Brasília | Maio| 2019
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Revista CAU/UCB | 2019 |
Nº9-2019
Brasília | Maio | 2019 | ISSN 2359-0084
ISSN
Nº9-2019
EDITOR CHEFE CONSELHO EDITORIAL
Marcio Oliveira Aline Zim | Carolina Borges | Yara Regina
PROJETO GRÁFICO
Daniel C. Brito | Thiago P. Turchi
COLABORADORES
Ilustração capa: Ilustração - Daniel C. Brito| Editoração eletrônica: | Thiago Turchi | Perfil: Aline Zim Yara Regina | Artigos: Daniela Barbosa | Rayssa Fernandes| Juliana Gehlen | Acontece no CAU: Marcio Oliveira | CACAU | Alex Vieira | Douglas Galvão | Guilherme Neto | Karina Teixeira | ArqCartoon: Daniel Brito | Thiago Turchi
Brasília | Maio | 2019 | ISSN 2359-0084
Revista CAU/UCB | 2019 | Editorial
PERFIL CARLOS MADSON
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ARTIGOS 1- A ESPACIALIDADE NOS FILMES DA PIXAR 2- DO PROFANO MATERIAL AO SAGRADO IMATERIAL 3- BENCHMARKING DE CONSUMO ENERGÉTICO RESIDENCIAL
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ACONTECE NO CAU 1- NOVO SITE DO CAU UCB 2 - NOTÍCIAS DO CACAU 3 - SEMANARQ 2018 4- DIPLOMAÇÃO ARQCARTOON VIDA DE ARQUITETO
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Revista CAU/UCB | 2019 | Sumário
Aline Zim e Yara Regina Oliveira | Professoras do CAU/UCB
Arquiteto e Urbanista pela Universidade de Brasília - UnB (1979), mestrado (2001) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela UnB (2011). É analista de planejamento e gestão urbana arquiteto do Governo do Distrito Federal, com atuação profissional concentrada nas seguintes áreas: patrimônio histórico e cultural, gestão urbana, desenvolvimento urbano e pesquisa histórica, com participação em diversos projetos relacionados à intervenção e reabilitação de centros históricos, tanto no âmbito do setor público quanto do setor privado. Atuou no Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal DePHA, no Instituto de Planejamento Territorial e Urbano do DF IPDF, na Secretaria de Educação do DF e na Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano do DFSEDHAB. Foi Diretor do Departamento de Saneamento e Edificação de Saúde Indígena do Ministério da Saúde por dois anos. Desde maio de 2014 é o Superintendente do IPHAN/DF.
ENTREVISTA ARQ. CARLOS MADSON, DIRETOR DO IPHAN-DF
CARLOS MADSON:
Fig 1 - Carlos Madson
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VARAU: Como gostaria de iniciar a questão do Patrimônio cultural? MADSON: Eu acho que a grande questão é entendermos o significado da cultura e o significado do patrimônio cultural. O IPHAN é uma das instituições mais antigas do Brasil, tendo completado 82 anos em janeiro de 2018. Nesse período o maior desafio levantado foi definir o que é patrimônio cultural nesse país, qual é o patrimônio cultural brasileiro, sendo um conceito que ainda está em evolução.
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O início, lá nos anos 30, embora já tivéssemos o entendimento que patrimônio cultural era uma coisa mais abrangente na linha de pensamento de Mário de Andrade, se concentrou muito nas edificações representativas do período colonial, no qual, as edificações mais representativas foram consideradas patrimônio cultural do país. Mas esse conceito e prática foi se alterando ao longo do tempo. Nos anos 80 houve uma grande evolução para a parametrização do conceito pois é quando se começa a trabalhar também com o patrimônio imaterial. Isto é, com a inserção e amplificação das matrizes formadora da cultura brasileira, sobretudo a indígena e a afro brasileira, na formalização e oficialização dos trabalhos do IPHAN. Com o tombamento e reconhecimento do Terreiro da Casa Revista CAU/UCB | 2018 | Perfil
Branca por exemplo na Bahia em 86, causou uma discussão e polemica no país entre os técnicos que trabalhavam com cultura. Foi muito difícil aceitar o fato e houve resistência de alguns segmentos. O grande avanço foi a formalização e a criação da legislação sobre o patrimônio imaterial, que completa agora 17 anos. Que para as instituições internacionais como a UNESCO, considera o documento oficial em 2008. Essa uma legislação torna-se a referência no mundo inteiro, pelo seu avanço conceitual, e pela sua forma de reconhecimento desse patrimônio também. O IPHAN tem essa particularidade, o Brasil foi um dos primeiros países a trabalhar com o conceito dos centros históricos, como conjunto, estendendo a noção de património além dos edifícios soltos, embora estivesse sendo discutido na Europa, teve prática no Brasil nos anos 30, em 1933, o conjunto de Ouro Preto foi declarada como Monumento Nacional e em 1938 foi tombada pelo IPHAN. Esse conceito está em constante evolução e construção. Hoje o que se entende como patrimônio cultural, resulta de uma série de ações feitas pela sociedade, suas manifestações, seus dizeres e fazeres, ou seja, um conceito amplamente abrangente. Hoje pode-se dizer que o IPHAN é um órgão de toda a administração cultural do país, o soberano, o que define e aplica todos esses conceitos. Esse ano foi reconhecida a literatura de cordel como patrimônio cultural brasileiro. Isso há 20 anos atrás não teria acontecido, pois
tinha-se como premissa que cultura era algo definido pela elite e apenas ela era imbuída de cultura. Hoje é importante que os jovens entendam isso, em Brasília, particularmente, temos o Conjunto Urbanístico de Brasília, que tem um peso muito grande, pois ela vem cercada de uma narrativa onde a realidade, os sonhos, e desejos se misturam. Toda a narrativa de Brasília é uma mistura de realidade e ficção, e por ora se juntam fatos que muitas vezes não tem nada a ver, por exemplo, é muito discutível hoje aquela associação com os movimentos libertadores do século 18, Inconfidência Mineira, qual a relação que tem com Brasília? Nenhuma, mas se associou à história, e isso ocorre em todo o país, todo lugar tem suas lendas e suas tradições inventadas ou não inventadas. isso não é uma crítica. é uma realidade. Brasília vem com uma carga muito grande, e a simbologia de Brasília para a história da cidade é muito grande, não só como artefato urbano, mas como representante de um anseio de uma população que queria ser moderna, inserida no mundo moderno, que queria se auto afirmar como nação autônoma e criativa. VARAU: interessante sua explicação, pois nós vemos que nessa passagem de “patrimônio do edifício” para “patrimônio cultural” o IPHAN é uma instituição visionária e anseia garantir os valores humanos e diversidade cultural brasileira.
MADSON: Exatamente. Somos 27 representantes, atuando em todo o país, isso é raro por trabalharmos com as manifestações culturais brasileiras. São ações: O prêmio Rodrigo Melo Franco, que é o prêmio máximo do patrimônio cultural brasileiro, vê uma diversidade de manifestações culturais e de entendimento do que isso seja, pois o Brasil é um dos países mais diversos em cultura, muitas vezes nós ignoramos essa diversidade. Se pegarmos como exemplo a língua portuguesa, a nossa é muito mais complexa do que a de Portugal, isso é enriquecimento da língua, não falando mal da linha portuguesa de Portugal, mas devemos reconhecer a riqueza que a nossa tem. As línguas que não enriqueceram ou incorporaram nada, desapareceram. a quantidade de palavras que temos de origem indígenas ou africanas, como por exemplo tapioca, foram integradas promovendo o seu dinamismo e sua riqueza. Nosso trabalho no IPHAN do DF é de mostrar essa diversidade, para entendermos que o patrimônio não se basta ao Conjunto Urbanístico de Brasília, ele é um elemento determinante e representativo da cultura local, mas Brasília tem e congrega, por ser capital do país, uma diversidade brasileira. Temos aspectos que foram trazidos pelos construtores de Brasília que enriqueceram nossa cultura. No ano passado, fizemos uma exposição, “o Brasil em Brasília” onde procuramos retratar o patrimônio cultural brasiliense, é óbvio que esse Revista CAU/UCB | 2019 | Perfil
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“Nosso trabalho no IPHAN
do DF é de mostrar essa diversidade, para entendermos que o patrimônio não se basta ao Conjunto Urbanístico de Brasília, ele é um elemento determinante e representativo da cultura local, mas Brasília tem e congrega, por ser capital do país, uma diversidade brasileira. ” CARLOS MADSON
patrimônio está sendo construído e sempre em movimento, assim como o de todo o resto do país, mas particularmente o nosso, por sermos uma cidade muito nova. A contribuição das manifestações culturais que se concentram, tomam as vezes novas formas. Promovendo a riqueza e a consolidação desse patrimônio, por exemplo o Bumba meu boi, de seu Teodoro, com toda a riqueza que ele tem, é igual e diferente do Bumba meu boi do Maranhão. pois lá ele tem outros elementos, componentes, se manifesta de outra forma em outro contexto, mas continua sendo o Bumba meu boi, como em todo o país. Outro aspecto do patrimônio cultural importante na superintendência do IPHAN DF diz respeito ao patrimônio arqueológico, temos sítios arqueológicos que foram datados entre 11 e 6.000 anos. Mesmo o Conjunto Urbanístico de Brasília, vários aspectos do patrimônio cultura está sendo construído, as edificações, a paisagem, e tudo isso tem um componente determinante que é o bioma cerrado. Procuramos aqui na Superintendência do IPHAN mostrar a diversidade desse patrimônio e a importância de ele ser tratado de forma integral. Para nós Brasília não se delimita ao seu Conjunto Urbanístico. Os aspectos do patrimônio está se constituindo, se formando, se consolidando. Hoje vejo algo muito bom, a participação dos jovens de Brasília como protagonistas, a forma com que eles estão se apropriando da cidade de uma forma completamente diferente
do que já se ocupou. Meus filhos ocupam Brasília de uma forma completamente diferente que eu a ocupei. Com uma visão mais dinâmica do que a minha inclusive, pelo fato de terem uma relação menos sacralizada da minha geração a dos anos 70. Essa geração incorporou todo o discurso mítico de Brasília, enquanto que os jovens atuais percebem a cidade de outra forma, se apropriam de forma de diferente dos espaços, podemos atestar o número grande de jovens organizados em coletivos, cada uma com uma proposta, isso se reflete na produção musical, na arte, na narrativa que estão criando. Considero esta leveza da ação dos jovens menos sacralizada e mais humanizada. Dessacralizar a assepsia daquele discurso e narrativa que embasava Brasília, claro que devemos reconhecer que o projeto urbanístico de Brasília é muito importante, muito significativo, sem dúvidas, e isso quem diz não sou eu, ela é reconhecida pela própria UNESCO que reconhece Brasília como patrimônio cultural mundial. Foi o primeiro conjunto urbano reconhecido (moderno), sem dúvidas o mais expressivo do século 20, mas isso não quer dizer que Brasília não tenha problemas, de ordem urbanística inclusive, a crítica ao modernismo, muitos segmentos não querem ouvir, mas ela foi feita desde os anos 40, com os primeiros encontros urbanísticos. As críticas iniciadas nesse período, as quais nós brasileiros ainda temos muita dificuldade em superar. No meu ponto de vista ainda corresponde a relação de
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maneira geral promovida pelo modernismo de Brasília como cidade perfeita, ideal, que vem da utopia, a história é farta de exemplos dos seres humanos buscando o ideal, o próprio Éden é uma utopia. Brasília está dentro desse conjunto de cidades idealizadas, o que não é certo pois ela tem todos os sonhos, mas também todos os problemas.
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Acho que vamos avançar nisso, quando passarmos a pensar Brasília como cidade, como espaço urbano, ver problemas e qualidades. O trabalho do GT Brasília, que nos anos 80 já levantava essa preocupação, quando se falava de preservação dinâmica e contemporânea, avaliando elementos de permanência e elementos de mudança. Devemos incorporar na dinâmica da cidade elementos de transformações, precisamos refletir sobre isso para que possamos avançar, se ficarmos somente com os conceitos elencados pelo modernismo nós vamos parar no tempo, vamos estagnar. A cidade não para. Ela vai ser construída, de uma forma ou de outra, então cabe a nós, nossa geração, determinar esses rumos, de forma que essa evolução e consolidação aconteça da melhor forma possível, para agregar. A história não parou, eu não partilho da ideia que a história morreu, que nada esteja acontecendo, ainda tem muita coisa para acontecer. Brasília pode sim incorporar diversas questões novas, por exemplo, ciclovias, olha a discussão que as ciclovias levantaram: onde devem passar? devem passar? agridem o patrimônio? O que é isso?
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Brasília é uma cidade aberta, concebida para ser atual, temos dificuldades de assimilar qualquer alteração que ocorra nesse conjunto urbanístico. Óbvio que existem limites para as questões, nós não podemos ignorar que a W3 Sul e a W3 Norte têm problemas de concepção urbana. As frentes das lojas das 500 serem voltadas para a W3 e no outro lado da via ser constituído pelos fundos de casas das 700. O que acontece hoje, as casas estão se comercializando, e não se admite, algo irreversível, transformação que traz benefício para a cidade. Precisamos discutir qual o melhor caminho e rumos adotarmos. O comércio local da Asa Sul e Asa Norte, por exemplo, com os Puxadinhos, oferece ainda muita resistência, pois ao meu ver nega-se a enfrentar a situação. A cidade se altera diariamente, a cidade de hoje não é a mesma de ontem e não será a mesma de amanhã, ela vai sempre acrescentar e substituir. Existem soluções muito boas e existem as que são péssimas e não agregam valor positivos ao espaço urbano. Temos que incorporar o fato que se os puxadinhos existem pelo fato de a arquitetura realizada não atender a demanda emergente. Nós tentamos remediar, achando que o problema se resolveria com legislação, mas não, esse é um problema que envolve o conjunto da sociedade. O fenômeno dos puxadinhos existe no mundo inteiro, Paris tem puxadinhos de lojas nas calçadas, claro que respeitam o pedestre, aqui poderíamos avançar nesse sentido. O
desafio do reconhecimento, valorização e preservação do patrimônio cultural é o mesmo desafio da cidadania, nós só vamos avançar quando avançarmos na prática cidadã, o respeito do espaço público, respeito pelo outro, que não podemos nem devemos pensar todos iguais. O nosso desafio na Superintendência do IPHAN DF é de avançar em Brasília, tentando mostrar que o patrimônio vai além do construído, incorporando a diversidade cultural, as maneiras de ser é patrimônio. Nos encontramos num momento histórico de formação de uma cidade nova, estamos entrando na terceira geração de nativos, isso é muito pouco, Roma por exemplo está na centésima geração. VARAU: como o IPHAN pode contribuir para os futuros profissionais e qual o papel das universidades? MADSON: O IPHAN no momento está passando por uma transformação, hoje o entendimento que temos é de interação e articulação com outras instituições. Precisamos encontrar parceiros da sociedade civil e de instituições para trabalhar, o futuro do patrimônio cultural não tem como ser responsáveis por tudo, a concepção de totalidade do IPHAN. Estamos passando por uma fase de compreensão dessa divergência e da necessidade de procurar parceiros e a universidade é uma parceira nata, inerente, pela quantidade de conhecimento que tem. Outro ponto de
articulação é com os governos locais, acho que é preciso avançar como nação, e trabalhar em conjunto com os governos locais, pois durante muito tempo parecia ser uma atribuição só do IPHAN, isso fica muito claro aqui em Brasília, toda e qualquer questão urbana que acontece se remete ao IPHAN. Precisamos entender, enquanto sociedade, que esse trabalho de reconhecimento, preservação, valorização e aproveitamento desse patrimônio cultural é uma corresponsabilidade dos atores e da sociedade como todo. O patrimônio não pode ser uma coisa etérica precisa cumprir uma função social. O patrimônio cultural tem um viés econômico imenso, os países que já entenderam isso estão lá na frente, nós ainda não estamos engatinhando. Um dos maiores PIB mundial é produzido por atividades culturais. Assim o IPHAN precisa criar parcerias, integrações, comprometimentos. No Distrito Federal assinamos um acordo de cooperação técnica com o governo do DF para gestão da área tombada, para criar um ambiente colaborativo, nós não somos concorrentes para isso, somos entes federativos de estudo com responsabilidades iguais na preservação do patrimônio cultural, isso está na constituição. Buscamos criar esse ambiente colaborativo, com uma agenda comum de ação e vamos avançando nisso, com dificuldades da nossa política cultural, mas no momento é possível sentar com o GDF e entender que somos parceiros e corresponsáveis na preservação desse patrimônio. Quanto as parcerias com universidades também, nos 4 anos que estamos aqui conseguimos
avançar na formalização, por exemplo, uma articulação com o Instituto de Geociências da Universidade de Brasília, para ser o instituto de guarda e dorso de todo o material arqueológico do DF. Antes disso o material ia para fora de Brasília, agora não, isso é um grande avanço. Nós sempre procuramos e atendemos as faculdades de arquitetura e urbanismo do DF, por entender ser fundamental para a formação dos futuros profissionais, mas é bom para nós também, trocar experiências é uma questão de formação.
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“O IPHAN no momento está passando por uma transformação, hoje o entendimento que temos é de interação e articulação com outras instituições. Precisamos encontrar parceiros da sociedade civil e de instituições para trabalhar, o futuro do patrimônio cultural não tem como ser responsáveis por tudo, a concepção de totalidade do IPHAN. ” CARLOS MADSON
PALAVRAS-CHAVE: Animação, Arquitetura e Urbanismo, Kevin Lynch, Pixar
Fig 2 - Axiom 5 - Caparelli
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Daniela Barbosa Caparelli |
Olhar atentamente para como a arquitetura está sendo representada no cinema ajuda a compreender a visão das cidades que os produtores de cinema propõem e como o público a recebe. As histórias contadas nos filmes se classificam através de cenários imaginários ou realistas. Dentro dessas categorias, o espaço urbanístico se divide entre cinco elementos da análise urbana, proposta por Lynch. Diante disso, se organiza como um estudo de caso de quatro filmes do estúdio Pixar: Procurando Nemo (2003), Ratatoulle (2007), Carros (2006) e Wall-E (2008), no qual cada longa metragem representa uma das classificações cenográficas e os elementos tratados no livro A Imagem da Cidade de Kevin Lynch.
A ESPACIALIDADE NOS FILMES DA PIXAR
RESUMO
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INTRODUÇÃO
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As artes estão constantemente se relacionando. A arquitetura, como uma delas, frequentemente interage com pinturas e esculturas, o que agrega a ideia de imaginabilidade, característica que proporciona uma imagem forte e inerente ao objeto, o tornando memorável (LYNCH, 2011). Esse vínculo também ocorre entre a arquitetura e o cinema, dando credibilidade para a trama representada. Portanto, os cenários são mais que meros planos de fundo para história, são responsáveis em situar o público ao local, época e transmitir de forma sutil a personalidade dos personagens. Diante disso, busca-se entender melhor a relação entre a cinematografia e os espaços neles representados. Entende-se o cinema como uma grande divulgação da vida e dos espaços urbanos, e a arquitetura como um ambiente que vai além da contextualização, promovendo emoções e refletindo a personalidade dos personagens da história. (SANTOS,2014) A cidade é representada em sua forma dinâmica e cotidiana desde a origem do cinema em 1895. O primeiro registro cinematográfico feito pelos irmãos Auguste e Luis Lumière no filme A chegada de um trem a Cialot, utiliza um ícone da modernidade como cenário, uma estação de trem. (SANTOS, 2004; NAME, Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
Fig 3 - Classificação dos cenários
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2003). A partir desse momento o espaço arquitetônico é introduzido na narrativa, e com a evolução dessa arte surgem os longas-metragens de animação onde as representações arquitetônicas são totalmente feitas por meio de desenhos ou de meios digitais.
Torre Eiffel, o Cristo Redentor e a Estátua de Liberdade, que conseguem situar de forma simples os observadores no espaço, sem estes nunca terem o visitado. (NAME, 2003).
A arquitetura é muito mais que mera cenografia e deve saber transitar no imaginário fílmico para construir estruturas capazes de resgatar o espírito de uma época ou lançar o de outras. É o espaço arquitetônico que permite a ligação entre o tempo, espaço e homem. (SANTOS, 2004).
As análises das obras da Pixar, estúdio de animação norte-americano que produz curtas e longas metragens animados, se organizam através da afirmação de Souza (2005) “o cinema se aproxima da cidade por meio de duas abordagens, conforme ele as retrata como imaginárias ou realistas.” Entende-se os cenários realistas, como aqueles que representam com fidelidade os espaços, sendo estes: urbanos ou naturais. Os imaginários, tratam-se da representação utópica/ distópica, ou de um universo baseado na realidade que conhecemos.
Creio que os filmes são um produto e uma parte do meio urbano, quase como a música, e os arquitetos que se interessam por urbanismo deveriam estar informados sobre o tipo de música que se escuta, da arte que se faz e dos filmes que se rodam. (ALLON, 2004 apud WENDERS). O cinema é uma arte industrial, devido aos seus atributos artísticos e comerciais, que se desenvolveram durante a Revolução Industrial. Associando o mesmo ao avanço da tecnologia, “o cinema abre uma comunicação sobre o mundo” (CASTELLO, 2004), ou seja, transmite informações a qualquer parte do planeta. Portanto, os filmes são os principais responsáveis pela divulgação da arquitetura, possibilitado um reconhecimento virtual dos espaços, através dos os ícones presentes nas cidades, misto de símbolo cultural e imagem simplificada, por exemplo: a Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
METODOLOGIA
São apresentados quatro longasmetragens de animações digitais em três dimensões, com o intuito de ilustrar cada uma dessas categorias. Os filmes realistas apresentam o cenário natural em Procurando Nemo e em Ratatouille do cenário urbano. Na abordagem imaginária, o filme Carros retrata um universo composto apenas por veículos que fundamenta-se na nossa realidade e Wall-E aborda sobre um futuro distópico. Kevin Lynch (1918-1984) foi um urbanista americano que se destacou entre os grandes autores do urbanismo, através da sua obra “A Imagem da Cidade” de 1960. Na obra, por meio de pesquisas
e experiências empíricas, o autor realiza um extenso estudo de três cidades norteamericanas: Boston, New Jersey e Los Angeles. Nesse estudo o autor define elementos estruturadores da imagem por meio da percepção da cidade pelos seus habitantes. Estes critérios relacionam-se com a cinematografia, que utiliza diversos elementos urbanos na concepção dos cenários. Associando-os com a narrativa proposta e situando o observador no tempo e no espaço em que ocorre a trama. Busca-se entender a representação urbana utilizadas nas animações, através dos tipos formais de elementos imagéticos propostos por Lynch (2011, p. 9), nos quais podemos adequadamente dividir a imagem da cidade em cinco aspectos: vias, marcos, limites, pontos nodais e bairros, que estão presentes nas interpretações urbanas no cinema. Entendê-los é compreender como os profissionais de outras áreas percebem o espaço e consequentemente como o público recebe essas informações. Estes cinco princípios são aplicados em quatro filmes da Pixar, cada um representando uma abordagem cenográfica diferente, e todos trabalhados na obra “A Imagem da Cidade”. A PIXAR A Pixar Animation Studios foi fundada no ano de 1986 e produziu 20 longasmetragens. O estúdio é conhecido por
sua inovação, qualidade e popularidade, isso é justificado pelas premiações que o estúdio recebeu pelos seus trabalhos. A empresa também conta com um alto rendimento financeiro das bilheterias, fato que afirma o sucesso da mesma. Como por exemplo, seu primeiro filme, Toy Story (1995), a empresa arrecadou US$362 milhões; seguido por Vida de Inseto (1998) US$363 milhões; Toy Story 2 (1999) US$485 milhões; e Monstros SA (2001) US$525 milhões. (SEKALIAS; ANTHONY, 2015). O projeto de arquitetura busca que o espaço se conecte com seus usuários e provoque emoções, para isso são necessários pesquisas e estudos de referências. De forma similar, no cinema são necessárias muitos estudos para criar uma animação digital. A Pixar cria seus cenários após cuidadosas pesquisas, levando cerca de quatro anos para a produção de uma animação. Segundo o diretor de animação, John Lasseter, os artistas tomam como base três elementos fundamentais para a criação de um filme na Pixar: contar uma história convincente que mantenha o público entretido e dentro da história, povoar o universo com personagens atraentes e memoráveis e tornar o mundo crível. (PIXAR, 2018). Esta linha de produção possibilita à empresa produzir espaços arquitetônicos convincentes que dialogam com a história e os personagens “um dos maiores talentos da Pixar está em sua habilidade de criar mundos arquitetônicos convincentes dentro do mundo humano que habitamos Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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Fig 4 - Linha do tempo dos   Filmes da Pixar
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diariamente.” (SEKALIAS; ANTHONY, 2015). Portanto, os filmes foram selecionados tendo em vista ao grande sucesso de bilheteria e o consequente alcance deles as pessoas de diversas partes do mundo e sua relação com a arquitetura e urbanismo que podem ser inferidas de suas grandes produções. PROCURANDO NEMO
Sinopse
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O longa-metragem conta a história de um peixe-palhaço, um pai superprotetor que vive de forma segura em um coral com Nemo, seu filho único. De forma inesperada, Nemo é levado para longe, fazendo com o que o pai enfrente seu medo do oceano em busca dele. Lançado em 2003, Procurando Nemo recebeu o Oscar de melhor animação em 2004 e rendeu a marca de US$865 milhões, sendo uma das animações com maior rentabilidade da empresa. (SEKALIAS; ANTHONY, 2015).
Análise A obra apresenta diversos cenários subaquáticos e algumas partes no meio urbano, sendo a paisagem protagonista do cenário, também nomeada de geografia narrativa. A Pixar utiliza elementos reais na história, com o objetivo de tornar o universo da animação realista. Por exemplo, a Corrente Leste Australiana (CLA) que favorece a migração dos animais marinhos, é utilizada para o mesmo propósito no filme. A CLA transporta os Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
personagens Marlin, Dory e as tartarugas marinhas para Sidney. Devido ao seu caráter realista e natural, o filme acontece em grande parte nos oceanos, não apresentando o meio urbano de forma detalhada. Porém, ao introduzir a cidade de Sidney na animação, através da Ópera de Sydney, os produtores utilizam de um dos tipos formais propostos por Lynch, os marcos, que são elementos usados como indicadores de identidade que situam o usuário no espaço (LYNCH, 2011). O cinema faz uso constante desta categoria como afirma Name: A apresentação de uma paisagem no cinema é, na maioria das vezes, conseguida por um establishing shot, plano que têm como função localizar a ação da trama, orientando o espectador. Para isso são muito importantes os chamados ícones urbanos, referências para as mais diversas cidades. (NAME, 2003). Além dos cenários, a Pixar sempre transmite reflexões em suas obras. Este filme trata sobre o impacto ambiental causado pelas influências humanas no meio ambiente. Retratando as dificuldades físicas e os problemas psicológicos que os personagens enfrentam quando são retirados do seu habitat. Isso é mostrado em várias passagens da animação, como na cena em que as bombas ao redor de um navio afundado causam uma explosão, alterando aquele ecossistema. REFLEXÃO
Procurando Nemo, nos faz refletir sobre as consequências dos atos humanos no meio ambiente. Mostrando a importância que os arquitetos e urbanistas têm em propor soluções sustentáveis, projetar espaços visando um menor impacto ambiental e promover a preservação da natureza. (SEKALIAS; ANTHONY, 2015). Portanto, o longa-metragem da Pixar apresenta reflexões ambientais e uma representação realista da vida marinha, da natureza, do espaço urbano e dos elementos relacionados. Procurando Nemo consagra os três elementos fundamentais do estúdio definidos por John Lasseter; devido a sua legibilidade, “objetos não são apenas passíveis de serem vistos, mas também nítida e intensamente presentes aos sentidos” (LYNCH, 2011, p. 11), Proporcionando no chamado blockbuster, que são grandes produções que atingem muitos espectadores e obtém elevado sucesso financeiro. RATATOUILLE
Sinopse A paixão pela culinária de Remy, um rato, que sonha em ser um grande chefe de cozinha é o princípio do filme. A comovente história que mostra a capacidade que todos temos de realizar nossos sonhos consagrou um Oscar e um Globo de Ouro ao filme em 2008. Ambientado em Paris, na França, a Pixar aproveitou todas as oportunidades para usar a cidade na animação.
Análise Ratatouille é um filme cujo cenário é classificado como realista e urbano, pois representa de forma fiel a cidade de Paris com seus inúmeros detalhes e características que configuram a imagem da cidade, produzindo uma alta imaginabilidade, pela sua capacidade de criar uma imagem mental poderosa e facilmente identificável pelo observador. (LYNCH, 2011). Essa diretriz ocorre devido aos elementos imagísticos, que estão presentes em toda a animação Com relação ao edifício do restaurante Gusteau’s, “a entrada para a sala de jantar é quase como um palco, onde garçons saem dos bastidores para apresentar pratos para a plateia de clientes” (PIXAR, 2018). A arquitetura criada para o longa representa a relação do lado técnico e funcional com a área social e de contemplação do restaurante. Além disso, o edifício relaciona-se com o entorno acompanhando o skyline uniforme de Paris, seguindo a escala e os detalhes em sua fachada com características da arquitetura francesa. Demonstra-se o conceito de bairro trabalhado por Lynch (2011, p. 52), na qual “os bairros são reconhecíveis por possuírem características comuns que os identificam”. Ratatouille utiliza constantemente os marcos em sua narrativa, localizando a plateia por meio da Torre Eiffel, desde a primeira cena em que o protagonista chega à Paris. Este mesmo marco visual é utilizado frequentemente no longa, a qual Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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Fig 5 - Sidney em Procurando Nemo
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Além deste ícone urbano, a Catedral de Notre-Dame de Paris é outro elemento identificador do espaço, tendo sua primeira aparição em uma cena noturna, a qual seus vitrais a identificam de forma discreta o espectador no espaço.
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O Rio Sena que corta a capital francesa é uma barreira que divide o espaço e dificulta a circulação entre as partes, representado na cena do filme onde o personagem Skinner persegue Remy pela cidade, sendo o rio um elemento crucial para o fim da perseguição. Nesta mesma cena, é apresentada uma relação orgânica da cidade com seus rios, utilizando-os como um modal de transporte. Entendidos como pontos de referências conceituais das cidades, os pontos nodais são elementos como praças, cruzamentos ou convergências viárias (LYNCH, 2011). Em Ratatouille o ponto nodal mais relevante é a rotatória com uma fonte no centro, de frente ao Gusteau’s. Neste mesmo ponto, o elemento das vias ganha evidência. Os personagens apresentam durante toda a narrativa os canais de circulação e a diversidade da Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
cidade de Paris com seus bulevares e suas ruas estreitas, como a localizada na lateral do restaurante. Além disso, o leito de pedestre é detalhado no filme devido à escala do personagem principal, que por ser um rato possui uma visão detalhada das calçadas o que é reproduzido no filme, através de detalhes urbanos percebidos na visão do personagem, como as tampas de bueiros, as bocas de lobos, as sarjetas com folhas acumuladas, e as texturas urbanas das vias e calçadas. Esse nível de detalhe deve-se aos estudos dos espaços feitos anteriormente pela equipe de concepção, produzindo uma reprodução realista. (PIXAR, 2018). Apesar disso, o filme utiliza-se de uma licença artística para romantizar ambientes não atrativos da cidade, mas de extrema importância para seu funcionamento. Como os canais de esgotos representados em Ratatouille, elementos que se destacam na história urbana de Paris, com os conceitos higienistas que foram propostos por Haussmann, na reforma urbanística, em meados do século XIX. (GLANCEY, 2016).
Reflexão Ratatouille traz questionamentos quanto à acessibilidade, mostrando a dificuldade na locomoção do Remy, que devido ao seu tamanho sofre desafios físicos para sobreviver em um mundo humano. (SEKALIAS; ANTHONY, 2015). No final da animação é apresentado o restaurante
Fig 6 - Cena do lme Ratatoulle
está localizada ao fundo do restaurante Gusteau’s, onde acontece grande parte da trama. O mesmo ocorre com o apartamento do Linguini, que apesar de pequeno e simples, possui vista para a torre. Desta forma, identifica-se a grande influência que uma obra arquitetônica tem em definir marcos, ao localizar o espectador espacialmente na narrativa.
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que leva o mesmo nome do filme, o qual possui adaptações à escala do protagonista, mostrando a importância desse tema na vida cotidiana. Os elementos da imagem da cidade utilizadas em Ratatouille configuram uma representação realista dos espaços urbanos, aproximando o filme da real Paris e, por consequência, atrai o público que compreende o cenário e a relação deste com a narrativa. Ao explorar as diferentes visões dos personagens, o longa metragem animado explora a cidade através de outras perspectivas, “mostrando como nosso mundo poderia ser com um pouco mais de imaginação.” (SEKALIAS; ANTHONY, 2015).
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CARROS
Sinopse Vencedor do Globo de Ouro de Melhor Animação em 2007, Carros foi lançado no cinema em 2006. O filme conta a história do carro de corrida, Relâmpago McQueen, estreante na Copa Pistão, que fez um desvio inesperado na Rota 66, uma lendária rodovia da cultura automobilística norte americana que fez sucesso nos anos 1950 e sofreu com o surgimento do sistema interestadual federal americano, gerando o desaparecimento de várias cidades do mapa. (PIXAR, 2018). Essa mesma história é contada de forma adaptada ao universo apresentado no filme, configurando outra categoria cenográfica, onde a realidade como conhecemos serve de base para a construção de novos mundos imaginários. Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
Análise O design dos veículos e os elementos relacionados refletem em toda a paisagem da animação, urbana e natural. Elementos comuns do nosso cotidiano são transformados nos cenários e ganham uma nova função, como é o caso do Cozy Cone Motel do filme que possui a forma de grandes cones. Devido à sua dimensão, Radiator Springs pode ser entendida com um bairro, que é identificado pelas suas características comuns como: a escala dos edifícios, o uso comercial dos mesmos, os gráficos publicitários, a topografia e a paisagem que o envolve, além do estado de conservação dos edifícios. (LYNCH, 2011). Em um universo composto apenas por veículos, as vias se tornam um elemento crucial da narrativa. A história gira em torno delas, sendo esses elementos predominantes na cenografia. “Os habitantes de uma cidade observam-na à medida que se locomovem por ela, e, ao longo dessas vias, os outros elementos ambientais se organizam e se relacionam.” (LYNCH, 2011, p. 52.). Os limites são fronteiras entre duas fases, elementos limítrofes que têm uma importante característica organizacional, devido a sua função de delimitar áreas, como o contorno de uma cidade. (LYNCH, 2011). Em Carros, ao mesmo tempo em que as montanhas da Rota 66 são marcantes, essas funcionam igualmente como limitadoras da extensão urbana da
cidade. Pontos nodais são locais de encontros não programados, pontos de referências onde o observador pode entrar. (LYNCH, 2011). Na animação temos o Café V-8, que tem a forma de um posto de gasolina apresentando-se como o local de encontro mais relevante para os personagens da cidade.
Reflexão Durante o processo criativo, a equipe da Pixar realizou visitas de campo ao longo da Rota 66. Buscando olhar as cidades com bastante atenção aos detalhes, para possibilitar a criação de um mundo crível. Radiator Springs é uma cidade fictícia localizada em um deserto entre: Gallup, Novo México, e Kingman, no Arizona. É um local que sofreu com a influência do tempo e do abandono. Detalhes como: rachaduras nas vias, a grama que nasce em meio a elas, pinturas envelhecidas das fachadas dos edifícios, foram de extrema importância para tornar a história o mais real possível.
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Um ponto interessante de destacar deste universo, é a presença de diferentes veículos de diversos portes que coexistem e se locomovem de forma confortável no espaço. Essa ideia associa-se com conceito de acessibilidade constantemente trabalhado pelos arquitetos e urbanistas. Carros demonstra a acessibilidade como um caso de sucesso. (SEKALIAS; ANTHONY, 2015).
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Fig 7 - Radiator Springs
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Nesse filme, a relação entre real e imaginário favorece a narrativa tornando o universo acreditável e envolvendo o público com o local e os personagens. Essa relação é possível pela adaptação dos aspectos de Kevin Lynch aplicado a outra realidade. Desta forma, os elementos urbanos: vias, marcos, limites, pontos nodais e bairros permanecem nos cenários imaginários. WALL-E
Sinopse
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Wall-E lançado em 2008, apresenta uma história de “ficção científica que envolve um conto de fantasia, muitas vezes ambientado no espaço ou no futuro, ou seja, tudo é inventado.” (PIXAR, 2018). É um filme que aborda a temática imaginária futurista e distópica em seu cenário. Considerado como o Melhor Filme de Animação em 2009 pelo Oscar e pelo Globo de Ouro, o filme inovou em diversos aspectos, com destaque para a sonoplastia que configurou significado aos diálogos mecânicos dos personagens principais, antropomorfizado as máquinas e gerando empatia com o público.
Análise “O planeta distópico de Wall-E é uma mistura do fantástico com o familiar. O público precisava reconhecer a Terra, mas também entender como as coisas deram errado em uma escala tão grande”. (PIXAR, 2018). Visando essa identificação do público com a Terra, o filme mostra Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
WWF.noPegada Ecológica? quepode é isso?, logo início uma skyline,Oque ser facilmente WWF Brasil,atribuída 2018. Disponível a váriasem: metrópoles <https:// www.wwf.org.br/natureza_brasileira/ que conhecemos atualmente, as especiais/pegada_ecologica/o_que_e_ reinterpretando em um universo caótico pegada_ecologica/>. Acessado mai. com o mundo inserido em meioem: ao 9lixo. 2018. O limites são atribuídos pela própria skyline que marca o contorno urbano. Essa forma característica de um grande centro urbano funciona como um establishing shot (NAME, 2003) da arquitetura do planeta Terra. Diante disso, a produção não utiliza de uma cidade específica nem de seus marcos para localizar a narrativa, e aborda o contorno urbano como um marco geral, que é identificado por cada espectador da sua própria maneira. Obrigada a abandonar a Terra, a humanidade foge do planeta em colapso em uma espaçonave protegida e com mobilidade limitada e auxiliada pela tecnologia, deixando máquinas para fazer a limpeza do planeta, os robôs Wall-E. A espaçonave Axiom é lar da última parcela da humanidade que foi pensada pela equipe da Pixar como o refúgio de uma cultura de consumo, um mundo independente à deriva no espaço. (PIXAR, 2018). Dentro da nave existem elementos que geram reconhecimento com realidades urbanas que conhecemos, como grandes centros comerciais das metrópoles atuais. Dentro da espaçonave, os espaços se organizam como uma cidade. Há vias onde acontece a circulação, as quais transitam os robôs e os pedestres, que se locomovem através de poltronas
mantendo o estilo de vida sedentário dos passageiros. Por ser um espaço fechado, a nave é uma obra arquitetônica de alta tecnologia, portanto os bairros podem ser entendidos como os setores da nave, compostos pelas as áreas destinadas aos moradores, os espaços técnicos, de lazer, a sala de comando, etc. No filme, a área social da Axiom é um dos principais pontos de encontro entre os personagens. Contudo, a narrativa demonstra que a influência da tecnologia faz com que as relações humanas não ocorram mais. Posteriormente é mostrado como esses espaços são benéficos para o convívio social, demonstrado através dos personagens John e Mary.
Reflexão
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Percebem-se vários elementos que focam na sustentabilidade em meio à grande quantidade de lixo presente no planeta. Isso mostra, que além de adotar métodos sustentáveis, os seres humanos devem adquirir uma consciência sustentável e ter responsabilidade sobre o impacto que os mesmos exercem sobre a natureza e com os resíduos que produzem. No filme, visualiza-se que o colapso do planeta é causado pelo padrão de consumo dos indivíduos. Em Wall-E, a sustentabilidade é utilizada como mais um produto a ser consumido e não como um meio que busca realmente reduzir o impacto ambiental. Desta forma, a principal reflexão do longa metragem são as consequências Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
Fig 8 - Planeta Terra em Wall-E
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da má gestão dos recursos naturais que, alinhados com o consumismo, levaram para um mundo tão danificado que tivemos de abandoná-lo, pois o mesmo não sustentava a vida. (SEKALIAS; ANTHONY, 2015). Com isso, o filme faz uma reflexão sobre a pegada ecológica, definida como uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais (WWF, 2018), mostrando como o consumismo pode levar à escassez dos recursos do planeta Terra.
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O filme encerra-se com uma visão positiva em relação ao futuro da humanidade, mostrando que a mudança da postura humana com o meio ambiente possibilita uma convivência melhor entre a natureza, os seres humanos e a tecnologia. Wall-E representa a categoria de filmes imaginários utópicos ou distópicos, demonstrando as possibilidades que o espaço arquitetônico tem de transmitir mensagens e criar novos universos virtualmente. Desta forma, percebe-se que, mesmo em ambientes virtuais, a arquitetura se faz presente e continua se fragmentando diante das experiências de Lynch. Assim, temos o espaço promovendo as relações entre pessoas, independente da época representada. CONCLUSÃO Diante da análise apresentada, percebe-se que imagem da cidade é uma construção Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
social que acontece a partir da percepção que os habitantes da cidade têm sobre ela, é a capacidade da mesma de ser memorável. Os espaços urbanos utilizados nas produções cinematográficas são dotados de imaginabilidade, que configura na capacidade que o filme tem de gerar mapas mentais no público, fazendo com este seja capaz de reconhecer o ambiente sem nunca ter estado presente no mesmo. Como definido por Benjamin, a mais importante função social do cinema a sua capacidade de atingir a população em diferentes partes do planeta. (MENDONÇA, 2017 apud BENJAMIN, 2014, p. 95). A arquitetura deve apropriarse dessas características do cinema, de ser uma arte e ao mesmo tempo um meio de comunicação, para mostrar sua importância na história, e como ela influencia nas relações humanas. Assim, os longas-metragens animados podem se tornar uma nova ferramenta para incentivar o pensamento crítico sobre nosso mundo. Neste estudo de caso, as narrativas apresentadas foram submetidas a uma pesquisa na qual aplicou-se os cinco tipos formais de Kevin Lynch aos longas metragens de animação. Em cada filme, realizou-se um comparativo entre o cenário apresentado e a proposta do livro A Imagem da Cidade, concluindo-se que a cenografia, ao buscar aproximar-se da realidade, reproduz inconscientemente esses elementos. Além disso, os cenários foram organizados entre realistas, naturais ou urbanos e imaginários, que podem
ser uma adaptação da realidade ou uma utopia/distopia. No artigo, apresentaramse exemplos dos mesmos, através dos filmes da Pixar, iniciando por Procurando Nemo que retrata o espaço natural, seguido por Ratatouille que apresenta a cidade de Paris com bastantes detalhes. Posteriormente, os filmes Carros e Wall-E apresentaram as temáticas imaginárias nessa ordem. É importante estar atento à representação da arquitetura nos filmes, pois com a imensa popularidade do cinema, esta influência na leitura da cidade e da vida urbana com sua linguagem acessível ao público leigo. (NAME, 2003). Assim, busca-se entender como profissionais de outras áreas veem o espaço e como os representam para o grande público, e como os produtores condicionam a plateia a um tipo de interpretação da história, dos personagens e da mensagem principal por meio do cenário. Além de possibilitar um maior entendimento da sociedade, o cinema abre as portas para outro mercado de atuação aos arquitetos e urbanistas, que podem contribuir com seus conhecimentos teóricos, técnicos e criativos para a produção dessas diferentes representações cinematográficas, realistas ou imaginárias. A relação entre o cinema e arquitetura tornou-se mais íntima, possibilitando a apresentação ou a criação de espaços urbanos em outras perspectivas ao público, e tornando a
cidade um elemento inspirador e reflexivo. Desta forma conclui-se que os produtores de cinema, ao criarem um cenário, estão criando um mapa mental que foi construído durante as visitas e pesquisas para a construção da cidade representada no filme. No caso de filmes realistas, a equipe constrói o espaço a partir da memória e da pesquisa que a mesma tem dele; nos filmes imaginários, onde a cidade é algo novo eles buscam transmitir ao público uma quantidade de informações suficientes para que a plateia seja capaz de criar esse mapa mental do cenário urbano fictício. REFERÊNCIAS ALLON DOS SANTOS, Fábio. A arquitetura como agente fílmico. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 045.12, Vitruvius, fev. 2004. Disponível em: <http:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/04.045/616>. Acessado em: 7 abr. 2018. CASTELLO, Lineu. Meu tio era um Blade Runner: ascensão e queda da arquitetura moderna no cinema. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 024.03, Vitruvius, maio 2002. Disponível em: <http:// www.vitruvius.com. br/revistas/read/ arquitextos/02.024/781>. >. Acessado em: 7 abr. 2018. DUARTE, Fábio. Cinemacidades. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.00, Vitruvius, out. 2004. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/ Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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Fig 9 - Cena do lme Ratatoulle
read/arquitextos/05.053/532>. Acessado em: 7 abr. 2018.
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PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura religiosa, Espaço Transcendental, FenomenoloFig 10 - Templo Umbral Fonte: Fonte: https://www.archdaily.com.br
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Rayssa Fernandes | Aluna do CAU/UCB
Com o propósito de entender quais são os elementos que possuem uma linguagem conectiva na arquitetura religiosa com o usuário, e que intensificam as experiências vividas no espaço sagrado, o presente artigo visa apresentar os conceitos básico da linha de pensamento filosófico chamado fenomenologia. Tal pensamento tem sido aplicado por diversos arquitetos como resposta à arquitetura massificada, insensível e não conectiva gerada pelo movimento moderno. Entender a origem desse pensamento na filosofia, a sua aplicação e apropriação na arquitetura é um caminho para introduzir os conceitos básicos. E para a real compreensão de seus elementos aplicados na arquitetura religiosa e a relação do homem com o espaço sagrado, também serão apresentados algumas análises de templos que possuem componentes fenomenológicos de fácil percepção semiótica.
DO PROFANO MATERIAL AO SAGRADO IMATERIAL A TRANSCENDÊNCIA DO TEMPLO
RESUMO
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gia.
suas divindades.
INTRODUÇÃO
Com a evolução da civilização, a relação com os espaços religiosos se modificou: a humanidade foi dessacralizada com os adventos da ciência e da modernidade. E a forma existencial humana, que até então era o sagrado, se dilui no mundo profano e o espaço religioso passa ser o principal conector transcendental do divino com o homem.
Nossos corpos estão a todo momento se relacionando com o mundo, e por isso vivenciamos infindáveis fenômenos durante o nosso cotidiano dentro dos infinitos espaços por nós ocupados. Dentro da filosofia existe uma linha de pensamento que estuda a relação do homem com o mundo e as experiências que temos sobre os elementos que nos rodeiam, chamada fenomenologia. Na arquitetura essa linha de pensamento foi utilizada por diversos arquitetos como forma de intensificar as experiências sensoriais dos espaços, com a intenção de solucionar os problemas da arquitetura, onde a visão foi supervalorizada em detrimento aos outros sentidos. A aplicação da fenomenologia no ato de projetação dos espaços pode fazer com que o seu usuário tenha experiências íntimas com a edificação. Essas experiências, obtidas a partir dos nossos sentidos, são respostas imateriais e sensíveis perante os elementos postos. Assim os espaços adquirem uma maior identidade, simbolismo e significado. O foco do presente artigo são os templos, os quais estão presentes na vida humana desde os seus primórdios. São o meio que promove a ligação entre o céu e a terra, entre o material e imaterial. São ambientes transcendentais, sagrados e carregados de simbolismos. Portanto, a arquitetura desses espaços pode ter o atributo de promover o contato do homem com as Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
O presente artigo pretende sintetizar a relação do homem com o espaço religioso, entender a sua dessacralização no mundo, e por meio da abordagem fenomenológica dos espaços, analisar como ela pode intensificar as experiências sensoriais e simbólicas dos templos religiosos, expondo quais são os elementos fenomenológicos para erigir templos que aspirem a ligação com o divino e com a humanidade. Dessa forma, o artigo tem como objetivo geral a compreensão da aplicação da fenomenologia em templos religiosos. Para que essa questão seja entendida, devemos responder as seguintes perguntas: O que é a fenomenologia? Qual é a importância de um templo religioso de modo geral para a humanidade? Como podemos utilizar a fenomenologia na projetação dessas edificações para a transcendência na arquitetura? Como resposta dessa última questão, será apresentado uma análise dos elementos utilizados para intensificar e estimular as experiências sensíveis de três obras: o Templo Umbral, localizado no México, a Capela Bruder
Klaus, na Alemanha, e o templo Tejorling Radiece, na Índia. I.TRANSCENDÊNCIA ARQUITETURAL É importante dispor primeiramente a significação e origem da fenomenologia na filosofia de uma forma sintética, para então, entendermos o seu papel fundamental na aplicação arquitetônica. Em suma, a fenomenologia é uma matéria de cunho filosófico, que tem como estudo a experiencia dos fenômenos, o qual é algo notável ou algo que se manifesta (BELLO, 2006, p.17-18). Esse algo, pode ser considerado aqui com um sinônimo das “coisas” que nós percebemos, sendo essas coisas físicas ou não. A fenomenologia não se preocupa com as coisas que nós percebemos, mas sim, com o significado ou sentido que nós atribuímos a elas, a experiência. Em algumas situações temos a facilidade de perceber o sentido das coisas; outras vezes, só conseguimos captar os sentidos após algumas reflexões (BELLO, 2006, p.19). A reflexão tem um papel importante dentro desse estudo. A partir disso, o filósofo Husserl, precursor da fenomenologia, nos primórdios do século XX, iniciou seus estudos para entender como atribuímos o significado e o sentido a tudo que nos envolve: as coisas. Husserl caracteriza sua fenomenologia com não naturalista, pois afirma que o naturalismo estabelece verdades e princípios através de fundamentações científicas metodológicas as quais reduzem o signifi-
cado das coisas, estando apenas preocupados como as coisas se mostram para nós. Para Husserl, o significado de um dado objeto ou coisa vai muito além de verdades postas pelo naturalismo (CERDONE, 2014, p.28-29). Colocando assim um caráter transcendental ao significado. Assim, o cotidiano é formado por fenômenos tangíveis e intangíveis, os quais estão sempre em inter-relação. Os fenômenos tangíveis formam ambientes ou lugares, sendo o lugar, segundo Schulz (2008, p.444-443), uma “totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor. Juntas, essas coisas determinam uma ‘qualidade ambiental’ que é a essência do lugar”, o fenômeno intangível. Dessa forma, cada lugar é constituído por diversos materiais, ou seja, possui ou deveria possuir a sua essência. Lugar aqui pode ser também considerado qualquer espaço que ocupe uma dimensão ou atividade humana, desde praças abertas a edifícios e casas. A partir da vivência com o mundo externo, conseguimos captar a essência das coisas de uma forma intuitiva e estabelecer uma comunicação, que é uma capacidade natural do ser humano. Percebemos, que o homem está em intensa relação com o meio, o qual abstrai a sua essência. É nesse âmbito que a fenomenologia se tornou uma linha de pensamento adepta por diversos arquitetos, que buscam a qualidade poética na arquitetura a partir do estudo das características sensoriais dos materiais, da luz e da cor, tomando partido também do simbolismo tátil e
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das junções dos materiais (SCHULZ, 2008, p.443-444). Essa linha de pensamento surge como uma crítica ao International Style do Movimento Moderno, que tinha uma abordagem funcionalista de abstração e redução dos espaços, onde ideias como, form follows function ou less is more, colocavam a arquitetura em um formalismo técnico, feito para o homem padrão. Esse estilo foi intensamente imitado, instigando a ideia generalista da arquitetura, perdendo caráter e o significado único do lugar, pela sua falta de conexão com o indivíduo.
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Essa linha de pensamento moderno gerou arquiteturas preocupadas com formas e a funções, se tornou uma arquitetura visual. Pallasmaa (2008) afirma que toda arquitetura deve possuir um significado intrínseco e que a arquitetura produzida no International Style e parte da produzida hoje é pobre de significado, como afirma no seguinte trecho: Baseio-me no argumento de que o planejamento se transformou tão completamente numa espécie de jogo de formas que a experiência real da arquitetura tem sido negligenciada. Cometemos o erro de pensar e julgar um edifício como uma composição formal, e já não o entendemos como um símbolo ou experimentamos a outra realidade que está por trás do símbolo. (PALLASMAA, 2008, p. 483). A arquitetura existe para projetar os esRevista CAU/UCB | 2018 | Artigos
paços, o quais devem suprir uma necessidade, mas também para se comunicar com o usuário, a partir da experiência dos elementos constituintes do espaço. Essa experiência espacial é um aspecto importante na fenomenologia arquitetural, “que opera em vários níveis simultaneamente: metal/físico, cultural/biológico, coletivo/individual, etc.” (PALLASMAA, 2008, p.81). Como percebemos, existe um interesse não apenas com as formas visíveis, mas com o seu caráter de significado interior humano. O corpo humano é o meio de percepção das sensações promovidas pelo espaço a partir dos seus sentidos, e esse ato é chamado de corporificação por Merleau Ponty, filósofo francês do século XX. Segundo seus estudos, o corpo é o responsável por legitimar as experiências sensíveis, estando aberto ao mundo, o qual é a extensão de meu corpo. “Merleau Ponty via uma relação osmótica entre a individualidade e o mundo - elas se interpenetram e se definem - e enfatizava a simultaneidade e interação dos sentidos”. (PALLASMAA, 2011, p. 20). O corpo é formado por nossos sentidos, visão, audição, paladar, olfato e tato. Pallasmaa afirma que com o passar da história houve uma predileção do sentido da visão. A arquitetura foi colocada ênfase apenas na percepção visível, isso faz com que o usuário ou espectador seja distanciado intimamente do espaço, a qual tinha um papel de “mediação cosmológica”, o espaço começou a ser pensado e erigido com uma dureza técnica e estéti-
Fig 11 - Vista interna Templo Umbral Fonte: Fonte: https://www.archdaily.com.br
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ca como uma “arte do olho”. (SCARSO, 2016, p. 1054).
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Não devemos aqui desvalorizar as formas da arquitetura, mas adaptar os significados das imagens contidas nas formas e na experiência que temos delas. Assim como uma obra de arte, na arquitetura você só conseguirá apreciá-la e entendê-la de forma íntima se as imagens dela oferecerem elementos suficientes para uma experiência intrínseca no subconsciente. Assim, a função da fenomenologia na arquitetura é relacionar o homem com o seu meio construído. Ando (2008) se refere a uma lógica intrínseca, que pode ser associada à fenomenologia, e quando aplicada no processo de projeto o resultado obtido é uma clareza estrutural ou espacial, pois transcende a beleza superficial ou a mera geometria. Dessa forma, a fenomenologia coloca a arquitetura como meio de transcendência de significados, da introspecção e reflexão dos fenômenos, a partir de nossos sentidos, onde cada um deles tem a sua importância e fazem parte de um corpo sensível e aberto para os sons, aromas, texturas e cores. O espaço, sendo componente da existencialidade humana, deve conter elementos simbólicos e identitários para o usuário. Portanto, a partir do momento que o homem se identifica com o lugar e se comunica sensivelmente com ele, o espaço se torna rico poder sensorial e simbólico (PALLASMAA, 2011, p. 39). II. O ESPAÇO RELIGIOSO E O EXISTENCIALISMO HUMANO. Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
O espaço sempre esteve presente na história da humanidade, e como vimos, os seus elementos possuem uma importância na percepção, relação, significação e conexão com o usuário. Diante da infinidade de lugares erigidos pelo homem, o foco aqui é no espaço dito sagrado, um espaço de natureza transcendental e simbólica, que teve a sua relação com a humanidade intimamente alterada com a secularização e com os adventos da modernidade. Dessa forma será feita uma abordagem histórica para que a relação do homem com o lugar sagrado seja entendida, para então compreendemos como que a fenomenologia pode retomar a conexão do homem com o divino ou com o transcendente. Para o homem primitivo o espaço possuía uma dualidade, o sagrado e o profano. Na sociedade arcaica, o espaço era homogêneo, todas as atividades cotidianas eram realizadas no lugar sagrado, desde a sua morada até o seu lugar de caça, a totalidade do mundo era consagrada por uma hierofania, a manifestação do sagrado. A mesma dualidade do espaço do homem primitivo existiu nas sociedades tradicionais, o Caos e o Cosmos, sendo o cosmos o sagrado, o mundo, um espaço criado no caos, o profano, o desconhecido. [...] tem-se de um lado um “Cosmos” e de outro um “Caos”. Mas é preciso observar que, se todo território habitado é um “Cosmos”, é justamente porque foi consagrado previamente, porque, de um modo
ou outro, esse território é obra dos deuses ou está em comunicação com o mundo deles. O “Mundo” (que dizer, “o nosso mundo”) é um universo no interior do qual o sagrado já se manifestou [...]. (ELIADE,1992, p. 33). A criação do mundo é a implantação de uma ordem, de um ponto fixo, um centro, também é estabelecer o limiar entre o sagrado e o profano. Esse ponto fixo se tornou uma forma existencial do homem religioso, onde nada mais pode existir sem um centro. O centro, é a escada de comunicação com os deuses ou afirmação de sua presença. A ideia do centro, onde está a presença do deus foi levada até a Idade Média, um exemplo dessa relação são as muralhas das cidades medievais, onde o centro era composto pela cidade, protegida e santificada, fora dos muros existia as trevas, o caos os demônios, o mal facilmente relacionado ao simbolismo dos ataques sejam de monstros ou militares dariam o mesmo resultado, a desordem e a morte (ELIADE,1992, p. 48). O teocentrismo do homem arcaico é confrontado no Renascimento por uma nova postura, o antropocentrismo, onde os olhares já não estavam mais voltados para os seres superiores, mas para a natureza humana e suas necessidades. A ciência e a religião se desassociaram pelo racionalismo dos pensamentos científicos. Essa dissociação causou uma dessacralização do espaço, onde o homem perdeu a sua
relação com sagrado, as descobertas científicas foram se desenvolvendo e a fé perde o lugar para a razão (ELIADE,1992, p. 30-32). Nesse contexto, a dualidade do sagrado e do profano fica mais latente: o que antes era sagrado para a o homem arcaico se torna profano, pois todas as atividades humanas são movidas por necessidades naturais e são supridas por uma sociedade industrial. Para o homem moderno até o habitar perde o significado de habitação consagrada, pois antes era construída pelo homem a partir de aspirações divinas em representação a um cosmos superior, onde essa criação do sagrado fazia parte do existencialismo humano. A modernidade considera que o homem é padrão e suas necessidades podiam ser supridas pela racionalidade. Dessa forma, a existencialidade que a humanidade tinha em relação ao sagrado quase desaparece, pois sua ligação íntima com o divino se dilui. Apesar da dessacralização do espaço, existe um lugar onde o sagrado ainda está presente, o templo, o limiar do sagrado e profano. Erigir um templo para é uma manifestação divina no mundo profano, é uma escada ou a comunicação do ser humano com os seres transcendentais e por esse motivo a ligação entre a terra e o céu. Dessa forma percebemos que a criação arquitetônica é capaz de manifestar o transcendente. E nesse contexto, que os conceitos da fenomenologia na arquitetura religioRevista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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sa podem promover ou estabelecer o caminho da manifestação do transcendente para que a ligação com o mundo intangível tenha um ambiente favorável para essa conexão. Dessa forma, percebemos um caráter fundamental entre o fenômeno sagrado e a arquitetura. A arquitetura ao instaurar lugares de transcendência, contemplação e reflexão, incorpora materialmente e expressa espacialmente esse horizonte intangível do sagrado, intensificando a experiência subjetiva do espaço, a arquitetura pode criar pontes entre o indivíduo e o universo transcendente [...]. (BATISTA, 2013, p.20).
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Portanto a conexão e experiência com o espaço é primordial para que a ligação entre os dois mundos seja feita. Segundo Eliade (1992) existe um abismo entre o homem moderno e o sagrado, esse abismo foi causado pela dessacralização do espaço, e dessa forma o ambiente sagrado, o templo, é quase que o único e o principal conector com a existencialidade divina humana. A partir do estudo do fenômeno religioso, o templo pode ser erigido com soluções que intensifiquem as experiências sensoriais e o valor simbólico do ambiente, tornando os recintos de cultos muito mais simbólicos, sensíveis e conectivos com a sua função primordial. III. FENOMENOLOGIA APLICADA - OS TEMPLOS Como foi evidenciado anteriormente, o Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
templo possui uma importância existencial para o homem religioso, desde as suas primeiras manifestações de devoção. O simbolismo, a experiência e a conexão dentro do espaço religioso podem ser intensificados e vividos no plano corpóreo e sensível a partir da aplicação dos conceitos da fenomenologia em sua arquitetura. A seguir são apresentados três templos que foram construídos seguindo essa linha de pensamento filosófico, para que então sejam evidenciados quais elementos de qualidades sensíveis foram utilizados em cada uma deles. A.
TEMPLO UMBRAL
O Templo Umbral ou também conhecido por Threshold Temple, é um espaço construído pela congregação Hare Krishna no México, próximo à cidade de Cuerámaro no estado de Guanajuato. É primeiro edifício construído do complexo proposto para auxiliar nas atividades da comunidade. Foi projetado pelo escritório Vrtical em 2016, que utilizou como diretriz de construção a atividade participativa dos membros, pois como a entidade é sem fins lucrativos o valor estimado para a construção era baixo. Dessa forma, o espaço foi erigido a partir de um método intuitivo sem necessidade da comunidade possuir um conhecimento aprofundado e técnico sobre o modelo construtivo (ARCHDAILY BRASIL, 2018). Portanto a partir de um treinamento e conhecimento mínimo dos integrantes o templo foi construído com uma redução significativa dos custos com
mão-de-obra. Os materiais utilizados na construção foram tijolos cerâmicos para a vedação das paredes laterais, painéis de vidros no fechamento na fachada posterior e portas de madeira na fachada principal, que abre para a praça frontal. A fachada posterior tem seu limite demarcado por um espelho d’água (figura 02), que constrói uma simbiose do edifício com a natureza, a qual envolve todo o contexto externo do templo. Elementos naturais como a água e vegetação são componentes fenomenológicos importantes, pois influenciam o usuário à reflexão da própria realidade e essência humana. Também contribuem para a formação da atmosfera harmônica e desejada para os ritos da comunidade. Portanto, a natureza foi utilizada como um “limiar espiritual ou caminho” para a transcendência. (ANDO, 2008, p.496-497) O templo é composto por uma grande variação de texturas, que são elementos que expressam uma clareza e simplicidade material, nos convida ao toque e nos revela uma conexão maior com a natureza, colocando o indivíduo como componente do ciclo natural infindável. Essa relação com os elementos é corporalmente mais expressiva no piso em madeira do templo, pois algumas das celebrações da comunidade são feitas com os pés descalços, existindo além de uma relação visual uma percepção tátil do elemento. Os materiais naturais -
pedra, ti-
jolo e madeira, deixam que nossa visão penetre em suas superfícies e permitem que nos convençamos da veracidade da matéria. Os materiais naturais expressam sua idade e história, além de nos contar suas origens e seu histórico de uso pelos humanos. (PALLASMAA, 2011, p. 30). A manipulação da luz também é um elemento fenomenológico, pois a sua ausência ou presença, revela, esconde ou representa significados, e permite que o usuário tenha diversas percepções do meio. Nessa obra, a luz natural advinda do teto foi manipulada através de um filtro vermelho e amarelo (figura 02), cores representativas de Hare Krishna, reforçando a relação com o deus ou a sua presença no espaço. Esses elementos, além de intensificarem uma conexão com o usuário, são representativos simbólicos da religião cultuada no templo, estabelecendo a ligação do indivíduo com o divino por conta da criação de uma atmosfera simbólica e sensível. As paredes laterais afunilam a visão do usuário para a paisagem após o espelho d’água, além de intensificarem o efeito auditivo dos castigos entoados nas cerimônias, levando as canções para fora do templo e para a intimidade do usuário presente no espaço. Essa percepção auditiva tem uma importância sensível, pois o som é interiorizado por nossa audição e a partir disso, conseguimos dimensionar o espaço. Portanto, além de lermos visualmente o templo o sentimos internamento através do som.
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Fig 14 - Espaço meditação Fonte: https://www.archdaily.com.br
Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos Fig 13 - Fachada Frontal Fonte: https://www.archdaily.com.br
Fig 12 - Templo Tejorling Radiance Fonte: https://www.archdaily.com.br
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Além de todos esses componentes fenomenológicos analisados a forma simples e retangular do edifício enquadra a refúgio e nos distancia do mundo cotidiano, toda a linguagem do templo se comunica com o usuário e intensifica a sua experiência simbólica a partir dos elementos inseridos, madeira, água, iluminação natural, vegetação, efeitos sonoros e tonalidades. Os quais criam uma ambiente que estabelecem uma conexão com a religião, tornando o espaço sóbrio e sintonizado com os seus usuários, dessa forma o significado do templo ultrapassa e transcende a sua materialidade. B. TEMPLO TEJORLING RADIANCE Tejorling Radiance é um templo hindu, construído em 2018 pelo arquiteto indiano Karan Darna. Está situado em uma fazenda em Pune cidade do estado de Maharashtra na Índia. O templo foi projetado em homenagem a um dos deuses supremos no hinduísmo, Shiva, que representa a renovação e transformação das energias (ARCHDAILY BRASIL, 2018). Diferente dos templos tradicionais que são de escalas monumentais, este possui uma proporção humana, oferecendo um espaço meditativo e acolhedor aos trabalhadores do campo que passam pelas proximidades. Sua forma é a uma releitura dos templos hinduístas tradicionais, onde a proposta deste é representar a meditação e a dança, que são os dois lados de Shiva, assim o templo é composto por uma cobertura de forma piramidal de 5 superfícies com base quadrangular. Na fachada principal existe
uma abertura que é a porta de entrada do espaço, onde a sua forma arquetípica lembra uma porta se abrindo, essa imagem é intensificada pelo ambiente interno escuro (figura 04), passando uma sensação de convite ou chamado para o interior. Em seu interior de planta quadrada que segue a proporção áurea, possui espaço vazio chamado sanctum, que é o lugar onde está a presença do deus, o qual é representado por um instrumento chamado linga, que simboliza a face masculina de Shiva (ARCHDAILY BRASIL, 2018). Frente com este instrumento existe um caminho d’água que percorre até um rasgo na fachada lateral, permitindo seu encontro com o ambiente externo, representando a purificação do homem. Do lado oposto a esses elementos, existe o espaço meditativo individual que é contemplado por uma abertura lateral, que permite a entrada de uma singela iluminação e ventilação natural. É possível perceber de uma forma semiótica a densidade visual do templo, por possuir uma estrutura robusta de concreto pintada de vermelho, a cor que no hinduísmo representa o poder e a força, e intensifica o destaque da edificação na vegetação verde do seu meio implantado. Essa densidade ou peso visual é contraposta após adentrar o espaço, a singela entrada de luz vinda do rasgo da parede da pequena área de meditação cria um cenário reflexivo ao usuário (figura 05), o ambiente na penumbra faz que o indivíduo se concentre no que os outros sentidos podem captar, nesse momento, Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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Fig 15 - Capela Bruder Klaus Fonte:https://www.archdaily.com.br
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a presença do curso d’água reflete e reverbera no ouvidos do usuário a natureza e a purificação do divino. Todos os elementos fenomenológicos aplicados na obra, cor, densidade, elementos naturais, manipulação da luz natural, sensações olfativas vinda do pomar que cercam a edificação, criam um espaço de elementos sensíveis corporalmente, que deixam o templo muito mais vivo e íntimo, provedor de experiência memórias. Uma obra de arquitetura não é experimentada como uma série de imagens isoladas na retina, e sim em sua essência material, corpórea e espiritual totalmente integrada. Ela oferece formas e superficiais agradáveis e configuradas pelo toque dos olhos e dos demais sentidos, mas também incorpora e integra as estruturas físicas e mentais, dando maior coerência e significado à nossa experiência existencial. (PALLASMAA, 2011, p. 11). C. CAPELA BRUDER KLAUS Localizada em uma fazenda em Mechernich, Alemanha, foi projetada pelo arquiteto Peter Zuthor, muito conhecido pela a sua arquitetura sensorial e fenomenológica. Foi construída pelos membros da comunidade em 2007, e a sua forma externa não tem nem uma relação com a arquitetura local ou com as forma arquetípicas de capelas tradicionais, ela carrega um simbolismo e significado próprio (HELM, 2018).
Foi construída a partir de uma estrutura piramidal de troncos semelhante com uma tenda (figura 07), logo após, esse esqueleto foi cercado por um molde pentagonal para funcionar com fôrma para a concretagem, após 24 camadas de concreto o resultado foi uma forma densa e compacta. Por fim a madeira que serviu como esqueleto e preenchimento do interior foi queimada, formando o vazio interno. A capela expressa uma linguagem muito densa e expressiva tanto internamente quanto externamente. A sua entrada é demarcada por uma porta triangular que eleva nosso olhar para o alto. No cume da cobertura existe uma abertura, pela qual penetra a luz solar e deixa evidente a penumbra o espaço vazio interno. Zuthor expressa nessa obra uma atmosfera mórbida e reflexiva, onde a verdade dos materiais é intimamente expressa na edificação. Segundo alguns relatos, até o cheiro da queima da madeira ainda está presente no ambiente. A abertura no teto permite que a chuva, a neve e o sol penetrem no interior, e faz presente a conexão com o alto, com o divino. Cada um desses fenômenos naturais vão deixando suas marcas e ali se faz a presença da passagem do tempo, que é uma percepção existencial da vida. É clara a aplicação dos conceitos fenomenológicos nesta obra, talvez seja aqui a obra mais expressiva, pois o corpo é o centro das sensações. A rugosidade das paredes do interior, que conta a história Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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Fig 16 - Construção Capela Bruder Klaus Fonte: https://en.wikiarquitectura.com/
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Fig 17 - Abertura na cobertura e rugosidades das paredes Fonte:https://www.archdaily.com.br
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da edificação, pode ser sentida pelo tato, o cheiro da queima da madeira é sentido pelo olfato, o eco das gotas de chuva que penetram pela cobertura é captado pela audição, e a verdade dos materiais e a escuridão interior são percebidas pela visão. Todos os sentidos corporais foram contemplados por sensações proporcionadas pelos elementos da capela, todos eles possuem um objetivo em comum que é de fazer o sagrado presente e ser percebido pelos usuários. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O espaço religioso possui uma importância para a humanidade como já foi colocado anteriormente, onde a função primordial do templo é servir de local para a conexão com o espiritual. Por si só o ambiente religioso é simbólico e sagrado, mas a sua relação com o indivíduo e a sua função podem ser intensificadas. O estímulo sensível é importante, pois o usuário precisa estar conectado ao ambiente para que este se torne mais significativo, simbólico e identitário. A fenomenologia como uma escola de pensamento é uma das formas de estabelecer essa intimidade espacial. Em todas as obras apresentadas a percepção do sagrado é sentida corporalmente por seus usuários através dos caminhos que os elementos fenomenológicos traçam. No Templo Umbral o sagrado é evocado pela forte sinestesia da natureza e o usuário, pelos materiais naturais como a madeira e vegetação,
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pelas cores representativas da divindade cultuada advindas da iluminação do teto e pela disposição de suas paredes que ecoam os sons para o externo. O Templo Tejorling Radiance é carregado de elementos fenomenológicos e simbolicamente religiosos como o curso d’água que representa purificação do homem, o formato e a densidade do templo que expressão acolhimento, a penumbra interior que faz o usuário perceber o que os outros sentidos estão captando e a disposição pensada dos ambientes, que juntos oferecem uma atmosfera reflexiva e meditativa para a conexão com as divindades. Por fim, a expressiva Capela Bruder Klaus faz a presença do divino pela sensação da passagem do tempo e a percepção dos fenômenos naturais através da abertura em seu topo, pela tatalidade das superfícies, que fazem uma relação direta com as técnicas tradicionais de construção e artesanato da região, e pela escuridão que também possuem a papel de aguçar os outros sentidos. Mas, não basta serem colocados elementos ditos fenomenológicos sem que estes estabeleçam uma identidade com o usuário, ou seja uma relação simbólica com o indivíduo, por exemplo o elemento água presente no Templo Umbral e no Templo Radiance, é um elemento sagrado e simbólico para as duas religiões e portanto, ele intensifica a experiência no ambiente, assim como a luz natural manipulada pela abertura do topo da Capela Bruder Klaus, ilumina o centro e sim-
bolicamente é advinda da morada divina, tornando presente no templo o divino e compondo o espaço de uma forma mais íntima. A transcendência é alcançada pelas sensações que nós temos através de nossos corpos sensíveis, onde os elementos com as texturas, cores, densidade, escala, luz ou escuridão, elementos naturais, sons e odores são interpretados em cada momento de uma forma e significados diferentes. Portanto, a fenomenologia não é um método, mas uma forma de analisar os fenômenos e entender quais são as experiências que o usuário pode captar de uma dada arquitetura, para que então seja implantados os elementos para a intensificação daquela experiência e assim atingir uma transcendência da materialidade e a intensificação das sensações. BIBLIOGRAFIA ANDO, Tadao. Por novos horizontes na arquitetura. In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008. Cap. 10. p. 493- 498.
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SCARSO, Davide. História e percepção: notas sobre arquitetura e fenomenologia. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v. 28, n. 751, p.1049-1068, set. 2016. Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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PALAVRAS-CHAVE: Benchmarking,consumo energético residencial, eficiência energética.
Juliana Gehlen | Professora do Centro Universitário UNIEURO
A pesquisa busca identificar o Benchmarking de consumo energético dos edifícios residenciais no Distrito Federal tendo como parâmetro a medida de [kWh/(m²·a)] - kilowatt hora por metro quadrado construído ao ano. Com base nos resultados apresentados pela amostra, pode-se inferir que apesar do consumo médio das residências no Distrito Federal ser bem inferior ao consumo médio de escritórios no Brasil, a crescente participação da tipologia residencial no consumo total de energia elétrica no Brasil reforça a necessidade de acompanhamento e monitoramento desse setor.Em meio à crise energética atual, prever com antecedência o consumo energético de um edifício é fundamental para identificar potenciais melhorias e definir os custos esperados de operação e manutenção.
BENCHMARKING DE CONSUMO ENERGÉTICO RESIDENCIAL
Fig 18 - eficiencia-energetica-electrodomesticos
RESUMO
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1.INTRODUÇÃO O presente artigo tem como intuito apresentar os estudos e coleta de dados para traçar um Benchmarking de consumo energético residencial no Distrito Federal. Atualmente, não há bases de dados desse tipo de consumo especifico no Distrito Federal ou em outras regiões brasileiras. A pesquisa foi realizada com o apoio do Centro Universitário Euro Americano UNIEURO através do PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA de discentes.
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Produto essencial na nossa sociedade, a energia elétrica apresenta demanda crescente em função do atual cenário do século XXl. Modernização de instalações, indústria 4.0, automação residencial e industrial são alguns dos responsáveis pelo aumento do consumo de energia que vem crescendo ano após ano no Brasil e no mundo. A introdução de parâmetros de análise e estudo de consumo energético nas grandes cidades apresenta uso crescente. Cidades e setores da economia (hospitais, comércios, escolas) nos Estados Unidos, na Europa desenvolvem estudos de consumo e benchmarking energético, vale citar o British Standard e o Deutsch EnEV. O Ministério do Meio Ambiente apresenta um Benchmarking de edifícios públicos pelo Brasil. Este estudo é relevante pois: [...] possível compreender o padrão de consumo e demanda de energia de Revista CAU/UCB | 2018 | Artigos
edifícios de variadas tipologias, como escolas, hospitais, prédios de escritórios, shoppings, entre outras. Essa iniciativa é realizada em parceria com a Eletrobrás/ Procel e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), (MMA, 2018). Segundo os dados da ANEEL (2017), na Região Centro-Oeste, o consumo energético de unidades residenciais correspondem a 36,03% da consumação em MWh em 2017, apresentando assim aumento superior ao estimado pelas pesquisas. O setor requer maior atenção nos estudos dirigidos a estimativa de consumo energético do País. O aumento significativo do consumo energético residencial é atribuído a muitos fatores, que não foram o objeto desse estudo, mas que interferem no consumo residencial: Tal fato é uma tendência mundial e, no que tange à classe residencial, pode ser explicado por um conjunto de fatores, tais como: a velocidade da transformação da antiga sociedade industrial para a de informação, e desta, para a sociedade de comunicação, possibilitando que muitos trabalhos, de cunho intelectual, possam ser executados, por meios computacionais, em domicílios; o aumento do nível de desemprego e, por consequência, da economia informal, transformando as residências em microempresas; a busca pelo conforto e lazer proporcionada pela grande disponibilidade e facilidade de aquisição
de eletrodomésticos e equipamentos eletroeletrônicos, aumentando a carga instalada e, por isso, incentivando uma maior utilização da energia elétrica; o aumento do tempo de permanência das pessoas em seus domicílios, em função da falta de segurança, notadamente em centros urbanos de médio e grande porte; a demanda reprimida, em face das desigualdades sociais, que se espera sejam reduzidas ao longo do tempo; a incorporação de novos consumidores, em função da universalização dos serviços de energia elétrica, entre outros. (ELETROBRÁS, PROCEL 2007, pág. 9). Dessa forma, o estudo do consumo energético médio das residências unifamiliares por kilowatt hora por metro quadrado ao ano (kWh/m².a) pode fornecer dados e ser uma variável de comparação e estimativa de custos de operação e manutenção das edificações. Com base nos resultados apresentados pela amostra, pode-se inferir que apesar do consumo médio das residências no Distrito Federal de 21,45 kWh/ m².a ser bem inferior ao consumo médio de escritórios no Brasil, cerca de 80 kWh/ m².a, a crescente participação da tipologia residencial no consumo total de energia elétrica no Brasil reforça a necessidade de acompanhamento e monitoramento desse setor. O aumento da demanda de energia também pode afetar a matriz energética brasileira, bem como os seus custos de produção, e subsequentes tarifas
aplicadas aos consumidores finais. Para projetistas, investidores e proprietários essa medida padrão possui como vantagem a possibilidade de fazer cálculos do payback dos investimentos de forma direta e precisa, além do atendimento à Norma de Desempenho (NBR15.575/2013) nas envoltórias / fachadas. Ao se analisar uma edificação pelo seu consumo em kWh/m2.a, as possibilidades de prospecção e custo benefício de potenciais intervenções técnicas se tornam mais confiáveis e de fácil comunicação com os diversos atores envolvidos na tomada de decisões envolvendo o custo de operação e manutenção das edificações (MARRONE, P. et al 2018). Estas informações também são importantes para influenciar no design de projetos futuros, bem como reduzir o impacto ambiental das edificações (DWYER, 2012). Considerando que o padrão de uso e vida dos usuários é o principal fator de influência no consumo energético dessa pesquisa, também se investigou a quantidade de moradores, a quantidade de chuveiros elétricos e a quantidade de aparelhos de ar condicionado. Optou-se por comparar os dados da amostra pesquisada com Pesquisa de posse de equipamentos e hábitos de uso-ano base 2005- Classe residencial
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região Centro-oeste (PROCEL, 2007). Esta comparação demonstra que os dados da amostra realizada neste estudo refletem o padrão de distribuição de 2005. 2.OBJETIVOS Esse estudo tem como objetivo principal traçar o benchmarking de consumo energético residencial no Distrito Federal, utilizando como variável a unidade de medida de [kWh/(m2.a)]- Kilowatt hora por metro quadrado construído ao ano.
Como objetivos destacam-se:
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específicos
1. Elaborar de um referencial preliminar de custos de operação e manutenção do consumo energético das edificações unifamiliares do Distrito Federal, através da possibilidade de comparação direta, com uma unidade de medida simples e de fácil aplicação como o de [kWh/(m².a)] - kilowatt hora por metro quadrado construído ao ano; 2. Verificar se existe um padrão ou faixa de consumo de energia elétrica por metro quadrado de acordo com a renda média familiar. 3.JUSTIFICATIVA A definição de parâmetros e a construção de base de dados do consumo energético das edificações ajudará a identificar o padrão de consumo das edificações e possibilitará que os profissionais possam comparar mais facilmente o desempenho
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energético das diversas edificações, bem como de projetos em prospecção. A comparação numérica real, exemplo: 180 kWh/m2.a versus 108 kWh/m2.a possibilita ao investidor, ou projetista, saber de antemão quais serão os custos de manutenção de cada caso, e qual a economia gerada ao final de um ano no caso de elaboração de propostas de retrofit e melhorias de eficiência energética em seus projetos, independente de certificações e simulações computacionais complexas. Ao se analisar uma edificação pelo seu consumo em kWh/m2.a, as possibilidades de prospecção e custo benefício de potenciais intervenções técnicas se tornam mais confiáveis e de fácil comunicação com os diversos atores envolvidos na tomada de decisões envolvendo o custo de operação e manutenção das edificações (MARRONE, P. et al 2018). Estas informações também são importantes para influenciar no design de projetos futuros, bem como reduzir o impacto ambiental das edificações (DWYER, 2012). De acordo com o relatório de Pesquisa de Posse e Equipamentos e Hábitos de Uso - ano base 2005, o consumo energético de uso residencial correspondia a cerca de 25% do total de energia elétrica no Brasil, com forte tendência a aumentar: Existe uma forte tendência de a classe de consumo residencial passar, de uma participação relativa no consumo total de energia elétrica do país em torno de
25%, no início da década de 90, para perto de 30%-, nos próximos dez anos. Daí a importância de se conhecer esse mercado de energia elétrica, a fim de nortear as ações de melhoria da eficiência energética implementadas pela Eletrobrás, e demais atores envolvidos nesse tema, dirigidas para essa classe consumidora. (ELETROBRÁS, PROCEL 2007. p.10). Segundo os dados da ANNEL (2017), na Região Centro-Oeste, o consumo energético de unidades consumidoras residenciais correspondeu a 36,03% do consumo de energia elétrica em MWh em 2017, apresenta aumento no consumo de energia residencial superior ao estimado pelas pesquisas e que esse setor requer maior atenção nos estudos dirigidos a estimativa de consumo energético global do País. A preocupação com o consumo energético das edificações residenciais no Brasil vem crescendo, inclusive com o lançamento em 2001 do programa PROCEL - EDIFICA para Edifícios Residenciais que certifica as construções conforme o seu desempenho energético (ELETROBRÁS, PROCEL 2018). 4.METODOLOGIA Metodologias estatísticas são largamente usadas no cálculo, na previsão e na avaliação de desempenho energético de edificações. Neste projeto de pesquisa, foi necessário identificar uma amostragem estatística representativa para avaliar o desempenho energético de residências familiares no Distrito Federal.
O Relatório de Metodologia Estatística do IEA Annex 53 (IEA,2013) identifica o potencial de utilização de métodos estatísticos para avaliação de desempenho de edificações ao nível do edifício individual, ao nível de determinado estoque e ao nível nacional. Nessa pesquisa, a escala de investigação é a dos edifícios individuais, com um intervalo de tempo relacionado ao consumo médio mensal, onde o principal fator de influência é o padrão de uso e vida dos usuários.
4.1 Metodologia adotada A obtenção da amostra para a realização desse estudo foi desafiadora, pois os dados foram coletados pelos pesquisadores, com procedimento não aleatório, sem sorteio. Os dados foram coletados de duas formas, através do envio de formulário virtual pelas redes sociais ao círculo acadêmico e pessoal de cada pesquisador e através de coleta de dados porta a porta em diferentes regiões do Distrito Federal, com posterior preenchimento do formulário virtual pelos pesquisadores. Os resultados apresentam uma amostra não probabilísticas, porém considerase que os resultados da pesquisa são equivalentes aos de uma amostragem probabilísticas uma vez que a população pesquisada é homogênea e os amostradores não tinham como ser influenciados pelas demais amostras (SURVEY MONKEY,2018). Foram recebidos dados de 200 residências unifamiliares. O tratamento dos dados foi Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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realizado para retirar dados equivocados ou tipologias diferentes, o que resultou num universo de 196 residências que foram utilizadas para as análises e avaliações desse estudo. De acordo com os dados fornecidos pela CEB (Companhia Energética de Brasília), em 2017 existia 919.718 unidades consumidor no Distrito Federal. Considerando essa a população total do estudo, e a amostra de 196 residências, pode-se afirmar que estatisticamente temos um estudo com um grau de confiança de 95% e uma margem de erro de 7%.
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Importante ressaltar que embora se busque avaliar o desempenho energético das residências unifamiliares em KWh/ m2.a, esse valor sozinho não deve ser utilizado na avaliação do desempenho de uma edificação. Esta é apenas uma das variáveis que podem compor uma avaliação mais complexa (CBCS, 2015).
4.2 Definição das variáveis da pesquisa O Benchmarking de consumo energético utilizado internacionalmente mede apenas os gastos energéticos relacionados ao consumo para aquecimento e resfriamento das edificações, por serem estas as responsáveis pela maior parte do consumo energético das edificações. Entretanto, neste estudo foi considerado o consumo total das residências, uma vez que nessa tipologia usualmente não há Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
medição separadas por fim de consumo no Brasil, e o uso de aquecimento / resfriamento artificial não é homogêneo na população estudada. Dessa forma, neste estudo o consumo por KWh/ m2.a das residências engloba o consumo com iluminação artificial, refrigeração, e equipamentos elétricos diversos de uso residencial. A pesquisa solicitou o consumo médio anual localizado no histórico de consumo da conta de energia, uma vez que existem variações no padrão de consumo mês a mês decorrentes de estações do ano, férias, e viagens, por exemplo. O consumo médio anual representa uma média de consumo na qual estimar-se com segurança o consumo anual de uma residência (SUNG-HWAN CHO, 2004). Foi solicitada a área útil da residência, sem considerar o tamanho do terreno ou áreas de lazer, que poderiam distorcer a amostra da pesquisa. Considerando que o padrão de uso e vida dos usuários é o principal fator de influência no consumo energético dessa pesquisa, também se investigou a quantidade de moradores, a quantidade de chuveiros elétricos e a quantidade de aparelhos de ar condicionado. Nesse estudo considerou-se que cada residência unifamiliar possui pelo menos uma geladeira (ELETROBRAS, PROCEL,2007), e por isso esse dado não foi solicitado. Os chuveiros elétricos correspondem em média a 28% do consumo energético
Tabela 1. Distribuição da amostra por região administrativa do Distrito Federal
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Fonte: Autor
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de uma residência. Já o resfriamento artificial corresponde em média a 18% do consumo e geladeiras são responsáveis por 24%, segundo ELETROBRÁS. Assim, com o objetivo de identificar as variáveis que influenciam no consumo energético de uma residência unifamiliar foram coletados os seguintes dados: -Consumo médio anual; -Metragem quadrada da residência; -Quantidade de moradores; -Quantidade de chuveiros elétricos; -Quantidade de condicionado.
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aparelhos
de
ar
4.3 Coleta de dados Inicialmente a pesquisa pretendia realizar um processo de amostragem aleatória do consumo energético residencial das 31 regiões administrativas do DF, fazendo com que a amostra capturada refletisse dados de uma população homogênea. Entretanto, durante a coleta dos dados, essa meta foi descartada devido à impossibilidade de obter esses dados de forma confiável e no cronograma da pesquisa desenvolvida no Programa de Iniciação científica de Discentes do Centro Universitário UNIEURO. Os dados da amostra foram coletados entre fevereiro e maio de 2018, e incluem dados de 21 regiões administrativas do Distrito Federal. Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
Destaca-se que não houve distinção quanto à tipologia da edificação, ou seja, não foi analisado se a unidade residencial era autônoma ou coletiva. Também não foram consideradas outras variáveis como orientação solar, tipo de cobertura, cores das envoltórias e tipos de aberturas. O formulário de pesquisa foi desenvolvido pela ferramenta do Google Forms, e disponibilizado o link de acesso nas redes sociais para preenchimento pelos moradores ou pelos pesquisadores. Tendo como base os parâmetros desenvolvidos no relatório de Pesquisa de Posse e Equipamentos e Hábitos de Usoano base 2005. (ELETROBRÁS, PROCEL, 2007), a amostra foi estratificada de acordo com a faixa de consumo (KW/mês) e de acordo com o tamanho da residência (metro quadrado). -Faixa de consumo médio anual (0200Kw/mês; 201-300KW/mês; >300 KW/ mês); -Tamanho da residência (0-50m2; 51 a 75m2; 76 a 100m2; 101 a 150m2; 151 a 200m2). Optou-se por manter essa distribuição de consumo e tamanho das residências para propiciar a comparação dos dados coletados com a bibliografia/estudo disponível, e dessa forma identificar a consistência da amostra bem como dos seus resultados e avaliações. Os dados da pesquisa foram estratificados e analisados da seguinte forma:
-Tamanho da residência versus a classe de consumo médio anual e mensal; -Quantidade de moradores versus a classe de consumo médio mensal; -Quantidade de ar condicionado versus a classe de consumo médio mensal; -Quantidade de chuveiro elétrico por classe de consumo médio mensal; e -Kilowatts hora por metro quadrado ano por tamanho das residências. 5.RESULTADOS Optou-se por comparar os dados da amostra pesquisada com Pesquisa de posse de equipamentos e hábitos de uso-ano base 2005- Classe residencial região Centro-oeste (PROCEL, 2007). Esta comparação demonstra que os dados da amostra realizada neste estudo refletem o padrão de distribuição de 2005. Percebe-se que no Distrito Federal, assim como no Brasil e no Centro-Oeste a classe de consumo predominante é a de até 200 kWh de consumo energético por mês. Entretanto, nas demais classes de consumo a distribuição no Distrito Federal é ligeiramente diferente, havendo um aumento da classe de consumo até 300 kWh. A pesquisa mostrou que em relação a classe de consumo médio anual no Distrito Federal tem a distribuição conforme a tabela 2.
Quando analisado o tamanho das residências e as classes de consumo temos uma distribuição parecida com a da pesquisa base, onde no DF 63% das residências possuem até 100 m2 e no Centro-Oeste esse percentual totaliza 72%. A amostra coletada mostrou que à medida que aumenta a área construída, o consumo de energia elétrica tende a aumentar. Considerando o tamanho das residências, temos os dados apresentados na tabela 3. Considerando a relação direta entre aumento da área construída e aumento do consumo energético, pode-se também gerar o dado de benchmarking de KWh/ m2.a das residências. Ao analisarmos o universo total da amostra de 196 residências, observa-se o que a média de consumo no Distrito Federal é de 21,45 kWh/m2.a. Como parâmetro de comparação entre os diversos tipos de tipologias de uso de edifícios, (Silva,2013) indica que em edifícios de escritórios no Brasil o consumo médio é de 80 kWh/ m2.ano. Considerando o consumo anual por classe de consumo mensal, percebe-se que 68,4% das residências possuem um consumo anual médio entre 12 e 36 kWh/ m2.a, conforme a tabela 5. Ao cruzar os dados de consumo em kWh/ m2.a e tamanho das residências os dados demonstram que as residências de até 100 m2 consomem mais por m2.a do que as residências com mais de 151 m2, Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
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Tabela 2. Distribuição das classes de consumo
Fonte: Autor
Tabela 3. Análise dos dados segundo o tamanho da residência por m²
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Fonte: Autor
Tabela 4. Dados de benchmarking de KWh/ m².a das residências
Fonte: Autor
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Tabela 5. Análise do KWh/m².a
Fonte: Autor
Tabela 6. Análise do KWh/m².a versus tamanho da residência
Fonte: Autor
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conforme dados da tabela 6. Tendo em vista que o padrão de uso e vida dos usuários é o principal fator de influência no consumo energético desta pesquisa, esse resultado era esperado, uma vez que de modo geral, independentemente do tamanho da residência, todas as unidades familiares possuem pelo menos uma geladeira, um chuveiro elétrico, uma televisão, entre outros eletrodomésticos. Dessa forma, quanto maior a área construída menor será a participação de consumo energético de determinados eletrodomésticos no desempenho global da residência.
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O resultado da pesquisa mostrou que o percentual de residências que possuem aparelhos de ar condicionado no Distrito Federal é de 24%, muito superior ao indicado na pesquisa base de 2005, em que a média nacional era de 10,5% de posse de pelo menos um aparelho de ar condicionado por domicilio e de 11,7% na região Centro-Oeste. A Associação Brasileira de Refrigeração Ventilação e Aquecimento - ABRAVA (2011), estima que entre 15% e 18% das residências no Brasil possuem ar condicionado. Esse percentual elevado de residências com aparelhos de ar condicionado pode ser um reflexo da renda per capita do Distrito Federal que é de R$ 73.971,05 (IBGE, 2015) enquanto a renda per capita na região Centro- Oeste é de R$ 35.088,08 (IPEA, 2014). O percentual de 24% de ar-condicionado Revista CAU/UCB | 2019 | Artigos
nas residências do Distrito Federal e a distribuição de classe de consumo de 201 a 300 kWh médio por mês também de 24% da amostra, demonstra a relação direta entre a posse do equipamento de ar condicionado e o aumento do consumo médio anual das residências. Entretanto ao analisar a classe de consumo somente da amostra de residências com ar condicionado observa-se que 48% das residências que possuem ar condicionado encontram-se na classe de consumo de até 200 kWh/ mês, e 68% das residências possuem apenas um aparelho. A análise sugere que deve ser realizado um estudo mais aprofundado sobre o padrão de uso dos equipamentos que não foi objeto do presente estudo. Os dados coletados apresentaram certa proporcionalidade entre consumo de energia elétrica e número médio de pessoas por domicílio, ou seja, quanto maior a média de pessoas residentes por unidade habitacional, maior o consumo. Considerando o número de moradores, o Distrito Federal apresenta uma quantidade média por residência ligeiramente superior ao da região Centro-Oeste. Os dados são apresentados na tabela 8 Em relação aos chuveiros elétricos, apenas 3,6% das residências não possuem esse equipamento. Percebe-se que a partir de um chuveiro elétrico a quantidade a mais dos aparelhos não interfere no aumento de consumo de energia elétrica.
Tabela 7. Comparativo da classe de consumo (KWh) por residĂŞncias com ar condicionado.
Fonte: Autor
Tabela 8. Classe de consumo (KWh) por quantidade mĂŠdia de moradores em comparativo com o Centro-Oeste.
Fonte: Autor
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6. CONCLUSÃO Com base nos resultados apresentados pela amostra, pode-se inferir que apesar do consumo médio das residências no Distrito Federal de 21,45 kWh/m2.a ser bem inferior ao consumo médio de escritórios no Brasil (cerca de 80 kWh/ m2.a), a crescente participação da tipologia residencial no consumo total de energia elétrica no Brasil reforça a necessidade de acompanhamento e monitoramento desse setor.
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Destaca-se também a necessidade de desenvolvimento de pesquisas futuras para complementar as informações relacionadas ao padrão de consumo, faixa etária, gênero, entre outros que podem afetar o consumo energético médio das edificações, haja vista que o comportamento do usuário é um fator muito sensível na tipologia de edificações residenciais. O aumento do percentual de residências com ar condicionado no DF em comparação com os dados apresentados região Centro-Oeste e do Brasil, reforça o alerta sobre o impacto desses aparelhos no aumento do consumo energético, principalmente em países de clima quente como o Brasil.
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A estimativa do custo energético por metro quadrado de uma residência pode interferir na projeção das despesas imobiliárias (manutenção do imóvel) e por consequência nos contratos de aluguel, por exemplo.
Tabela 9. Classe de consumo (KWh) por quantidade de chuveiro elétrico.
Fonte: Autor
7. BIBLIOGRAFIA ABRAVA. Tendência de aumento no uso de ar condicionado residencial deve ser de. Disponivel em: < http://abrava. com.br/?p=2144> Acessado em 24 de novembro de 2018. BORGSTEIN, E. LAMBERTS, R. Desenvolvimento de benchmarks nacionais de consumo energético de edificações em operação. CBCS, Agosto 2014. Disponível em: <http://www. cbcs.org.br/_5dotSystem/userFiles/ Comunicacao%20Tecnica/CBCS_CT%20 Energia_Desenvolvimento%20de%20 benchmarks%20nacionais%20de%20 consumo%20energetico%20de%20 edificacoes%20em%20operacao.pdf> Acessado em 21 de Outubro de 2018. CARLO, J. C. LAMBERTS, R. Parâmetros e métodos adotados no regulamento de etiquetagem da eficiência energética de edifícios-parte1: método prescritivo. Ambiente construído, Porto Alegre, V.10, n. 2, p.7-26, abr/jun.2010. CASTRO, D. F. Eficiência Energética aplicada a Instalações Elétricas Residenciais. Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2015. CHISHOLM, E. Energy Benchmarking. Canadian Consulting Engineer. Disponível em: <http://search.ebscohost.com/login. aspx?direct=true&db=egs&AN=879547 97&lang=pt-br&site=ehost-live>. Acesso em: 21 nov. 2018 CBSC. O projeto DEO do CBCS desenvolve conhecimento, indicadores e técnicas para
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https://sites.google.com/view/cau-ucb
Marcio Nascimento de Oliveira | Coordenador CAU/UCB
Acesse o hotsite e conheça mais sobre o CAU-UCB!
NOVO SITE DO CAU UCB
O novo site do CAU, desenvolvido na plataforma Google Sites, foi criado para agregar informações sobre o curso que não estavam disponíveis no portal oficial da UCB, proporcionando maior acesso a informações detalhadas do curso, incluindo uma descrição completa da nova Matriz Curricular, implementada em 2018, e de todas as disciplinas que compõem os troncos do curso: Projeto, Expressão, Tecnologia e Teoria e História. O site traz ainda informações sobre todas as atividades que realizamos, incluindo os projetos de pesquisa como o EMAU, do grupo de Desenhos Urbanos, da Empresa Júnior ENTRE, entre outros.
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Olá, leitores da revista VARAU, somos o Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo, carinhosamente conhecido como CACAU. Somos uma entidade estudantil que representa todos os alunos perante a instituição, em assuntos relacionados ao curso. Além de participar das reuniões do Colegiado do CAU, atuamos organizando e planejando atividades tais como: semana da arquitetura (Semanarq), oficinas, viagens, festas e calouradas.
nanceiro - Paulo Henrique Acadêmico - Arthur Côrtes. Comunicação Marcelo Vaz e Andrey Almeida e no Cultural - Brenda Soares e Stephane Valerino.
A proposta da nova gestão do CACAU é de organizar eventos para promover uma maior integração entre os alunos do curso. O objetivo principal é o engajamento dos estudantes do curso para participação na decisões e nas atividades e eventos organizados pelo CACAU.
Email: cacau.arq.ucb@gmail.com
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Facebook: ucbcacau
EQUIPE CACAU
Hoje o CACAU está composto por oito integrantes, tendo como presidente e vice-presidente, Gustavo Urbano e Natália Vasconcelos e como coordenadores: Fi-
Instagram: @cacau.ucb
NOTÍCIAS DO CACAU
Uma das novidades é um concurso para selecionar o design da camiseta da próxima Semanarq, o qual será aberto a todos os estudantes do curso, e um mutirão de reforma do espaço físico do CACAU.
Entre em contato e saiba mais sobre o CACAU!
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Na quarta-feira pela manhã foi a vez do presidente da Associação Brasiliense de Design de Interiores - ABRADI, Flavio Wer-
Marcio Nascimento de Oliveira | Coordenador CAU/UCB
A semana começou na terça-feira, com uma palestra sobre Bioconstrução com o arquiteto Sergio Pamplona, reconhecido em Brasília como uma das principais referências entre os profissionais que atuam com técnicas sustentáveis, como a permacultura e as construções com materiais de baixo impacto ambiental. Na mesma manhã aconteceu uma palestra muito interessante com três arquitetos (Leonardo, Rick e Renan) recém-formados, que falaram sobre sua experiência com a construção de Impressoras 3D de baixo custo para desenvolvimento de produtos, mostrando a luminária “Tatu”, um dos produtos desenvolvidos por eles com esta tecnologia.
SEMANARQ 2018
Entre 02 a 05 de outubro de 2018 foi realizada mais uma edição da Semana de Arquitetura do CAU-UCB, a tradicional SEMANARQ, evento organizado por alunos e docentes do curso, e que nesta edição teve como tema principal as “Novas Práticas e Tecnologias” em arquitetura urbanismo.
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neck, falar sobre a prática e as perspectivas da atuação do designer de interiores. Flavio mostrou que é possível construir uma carreira de êxito na área se mantendo fiel aos princípios de utilização somente de materiais e soluções adequadas à necessidade do cliente. Na ocasião foram discutidas formas de parceria da UCB com a ABRADI visando promover o debate sobre a atuação dos designers, a partir do lançamento do novo curso de Design de Interiores da UCB. A quarta-feira continuou com a palestra do Professor do CAU, Eng. Frederico Rosalino, sobre Arquitetura em Bambu. O professor mostrou alguns exemplos de resultados impressionantes conseguidos com a utilização deste material sustentável e renovável, fruto de suas pesquisas e viagens pelo mundo.
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No terceiro e último dia da SEMANARQ, a palavra esteve com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal – CAU-DF, o Arquiteto Daniel Mangabeira, que teve como tema a gestão do CAU-DF e também sobre sua prática profissional no escritório que mantém em Brasília. Em seguida, foi realizada a tradicional “Reunião Geral do CAU-UCB”, onde foram tradados os assuntos relacionados ao andamento do curso, sendo aberta a oportunidade para os participantes das diversas atividades realizadas no curso darem o seu recado, além de ser feito o lançamento oficial da edição 8 da revista VARAU e do novo hotsite do curso, que foi apresentado pelo Prof. Marcio Oliveira.
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Ainda como parte da SEMANARQ, foram realizadas, no período da tarde, diversas oficinas, que tiveram uma ótima procura, e incluíram temas diversos, tais como “Utilização de Drone + Lumion para construção de cenários 3D”, com o Prof. Thiago Turchi, “Oficina de construção em Bambu” com o Prof. Frederico Rosalino, “Oficina de Jardim Naturalista” com a Prof. Yara Oliveira e “Oficina de Portfolio Digital” com o Prof. Daniel Brito. Encerrando uma semana de muitas atividades em todos os cursos da EEAMA (Escola de Exatas, Arquitetura e Meio Ambiente), foi realizado no auditório central da UCB a palestra de “Cenários e Desafios Humanos - Normose e Percepção”, proferida pelo ex-professor da UCB, Genebaldo Freire Dias que foi muito elogiada pelo seu conteúdo poético e provocador.
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Mรณdulo Habitacional para Refugiados Venezuelanos Autor: Alex Vieira Orientadora: Prof. Milena de Lannoy
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ALUNO: Alex Vieira | ORIENTADOR: Milena de Lannoy
DIPLOMAÇÃO II | MÓDULO HABITACIONAL PARA REFUGIADOS
Módulo Habitacional para Refugiados Venezuelanos Autor: Alex Vieira Orientadora: Prof. Milena de Lannoy
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A Célula – Habitação em Marte Autor: Douglas Galvão Orientador: Prof. Marcos Martins
A Revista Célula – Habitação em Marte CAU/UCB |2019|Acontece noCAU Autor: Douglas Galvão
abitação em Marte las Galvão
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ALUNO: Douglas Galvão | ORIENTADOR: Marcos Martins
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Parque Ecolรณgico Orla Rio Grande Autor: Guilherme Neto Orientador: Prof. Fernanda Moreira
Parque Ecolรณgico Orla Rio Grande
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Orientador: Prof. Fernanda Moreira
ALUNO: Guilherme Neto | ORIENTADOR: Fernanda Moreira
DIPLOMAÇÃO II | PARQUE ECOLÓGICO ORLA RIO GRANDE Parque Ecológico Orla Rio Grande Autor: Guilherme Neto Orientador: Prof. Fernanda Moreira
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As quadras norte residenciais em Ceilândia Autor: Karina Teixeira Orientador: Prof. Tatiana Chaer
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As quadras norte residenciais em Ceilândia
ALUNO: Karina Teixeira | ORIENTADOR: Tatiana Chaer
DIPLOMAÇÃO II | AS QUADRAS NORTE RESIDENCIAIS EM CEILÂNDIA
As quadras norte residenciais em Ceilândia Autor: Karina Teixeira Orientador: Prof. Tatiana Chaer
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Como projetar um edifício só com essas informaçoes?
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Como projetar um edifício com tantas informaçoes?
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