auxílio vai desde a parte burócratica, como a documentação, até a procura de um “padrinho” - uma pessoa encarregada a dar suporte e orientação aos recém-chegados. Nesse sentido, a SAI demonstra preocupação em acolher bem os intercambistas. “A gente se coloca no lugar deles, tem que haver uma empatia muito grande”, afir-
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Nadine Kowaleski;
diagramação :
Vitória Londero
ma a secretária executiva Cristina Amoreti. São realizadas reuniões de recepção aos novos intercambistas a cada início de semestre. A proposta para esse ano é um passeio pela região da Quarta Colônia. A SAI quer promover esse turismo para que os intercambistas tenham conhecimento da região onde Santa Maria está situada, visto que, em virtude de o Brasil ser um país multicultural e de dimensões continentais, muitas vezes as impressões que os estrangeiros têm daqui não condizem com a realidade do Rio Grande do Sul. “Nós procuramos mostrar para os que vêm o que é o Brasil, mas de uma forma regional”, continua Cristina. A UFSM possui convênio com 28 países. Os programas de intercâmbio mais frequentes, que são responsáveis pelo maior contingente de estudantes que chegam na universidade, são os da Associação de Universidades Grupo Montevidéu (AUGM), os bilaterais e os específicos de cada país.
AUGM (Associação de Universidades Grupo Montevidéu): um dos programas de intercâmbio que a UFSM está vinculada. Inclui hospedagem, alimentação e bolsa mensal. Ele contempla o maior número de intercambistas na universidade. Os países que fazem parte do programa são Argentina, Paraguai, Bolívia, Chile e Uruguai. BILATERAIS: programas em que a troca é recíproca, tanto em número de alunos, quanto em condições de estada. Nesse caso, há acordos específicos entre as universidades participantes. ESPECÍFICOS: acordos específicos entre dois países. Um exemplo é o BRAMEX, programa que envolve Brasil e México.
“Fui muito bem recebida. Adoro meus colegas, eles não querem que eu vá embora.” Nome completo: Nathália Carolina Aquino Ledesma Idade: 20 anos País: Paraguai Cidade: Ciudad del Este Programa: AUGM Universidade: Universidad del Este Curso: Enfermagem Tempo de estada: 1 semestre
“O intercâmbio é essa procura eterna que a humanidade tem de mudar a pessoa.” Nome completo: Victor Eduardo Narvaez Dominguez Idade: 24 anos País: México
NA UNIVERSIDADE
INTERCAMBISTAS
Cidade: San Luis Potosi Programa: BRAMEX Universidade: Universidad Autonoma de San Luis Potosi Curso: Medicina Tempo de estada: 1 ano (1 semestre custeado pelo programa)
“No Sul tem essa ideia do gaúcho, que é muito diferente de outras partes do Brasil. É diferente porque aqui as pessoas são mais europeias.” Nome completo: Catherine Spreadbury Idade: 20 anos País: Inglaterra Cidade: Maidstone Programa: Bilateral Universidade: Univeristy of Nottingham Curso: Letras Tempo de estada: 1 semestre
“Eu vejo que o brasileiro é mais alegre. Vocês têm uma coisa que é própria e única.” Nome completo: Rocio María Tosolini Idade: 22 anos País: Argentina Cidade: Santa Fé Programa: AUGM Universidade: Universidad Nacional del Litoral Curso: Letras Tempo de estada: 1 semestre
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c ultura
LAZER
NOTURNO NA UNIVERSIDADE O conceito de ócio criativo, desenvolvido na década de 1990 pelo sociólogo italiano Domenico Masi, mescla as atividades de trabalho, tempo livre e estudo. Segundo essa definição, o campus da Universidade Federal de Santa Maria funciona como um espaço de ócio criativo.
Reportagem: Daniela Sangalli e Nadine Kowaleski; Diagramação: Vitória Londero; Fotografia: Nadine Kowaleski
Mesmo após um dia intenso de estudos, quando chega a noite, é comum ver jovens concentrados em frente ao Restaurante Universitário (RU) para interagir, conversar, festejar. Neste mesmo espaço, também ocorrem eventos festivos promovidos pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), na União Universitária, e pelos cursos da UFSM, no Centro de Eventos. Santa Maria tem o título de Cidade Cultura, mas hoje faltam espaços para expressão cultural e também apoio do município. O descuido por parte da administração da cidade com o planejamento dos espaços públicos destinados à cultura levou a um aumento no número de serviços privados de entretenimento. Em função disso, o acesso à diversão noturna em Santa Maria também ficou restrito às camadas de maior poder aquisitivo. Com o fechamento da boate do DCE, em janeiro de 2013, os universitários perderam um importante espaço de integração cultural gratuito na cidade. De acordo com o acadêmico de Psicologia e membro do DCE, Alex Monaiar, a Boate pautava os preços das outras casas noturnas da cidade: “era um lugar onde estudante entrava de graça. Todas as boates da cidade tam-
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bém tinham entrada gratuita para universitários. A cerveja nos outros lugares era barata. Como que ia ser diferente se o fornecedor era o mesmo da Boate?”, afirma. Espaços como os bosques da Universidade e a Casa do Estudante Universitário (CEU) são os principais ambientes de interação noturna entre os estudantes que fazem da universidade a sua própria casa. A maioria deles não é natural de Santa Maria, como Mateus Klein, de Chapecó, SC, e acadêmico de Comunicação Social. Como morador da CEU, Mateus Klein conta que teve seus melhores momentos de ócio quando se juntava aos amigos para conversar nos bancos na frente da União Universitária e conhecer novas pessoas que por lá estavam à noite. Muitos desses momentos auxiliam a desenvolver o sentimento de pertencimento à Universidade, não só como uma instituição, mas também como um espaço compartilhado. Fizemos uma visita especial ao Campus em uma noite de final de semana para encontrar pessoas que aproveitam o espaço efetivamente durante esse período. Era quase madrugada quando conversamos com os estudantes de Matemática Bruno Pimpão, Eduardo Philippsen e
Greice Kelly que, junto com Felipe Schardong, sidade, segundo os alunos de Matemática entrevistados. De acordo com militar que mora no quartel, conversavam em Alex Monaiar, a lei que proíbe o consumo é apenas um modo de lidar frente à CEU, próximos às brasas ainda quentes com a relação jovem-bebida: “eu não acho que essa seja uma resolução do churrasco que haviam feito na noite. do conselho a partir de uma lei, uma lei inteligente. Porque é uma lei E vocês fazem o que além de tocar violão e assar que ignora a realidade concreta. As pessoas bebem. As pessoas vendem, carne? compram. A questão é como tu ‘regula’ essas relações sociais muito mais - Ah, a gente gosta muito de churrasco. Estamos do que tu ‘ignora’ elas”, ressalta. Mesmo com o inconveniente, o DCE quase sempre na rua, todo domingo tem churrasco. mantém suas festas em frente ao RU e faz acordos diretos com a Reitoria. De preferência nesta exata churrasqueira. Quem também utiliza os espaços da UFSM é o grupo de skatistas E além de ficar aqui no Campus, tem alguma “Skate Santa Maria - Conexão Roraima”. Depois de um dia de trabalho e outra opção de lazer que vocês curtem? estudo, eles se encontram no fim da tarde, já caindo a noite, e utilizam - A gente geralmente fica por aqui, às vezes va- a ciclovia na Avenida Roraima - que dá acesso à Universidade - e do mos para apartamento de amigos e tal. Algumas próprio Campus para andar de skate. O solo da biblioteca também é ‘junções’. Fora isso nada. um atrativo para o grupo, de cerca de 15 integrantes, pois tem um “chão Como o Campus é um lugar público divi- liso” perfeito para praticar. O acadêmico de Comunicação Social e partidido por muitas pessoas, é necessário que certa cipante do grupo, Germano Molardi, afirma que ambientes e atividades ordem seja mantida durante a noite. Em frente assim servem para “relaxar a mente” e interagir. Segundo ele, os vigilanà Casa, há uma guarita onde o vigilante Lenon tes também nunca se incomodaram com a presença do grupo. Silveira permanece durante a noite para atender Seja para praticar esportes, promover festas ou simplesmente aproa chamados em caso de tumulto. “Os jovens veitar os momentos de ócio com os amigos ao redor de uma fogueira, moradores não fazem baderna, são apenas um o campus da UFSM é um espaço de divertimento noturno seguro e pouco barulhentos”, afirma Lenon, que é fun- acessível. Ocupar os espaços públicos é uma demanda importante não cionário terceirizado da Universidade. só para os estudantes universitários que carecem de cultura em uma Um problema constante tem sido o consu- cidade que, com tantos artistas sem incentivo e forasteiros sem grande mo e a venda de bebidas alcoólicas. Este fato é poder aquisitivo, fazem da Universidade sua casa e também seu bar, um empecilho para a vida cultural na Univer- sua boate.
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c ultura Sumá rio
A
febre de sentir
Após os primeiros contatos e inicial troca de informações, as entrevistas foram marcadas. Todos se surpreenderam com o tema. Talvez não esperassem ser contatados por esse motivo, com esse viés. “Professores da UFSM que produzem literatura” dizia o corpo das mensagens; este era o tema. “É uma ótima pauta”, comentara um deles. Uma ótima pauta que ainda duvidava de si mesma... REPORTAGEM, ILUSTRAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Matheus Santi
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Afinal, sobre o que era a pauta? Professores? Escritores? Literatura? Magistério? Nem o repórter sabia ao certo. Havia uma ideia. Havia as fontes. Havia entrevistas marcadas. “Melhor seguir com as entrevistas e ver no que dá...”, ele pensou e assim o fez. Formulou algumas perguntas, ainda desnorteado pela instabilidade do tema. Agendou as entrevistas e, no dia e hora marcados, pressionado pelo fluxo do tempo que não volta, saiu a realizá-las. No Departamento de Letras, óbvia opção inicial, conversou com o professor Orlando Fonseca. Na História, alternativa tão óbvia quanto a primeira, contatou o professor Vitor Biasoli. As Ciências Sociais contribuíram com o professor Humberto Zanatta. Por último, Rondon de Castro surgiu da Comunicação. Sabia que havia mais. Havia outros. Mas os limites de possibilidade foram rígidos. Talvez numa outra oportunidade... As entrevistas começaram pelo início, e pelo início começaram eles. De forma geral, todos principiaram suas experiências nas frases e versos durante a adolescência. Os egos inflados pelas paixões e a certeza de que podiam fazer algo de qualidade trouxeram os primeiros rabiscos, ainda prematuros. A inspiração, a abdução do momento sobrepunha-se à técnica; situação que, hoje, conseguem controlar. Acreditam na inspiração como parte importante, a matéria-prima é o que sensibiliza. Mas procuram a experiência e a organizam, disciplinam. Veem na alta motivação pessoal a fonte da inspiração. Seguindo o exemplo machadiano (do autor defunto ou defunto autor), o repórter pede que hierarquizem suas atividades: consideram-se professores escritores ou escritores professores? Os pensamentos vagam por um momento e pousam sobre a primeira opção. A profissão garante a sobrevivência. Num país que não valoriza seus escritores, a escolha entre a escrita e o magistério torna-se difícil, ou mesmo improvável. Por outro lado, a sala de aula é mais que uma fonte de renda. Num mundo ideal, em que poderiam viver da literatura, não se enxergam
devotados somente a ela. A sala de aula os puxa numa abdução tão forte quanto os insights que os atravessam. Ainda neste sentido, percebe-se a influência das aulas em suas escritas. Seja indiretamente, através do incentivo de novas leituras, comentários durante as aulas, circunstâncias humanas que servem de matéria-prima, seja diretamente, através da disciplina adquirida pelo rigor da ciência. E num ato recíproco, o reverso também ocorre; seja direta ou indiretamente, em comentários sobre livros e autores relevantes, ou (em âmbito mais pessoal) pela troca de experiências, a escrita influencia o dia a dia na sala de aula. Com isso, ao emergir nos alunos o conhecimento da prática literária de seus professores, surge certa identificação por parte daqueles que gostam do assunto, certa admiração. Iniciam-se os diálogos sobre literatura e produção literária, os comentários e “truques”, dicas de escrita... Este conhecimento, segundo os professores, mexe com os alunos. É feito, então, outro paralelo. O repórter pergunta, nas suas opiniões, o que é o ensino. Em primeiro lugar é considerado o estabelecimento de empatia entre o professor e o aluno, para então guiar, tirar do desconhecimento ao conhecimento, ajudar a descobrir as potencialidades. Em resumo, o ensino é visto como uma atividade modelar, de exemplo. O que seria, então, a literatura? E suas respostas são imediatas: uma das expressões da arte, do conhecimento; ou seja, uma impressão de mundo que relata o quotidiano e possibilita a construção de conceitos; a produção com as palavras do que se pode sentir e a perseguição desse sentimento. Conclui-se, com isso, que a literatura ensina e o ensino inspira. Inspiração... O repórter achou por bem deixar por último a pergunta que sentiu ser a mais pessoal, apesar de ela já ter sido parcialmente respondida. “O que te inspira? ”. Nesse momento, o silêncio. O repórter viu seus olhares perdidos em horizontes interiores, e assim por alguns segundos, até que aqueles homens, com seus grisalhos, tentavam pôr em palavras o que vinham tentando pôr em palavras desde sua adolescência. Zanatta: “A visão de mundo, do mundo”; Fonseca: “A vida, o ser humano”; Biasoli: “Vivências, experiências íntimas, profundas, que precisam de resolução”; Castro: “Melhorar o mundo, a peregrinação da vida”. A resolução... tão sonhada pelos que escrevem. “A resolução é a escrita”, conclui Biasoli. “Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir”, conclui Fernando Pessoa. E assim o repórter se despede, não antes de tornar-se o entrevistado por alguns momentos. Lembrou-se do que um dos professores dissera no início. Realmente, era uma boa pauta. As experiências compartilhadas e assuntos abordados trouxeram-lhe certa satisfação. E apesar de ainda não saber ao certo sobre o que é a pauta, sente que valeu a pena, ou, no jargão, sente que rendeu. Afinal, sente que é preciso diminuir a febre de sentir, e isso lhe dá alguma esperança de resolução...
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cultura
Caminhando
e cantando
e seguindo a canção reportagem :
Amanda Boeira & Julia Nadine Schapowal, fotografia: Divulgação, Thiago Álvares da Tindade e diagramação: Matheus Santi
ilustração:
Inspiração: “A maior inspiração para a banda é a própria música”, afirma Tainan Guazina. A banda tem influências de Donavon Frankenreiter, Red Hot Chilli Pepers, Bob Marley, Jack Johnson, Bruno Mars, Ben Harper. Autoral ou cover: banda autoral. Estão gravando um cd que conta com 10 faixas inéditas. Integrantes e cursos: Tainan Guazina (violão e voz - Música e Tecnologia), Carlos Maximiliano Nunes (guitarra - Música e tecnologia), Vinicius Bandeira (baixo) e Guilherme Oliveira (bateria). Eventos e lugares onde já tocaram: a banda já tocou em vários lugares da cidade. Significado do nome: a banda mudou recentemente de nome – antes, chama-se Maresia. O novo nome remete a um som que lembra a praia e motiva a caminhar sempre em frente com tranquilidade.
Granjah Roots (2004)
Da.Se.Ro.Ma (2012)
Estrada do Hawaii (2006)
Na Universidade Federal de Santa Maria, encontramos alunos que têm uma relação mais íntima com a música e se engana quem pensa que são apenas os acadêmicos específicos dessa graduação. Estudantes de variados cursos, que compartilham o mesmo gosto musical, além de alguma habilidade instrumental e vocal, formaram bandas e se tornaram os responsáveis por deixar o campus mais animado.
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Estilo: Soul Inspiração: Tim Maia Autoral ou cover: Cover Integrantes e cursos: Bruno Gomes (baixo - Matemática Licenciatura), Chico Antunes (trompete – Música Bacharelado), José Munhoz (trombone - Música Bacharelado), Lucas Lobato (bateria - Engenharia Acústica), Igor Schirmer (teclado - Ciências Sociais). Edinho Dias (percussão - Contabilidade Unifra), Nareo Lucas (guitarra), Daniel Gabardo (vocal) e Renata Assis Brasil (vocal feminino). Eventos e lugares onde já tocaram: tocam em bares, como Boteco do Rosário, Macondo, The Park, e já se apresentaram no Theatro Treze de Maio. Significado do nome: Se.Ro.Ma é o nome da gravadora de Tim Maia, que leva seu nome (Sebastião Rodrigues Maia), então Da.Se.Ro.Ma seria como se a banda viesse da gravadora.
Estilo: Reggae Roots Inspiração: Bob Marley Autoral ou cover: autoral e cover no mesmo estilo. Integrantes e cursos: Diogo Franken - Rasta (backing vocal e baixo - Matemática), Paulo Feuerharmel - Paulinho Camobi (percussão - Técnico em Paisagismo), André Santos Mano (guitarra solo - Ciência da Computação). Bernardo Jornada - Véio (guitarra base e vocal), Silvio Calgaro - Salsicha (violão), Wagner Cioccari - Ticola (bateria), Alvaro Ferreira - Alvinho (percussão) e Ronan Teixeira (produção). Eventos e lugares onde já tocaram: tocam em eventos da cidade, boates, festas particulares, inclusive muitas festas promovidas pelos cursos da UFSM.
Estilo: baile à moda antiga Inspiração: Gildo de Freitas, Cenair Maicá, Luiz Marenco, Pedro Ortaça, entre outros grandes nomes da nossa música regional. Autoral ou cover: autoral, mas que também “interpreta canções de outros autores do nosso cancioneiro”, afirma Gustavo Iser. Integrantes e cursos: Gustavo Iser (vocal - Zootecnia), Marcelo Ascoli (cordeona - Zootecnia), Vinicius Silva (percussão – Biologia). Augusto Iser (contrabaixo – Técnico em Segurança do Trabalho) e Iterminio Fraga (violão). Eventos e lugares onde já tocaram: expofeiras, boates, festas de turmas, piquetes, CTGs, remates. Nas cidades de Santa Maria, Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul, Santana do Livramento, São Gabriel, Porto Alegre, Encruzilhada do Sul. Significado do nome: Comparsa simboliza o trabalho realizado pelo grupo tendo um significado de união. Sureña representa o que a banda vem cantar, o sul do país. Origem da banda: a banda se formou com a missão de não deixar o Vigília do Canto Gaúcho (festival nativista de Cachoeira do Sul) acabar. Uniram-se com o Núcleo Cachoeirense de Compositores Nativistas e realizaram ações para a não extinção do evento, auxiliando inclusive na produção do cd do festival.
Estilo: Rock Autoral ou cover: autoral Integrantes e cursos: Gabriel Foresti (guitarra e vocal - Odontologia). Bernardo Escobar (baixo - Arquitetura/Unifra), Lorenzo Busanello (guitarra) e Mauricius Nascimento (bateria). Eventos e lugares onde já tocaram: tocam em poucos locais, mais recentemente no parque Itaimbé. "A abertura para bandas autorais não é muito grande", afirma Gabriel.
Bueno (2014)
Azés? (2012)
Comparsa Sureña (2011)
“Sem a música, a vida seria um erro.” A frase de Friedrich Nietzsche expressa o que, até hoje, é uma verdade absoluta. Todos têm, de alguma maneira, envolvimento com a música. Seja enquanto vamos para aula com fones de ouvido, fazemos trabalhos acadêmicos “curtindo um som”, ou quando toca nossa música preferida e aumentamos o volume do rádio do
Estilo: variado, “A banda prefere se apelidar de copo de requeijão, em que as pessoas retiram o rótulo para assim poder transformá-los em copo. Nossa banda quer ser vista assim, sem rótulos, sem amarrações a um determinado gênero musical”, afirma Thiago Trindade. Inspiração: Jimmi Hendrix, The Strokes. Autoral ou cover: autoral Integrantes e cursos: João Ises (guitarra/baixo – Filosofia), Matheus Rossi (guitarra/baixo - Licenciatura em Violão), Vinícius Ceratti (guitarra/teclado/ escaleta – Licenciatura em Violão), Raul Costa (voz/guitarra – Engenharia Mecânica) e Thiago Trindade (bateria – Publicidade e Propaganda).
A UFSM revela novos talentos, forma novas bandas e une grupos distintos. A vontade de todos, conhecidos ou não, é que a nossa Universidade gere um evento para que todos reconheçam o sucesso que, muitas vezes, se esconde entre seus inúmeros prédios. Caminhando pelo campus, facilmente se encontra um grupo com violão, pessoas que cantam e se divertem depois de um longo dia de aula ou durante o intervalo entre um período e outro. Pegando um sol na frente do restaurante universitário, no bosque, enfim, não importa o momento ou o lugar, uma boa música sempre une as pessoas. Independente do gosto musical, de Rock a Sertanejo, como diria Geraldo Vandré, “somos todos iguais”.
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p er fi l
Há 28 anos, Eulália Maria Fantinel, conhecida carinhosamente pelos colegas como “Dona Lala”, trabalha como copeira do Gabinete do Reitor da UFSM. Com alegria, ela fala sobre o seu trabalho na reitoria e o cuidado que tem para sempre servir bem as pessoas. A história de Eulália começa na cidade de Dona Francisca, em 22 de julho de 1940, data de seu nascimento. Logo, mudou-se para Formigueiro e, em 1975, passou a viver em Santa Maria, onde ficou por pouco tempo. Eulália foi morar com uma tia, em Brasília. Quando voltou a Santa Maria, arranjou um emprego no Hospital Veterinário, em que permaneceu por dois anos. Sua próxima ocupação foi na reitoria, de onde não saiu mais. Eulália já se aposentou, mas foi recontratada como copeira. Nesses anos, presenciou mais de uma mudança de gestão das empresas terceirizadas responsáveis pela prestação do serviço: primeiro a André Alves, em seguida a Moura, a TRT e agora a Sulclean. Independente da terceirizada, Dona Eulália segue o seu trabalho: “eu faço o que eles pedem, não há conflito”, ela conta. Em quase 30 anos, vários foram os protestos que aconteceram na reitoria: “uma vez, tentaram derrubar a porta do Conselho. Eu e o guarda seguramos, entre duas pessoas, o horror que estava lá fora, mas não tivemos força. Derrubaram e quebraram a porta em cima da gente, mas não nos machucamos. Isso foi na época do professor Sarkis. Várias reuniões já foram canceladas por causa de protestos, porque tomavam conta do Conselho. Foram muitos protestos, tanto de estudantes quanto de funcionários.” Ela, resignada, completa: “Eu só acompanho, não posso e nem tenho por que protestar.”
Eulália conta que, até aos sábados pela manhã, se tem alguma reunião importante, ligam para ela e ela se arruma rapidamente, enquanto a Universidade encaminha um transporte para buscá-la. Ela já conhece os gostos de cada um: “Para a xícara do professor Felipe, adoçante; Já o professor Burmann, prefere sem açúcar” Para ela, com açúcar, “gosto do café doce”, conta. “O falecido João Manuel, chegava pela manhã e sentava em um banquinho, eu servia café para ele, ele me contava o que havia de dife-
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rente pra que eu ficasse atualizada. Ele era chefe de Gabinete.” Mesmo de poucas palavras, Dona Eulália conquistou um carinho grande pelos colegas, a recepcionista da reitoria conta que, no dia das mães, todos os colegas de trabalho parabenizavam dona Eulália, e ela, mesmo sem ter filhos, agradecia sorridente. E, enquanto puder, pretende continuar a servir diariamente o tão apreciado cafezinho. Texto: Luíza Tavares; Fotografia: Nicoli Saft; Diagramação: Jocéli Lima
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