Ano IX Número 21 Julho de 2016
revista laboratório do 3º semestre do curso de comunicação social – jornalismo | ufsm
ESPECIAL
OS DESAFIOS DA MORADIA ESTUDANTIL
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ao l eitor
mais que moradia temporária, um legado A entrada na Universidade e todas as questões Se, por um lado, a assistência estudantil é fráque envolvem a permanência dos estudantes gil, de outro, existem iniciativas que visam dar deveriam ser primordialmente garantidas pela esperança a quem necessita. Pessoas dedicam instituição. Porém, haja vista a carência de re- um tempo especial de suas vidas para ajudar e cursos econômicos e o número de ingressantes acalentar o coração daqueles que passam por que cresce exponencialmente a cada semestre, o momentos frágeis. Seja por meio de ações vosuprimento de necessidades de caráter social é luntárias ou de projetos acadêmicos de ensino, subjulgado em detrimento de outras priorida- pesquisa e extensão, a Universidade constituides, como a manutenção financeira da própria -se num espaço plural de conhecimento e deestrutura da Universidade. dicação ao outro. Um dos problemas centrais é a assistência Na história da UFSM, estão registrados moestudantil: mesmo com a garantia da vaga, não vimentos de luta e resistência, como a busca há certeza de condições de permanência, pois pela igualdade de acesso à moradia estudantil, o benefício socieconômico não atende todas as a investigação dos fatos escondidos nos anos de demandas. Além disso, a segurança dos alunos chumbo e a expressão, visibilidade e reconhe– especialmente dos que moram na Casa do Es- cimento da cultura negra. Além de enfrentar os tudante Universitário – é um aspecto essencial problemas existentes, o desafio de quem está na que sequer está previsto no estatuto da UFSM, Universidade é ser parte ativa do processo de já que o setor de vigilância se concentra no cui- construção de sua história. dado ao patrimônio. Andressa Motter, Ian Tambara, Juliano Castro e Viviane Borelli
revista laboratório do 3º semestre do curso de jornalismo da ufsm edição editores de produção projeto gráfico
Viviane Borelli Andressa Motter, Ian Tambara e Juliano Castro Marcelo Kunde adaptação e atualização
diagramação
revisão
fotografia tratamento de imagem divulgação edição on - line
capa fotografia de capa modelo da capa professora responsável endereço
data de fechamento impressão
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tiragem
www.ufsm.br/txt txt.revista@gmail.com
Flavio Teixeira Quarazemin
Amanda Iung, Andressa Motter, Giovana Alonso, Júlia Maia, Luciana Turcatto, Mayara Souto, Mirella Joels; coordenação : Flavio Teixeira Quarazemin Bernardo Abbad, Bruno Steians, Gabrielle Coradini, Laura Boessio, Luís Fernando Filho, Paola Brum, Taísa Medeiros, Victória Lopes; coordenação : Victória Lopes Bárbara Marmor, Júlia Dotto, Júlia Maia, Lucas Moro, Mirella Joels; Barbara Marmor Caline Gambin, Eduardo Tesch, Laura Boessio, Maíra Trindade, Mariana Machado; Cristina Haas, Kamilla Ruas, Maria Luiza de Grandi, Mateus Rossato, Suélen Lavarda; Flavio Teixeira Quarazemin Rafael Happke Victória Lopes
com um aplicativo leitor de qrcode, aponte a câmera do seu celular ou tablet para o código e acesse o conteúdo da revista.
Viviane Borelli Mtb/RS 8992 Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234 Telefone: (55) 3220-8811 15 de julho de 2016 Imprensa Universitária da UFSM | 700 exemplares
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sum ário
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30 6 entrevista uma face da democracia brasileira
8 comunidade ufsm a serviço da população
9 comunidade a arte de fazer sorrir
12 saúde à espera de alegria
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20 31 14 saúde um espaço para qualidade
16 paralelo ufsm durante os anos de chumbo
18 paralelo
estatuinte: discussão, paridade e formulação de um novo estatuto
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36 20 geral passei! onde festejar?
22|25 especial : os desafios da moradia estudantil 22 e agora onde vou morar? 25 a insegurança também mora aqui
30 esporte em busca da nova geração de ouro
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cultura africarte
39 34 cultura entre o arco e os acordes
36 empreendedorismo empresas juniores conectam a universidade ao mercado emprendedor
39 perfil coragem é um palavra feminina
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entr evista
UMA FACE DA DEMOCRACIA BRASILEIRA reportagem: luis fernando filho e helenilton alves; fotografia: lucas moro; diagramação: luciana turcato.
em um cenário de mudança, gustavo muller avalia o futuro da democracia no brasil
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A conjuntura política atual necessita de um txt - qual a importância da democracia debate franco e sincero. A narrativa de um su- para o brasil? posto “golpe” dividiu o país, polarizou-o. Difundiu opiniões nas mais profundas instâncias Gustavo Muller: Explicar as condições sob as da nossa sociedade, entre esquerda e direita, quais a democracia nasce e se consolida é uma Judiciário e Legislativo, e também posições tarefa clássica da política comparada. No caso de confrontamento entre os juristas de todo o do Brasil, em quinhentos anos de história, país. As retóricas distintas oferecem uma gama como já disse, tivemos cinquenta anos de dede prerrogativas para debatermos não apenas mocracia, o que é muito pouco. Tenho fortes uma suposta fissura constitucional em nosso razões para supor que as relações promíscuas país, mas serve, também, para acirrar uma visão entre Estado, partidos e setor privado minaram ainda mais complexa acerca de temas como a as bases do que veio a se chamar de Nova Repúeducação brasileira, gastos públicos e, claro, a blica. Aguardemos o que virá pela frente democracia brasileira- ou o que restou dela. Gustavo Muller, 45 anos, atualmente lecio- .txt - em que a mudança do governo dilma na na Universidade Federal de Santa Maria no para o de michel temer afeta a ufsm? curso de Ciências Sociais. Ministra uma Disciplina Complementar de Graduação (DCG) in- Gustavo Muller: O governo interino, como titulada como “Instituições Políticas Brasileiras qualquer governo que assumisse, teria que fazer Pós 1988”, e faz menção aos estudos da Cons- o ajuste fiscal. Ao considerar pelos dados que tituição, mais precisamente do neoinstituciona- temos até agora o rombo é enorme. Isso afeta as lismo e suas interpretações na pós-modernida- universidades federais, na medida em que será de. Superando a academia, ainda dispõe de um necessário um drástico corte nas despesas. Blog no Jornal O Globo onde expõe suas visões sobre o atual cenário político e sua conjuntura. .txt - porque o senhor diz que a ascenção Gustavo possui Paralisia Cerebral, o que com- social no governo pt é ilusória? promete em parte o seu desenvolvimento léxico, mas jamais a sua compreensão de mundo. Gustavo Muller: É ilusória porque foi baseada no boom das commodities, na provável receita txt - nesses últimos 30 anos, o brasil ad- advinda do Pré-Sal e na ideia de que a expansão quiriu uma fase madura da democracia? do crédito e do consumo gerariam investimentos, que por sua vez gerariam receitas para cobrir Gustavo Muller: Eu acho que não. Porque se os gastos públicos. Como nenhuma das três vanós formos olhar no ponto de vista histórico, riáveis funcionou do modo que o governo espe30 anos não é quase nada. A Democracia ame- rava, o país está com um quadro econômico que ricana, por exemplo, tem 200 anos. A Inglaterra combina recessão e inflação. Com isso o poder tem mais de 800 anos de construção institu- de compra encolhe e muitos ficam desempregacional. O que acontece no Brasil? Quinhentos dos. Em suma, aqueles que subiram um degrau, anos de história e menos de cinquenta de expe- desceram dois. E qual é o principal elemento riência democrática. da ascensão social? É a educação. É ela que vai capacitar vocês a competir no mercado de trabalho. Na verdade o grande problema da educação no Brasil não é o ensino superior. É a educação básica, as pessoas chegam nas universidades com a base educacional precária, mas investir no ensino é algo que só dá resultado a longo prazo. Não produz resultado imediato.
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com unidade
UFSM A SERVIÇO DA POPULAÇÃO reportagem: eduardo tesch e laura boessio; fotografia: bárbara marmor; diagramação: amanda iung.
curso de odontologia da ufsm oferece atendimento gratuito e a custo de manutenção. É comum que cursos da área da saúde, em diversas instituições, ofereçam atendimentos gratuitos e a custo de manutenção à comunidade. O curso de Odontologia da UFSM é um exemplo desta prática. No longínquo ano de 1931, foi registrado o documento que criava a Faculdade de Farmácia e Odontologia que, na época, seria administrada pela Sociedade de Medicina de Santa Maria. No entanto, somente a Faculdade de Farmácia começou suas atividades. Foi apenas em 14 de dezembro de 1960, com a assinatura da Lei nº 3.834-C, que o curso de Odontologia passou a existir efetivamente, vinculado à criação da UFSM. A primeira turma de cirurgiões dentistas formados pela UFSM foi diplomada no dia 11 de Dezembro de 1964. Atualmente, o curso conta com Clínicas Integradas para prestar serviços de atendimento ao púbico, onde os alunos realizam consultas e pequenas intervenções, sempre com a orientação direta do professor para colocar em prática o que é ensinado em sala de aula. Para ser atendido é necessário agendar uma avaliação no setor de Triagem, localizado na rua Floriano Peixoto 1184, térreo. Após essa etapa, o paciente é encaminhado para a clínica que melhor atende a sua necessidade. O serviço feito pelas Clínicas Integradas é gratuito para pessoas com
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benefício socioeconômico, e para o resto da comunidade é cobrado um custo de manutenção. Outra forma de atendimento ocorre através das disciplinas do currículo de Odontologia. A partir do segundo semestre do curso, os alunos já realizam consultas gratuitas na disciplina de Saúde Coletiva II. Ao todo, nove disciplinas oferecem programas para atendimento à comunidade. Nas disciplinas específicas, o aluno tem a possibilidade de colocar em prática aquilo que é estudado em sala de aula. Leandro Oliveira, estudante do sétimo semestre de odontologia, comenta a importância das disciplinas práticas no currículo: “quanto antes o aluno começa a por em prática a teoria, mais cedo começa a amadurecer no sentido clínico. A principal vantagem é poder atuar plenamente nos 5 anos de faculdade”. Para Leandro, a principal diferença entre as formas de atendimento consiste no tipo de procedimento realizado. “As clínicas oferecem ao aluno a possibilidade de integrar diferentes conhecimentos com o propósito de restabelecer a saúde do paciente. Ao contrário dos atendimentos nas disciplinas específicas em que somente um tipo de tratamento é realizado, por exemplo”, explica o acadêmico.
horário de atendimento De segunda a sexta das 7h30 às 17h
local Prédio da antiga Reitoria, R. Floriano Peixoto, 1184 - Centro, Santa Maria - RS
contato (55) 3220-9272 ufsm.br/odontologia
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c o munidade
A ARTE DE FAZER SORRIR reportagem: andressa motter, bárbara marmor e juliano castro; fotografia: andressa motter; diagramação: júlia maia e andressa motter.
inspirar e despertar sorrisos, sem obter remuneração em troca: esta é a missão daqueles que se dedicam ao voluntariado. em santa maria, vários são os projetos e instituições que funcionam com a ajuda desse tipo de trabalho. Acorda às 7 horas da manhã, sai da Casa do Estudante, toma café no Restaurante Universitário e segue para a Turma Ique, local onde há dois anos atua como voluntário. Mesmo em consonância com as difíceis provas e com a carga horária apertada, Lucas André Lamb Werner, 22 anos, trata o voluntariado como compromisso fixo da rotina. “Para mim, ver o sorriso dessas crianças, quando a gente brinca com elas, é o maior pagamento. Faço porque gosto”, afirma o jovem, com convicção. Atualmente, Lucas cursa Engenharia Elétrica na UFSM, porém já conhecia a Turma do Ique desde muito antes de ser aluno da Universidade. Aos oito anos, frequentou o centro para tratar uma leucemia. Ele conta que, durante o tratamento, acompanhava todos os procedimentos com cuidado, mas o trabalho dos voluntários lhe chamava mais
a atenção. “Eu não entendia o porquê de eles estarem ali fazendo a gente rir, conversando, falando que tudo ia passar. A única coisa que sabia era que me sentia muito bem com eles. E hoje, poder estar aqui, não é apenas retribuir o que fizeram comigo, mas sim proliferar o sentimento de que tudo vai passar”, conta Lucas. Há 10 anos, a Turma do Ique acolhe crianças e suas famílias durante o tratamento do câncer. Os pacientes recebem acompanhamento médico e psicológico enquanto aguardam por procedimentos no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). A equipe é formada por médicos, psicólogos, assistentes e voluntários.
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Voluntariado é o ato de doar tempo e conhecimento para fomentar a sociedade em que se vive, através de ações que não são remuneradas, mas que têm valor importante para a comunidade e para o próximo. Voluntário, portanto, é aquele que trabalha com espontaneidade, capricho e vontade própria, sem constrangimento ou coação. Em Santa Maria, muitos são os projetos que contam com o auxílio de voluntários e só se efetivam pela doação ao outro. Altivo Goularte Rodrigues é voluntário na Turma do Ique há aproximadamente três anos. Uma vez por semana, ajuda a cozinhar para as crianças e familiares. Segundo ele, a relação com os demais voluntários é excelente e todos doam-se para a atividade: “No momento em que estamos fazendo a comida, nos dedicamos com amor e com energia muito positiva”. Desde que se aposentou de sua função na Caixa Econômica Federal (CEF), há dez anos, Altivo faz apenas trabalhos voluntários. Além de auxiliar na Turma do Ique, presta assistência a mais de 60 famílias através do Centro Espírita do qual faz parte, e integra a ONG Moradia e Cidadania. Esta, composta por funcionários da CEF, trabalha na construção e manutenção de moradias a pessoas em condições de vulnerabilidade social. Em Santa Maria, a ONG já construiu 27 casas, inclusive para crianças que frequentam a Turma do Ique. A intenção é fechar o ano de 2016 com a 30ª casa concluída.
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Tatiele Corrêa é mãe de Conrado, quatro anos. Segundo ela, o trabalho dos voluntários da Turma do Ique é muito importante para a recuperação das crianças e também para a assistência aos pais. “Eles alegram o ambiente”, afirma. O pequeno Felipe Fontel, nove anos, vem todas as quartas-feiras de Guarani das Missões, no noroeste do Estado, para tratar-se de câncer. Ele relata, com brilho nos olhos, que os voluntários brincam, trazem livrinhos, contam histórias e animam a todos. Voluntariado é sensibilidade, emoção e comoção. É com essas palavras que Hernán Mostajo define o projeto “Darth Vader – Legião do Bem”. O que no início era apenas vontade de despertar um sorriso nas crianças em tratamento oncológico, se tornou um projeto que já divertiu quase mil pacientes. A Legião, que no ano 2013 iniciou suas ações com apenas cinco integrantes, hoje conta com 77 voluntários dispostos a fazer o bem. As atividades são coordenadas pelo professor e cientista Hernán Mostajo. Entretanto, é a integração e o engajamento dos voluntários que dá vida ao projeto, já que organizam as festas, brechós, e carnavais. Eles fazem “bagunça” mas, ao final, limpam todo o espaço. Mostajo explica que um dos grandes objetivos do grupo é promover o voluntariado em seu sentido mais humano. Desta forma, além da entrega de brinquedos e das intervenções feitas em hospitais e creches, os voluntários, sempre caracterizados como os personagens da série “Star Wars”, divertem as crianças e apoiam os pais dos pacientes. A voluntária Andressa Vicedo, 17 anos, destaca sua ação: “é muito gratificante: a gente ganha um sorriso e faz algo por alguém que precisa”. A Legião do Bem atua em parceria com o Centro de Apoio a Criança com Câncer (CACC), o Husm e a Associação dos Pais e Amigos de Excepcionais (Apae). As intervenções acontecem, ainda, em creches e ONGs, como o Lar de Mirian e Mãe Celita, e a SOS Aldeias Infantis. Além disso, as ações dos voluntários se estendem a outras cidades, como Passo Fundo, Ijuí e Porto Alegre. O trabalho voluntário inspira e, para a maioria dos pacientes, é inesquecível. Prova disso é o caso de Lucas, que hoje leva esperança para crianças que precisam de carinho. Eles não são remunerados e, em muitos momentos, sequer reconhecidos, mas estão lá dispostos a contar uma história, preparar um almoço quentinho, brincar e despertar um sorriso.
história do voluntariado
O modelo de trabalho voluntário em vigor hoje resulta de um processo amplo no qual vários modelos foram praticados. Segundo informações do Faça Parte - Instituto Brasil Voluntário, a ação voluntária no país vivenciou quatro momentos bem definidos desde seu surgimento. O primeiro deles foi a benemerência, inaugurado no século XIX com o nascimento formal do voluntariado. Na época, os problemas sociais eram entendidos como desvios da ordem dominante e atribuídos a indivíduos “em desgraça”, os quais, por não terem oportunidade de reintegrar-se à sociedade, precisavam da caridade organizada. Assim, famílias mais abastadas distribuíam seus excedentes entre os necessitados. Neste contexto social paternalista, rigoroso e excludente, o voluntariado de benemerência era incipiente, moralizador, feminino e baseado em rígidos valores morais. A partir do século XX, as instituições filantrópicas assistenciais passaram a ter intervenção do poder público. Inicia-se, então, o segundo momento, conhecido por “Estado do Bem-Estar Social”, que tornou o atendimento aos necessitados uma responsabilidade do Estado. Embora, na época, tenham sido desenvolvidas políticas interessantes, o individualismo foi favorecido em prejuízo das iniciativas voluntárias ou associativas. Com a queda do Estado do Bem-Estar Social, na década de 60, o movimento voluntário foi questionado politicamente. Sofreu influência de correntes contestatórias e libertárias - características em quase todos os movimentos sociais de origem popular da época. Com essas mudanças em curso, grupos lideraram a participação ativa nas questões sociais e, consequentemente, foram criadas diversas organizações sociais. Após esse período, surge o voluntariado combativo, um movimento desorientado, espontâneo, predominantemente jovem e sem perspectivas de uma consolidação institucional. A ação centrava-se no pressuposto de uma mudança de ordem social e situava-se, muitas vezes, no âmbito do protesto. Na metade da década de 80, com a democratização da América Latina e dos países em desenvolvimento, o neoliberalismo surgiu como concepção político-econômico-cultural no Ocidente. Segundo o Faça Parte, os Estados ajustaram seus orçamentos e diminuíram lentamente os financiamentos da assistência social. Os recursos foram transferidos para os empreendimentos privados ou para as mãos dos antigos beneficiados. A resposta foi o nascimento de um voluntariado que se esforçou para diminuir as necessidades daqueles que ficaram fora do sistema. No “modelo dos anos 80”, a questão social deixou de ser responsabilidade exclusiva do Estado, que passou a dividi-la com a sociedade civil. O trabalho voluntário começa, então, a ser debatido como peça-chave na intervenção dos problemas sociais. Na década de 90, o voluntário é considerado um cidadão que, motivado por valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento de maneira espontânea e não remunerada em prol de causas de interesse social e comunitário. Mais informações sobre trabalho voluntário e como tornar-se um colaborador, acesse: www.facaparte.org.br
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À ESPERA DE ALEGRIA reportagem: bruno steians e giovana alonso; fotografia: júlia maia e rafael happke; diagramação: giovana alonso.
crianças recebem estímulos na piscina do cefd para desenvolverem suas habilidades cognitivas, motoras, afetivas e sociais.
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O Projeto de Estimulação Essencial Motora Aquática para Bebês e Crianças com Deficiência integra o programa Piscina Alegre, que surgiu em 2000 como um projeto específico para Síndrome de Down. Quem o idealizou foi a professora do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), Luciana Palma, também coordenadora das ações. Nesse projeto participam três crianças de dois anos: Natália Eduarda Benetti, Gabriel Dutra Souza e Elisa Machado. Com as atividades oferecidas, busca-se contribuir para o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social. O projeto foi interrompido por nove meses devido à falta de monitores suficientes para as crianças. Com isso, houve uma pausa nos trabalhos durante todo o segundo semestre de 2015. Natália e Gabriel não demoraram muito tempo para demonstrarem a falta que sentiam das atividades. Gabriel demonstrava isso quando sua mãe montava uma piscina no pátio de casa: “Era nos momentos de banho que eu notava que ele tentava superar a falta do projeto”, conta Cléia Alvani Dutra, mãe do menino. O mesmo aconteceu com Natália, que havia criado um vínculo com colegas, monitores e o espaço da piscina. A mãe, Erika Suzenir Essy Benetti, conta que a filha tem verdadeira adoração pela água e porv nadar. Quando o projeto reiniciou suas atividades, no começo de 2016, uma tempestade destelhou parte do ginásio. Novamente, houve uma pausa até o final de abril para a restauração. Os familiares, enquanto esperavam pela revitalização, procuraram sanar a falta das atividades da piscina através de outros estímulos às crianças. A rotina de Elisa sempre foi muito intensa. Além da natação, faz equoterapia, balé, fonoaudiologia e fisioterapia, manteve-se ocupada. Natália também faz diversas terapias além da hidroterapia oferecida pelo projeto. Em casa, recebe estímulos dos familiares como relata a mãe: “a Natália tem uma família que a ajuda. Todos colaboram oferecendo estímulos como cantar, caminhar ou brincar”. No caso de Gabriel, o estímulo é dado através das brincadeiras realizadas na creche Ipê Amarelo, onde fica de em tempo integral, de segunda a sexta. Desde a volta do projeto, as mães observam evolução no desenvolvimento dos filhos. As três indicam os resultados positivos alcançados até o momento. As crianças melhoraram, principalmente, a apreensão de objetos, a postura e o fortalecimento muscular. Além disso, ganham a segurança e a autonomia que precisam para caminhar e construir seus relacionamentos sociais.
OS BEBÊS INGRESSAM EM TORNO DOS OITO MESES E AS CRIANÇAS COM DEZ ANOS. ELES PERMANECEM ATÉ PODEREM SER PASSADOS PARA OUTROS PROJETOS CONFORME SEU DESENVOLVIMENTO.
OCORRE NAS QUINTAS-FEIRAS DAS 14H30 ÀS 15H30, NA PISCINA TÉRMICA DO CEFD. ESTÁ ABERTO PARA TODOS OS TIPOS DE NECESSIDADES ESPECIAIS. 13
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UM ESPAÇO PARA QUALIDADE reportagem: amanda iung e gabrielle coradini; fotografia: bárbara marmor e júlia maia; diagramação: amanda iung
cuidar da saúde, hoje, tornou-se mais fácil. isso porque existe, cada vez mais, uma gama de opções que atende às necessidades das pessoas preocupadas em manter uma vida saudável. o mais difícil, porém, é conseguir achar um tempo na rotina tumultuada e corrida. no entanto, isso não é problema para dilce maria brondani, que utiliza o horário de intervalo para praticar atividades dinâmicas sem precisar se deslocar muito: no espaço alternativo da ufsm.
A assistente administrativa trabalha como chefe soas (Progep) e conta com várias oficinas, como: da Central de Aquisições no prédio da Reitoria pilates, meditação, fotografia, jardinagem, além e, no ano de 2011, recebeu um convite da assis- das novas ideias que podem surgir a cada aula e tente social Carmen Regina Borges: ocupar seu ser incorporadas à lista de opções. horário de intervalo para participar de oficinas Esse espaço, que surgiu com o intuito de uma vez por semana. Nesse momento, ela vi- melhorar a saúde física, emocional e mental veu a criação do Espaço Alternativo, grupo que dos servidores, é visto como uma oportunidade frequenta até hoje. Inicialmente, os encontros para relaxar e recuperar as energias. O professor aconteciam toda quarta-feira e, toda semana, da UFSM, Charles Paveglio, abdica do horário um convidado juntava-se a eles para ministrar de almoço para participar da oficina de yoga. uma oficina diferente. “Nós começamos ali no “De certa forma ajuda a esquecer um pouquinho próprio prédio da Reitoria, no subsolo. Carre- o trabalho, concentrar no corpo, ver, pensar em gávamos os colchonetes, cada um o seu”, lem- ti, esse é um dos espíritos; é o motivo para que bra-se Dilce das primeiras aulas de yoga e pila- eu venha para a aula”. Charles já praticava yoga tes. Hoje, o Espaço Alternativo está localizado antes de entrar para a UFSM, em 2011, e desde no prédio 67 da Pró-Reitoria de Gestão de Pes- que ingressou deu seguimento à atividade. Dilce
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também abre mão de fazer outras coisas, como tirar um cochilo, por exemplo, para ir às oficinas. “Tu está sempre aprendendo (com as oficinas). No cochilo tu não aprende. Tu descansa, relaxa um pouco, mas isso tem outros momentos pra fazer. Eu acho que é muito válido. Esse espaço não pode morrer, não!”. Os dois concordam que a volta ao trabalho depois das atividades é bem melhor. “Por exemplo, jardinagem, em contato com a natureza, para quem gosta, eu acho que não tem coisa melhor. Essa natureza maravilhosa, esse espaço belíssimo que a gente tem no próprio campus. É um privilégio”, conta a servidora.
“
Tu está sempre aprendendo (com as oficinas). No cochilo tu não aprende. Tu descansa, relaxa um pouco, mas isso tem outros momentos pra fazer. Eu acho que é muito válido. Esse espaço não pode morrer, não!
”
No entanto, o serviço oferecido pelo Espaço Alternativo não se restringe apenas aos servidores em exercício na UFSM. Maria Valdiria, que participa da oficina de jardinagem, e Elda Veiga, de dança de salão, são funcionárias aposentadas que vão à universidade somente para participar das atividades. “A gente tem a oportunidade de estar aqui. Vou ficar em casa ociosa? Não! Eu faço outras atividades e gosto de vir aqui também”, comenta Maria Valdiria. As aposentadas são gratas à existência de um local para que os servidores possam praticar atividades leves, sem a preocupação com os seus problemas. “As pessoas se sentem muito gratificadas, porque elas vêm aqui buscando o seu bem-estar e a sua saúde, tanto física quanto emocional e mental”, comemora a coordenadora Carmen. Além de visar o benefício aos servidores, todas as atividades realizadas no projeto geram um retorno para a UFSM. De acordo com a psicóloga e consultora empresarial Edina Bom Sucesso, a qualidade de vida no trabalho está ligada ao bem-estar das pessoas em seu ambiente profissional. Esse bem-estar, quando estimulado, eleva a produtividade do trabalhador, além de atender às suas necessidades.
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A UFSM DURANTE OS ANOS DE CHUMBO
reportagem: lucas moro e suélen lavarda; ilustração: guilherme abreu; diagramação: mirella joels
se hoje encontramos uma universidade com espaço para debate e liberdade de expressão, durante o regime militar esses direitos não eram assegurados. a comissão da verdade na ufsm foi criada para esclarecer os fatos que ocorreram na universidade durante a ditadura. o que já foi feito? Através da Assessoria Especial de Segurança e Além de representantes do Conselho UniversiInformação (Aesi), localizada no 5º andar da tário (Consun), órgão máximo de representareitoria, os militares monitoravam a comunida- ção da UFSM, e da Ordem dos Advogados do de acadêmica e repassavam informações para Brasil (OAB), com o intuito de representar a o Serviço Nacional de Informação (SNI), em sociedade civil e o Comitê Santa-mariense da Brasília. Estudantes, professores e técnicos que Verdade. A organização, conta também com o fossem militantes políticos ou cidadãos consi- suporte técnico de representantes dos cursos da derados “subversivos” sofriam com a cassação História, Arquivologia e Direito. de seus direitos políticos, demissão ou perda do Durante o ano passado, o trabalho da codireito de exercício de seus cargos. missão ficou restrito ao início das investigações, Para esclarecer o que ocorreu naquela época, à organização interna. Também foi realizada a evitar novas perseguições e violação de direitos, o busca de documentos existentes Comitê Santa-mariense pelo Direito à Memó- dentro da própria universidade Durante o ano passado, o ria e à Verdade e entidades de representação junto ao Departamento de Arquitrabalho da comissão da universidade propuseram a criação de uma vo Geral (DAG). Estes documentos ficou restrito ao início das “Comissão da Verdade” na UFSM. Essa comissão deveriam mostrar melhor o funcioinvestigações, à é autônoma e tem o desafio de trazer à tona o namento da repressão dentro da organização interna. que ocorreu durante a ditadura. UFSM, assim como outras informaA criação da comissão segue o caminho do ções relevantes sobre o período. Poque foi realizado em outras instituições, como rém, segundo o coordenador-geral as universidades de Brasília (UNB), de São Pau- da comissão, Diorge Alceno Konrad, além das lo (USP), a Federal da Bahia (UFBA), a Federal dificuldades enfrentadas por provas que suposde Santa Catarina (UFSC), a Pontifícia Univer- tamente foram eliminadas, os documentos sosidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Essas bre a Aesi também não estão no arquivo geral instituições, assim como a UFSM, se empe- da UFSM, uma vez que todos eram enviados dinham em restabelecer a verdade sobre os acon- retamente ao Serviço de Informação em Brasília. tecimentos desse período através do trabalho Já foi solicitado que se faça um pedido junto de suas comissões. à reitoria, através de ação jurídica, para que haja Em homenagem ao ex-professor do curso de acesso aos arquivos da época ainda existentes Medicina da UFSM e ex-prefeito de Santa Maria, sobre a UFSM. No entanto, este processo é comcassado pelo Ato Institucional nº 1, a Comissão plicado, pois pouca coisa do SNI já foi revelada. “Paulo Devanier Lauda” de Memória e Verdade Além dos documentos da própria universida UFSM foi instituída em junho de 2015. dade e dos órgãos federais, é importante que se A Comissão da Verdade da UFSM conta estabeleça parcerias com comissões de outras com onze titulares e cinco suplentes que repre- universidades e com a Comissão Nacional da Versentam os três segmentos acadêmicos a partir dade. Com esse intuito, representantes da UFSM de indicações do DCE, da Assufsm e Sedufsm. estiveram presentes no Fórum das Comissões da
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Verdade das Universidades. Diorge revela que há ainda a ideia de organizar um dia de debates ou um seminário em Santa Maria com a participação de integrantes de comissões de outras universidades. Outro meio de investigação são os relatos de testemunhas da repressão, como na Comissão da Verdade da Puc-SP, que realizou audiências públicas com depoimentos de militantes e não militantes da época. O processo adotado pela Puc pode ser usado como modelo para o trabalho da comissão da UFSM, que fez sua única audiência no dia 15 de abril de 2016. Na ocasião, foi ouvido o professor aposentado do curso de Medicina, Eduardo Rolim, que foi afastado da universidade em 1964, dois anos depois teve seus direitos políticos suspensos e perdeu o mandato de vereador pelo PTB. Em uma próxima audiência, que ainda não tem data definida, será ouvida Lys Lauda, filha de Paulo Devanier Lauda, professor ‘expurgado’ da UFSM na época do golpe militar. É essencial a divulgação dos fatos revelados e do trabalho das comissões para a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. Por isso, universidades como PUC-SP e UFSC trazem em suas páginas na web detalhes das investigações e acervo fotográfico, além de informações sobre o ambiente acadêmico durante o regime militar. A falta de recursos humanos para produzir e manter um site focado no trabalho da comissão da UFSM é o principal empecilho nesse processo. No entanto, Diorge Konrad ressalta a ideia de que, além do relatório final, seja elaborado também um memorial físico dentro da universidade para que se tenha acesso aos documentos e a outros materiais reunidos pela comissão. “Até agora foi um trabalho difícil e lento, pois além da falta de recursos financeiros e humanos, os integrantes da comissão são ocupados. Praticamente trabalhamos na investigação somente nos dias da reunião e quando acontece alguma ação por parte da comissão”, avalia o coordenador, Diorge. Ele também solicita aos que possuem informações sobre este período de repressão que procurem a comissão nas reuniões abertas, que ocorrem todas as sextas-feiras, pela manhã, no 2º andar da reitoria. É preciso valorizar o trabalho destas comissões, principalmente dentro das universidades, para que este debate nunca se apague, e que sejam estimulados estudos sobre o tema. Também é importante que se continue investigando, para que todos os abusos dessa época sombria sejam denunciados e que não se repitam.
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ESTATUINTE: DISCUSSÃO, PARIDADE E FORMULAÇÃO DE UM NOVO ESTATUTO reportagem: cristina haas e júlia dotto; arte: vitória rorato e facos agência; diagramação: júlia dotto.
neste e nos próximos semestres, nossa instituição passará por um processo que objetiva discutir e elaborar um novo estatuto, trazendo também o debate sobre concepção de universidade.
Desde a implantação da primeira universidade no Brasil nunca houve uma reforma universitária no país. O que acontece até hoje são adequações feitas conforme as necessidades e demandas de cada instituição. A UFSM o mesmo estatuto desde 1962, e de lá para cá, pequenasmudanças e alterações aconteceram, mesmo assim ele se encontra defasado para a atualidade. Contudo, um processo poderá mudar essa realidade. Trata-se da Estatuinte, que visa pensar, discutir e questionar o atual Estatuto da UFSM. Para compreender melhor tal processo, é importante conhecer o seu histórico. Desde 2014, o tema era discutido em reuniões semanais de uma comissão provisória paritária. Os encontros contavam com presença de representantes da Reitoria, do Conselho Universitário (Consu), do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm) e da Associação dos Servidores da UFSM (Assufsm). As discussões giravam em torno de propostas e métodos sobre os quais as reformulações do Estatuto teriam que ocorrer. Para isso, foram analisados processos efetivados em outras universidades, além do contexto da UFSM. Desde o princípio, o DCE defendeu que as eleições que escolheriam os delegados da Estatuinte, fossem gerais e rompessem com a ideia setorial. No entanto, essa proposta não teve respaldo entre as demais categorias. Outra discussão acerca do processo eleitoral foi se ele ocorreria entre chapas ou de forma nominal. Após um consenso entre as categorias, decidiu-se que haveria três momentos eleitorais por chapa: eleições setoriais paritárias, eleições gerais por categorias e eleições da comunidade externa.
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A proposta feita por essa pré-comissão foi levada para aprovação no Consu (Conselho Universitário) e houve um grande debate em relação a paridade entre as categorias no número de delegados e nas eleições, mas a proposta foi aprovada. Após isso, foi criada a Comissão Pré-Estatuinte que é paritária entre as três categorias e formulou o regimento final das eleições. Segundo o professor do curso de Filosofia Albertinho Galina, o processo da estatuinte poderá constribnuir para repensar o papel da UFSM no contexto do Ensino Supeior Brasileiro. Além de reformular o estatuto, esse processo servirá também como um espaço de discussão de projeto e modelo de universidade. É fundamental que os estudantes também protagonizem esse processo, defende a estudante de Serviço Social e vice-presidente da Comissão Pré-Estatuinte, Mariana Marques Sebastiany. A acadêmica acredita que um dos pontos mais importantes do processo é que será um espaço de discussão e problematização entre as três categorias de forma paritária, e o produto dessa discussão está em disputa.
eleições setoriais Chapas compostas por representantes das três categorias serão eleitas por centro. O número de integrantes das chapas será proporcional ao número de professores, alunos e técnicos da própria unidade.
eleições por categoria Nessa etapa, as eleições serão por categoria. Ao todo, serão 135 delegados.
eleições para a comunidade externa 10% do número de delegados será da comunidade externa. Irá acontecer uma conferência nas câmaras de vereadores das cidades onde existe campus da UFSM, e em um outro dia será realizada a eleição para a escolha dos delegados. Desse processo sairão 30 delegados.
MODELOS DE GESTÃO UNIVERSITÁRIA As formas de gestões variam de acordo com as questões sociais, culturais e estruturais de cada universidade. Afim de buscar a excelência no desenvolvimento acadêmico, algumas universidades já reformularam o seu estatuto.
UDELAR: A Universidade da República do Uruguai, é uma instituição pública, autônoma e co-governada por seus professores, estudantes e graduados. Apresenta extensão nos currículos, paridade nos espaços de decisão, acesso universal, cadeiras de extensão interdisciplinar e é referência de reforma universitária na América Latina. A instituição trabalha com um Conselho Central, formado pelo reitor, um delegado nomeado por cada conselho de faculdade e nove membros nomeados pela assembleia geral do senado, que é responsável por eleger representantes aptos a tratar de assuntos na sua competência. As demais representações da UDELAR são o Conselho Acadêmico, de Gestão Administrativa e Orçamental, Administração e Comissão de Orçamentos Programáticos. UFFS: A Universidade Federal da Fronteira Sul representa um modelo de universidade que tem inserção da comunidade externa e dos movimentos sociais nos conselhos. Os conselhos que administram a instituição são os seguintes: Comitê Gestor Institucional de Formação Inicial e Continuada de Profissionais da Educação Básica, Secretaria de órgãos colegiados, Conselho Universitário Consuni, Conselho Estratégico Social – CES, Conselho Curador – Concur e Conselhos de Campi. A auditoria interna (Audin) é um órgão avaliador e de acompanhamento independente e tem como objetivo maior o de fortalecer e assessorar a administração da universidade.
UFABC: Na Universidade Federal do ABC (Santo André, SP) a Divisão de Conselhos é responsável por toda a estrutura administrativa e organizacional dos Colegiados Superiores da UFABC. Atualmente, há dois Conselhos instalados, sendo: Conselho Universitário (ConsUni) e Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (ConsEPE). Dentre as principais rotinas, destacam-se: elaboração das atas, atos dos Conselhos, sinopses, apoio administrativo durante as sessões, encaminhamento de convocações e pautas. Além dessas tarefas, são responsáveis pelas eleições dos membros não natos (representantes docentes de cada Centro, discentes de graduação e pós-graduação e técnicos administrativos). Compete ainda a essa Divisão, auxílio às Câmaras Assessoras dos Conselhos, como a Comissão de Assuntos de Natureza Orçamentária e Administrativa (CANOA). UFRJ: A Universidade Federal do Rio de Janeiro, é a primeira universidade brasileira que teve a extensão curricularizada. A estrutura administrativa e acadêmica da instituição é definida por quatro conselhos superiores: o Conselho Universitário (Consuni, órgão máximo da instituição, delibera em última instância sobre questões de criação e mudança de cursos e aprova nomeação de pró-reitores), o Conselho de Curadores (é o órgão deliberativo para assuntos de patrimônio da UFRJ, tendo como finalidade principal o controle do movimento financeiro e patrimonial da universidade), o Conselho de Ensino de Graduação (O CEG é um órgão colegiado, formado por professores e alunos de graduação, que define a política acadêmica dos cursos e as normas para o vestibular) e o Conselho de Ensino e Pesquisa para Graduados (O Cepg é formado por professores e alunos de pós-graduação e define as normas dos cursos).
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g er al
PASSEI! ONDE FESTEJAR? reportagem: maria luiza de grandi e bernardo abbad; fotografia: rafael happke; diagramação: luciana turcato.
todos os anos, milhares de estudantes são aprovados nas instituições de ensino de santa maria e trazem na mochila seus sonhos, aspirações e, é claro, a vontade de celebrar a tão desejada vaga. as comemorações, que geralmente iniciam com a família e os amigos, continuam na companhia dos futuros colegas do curso no qual o calouro foi aprovado. Santa Maria, mesmo sendo conhecida como “cidade-universitária”, carece de espaços públicos destinados aos jovens, especialmente no início dos períodos letivos. Por este motivo, as comemorações se dão em um ponto central da cidade: a Praça Saturnino de Brito. Somente neste ano, a UFSM foi responsável pelo ingresso de mais de 2.080 calouros, conforme os dados da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). É na primeira semana de aula de cada semestre, que grande parte deles e dos aprovados de outras instituições, costumam reunir-se na Praça, popularmente conhecida como “Brahma”. Segundo dados da Prefeitura Municipal, só no primeiro semestre de 2016, aproximadamente três mil pessoas estiveram no local entre os dias 7 e 12 de março. A festividade, que já se tornou tradição no município, causa polêmica entre órgãos públicos, moradores e estudantes que frequentam o local. Os problemas começaram quando a reunião dos jovens passou a perturbar o sossego dos moradores do entorno da Praça. Nos últimos anos, com a popularização do evento que se dissemina, principalmente por meio das redes sociais, o número de participantes tem aumentado constantemente. De acordo com o advogado da Associação dos Moradores do Entorno da Praça Saturnino de Brito, Everton Barth, o que mais incomoda os moradores é a estrutura precária que a Pre-
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feitura proporciona durante as festividades, o que causa problemas posteriores, como lixo excessivo nas ruas próximas à Praça. “No ano passado colocaram cinco banheiros químicos para quase seis mil pessoas; não tinha fiscalização nenhuma e os carros estacionados na rua ficavam com o som alto até às quatro da manhã”, comenta o advogado, que reside nas imediações da Praça há três anos. As queixas dos moradores aos órgãos públicos, principalmente à Prefeitura e à Brigada Militar, começaram há mais de 10 anos e eles consideram que essa situação já é um “problema da cidade”. Eles preocupam-se também com a violência, que tem se tornado frequente nas últimas comemorações. “Enquanto os calouros se divertem, outras pessoas se infiltram no meio da festa para cometer delitos”, diz Barth. Os moradores também relatam ver constantemente o consumo de drogas, a ocorrência de assaltos e brigas no local. O secretário adjunto da Prefeitura Municipal, Luiz Otávio Prestes, explicou que nas últimas três edições da festa, foram implementadas medidas para dosar os interesses tanto dos moradores quanto dos universitários. “Ano passado colocamos lixeiras, banheiros químicos, recuperamos a iluminação pública, elevamos a poda das árvores, cortamos a grama, fizemos o monitoramento por câmeras em tempo real e fiscalizamos os bares para a venda de bebidas para menores de idade”, ressalta Prestes. A Prefeitura e a Associação dos Moradores reconheceram a expressiva melhora do evento na edição de 2016. “Esse ano, a Prefeitura e os órgãos de segurança ocuparam a Saturnino de Brito. Tivemos o Conselho Tutelar presente na Praça, colocamos ambulância e trabalhamos no fechamento do trânsito”, explica o secretário. Em 2016, pela primeira vez, todos ganharam: o evento foi mais organizado e agradou tanto os moradores quanto os estudantes. Apesar de ambas as partes ainda destacarem a baixa quantidade de banheiros químicos como um dos problemas que ainda persistem, houve maior sensação de segurança devido à presença de policiais e profissionais de saúde. Barth associa essa melhora à uma ação que foi ajuizada contra a Prefeitura e a Brigada Militar, ordenando que as mesmas tomassem providências para a melhoria da festa.
em 2016, houve festa no campus
Esse ano, a melhora também foi atribuída ao protagonismo que a UFSM teve ao organizar a 1ª Semana da Calourada. O evento, dedicado aos alunos, proporcionou shows, peças de teatro, rodas de conversa, e auxiliou os calouros na primeira semana de aula. “Queríamos acabar com a opressão nos trotes e criar uma nova cultura pela não-violência, não-discriminação com negros, mulheres e comunidade LGBT”, explica a pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis da UFSM, Jane Dalla Corte. Isso levou a Universidade a pensar em uma semana alternativa, onde fosse possível oferecer cultura, lazer, informação e um espaço diferenciado, para que os estudantes tivessem outras opções além de ir para a Praça Saturnino de Brito. Organizada pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), e desenvolvida com a ajuda do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da direção da Casa do Estudante Universitário, a 1ª Semana da Calourada foi vista como uma alternativa mais segura aos universitários, que marcaram presença durante os sete dias de evento.
passar no vestibular também é
Banda catarinense Chimarruts foi uma das atrações mais esperadas na primeira Semana da Calourada da UFSM
sinônimo de solidariedade
A alegria de passar no vestibular foi o combustível necessário para que veteranos de alguns cursos da UFSM optassem por aderir ao trote solidário neste ano. Arrecadação de dinheiro para castração de animais, recolhimento de alimentos e doação de sangue, foram algumas das iniciativas propostas. A 95ª turma de Agronomia, por exemplo, levou os calouros ao Hemocentro Regional de Santa Maria, onde mais de 30 deles doaram
sangue.“Esperamos que eles deem continuidade aos trotes solidários na Agronomia no ano que vem, para acabar com a cultura de que é só festa”, conta a integrante da comissão organizadora do trote do curso, Maria Heloísa Baptistella. Os cursos da Faculdade de Comunicação Social (Facos) também se mobilizaram na primeira semana de aula. Através de uma gincana de integração entre os calouros, foram arrecadados mais de 400 quilos de alimentos que foram doados a duas instituições de caridade de Santa Maria. “Hoje em dia, ajudar o próximo é de extrema importância.”, afirma a estudante Thayane Lima, que participou da organização do trote da Facos desse ano.
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es p e cial
E AGORA, ONDE VOU MORAR?
reportagem: paola brum e taísa medeiros; fotografia: mirella joels; diagramação: giovana alonso.
No dia que vim para a ufsm, me disseram que eu seria encaminhada para as casas do centro de eventos. eu nem sabia o que era. peguei a
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chave e me disseram -vai lá dar uma olhada, vê se tu gosta do espaço porque teve gente que não gostou e foi alugar apartamento- aí eu disse a ela que nem precisava olhar porque eu não tinha onde ficar. respondi: -eu tenho que ficar em qualquer lugar que vocês me derem.
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”
Este é o relato da aluna de Ciências Sociais, Ale- um direito, previsto no Plano Nacional de Asxia Donida, mas poderia ser o de vários outros sistência Estudantil (Pnaes), o qual tem como ingressantes. Quem necessita de moradia estu- objetivo viabilizar a igualdade de oportunidadantil enfrenta alguns obstáculos para conse- des e a melhoria no desempenho acadêmico. A guí-la, principalmente no início de 2016, ano Prae segue as diretrizes desse plano através do atípico para a universidade. Pela primeira vez na Benefício Socioecônomico (BSE) destinado aos história da UFSM, foram preenchidas 96% das estudantes cuja renda familiar é de até 1,5 salávagas disponíveis, contra a média de 70% até rio por pessoa. Aqueles que possuem o benefí2014. São quase 600 pessoas a mais, segundo cio têm direito a morar na Casa se vêm de outra dados da Pró-reitoria de Graduação (PROGAD). cidade, desconto no Restaurante Universitário Tal índice de preenchimento se deve ao Sis- (RU), auxílio transporte e compra de material tema de Seleção Unificada (Sisu), adotado pela pedagógico. Para adquirir, é preciso comproUFSM como forma de ingresso no último ano, var a renda através da avaliação econômica da em substituição ao Vestibular. Essa marca é vista documentação do aluno e análise social feita como um sucesso para a instituição, pois ter qua- por assistentes sociais. Normalmente, o benefíse a totalidade das vagas ocupadas é positivo por cio pode demorar alguns meses para ficar ativo ter seu acesso ampliado. No entanto, enquanto pela falta de documentos ou a não aprovação o número total de alunos aumenta, proporcio- em um primeiro momento. Para abrigar os alunalmente, a quantidade dos que necessitam de nos que se encontram nessa situação, existe a assistência estudantil também cresce, e a univer- União, localizada em cima do RU, a qual serve sidade não se preparou a tempo para atender a de alojamento provisório para até 200 pessoessa demanda. Isso causou, no começo do ano, as que aguardam o BSE ou já o possuem, mas a superlotação da Casa do Estudante Universitá- aguardam uma vaga na Casa. rio (CEU) e, por conseguinte, da União UniverNo início do ano, a União chegou a abrigar sitária. Com isso, muitos chegaram à UFSM e se mais de 200 estudantes e ficou superlotada. Atudepararam com a escassez de vagas. almente, segundo dados da Prae, há, em média, Segundo o representante do DCE, Mateus 100 vagas disponíveis. Porém, grande parte preKlein, havia muita gente sem ter onde morar, fere permanecer no CE enquanto aguarda lugar que pedia solução à Pró-reitoria de Assuntos na Casa. Constatada a existência de vaga, surge Estudantis (Prae). “Não tinha mais alojamento, um novo obstáculo: ser aprovado na entrevista o DCE da UFSM e a diretoria da Casa do Estu- com o morador do quarto. “Lá eles fazem uma dante estavam lá para resolver esse problema. A entrevista pra ver se tu se adequa ao apartamenproposta da reitoria foi alugar casas em Camobi to. Quem não se adequa vai ficando, tem gente para acomodar essas pessoas. Só que elas vêm que chega a estar há um ano na União. Tu perde fora de Santa Maria e até do estado, não co- cebe que ou é negro ou homossexual, ou mais nhecem a cidade”, comenta Mateus. A solução pobre, ou trans. As minorias são muito rejeitaencontrada para resolver rapidamente o pro- das”, desabafa Alexia. Segundo a representante blema foi hospedar estes estudantes em casas da diretoria da CEU, Bruna Klein, a estratégia da parceria público-privada no Centro de Even- da entrevista faz com que a escolha seja feita tos (CE) da UFSM provisoriamente, enquanto por afinidade. Aqueles que são rejeitados, posaguardam vaga na CEU e União. teriormente, passam por um sorteio que aconAtualmente, são quatro casas ocupadas no CE tece a cada 15 dias. Quem possui o BSE há mais com cerca de 10 pessoas cada uma, que dividem tempo tem preferência. o mesmo quarto. No entanto, esse número já foi Também moradora da Casa, Bruna comenmaior: na casa ocupada por Alexia, já chegaram a ta que foi um choque a quantidade de pessoas morar 18 universitários no começo do ano. Hoje em busca de moradia no início do semestre. moram mais três junto com ela. O número dimi- Segundo ela, a procura dobrou. “A gente espenuiu bastante porque algumas tiveram o Benefi- rava que fosse vir mais gente, mas não tanto. cio Socioeconômico confirmado e conseguiram E ao mesmo tempo deu muita raiva porque vaga na CEU, outras preferiram alugar um aparta- a reitoria já havia sido avisada disso, vínhamento ou se mudaram para a União. mos alertando eles que a demanda seria muito A moradia para pessoas com baixa renda é maior, mas não fizeram nada”, comenta.
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Acumula-se ainda a demanda que virá no iní- A previsão de conclusão das obras em Santa Maria é cio do segundo semestre de 2016. Novas vagas para 2017. No entanto, é preciso levar em conta os serão abertas para os inscritos no Sisu, e, con- cortes de gastos anunciados pelo reitor, que subtracomitantemente, mais alunos precisarão de as- em cerca de R$ 57 milhões do orçamento da universistência estudantil, principalmente no quesito sidade. A diretoria da CEU se preocupa com a possimoradia. Para evitar esses problemas, é preciso bilidade desses cortes resultarem no atraso das obras: que se pense em alternativas para abrigar todos “Não faço ideia do que vai acontecer, mas espero que os estudantes em situação de vulnerabilidade continue se não o pessoal não vai ter onde morar, e social. Segundo a pró-reitora adjunta de Assun- ano que vem chega mais gente”, ressalta Bruna. Apesar da moradia estudantil ser a única altos Estudantis, Jane Dalla Corte, a universidade está preparada. Uma casa foi alugada no bairro ternativa para muitos se manterem na UFSM, as Camobi com espaço para acomodar 50 pessoas. condições dos locais, muitas vezes, limitam o dePara o representante do DCE, Mateus Klein, o senvolvimento acadêmico. A principal dificuldade aluguel não é a melhor alternativa uma vez que é encontrar um lugar sossegado para estudar e desoutros campi da UFSM já usam a estratégia de cansar. Essas atividades, essenciais para um bom concessão de bolsas auxílio-moradia. Mateus desempenho, são quase impossíveis quando cerca ressalta que este tipo de benefício auxilia na de dez estudantes dividem o mesmo quarto, como especulação imobiliária e aumenta a média de é o caso de quem mora no CE. Alguns adaptam preço dos aluguéis nas cidades. “Para o DCE sua rotina para não serem prejudicados e passam o essa não é a política mais correta. A mais correta mínimo de tempo possível em casa: “Se eu chego é a moradia na universidade”, afirma o estudan- durante o dia, fico estudando e de noite tenho aula. Chego em casa às 23 horas, deito na minha cama, te de Relações Públicas. Além disso, seguem as obras para a constru- coloco uma música e nem me estresso”, detalha ção de novas moradias para os estudantes nos Alexia Donida. Porém, quando tem festa no CE, sai diversos campi. Serão mais três blocos da CEU de casa por causa do barulho. Mesmo que a UFSM seja referência nas iniciatino Campus, com capacidade para 62 moradores cada, e uma Casa do Estudante Indígena com vas de assistência estudantil, quem é contemplado espaço para 94 universitários. Em Palmeira das pelo Benefício socioeconômico deve estar consMissões e em Frederico Westphalen serão criadas ciente de seus direitos e cobrar pela execução deles. mais 36. Já em Cachoeira do Sul haverá um bloco Mais do que apenas um teto, um estudante precisa com 90 vagas. “A gente está fazendo um inves- de um lugar que o acolha justamente para o protimento muito grande em moradia para poder pósito a que veio: formar-se como cidadão crítico e profissional capacitado. receber esses estudantes” comenta a pró-reitora.
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especial
A INSEGURANÇA TAMBÉM MORA AQUI reportagem: caline gambin, mayara souto e mirella joels; fotografia: mirella joels e rafael happke
; diagramação: mayara souto
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Chovia, não tinha ninguém passando pelos blocos, estava caindo uma tempestade na hora. Fui tomar banho no banheiro do meu bloco. Quando já estava terminando, olhei pra cima para pegar minhas coisas, que estavam na divisória do box, e vi um celular. A princípio, pensei que fosse alguém que esperava um telefonema ou escutaria música. Depois, percebi que aquele celular estava virado para mim. Aí me assustei, me vesti, coloquei o meu roupão e sai do box. Foi quando dei de cara com o homem que me filmava, ou tirava fotos, com o celular. Não tive nenhuma reação na hora, só fui para casa e falei para minha colega de quarto.
O relato acima é de J.U, vítima de assédio no banheiro de seu bloco na Casa do Estudante (CEU) do campus sede da UFSM, e foi um dos precursores na discussão sobre a segurança. A partir disso, acadêmicos passaram a conviver com a insegurança que circunda os corredores da Casa. Um grupo fechado no Facebook dos moradores da CEU II virou uma ferramenta para estudantes denunciarem e alertarem os assédios e tentativas de furto que ocorrem no local. Foi através dessa rede social de comunicação, que se começou a ter ciência dos assédios que aconteciam dentro dos banheiros, como o de J.U., e a busca por quem os cometia. Além disso, também foram compartilhados no grupo vários casos de furto e tentativas de arrombamento das portas. Um desses casos, foi o roubo da bicicleta de Diogo Nardi, no 3º andar do bloco 15, onde mora. O estudante de Engenharia Elétrica saiu para a aula por volta das 13h30 e, quando retornou, às 17h30, não encontrou sua bicicleta. Ao perceber que se tratava de um furto, chamou os vigilantes que prestam serviço para a Universidade e solicitou o registro de um Boletim Interno (BI). Num primeiro momento, seu pedido foi negado e só com muita insistência os seguranças registraram a queixa. No outro dia, o estudante fez um Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil (PC). Com o documento em mãos, pediu para olhar as imagens captadas pelas câmeras de segurança instaladas em volta do prédio. Diogo considerava que seria fácil a identificação da sua bicicleta, que diferentemente das outras do bloco, tinha suspensão na frente e atrás. Mas apenas o vigilante pôde ter acesso às filmagens e, ao assisti-las, relatou que não identificou qualquer furto. Diogo considera que há falta de preparo dos vigilantes e afirma ter sofrido negligência no atendimento: “O vigilante disse que não faria o registro do furto, pois não era sua obrigação. Foi assim também quando tentei registrar na
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Polícia Civil e o cara me disse que era para ir à Polícia Federal. Mas a bicicleta era minha, não da UFSM”, detalha o acadêmico. Na semana seguinte, as vizinhas de Diogo tiveram seu apartamento invadido. A acadêmica de Filosofia, Jéssica Ribas, estava em casa, acompanhada da sua colega de quarto, quando ouviram um barulho. Elas se depararam com um homem dentro do apartamento, que fugiu assim que as viu. “Eu saí para correr atrás dele e ele começou a correr também”, relatou a estudante. A primeira reação de Jéssica foi informar a uma das responsáveis pela Diretoria da Casa que tinha visto o suposto “tarado” que filmou J.U. O homem até chegou a ser localizado pelas estudantes e levado ao posto dos seguranças, mas quando questionado sobre o ocorrido, alegou que não havia roubado nada. Segundo Jéssica, ele tentou se justificar e, conforme percebia que a história não era convincente, contava outra versão. As vítimas relataram que ao contatar a Polícia Militar (PM), os policiais invalidaram o ocorrido sob o argumento de que a culpa seria das estudantes, que haviam deixado a porta do apartamento apenas encostada. Uma semana depois, ocorreu um caso curioso no bloco ao lado. Desta vez, uma pessoa escalou a parede de um banheiro de acessibilidade, passou por uma pequena abertura e roubou a bicicleta de G.F. Ela mora no apartamento em frente, e é a única que tem acesso a esse banheiro. Como apenas ela possui a chave, julgava ser um local seguro e usava o espaço para guardar sua bicicleta. Durante o furto, G.F. estava no seu quarto e ouviu barulhos de objetos que caíam. Com medo, não quis intervir. Contudo, quando notou que não havia mais ninguém, avisou os vigilantes, que, segundo ela, fizeram pouco caso da situação: “Por ser final de semana, o prédio estava bem vazio. Eu fui chamar os guardas, mas ninguém atendeu, ninguém quis nem anotar o número do apartamento”, afirma. A acadêmica pediu, então, orientação à Polícia, que deslocou viaturas até a UFSM para registrar o BO. Ao contrário do caso de Diogo, desta vez as câmeras de segurança capturaram o momento do furto. Pela baixa qualidade das imagens, só foi possível ver a movimentação de um vulto, que entrou no bloco do apartamento da jovem e saiu sete minutos depois, pedalando a bicicleta. G.F. também diz já ter encontrado no banheiro de seu bloco o homem que é chamado pelos alunos de “o tarado”. Ela concluiu isso após perceber que as características e o horário se aproximavam aos que foram relatados por uma vítima. Quando o apartamento de Jéssica foi invadido, na semana anterior, G.F. e J.U. foram tentar identificar se o homem detido por invasão era o “tarado”. Entretanto, o suspeito não foi reconhecido como tal e, após horas de discussão se ele seria levado para a delegacia, o homem foi liberado pela polícia.
segurança e jurisdição no campus
A CEU II é a moradia dos estudantes que declaram carência econômica e é composta por cinco prédios divididos em blocos, com apartamentos de seis, quatro e dois lugares. Os prédios 30, 40 e 50 têm apartamentos para quatro ou seis pessoas, e incluem banheiros. Já nos de número 10 e 20 há pequenos quartos de duas pessoas e um banheiro coletivo por andar. Não há portas nas entradas, então, há livre circulação de pessoas estranhas nos blocos. Isso acontece principalmente nos primeiros edifícios, onde ocorreram os casos. Conforme dados do secretário geral do Gabinete do Reitor, Marionaldo Ferreira, dos 230 vigilantes que trabalham na UFSM, 42 são concursados; os demais são terceirizados contratados pela empresa “Vigillare Sistemas de Monitoramento”. Os profissionais atuam em postos de vigilância espalhados pelo Campus, inclusive em frente à CEU II. Todavia, mesmo com a proximidade, os alunos relatam a indiferença dos vigilantes diante das necessidades de segurança nos prédios da Casa do Estudante. A UFSM conta, também, com o monitoramento de 210 câmeras: 88 móveis e 122 fixas. Segundo Simões, atualmente três delas não funcionam e estão em reparo. Os estudantes, entretanto, defendem que esta também não é uma medida efetiva devido à baixa qualidade das imagens captadas. O chefe da Vigilância da UFSM, Eduíno Simões, explica que “a função dos vigilantes é a segurança patrimonial, ou seja, ela não envolve pessoas. O que a gente faz é um extra, mas não é obrigação nossa”. Como não integram a definição de “patrimônio” da Universidade, a segurança aos estudantes não existe oficialmente. Em casos de furto, o vigilante é instruído a fazer um Boletim Interno, no qual são registrados todos os ocorridos de seu turno de serviço. Posteriormente, os registros são repassados ao superior e faz-se um
levantamento de tudo que aconteceu na Universidade quinzenalmente. Se for da vontade da vítima que haja uma investigação, ela pode acionar a PM ou fazer um BO. Como não compete aos guardas agir diretamente contra o criminoso, surge o questionamento: qual órgão oficial da área de segurança pode interferir nessas situações? O delegado da 4ª Delegacia de Polícia de Santa Maria - Camobi, Antonio Firmino, que atende aos chamados feitos pelos estudantes que moram no Campus, diz que: “a Polícia Federal pode interferir em crimes de interesse da União, por exemplo, se alguém furta um bem da universidade. O resto não é território federal, é um território comum. Tanto a Polícia Militar, quanto a Polícia Civil podem ir lá”. Nos casos de furto ou assédio, é dever da Polícia Militar se deslocar até o local e relatar o ocorrido à Polícia Civil. Firmino esclarece que a vítima deve registrar o Boletim de Ocorrência para dar início à investigação do crime, pois a Polícia não tem acesso ao Boletim Interno realizado pela segurança do Campus. Além disso, o B.O. não garante o direito à vítima de acessar as imagens das câmeras de vigilância da universidade. Quem pode assisti-las
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soluções apontadas e prazos
é a Polícia, enquanto investiga. Segundo o dele- Quem defende os interesses dos moradores da gado, a ocorrência registrada por Jéssica é consi- casa são os responsáveis pela Diretoria da CEU derada um crime de violação de domicílio, e a II que, em conjunto com os órgãos reitores da pena é detenção de um a três anos. Universidade e as vítimas, começaram a pensar Se um homicídio fosse cometido dentro da em medidas reais e eficazes. instituição, o responsável seria culpado e a UniA Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis versidade poderia pagar indenização pela falta (Prae) sugeriu a colocação de portas de vidro de proteção. “Em princípio, a UFSM deveria ofe- com travas de emergência no hall de entrada recer segurança ali dentro”, declara o delegado. dos prédios, além de câmeras em cada bloco e Já o secretário geral do Gabinete do Reitor, sistemas de interfone. O horário de fechamenMarionaldo Ferreira, afirmou que a Universida- to das portas seria definido pelos estudantes de tem dever de cuidar da educação e não de de cada bloco. zelar pela segurança dos alunos: “O estatuto da Haverá, também, a colocação de tijolos Universidade não toca nessa questão de segu- perfurados em cima das portas dos banheiros, rança, o estatuto é geral. Nós não garantimos chamados cogobós, que garantem a ventilação a segurança”. Quanto à possível criação de um higiênica e dificultam a visão de quem tenta projeto interno de segurança, Marionaldo diz “espiar” de fora. A Diretoria da CEU II convoque são promovidas palestras educativas para cou assembleias para a votação dessas sugestões, os vigilantes, e ele acredita que essa seja a única que foram acatadas pelos moradores. medida ao alcance da UFSM: “nós estamos faAlguns alunos, entretanto, não aprovaram a zendo reuniões com a empresa Vigillare, porque instalação das câmeras. Segundo Emileidi Goné um processo educativo do servidor vigilante, çalves e Jeison de Paula, membros da Diretoria e também tem que ser um processo educativo da Casa do Estudante, a ideia era manter as filcom a comunidade”. magens em arquivos, e o acesso a elas só seria
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liberado quando necessário. Mesmo assim, foi argumentado contra a medida: “alguns mora- gurança são antagônicas, quanto mais segurandores dizem que se sentiriam ‘presos’ com as ça tiver menos liberdade tu vai ter.”. câmeras no corredores”, afirmou Emileidi. O chefe de Vigilância, Eduíno Martins Então, chegou-se ao consenso das câmeras Simões, afirma que a UFSM vai investir na não ficarem voltadas para o corredor, e sim, ampliação e melhoria dos equipamentos de para o lado da rua, por ser considerada uma segurança no Campus. Uma das medidas é medida menos repressiva. a substituição das câmeras de segurança que, Mas as melhorias sugeridas pela Prae, como segundo ele, têm baixa resolução. O projeto as portas de vidro e interfones, vão demorar para foi desenvolvido em parceria com a empresa sair do papel. O integrante da Coordenadoria de Vigillare e iniciará em setembro deste ano. Planejamento Acadêmico (Copa) da Pró-ReitoOs estudantes que integram a Diretoria da ria de Graduação (Prograd), Benoine Josué Poll, CEU II pretendem promover um fórum para diz que, em um primeiro momento, é necessá- discutir questões de segurança no campus, e rio fazer um levantamento das condições das sugerem a criação de um projeto institucional portas em cada bloco da CEU II, de modo a or- de segurança. Eles afirmam: “A estrutura física çar os custos para uniformizá-las seguindo o pla- muda, mas se o projeto de segurança for bem nejamento de prevenção de incêndio. Após essa aplicado, ele pode durar anos”. As atividades iniverificação, será necessário elaborar um edital ciarão após a resolução das medidas estruturais. para só então começar as reformas. A previsão Enquanto os moradores aguardam as promede Poll é de que todas as etapas desse processo tidas reformas, o clima na CEU II é de preocupaaconteçam ainda este ano, em um prazo de três ção. Jéssica não fica mais em casa com a porta ou quatro meses. Segundo a Prae, o pedido para destrancada, G.F não passa mais os finais de licitação já foi encaminhado, e deve demorar semana no campus, e várias meninas convivem cerca de 90 dias para ser finalizado. com o medo de tomar banho ou até mesmo de O Pró-Reitor de Assuntos Estudantis, Clay- ir ao banheiro. Entre o receio de estar na CEU e ton Hillig, reforça que o Projeto de Seguran- a expectativa de ver as promessas concretizadas. ça da UFSM é patrimonial: “essa situação está G.F desabafa: “embora a UFSM saiba o que mais vinculada a legislação de forma geral, do está acontecendo e as licitações para auxiliar na que propriamente a um estatuto específico de segurança ainda possam demorar muito tempo, dentro da Instituição.”. A respeito da segurança espero que essa situação se resolva ou que, ao dos alunos, Hilling afirma: “a liberdade e a se- menos, possa ir ao banheiro sem medo”.
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es p orte
EM BUSCA DA NOVA GERAÇÃO DE OURO
reportagem: mateus rossato e ian tambara; fotografia: lucas moro; diagramação: luciana turcato.
após 20 anos sem equipe masculina adulta, handebol da ufsm inicia nova caminhada
Nas décadas de 70 e 80, o esporte que predominava na UFSM era o handebol. Liderado pelo professor Luiz Celso Giacomini, o projeto iniciou na escola Manoel Ribas, onde foi criada uma equipe feminina. Logo após, a masculina também foi criada e os resultados positivos começaram a aparecer. No entanto, antes mesmo de os alunos ingressarem na Universidade, a equipe já fazia sucesso e serviu de base para as dos anos seguintes. Por conta do destaque no ensino médio, houve o interesse de manter a equipe. No momento em que os atletas atingiram a idade universitária, foi criada a Associação Desportiva da Universidade Federal de Santa Maria (Adufsm). Comandada por professores e servidores da UFSM, a Associação tinha por fim administrar e organizar as equipes juvenil e adulta de handebol. Ficou conhecida como a “Geração de Ouro” do esporte em Santa Maria devido à qualidade dos jogadores. Após todo o sucesso da Adufsm em competições nacionais, muitas vezes sendo base da Seleção Brasileira para a disputa de competições internacionais, o esporte
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foi perdendo força em Santa Maria. Como a equipe não tinha condições de pagar salários a seus atletas, a maioria, ao final de suas graduações, acabou aceitando propostas de outros clubes, principalmente na cidade de Chapecó, Santa Catarina, na equipe do Chapecó/Sadia. Esta, que era patrocinada pela forte empresa do ramo alimentício, tinha um poderio financeiro enorme e, por este motivo, conseguia remunerar os atletas que formavam sua equipe. Mas atualmente, qual a situação da equipe de handebol? Conversamos com o professor César Geller, mais conhecido como “Cidão”. Ele defendeu a Adufsm como jogador, além de passar pelas seleções gaúcha e brasileira. O professor trabalha no Departamento de Desportos Coletivos, e encabeça os novos projetos do handebol no Centro de Educação Física e Desportos (CEFD). A iniciativa começou em 2015 e visa estimular o recomeço das práticas do handebol na Universidade. Segundo o diretor do CEFD, Luiz Osório Portela, a ideia surgiu de um pensamento comum: o trabalho desde a base. Da preparação até a consolidação, o foco é sempre na manutenção de uma equipe lapidada. Diferentemente de outros times que possuem recursos financeiros para montar um elenco forte com contratações, conseguem apoio de patrocindores e de empresas em geral, a equipe universitária quer construir os seus próprios recursos. O recomeço foi facilitado por conta do interesse de membros da Geração de Ouro: “É como se não começássemos do zero, porque temos pessoas da equipe antiga trabalhando aqui”, afirma Geller. Ainda de acordo com o professor, isso torna a formação do time um aprendizado para os alunos. Em 2016, o foco do time é a disputa do torneio Estadual e também do Mercosul. As duas competições serão breves, com duração média de um final de semana, e, portanto, funcionarão apenas de forma experimental.“Se fizermos bons torneios, quem sabe possamos almejar competições de melhor nível depois”, comenta Geller. O projeto é uma tentativa de ter a modali dade novamente na UFSM e em Santa Maria, cidade que ainda é lembrada como uma referência no esporte, mesmo depois de tanto tempo sem haver equipes competindo em bom nível. Como idealiza Geller: “É uma tentativa de resgate da cultura do handebol santa-mariense”.
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AFRICARTE reportagem: kamila ruas e victória lopes; fotografia: rafael happke diagramação: mayara souto.
o brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano e apesar disso, ainda é muito precário quando se trata de contar a história, os costumes, a luta e a cultura dessa população que teve grande importância para a construção da identidade brasileira.
Quando se trata da história dos negros no Rio Grande do Sul a abordagem é escassa, não encontra-se com facilidade e não se tem um protagonismo como a história da colonização italiana e a alemã. Em Santa Maria, a história da cidade mistura-se com a do movimento negro no final do século XIX.“O processo de abolição da escravatura e a instalação da malha ferroviária na cidade atraíram para Santa Maria um grande contingente de negros e negras como mão-de-obra para a ferrovia e para os vários serviços necessários ao desenvolvimento da cidade” diz o doutorando do Programa de Pós-graduação em História (PPGH/UFSM) e membro do movimento negro de Santa Maria, João Heitor Silva Macedo. Nesse período, o movimento teve a necessidade de se organizar, assim, surgiram irmandades religiosas, clubes sociais e escolas de samba
que eram como espaços de resistência, onde havia ajuda mútua, defesa de direitos e a autoafirmação positiva da identidade. O preconceito, mesmo encoberto, sempre esteve presente, o movimento negro de Santa Maria trouxe ferramentas no combate ao racismo, como as políticas de ações afirmativas, relata João Heitor. Essas ações incentivaram o surgimento do Museu Treze de Maio que foi criado em 1903 por ferroviários negros. Ao longo do tempo, a cultura negra ainda luta por seu espaço em Santa Maria. Coletivos, projetos, grupos e estudantes buscam ressaltar o protagonismo que até hoje é invisível ao olhar de muitos que ignoram ou desconhecem a cultura afro. Com isso, alguns projetos realizados por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria resgatam e criam maneiras de protagonizar, contar e evidenciar a cultura africana.
Modelo: Andressa Duarte
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projeto negressencia : mulheres cujos filhos são peixes
O projeto “Negressencia: Mulheres cujos filhos são peixes” é um espetáculo de dança negra contemporânea, onde através de um processo etnográfico foram recolhidas histórias de mulheres negras do Rio Grande do Sul, com o objetivo de representar e destacar a mulher negra gaúcha. O projeto é financiado pela bolsa Funarte de Fomento para Artistas e Produtores Negros. Manoel Luthiery, acadêmico do curso de Dança na UFSM e diretor do projeto, salienta sua importância “a gente deixa de procurar alguém que seja nosso porta-voz e nós mesmo somos os nossos porta-vozes”. No Negressencia funcionam quatro eixos, a formação de bailarinos em dança negra, a pesquisa, a criação do espetáculo e o eixo pedagógico. Os bailarinos vão até comunidades discutir educação e arte, através de oficinas de prática artísticas, assim contribuindo com a lei 10.639. O projeto é assinado pela produtora cultural Marta Nunes, a qual comprou a ideia de Luthiery que apresentou o projeto no final de uma disciplina. Ele desejava um projeto maior que uma pesquisa acadêmica. “Eu queria um projeto de pesquisa de arte, a gente sabe
capoeira
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a dificuldade e o quanto a academia é rígida no processo do artista ou do profissional que quer transitar fora dela” afirma o diretor. Manoel Luthiery traz em questão a carência de incentivo de políticas públicas para a dança e a arte em geral. “As pessoas não tem noção de quanto eu trabalho, de quanto meu trabalho é árduo e o quão eu necessito de valorização assim como qualquer outro profissional, e eu não necessito de uma valorização no sentido de riquezas, mas eu preciso viver, preciso comer, preciso me vestir, eu tenho as necessidades básicas de um ser humano.” As bolsas governamentais auxiliam vários desses projetos, pois a falta de incentivo para a dança é grande, muitas vezes o dinheiro investido para a criação da dança é tirado do bolso dos próprios artistas. A importância de bolsas de incentivo a cultura, principalmente a cultura negra, são essenciais para a formação de uma sociedade em que a sua história é maquiada com a cultura eurocêntrica idealizada como a mais importante. É necessária a discussão de políticas públicas para incentivar e manter projetos culturais..
cefd e nemaefs
A capoeira tem sua origem no Brasil, era praticada pelos escravos nas senzalas, servia como forma de diversão e de defesa pessoal. Para os senhores dos engenhos não descobrirem que havia luta dentro das senzalas, os escravos maquiavam a luta como uma dança, envolvendo cantigas. Quando eram procurados pelos capitães-do-mato em suas fugas, os escravos faziam uso da capoeira para se defenderem e se manterem em seus quilombos. Após passar por um período turbulento, a capoeira foi marginalizada e chegou a ser proibida. Atualmente a capoeira é além da luta, uma arte, possuindo teor politico e socializador, assim é considerada patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Acerca disso, há na UFSM alguns projetos ligado à capoeira.
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Um desses é o programa Lutas Universidade Aberta, que visa atender a comunidade oferecendo aulas das diversas lutas. Entre elas, a capoeira que é ministrada pelo acadêmico de Educação Física que possui 20 anos de conhecimento e prática da capoeira, André Xilique Koth (Mestre Xilique Capoeira). Além da parte prática, André evidência a importância do histórico da capoeira: “não é só luta, ela não foi criada assim, a capoeira foi criada com propósitos, de defesa de resistência a opressão”. A capoeira vai além da luta, abarca todo um histórico-cultural, também é trabalhada a inclusão social, a musicalidade e a cultura afro. O projeto é aberto ao público, qualquer pessoa que tiver interesse pode participar.
kiriku
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a lenda do menino guerreiro
É uma peça teatral santa-mariense soas fazem mais por obrigação do negras para que as crianças se senque percorreu cidades gaúchas no que por interesse, mais porque a lei tissem representadas ao assistir o ano de 2015, através da aprovação manda.” diz Marcos. Com o surgi- espetáculo. “É difícil ver referências do projeto pela Lei Rouanet e pa- mento do edital dos Correios que negras em papéis de empoderamentrocínio dos Correios. A história é disponibiliza uma verba de R$ 35 to, dentro das novelas negros são baseada na lenda africana Kiriku, milhões para a cultura e 10% desse “qualquer” personagem. Queria nena qual um menino recém nascido dinheiro é voltado para ações vol- gros para que as crianças se vissem é superdotado e é encarregado de tadas para a cultura afro-brasileira. e se sentissem representadas em priO projeto foi selecionado e produ- meiro momento.” afirma o diretor. salvar sua aldeia de uma feiticeira. O espetáculo foi uma idealiza- zido no ano de 2015. A equipe conta com 11 pessoas e O objetivo do projeto é pensar todos estão envolvidos com direção, ção de Marcos Caye Lara, professor substituto do curso de Artes Cêni- na falta de conhecimento da cultu- atuação, cenografia, iluminação, tricas no CAL. Dentro do percurso da ra negra para as crianças, além de, lha sonora e figurino. universidade, Marcos seguiu a linha contribuir com a lei 10.639 onde Para além, uma das apresentade pesquisa a partir das religiões torna-se obrigatório o ensino sobre ções da peça, a produção levou um africanas. Dessa forma, interessou- a história e cultura africana e afro- tradutor de libras para os adultos se pela história do filme “Kiriku e a -brasileira nas escolas de ensino e crianças com deficiência auditiva. feiticeira”, um longa-metragem ba- fundamental e médio. “A gente conseguir entender de que é O tema da peça sai dos contos além de entreter crianças, traz uma seado na lenda africana lançado em europeus e evidência uma cultura política afirmativa do povo negro e 1998 pelo francês Michel Ocelot. Com a temática afro-brasileira, que é de extrema importância para do deficiente auditivo que pode asa peça foi produzida principalmen- o Brasil, mas não é valorizada pela sistir o teatro” diz Manoel Luthiery, te para ser inserida dentro das esco- sociedade. estudante de Dança na UFSM, e proA peça trata de empoderamento tagonista da peça. O espetáculo paslas. “A gente vê muitas ações hoje em dia pra tentar incluir o debate negro, durante a escolha de elenco sou por quatro cidades: Uruguaiana, da cultura afro-brasileira nas esco- houve uma preocupação para que Santa Maria, Ijuí e Bagé, cumprindo las, mas é aquela coisa que as pes- ele fosse composto por pessoas as 11 apresentações.
protagonismo negro
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programa de rádio
A verdadeira representatividade da negritude na jornalismo, para produzir um programa voltanmídia brasileira é algo que não é visível. Quan- do especialmente para a população negra. Com do há “representação” a população negra é o objetivo de trazer a discussão da negritude muito estereotipada e estigmatizada nesse meio, para dentro da Universidade, o programa é são frequentemente marginalizadas. Isso ocorre produzido por negros e feito para negros. Dessa dentro das Universidades também, apesar do forma, traz pautas em que abarcam a experiênnúmero de negros ter aumentando após a in- cia, o movimento, as políticas, a identidade neserção do sistema de cotas - 1,8% para 8,8% de gra, o genocídio, o corpo e a carência da reprenegros -, ainda há carência de representativida- sentatividade na mídia e na própria instituição de no meio acadêmico. de ensino. “É muito importante encontrarmos Arianne Teixeira, jornalista formada pela essa representatividade para conseguir nos forUFSM, idealizou o programa de rádio Protago- talecer” diz Clara Sitó, uma das integrantes do nismo Negro em outubro de 2015. Convidou programa. O programa vai ao ar todas as terçassua amiga, Clara Sitó, acadêmica do curso de -feiras às 13h10, na rádio Universidade 800AM.
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cul tu r a
ENTRE O ARCO E OS ACORDES reportagem: júlia maia, luciana turcato e victória lopes; fotografia e diagramação: júlia maia; colaboração: helenilton alves e kamila ruas.
a vida universitária é corrida: entre ônibus lotados, trabalhos para serem escritos e prazos a serem cumpridos, conciliar os estudos e uma banda pode ser complicado. esse é o caso dos integrantes das bandas âmago, mão do sopro, pegada torta e velha cortesã.
O estudo diário em uma universidade e a vida extracurricular dedicada à música fazem parte da vivência de muitos estudantes. A jornada dupla conciliada com estudos e muito amor à música é o que se encontra presente nos integrantes da banda Âmago, Mão do Sopro, Pegada Torta e Velha Cortesã. O contexto da universidade e o ingresso na UFSM foram fatores importantes para o surgimento de algumas dessas bandas, direta ou indiretamente. Embora alguns vivessem na mesma cidade e se conhecessem, a aproximação entre integrantes da Velha Cortesã e Mão de Sopro aconteceu na UFSM. A Pegada Torta, por sua vez, possui membros que vieram de lugares diferentes para estudar na universidade, e por meio do cenário musical de Santa Maria e região se conheceram, e depois formaram a banda. A realidade santa-mariense também é refletida pelas produções das bandas. A maioria delas diz que é impossível viver em Santa Maria e não ser influenciado pela realidade da cidade. Os elementos que fazem parte do contexto da vida universitária também contribuem na elaboração das letras das músicas,
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SOBRE AS BANDAS como dizem os componentes da Mão do Sopro. Canções como “Pingo” da Mão do Sopro e “A paz dessa cidade” da Pegada Torta são exemplos do contexto santa-mariense . Os integrantes da Velha Cortesã e da Mão do Sopro, acreditam que o período dedicado à universidade e aos estudos interfere no tempo dedicado à banda, o que faz com quem se desdobrem para conseguir levar uma vida dupla. Motivo pelo qual os ensaios ocorrem normalmente nos finais de semana. Para o estudante de Ciências Sociais e baixista da Pegada Torta, Lutiano Nascimento, fazer parte de uma banda não atrapalha os estudos, inclusive auxilia, dando uma motivação a mais. Ensaiar nos finais de semana (e à noite) também é a realidade da Âmago, que utiliza os horários nos quais todo grupo esteja disponível. Dessa forma, guitarrista e estudante de Jornalismo, Kauê Wienandts, diz que os estudos não atrapalham a banda e vice-versa, pois com organização é possível conciliar tudo. Uma problemática vivenciada por todos é a falta de espaço para a música autoral em Santa Maria. Não se consegue facilmente um local para tocar e o dinheiro recebido pelo trabalho, muitas vezes, não compensa. Para Lutiano, as bandas normalmente precisam criar seu espaço com pouco ou até mesmo sem apoio: “Se tu quer que aconteça, tu vai ter que fazer acontecer” afirma. Para as bandas, o apoio oferecido diretamente pela UFSM é precário, com poucos eventos organizados. Nestes, é comum a valorização de bandas maiores assim, limitando o espaço para as que estão começando. A maior parte dos eventos culturais que acontecem na universidade e na cidade são organizados pelos próprios alunos, e surgem da mobilização dos mesmos. A música age como uma válvula de escape da vida universitária e cotidiana para todas as bandas. Existe também, para a maioria deles, o sonho de viver futuramente apenas de música, porém a insegurança é grande devido às dificuldades desse meio incerto, mas essencial na vida de todos eles.
PEGADA TORTA Formada por João Kanieski (voz e percussão), Lutiano Nascimento ( voz e contra-baixo), Jordana Henriques (voz e violão), Evander Fioravante Almeida (bateria) e Ricardo Tischler Borges (voz e guitarra). “Quero tomar minha bira no Boteco do Rosário, quero tirar do armário o tal do cidadão de bem. Pra ver quem tem realidade respirando lá fora, e que a paz dessa cidade depende dele também.” - Trecho da música “A paz dessa cidade “. Facebook.com/PegadaTorta
MÃO DO SOPRO Formada por Bruno Regasson (voz), Venancio Guedes da Luz (guitarra), João Vitor Gutkoski Paes (baixo) e Enzo Bom (bateria). Eles enfatizam como a banda foi um projeto que surgiu de repente e tomou uma grande importância na vida de todos, estreitando a relação de amizade entre os integrantes. Confira as músicas: Kampalca, Vem Cá Ver. Facebook.com/maodosopro
VELHA CORTESÃ Formada por Felipe Hoppe Rossini (bateria), Guilherme Denardin Gabbi (guitarra), João Pedro Lima da Costa (voz e guitarra) e Vagner Mateus Funck (vocal e baixo). A banda tornou os integrantes mais íntimos, e nos momentos bons e nas dificuldades, os integrantes enfrentam tudo junto, os sentimentos são compartilhados. Confira as músicas: Meu Amor Por Ti Morreu, Velho Soldado. Facebook.com/velhacortesa
ÂMAGO Formada por Guilherme Verardi (voz e violão), Kauê Wienandts (voz e guitarra), Lucas Bartmann (guitarra), Geovani Cassol (baixo) e Cesar Augusto (bateria). Para a banda a música serve de escape não só para os estudos como pra vida. Kauê afirma que ensaiando ou fazendo shows, esquece de tudo de ruim que tem em volta, ficando no mundo que é uma coisa muito boa. Confira as músicas: Numa Relax, Sinergia. Facebook.com/bandaamago
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EMPRESAS JUNIORES CONECTAM A UNIVERSIDADE AO MERCADO EMPREENDEDOR reportagem: maira trindade e mariana machado; diagramação: mayara souto.
locais de aprendizagem e contato direto com o mercado dos micro e pequenos negócios, as empresas juniores são um laboratório para os alunos que buscam se desenvolver além da sala de aula. na europa ou no brasil, o inconformismo e a vontade de inovar é o que move esses jovens. na ufsm não é diferente: o empreendedorismo ganha espaço através das empresas juniores em diferentes áreas de graduação.
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Colocar em prática, com clientes reais, os conhecimentos acadêmicos: esse é o propósito de todas as empresas juniores (EJ’s). Formadas em 1994, ano de fundação da Objetiva Jr, atreapenas por alunos de graduação em instituições lada ao curso de Administração da Universidade ensino superior e organizadas em uma as- de Federal de Santa Maria (UFSM). sociação civil sem fins lucrativos, as EJ’s são a Os 24 anos de MEJ no país foram suficientes ponte entre a sala de aula e o mercado. As em- para incentivar a criação de órgãos de auxílio presas proporcionam a vivência empresarial no e representação, e colaborar com a expansão ambiente universitário através da prestação de significativa do número de empresas juniores, serviços de assessoria, consultoria e realização sejam locais ou nacionais. Hoje, as EJ’s são rede eventos nas mais diversas áreas de atuação. presentadas pela Brasil Júnior (BJ) - ConfedeApesar dos diferentes serviços, todas elas pos- ração Brasileira das Empresas Juniores. A BJ foi suem um propósito em comum: formar profis- fundada em 2003, durante o XI Encontro Nasionais capacitados e desenvolver o ambiente cional de Empresas Juniores (ENEJ), na cidade através do empreendedorismo. de Salvador, na Bahia. Atualmente, conta com A vontade de fazer diferente teve início na 11,4 mil empresários juniores federados, o que França, em 1967. Foi na L’École Supérieure des representa 311 empresas juniores, divididas enSciences Economiques et Commerciales, em Paris, tre 18 federações brasileiras. que surgiu a primeira empresa junior do mundo, Esses números - relativos a maio de 2016 a Junior ESSEC Conseil. Treze anos depois, na dé- são compostos apenas pelos empresários, emcada de 80, começaram a surgir empresas junio- presas e federações ligadas diretamente à BJ. res em outras áreas, além das de Administração e Fora da Confederação, esse número é muito Comércio. No ano de 1986, espalharam-se pela maior. Neste ano, um dos feitos da BJ foi a aproEuropa e, em 1990, foi fundada a Confederação vação da Lei Empresa Júnior, nº 13.267, no úlEuropeia das Empresas Juniores (JADE), com in- timo dia 6 de abril. A lei disciplina a criação tuito de agir a favor dos objetivos do Movimento e organização das empresas juniores perante as perante a União Europeia. instituições de ensino superior. O Movimento Empresa Junior (MEJ) cheNo Rio Grande do Sul, as EJ’ são represengou ao Brasil em 1992, com o início da Empre- tadas pela Federação das Empresas Juniores do sa Júnior Fundação Getúlio Vargas, vinculada Estado, a FEJERS. Fundada no ano de 2000, por a Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. No iniciativa dos membros de empresas juniores já mesmo ano, o MEJ atingiu o Rio Grande do Sul, existentes no RS, “a Federação surgiu para dar com a criação da PS Júnior, empresa ligada ao uma direção para as EJ’s, ajudá-las a falar a mescurso de Administração da Universidade Fede- ma língua, conversar entre si e juntas crescer ral do Rio Grande do Sul (UFRGS). Já em Santa mais” explica o atual presidente executivo da Maria, a história do empreendedorismo iniciou FEJERS, Nikolas Kohlrausch.
Assessorias, capacitações e eventos são algumas das formas usadas pela Federação para incentivar o ecossistema empreendedor no Estado: “nós estamos em contato direto com o Movimento Empresa Júnior a nível Brasil. Ou seja, o que acontece no Brasil, junto com a Brasil Júnior e as outras Federações, nós trazemos para dentro do MEJ gaúcho” compartilhou Kohlrausch. No entanto, a Federação não desenvolve todo trabalho sozinha, pois possui parcerias com o governo estadual, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado e o SEBRAE. A FEJERS também conta com apoiadores como a Engenharia de Gente e a Pulsar, além de ter Sulgás, Ambev e Braskem como mantenedoras. O cenário atual do MEJ gaúcho é motivo de orgulho para o Presidente e reflete os esforços da Federação. Há um grande avanço no trabalho, no desenvolvimento e no aprendizado dos empresários juniores do Estado. “O Movimento Empresa Júnior está muito mais integrado este ano, do que nos outros 24 anteriores. As EJ’s estão conversando, compartilhando e se desafiando”, enfatiza o presidente da FEJERS. Santa Maria também possui sua representação local perante o MEJ, através do Núcleo de Empresas Juniores de Santa Maria, o NEJSM. Fundado em 2008, o Núcleo busca desenvolver as empresas associadas através de treinamentos e rodas de discussão, além de ser um elo entre as EJ’s da cidade.
Atualmente, o trabalho é desenvolvido por uma equipe executiva de 12 pessoas e conta com o apoio da UFSM através dos centros acadêmicos e da Agência de Inovação e Transferência de Tecnologia (AGITTEC). Novos parceiros também são bem-vindos: “recentemente estivemos reunidos com entidades como a Associação de Jovens Empreendedores de Santa Maria (AJESM) que trabalha com base nos mesmos valores e objetivos que o Núcleo, mas no ambiente de empresas sênior”, conta o Coordenador Geral do NEJSM, Thales Barletto. Na busca constante por desenvolvimento próprio e também das EJ’s, o Núcleo tem desafios e expectativas a longo prazo. Segundo relata Barletto, após uma reestruturação interna neste primeiro semestre, em que foram definidos organograma, planejamento estratégico e indicadores para o ano, em 2017 planeja-se um Núcleo mais maduro do que é hoje. “Será um Núcleo muito mais estruturado e mais forte, com estratégias bem definidas, sendo atuante e reconhecido no ecossistema empreendedor da cidade”, complementa o Coordenador Geral. A UFSM também é polo para o empreendedorismo através de 14 empresas juniores que atuam em áreas como administração, contabilidade, engenharia, informática, relações internacionais e veterinária. Todas foram criadas devido à carência dos cursos e da existência de um espaço dentro da Universidade para pôr em prática conhecimentos adquiridos em sala de aula.
CONHEÇA UM POUCO MAIS AS EMPRESAS MOVIDAS PELO EMPREENDEDORISMO:
Fundação: 2012 Área de atuação: engenharia Civil Número de membros: 24
Os atendimentos da Base são voltados para pessoas e pequenas empresas, que não têm condições de contratar os serviços de empresas sênior de consultoria, voltadas à prestação de serviços para grandes empresas. O principal objetivo é proporcionar crescimento a esses negócios para evitar a falência nos seus três primeiros anos, já que, segundo dados do SEBRAE de 2014, esse fato é reincidente. “Esperamos fazer um Seminário Anual Base Junior para Engenharia em 2016, com o tema voltado a tendências do mercado para avançarmos ainda mais em conjunto com os profissionais de Santa Maria” declara o presidente da empresa, Nilson Júnior Martins.
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Fundação: 2004 Atuação: consultorias Financeiras Número de membros: 21
No ano de 2012, em parceria com a Receita Federal, a empresa criou o Núcleo de Apoio Fiscal e Contábil (NAFC), que auxilia cerca de 200 pessoas carentes por ano em questões fiscais e contábeis. Para 2016, a Caduceu tem a meta de desenvolver oito consultorias financeiras. “A experiência que os acadêmicos têm ao participar de uma empresa júnior muda a visão de mundo tanto no âmbito pessoal como no profissional, pois a prática de como funciona uma empresa, que se adquire em uma EJ, agrega muito ao chegar ao mercado de trabalho”, conclui a presidente, Janice Candaten.
Atualmente a CompAct Jr. trabalha na prospecção de clientes e realiza projetos em parceria com outras instituições e associações, com foco na construção de sites, sistemas de gestão de desktops e sistemas de acesso remoto. “O Movimento Empresa Júnior é muito importante, não só pelo serviço que nós fazemos, mas pelo impacto que causa no jovem, pela experiência de como pode ser o mercado de trabalho e também pela qualificação que se adquire”, comenta a presidente, Caroline Siqueira.
Fundação: 2008 Atuação: otimização da produtividade e desempenho das empresas Número de membros: 35
Após as dificuldades iniciais devido a sua área de atuação, a Itep Jr. inseriu-se no mercado no ano de 2008. O Centro de Tecnologia (CT) é um de seus principais apoiadores e o diretor do Centro, Luciano Schuch, é grande incentivador dos projetos desenvolvidos pela EJ. “Os serviços mais procurados na Itep são os de gestão de estoque, gestão financeira e gestão de indicadores. E a experiência que se adquire dentro de uma empresa júnior muitas vezes é o diferencial de um profissional no mercado de trabalho” enfatiza o presidente, Ernesto Wild.
Segunda EJ criada no RS e uma das mais antigas do Brasil, a empresa tem como público alvo os Microempresários Individuais (MEI) e as micro e pequenas empresas. Trabalha, também, com empresas de porte maior, e tem seu portfólio de serviços voltado para a gestão de negócios. “A experiência que se adquire ao ingressar em uma EJ é muito importante e também auxilia quando se chega ao mercado de trabalho, principalmente devido aos valores que se aprende e a vivência que se adquire dentro de uma empresa júnior” compartilha o presidente, Leonardo Dorz
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Fundação: 2015 Atuação: Tecnologia da Informação Número de membros: 32
Fundação: 1994 Atuação: consultoria Empresarial Número de membros: 44
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per fi l
CORAGEM, UMA PALAVRA FEMININA reportagem: júlia maia e luciana turcato; fotografia: júlia maia; edição de fotografia: carolina dors menegazzi; diagramação: luciana turcato.
Maria Helenita Nascimento Bernál saiu de casa para estudar em Santa Maria “com a cara e a coragem". Em meio à música, educação e política (não partidária, ressalta) marcou a história da UFSM durante a Ditadura Militar, quando foi ativista pela moradia feminina na Casa do Estudante. Na infância, em Cachoeira do Sul, Helenita já demonstrava o sonho de ser professora: ao invés de brincar de bonecas, brincava de dar aulas. Em 1979, formada no Magistério, mudou-se para Santa Maria para cursar Educação Artística com habilitação em Música. Os pais a apoiaram, apesar de não terem condições de mantê-la financeiramente. Mesmo assim, Maria persistiu; sabia que o máximo que poderia acontecer era ter que voltar para casa. Na UFSM, Helenita fazia parte do movimento estudantil, no Grupo Resistência. Esse grupo militava em oposição à reitoria, que na época era favorável à ditadura, e também ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), no qual os membros eram escolhidos pela própria reitoria. Os encontros aconteciam sempre em lugares diferentes porque os contrários ao regime precisavam andar "falando de lado e olhando para o chão". Nesse tempo, as Casas do Estudante (CEU) I e II, tinham mais de 300 vagas, todas estritamente masculinas devido à maioria dos estudantes serem homens. Para as mulheres, havia a CEUs III e IV, porém cada uma com média de 15 vagas. Diante deste cenário, o movimento estudantil passou a questionar a desigualdade na forma de acesso à Casa de Estudante. Em 1981, em acordo com a Diretoria da Casa, Maria Helenita - que já morava na CEU IV por não ter condições de manter uma moradia-, Jurema Zago e Elenizia Rossato ocuparam um dos quartos da CEU I I c o m o propósito de iniciar um processo de moradia mista. Maria acredita que a reitoria não tentou impedi-las porque acreditava que não teriam coragem de continuar. Mas tiveram!
Poucos meses depois, a Diretoria da Casa propôs que houvesse também a ocupação da CEU II. Por motivos diversos, Maria Helenita foi a única que continuou no processo, então convidou a amiga Jussara Wolker para ir com ela. Antes disso, garantiu que outras mulheres ocupassem as vagas da CEU I, para dar continuidade à ocupação. O apartamento ocupado por Maria Helenita e Jussara na CEU II foi o 1306. Possuía vagas para cinco pessoas e, em pouco tempo, todas foram preenchidas. No final daquele ano, outros ficaram vazios, e outras mulheres tiveram acesso à moradia. Isso garantiu a ampliação da ocupação, de forma que, mesmo sendo contrária, a reitoria não tinha mais como impedir. A história de Helenita comprova que ela sempre agiu criticamente de acordo com os ideais que defende, e ensinou isso a seus filhos e alunos. Mesmo assim, nunca tratou com desrespeito quem se posiciona de maneira diferente. Atualmente está aposentada como educadora musical, mas não pensa em parar. Continuou estudando música e, no final deste ano, completa sua segunda graduação: Bacharelado em Musicoterapia. Ainda pretende fazer mestrado e dar aulas até o fim de sua vida. Hoje, aos 58 anos, Maria Helenita vive na sua cidade natal com o marido, que inclusive conheceu no tempo da faculdade, e que morava no bloco 12, ao lado do dela. Conta que é extremamente compensador saber que sua luta contribuiu para que as mulheres e homens tivessem os mesmos direitos de moradia na UFSM.
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