ZINT ⋅ Edição #3: Game of Thrones

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EDIÇÃO #3; GAME OF THRONES AGOSTO 2017

NESTA EDIÇÃO darren aronofsky; dragon ball; dunkirk; las chicas del cable; na mira do atirador; o filme da minha vida; o mínimo para viver; orphan black; os defensores; pílulas azuis; taylor swift; tribalistas; vinil


editorial;

Para a terceira edição, a revista vem com uma análise da sétima e penúltima temporada de Game of Thrones, série de grande sucesso da HBO, como a nossa Capa. Mais uma vez, as Tirinhas e as Fotografias voltam a figurar na revista, agora em maior quantidade. De recheio, a ZINT #3 fica sem os capítulos de Literatura e Jogos, mas permanece firme e forte nos outros assuntos. Nosso Colaboradores escrevem sobre o polêmico comeback de Taylor Swift, o retorno surpresa dos Tribalistas, um tributo a Darren Aronofsky, e as Chicas del Cable, entre outros assuntos. E não esqueça de dar uma olhada no nosso Calendário Cultura, porque Setembro é um mês bastante parrudo e são mais de 100 lançamentos de produtos de entretenimento! Haja verdinhas! Aproveitem!


A ZINT é uma revista mensal gratuita voltada às áreas de Arte e Cultura, em formato de publicação digital. Acreditamos na nossa independência editorial e esperamos que, dentro dos mais variados formatos de textos, possamos trazer alguma abordagem inventiva ou inédita aos assuntos que permeiam o campo do jornalismo cultural.

João Dicker & vics

Editores-chefes e idealizadores da ZINT


O QUê QUE A ZINT TEM? Aproveitando das possibilidades de uma publicação online, a revista conta com algumas interações bem legais. Para que nenhum leitor fique sem usufruir 100% do oferecemos, um manual de como funciona a ZINT.

Com uma publicação online, as possibilidades de interações são promissoras. Usando a plataforma digital ao nosso alcance, a revista pode sempre vir acompanhada de objetos interativos. A ZINT aproveita de todos esses recursos, e você pode usufruir de tudo de uma forma bastante simples e rápida. Capítulos

Em primeiro lugar, é interessante apontar que a revista funciona por Capítulos. As barras laterais correspondem ao capítulo correspondente: Azul para Televisão, Verde para Cinema, Roxo para Música, Marrom para Quadrinhos, Salmão para Fotografia, Azul Marinho para Tirinhas, e, claro, Amarelo para Capa. Assim, fica fácil identificar o tipo de conteúdo em que você se encontra.


Vídeo e Áudio

Com uma revista de Entrenimento e Cultura em mãos, é simplesmente impossível não relacionar as matérias com um conteúdo digital. Um vídeo, um filme, uma música, uma playlist. No papel físico, tais interações são impossíveis de serem atingidas por motivos óbvios. Mas digitalmente, tudo é muito fácil. Toda vez que um matéria vier com qualquer tipo de conteúdo de Vídeo/Áudio, a imagem de destaque virá acompanhada de ícones correspondentes, como os mostrados acima. Se a matéria tiver mais de um conteúdio audiovisual, cada imagem disponível ao longo da matéria terá os mesmos ícones. Basta passar o mouse ou o dedo por cima da imagem, que ela se mostrará como um link. Clique, e seja redirecionado para o conteúdo! No caso de vídeos únicos (e não em playlist), o player será aberto dentro da própria revista, não interferindo na sua experiência.

Links

Além do conteúdo audiovisual principal, as vezes as matérias contém inúmeros outros links de Vídeo/ Áudio, tornando difícil colocar ícones para todos. Também acontece de uma matéria ter um link para outra matéria. Para isso, foi criado uma forma bem fácil de identifica-los: todos os links são sublinhados. O sublinhamento tem o efeito do marca-texto, parecendo que aquela parte do texto foi, de fato, destacada por um. Esta é a identificação de um link; uma linha grossa em Amarelo, a cor oficial da revista. Rodapé

O easter-egg da revista. No rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint. online sublinhado também é um link. Neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog. zint.online | 5


IDEA LIZAD ORES colab

DES EN HO

equipe

colabs

FOT OGR AFIA

a revista é um projeto colaborativo voluntário. além dos idealizadores, a Edição conta com um colaborador de desenho, quatro de diagramação, um de fotografia e dez de texto


colabs

TEX TO

em ordem alfabética, da esquerda para a direita idealizadores; joão, vics desenho; rafael rallo diagramação; maria nagib, samuel lima, thales assis, victoria cunha fotografia; ana luisa santos texto; ana luisa santos, gabriel gomide, giulio bonanno, marina moregula, renato martins, roberto barcelos, stephanie torres, yuri soares


CALENDÁRIO CULTURAL 01 DE SETEMBRO; SEXTA-FEIRA “Freedom Child”, álbum do The Script “Inhumans” | Estreia dos dois Primeiros Episódios da 1a Temporada nos cinemas IMAX, em formato de filme “Narcos” | Estreia da 3a Temporada 03 DE SETEMBRO; DOMINGO “Twin Peaks” | Episódio Final da 3a Temporada 05 DE SETEMBRO; TERÇA-FEIRA “American Horror Story: Cult” | Estreia da 7a Temporada 06 DE SETEMBRO; QUARTA-FEIRA “Destiny 2”, para PC, PlayStation 4 e Xbox One “You’re the Worst” | Estreia da 4a Temporada 07 DE SETEMBRO; QUINTA-FEIRA “It - A Coisa” (It) “Detroit” “Polícia Federal - A Lei é Para Todos” 08 DE SETEMBRO; SEXTA-FEIRA “BoJack Horseman” | Estreia da 4a Temporada “Monster Hunter Stories”, para Nintendo 3DS 10 DE SETEMBRO; DOMINGO “Fear the Walking Dead” | Estreia da Parte II da 3a Temporada “Outlander” | Estreia da 3a Temporada “The Deuce” | Estreia da 1a Temporada “The Orville” | Pre-estreia da Parte I da 1a Temporada 11 DE SETEMBRO; SEGUNDA-FEIRA “Preacher” | Episódio Final da 2a Temporada 12 DE SETEMBRO; TERÇA-FEIRA “Pro Evolution Soccer 2018”, para PC, PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360 e Xbox One “Rayman Legends Definitive Edition”, para Nintendo Switch “The Mindy Project” | Estreia da 6a e Última

2017

JAN

FEV

Temporada “The Pillars of the Earth”, para PC, PlayStation 4 e Xbox One 14 DE SETEMBRO; QUINTA-FEIRA “Amor e Tulipas” (Tulip Fever) “Better Things” | Estreia da 2a Temporada “Feito na América” (American Made) “O Que Será de Nozes? 2” (The Nut Job 2: Nutty by Nature) “O Sequestro” (Kidnap) 15 DE SETEMBRO; SEXTA-FEIRA “Concrete and Gold”, álbum de Foo Fighters “Give Me Love”, álbum de Ringo Starr “Indomável”, de S.C. Stephens “Love is in the Air #2”, de Eva Zooks, Tamires Barcellos, Catarina Muniz & Paola Scott “Mr. Davis”, álbum de Gucci Mane “NBA 2K18”, para Nintendo Switch, PlayStation 4, Xbox 360 e Xbox One “Os Criadores de Coincidências”, de Yoav Blum “Porque Abri os Olhos”, de Juliana Mendes “Porque Fechei os Olhos”, de Juliana Mendes “Profano”, da S. Miller “Rebel Heart Tour”, álbum de Madonna “The Carnival Vol. III: The Fall & Rise of a Refugee”, álbum de Wyclef Jean 17 DE SETEMBRO; DOMINGO “The 69th Primetime Emmy Awards” “The Orville” | Pre-estreia da Parte II da 1a Temporada 18 DE SETEMBRO; SEGUNDA-FEIRA “Sempre com Você”, de Samantha Chase 19 DE SETEMBRO; TERÇA-FEIRA “Marvel vs. Capcom: Infinite”, para PC, PlayStation 4 e Xbox One 21 DE SETEMBRO; QUINTA-FEIRA “Amityville: O Despertar” (Amityville: The Awakening) “Divórcio”

MAR

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MAI

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a agenda traz as datas dos principais lançamentos do mês de SETEMBRO para as áreas de CINEMA, MÚSICA, TELEVISÃO, LITERATURA e JOGOS. “Esta é a Sua Morte” (This is Your Death) “Mãe!” (mother!) “O Assassino: O Primeiro Alvo” (American Assassin) 22 DE SETEMBRO; SEXTA-FEIRA “Double Dutchess”, álbum de Fergie “Fuller House” | Estreia da Parte I da 3a Temporada “Gemini”, álbum de Macklemore “Pokémon Gold & Silver”, para Nintendo 3DS “Pokkén Tournament DX”, para Nintendo Switch “The LEGO Ninjango Movie Video Game”, para PlayStation 4 e Xbox One “Transparent” | Estreia da 4a Temporada “Wonderful Wonderful”, álbum de The Killers 24 DE SETEMBRO; DOMINGO “60 Minutes” | Estreia da 50a Temporada “Star Trek: Discovery” | Estreia da 1a Temporada 25 DE SETEMBRO; SEGUNDA-FEIRA “Kevin Can Wait” | Estreia da 2a Temporada “Me, Myself & I” | Estreia da 1a Temporada “Scorpion” | Estreia da 4a Temporada “The Big Bang Theory” | Estreia da 11a Temporada “Young Sheldon” | Estreia da 1a Temporada 26 DE SETEMBRO; TERÇA-FEIRA “Blue Reflection”, para PC “Brooklyn Nine-Nine” | Estreia da 5a Temporada “Bull” | Estreia da 2a Temporada “Leathel Weapon” | Estreia da 2a Temporada “NCIS” | Estreia da 15a Temporada “NCIS: New Orleans” | Estreia da 4a Temporada “The Mick” | Estreia da 2a Temporada “This is Us” | Estreia da 2a Temporada 27 DE SETEMBRO; QUARTA-FEIRA “Criminal Minds” | Estreia da 13a Temporada “Empire” | Estreia da 4a Temporada “Modern Family” | Estreia da 9a Temporada “Seal Team” | Estreia da 1a Temporada “Star” | Estreia da 2a Temporada “Survivor” | Estreia da 35a Temporada

JUL

AGO

SET

OUT

28 DE SETEMBRO; QUINTA-FEIRA “De Volta para Casa” (Home Again) “Duas de Mim” “Gotham” | Estreia da 4a Temporada “Grey’s Anatomy” | Estreia da 14a Temporada “How to Get Away with Murder” | Estreia da 4a Temporada “Kingsman 2: O Círculo de Ouro” (Kingsman: The Golden Circle) “LEGO Ninjango - O Filme” (The LEGO Ninjango Movie) “Morte Instantânea” (Polaroid) “The Good Place” | Estreia da 2a Temporada “The Orville” | Estreia da 1a Temporada “Will & Grace” | Estreia da 9a Temporada 29 DE SETEMBRO; SEXTA-FEIRA “Blue Bloods” | Estreia da 8a Temporada “Club de Cuervos” | Estreia da 3a Temporada “FIFA 18”, para Nintendo Switch, PC, PlayStation 3, PlayStation 4, Xbox 360 e Xbox One “Hawaii Five-0” | Estreia da 8a Temporada “Hell’s Kitchen” | Estreia da 17a Temporada “I Believe in You”, álbum de Dolly Parton “Inhumans” | Estreia da 1a Temporada “MacGyver” | Estreia da 2a Temporada “Now”, álbum de Shania Twain “Sniper de Elite - Perseguição ao Lobo”, de Scott McEwen & Thomas Koloniar “Tell Me You Love Me”, álbum de Demi Lovato “The Exorcist” | Estreia da 2a Temporada “Visions of a Life”, álbum de Wolf Alice “Younger Now”, álbum de Miley Cyrus 30 DE SETEMBRO; SÁBADO “48 Hours” | Estreia da 30a Temporada “Final Fantasy XV: Pocket Edition”, para PC “Naruto Shippuden Ultimate Ninja Storm Legacy”, para PlayStation 4 e Xbox One “NBA Live 18”, para PlayStation 4 e Xbox One “Resident Evil: Revelations”, para PlayStation 4 e Xbox One “Sonic Mania”, para Nintento Switch, PC, PlayStation 4 e Xbox One

NOV

DEZ

2018


pรกg.

38; pรกg.

22;

pรกg.

34; pรกg.

50; pรกg.

76;


SUMÁRIO cinema 14;

Sobrevivendo à guerra: a experiência sensorial de Dunkirk

20;

O mundo sépia de quem sente saudades

22;

“O Mínimo para Viver” e o debate sobre anorexia e autoestima

26;

Os vícios e ofícios de Aronofsky

30;

A guerra por um olhar intimista

João Dicker

Roberto Barcelos

Marina Moregula Giulio Bonanno João Dicker

quadrinhos 34;

Fora da Matrix: a poética narrativa dos quadrinhos Roberto Barcelos

música

tirinhas

38;

Vinil volta a ser relevante após mais de 30 anos

88;

Pedro #5

42;

Basta ser o que se é

89;

Pedro #10

44;

Não haverá mais explicação, apenas reputação

90;

Imagina Que Louco

Gabriel Gomide

Renato Martins

Stephanie Torres

capa 52;

Fan service, dinamismo e problemas narrativos João Dicker

televisão 66;

A união faz a força?

72;

O retorno de Dragon Ball para a TV brasileira

78;

O fim do Clube das Clones

82;

Resistência por telefone

João Dicker Yuri Soares

Stephanie Torres

Ana Luisa Santos

Rafael Rallo Rafael Rallo Rafael Rallo

91;

João & Pedro #7

92;

Pedro #8

93;

João & Pedro #10

94;

Carlos, o Dêmonio Geek

Rafael Rallo Rafael Rallo Rafael Rallo Rafael Rallo

fotografia 98;

Ensaio

Ana Luisa Santos



cinema



João Dicker

Sobrevivendo à guerra: a experiência sensorial de Dunkirk


A

representação cinematográfica de grandes acontecimentos históricos acontece desde os primórdios do cinema. De todas as possíveis fontes para adaptação, a Segunda Guerra Mundial é, talvez, a que tenha ganhado mais revisitações na história do cinema. Filmes como O Resgate do Soldado Ryan (1998), Corações de Ferro (2014) ou Até o Último Homem (2016), trabalham a guerra por meio da sua espetacularização, demonstrando a brutalidade e a sanguinolência dos confrontos armados. Em seu mais novo filme, Dunkirk, Christopher Nolan opta por fazer um retrato mais seco e menos poético da guerra, entre-

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gando um filme intenso e angustiante. O conflito da vez é a Batalha de Dunkirk, episódio em que cerca de 400 mil soldados aliados se viram cercados na cidade de Dunquerque, na França. Depois de várias tentativas falhas de resgate por parte das forças armadas inglesas, a salvação veio com ajuda de algumas centenas de civis ingleses que atravessaram o Canal da Mancha em seus pequenos barcos particulares para realizar a extradição de, aproximadamente, 338 mil pessoas. Todo esse contexto angustiante e heroico, provavelmente, ganharia contornos épicos, glorificantes e patrióticos nas mãos de outros realizadores, mas


sob o comando de Nolan a história da Batalha de Dunkirk é apresentada por uma ótica seca, realista e nada maniqueísta. Há um antagonismo e um medo pulsante da morte durante toda a projeção, mas em momento algum ele é personificado na imagem de um nazista ou de um soldado inimigo, da mesma forma que as atitudes dos soldados britânicos não são heroicas, mas humanas. Além de uma representação menos glamourosa da guerra, Nolan opta por uma maneira não convencional de contar a história. Com uma narrativa não linear tríptica, acompanhamos ao mesmo tempo três acontecimentos em espaços temporais diferentes - a

espera dos soldados na praia por uma semana; a empreitada de resgate de um barco civil por um dia; e o suporte aéreo de um avião-caça por uma hora. Apesar de sermos distanciados de um único protagonista, um personagem que funcionaria como o fio condutor narrativo do longa, o desenvolvimento do enredo é fluído. O trabalho de montagem do longa é preciso na maneira com que apresenta os acontecimentos, fazendo com que os ocorridos em terra, no mar e no ar dialoguem com o decorrer da projeção. Com isso, Nolan consegue demonstrar aquilo que tanto queria: evidenciar os efeitos psicológicos da guerra não por meio das brutalidades vistas, mas graças a dificuldade

Ao longo de toda a sua produção, "Dunkirk" utilizou 6,000 (atores) extras

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em lutar pela sobrevivência. Assim como a montagem, todo o trabalho técnico de Dunkirk é impecável. O diretor, conhecido por preferir filmar com efeitos práticos, utilizou aviões de caça verdadeiros com câmeras acopladas em suas latarias, navios de guerra reais e mais de 1000 extras para garantir veracidade e o merecido escopo do acontecimento. Complementado pela fotografia fúnebre de Hoyte Van Hoytema, Nolan tem um trabalho perfeito na direção, que vai desde os enquadramentos belíssimos de paisagens, às cenas de ação muito bem filmadas (principalmente as batalhas de aviões), a forma com que filma seus atores (que são obrigados a atuarem muito mais com as expressões faciais do que entregando falas - como o piloto de Tom Hardy, o comandante de Kenneth Branagh, ou 18 | zint.online

os jovens soldados de Harry Styles e Fionn Whitehead) ou ao ritmo crescente que garante a narrativa, apesar de sua não-linearidade. O ritmo do longa é, talvez, o principal trunfo do diretor para atrair o espectador para sua história. Ao descartar o desenvolvimento emocional ou psicológico de personagens, assim como a consequente identificação com os mesmos, o filme passa a necessitar de uma pungência narrativa. Assim, Nolan opta por um roteiro que picota a narrativa com uma constante quebra de expectativa: se na praia os soldados encontram uma maneira de deixarem o cerco, somos transportados para o piloto combatendo um avião inimigo, e se o caça inglês obtêm sucesso em seu combate voltamos a praia para vermos os soldados sendo bombardeados e perdendo o seu meio


Harry Styles (em seu primeiro papel nos cinemas), Damien Bonnard e Fionn Whitehead fazem parte do mesmo arco do filme, sendo uma das três perspectivas exploradas pelo longa

de transporte. Se o diretor sabe como trabalhar o ritmo do longa, muito deste êxito passa pelo incrível trabalho sonoro de Hans Zimmer. Trabalhando pela sexta vez com Nolan, Zimmer faz, talvez, o melhor trabalho de sua carreira. A onipresente trilha sonora do compositor é responsável pela construção da atmosfera insólita e angustiante que acompanhamos, além de emular o som de um relógio que funciona perfeitamente para nos lembrar da corrida contra o tempo que é a situação apresentada em Dunkirk. Ainda, a trilha se desenvolve em um crescendo constante, impedindo um único respiro para o espectador, sempre mantendo a tensão em níveis caóticos, além de ser cortada por efeitos sonoros que mimetizam sons de hélices de aviões e de explosões secas, colaborando para a

sensação de eminência dos ataques inimigos. O que pode prejudicar o filme é justamente a falta de apelo emocional, causada pela opção ambiciosa do diretor em apresentar um enredo que não se limita a identificação a um único personagem, mas a todos os 400 mil soldados que aguardavam o resgate. É minimamente interessante que, por serem peões catatônicos da ação do longa, os personagens passam a ser meros espectadores do que lhes acontece. Se isso é um problema ou não, cabe a quem assistir ao longa dizer, uma vez que a direção primorosa de Chirstopher Nolan e a trilha sonora frenética de Hans Zimmer se unem para entregar uma experiência sensorial imersiva e pungente, capaz de nos fazer sentir a dificuldade de sobrevivência e o frenesi dos soldados de Dunkirk. zint.online | 19



O mundo sépia de quem sente saudades Roberto Barcelos

C

om mais de cinquenta trabalhos como ator em seu portfólio, Selton Mello continua a demonstrar suas habilidades no audiovisual com a estreia do longa O Filme da Minha Vida (2017). Apesar de sua carreira como diretor estar no início, Mello possui em seu portfólio títulos expressivos como Feliz Natal (2008) e O Palhaço (2011). Os três filmes contaram com a parceria do ator e escritor Marcelo Vindicatto para a criação de seus respectivos roteiros, o que inclui a adaptação do romance Um Pai de Cinema, escrito pelo chileno Antonio Skármeta. Em O Filme da Minha Vida, acompanhamos Tony (Johnny Massaro), um jovem adulto que deixou o pequeno vilarejo no sul do país para estudar na cidade grande. Quando retornou à sua terra natal, o jovem descobriu que seu pai, o imigrante francês Nicolas Terranova (Vincent Cassel), retornou para a França sem explicações. O que deixou sua esposa Sofia (Ondina Clais Castilho) à mercê da atenção de Paco (Selton Mello), amigo antigo da família. Além de precisar lidar com a ausência do pai, Tony começa a dar aula na escola local e se envolve com as irmãs Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Bia Arantes). A produção trabalha com elementos nostálgicos

do passado em detalhes situacionais. Como a bicicleta, a câmera analógica, a arquitetura das casas rurais e a forma como as personagens se vestem e interagem. Elementos que muitas vezes passam despercebidos, mas que completam a cenografia e criam harmonia ao lado da fotografia de Walter Carvalho, uma característica importante para a obra e o universo nostálgico onde ela acontece. O tom sépia suave escolhido por Carvalho ajuda a reforçar a sensação bucólica que o filme transmite aos espectadores, principalmente em um momento da vida cheio de simplicidade e afeto. Com grande beleza visual e personagens cheios de vida, conhecemos aos poucos a motivação por trás deles e suas tramas pessoais. O próprio Tony começa a compreender a complexidade do mundo à medida que interage com os outros moradores da sua cidade, e tenta entender a perspectiva do mundo fora do olhar inocente de uma criança. Dessa forma, os closes e planos fechados nos rostos dos atores nos ajuda a perceber melhor a mudança de suas expressões e as transformações que eles passam com o surgimento de novos desafios. Logo, percebemos que a mistura entre o bucólico e o nostálgico trabalham a importância da memória. Durante a narrativa, Tony é confrontado a simplesmente deixar de lado o pai que desapareceu sem deixar notícias. Contudo, a dificuldade de deixar para trás algo tão importante sobre o seu passado e quem ele é apenas reforçam a necessidade do jovem de continuar sua busca por respostas sobre esse acontecimento. O filme possui como exercício de moral o quanto é difícil desapegar, mas é sempre necessário seguir em frente. zint.online | 21


Marina Moregula

“O Mínimo para Viver” e o debate sobre anorexia e autoestima

Longa-metragem da Netflix retrata transtorno alimentar de forma intimista e equilibrada, trazendo à tona o debate sobre a relação pessoal com o próprio corpo

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Ellen é uma paciente em uma clínica de reabilitação para quem sofre com transtornos alimentares. Seria interessante ver mais do histórico, da personalidade e dos problemas de outros pacientes; é uma forma de mostrar como transtornos alimentares acometem pessoas dos mais diversos perfis, causando os mais variados sintomas. Entretanto, muitos dos outros pacientes não são nem mesmo nomeados, pois isso poderia fugir do propósito do filme de trazer uma visão intimista da vida de Ellen, seus hábitos e pensamentos. Enfoque Responsável

E

llen gosta de dizer que tem tudo sob controle. Mas a jovem de 20 anos, protagonista de O Mínimo para Viver (2017), tem anorexia. A doença impede que ela perceba o quanto está sendo dura consigo mesma e com seu consumo diário de calorias. Esta é a temática do longa que estreou na Netflix em julho, da diretora Marti Noxon. O filme não é fácil de se assistir, mas é necessário para desconstruir os tabus a respeitos dos transtornos alimentares. O Mínimo para Viver é protagonizado por Lily Collins, que também está em outro lançamento da Netflix deste ano, Okja (1). Assim como a diretora, Lily tem um histórico de anorexia. O emagrecimento pelo qual passou para fazer o filme foi acompanhado por médicos, para evitar uma recaída na doença. Sua atuação é um dos destaques do longa, cujo foco é o aprofundamento nos íntimos da personagem. A história lembra a estrutura de Garota, Interrompida (1999) e Um Estranho no Ninho (1975):

Quem vive com anorexia não quer mostrar que tem problemas com sua autoimagem. Hábitos como fazer abdominais antes de dormir, mastigar a comida, mas não engolir, e correr para eliminar calorias costumam ser escondidos. A produção conquista o espectador mostrando esses detalhes, que parecem absurdos, mas são completamente lógicos, aceitáveis e desejáveis para quem desenvolveu a doença. Esses detalhes são também o alvo das principais críticas ao filme. Apesar de haver um aviso de cenas carregadas no início do longa, há quem defenda que a produção pode ser um enorme gatilho para pessoas que já tiveram ou ainda têm transtornos alimentares. Isso significa que o filme poderia provocar fortes respostas emocionais ao colocar essas pessoas em contato com um assunto gerador de estresse e processos emocionais complexos. É uma crítica semelhante a que foi feita à série 13 Reasons Why (2017), também da Netflix, que abordou o suicídio, o estupro e outros conteúdos emocionalmente carregados. O filme protagonizado por Lily Collins foi comparado à série adolescente nesse quesito. No entanto, eles se diferem exatamente no tratamento que dão a esse conteúdo. Enquanto 13 Reasons romantiza o suicídio e o coloca como a única alternativa possível para os problemas vividos pela protagonista Hannah, o filme de Marti Noxon tem um enfoque mais delicado. A anorexia é abordada como uma doença, que prejudica tanto quem a tem quanto seus familiares e amigos, mas também que tem uma saída. É um enfoque mais real, preocupado em denunciar e chamar atenção para o problema; 13 parece estar mais voltado para a dramatização excessiva da realidade. Em um mundo onde a resposta geral à anorexia costuma ser “é só comer”, uma produção que mostre como os transtornos alimentares fogem do controlável e do racional é muito importante. Personagens zint.online | 23


como Luke (Alex Sharp) e Megan (Leslie Bibb) são inseridas para reforçar a dimensão da anorexia como um mal que pode trazer consequências muito além do imaginado e do que se possa controlar, e que podem durar para vida inteira. O amor está muito presente em O Mínimo para Viver, seja amor romântico, fraternal ou materno. Ele está presente nas narrativas de Luke e Megan, e também na história de Ellen, mas não é nunca colocado como a solução para a anorexia. Isso reflete a realidade, já que o amor não é capaz de ser solução para uma doença. A série 13 Reasons nunca deixou isso claro, passando uma mensagem quase oposta. Ela coloca que se Clay tivesse confessado seu amor por Hannah antes de a jovem cometer suicídio, ela ainda poderia estar viva. A série ignora que a depressão e os males psicológicos causados a quem sofre um estupro também não podem ser consertados pelo amor. Quando o debate é sobre a mídia abordando doenças ou temas emocionalmente carregados, é importante tomar cuidado para não culpar o termômetro pela febre. O que a mídia faz é uma representação de um problema real. Não é a mídia que cria esses problemas, e nem seria ideal que ela os ignorasse. No entanto, é preciso cuidado e responsabilidade, para que essa abordagem não piore o problema, mas sim, contribua para o tratamento desse problema. O Mínimo para Viver é um filme equilibrado, já que nem satiriza e nem romantiza os transtornos alimentares.

O momento de enfrentar a balança aterroriza Ellen (Lily Collins) e os outros pacientes da clínica

Mídia e Autoestima

Lidar com o próprio corpo é uma questão cada vez mais complicada, principalmente para as mulheres. Com o aumento da quantidade de informações a que temos acesso por dia, a pressão da mídia para se atingir o corpo perfeito está em todo lugar. Segundo o Relatório Global de Autoconfiança Feminina Dove, uma pesquisa divulgada em 2016, 71% das mulheres e 67% das meninas entrevistadas pelo mundo todo querem que a mídia se esforce mais para retratar diferentes tipos de beleza física, com maior diversidade de idade, raça e tamanho. Autoestima se tornou um tema delicado de se discutir em meio a tantos padrões e cobranças sociais. Ainda segundo o relatório, quando não se sentem bem com sua aparência, nove em cada 10 mulheres afirmaram que desistem de compromissos importantes ou se forçam a parar de comer. A anorexia é uma doença desencadeada por fatores biológicos, psicológicos e ambientais, que estão diretamente relacionados a essas pressões sociais, à ansiedade e ao estresse. Em um quadro como esse, os problemas de autoestima se tornaram a regra. Ter uma boa relação com seu próprio corpo se tornou a exceção. É aí que está a importância de um filme como O Mínimo para Viver. O objetivo do longa, de debater a relação problemática que temos com nosso corpo, é bem claro. Combater a vergonha de se abordar problemas que acometem tantas pessoas é fundamental.


Imagem: reprodução

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U

m palhaço trabalha para a nossa diversão. Como é um palhaço dentro de casa? Fora dos palcos, um ser humano comum. Sua maquiagem não o torna imune aos sentimentos. Eles sonham, sofrem e amam como todo mundo. Palhaços também têm coração. Sobre a vida caseira de um palhaço, com todos os seus vícios e ofícios, baseia-se a filmografia de Darren Aronofsky. Nascido em 1969 e criado nas entranhas nova-iorquinas, o diretor de filmes como Noé (2014), 26 | zint.online

Cisne Negro (2010) e Réquiem para um Sonho (2000) começou sua carreira no cinema relativamente novo. Aos 30 anos, com seu primeiro longa-metragem intitulado Pi (ou, mais apropriadamente, π), recebeu o prêmio de melhor diretor no prestigiado Festival de Sundance, atraindo olhares de grandes estúdios e produtores. De maneira fulminante, Aronofsky abdicava de suas pretensões na pesquisa científica para se consagrar na sétima arte. Formado em Antropologia e Estudos Sociais na Universidade de Harvard, Darren Aronofsky começou a trabalhar com cinema no começo da década de 90. Seu curta-metragem, Supermarket Sweep, lançado em 1991, chamou a atenção de produtores do


Giulio Bonanno

Os vícios e ofícios de Aronofsky circuito regional para a elaboração de um longa-metragem, concluído sete anos depois. π foi financiado por meio de uma vaquinha entre familiares, amigos e colegas. O projeto, orçado em 60 mil dólares, rendeu alguns milhões que foram distribuídos aos colaboradores. Além disso, π foi, aparentemente, o primeiro filme disponibilizado legalmente para download, ainda nos tempos obscuros da internet discada. Os artefatos e as referências não negam: π, como muitas obras da virada do milênio, é um cyberpunk; gênero conhecido por retratar os efeitos de nossa imersão em um mundo de tecnologia desenfreada conduzindo colapsos internos e sociais. A ambientação do filme restringe-se quase totalmente ao pequeno condomínio em que, num de seus apartamentos, mora um matemático obsessivo na busca por padrões que regem o universo. É um insano querendo escapar da rede tecida pelo senso comum. Ao seu redor,

respiram pessoas enfeitiçadas pela miragem de um sistema. Como disse o crítico Roger Ebert à época do lançamento: “π é um estudo sobre a loucura e sua parceira, a genialidade”. Tão binário quanto à linguagem das máquinas é a percepção que os coadjuvantes (e nós) alimentamos sobre o lunático Max. Réquiem para um Sonho foi o trabalho seguinte. Com verba e prestígio, aliado a um elenco competente (incluindo o ainda inexperiente Jared Leto e a oscarizada Ellen Burstyn), o cineasta alçou voos ainda maiores com uma obra excessiva, incômoda e visceral. Popularizando a hip hop montage – em que os cortes são tão rápidos e ritmados que moldam o som diegético a uma função musical – o diretor ganhou a admiração de vários entusiastas ao redor do mundo, bem como passou a ditar tendências. Filmes sobre drogas ainda são um tabu. Representar adictos requer cuidados que vão além da lógica Mickey Rourke e Marisa Tomei em “O Lutador”


narrativa. São, acima de tudo, seres humanos que buscam preencher um vazio existencial. A marginalização, a violência e a deturpação física e moral decorrente são frutos do meio. A maneira como a comunidade enxerga e lida com viciados revela muito as falhas de si mesma. Réquiem para um Sonho é, por definição, um funeral para as aspirações ingênuas, cada vez mais dependente das frias burocracias que constituem uma apática ideia de sociedade. Ganhando cada vez mais notoriedade, Aronofsky não deixou de acumular novas ambições. Em 2006, seu filme mais enigmático tomou forma. Fonte da Vida, estrelado por Hugh Jackman e Rachel Weisz, não obteve o mesmo sucesso de público e crítica. Trabalhando em cima de uma temática esotérica e existencialista, o filme teve problemas de produção, trocas de elenco e refinanciamentos. Com muita persistência, adquiriu consistência cinematográfica e entrou em cartaz. Artigos ainda hoje pipocam na internet buscando reconhecer o valor de Fonte de Vida enquanto dissecam sua nada fácil narrativa. De maneira semelhante, Noé, lançado em 2014, dividiu o público como poucos filmes fazem atualmente. O personagem bíblico sempre instigou o diretor. Criado por uma família judia, Darren Aronofsky se considera ateu, porém é um estudioso de temas religiosos que permearam tanto π quanto Fonte da Vida. Sua representação do construtor da arca, encarnada na pele de Russell Crowe, fugia de paradigmas pretéritos. Contemplamos aqui a luta de um homem incompreendido, amparado somente por ambíguas noções do mundo que o cerca, incluindo sua família, seus antepassados e sua missão divina... Para conquistar apoio e realizar essa sonhada superprodução, foi importante a indicação ao Oscar de Melhor Diretor. Voltemos para 2010, quando Cisne Negro estreou no Festival de Veneza e conquistou grande interesse da mídia. Abordando a trajetória de uma bailarina (Natalie Portman) rumo à triunfante apresentação de O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, o filme novamente mergulha na mente psicótica de seu protagonista. Originalmente, a história da bailarina Nina deveria ter sido apresentada ao lado a do lutador de luta livre, Randy. Quis o destino que cada um ganhasse seu próprio filme. Cisne Negro veio depois, fazendo maior sucesso e ganhando alguns prêmios importantes. O esquecido – porém aclamado – O Lutador, estrelando Mickey Rourke, chegou discretamente em 2008 e consolidou de uma vez por todas o talento

de seu diretor. Randy é um resquício de ser humano. Seus tempos de glória já se foram. Vive num trailer, trabalha meio período na área de frios de um supermercado e, eventualmente, participa de lutas na cidade. Elas não são como antigamente. Servem mais para agradar antigos fãs, assim como sessões de autógrafos ou vendas de acessórios raros. Eles não ligam muito para o que se passa por trás daquela pele cheia de cicatrizes. Sua vida, movida pela atmosfera dos ringues, precisa de ressignificações. Catalisado por um problema de saúde e pela amizade com uma adorável stripper (Marisa Tomei), Randy busca aproximar-se de sua filha, sua única âncora afetiva com o mundo exterior. A inspiração para a história de Randy foi exatamente a figura do palhaço, mencionada no parágrafo inicial. Especificamente, a música de Charles Mingus, lançada em 1957, onde somos apresentados impiedosamente à tragédia de um palhaço. Jean Shepherd nos conta como uma pessoa que começa a perceber diferente o mundo a sua volta começa uma batalha contra si própria. Vivemos acorrentados aos julgamentos alheios. Precisamos ser bem sucedidos e acolhidos. Quando isso não acontece, de que serve o mundo e as pessoas que nele habitam? Podemos estender tal questionamento à filmografia de Aronofsky. Suas técnicas de direção não escondem uma admiração pela psique humana: seu funcionamento inato e suas transformações. Closes, planos fechadíssimos que vão de encontro aos travellings intimistas – a maioria deles retratando as costas do personagem; plongées durante o banho; split-screen no pós-sexo; muita câmera na mão. Essas e outras técnicas compõem o rol de planos que caracterizam as obras do diretor. Suas influências são várias: de Terry Gilliam à Hitchcock, de Polanski à Kurosawa, ou de Fellini ao animador Satoshi Kon (cuja obra, Perfect Blue, serviu de base criativa nas composições de Cisne Negro). Apreciar o cinema de Aronofsky nos apresenta razões formidáveis para seguir aprendendo não só sobre a sétima arte, como também sobre a natureza humana. É um estudo ininterrupto a respeito de como entendemos o mundo e como este nos entende. Em 21 de setembro de 2017, Mãe!, seu mais novo trabalho estrelando Jennifer Lawrence e Javier Barden, chegará aos cinemas brasileiros. Uma oportunidade a mais para conferir as facetas de um palhaço que existe em todos nós e que o cineasta não cansa de ressaltar.



A guerra por um olhar intimista JoĂŁo Dicker


A

s guerras históricas são temas extremamente recorrentes no cinema hollywoodiano. Confrontos como a Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietnã e a Guerra Fria ja foram exploradas como contextualização histórica para diversas tramas dos mais variados gêneros. Recentemente, pode-se dizer que existe uma produção marcada por características "pos-11 de setembro" no cinema norte americano, trabalhando conflitos armados e geopolíticos embasados pela missão de combate ao terrorismo adotado pelos Estados Unidos, após o atentado. Filmes como Guerra ao Terror (2008) e Sniper Americano (2014) escolheram retratar A Guerra do Iraque por meio de representações grandiosas recheadas de explosões, computação gráfica e sequencias de combate militar épicas, além dos subtextos que, juízos de valor a parte, são carregados de nacionalismos e patriotismos. Na contra mão, Na Mira do Atirador (2017), filme dirigido por Doug Liman (Identidade Bourne; No Limite do Amanhã) e produzido pela Amazon, retrata o conflito geopolítico por uma ótica intimista e ambígua. Situado em 2007, já no final da Guerra do Iraque, acompanhamos dois soldados americanos - vividos por Aaron Taylor-Johnson e John Cena - investigando um aparente massacre de funcionários na construção de um oleoduto do meio do deserto iraquiano. Em poucos minutos, os combatentes americanos se vêem encurralados por um misterioso e preciso sniper inimigo disposto a aumentar seu número de mortos. A única proteção existente é um muro prestes a desmoronar, que inclusive dá nome ao título original do longa (The Wall). A premissa simples do roteiro de Dwain Worrell até pondera questões interessantes sobre o conflito contextual da obra, mas o faz de forma rasa. Existem algumas ponderações sutis como a presença dos soldados no Iraque mesmo com o fim da guerra declarado; no diálogo em que o antagonista questiona o protagonista quanto o objetivo dos EUA em atuar no país árabe; o fato de o sniper ter sido treinado pelo exercito americano ou nas características visíveis que o personagem principal apresenta (variando entre o caipira americano e o militar patriotista). Contudo, nenhuma delas são demasiadamente problematizadas, funcionando apenas como linhas de diálogo para interação e melhoria do drama apresentado. A superficialidade temática não atrapalha a narrativa, que é muito bem trabalhada e compassada nas mãos de Liman. O diretor se esmera na construção de suspense e ritmo, ditando um jogo psicológico

interessante e instigante entre o soldado de Taylor-Johnson e o sniper inimigo. Com jogos de câmera pouco convencionais para o gênero e trabalhando com planos mais longos, o diretor transforma a jornada dos soldados em uma história de sobrevivência, conseguindo estabelecer a presença do antagonista quase como sobrenatural, em uma onipresença perigosa. Ainda, Liman demonstra um controle do espaço muito apurado, utilizando do cenário árido e de suas características naturais para agregar à tensão narrativa, ao mesmo tempo que trabalha bem a trilha sonora, ou a falta dela, na construção de suspense. Taylor-Johnson tem um papel fundamental para a eficiência do longa, garantindo veracidade e emoção a seu personagem. O ator transita bem entre a dor física dos ferimentos e o cansaço psicológico, a entrega emocional e angústia pela sobrevivência, além das marcas do passado que passam a vir a tona com o desenvolvimento do enredo. John Cena surpreende vivendo um soldado carismático e envolvente, em um papel muito mais contido e sério do que nos outros projetos que participou, garantindo presença de tela em pouco tempo de projeção. Com um desfecho interessante, Na Mira do Atirador se garante como um bom filme de guerra, que apesar de não aprofundar as temáticas que se propõem a apontar, é sustentado por atuações precisas de seu enxuto elenco e por um trabalho de direção extremamente competente de seu diretor. zint.online | 31



quadrinhos


Fora da Matrix: a poĂŠtica narrativa dos quadrinhos Roberto Barcelos


D

eterminadas histórias precisam de técnicas específicas para ganhar forma e narrativa, pois, nem sempre, modelos mais convencionais são capazes de sintetizar o que o autor quer transmitir para os seus leitores. O romance gráfico Pílulas Azuis (2001) surgiu com essa necessidade, quando o quadrinista suíço Frederik Peeters escreveu sobre a sua própria história após enxergar a necessidade de contá-la. A obra foi vencedora do prêmio Polish Jury Prize no festival de quadrinhos Angoulême, na França. Autobiográfico, o romance narra o encontro de Frederik com Cati, uma garota que a princípio chamou sua atenção, mas acabaram se desencontrando durante os caminhos inexatos propostos pela vida. Poucas vezes, por coincidência ou não, eles se encontraram em outros momentos e Frederik descobria detalhes novos sobre quem ela é e seus desafios. Contudo, a história entra no avesso quando a perspectiva deixa de ser aberta e passa a ser intimista, pois o autor e personagem principal descobre que Cati, além de ser mãe solteira, tem HIV e seu filho também é infectado pelo vírus. Mesmo sendo soropositiva, o suíço iniciou um relacionamento com ela cercado de uma rotina metódica para saber lidar com uma doença extremamente estigmatizada. Nesse ponto, o médico que atende Cati e o filho dela abre a porta para uma nova compreensão sobre o que é o HIV e os seus

riscos. Tanto que, muitas vezes, compara a chance de contágio à mesma de cruzar com um rinoceronte branco no centro da cidade. Algo impossível, mas que ainda assim cria inseguranças na mente do casal que tenta compreender como é possível criar uma relação saudável entre os dois. Nesse ponto, a poética é de grande importância para expor os pensamentos que inundam a cabeça do protagonista. Em um momento de complicação, o sexo para os dois sempre foi algo limitado pelo medo do contagio. Como se sempre precisassem de camisas de força para manter a segurança em um momento tão íntimo e comum para qualquer casal, saber das impossibilidades da transmissão do vírus foi como libertar os amantes e trazer a leveza necessária dos quadrinhos. Com desenhos que completam a narrativa escrita, mas também possuem potencial para contar uma história própria em determinados momentos. Aos poucos, Peeters desfaz o nó sobre a vida de quem é soropositivo e todo o tabu, incertezas e inseguranças causadas pela desinformação. A obra do quadrinista é reforçada pela análise íntima que ele cria enquanto dialoga sobre o seu lugar na criação do filho de Cati e como tornar mais leve o relacionamento entre os três. Com uma necessidade natural de tentar entender as nuances da vida, Pílulas Azuis abre um novo diálogo não apenas sobre as pessoas soropositivas, mas de como precisamos ser sensíveis a situação do próximo. zint.online | 35



música


Vinil volta a ser relevante após mais de 30 anos Gabriel Gomide

Número de venda subiu em 10 milhões nos últimos seis anos. De acordo com especialistas do ramo, o mercado de vinil está prestes a se tornar um negócio de um bilhão de dólares


O

vinil foi um tipo de mídia muito cultuada até o final dos anos 80. Aos poucos foi perdendo o espaço para a nova mídia do momento, o CD, que era muito menor, mais prático e, talvez, a sua maior vantagem era que estava livre dos “chiados” tradicionais do vinil. Outras vantagens como poder ouvir o seu disco no carro e poder levar um número considerável de álbuns de um local para outro determinaram o sucesso imediato do CD e fizeram com que as vendas de vinil quase acabassem. Com a propagação da internet surgiram novas formas de se obter músicas. O mais comum eram os downloads de álbuns e músicas que eram colocadas em CD’s e, posteriormente, transferidos para aparelhos de mp3. Até que surgiram os serviços de streaming, permitindo que qualquer pessoa tivesse (e tenha até hoje) acesso a quase todas as músicas do planeta, a qualquer hora e quando desejar. Essa nova mídia mudou drasticamente o jeito das pessoas consumirem música. As antigas lojas de vinil, que se transformaram posteriormente em lojas de discos, foram aos poucos acabando. Não era mais necessária a demanda de tempo, dinheiro e espaço para se ter todas as músicas que apreciava. Essas mudanças para grande parte das pessoas foi um avanço, porém outras se sentiram frustradas por não terem a antiga experiência ao se comprar um álbum. Não se ia mais as lojas para descobrir um artista novo, não se ouviam mais sugestões dos vendedores e colecionadores experientes, nem se apreciava a nova capa do disco e muito menos se tinha acesso às letras e ao pequeno caderno que vinha acompanhado ao álbum. Alguns desses fatores fizeram com que o Vinil retornasse.


Em 2016, as vendas de vinil ultrapassaram a marca de três milhões de unidades vendidas, o maior pico em 25 anos; “Blackstar”, de David Bowie, foi o disco mais vendido do ano (dados de: Official Charts)

Os Números As vendas de álbuns físicos no ano de 2016 chegaram a atingir 27% das vendas de toda a indústria musical mundial, perdendo somente para os serviços de streaming. De acordo com a consultoria Nielsen, que lança um relatório anualmente sobre os números da indústria musical, foram 13,1 milhões de vinis vendidos no último ano, com um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Para exemplificar melhor o aumento considerável da venda do vinil é só verificar os dados de 2010, no qual o número não passava de 3 milhões. É possível averiguar o aumento desse mercado a medida em que várias fábricas que produziam vinis foram reabertas devido a euforia diante ao aumento expressivo das vendas nos últimos anos. Um exemplo disso é a Tuff Gong Records, que foi responsável por lançar os álbuns de Bob Marley e torná-lo mundialmente reconhecido. Depois de anos sem fabricar vinil, a gravadora voltou a apostar no mercado dos LP’s. A Sony também anunciou sua volta ao mercado 40 | zint.online

após 30 anos sem produzir nenhum vinil. Ainda, de acordo com o relatório Nielsen, é possível verificar a diferença do público que consome vinil e dos que ouvem música por streaming. Os álbuns digitais mais vendidos são lançamentos predominantemente do gênero pop. Já no ramo do vinil, há uma maior variedade de gêneros e também de data de lançamento entre os mais vendidos. Até a metade do ano de 2017, o álbum mais vendido foi o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, com aproximadamente 39 mil copias vendidas, seguido das trilhas sonoras dos filmes La La Land (2016), com 33 mil, e Guardiões da Galáxia (2014), com 30 mil. Porém somente o último aparece entre os 10 mais vendidos, tanto em mídia digital quanto em vinil. Por que o Vinil Voltou? De acordo com José Márcio Mourão, dono de loja de vinil em Belo Horizonte, as vendas estão aumentando gradativamente a cada dia e devem ter


dobrado nos últimos cinco anos. A explicação do empreendedor é que os jovens, que nem eram da época do vinil, estão se interessando muito. Por não terem tido a experiência na época, eles acabam se interessando pelo processo manual de se ouvir um LP, explica. "O manuseio, o cuidado ao limpar o disco antes de colocá-lo na vitrola, associado ao prazer de acompanhar o encarte enquanto se ouve a música é uma sensação muito boa, que só o vinil pode te dar, e é isso que eles procuram", afirmou José. José Márcio também justifica o aumento da venda pela qualidade sonora de um vinil comparada às de arquivos no formato mp3. “Se você coloca 300 músicas em um CD ou Pen Drive, obviamente a música vai perder qualidade”, disse. Por outro lado, o vinil preserva as características naturais das composições, uma vez que as gravações são feitas em alta qualidade e sem a compressão de arquivos. Ainda, ele acredita que as próprias lojas são um grande atrativo para os consumidores, “Mesmo que não comprem nada, muita gente entra na loja somente para folhear os LPs, isso acontece pois sempre há música boa na loja e eles podem ficar o tempo que quiserem olhando as capas dos álbuns”, conclui. Os aparelhos toca-discos presentes no mercado

atualmente combinam saudosismo com modernidade, um design vintage com o desenvolvimento tecnológico, agulhas para tocarem os LPs e entradas USB e pendrive. Os preços médios dos aparelhos varia entre R$500 e R$ 4 mil, com sites como Submarino, Americanas, Saraiva e Fnac oferecendo diversas opções com preços variados. Relançamento de Álbuns

Ao perceber o fenômeno da volta do vinil, diversas gravadoras voltaram a lançar álbuns de sucesso no passado. No âmbito nacional, a Polysom lançou uma linha chamada “Clássicos em Vinil” que relança obras marcantes como "Acabou Chorare” dos Novos Baianos, alguns clássicos de Jorge Ben Jor e outros álbuns relevantes para a música brasileira . Esses LPs foram remasterizados e possuem 180 gramas, sendo assim de melhor qualidade sonora e de maior resistência. Internacionalmente, a discografia inteira dos Beatles, Pink Floyd e Led Zeppelin já foram remasterizadas e lançadas em formato de LP. Outro exemplo disso foram a trilhas sonoras dos filmes Tubarão e Space Jam que também saíram recentemente devido à demanda do mercado.

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Renato Martins

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Basta ser o que se ĂŠ


N

o ano de 2002 o grupo Tribalistas, formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, marcou época com um álbum homônimo que alcançou o primeiro lugar no ranking dos discos mais vendidos no Brasil e em Portugal naquele ano. Além do sucesso comercial, o trio conquistou, também, o público nas rádios. A faixa “Velha Infância” foi a música mais tocada no Brasil na década de 2000. Agora, 17 anos depois, o trio se reuniu novamente e lançou um novo trabalho que, assim como o pri-

meiro, também é denominado Tribalistas. Com 10 músicas (três a menos que o disco de 2002), o grupo manteve sua marca: sons experimentais extraídos de instrumentos inusitados, o contraste entre a voz cristalina de Marisa e o timbre cavernoso de Antunes, o beat-box de Brown e toda a aura lúdica característica do trio. O diferencial deste álbum fica a cargo de duas músicas que refletem bem o momento atual. Se no primeiro Tribalistas, o disco pairava no universo criativo dos músicos, dessa vez ele esbarra na dura realidade com as canções “Diáspora” e “Lutar e Vencer”. A primeira trata da questão dos refugiados e imigrantes e tem citações pontuais dos poetas Castro Alves e Sousândrade declamadas com o peso da voz de Arnaldo. A segunda, com tom engajado, faz referência aos movimentos populares, como a ocupação das escolas secundárias que, inclusive, receberam o apoio de Marisa no ano passado. Outra novidade é a participação da cantora portuguesa Carminho, repetindo a presença de um não integrante do trio no disco, como foi a presença de Margareth Meneses na faixa "Passe em Casa", do primeiro disco. Já parceira de Marisa Monte em outros álbuns, a cantora lusa empresta à faixa “Os Peixinhos” com sua voz carregada de sotaque e emoção, dando intensidade à música, mas sem deixar que esta perca sua pureza infantil. Ainda, as composições em que Brown e Marisa não dominam todos instrumentos contam com o impecável apoio musical do baixista Dadi Carvalho, do guitarrista Pedro Baby e do versátil instrumentista Pretinho da Serra. Se o sucesso dos Tribalistas deu-se graças a uma fórmula específica, não se pode afirmar. O que fica claro é que Tribalistas (2017) é uma continuação de Tribalistas (2002). E dessa sequência extrai-se a certeza de que quando o talentoso trio se junta, a garantia é um trabalho autêntico e lindo.



Não haverá mais explicação, apenas reputação Como uma das maiores pop stars do mundo e assunto preferido da mídia pretende recuperar o controle da sua imagem

S

em notícias de envolvimento com abuso de álcool, drogas e problemas com a polícia, Taylor Swift passou a maior parte dos seus dez anos de carreira longe de escândalos. Com exceção de alguns episódios. O primeiro, e provavelmente o mais memorável deles, aconteceu no Video Music Awards de 2009, quando o rapper Kanye West invadiu o palco da premiação enquanto a então estrela country recebia o prêmio de Vídeo do Ano. West tomou o microfone de sua mão e afirmou que quem merecia aquele prêmio era Beyoncé. Naquele momento, é bem improvável que ambos tenham tido noção de que aquela situação seria um momento definitivo de suas carreiras. As críticas a atitude de West nunca cessaram, contribuindo para a imagem polêmica que o rapper mantém até hoje. Por outro lado, Taylor escreveu uma música perdoando Kanye (a faixa Inocent, do seu terceiro álbum Speak Now) e,aparentemente, seguiu em frente. Por muito tempo o comportamento da jovem cantora foi visto como exemplar, contrastando com a maioria dos artistas de sua idade. A imagem de princesa do country passou a acompanhar Swift, tanto por seu enorme sucesso na música, quanto por seu estilo. Suas canções que falavam, em sua maioria, sobre as suas experiências amorosas, renderam a ela os maiores prêmios da indústria musical.

Stephanie Torres

E então, Taylor começou a ficar conhecida por seus relacionamentos com outros famosos, como o cantor John Mayer e o ator Taylor Lautner. Logo, a mídia e o público começaram a criticar a grande quantidade de ex-namorados da cantora e como ela os usava como tema para suas composições. Em 2014, Swift deu um importante passo na sua carreira ao lançar o seu álbum 1989, que deixou para trás o estilo country e marcou a oficialização de sua entrada na música pop. Foi nesse período também que a imagem dela foi completamente modificada na mídia. A inocente e doce Taylor deu lugar a uma mulher polêmica, que se envolveu em desentendimentos com vários outros famosos. A cantora Katy Perry, a rapper Nicki Minaj, a socialite Kim Kardashian e até mesmo Kanye West (de novo), protagonizaram barracos com a cantora nas manchetes. Além disso, ela ainda entrou em embate com os cada vez mais populares serviços de streaming, uma vez que, mesmo sendo uma das artistas mais bem pagas do mundo, ela não achava justa a forma como essas empresas retinham a maior parte do lucro. A capacidade de Taylor de transformar suas experiências pessoais em música e suas estratégias de marketing garantiram que ela continuasse no topo das paradas, batesse recordes e conquistasse ainda mais prêmios. Porém, quanto mais tentava salvar sua imagem, mais criticas recebia e mais haters ganhava. zint.online | 45


Taylor Swift então decidiu descansar a sua imagem. Após finalizar a turnê de seu último álbum, a artista resolveu se retirar da vida pública, diminuir o uso de suas redes sociais e praticamente não dar mais a mídia motivo para falar dela. O que é claro, não aconteceu. Quando você é uma das pessoas mais famosas do mundo, sempre terão o que falar de você. Mas a cantora deixou que falassem. Então, após alguns meses de completo silêncio, na manhã de uma sexta-feira todo o conteúdo de todas as redes sociais de Taylor foi apagado. Apenas isso fez com que ela se tornasse um dos assuntos mais comentados do Twitter em poucos minutos e o lan46 | zint.online

çamento de seu próximo álbum, depois de três anos de pausa, começasse a ser especulado. Alguns dias depois o esperado álbum foi confirmado: no dia 10 de novembro Swift lançará Reputation. O nome, junto com os vídeos de divulgação que mostrava a imagem de uma cobra (apelido que a cantora ganhou devido as suas inúmeras polêmicas) deixaram claro para os fãs – e até para os não tão fãs assim – o conceito que essa nova era de sua carreira pretende trazer: a reputação que a artista recebeu nos últimos anos. O primeiro single do álbum confirmou o que se suspeitava. Na música Look What You Made Me


Do (“Olha o Que Você Me Fez Fazer”, em português) a artista declara que “a velha Taylor não pode atender ao telefone”. E o motivo? “Porque ela está morta”. Na faixa, a nova Taylor assume sua imagem de vingativa e promete fazer com que quem a atacou receba o que mereça. A música chegou ao topo do iTunes em 30 minutos, batendo o recorde de música mais rápida a alcançar a posição. Além disso, teve a estreia com maior número de execuções diárias na história do Spotify mundial e maior número de reproduções nas rádios americanas. #LWYMMDMusicVideo

Se a letra de Look What You Made Me Do já dava a entender que Taylor assumirá a imagem repercutida pela mídia, o clipe deixou claro. Dirigido por Joseph Khan (que já trabalhou com nomes como Britney Spears, Lady Gaga e Mariah Carey) o vídeo é construído inteiramente com referências a criticas que sua protagonista recebeu durante a carreira. Logo no início vemos um cemitério, com uma lápide onde está escrito “Aqui jaz a reputação de Taylor Swift”. Uma Taylor zumbi sai da cova usando o mesmo vestido que a artista vestiu no clipe de Out Of The Woods, o último lançado por ela e responsável por encerrar sua "era" anterior, indicando que tudo que ela fez até ali estava enterrado. Enquanto a versão zumbi da artista canta os primeiros versos da música, vemos uma lápide com o nome Nils Sjöberg, pseudônimo usado pela compositora pra escrever a canção This Is What You Came For, de seu ex-namorado Calvin Harris. Após o término do relacionamento, a equipe de Swift divulgou que ela era o nome por trás da música, o que irritou o DJ britânico, que usou seu Twitter para declarar sua decepção com a atitude da ex. Antes de deixar o cemitério, a estrela aparece “viva”, sendo enterrada vestindo o vestido de Oscar De la Renta que usou no MET Gala de 2014, no início de sua era na música pop (mesma época em que as polêmicas com seu nome começaram a se intensificar). Na cena seguinte, Taylor aparece deitada em uma banheira de diamantes, fazendo referência a uma declaração dela própria, quando disse ter a impressão de que as pessoas a viam como alguém que chora suas mágoas em uma banheira de diamantes. Junto com as pedras preciosas, há uma única nota de um dólar, uma lembrança do processo de abuso sexual que Taylor participou meses atrás. O homem que foi condenado como seu agressor pedia uma

indenização milionária por ter perdido seu emprego após a denúncia de Swift. Ela venceu o caso e recebeu indenização de apenas um dólar. Taylor então aparece sentada em um trono, cercada por cobras, como se fosse a rainha delas. A relação da loira com o réptil começou por conta do segundo capítulo da saga Kanye West, que também contou com a participação de sua esposa, Kim Kardashian. Em 2016, West lançou o álbum The Life Of Pablo, que conta com a faixa Famous. Na música, ele canta "I feel like me and Taylor might still have sex/ Why? I made that bitch famous" (em tradução literal "Eu sinto que eu e a Taylor ainda devemos fazer sexo/ Por que? Eu fiz aquela vadia famosa"). O trecho é uma clara referência ao episódio do VMA. O artista sugere que merece créditos (e sexo) por toda a fama alcançada pela pop star depois daquilo. Após o lançamento e a repercussão, o rapper afirmou que teve permissão de Swift para lançar a música, mas a equipe da cantora disse que isso não havia ocorrido. Em resposta, a esposa de West divulgou em seu Snapchat um vídeo que mostrava o áudio de uma ligação telefônica entre seu marido e Taylor. Ele lê o trecho "acho que eu e Taylor ainda devemos fazer sexo" e ela concorda que ele o coloque na música. Após o ocorrido, Kim publicou um tweet, fazendo com que, minutos depois, as redes sociais de


Taylor fossem inundadas de comentários com emojis de cobra. Outra referência do videoclipe da nova música se encontra na sala do trono, onde vemos várias vezes a inscrição em latim “et tu brute”, ou seja, “até tu, Brutus?”. A expressão se refere a célebre cena da peça Júlio César, de Shakespeare, quando o Imperador é assassinado por seu amigo Brutus com uma facada nas costas. A sugestão aqui é de que Taylor não foi atacada somente pela mídia e por seus inimigos, mas também pelas pessoas em quem ela confiava (seus amigos e namorados, possivelmente). Em seguida a cantora aparece sofrendo um acidente de carro. O Maserati que ela dirige colide com um poste (uma possível referência a música Red, do álbum de mesmo nome, que começa com o trecho "Loving him is like driving a new Maserati down a dead-end street" (em tradução literal: "Amá-lo era como dirigir um Maserati novo em uma rua sem saída”). Assim que a batida acontece, vários paparazzis a cercam e ela começa a posar para fotos com um Grammy na mão, mostrando que o acidente se tratava de uma armação para chamar atenção. Taylor aqui debocha das críticas de que ela manipula os acontecimentos de sua vida (não tão) privada para chamar atenção para suas músicas. Uma outra interpretação para a cena do acidente vem da similaridade da caracterização de Taylor com a também cantora Katy Perry. As duas tem uma rixa declarada desde que Swift lançou a canção Bad Blood, afirmando que se tratava de uma resposta para uma 48 | zint.online

artista que tentou sabotar sua turnê. Na mesma época, circularam notícias de que Katy contratou alguns dançarinos de Taylor sem entrar em contato com ela. O leopardo que aparece dentro do carro remete ao single Roar, de Katy Perry. Nessa interpretação, o gramofone dourado seria uma provocação, uma vez que Perry é conhecida por já ter sido indicada ao prêmio muitas vezes mas nunca ter ganhado, enquanto


Swift já foi vencedora dez vezes até então. Na cena seguinte vemos artista dentro de uma gaiola gigante vestindo laranja, justamente a cor do macacão dos presidiários nos Estados Unidos, funcionando como uma possível referência a falta de liberdade que a fama gera. Logo depois, vemos um cofre sendo assaltado por uma gangue usando máscaras de gatinhos. A líder do grupo obviamente é Taylor, que aparece queimando um monte de dinheiro em determinado momento. O cofre pertence a uma empresa fictícia chamada Stream Co., remetendo às críticas que ela recebeu quando tomou a decisão de tirar todas as suas músicas dos serviços de streaming, como o Spotify, por acreditar que eles não pagavam aos artistas o que seria justo pelo trabalho criativo que tem. Porém, por já ser uma das artistas mais bem pagas do mundo, Swift ganhou sua fama de mercenária por essa atitude. As cenas das motos em seguida parecem ser uma referência ao processo da companhia de roupas Blue Sphere contra a cantora pelo uso da expressão “lucky 13”, mesmo nome de uma de suas marcas de roupa, em camisetas dela. O estilo da Lucky 13 é mais rockabilly/biker, por isso esse visual. Depois desse processo, Taylor começou a registrar expressões que queria usar em merchandising, o que fez com que ela mais uma vez fosse criticada por tentar capitalizar tudo. No final do vídeo, as motos se transformam em

dinheiro. A sequência seguinte mostra Taylor em posição de ditadora em frente a um esquadrão de bonecas de plástico, representando as críticas que ela recebeu por seu grupo de amigas nos últimos anos, formado em sua maioria por modelos e outras artistas famosas, que supostamente eram comandadas pela cantora. No final, as bonecas aparecem destruídas, indicando que seu famoso “squad” já se tornou passado. Então, a cantora adentra uma sala e começa a dançar com oito dançarinos em formação. O número de dançarinos é o mesmo de ex-namorados famosos que ela teve (Joe Jonas, Taylor Lautner, John Mayer, Jake Gyllenhaal, Conor Kannedy, Harry Styles, Calvin Harris e Tom Hiddleston). Todos eles usam uma blusa escrito “I♥ TS”. O ator Tom Hiddleston, ex mais recente de Taylor, foi fotografado com uma blusa com os mesmos dizeres na época em que estavam juntos. Depois, vemos a representação da “nova Taylor” com todas as “velhas Taylors” brigando a seus pés. Enquanto a do topo usa uma roupa preta fazendo referência ao título do novo álbum, as outras estão caracterizadas com looks já utilizados por ela em diversos momentos da sua carreira: figurinos de shows, clipes, vestidos usados em premiações e aparições públicas. Todas tentam atingir o topo onde a nova Taylor está, até que acabam, finalmente sendo,


derrubadas, indicando a superioridade da nova era. A música acaba e então temos uma cena com 15 representações da artista (uma provável referência as 15 faixas de Reputation) enfileiradas em frente a um avião. Elas começam a falar uma das outras, repetindo críticas que a cantora já recebeu como “Pare de fazer essa cara de surpresa, é tão irritante. Você não pode estar tão surpresa o tempo todo” e “Pare de fingir que você é tão boazinha, você é tão falsa”. Uma Taylor

começa a chorar e outra declara “Lá vai ela, se fazendo de vítima. De novo!”. Quando uma versão da artista se refere a outra como vadia, ela se irrita e grita “Não me chame disso!”, lembrando a polêmica da letra de Famous. Por fim, uma Taylor vestida com o mesmo vestido usado no VMA que Kanye West a interrompeu, aparece com o prêmio na mão e um microfone falando a frase final de sua declaração contra Kanye e Kim “Eu gostaria de ser excluída dessa narrativa...” e


então todas as outras gritam “Cala boca!” O clipe de Look What You Made Me Do teve 38.916.434 visualizações em seu primeiro dia, batendo o recorde de vídeo mais assistido nas primeiras 24 horas no Vevo (o anterior era Hello, de Adele, com 27,7 milhões de visualizações) e vídeo mais visto em 24 horas da história (que antes era do clipe de Gentleman do coreano PSY, com 38.409.306 de visualizações), feito que garantiu

a presença de Taylor no Guinness Book. E este parece ser o primeiro capítulo de Taylor Swift assumindo, novamente, o controle de sua imagem, mostrando não só que está ciente das críticas que recebe, mas também incorporando-as a sua arte. Reputation chega às lojas e serviços de streaming (parece que Taylor fez as pazes com eles, afinal) no dia 10 de novembro, permitindo, então, que acompanhemos o resto dessa história.


CAPA

GAME OF THRONES ESPECIAL



Fan service, dinamismo e problemas narrativos * O texto contém spoilers.

João Dicker

R

efletir sobre o caminho tomado pelos showrunners de Game of Thrones é muito interessante. Após seis temporadas muito bem produzidas e constantes, no que diz respeito a qualidade narrativa e de entretenimento, os produtores do maior fenômeno televisivo dos últimos 10 anos anunciaram que o final da série viria em seu oitavo ano. É claro que David Benioff e D.B. Weiss não são os únicos responsáveis pela qualidade narrativa de GoT, visto que fazem um trabalho de adaptação dos excelentes livros de George R.R. Martin, mas é necessário dizer que a escolha criativa dos produtores em reduzir o número de episódios para os dois últimos anos foi, ao mesmo tempo, ousada, correta e problemática.

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Uma das principais controvérsias quanto a Game of Thrones sempre foi a grande quantidade de personagens e tramas diferentes. Ora interligadas, ora separadas por quilômetros de distância, os telespectadores já foram obrigados a acompanhar arcos que não contribuíram para o enredo maior da série. Era extremamente comum que uma

trama fosse iniciada em um episódio e demorasse outros seis para ser resolvida ou, porque não, uma temporada inteira. Em seu sexto ano, a aclamada série da HBO cortou tramas secundárias e acelerou em suas principais, dando um grande passo para o seu final. Agora, com o lançamento da sétima temporada, o avanço no ritmo da narrativa foi maior ainda, acelerando os acontecimentos e o desenvolvimento da trama de forma nunca antes vista na série. Aqui, tornou-se


clara a consequência que o corte de episódios acarretou para o storytelling do novo ano, tanto positivamente quanto de forma negativa. Se por um lado os fãs puderam ver alguns encontros de personagens desejados à temporadas, também houveram falhas na construção destes encontros ou de arcos dramáticos para

alguns personagens importantes. Por outro lado, Benioff e Weiss conscientemente optaram por ignorar a verossimilhança temporal e cro-



nológica na série. Se as primeiras temporadas de Game of Thrones tinham como cenários e ambientações os exércitos marchando para guerras, travessias longínquas e viagens recheadas de diálogos morosos, o sétimo ano apresentou uma pungência única e nova para a série. Se algum personagem declarava guerra em um episódio, o encontro armado ocorria naquele mesmo capítulo; enquanto se um plano era arquitetado em uma cena, ele era realizado duas adiante. É claro que está mudança exigiu uma suspensão de descrença maior do espectador, principalmente por se tratar de uma série que em suas primeiras temporadas valorizou a passagem do tempo para aprofundar personagens. Em seu penúltimo ano, os personagens já atingiram um ponto dramático e narrativo de maturidade, criando uma necessidade de conclusão para algumas histórias e personagens pouco relevantes. A morte de Elaria Sand (Indira Varma) e suas Serpentes da Areia ou o esquecimento da Patrulha da Noite na temporada, que deixou de ser interessante com o abandono de Jon (Kit Harington), evidenciam o enfoque dos roteiristas para o que realmente importa. Com isso, a temporada foi focada em pequenos núcleos narrativos: o governo de Cersei (Lena Headey) em Porto Real; a chegada de Daenerys (Emilia Clarke) em Pedra do Dragão e seu preparo para atacar os Lannisters, seguindo os conselhos de Tyrion (Peter Dinklage); a jornada de Jon em busca de ajuda para combater os White Walkers; e o arco de encontro dos jovens Starks em Winterfell, transformados pelas situações vividas por cada um. De modo geral, torna-se claro que a narrativa tem se dividido em duas frentes: uma batalha pela vida (personificada no arco de Jon Snow em convencer os outros monarcas de Westeros a ajuda-lo na luta contra o Rei da Noite) e a batalha pelo trono (principalmente construída no jogo político e de guerra de Daenerys e Cersei). Com histórias coesas e bem controladas, o roteiro da série nunca apresentou problemas muito graves ao longo dos outros seis anos, mas com a evidente pressa e necessidade de avanço no enredo, o texto da sétima temporada se mostrou muito problemático. A grande maioria das falhas se resumem ou a atitudes pontuais de alguns personagens, mas que acabam por descaracterizar estes, ou por construções artificiais de alguns encontros e situações, retirando a naturalidade de algo que certamente deveria acontecer. O plano de sequestrar um White Walker para convencer Cersei da urgência da batalha contra o Exercito dos


Mortos, sugerido por Tyrion, é um exemplo de uma atitude estúpida e pouco coerente com o personagem inteligente e calculista que o anão se mostrou ser nas outras temporadas. A falta de um momento ou de uma evidência de dor, sofrimento e luto de Daenerys após a perda de um de seus dragões também vai contra uma das principais características da personagem, que é conhecida por ser "a Mãe dos Dragões". Ainda, o tão aguardado encontro amoroso entre Jon e a Rainha Targaryen não foi bem construído e deixado para uma cena rápida e pouco empática, soando artificial. Um claro momento de um fan service. Por outro lado, o roteiro acertou em introduzir momentos interessante para alguns arcos dramáticos. Nos episódios iniciais, por exemplo, houve uma sugestão de que Daenerys estivesse tomando caminhos muito violentos e radicais em sua política de conquista de Westeros, sugerindo um traço de loucura com o poder eminente; Cersei se mostrou ainda mais maligna e focada na sua sobrevivência ao abrir mão de Jaime (Nikolaj Coster-Waldau); Sansa (Sophie Turner) finalmente se assumiu como uma personagem inteligente para o jogo político, superando a persuasão de Mindinho (Aidan Gillen); Arya (Maisie Williams) demonstrou suas habilidades de batalha em uma ótima cena de luta com Brienne (Gwendoline Christie); Sam (John Bradley) superou sua insegurança e passou a ser um personagem mais maduro e intelectualmente importante para a trama. Ainda, o desenvolvimento do enredo finalmente confirmou a linhagem familiar de Jon, assegurando que o Rei do Norte é um filho legítimo de Lyanna Stark (Aisling Franciosi) e Rhaegar Targaryen (Wilf

Scolding), fato que virá a ser importante na vindoura temporada final. Também, vale apontar como o roteiro se esmera com diálogos fortes e bem escritos, garantindo cenas marcantes entre personagens extremamente secundários, como a conversa entre Lorde Varys (Conleth Hill) e Melisandre (Carice van Houten); Sandor Clegane (Rory McCann) e Beric Dondarrion (Richard Dormer); Bran (Isaac Hempsted Wright) e Mindinho; Jaime e Olenna Tyrell (Diana Rigg); e, claro, os encontros e conversas entre protagonistas como as discussões de Cersei com Tyrion e Jaime no season finale; Jon e Sansa antes do Rei do Norte partir para Pedra do Dragão; e Dany e Tyrion nos momentos de questionamentos dos conselhos do anão. Há, também, o resgate de diálogos passados, que passam a ter novos significados para os personagens e os acontecimentos da série, demonstrando um controle criativo apurado por parte dos roteiristas. Apesar de toda sua inconstância narrativa e textual, o sétimo ano de Game of Thrones tem um balanço positivo. Parte disso se deve aos acertos do roteiro e aos fan services colocados na trama, mas os principais motivos são, sem dúvida alguma, as atuações, a direção dos episódios e a direção de arte. Cada uma das cenas de



ação se faz memorável de alguma forma, seja pela sanguinolência da batalha marítima entre os Greyjoy, pelo excelente jogo de câmera do confronto entre o exército Lannister e Daenerys montada em Drogo, ou pela computação gráfica impecável que a série apresenta ao dar vida aos dragões e aos White Walkers. A redução de episódios, e consequente aumento de orçamento por capítulo, é totalmente justificada com sequências em CGI (computação gráfica) muito melhores que de muito filme blockbuster. A direção dos episódios explorou mais de planos

dracarys

aéreos magníficos para a ambientação da série, ao mesmo tempo que utilizou de planos detalhes para alavancar as excelentes atuações dos atores. Todo o elenco da série merece ser enaltecido, com intérpretes cada vez mais dominantes em seus papeis de protagonistas, como Lena Headey de Cersei, Peter Dinklage de Tyrion, Kit Harington de Jon e Emilia Clarke de Daenerys, assim como aqueles que dão vida a personagens que compõem a narrativa destes arcos principais, mas asseguram holofotes e personalidade para os secundários, como Diana Rigg de


Olenna Tyrell, Rory McCann de Sandor Clegane, Richard Dormer de Beric Dondarrion e Liam Cunningham como Davos. Se a temporada abriu seu primeiro episódio com uma sequência sensacional apresentando Arya Stark, disfarçada de Walder Frey, assassinando os Frey envolvidos no Casamento Vermelho, ela também acabou com um desfecho épico e grandioso: a queda de parte da Muralha graças ao ataque do Rei da Noite com o ressuscitado dragão Viserion. Juntamente com a chegada de neve a Porto Real, fica a promessa

de que a batalha contra o Exército dos Mortos está cada vez mais perto narrativamente, embora muito distante cronologicamente no mundo real, visto que a derradeira temporada estreara somente em 2019 Apesar das falhas de roteiro e de seu ritmo descompensado, o sétimo ano da série entrega tudo aquilo que prometeu nos seis anos antecessores, deixando a expectativa dos fãs cada vez mais alta para o final do fenômeno de cultura pop que Game of Thrones se mostrou ser.



televisĂŁo


A união faz a força? João Dicker

N

a época que a parceria entre Marvel e Netflix foi anunciada, muito foi especulado de qual seria o caminho criativo escolhido para as produções. Depois das confirmações de quais heróis ganhariam suas séries televisivas, as dúvidas residiram na coexistência do universo que viria a ser criado nas telinhas com os filmes consolidados no cinema; e se o tom trabalhado nos longas metragens seria o mesmo das séries do serviço de streaming. Depois de duas temporadas de Demolidor, e uma temporada individual para contar as histórias de Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro, tornou-se claro que o caminho a ser seguido na tv seria mais sério e soturno do que nos cinemas. Entretanto, apesar da diferença de tom, o universo televisivo da Marvel e produzido pela Netflix acabou por ter uma "primeira fase" parecida com do Universo Cinematográfico da Marvel. Assim como nos cinemas, em que os heróis foram apresentados em filmes solos para depois se unirem no filme de equipe d’Os Vingadores (2012), os heróis mais urbanos da televisão também se juntaram para uma aventura em equipe na nova série Os Defensores, que ficou disponível no serviço de streaming no final de agosto. Com isso, alguns dos desafios existentes no primeiro longa dos Vingadores podem ser transferidos 66| zint.online

para a primeira temporada do novo grupo de heróis, como a necessidade de criar uma boa dinâmica de grupo, fazer com que a a série, em si, fosse mais grandiosa do que cada uma das temporadas individuais, assegurar personalidade para todos os quatro personagens, encerrar o arco de cada um deles de forma que haja um caminho a ser seguido para vindouras continuações em temporadas solos, dentre outros. De modo geral, o primeiro ano de Defensores acaba por ser uma produção extremamente conflitante, que devido a um roteiro inconstante e cenas de ação pouco inspirada, não se assume como o encontro grandioso que era esperado. Logicamente, a trama se passa alguns meses após os eventos da primeira temporada de Punho de Ferro e aborda cada um dos quatro protagonistas nas mesmas situações em que os vimos pela última vez (nos finais de cada uma de suas temporadas individuais). Danny Rand (Finn Jones) e sua parceira Collen Wing (Jessica Henwick) estão caçando os membros do Tentáculo ao redor do mundo. Jessica Jones (Krysten Ritter) parece ainda sentir o peso de suas últimas ações em sua série, uma vez que ainda não retornou a trabalhar como investigadora particular. Luke Cage (Mike Colter) termina de cumprir sua pena na prisão, estando apto a "seguir em frente",


e Matt Murdock (Charlie Cox) vai levando sua vida de civil, trabalhando como advogado e tentando se manter afastado da vida de herói para se aproximar daqueles que ama. O roteiro acerta em utilizar dos personagens secundários de cada um dos mundos dos protagonistas para situar o momento vivido, além de reintroduzir o espectador que já assistiu as temporadas anteriores, mas ao mesmo tempo apresenta-los para aqueles que os vêem pela primeira vez. Outro ponto positivo do roteiro é a maneira com que todos os quatro vigilantes entram em contato com o Tentáculo, seguindo motivos diferentes e específicos de suas próprias narrativas, assim como, posteriormente, passam a ter motivações próprias para confrontar a instituição maligna, para só depois se unirem como uma equipe coesa e destinada a impedir que os planos de Alexandra (Sigourney Weaver), líder dos antagonistas, se concretize. Porém, o plano do Tentáculo não fica claro, em momento algum, qual é. Ao longo dos oito episódios, diversos personagem que compõem o alto escalão da grupo antagonista expõe para os heróis ou para o espectador, em diálogos expositivos forçados, diferentes objetivos a serem alcançados. Existe o risco eminente de destruição de Nova York, mas não há um sen-

tido narrativo estabelecido pelo roteiro do porque este risco existe, não por uma reviravolta escondida no texto da série mas por uma falta de controle no desenvolvimento do enredo. Também, vale ressaltar que grande parte da urgência e peso do Tentáculo são graças as excelentes atuações de Elodie Young, como Elektra, Wai Ching Ho, como Madame Gao e da já mencionada Sigourney Weaver. A inconsistência do roteiro se repete, também, quando se trata dos heróis da produção. Além de apresentar os personagens e conecta-los de maneira satisfatória, o texto se sobressai nas cenas de interação entre eles. Seja quando os quatro estão juntos, ou em alguns momentos da trama em que as dinâmicas de dupla são mais presentes, as personalidades bem definidas de Demolidor, como um vigilante perturbado, Jessica Jones, como a sempre sarcástica e descrente investigadora, e Luke Cage, como um herói correto e preocupado com os inocentes, acabam ajudando o personagem repetitivo e maçante que o Punho de Ferro se mostrou ser. Por outro lado, a descrença existente entre cada um deles quanto aos poderes e possibilidades dos outros soa extremamente burra e incoerente. Qual o sentido do Demolidor, um cego com sentidos aguçados graças a um acidente envolvendo materiais




Cox e Krysten Ritter. Ele repete a dramaticidade e perturbação de Matt Murdock, demonstrando ainda mais domínio de seu olhar vazio e desfocado como elemento dramático. Ela entrega uma Jessica Jones menos sofrida e amargurada, mas ainda assim ácida e envolvente. Mike Colter tem uma performance pouco inspirada, mas não é tão incomodo como Finn Jones, que não acompanha a melhora considerável que seu personagem tem, entregando uma atuação exagerada e nada orgânica, tornando a imagem de um herói que segura uma grande força mística dentro de si muito forçada. Mas o principal problema da série se da na sua parte visual. As cenas de ação decepcionam catastroficamente, com movimentos de câmera excessivos e uma montagem baseada na junção de planos curtos

químicos, capaz de lutar artes marciais com perfeição, duvidar dos poderes de força e resistência de um ex-presidiário que fora cobaia de experimentos científicos; ou então deste mesmo personagem ser descrente quanto ao background místico do Punho de Ferro? Vale mencionar que todas estas dúvidas quanto a veracidade do que cada um deles diz em seus primeiros encontros, soa ainda mais descartável quando lembramos que o universo televisivo da Marvel coexiste com o dos filmes, em um mundo que conhece deuses nórdicos, inteligência artificial maligna, e onde a mesma cidade em que os Defensores habitam já foi invadida por aliens no primeiro filme dos Vingadores. O que termina por ajudar a dinâmica de grupo dos protagonistas são as ótimas atuações de Charlie 70| zint.online


artifício burocrático e desrespeitoso com o espectador, que parece ser tratado pela série como incapaz de compreender a decupagem do roteiro, que já é muito óbvia por si só. É triste pensar que a Netflix, uma das produtoras responsáveis por melhorar consideravelmente a linguagem televisiva para séries de ficção, recorreu a um artifício destes. Ao final, Os Defensores é uma série mais genérica do que deveria ser, graças a falta de uma identidade visual e a sequências de ação confusas, além de um roteiro inconstante e raso. O que resta é o acerto da série em construir seus personagens e desenvolve-los ao longo dos oito episódios da nova produção, deixando cada um de seus heróis urbanos prontos para a sequência de suas aventuras, sejam unidos como equipe ou em suas temporadas solos.

com cortes rápidos, que prejudicam a coreografia das lutas, além da baixa iluminação que prejudica a clareza dos embates. Em uma série que conta com personagens que dominam artes marciais, como Demolidor e Punho de Ferro, ver as coreografias de ação serem recheadas de saltos e piruetas, mas pouca visibilidade é triste. A fotografia utiliza de filtros e iluminação com cores muito demarcadas para estabelecer uma identidade visual para cada personagem, principalmente quando aparecem sozinhos, mas tal artifício não acrescenta em nada a narrativa ou a estética da produção. O que incomoda verdadeiramente é a transição narrativa existente, feita com um quê estilístico para mostrar uma passagem rápida do metrô na cor do próximo personagem a aparecer na trama. É um zint.online | 71


O retorno de Dragon Ball para a TV brasileira Um dos animes mais queridos no paĂ­s, chegou Ă televisĂŁo brasileira com direito a especial de duas horas

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Yuri Soares


D

ois anos após estrear no Japão, Dragon Ball Super finalmente chegou à televisão brasileira, com as novas aventuras de Goku e seus amigos. Disponível no serviço de streaming Crunchyroll há alguns meses, o anime desta vez, estreou na TV pelo canal pago Cartoon Network com o elenco de dublagem original da versão brasileira. Os rumores de que Super seria dublado surgiram em maio, mas só no final de julho é que veio a confirmação. O dublador de Goku, Wendel Bezerra, publicou em seu canal no YouTube um vídeo celebrando a volta do anime e junto da colega Tania Gaidarji, responsável por dublar Bulma, contou

alguns detalhes da dublagem da série. Entre os assuntos mais comentados no Twitter, a estreia aconteceu no primeiro sábado de agosto com um especial de duas horas, em que os cinco primeiros episódios foram ao ar no final da tarde e reprisados à noite. Na semana seguinte teve inicio a exibição regular, que acontece de segunda a sexta, ás 15h30, com reprise às 23h. Além disso, o canal transmite uma compilação dos episódios aos sábados, às 23h. Segundo divulgação da Turner, empresa que controla o Cartoon Network, Dragon Ball Super bateu recorde de audiência em sua estreia na TV brasileira. Somando 3.37% de audiência da TV fechada, o anime fez com que o canal fosse o segundo mais zint.online | 73


assistindo. Parece que o sucesso de público agradou a diretoria do canal a cabo que, ao que tudo indica, transmitirá também Dragon Ball Kai: Capítulo Final (Saga Boo). A estreia está prevista para o dia 4 de setembro, às 15h, com reprise às 23h30, fazendo "dobradinha" com Dragon Ball Super nas tardes e noites de segunda a sexta. A nova saga está sendo exibida no Japão desde julho de 2015 na Fuji TV. Produzido pela Toei Animation, é a primeira série da franquia desde Dragon Ball GT, que foi ao ar entre 1996 e 1997. Ao contrário do último, o Super tem participação ativa de Akira Toriyama, criador do universo Dragon Ball, na produção da história e design dos personagens. O anime é a continuação oficial de Dragon Ball Z, após a saga Majin Boo, antes do último episódio, e reconta os acontecimentos dos dois últimos filmes Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses e O Renascimento de Freeza. Da segunda etapa em diante, a série segue enredo original sobre a exploração de outros universos e o ressurgimento de Trunks do Futuro sob a ameaça de um novo inimigo conhecido como Goku Black. Um 74| zint.online

Kaio-shin do Universo 10 chamado Zamasu, que rouba o corpo de Goku em um tempo diferente e o usa como parte de seu plano para alcançar a imortalidade, além de destruir todos os mortais. Mais tarde, com a Terra em período de paz, Zeno, o rei de todos os universos, decide realizar o Torneio do Poder para decidir o destino dos múltiplos universos. Os Guerreiros Z e Freeza se unem como representantes do Universo 7. Se perderem, seu universo inteiro será destruído. Intitulada de Sobrevivência do Universo, essa é a atual saga de Dragon Ball Super, que, recentemente, fez em seu 100º episódio uma referência direta ao filme Os Vingadores (2012). Os episódios do anime estão sendo lançados, junto de algumas correções de animação, em conjuntos de Blu-ray e DVDs japoneses, com 12 episódios cada, desde dezembro. Em julho deste ano foi lançado o primeiro box set ocidental constituído de 13 episódios. No Brasil, ainda não há previsão de lançamento. Na TV Aberta

Os fãs da obra de Akira Toriyama também


podem acompanhar uma de suas animações na TV aberta. O canal Rede Brasil, com vários sinais pelo país e disponível nas operadoras de TV por assinatura, exibe Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z, diariamente, um após o outro, das 20h às 21h. Em fevereiro deste ano, a Rede Brasil decidiu voltar ao início à história dos dois animes que eram transmitidos no canal desde outubro de 2016. A decisão revoltou os fãs e gerou muitas críticas ao canal de televisão nas redes sociais. Atualmente, Dragon Ball Z está sendo exibido na saga Androides e Cell; e Cavaleiros do Zodíaco em Os Cavaleiros Negros. Dragon Ball FighterZ

Em julho veio a divulgação de mais detalhes do game Dragon Ball FighterZ, previsto para ser lançado no início de 2018. A Bandai Namco, produtora do jogo, anunciou que Piccolo e Kulilin se juntarão a Goku, Vegeta, Gohan com 12 anos, Cell, Freeza, Majin Buu e Trunks do Futuro como lutadores do game. Dragon Ball FighterZ surgiu pela primeira vez na Electronic Entertainment Expo - E3 2017. Visualmente, o novo jogo tem uma arte altamente

fiel à série animada de Akira Toriyama e a “estrutura de jogo” é muito parecida com o clássico Marvel VS. Capcom. O game chega às lojas em fevereiro de 2018 para PlayStation 4, Xbox One e PC. No Japão

Além de sua exibição dominical nas manhãs japonesas, Dragon Ball Super terá ainda esse ano um especial de uma hora no dia 8 de outubro. O mesmo acontecerá com One Piece, no dia primeiro do mesmo mês. Alguns sites publicaram que a informação, que veio de um tweet da Yonkou Productions, trata-se de um crossover dos dois animes. Os rumores dizem que serão dois episódios, sem conexão com a narrativa principal dos animes, exibidos em especial de uma hora ou um capítulo por semana. Se confirmado, imagens promocionais devem ser divulgadas em breve. A última vez que Goku e Luffy estiveram juntos foi no crossover Toriko vs One Piece vs Dragon Ball Z, em uma competição que envolvia personagens dos três animes. Os dois protagonistas se encontram também no game de luta J-Stars Victory VS. zint.online | 75


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opinião;

N

a época que a franquia Dragon Ball chegou ao Brasil, em 1996, já era sucesso mundial e por aqui a recepção não poderia ser diferente. Sensação entre os mais jovens, suas séries de anime foram transmitidas nos principais canais de TV aberta do país, brinquedos e demais produtos licenciados foram vendidos aos milhares, além de seus mangás, os mais vendidos em terras tupiniquins, encontrados em bancas e livrarias até hoje. A última história inédita de Goku e seus amigos, nos canais brasileiros, foi ao ar em 2002 com Dragon Ball GT. Desde então o anime dava-se por encerrado e surgia vez ou outra em filmes. Todos estavam conformados com o fim das aventuras do saiyajin. O anuncio de uma nova série era inesperado e, talvez, por isso, sua confirmação foi um boom na internet. Dragon Ball Super, de maneira geral, está tendo boa receptividade no Japão, Brasil e demais países. É fato que no inicio a animação, produzida pela Toei Animation, deixou muito a desejar. O trágico episódio cinco fala por si só. Em entrevista para a revista V-Jump, em janeiro de 2016, Akira Toriyama criticou o passado da saga: "Teve um momento que Dragon Ball se tornou uma coisa do passado para mim mas, depois disso, eu me irritei com o filme live-action e reescrevi o roteiro inteiro e agora estou criticando a qualidade do novo anime para TV. Parece que Dragon Ball cresceu tanto dentro de mim que eu não consigo deixar pra lá". O Super faz jus a franquia e não significa seu fracasso. É importante observar que a atual série tem diferenças de suas antecessoras, mas isso deve-se as circunstâncias do mundo atual. As características clássicas de Dragon Ball estão lá; o que mudou foi a sua recepção, a maneira em como é assistido e comentado.

Quando o primeiro anime de Goku estreou na Terra do Sol Nascente, em 1986, se assistia apenas na TV ou meses depois em fitas VHS. Os comentários restringiam-se as pessoas do seu cotidiano, não existiam fóruns da internet e redes sociais. No Brasil, dez anos depois, a maneira de consumir o anime era a mesma. A internet mudou nossas vidas em diversos aspectos, isso é inquestionável, dentre eles a maneira como consumimos material audiovisual. As possibilidades de assistir um episódio de anime hoje são inúmeras, vão da plataforma de transmissão as muitas maneiras de expressar reações na web. Os comentários na rede são muitos, mas o anime de Toriyama ainda é o mesmo. Os personagens, as batalhas e os furos no enredo são característicos da obra de Akira (x); conhecido por esquecer dos detalhes e até mesmo de personagens. Dragon Ball Super traz as novas aventuras dos guerreiros Z sem deixar de referenciar a obra clássica. Mesmo quando acreditamos que algo é totalmente novo na franquia, como Andróide 17 atacando com o clichê de esperar o adversário fazer sua transformação para depois atacar, lembramos que, no passado, Majin Boo fez o mesmo com Gotenks. Para quem gosta de Goku, Vegeta e companhia, vale a pena acompanhar o Super. Lembre-se que no Japão o anime é transmitido de manhã e, por isso, não verá lutas sangrentas ou Vegeta chamando demais personagens de "vermes desgraçados". A versão dublada finalmente começou a ser exibida no Brasil. Com críticas pontuais à música de abertura, que realmente não ficou boa, e algumas diferenças pequenas nas vozes, o anime segue com qualidade. Esse sucesso aumenta a expectativa de que o mangá, de mesmo nome, em breve chegue as bancas e livrarias brasileiras. zint.online | 77


Stephanie Torres

O fim do Clube das Clones A série que apresentou ao mundo uma das atrizes mais incríveis da geração

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roduzida pela BBC America em parceria com o canal Space, Orphan Black estreou em 2013 e agora, após cinco temporadas, a série canadense chegou ao seu fim. A história começa quando Sarah Manning, uma mãe solteira com histórico de delitos criminais, presencia um suicídio de uma desconhecida idêntica a ela. Para fugir de seus problemas, Sarah assume a identidade da mulher. Porém, ao fazer isso ela acidentalmente se evolve em uma trama muito maior, descobrindo que aquela não era a única pessoa com o rosto igual ao seu. Na verdade, existiam muitas outras cópias delas e pessoas poderosas que não queriam que a verdade fosse descoberta. Mistério, ficção científica e ação se misturam na trama enquanto somos apresentados às clones que, apesar de dividirem o mesmo código genético e a mesma relação com misteriosos responsáveis por elas, foram criadas e vivem em realidades extremamente diferentes, que as levou, também, a ter personalidades completamente distintas. Durante seu desenvolvimento, a série teve seus altos e baixos, se perdendo um pouco no enredo principal, devido aos inúmeros elementos acrescentados a trama, chegando a confundir um pouco o espectador em algumas temporadas. Porém, a dinâmica entre as personagens extremamente cativantes e suas interessantes histórias individuais fazem com que isso seja praticamente ignorado e não prejudique a produção como um todo. Entretanto, o verdadeiro ponto alto de Orphan Black fica por conta da atuação de Tatiana Maslany, que interpreta literalmente a maior parte das personagens fixas da série. Entre toas as clones que passaram pela série, estão a protagonista Sarah, a vilã Rachel e as tão queridas pelo público Alison, Cosima e Helena. Para cada uma, Tatiana entregava uma performance distinta, com sotaques, jeitos e expressões completamente diferentes. Em alguns momentos, inclusive, a atriz interpretava uma personagem se passando por outra, e mesmo assim fazia com que o público automaticamente percebesse a diferença. Em cada um dos 50 episódios da produção, Maslany é capaz de fazer o espectador esquecer que ela é apenas uma pessoa dando vida a todos aqueles clones. E foi assim que ela conquistou o seu merecidíssmo Primetime Emmy Award de Melhor Atriz em Série Dramática em 2016, ficando a frente de atrizes consagradas como Viola Davis e Taraji P. Henson. Em sua última temporada, a série teve o desafio de encerrar as muitas tramas a que deu início, o que em certas ocasiões foi feito de maneira questionável, abusando do uso de diálogos muitos longos e expositivos, que acabaram por desacelerar o ritmo de alguns episódios. Porém, isso foi compensado com episódios finais eletrizantes e uma conclusão focada no lado humano do Clube dos Clones. __________ Spoilers na próxima paágina.



Ainda que na mitologia de Orphan Black apenas cinco irmãs dividiam os arcos protagonistas, a série deu abertura para a existência de diversas outras clones. Algumas foram apresentadas na produção de forma rápida, tendo um final trágico logo em seguida (a exemplo de Beth Childs, a clone que introduz Sarah Manning, de forma involuntária, em toda a clonspiração da trama). Outras apareceram apenas por fotos ou citações ao longo da narrativa. Raras, no entanto, tiveram a oportunidade de ter um arco que durou, pelo menos, alguns episódios (como foi o caso das clones Krystal e M.K.). Durente a review do último episódio da quarta temporada, o site Fangs for the Fantasy trouxe um fluxograma apresentando toda a linha familiar dos clones originários do DNA de Kendall Malone (tanto as do Project LEDA, quanto os do Project CASTOR). A imagem traz também os laços familiares e amorosos de cada uma das personagens principais, além de quem permanecia vivo (e quem havia morrido) até o final do quarto ano.


ResistĂŞncia por telefone Ana Luisa Santos

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Netflix aborda a importância da tecnologia na luta feminina e o lugar da mulher na sociedade retrógrada


“Em 1928, as mulheres eram vistas como objetos que serviam para serem exibidos nas festas, objetos incapazes de expressão opinião ou tomar decisões. É verdade que a vida não era fácil para ninguém, mas ainda menos para as mulheres. Se você fosse mulher em 1928, a liberdade lhe pareceria uma meta inatingível. Para a sociedade, éramos apenas esposas e mães. Não tínhamos o direito de ter sonhos e nem ambições. Em busca de um futuro, muitas mulheres tiverem de viajar para longe e outras tiveram que enfrentar as regras de uma sociedade machista e retrógrada. No final, todas nós, ricas ou pobres, queríamos o mesmo: ser livres.”

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E

m suas primeiras cenas Las Chicas del Cable já mostra a que veio. Um assassinato e ameaças marcam o início da trama. Com uma pegada Girl Power, a série discute o papel da mulher na sociedade a partir das situações vividas pelas personagens. A produção de estreia da Netflix espanhola (em português, As Telefonistas) chegou ao Brasil em abril e apesar de não ter obtido mesma repercussão que outros produções da gigante do streaming, merece um lugar na lista de séries que 84| zint.online

fazem importantes críticas sociais. Apesar de ambientada na década de 20, a série é marcada pela atemporalidade: aborda temas pertinentes e atuais, como a violência contra a mulher, o machismo e o empoderamento. O drama histórico dirigido por Ramón Campos se passa na época em que começavam a surgir os movimentos sufragistas femininos, em busca dos direitos ao voto e ao divórcio, enaltecendo a luta para conquistar seu espaço numa sociedade completamente machista. Numa


época em que as mulheres ficavam confinadas em casa, limitadas a fazer serviço doméstico e cuidar de suas famílias. Quando fazer chamadas telefônicas era um processo muito mais trabalhoso do que atualmente, as jovens Lídia/Alba (Blanca Suárez), Angeles (Maggie Civantos), Marga (Nadia de Santiago) e Carlota (Ana Fernández), na trama, foram contratadas pela Companhia Nacional Telefônica de Madri, como garotas de cabo. É ali que nasce uma grande

amizade e, juntas, elas buscam maneiras de superar todas estas situações e conquistar seus lugares perante a sociedade. Alba é misteriosa e tem um passado cheio de segredos. Diante de uma ameaça se passa por outra pessoa para conseguir o emprego e roubar a Companhia. Ao longo da trama, a personagem reencontra um amor do passado que muda seus planos e acaba em um triângulo amoroso. Angeles é uma mulher dedicada à família, mas descobre que está sendo traída e se vê num relacionamento abusivo. Ao ser agredida, procura ajuda da primeira mulher advogada da Espanha, mas é obrigada a continuar na mesma situação ao ver que a lei não pode ajudá-la. Marga acaba de chegar do interior e demora a se adaptar à vida na cidade grande. Diferente de outras personagens interioranas, se mostra muito forte e nada bobinha. Carlota é uma mulher com sede de revolução, que não aceita o lugar imposto a ela, mas sofre na mão de um pai militar que não compreende a busca da filha por sua independência. Também, funciona como personagem introdutora de outra questão muito atual ao se descobrir bissexual. A trilha sonora contemporânea e a fotografia com cores fortes trazem leveza e um ar diferenciado aos temas tratados. Entre os figurinos pomposos de encher os olhos, em tons de feminismo e progresso, elas demonstram a sede por um mundo mais justo ao lidar com diversas situações em busca da conquista de seus direitos, num tempo onde as mulheres eram vistas como adereços e tinham seus direitos negligenciados. O que traz uma carga ainda maior de representatividade é a dualidade das personagens. Diferente de outros enredos, ninguém é uma coisa só o tempo todo. Apesar de serem mulheres fortes, elas mostram seus pontos fracos ao longo da trama. É perceptível que as conquistas e superações no desenrolar da história só acontecem porque elas têm a ajuda uma da outra, dando ênfase a outro tema em voga: a sororidade feminina. A história é envolvente, e ao final dos oito episódios, é impossível não querer uma continuação. A segunda temporada já está sendo gravada e sua estréia está marcada para dezembro deste ano. A terceira temporada também está confirmada e tem seu lançamento previsto para 2018. Por aqui, a gente aguarda e fica na torcida de que as outras temporadas sejam tão boas como a primeira. E claro, de que a Netflix não cancele mais essa série. zint.online | 85



tirinhas


tirinha um; Pedro #5

por Rafael Rallo

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tirinha dois; Pedro #10

por Rafael Rallo 89


tirinha trĂŞs; Imagina Que Louco por Rafael Rallo

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tirinha quatro; JoĂŁo & Pedro #7 por Rafael Rallo


tirinha cinco;

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Pedro #8 por Rafael Rallo


tirinha seis; JoĂŁo & Pedro #10 por Rafael Rallo

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tirinha sete; Carlos, o Dêmonio Geek por Rafael Rallo

continua na próxima página 94


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fotografia


ensaio um; fotógrafa;

ana luisa santos, 21 anos belo horizonte, minas gerais inspirações;

Annie Leibovitz, Bárbara Magri, Fernando Chassot, Matt Ferr, Fabs Grassi “são muitas as inspirações. séries, filmes, livros, música e, principalmente, fotógrafos. acompanho o trabalho de todos os que admiro pelo instagram, mas estes têm estilos que me agradam muito”

portfólio; flickr.com/fotografar-te instagram.com/analuisa.fotografia/

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modelo; cecĂ­lia morales maquiagem; marcella ribeiro








A você, leitor, somos mais do que grato por você ter gastado um tempo lendo a gente. Esperamos que você tenha gostado!

agradecimentos;

Mais uma edição, mais um agradecimento. Novamente, agradecemos aos nossos pais, pelo contínuo suporte. Logo em seguida agradecemos a Ana Luisa Santos por ter cedido para a gente alguma de suas fotografias para exposição dentro da revista. Também agredecemos, é claro, a todos os nossos Colaboradores que participaram dessa Edição: Ana Luisa, Gabriel, Giulio, Marina, Rafael, Renato, Roberto, Stephanie e Yuri. Por último, um agradecimento a todo o suporte que estamos recebendo dentro da faculdade, tanto por parte dos alunos e amigos, quanto pelo lado dos professores. Está sendo tudo tão incrível!



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