ZINT ⋅ Edição #4: Inumanos

Page 1

EDIÇÃO #4; INUMANOS SETEMBRO 2017

NESTA EDIÇÃO anne-marie; atypical; bebe rexha; belo horizonte; bingo; como falar com garotas em festas; darren aronofsky; dua lipa; faísca; full house; gossip girl; inclusão musical; inumanos; it; kpop; little witch academia; lorde; nicki minaj; one piece; paloma faith; princesa diana; ruben di souza; the x factor


editorial;

A quarta edição da revista relembra a vida da Princesa Diana com um belo especial oito páginas, relembrando seu legado e as influências que Lady Di deixou no mundo do entretenimento. E estreamos uma nova seção na revista, com o Playlists! O recheio de ZINT #4 conta com os nossos Colabs escrevendo, entre outros assuntos, sobre o polêmico mãe!, It, música inclusiva e independente, os 10 anos de Gossip Girl, os 30 de Full House, e a primeira parte de uma série de matérias sobre o Kpop! E não esqueça de dar uma olhada no nosso Calendário Cultura. Outubro tá cheio de novidades, com o lançamento de mais de 60 títulos de entretenimento! Já vai separando os golpinho$. Aproveitem!


A ZINT é uma revista mensal gratuita voltada às áreas de Arte e Cultura, em formato de publicação digital. Acreditamos na nossa independência editorial e esperamos que, dentro dos mais variados formatos de textos, possamos trazer alguma abordagem inventiva ou inédita aos assuntos que permeiam o campo do jornalismo cultural.

João Dicker & vics

Editores-chefes e idealizadores da ZINT


O QUê QUE A ZINT TEM? Aproveitando das possibilidades de uma publicação online, a revista conta com algumas interações bem legais. Para que nenhum leitor fique sem usufruir 100% do oferecemos, um manual de como funciona a ZINT.

4|

zint.online

Com uma publicação online, as possibilidades de interações são promissoras. Usando a plataforma digital ao nosso alcance, a revista pode sempre vir acompanhada de objetos interativos. A ZINT aproveita de todos esses recursos, e você pode usufruir de tudo de uma forma bastante simples e rápida. Capítulos

Em primeiro lugar, é interessante apontar que a revista funciona por Capítulos. As barras laterais correspondem ao capítulo correspondente: Azul-Céu para Séries, Verde-Grama para Filmes, Roxo para Música, Marrom para Quadrinhos, Laranja para Literatura, Azul-Marinho para Tirinhas, Magenta para Indicações, Verde Água para Playlists, e, claro, Amarelo para Especial/Capa. Assim, fica fácil identificar o tipo de conteúdo em que você se encontra.


Vídeo e Áudio

Com uma revista de Entrenimento e Cultura em mãos, é simplesmente impossível não relacionar as matérias com um conteúdo digital. Um vídeo, um filme, uma música, uma playlist. No papel físico, tais interações são impossíveis de serem atingidas por motivos óbvios. Mas digitalmente, tudo é muito fácil. Toda vez que um matéria vier com qualquer tipo de conteúdo de Vídeo/Áudio, a imagem de destaque virá acompanhada de ícones correspondentes, como os mostrados acima. Se a matéria tiver mais de um conteúdio audiovisual, cada imagem disponível ao longo da matéria terá os mesmos ícones. Basta passar o mouse ou o dedo por cima da imagem, que ela se mostrará como um link. Clique, e seja redirecionado para o conteúdo! No caso de vídeos únicos (e não em playlist), o player será aberto dentro da própria revista, não interferindo na sua experiência.

Links

Além do conteúdo audiovisual principal, as vezes as matérias contém inúmeros outros links de Vídeo/ Áudio, tornando difícil colocar ícones para todos. Também acontece de uma matéria ter um link para outra matéria. Para isso, foi criado uma forma bem fácil de identifica-los: todos os links são sublinhados. O sublinhamento tem o efeito do marca-texto, parecendo que aquela parte do texto foi, de fato, destacada por um. Esta é a identificação de um link; uma linha grossa em Amarelo, a cor oficial da revista. Rodapé

O easter-egg da revista. No rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint. online sublinhado também é um link. Neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog. zint.online | 5


IDEA LIZAD ORES colabs

DIA GRA MA ÇÃO

equipe

a revista é um projeto colaborativo voluntário. além dos idealizadores, a Edição conta com um colaborador de desenho, quatro de diagramação, um de fotografia e dez de texto


colabs

TEX TO

em ordem alfabética, da esquerda para a direita idealizadores; joão dicker, vics diagramação; maria nagib, matheus leão, thales assis texto; adan, barbara lima, bruna curi, carol cassese, gabi carvalho, giulio bonanno, julio puati, laura michell, marina moregula, matheus gritten, rafael bonanno, roberto barcelos, samantha burton, samuel lima, stephanie torres


CALENDÁRIO CULTURAL 01 DOM.

01

ESTREIA DA 29 Temporada a

ncsi: los angeles BOB’s BURGUER

01

ESTREIA DA 8a Temporada

DOM.

01

SEX.

ghosted

DOM.

01

ESTREIA DA 1a Temporada

detroit em rebelião

detroit

ESTREIA DA 7 Temporada a

french touch

06

DOM.

the last man on earth a

06

álbum de carla bruni

SEX.

12 QUi.

you make it feel like christmas álbum de gwen stefani

AS YOU WERE

álbum de LIAM gallagher

ESTREIA DA 4 Temporada

LUCIFER

SEG.

02

ESTREIA DA 3 Temporada a

SEG.

02 qui.

05

pica-pau

SEG.

chocante

05

my little pony: o filme my little pony: the movie

2017

06 DOM.

WOODY WOODPECKER

qui.

SEX.

9JKL

ESTREIA DA 1a TEMPORADA

JAN

12 qui.

12 12

SUPERNATURAL

ESTREIA DA 13a Temporada

A MENINA ÍNDIGO arrow

ESTREIA DA 6a Temporada

ENTRE IRMãs

MADAM SECRETARY ESTREIA DA 4 TEMPORADA a

supergirl

qui.

valor

qui.

as aventuras do capitão cueca - o filme

dc’s legens of tomorrow

qui.

LOGAN LUCKY - Roubo em família

09

ESTREIA DA 3a Temporada

SEG.

09 10

QUi.

COMO SE TORNAR O PIOR ALUNO DA ESCOLA

QUi.

08

TER.

ESTREIA DA 2a Temporada

once upon a time

06

SEX.

riverdale

11

SEX.

01

mr. robot

ESTREIA DA 3a Temporada

QUA.

heaven upside down álbum de MARILYN MANSON 12 06

DOM.

05

05

THE GIFTED

ESTREIA DA 1a Temporada

qui.

qui.

SEX.

ESTREIA DA 16 Temporada

10

ESTREIA DA 4a Temporada

11

FAMILY GUY a

THE FLASH

TER.

QUA.

ESTREIA DA 9a Temporada

DOM.

01

blade runner 2049

THE SIMPSONS

DOM.

ESTREIA DA 1a TEMPORADA

FEV

ESTREIA DA 3a Temporada

MAR

12 12 12

ABR

captain underpants: the first epic movie

LOGAN lucky

MAI

JUN


a agenda traz as datas dos principais lançamentos do mês de OUTUBRO para as áreas de FILMES, MÚSICA, SÉRIES e LITERATURA. SEX.

13

jane the VIRGIN

qui.

a comédia divina

BEAUTIFUL TRAUMA

qui.

DE VOLTA PARA CASA

ESTREIA DA 4a Temporada

álbum de P!NK

19 19

SEX.

13

tempestade: planeta em fúria

qui.

além da morte

13 13

20

mr. davis

13

álbum de gucci mane

crazy ex-girlfriend

SEX.

13

ESTREIA DA 3a Temporada

colors

SEX.

13

álbum de beck

qui.

MANIFESTO

qui.

o estado das coisas

20 SEX.

20

QUI.

19 JUL

glasshouse álbum de jessie ware

22

THE WALKING DEAD ESTREIA DA 8a TEMPORADA

DOM.

22 23

AGO

ESTREIA da 2a temporada

DOM. alice salazar - do outro lado do espelho livro de ALICE SALAZAR

SEG.

SET

brad’s status

STRANGER THINGS

qui.

good time

battle of the sexes

26 26

bom comportamento

A GUERRA DOS SEXOS

PELÉ - O NASCIMENTO DE UMA LENDA 26

flicker

álbum de nial horan

ESTREIA DA 1a Temporada

SEX.

26 qui.

álbum de BOYZ II MEN

mindhunter

13

qui.

under the streetlight

álbum de st. vincent

SEX.

19

SEX.

flatliners

masseduction

SEX.

qui.

geostorm

19 oS meyerowitz: família não se escolhe the meyerowitz stories

SEX.

home again

qui.

19

THOR: RAGNAROK

SEX.

27 SEX.

MEANING OF LIFE

SEG.

AMOR & óDIO IRRESiStíVEIS

SEG.

SUPERIOR DONUTS

27

álbum de KELLY CLARKSON

30 além da meia-noite

livro de lara adrian

OUT

NOV

30

livro de lauren christina

ESTREIA DA 2a Temporada

DEZ

2018


séries 14;

24; 28;

Contemplem os “Inumanos”: a estreia da série da Marvel em IMAX vics

SUMÁ

É hora de enfrentar a música! Samantha Burton

And who am I? That’s a secret that I’ll never tell Adan

32;

Não é anormal, é atípico

36;

Trinta é Demais?

38;

Little Witch Academia: o retorno das garotas mágicas nos animes

Marina Moregula vics

Roberto Barcelos

literatura 44;

Um lampejo de arte e criatividade local Marina Moregula, Samuel Lima

música 50;

Um megafone para os pensamentos mais íntimos Marina Moregula

52;

As novas regras do pop

54;

A ascenção do pop sul-coreano: uma breve introdução ao Kpop

Stephanie Torres

Matheus Gritten 58;

A caminho de um panorama musical inclusivo

62;

De Araxá para o mundo: prazer, Ruben di Souza!

Carolina Cassese

Julio Puiati 66;

Cultura em BH: ocupação de espaços públicos e eventos musicais independentes Barbara Lima

pág.

78 pág.

88 pág.

74


quadrinhos

ÁRIO

72;

Poesia desenhada

74;

20 anos de One Piece

João Dicker

Rafael Bonanno

especial 78;

Duas décadas sem a princesa do povo Laura Michell

filmes 88;

Mãe desacreditada

90;

Revivendo os medos da infância

94;

Bingo: um filme para rir e se emocionar

Giulio Bonanno Gabi Carvalho Bruna Curi

indicação 98;

Netflix & Chill Marina Moregula

playlist

pág.

14

102;

NICKI MINAJ // comemorando

103;

ANNE-MARIE // apresentando

104;

BEBE REXHA // apresentando

105;

PALOMA FAITH // apresentando

106;

Artistas

108;

Temáticas

vics vics vics vics

Equipe ZINT Equipe ZINT

pág.

44 pág.

58



sĂŠries



Contemplem os Inumanos: a estreia da série da Marvel em IMAX // TEXTO & diagramação

A trajetória dos Inumanos é conturbada fora dos quadrinhos. Tudo começou em 2014, quando a Marvel anunciou que a mitologia faria parte do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês), em sua Fase 3. O anúncio, no entanto, não passou disso, e a inclusão da Família Real Inumana no universo d'Os Vingadores permaneceu um grande mistério, sendo constantemente respondida de forma vaga, se respondida de alguma forma. Foi durante um anúncio feito pela Casa das Idéias, em abril de 2016, que o vindouro filme foi removido do calendário, sem ganhar nenhum grande anúncio do porquê, apenas sendo retirado da imagem que indicava as próximas produções do estúdio. Por meses, o futuro dos Inumanos permaneceu uma incógnita, até que, em novembro do mesmo ano, a Marvel anunciou oficialmente que o filme não viria, e em seu lugar a Família Real ganharia uma série. Assim como as outras séries do estúdio, a produção ficaria em cargo canal norte-americano ABC, responsável por MARVEL's Agents of S.H.I.E.L.D. e MARVEL's Agent Carter (que havia acabado de ser cancelada). Até aí, a novidade

VICS

limitava-se apenas ao formato seriado, invés do cinematográfico. Porém, provavelmente para apaziguar a decepção dos fãs pelo cancelamento do filme, o estúdio também anunciou uma grande novidade e inédita em toda a industria televisiva até então: MARVEL's Inhumans teria seus dois primeiros episódios filmados inteiramente nas tecnológicas e caríssimas câmeras IMAX. O momento seria também marcado pela a exibição desses mesmos episódios nas salas das telas gigantes ao redor do mundo, em formato de filme, um mês antes da estreia na TV. E assim, o hype começou (e a trajetória ganhou capítulos ainda piores). Marvel na TV

A verdade seja dita: a Marvel é um grande força na indústria cinematográfica, mostrando peso e consistência em seus filmes. Contrário a isso, estão as suas séries, em específico as que são resultados de sua parceria com a ABC. Enquanto as produções em parceria com a Netflix mostram mais conformidade e gerem mais aceitação do público e da crítica especializada, as séries da ABC sofre(ra)m em ambos os zint.online | 15


Na série, Daisy, à esquerda, é uma Inumana conhecida como Tremor, capaz de controlar e produzir tremores sísmicos. A sua direita, em pé, está Elena, conhecida como Io-iô, uma Inumana capaz de atingir super velocidade, tornando-a invisível aos olhos humanos.

quesitos. Espelho disso é o cancelamento de Agent Carter, em 2016, devido aos baixos números, embora a sua fiel base de fãs e a boa aceitação por parte dos críticos. Por mais que S.H.I.E.L.D. esteja com sua quinta temporada prevista para estrear ainda este ano, a série também vem sofrendo com quedas de audiência desde o seu primeiro ano. Enquanto o primeiro episódio registrou mais de 12 milhões de telespectadores, o último episódio da quarta temporada amargou dois milhões. O número, baixo para os padrões do canal, forçou a emissora a colocar a vindoura quinta temporada na grade de sexta-feira, um dos "dias mortos" da tv norte-americana (provavelmente para continuar "segurando as pontas" e dar a falsa impressão de boa audiência, fazendo com que tanto a Marvel quanto a ABC não sejam obrigadas a cancelar o programa). Em contra partida, as críticas vem melhorando desde sua primeira temporada, que apresentou uma aprovação mista. Particularmente, preciso concordar. Desde o seu primeiro crossover (indireto) com o MCU (no caso, a queda da S.H.I.E.L.D., trama explorada em Capitão América 2: O Soldado Invernal), a série encontrou a sua narrativa, trabalhando melhor seus personagens e todas as histórias que sustentam suas temporadas. Histórias essas, inclusive, que se conectam com a mitologia dos Inumanos. A existência dos Inumanos foi estabelecida, pela primeira vez, ainda na primeira temporada de Agents (de acordo com Jed Whedon, produtor da série, esse teria sido o primeiro passo para a intro16| zint.online

dução dos Inumanos no Universo Cinematográfico da Marvel), mas foi apenas na segunda temporada que a mitologia ganhou protagonismo. Daisy (Chloe Bennet), então conhecida como Skye, se descobriu (em uma cena belíssima) como uma Inumana, graças ao processo/rito conhecido como Terrigênese, quando um cristal da raça alienígena Kree é quebrado próximo a uma pessoa, ativando os genes Kree e as habilidade Inumanas na pessoa. Desde então, os Inumanos tem sido uma parte ativa da série, até mesmo vindo a ser formada uma "força-tarefa de Inumanos" para dar assistência à S.H.I.E.L.D. (nos quadrinhos, a mitologia é conhecida como Os Agentes Secretos). Porém, como na série o acontecimento da Terrigênese é relativamente inédito, a narrativa desconhece (pelo menos até o momento) que os Inumanos são muito mais organizados e menos um "acaso do destino", e que até mesmo possuem uma Família Real. Os Inumanos

Com o anúncio de MARVEL's Inhumans, em novembro de 2016, logo vieram as novidades. A série estrearia em 29 de novembro, em uma sexta feira, com oito episódios em sua primeira temporada (dando espaço, com o seu fim, para Agents). A estreia em IMAX aconteceria no dia 1º de setembro, e permaneceria nos cinemas por duas semanas. A produção exploraria, de forma muito livre e desgarrada dos quadrinhos, a Família Real Inumana, formada pelo Raio Negro (Anson Mount), sua


esposa Medusa (Serinda Swan), seu irmão Maximus (Iwan Rheon), sua cunhada Crystal (Isabelle Cornish), seus dois primos Karnak (Ken Leung) e Gorgon (Eme Ikwuakor) e e o cachorro de esti-

mação, Dentinho. Aqui, Raio Negro tem uma voz supersônica, mesmo com o menor dos sussurros, capaz de destruir em pó qualquer matéria humana, forçando-o a tomar um voto de silêncio para o resto de sua vida. Sua esposa, Medusa, é dotada do controle total de seu cabelo, que são extremamente fortes e resistentes, além de terem a possibilidade de se esticarem ou retraírem. Karnak é o conselheiro de Raio Negro, possuindo o poder de prever todas as possibilidades a sua frente, evitando erros e falhas. Gorgon é o chefe de segurança, dotado de cascos de gado capazes de gerarem ondas sísmicas. Crystal tem a habilidade de controlar os elementos da natureza, mas não possui nenhum cargo especial dentro do governo de sua família. E então, temos Maximus, que durante a Terrigênese não desenvolveu nenhum gene Inumano. Sendo sempre tratado como o "humano", Maximus desenvolveu uma profunda inveja e amargura contra o seu irmão, sempre visto como o menino de ouro por todos. Com Raio Negro sendo o governador de Átila, cidade dos Inumanos, e tendo em seus braços Medusa, por quem foi sempre apaixonado, o


antagonista passa a desenvolver um plano para destronar o seu irmão e tomar para si o controle de Átila, que ele sempre coloca como o "melhor interesse dos habitantes" da cidade. O jovem também acredita que o melhor lugar para os Inumanos é na Terra, uma vez que devido os seus poderes especiais, eles seriam tratados como deuses e teriam o mérito que ele acredita merecer. Raio Negro, no entanto, permanece incrédulo dessa abordagem, se recusando a levar a raça que governa para o planeta. A série então segue a narrativa do golpe tramado por Maximus, e as eventualidades que ele sofre durante esse processo, que leva grande parte dos integrantes da Família Real para a Terra. Perdidos e sendo caçados, tanto pela guarda do vilão quanto pelas agências secretas de todo o mundo, que colocaram um preço na captura de qualquer Inumano, a Família Real agora tem que encontrar um jeito de retornar a Átila, e retomar o trono. Enquanto isso, Maximus continua trabalhando para fazer seu povo acreditar que sua família fugiu covardemente, afim deles aceitarem-no como seu Rei. Com a narrativa, veio a paranoia. Enquanto permanecia como filme, não havia muito debate de como o visual dos Inumanos seria tratado, assim como os efeitos especiais, uma vez que grande parte


do orçamento de um filme desse calibre é destinado aos efeitos especiais (CGI), e claro, ser a Marvel. Mas com o filme virando série, veio o questionamento de como ficaria essa questão, assim como toda a caracterização e a narrativa. O problema da história logo foi "resolvido", sendo anunciado que a série, como já apontado, se basearia vagamente nos quadrinhos. Os efeitos, por outro lado, continuaram em aberto, mas já sabendo que a qualidade apresentada não estaria no mesmo nível dos filmes, uma vez que o setor televisivo detém muito menos dinheiro para investir nesse em suas produções. Vieram, então, as primeiras previews, e a exibição de vídeos na San Diego Comic Con, que resultaram em Inhumans se tornando em um grande motivo de risada, principalmente pelos seus efeitos. A série acabou sofrendo também nas críticas especializadas, que colocaram-na como uma completa piada, dando à Marvel uma mancha suja em seu nível de produção. Com 0% de aprovação no agregador de reviews Rotten Tomatoes, a exibição em IMAX foi cancelada uma semana após a estreia. Aos que puderam já degustar de todos os oito episódios, Inhumans é categorizado como "inassistível" e uma "completa perda de tempo e dinheiro" (e de câmeras IMAX, considerando os dois primeiros episódios).


20| zint.online


behold... minha opinião;

M

inha relação com séries de quadrinhos é bastante ativa, embora eu não faça leitura deles. Esse tipo de show sempre me chama atenção e dedico um tempo para assistir, pelo menos, o primeiro episódio. Como um telespectador fiel (e fã) de MARVEL’s Agents of S.H.I.E.L.D., a série dos Inumanos já me deixava curioso devido a narrativa presente no programa, o que me fez ir checar mais desse universo. A perspectiva de uma série “mal-feita” não me assustou, e a “falta” de caracterização e a problematização do cabelo da Medusa não mostravam-se uma pedra no caminho para alguém que nada conhecia sobre a mitologia, além do que o apresentado por Coulson e seus agentes. Assim, esperei pacientemente o dia de estreia chegar e fui checar os episódios “Behold... The Inhumans” e “Those Who Would Destroy Us” em formato filme IMAX. Quero deixar claro, logo de cara, que as críticas, infelizmente, estavam certas. MARVEL’s Inhumans é uma completa bagunça, e isso fica ainda mais evidente nas telas gigantes. Há, no entanto, um lado positivo em toda essa Terrigênese. Com cerca de 1h20 de duração, Inhumans pouco trabalha, explica ou explora da sua mitologia, deixando para o telespectador fazer as interpretações e preencher as lacunas. A produção sofre constantemente de cortes frios e sem sentido, deixando a continuidade esquisita e difícil de digerir. Ao mesmo tempo, a narrativa é sufocada pelo ciclo que faz entre os personagens, que acabam sendo mal tratados por essa particularidade. Acontece que a série possui seis personagens centrais, ainda que um deles (Crystal) não pareça ser tão importante assim. Portanto, somos deixados com cinco personagens, que precisam dividir a tela e apresentar suas histórias. A forma que isso é feita, no entanto, faz com que fique um sentimento de que nenhum deles teve momento algum. Pouco após seus minutos iniciais, a série trabalha com uma rotatividade de narrativa, onde cada um dos personagens ganha

uma sequência de alguns segundos. Seria algo como: Medusa ganha 20 segundos, então corta pro Raio Negro e ele ganha 20 segundos, então vem Maximus que ganha 20 segundos, Crystal que sempre aparece com Maximus e ganha 2 segundos, Auran com 10 segundos, Karnak com 10 segundos, e então fica esse rodízio, além dos sub-mini-plots, até o final. É uma exploração muito estranha e muito mal feita, que o roteiro não desenvolve de forma alguma e não deixa o telespectador criar qualquer tipo de vínculo com qualquer um deles. Não tem como sentir a frustração de Raio Negro por não poder soltar um suspiro sem matar alguém, ou sentir pena/dor da Medusa quando ela perde o cabelo, ou o desespero de Maximus quando Raio Negro ameaça falar, ou de quando Karnak bate a cabeça e percebe que seus seus poderes estão em risco (uma sequência de acontecimentos e narrativa que é muito questionável, diga-se de passagem). Todos o roteiro faz com que os acontecimentos passem anêmicos diante das telas, deixando com que os atores façam um trabalho que na maioria das vezes soa extremamente exagerado e forçado. A série também falha em explicar alguns pontos cruciais da narrativa, como, por exemplo, como Maximus, um Humano que foi sempre desprezado pela raça Inumana por não desenvolver seus genes especiais, conseguiu ter o apoio dos Guardas Reais inumanos para realizar o seu golpe. Ou como ele conseguiu entrar em contato com a Terra, afim de estabelecer uma parceria para caçar Triton e Gorgon. Há então a polêmica dos efeitos especiais. Como um consumidor de séries televisivas, esse quesito não é algo que particularmente me preocupa, uma vez que tenho total consciência de que séries tem pouquíssimo investimento na área do CGI, inúmeras vezes apresentando efeitos toscos e beirando o ridículo. Portanto, os efeitos em Inumanos não me preocupa tanto, mesmo com a Marvel afirmando que eles gastaram bastante tempo e dinheiro polindo o visual gráfico da série. Mas então entro em uma outra polêmica, que zint.online | 21


22| zint.online


behold... minha opinião; foi resolvida de forma “covarde” pelos produtores, baseados, muito provavelmente, no simples fator de tirar o empecilho do caminho e não precisar ter dor de cabeça no CGI: o cabelo da Medusa. Como praticamente um personagem secundário, o cabelo da rainha de Átilan é o seu poder Inumano, sendo constantemente apresentando como uma espécie de entidade que sempre está vivo, em movimento, mesmo que sutil. A série trabalha isso de duas formas. A primeira é logo na cena inicial, quando Medusa e Raio Negro estão deitados, nus, na cama. A primeira movimentação do cabelo é bastante sutil, quase imperceptível, logo dando espaço a uma movimentação mais óbvia, quando Medusa toma da mão do rei, usando o seu cabelo, o seu relógio-smartphone-tablet. A segunda é no embate que ela tem com Maximus e depois com os guardas, quando o antagonista põe em prática o seu golpe. Neste dois momentos, a movimentação do seu cabelo é muito maior, e o CGI entra com tudo, forçando o cabelo a não só ter a movimentação, mas mostrar força e destreza, e talvez até mesmo uma personalidade (lembram-se da capa do Doutor Estranho, no filme?). Aqui, o efeito falha em dar uma naturalidade para a “entidade”, deixando óbvio o uso da computação gráfica. Como eu já apontei, esse problema não me afeta tanto, uma vez que imagino quanto trabalho deve dar para dar naturalidade e vida ao cabelo, além da quantidade de dinheiro que isso deve pedir. Mas é aqui entra a polêmica “covarde”. Embora seja minimamente aceitável para a narrativa e para o perigo que o cabelo de Medusa representa, Maximus mostra que para seu golpe ser completo, é necessário raspar a cabeça de sua amada, deixando-a careca, em uma cena que mistura esse Q “anêmico” da narrativa e “exagerado” da atuação, que comentei anteriormente. Nesta sequência, Maximus mostra completo arrependimento e dor pelo o que está fazendo, enquanto Medusa mostra-se desesperada e em prantos por perder aquilo que tanto ama (e

o que faz ela ser ela). O diretor, então, opta por fazer um slow-motion (que é utilizado de forma exagerada em todo o filme) e dar um off nos gritos de Medusa, colocando em cima uma trilha sonora melancólica. Em uma das cenas mais hilárias da série (e não há quase nenhuma dessas; pelo menos se você não considerar hilário a falta de qualidade da produção) é quando o vilão finalmente senta no trono de pedra de seu irmão, deixando muito claro o quão pequeno o personagem é perto de Raio Negro (e do gigante V em raio atrás dele). A título de curiosidade, Iwan tem 1,73 de altura, enquanto Anson tem 1,85. O momento acaba perdendo bastante de seu peso de vitória, uma vez que parece que uma criança acabou de sentar na cadeira. E, talvez, e este é apenas eu divagando, isso foi feito de propósito? Inhumans, no entanto, faz um grande acerto no quesito estético/visual da série. A produção faz uma escolha de geometria e minimalismo para os móveis e as salas, que são sempre bem grandes e muito bem iluminadas. Há também o uso de tons de cinza e muita pedra lisa, dando uma visual meio futurista com os seus cortes que dão espaço para luz natural e artificial. O uso de cores fica mais por conta do vestuário, principalmente no de Medusa, com o seu cabelo vermelho e seu vestido roxo. As panorâmicas apresentadas também podem ser colocadas como um positivo, seja na hora de apresentar Átilan ou mostrar as florestas e a cidade de Honolulu, no Havaí, onde a parte terrestre da série toma lugar (e onde o programa foi inteiramente gravado). Infelizmente, o lado positivo da produção limita-se a apenas isso. Agora fica aquele receio de como será o resto da série, com dois episódios tão pouco promissores e tão problemáticos. E mesmo que alguns críticos já tenham assistido a produção por completo e liberado suas críticas, apontando que o resto do programa é “uma perda de tempo”, vou me aventurar nesse mundo. E já estou a espera do crossover que Inhumans precisa fazer com S.H.I.E.L.D.. zint.online | 23


É hora de enfrentar a música! // TEXTO

O

SAMANTHA BURTON

site de notícias Business Insider classificou, em janeiro desse ano, os 20 melhores programas de televisão do Reino Unido do ano 2016. Shows de entretenimento como o Strictly Come Dancing, I´m a celebrity... Get Me Out of Here! e Gogglebox foram alguns dos prestigiados na lista que elegeu o The Great British Bake Off , como o mais popular e bem sucedido show da english telly. The X Factor (TXF), show criado pelo inglês Simon Cowell, nem arranhou uma classificação no Top 20. O jornal inglês The Telegraph publicou 24| zint.online

// DESIGN

THALES ASSIS

a notícia que o programa de competição musical tem lutado por audiência já há algum tempo, sendo que a temporada atual, de número 14, atingiu o menor número de espectadores desde a sua estreia, em 2004. O programa é conhecido por ser uma franquia e possuir inúmeras versões mundo afora, como nos Estados Unidos (extinta), Austrália, Filipinas, Itália e Romênia. O Brasil realizou sua primeira edição no ano de 2016, porém após baixas audiências a emissora de TV Band, detentora dos direitos autorais no país, decidiu não dar continuidade ao programa e cancelou a segunda temporada prevista para esse ano. Mas


apresentando //

the x factor Deezer Spotify Youtube

será mesmo que o programa está chegando ao fim? Apesar de toda a movimentação contra o show, que contesta seu real apoio à qualidade musical e busca por artistas diferentes, é inegável o seu sucesso em ainda atrair milhões de espectadores após 13 anos no mercado, e de projetar artistas que se tornam grandes figuras do cenário pop. O Formato

No início do mês de setembro, a versão inglesa do The X Factor deu largada à sua 14a temporada, contando com o mesmo time do ano passado no painel: seu criador Simon Cowell, o empresário musical Louis Walsh, a empresária e apresentadora Sharon Osbourne e a cantora Nicole Scherzinger. Retomando assim o golden panel do programa, originalmente composto por Simon, Sharon e Louis. Nicole repete a dose do ano passado tendo sido duas vezes residente do painel e ter substituído colegas em várias ocasiões. O cargo de apresentador ficou novamente para o inglês Dermont O’Leary, marcando a sua 10a rodada como moderador do TXF. Atualmente o programa encontra-se na etapa das audições. Ou seja, a caravana do reality passa pelas

maiores cidades do Reino Unido dando a oportunidade de pessoas interessadas fazerem um teste vocal na frente dos quatro jurados. Em 2016, as audições voltaram a acontecer nos audition rooms (ambientes restritos) ao contrário de outras edições, que realizaram os testes em grandes estádios com plateias lotadas. Os que recebem pelo menos três “sim” passam para a fase conhecida como Bootcamp, que tem o papel de peneirar o grande número de participantes, esses por sua vez são divididos em quatro categorias: as Meninas (idade 14-25 anos), os Meninos (14-25 anos), os Overs (acima de 25) e os Grupos. Após o Bootcamp, os aprovados passam para o temido Six Chair Challenge (Desafio das Seis Cadeiras). Etapa na qual todos performam em frente aos jurados pela chance de garantir uma cadeira. Só ao final de todas as apresentações é que os concorrentes sentados podem respirar aliviados, uma que fez que durante toda a fase das cadeiras eles podem enfrentar a possibilidade de serem trocados por alguém considerado melhor. Os seis melhores de cada segmento seguem para os Judges’ Houses, hora que cada um deles segue para as casas do mentor de sua respectiva categoria. Nessa etapa é feita uma nova seleção dos candidatos e o mentor sempre conta com a ajuda de um amigo próximo, seja ele cantor, compositor, DJ ou empresário do ramo musical. Calvin Harris, Robbie Wiliams, Mel B e a vice-campeã do ano de 2015, Fleur East, foram alguns dos convidados a auxiliarem os mentores na última temporada, a de número 13. Assim, quatro dos escolhidos passam para os Live Shows, batalhando, então, para chegarem até a final, em dezembro, que geralmente acontece na prestigiada Wembley Arena, em Londres. O ganhador, então, ganha um contrato de um milhão de libras com a Syco Music, gravadora subsidiária da Sony Music e com Simon Cowell como fundador. Outros participantes (que podem até mesmo ter ficado em terceiro, quarto, ou quinto lugar), no entanto, também acabam assinando com a gravadora, ganhando um contrato padrão de quatro ou cinco anos. zint.online | 25


A hora de fazer a “dança das cadeiras” sempre causa muita tensão. O segmento é o mais polêmico de todo o programa, sempre causando atrito entre os jurados, a audiência, o público presente no auditório e os participantes. Em diversas ocasiões, as gravações precisaram serem interrompidas, ou por desgaste do jurado, ou pela completa barulheira e descontentamento dos telespectadores.

Histórias De Sucesso

Muitos nomes corriqueiros na indústria musical britânica e mundial passaram pelo programa de caça talentos. Alguns de seus vencedores são: Leona Lewis (dona do hit Bleeding Love), Alexandra Burke (Hallelujah, 2009), James Arthur (Say You Won’t Let Go, 2016), Louisa Johnson (Best Behaviour, 2017) e Little Mix (a girlband da temporada de 2011 foi o primeiro e único grupo musical a vencer o programa). Pode-se argumentar que a maior exportação do The X Factor para a indústria da música não ganhou a competição e nem mesmo chegou a ser vice: a banda pop One Direction. Harry, Liam, Niall, Zayn e Louis realizaram testes solos para entrar na disputa e após serem descartados na Bootcamp, os jurados acreditaram que juntos, os cinco teriam uma chance de ir longe no programa. As profecias foram concretizadas e a boyband se tornou o maior exemplo de sucesso de qualquer edição já feita pelo TXF, em qualquer lugar do planeta. A One Direction veio a lançar cinco álbuns durante os anos de 2011 e 2015, venderam mais de 70 milhões de discos (segundo a Modest Management) e ganharam cerca de 25 prêmios da indústria musical, dentre eles, três BRIT Awards, o Grammy britânico. Desde janeiro de 2016 a banda vive um hiatos para que os membros possam, entre outros motivos, realizar projetos individuais. Um retorno ainda não foi programado. Outro caso interessante vindo do programa é o de Olly Murs. O cantor pop estreou na 6a temporada, em 2009, e chegou a ser o vice campeão, demonstrando por todo o programa seu carisma e sua personalidade 26| zint.online

afável. Em 2011, Olly foi convidado a a co-apresentar o The Xtra Factor, programa complementar com entrevistas e comentários transmitido logo após o fim de cada episódio das Live Shows. Durante a edição de 2015, o cantor virou co-apresentador do programa. Três anos após estrear no programa, Olly Murs se viu com quatro singles no topo das paradas britânicas (Please Don’t Let Me Go, Heart Skips a Beat, Dance with Me Tonight e Troublemaker). Sua parceria com a ex-participante Louisa Johnson, intitulada Unpredictable, acumula 4,2 milhões de visualizações no Youtube.


Embora não faça tanto sucesso quanto a One Direction, a Little Mix é um dos grupos mais bem sucedidos do Reino Unido. Sendo o único grupo a ganhar o The X Factor, as meninas alcançaram um recorde recentemente, ao alcançaram 1 milhão de vendas puras com o álbum “Get Weird”, primeira girlband a atingir a marca em 11 anos (a última vez foram as Girls Aloud, em 2006)

O grande debate que “assombra” o programa é a originalidade de cada temporada. Muitos argumentam que o TXF acreditou encontrar a fórmula de seu “sucesso” e optou por repetir a cada ano esse know-how. Ou seja, a cada edição, seus espectadores são bombardeados com histórias dramáticas coreografadas, personagens beirando o ridículo, performances clichês e comentários que já foram repetidos centenas de vezes (Louis Walsh já afirmou ter encontrado “a próxima grande boyband” um zilhão de vezes). Porém, mesmo mostrando nada de novo em sua narrativa, as edições são bem editadas; takes de

backstage com os jurados em momentos descontraídos, as músicas do momento ao fundo e o embalo dos choros são o que tocam aqueles que ligam suas televisões e clicam em seus vídeos no Youtube. E temporada após temporada os haters e os apaixonados com o programa travam embates em relação ao The X Factor (ele tem que acabar ou não?). O que pode-se concluir é que ele pode ter inúmeros defeitos, mas vai continuar sendo um dos maiores guilty pleasures de todos os tempos. No Brasil, a versão inglesa é transmitida pelo canal Sony às quartas e quintas-feiras às 23h. O One Direction foi, sem dúvidas, o maior sucesso mundial do programa, se estabelecendo, em seus sete anos desde que foi formado, como um das boybands mais bem sucedidas do mundo. Atualmente, o grupo encontra-se em hiatus indefinido, com cada um de seus integrantes focando-se em projetos musicais solos


and who am i? that’s a secreT i’ll never tell // TEXTO

ADAN

// DESIGN

THALES ASSIS

Nota do Editor: Este é um texto onde o autor comenta sua relação com a série, além de apresentar curiosidades sobre a produção e o mundo acerca de Gossip Girl. Não há spoilers escritos no texto, embora haja vídeos relembrando momentos específicos e bombásticos da série.

O

k. Esse segredo a maioria de vocês já sabe qual é (espero). Em 2007, Kristen Bell, a nossa eterna Veronica Mars, emprestou sua voz para narrar uma das séries que marcou a “Era de Ouro” da The CW. Estou falando de Gossip Girl, série criada por Josh Schwartz e Stephenie Savage (responsáveis também pelo hit teen The O.C.), baseada na série literária da escritora Cecily Von Ziegesar. O primeiro episódio foi exibido no dia 17 de setembro de 2007 e narrava a vida de estudantes da escola de elite do Upper East Side, em Nova Iorque. Gossip Girl entrou na minha vida no mesmo ano de seu lançamento. Como a maioria dos meus amigos, tinha uma fascinação por séries e já acompanhava algumas narrativas do canal norte-americano The CW, através dos canais a cabo (ou aberto) brasileiros. Vale lembra que naquela época, o atraso de exibição era muito mais significativo que atualmente. Eu também 28| zint.online

já tinha conhecimento da nossa usual ferramenta de “baixar séries”, e foi com a ajuda de alguns sites que existiam naqueles tempos sombrios de internet de baixíssima qualidade, que me arrisquei a fazer meu primeiro download de série. Eu já sabia da existência de Gossip Girl, e como havia ficado órfão de The O.C. (2003-2007) e Veronica Mars (2004-2007), o envolvimento dos criadores acabou me cativando a seguir essa nova produção, assim como a presença (mesmo que apenas por voz) da própria Kristen Bell. Assisti no Youtube as chamadas dos personagens e me recordo de ter visto uma promo que era apresentada ao som de Something to Believe In do Aqualung; apaixonei-me imediatamente. Não me contive e baixei os três primeiros episódios exibidos até então e não nego: foi amor à primeira assistida. Não foi aquela paixão de se ver na tela, assistir seus dramas ali no roteiro, como eu senti/sinto ao assistir uma outra série do canal (One Tree Hill). Foi o


encanto, creio eu, de querer fazer parte daquele universo, compartilhar a vida com aqueles seis protagonistas, ou até dar uns tapas em alguns. Não importava; eu já estava envolvido naquela série que me mostraria várias músicas novas e me faria amar e odiar vários personagens, chorar em vários momentos e o mais importante: me perguntar todos os dias, quem seria a Gossip Girl? Já no piloto você é apresentado aos nossos protagonistas que vão te acompanhar durante toda a série: a garota problema Serena van Der Woodsen (Blake Lively), a abelha rainha Blair Waldorf (Leighton Meester), o garoto solitário e nerd apaixonado pela protagonista, Dan Humphrey (Penn Badgley), e sua irmã que sonha em ser popular Jenny (Taylor Momsen), o bad boy Chuck Bass (Ed Westwick) e o mocinho perdido Nate Archibald (Chace Crawford). Como todo bom drama adolescente, o jogo de casais é constante em Gossip Girl. Em sua primeira temporada, o foco começa entre o triângulo amoroso de Blair, Nate e Serena. Com o tempo, Dan entra no jogo para conquistar o coração de Serena, mas então aparece Vanessa. No meio disso tudo, ainda temos que conviver (de bom grado, diga-se de passagem) com maior e mais polêmico casal da série: Blair e Chuck, cujo relacionamento é um jogo de cão e gato, sendo refinado em doses fortes durante as seis temporadas. Embora ao longo de suas seis temporadas vários outros personagens vão e voltem, nenhum me marcou

tanto quanto Georgina Sparks (Michelle Trachtenberg). Sua primeira aparição é logo na primeira temporada, mas sua conquista de público foi tão grande, que a personagem volta todos os anos para destilar seu veneno. Além da Narrativa

Um dos pontos altos da série é sua trilha sonora. Além de constar com uma banda fictícia chamada Lincoln Hawk, que é liderada pelo patriarca dos Humphrey, o Rufus (Matthew Settle), também tivemos a participação de vários cantores (as) e bandas do mundo real. Nomes como Lady Gaga, No Doubt, Florence and the Machine, Robyn e até Cyndi Lauper fizeram figurações ao longo da série. Vale lembrar também que nomes do elenco, como Leighton Meester e Taylor Momsen, entraram para o mundo da música: Leighton em carreira solo, e Taylor como vocalista da banda The Pretty Reckless. No conteúdo de sua estrutura musical, temos momentos marcantes que ficaram na mente de seus fãs (como este, este, este e, o melhor de todos, ESTE!!!), enquanto vários nomes foram apresentados ao mundo devido a fama da série (como este, este e este). Na moda, a coisa também não foi diferente. A série deu espaço para nomes como Michael Kors, Diane von Fürstenberg, Rachel Zoe, Vera Wang e o crítico Tim Gunn, fazerem pequenas participações. Com grandes figurinos e nomes consagrados do mundo da moda sendo retratados, Gossip Girl acabou sendo se



tornando uma das séries obrigatórias para os amantes desse mundo do glamour. Os figurinos das personagens Blair Waldorf e Serena van der Woodsen fizeram a cabeça de várias jovens, inclusive transformando suas respectivas atrizes ícones da moda atual. Josh Schwartz e Stephanie Savage, certa vez disseram que queriam que a série fosse como uma revista, “onde o público pudesse saber onde ouvir boa música, visitar e se vestir”. Foi isso que a produção acabou se transformando em um grande marco na cultura de Nova York. Seu impacto na cidade foi tão grande que o então Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chegou a citar a série, assim como o também então Prefeito de Nova Iorque, Michael Bloombeste último caso, o prefeito transformou o dia 26 de janeiro como o “Dia de Gossip Girl”, em comemoração ao 100º episódio, onde ele destacou a importância da série como uma embaixadora da cidade. Dez anos depois de seu primeiro episódio, muitos jovens continuam conhecendo as aventuras desses jovens, trazendo de volta a fama de Blair Waldorf, que já pode ser considera uma das personagens mais marcantes da cultura pop. Tratada como anti-heroína, ela, de maneira quase imediata, tomou para si o protagonismo da série e é impossível não constar em sua maneira única a atração que qualquer telespectador

tem por ela. Suas referências ao cinema clássico, seu humor ácido e sua personalidade forte e determinada, que as vezes era mesclada com a personalidade de uma menina doce e indefesa, transformou Blair na queridinha do público, conquistando milhões de maneira cristalizada. Gossip Girl reacendeu na mídia algo que não era visto desde Sex and the City, da HBO, ao reunir tudo que a cultura pop mais consome, trazendo consigo um turbilhão de emoções. É inegável que seu público é o adolescente, embora isso não signifique que o público em geral não vá se encantar com esse universo cheio de fofoca e luxúria. E como Kristen Bell narrou em 121 episódios “Vocês sabem que me adoram. Beijos e abraços. A garota do Blog Gossip Girl” . apresentando //

GOSSIP GIRL Deezer Spotify Youtube



Não é anormal, é atípico

Nova série da Netflix trabalha empatia por meio do cotidiano e da família de um adolescente com autismo // TEXTO

MARINA MOREGULA

O

Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) afeta 1% da população mundial. No Brasil, isso corresponde a cerca de 2 milhões de pessoas. As pessoas que se encontram dentro desse espectro podem apresentar o transtorno autista, transtorno desintegrativo da infância, transtorno generalizado do desenvolvimento não-especificado e a síndrome de Asperger. Todos esses quadros foram reunidos em um só diagnóstico em 2013. Sam (Keir Gilchrist), o protagonista adolescente da série Atypical, está dentro do espectro. Ele é autista e apresenta sintomas como alta sensibilidade a sons e luzes, além de dificuldade para se comunicar e socializar. Sam também é muito bom em desenhar, e não gosta de fugir da sua rotina. A primeira temporada, que estreou na Netflix no dia 11 de agosto, une comédia e drama em um crescente de intensidade, terminando de um jeito conhecido da gigante, que já pede aquela ida ao Google para saber quanto tempo terá que ser aguentado até a próxima temporada. EMPATIA

A trama se desenvolve a partir do núcleo familiar de Sam: o garoto vive com os pais e a irmã mais nova, Casey (Brigette Lundy-Paine). Assim, a série mostra não só as dificuldades que uma pessoa com autismo enfrenta no dia a dia, como também as perspectivas das pessoas que convivem com ela. Vale a pena reparar como os pais de Sam lidam com as necessidades do filho de formas opostas, mas ambas fazem sentido.

// DESIGN

MATHEUS LEÃO

Enquanto a mãe (Jennifer Jason Leigh) dedica tudo de si para super proteger o jovem, o pai (Michael Rapaport) não sabe como se aproximar de um filho com quem não tem nada em comum. Já a irmã tem uma terceira forma de se relacionar com o irmão, que se volta mais para a cumplicidade. O mesmo acontece com a psicóloga de Sam, que o incentiva a tentar experiências novas, e seu colega de trabalho, Zahid, que insiste em falar sobre sexo usando muitas metáforas (mesmo que o protagonista não entenda nenhuma). Esses momentos estão entre as cenas mais divertidas da série. Assim, cada personagem apresenta possibilidades distintas de compreender e se relacionar com uma pessoa autista, ao passo que também criam a possibilidade de diferentes conflitos, que se desenrolam ao longo da série. Atypical pode parecer, à primeira vista, uma série “só” sobre autismo. Mas, ao longo dos seus oito episódios, percebe-se que é também uma série sobre empatia. Ela permite que o espectador se coloque no lugar de Sam, mas também de Casey, de seus pais e dos outros personagens secundários. A narrativa é construída de tal forma que o espectador compreenda os motivos e virtudes das ações de todos os personagens, justificando cada sentimento e ação do enredo. E por mais que cometam erros, vê-se que suas escolhas não são infundadas. É um exercício constante da empatia graças à personagens muito humanos, que conferem um caráter de veracidade à série. Um trunfo para uma produção que busca romper preconceitos em torno das pessoas com autismo. zint.online | 33


INCLUSÃO

Na primeira semana de setembro, em um colégio na Argentina, mães comemoraram a expulsão de um menino com síndrome de Asperger da sala dos filhos. A síndrome de Asperger é um dos transtornos do espectro autista e alvo de preconceitos e discriminação. Como as pessoas no espectro têm dificuldades de interação social, um resultado desse convívio aliado ao preconceito pode ser o isolamento. Já na adolescência, pessoas com TEA têm mais propensão a desenvolverem depressão e ansiedade. Atypical trabalha com a inclusão das pessoas com autismo em vários detalhes da sua narrativa. A série denuncia a discriminação sofrida na escola, principalmente em uma cena revoltante na qual colegas riem da interpretação literal que Sam faz das metáforas. Uma estratégia utilizada pelo roteiro da série para reforçar a inclusão é a linguagem inclusiva, que tem presença constante nos diálogos ao evitarem o uso de termos pejorativos, como anormal ou esquisito. O protagonista é chamado de atípico, enquanto pessoas fora do espectro autista são chamadas neurotípicas. Além da linguagem inclusiva, outro elemento da série que demonstra a inclusão e o combate à discriminação surge no Baile de Inverno do colégio de Sam. Explicar mais seria dar spoilers, mas vale a pena dizer que esse é um dos momentos em que a série 34| zint.online

mais surpreende e comprova seu potencial para dar voz às necessidades das pessoas com TEA. REPRESENTATIVIDADE

Não há dúvidas que Atypical pode quebrar paradigmas e incentivar a inclusão de pessoas com autismo. O elenco da série também é muito diverso e inclui várias minorias. Entretanto, é preciso lembrar que, dentro do espectro do autismo, a variedade de sintomas, comportamentos e intensidade dos transtornos é muito grande. Isso significa que cada pessoa com autismo (assim como as pessoas neurotípicas) é única. Cada uma exige um tipo de tratamento ou assistência também particulares. Logo, nem toda pessoa com autismo está re-


presentada no personagem de Sam. Ele é o que se chama de altamente funcional, um tipo de atípico que tem sua capacidade de se comunicar e realizar atividades diárias não tão limitada quanto a de outros casos de autismo mais graves. O jovem consegue verbalizar muito bem seus sentimentos, desejos e desgostos; frequenta a escola em ritmo normal com crianças neurotípicas e trabalha como vendedor em uma loja de eletrônicos. Outras pessoas no espectro podem não conseguir verbalizar seus pensamentos, podem ter dificuldades de aprendizado em uma ou outra área, podem apresentar síndrome de deficit de atenção e hiperatividade, dislexia ou dispraxia. Há pessoas com autismo que podem ter uma vida independente, enquanto outras nunca conseguirão realizar tarefas diárias sem ajuda.

Entretanto, se a série despertar a curiosidade dos espectadores e os motivar a ir além, a questão da representatividade, que deixa a desejar, não será um problema. Atypical é uma série que além de sua importante mensagem, é sustentada por um roteiro divertido, uma fotografia limpa e atuações emocionante, assegurando-se como uma produção extremamente empática. Mas o ideal é que ela seja uma porta de entrada, despertando o interesse da sociedade sobre o transtorno do espectro autista. Depois de assistir Atypical, vale a pena buscar outras produções que abordem a questão do autismo, conhecer ONGs, ler mais sobre os transtornos. Quanto mais se conhece sobre um assunto, mais se quebram os estereótipos e preconceitos, e mais se promove a inclusão. zint.online | 35


Trinta é Demais?

vics MATHEUS LEÃO

// TEXTO

S

// DESIGN

itcoms são um dos pilares da televisão. A fórmula conhecida como “enlatada” é barata, rápida de produzir e geralmente gera milhões de telespectadores, com algumas conseguindo durar várias temporadas. Full House foi uma dessas, chegando a ter oito temporadas antes de chegar ao fim. Conhecida no Brasil como Três é Demais (o que, diga-se de passagem, não é lá uma tradução muito esperta, considerando que os Tanner eram compostos, inicialmente, de seis integrantes, não três), a série acompanhava a história da família Tanner. Após a morte da esposa de Danny (Bob Saget), ele fica responsável de cuidar de suas três filhas. Desamparado pela morte de seu grande amor, Danny fica 36| zint.online

meio desnorteado em como ser o pai de três garotas, logo pedindo ajuda de seu melhor amigo de infância, o comediante Joey Gladstone (Dave Coulier), e seu cunhado, o aspirante a rockstar Jesse Katsopolis (John Stamos). Rapidamente, os dois passam a viver junto com Danny, ajudando o amigo a cuidar de Donna Jo “DJ” (Candace Cameron), Stephanie (Jodie Sweetin) e Michelle (Mary-Kate e Ashley Olsen). A produção então segue as aventuras e desventuras cômicas e emocionais de três solteirões tentando cuidar de três meninas pequenas, enquanto tem que lidar com a vida pessoal, amorosa e profissional. Ao longo dos anos, a família fica ainda maior: Jesse casa-se com Rebecca (Lori Loughlin), companheira de trabalho de Danny, e juntos eles têm o casal de gêmeos Nicky e Alex (Blake e Dylan Tuomy-Wilhoit). A família também adota o cachorro Buddy, e recebe as


constantes visitas de Kimmy Gibbler (Andrea Barber), a melhor amiga inconveniente de DJ. Durante as temporadas finais, também temos a constante presença do (ex-)namorado de DJ, Steve Hale (Scott Weinger), e as eventuais aparições de Vicky Larson (Gail Edwards), a namorada de maior duração de Danny (e, por um breve momento, sua noiva). Buscando apresentar situações comuns, a série mesclou as representações cômicas do dia-a-dia com cenas e discursos de ensinamento, que visavam celebrar o amor entre irmãs, entre família (seja ela de sangue ou não) e o companheirismo/amizade. Dentre as características mais marcantes de Full House estavam a incrível capacidade que Joey tinha para fazer imitações, o amor exacerbado que Jesse nutria pelo seu cabelo e o TOC que Danny tinha por limpeza. A série se tornou um grande sucesso dentro e fora dos Estados Unidos, sendo uma das sitcoms de maior alcance mundial. Mesmo após o seu fim, o elenco continuou promovendo pequenas reuniões, para a alegria dos fãs. A série ainda resultou no início de carreira das gêmeas Olsen, que passaram a estrelar os seus próprios filmes, até meados de 2004, quando participaram de sua última película juntas, entrando em uma espécie de aposentadoria e focando a carreira no mundo da moda. FULL(ER) HOUSE

Full House durou oito temporadas, contendo 192 episódios. As primeiras temporadas foram mal recebidas pela crítica, havendo uma melhora mais para os seus anos finais. Por outro lado, a média de telespectadores ao longo dos anos variou entre 12 e 17 milhões, sempre mantendo-se entre os 25 programas mais assistidos da tv norte-americana. Devido ao número de episódio, a série atingiu o famoso Syndication, sendo reprisada constantemente após o seu fim. O programa também gerou uma série de livros, além de uma adaptação russa, um musical e um filme original não-autorizado produzido pelo canal a cabo norte-americano Lifetime, que buscou explorar da história problemática dos bastidores da série e de seus atores. Ao longo de seus oito anos, o show ganhou cinco prêmios, todos focados no Young Artist Awards. Em 2016, os Tanner ganharam um revival produzido pela Netflix. Com um plot quase idêntico ao original, Fuller House reuniu quase todo o elenco original. A produção foca, dessa vez, em DJ, que agora é uma veterinária. Após perder seu marido durante um in-

cêndio (ele era bombeiro), DJ fica responsável de seus três filhos pequenos. Voltando a morar na sua casa de infância, a veterinária pede a ajuda de sua irmã, Stephanie, que agora é uma DJ super famosa, e sua melhor amiga Kimmy, que é mãe de uma garota e até então divorciada. Assim como seu pai e os amigos, as três solteironas também precisam equilibrar a vida pessoal, amorosa e profissional enquanto são responsáveis pelas quatro crianças (e um cachorro). O revival conta com aparições especiais de Danny, Joey, Jesse e Rebecca, que limitam-se a fazer apenas algumas aparições, assim como os gêmeos Nicky e Alex. A produção também trouxe de volta Steve, que continua apaixonado por DJ, e faz parte do elenco regular. A única personagem que não retorna é Michelle, que na narrativa decide permanecer em Nova Iorque para focar-se na carreira no mundo da moda. A série, no entanto, não foi bem recebida pela crítica e pelo público. Devido ao seu enredo ser quase que uma cópia do material original, os críticos levantavam a falta de originalidade da produção, além de sua comédia forçada. A segunda temporada, no entanto, conseguiu reviews melhores. A terceira estreou no último dia 22. No Brasil, os direitos de exibição estiveram por mais tempo nas mãos da SBT, que exibiu a série entre 2001 e 2006, de forma inédita, reprisando entre 2013 e 2014. Desde 2015, a série é exibida no canal pago Warner Channel. Full House também pode ser assistida, completa, na Netflix, assim como Fuller House (por motivos óbvios). So, feel old yet?


Little Witch Academia: o retorno das garotas mรกgicas nos animes // TEXTO

38| zint.online

Roberto Barcelos

// DESIGN

Maria Nagib


A

magia é uma possibilidade no anime produzido pelo Studio Trigger, onde bruxas existem no mundo contemporâneo e precisam provar seus valores para não serem esquecidas frente ao desenvolvimento tecnológico. Little Witch Academia surgiu como uma fagulha em 2013, criado como um curta de animação por Yoh Yoshinari e escrito por Masahiko Otsuka. O projeto foi originado para um programa de incentivo do governo japonês, o Anime Mirai, destinado a auxiliar novos cineastas e pequenos estúdios a produzirem suas animações. Após ser apoiado, o curta estreou nos cinemas nipônicos e deu início a sua trajetória.

O enredo conta a história de Akko Kagari, uma jovem fascinada pela magia e seus truques que está decidida a ser uma bruxa. Para isso, ela ingressa na Escola de Magia Luna Nova e se surpreender ao perceber que o universo mágico é totalmente diferente do que ela imaginava, com diversas aulas conservativas e entediantes. Contudo, a maior confrontação de Akko é a dificuldade que a mesma possui em executar até mesmo mágicas mais simples, além de precisar aceitar que a magia do mundo está chegando ao fim por ser inútil quando comparada à tecnologia e as ciências. A popularidade e o recebimento do curta-metragem abriram caminho para a criação de uma sequência. Anunciado, também, em 2013 na convenção Anime Expo em Los Angeles, o novo episódio zint.online | 39



intitulado Little Witch Academia: Mahō Shikake no Parade estava sendo desenvolvido. O projeto começou em 2014 com o capital suficiente para apenas 20 minutos de animação, mas o Studio Trigger lançou uma campanha em parceria com o Kickstarter – site de financiamento coletivo – para arrecadar fundo e possibilitar que o episódio tenha 50 minutos. A meta para a produção de um média-metragem foi alcançada em 5 horas de campanha, o que incentivou o estúdio a utilizar o dinheiro a mais que arrecadou para que também seja realizado um documentário de making-of. Outra vez, os fãs tornaram possível a concretização desse projeto e o anime estreou no Anime Expo de 2015. O retorno do público sobre Little Witch Academia e a forma como cativou a audiência no Japão e em outros países tornou viável a elaboração de uma série com 25 episódios. O anime começou a ser exibido nas televisões nipônicos em 8 de janeiro de 2017, com exibição mundial pela Netflix. Magia Além da Imaginação

A saga de Akko para ser uma grande bruxa ganhou novas dimensões ao lado de suas amigas na Escola de Magia Luna Nova com o surgimento da série. A história original lançada em 2013 teve tempo o suficiente entre cada episódio para ser desenvolvida com mais calma e detalhes. Agora, compreendemos melhor como a personagem principal – com toda a sua falta de talento – está determinada a seguir os passos de uma antiga bruxa que cativou a sua infân-

cia. A magia é um elemento de discussão importante, principalmente quando encaramos a realidade de que ela é apenas um atalho inexato para o que a ciência nos propõem hoje com suas formulas e equação. Ser uma bruxa no universo do anime não são muito diferentes das outras profissões exibidas no decorrer da trama, como padeiros, fazendeiros e banqueiros. Como algo banal, o que vemos de fantástico é efeito da visão de Akko sobre o mundo e como ela quer fazer parte dele. Logo, Little Witch Academia trabalha com o imaginário dos fãs de animes e aventuras clássicas apresentadas, também, nos jogos de videogame. A grande popularização das obras nipônicos chegou ao ocidente com personagens presentes em um mundo fantástico, onde a imaginação era o limite proporcionado pelas empresas de animação. Não é a primeira vez que nos deparamos com garotas que possuem dons mágicos. Há uma lista de animes que utilizam esse arquétipo em suas propostas de trama, como Sailor Moon, Guerreiras Mágicas de Rayearth e Card Captors Sakura. O exemplo mais contemporâneo que temos de personagens como essas foi o Puella Magi Madoka Magica, lançado em 2011. A ausência desse gênero nos lançamentos anuais de animes marcou a mudança do público e o hábito de consumo de animes, mas a memória saudosista do passado preparou o terreno para que Little Witch Academia reunisse o melhor que as garotas mágicas pudessem apresentar para, então, marcar o seu sucesso. zint.online | 41



literatura


Um lampejo de arte e criatividade local // TEXTO MARINA MOREGULA // TEXTO SAMUEL LIMA // Diagramação

F

VICS

aísca [fa.ís.ca], substantivo feminino: o que brilha ou cintila; centelha, chispa, faúlha; no sentido figurado é tudo o que se pode comparar pelo brilho ou luz que derrama. A produtora cultural Helen Murta e o quadrinista Jão estavam assistindo ao programa do Silvio Santos quando esse termo apareceu em um jogo de adivinhar palavras. Era exatamente o que eles estavam procurando para dar nome à feira de 44| zint.online

Feira de rua gratuita reúne artistas gráficos independentes, oficinas, comida e música no terceiro sábado do mês

produções gráficas, que queriam começar a realizar mensalmente em Belo Horizonte, em 2015. A Faísca é realizada no terceiro sábado de cada mês, tem acesso gratuito e classificação livre. A feira chega em sua 22ª edição em outubro. O objetivo do evento é criar um espaço frequente para artistas independentes venderem publicações e outras produções, oferecendo uma visibilidade cada vez maior do mercado gráfico mineiro. São 45 expositores diferentes


selecionados para cada edição a partir de um edital divulgado online. Estão incluídos estilos diversos e de 10 setores diferentes: literatura, fotografia, quadrinhos, ilustração, design, zine, gravura, papelaria, livros de artista e arte digital. O evento é financiado pelo Instituto Cultural Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG Cultural) e este ano passou a ser bancado também pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Entretanto, a produtora Helen Murta conta que a realização da feira está em busca de parcerias privadas que possibilitem ampliar o porte e o alcance do evento. Murta é organizadora e criadora da Faísca, por meio da Pulo Comunicação e Arte, em parceria com o quadrinista Jão, que está no mercado gráfico há 10 anos. A feira acontece na rua Bernardo Guimarães, em frente ao BDMG Cultural. Além dos expositores, a edição de setembro trouxe também um espaço para crianças, uma participação do Setor Braille da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, oficina gratuita de escrita criativa, música e food trucks convidados. Edições passadas contaram também com cobertura fotográfica e música ao vivo. Figuras

Régis Luiz é designer gráfico e trabalha com ilustrações. Ele trouxe para a 21ª edição da Faísca o livro Introverso, que reúne vários de seus personagens em um só conceito. Régis conta que a feira começou dentro do espaço interno do BDMG Cultural e que quando passou a acontecer na rua, atraiu um público muito maior: “Além de ser um espaço para venda de material, é um ponto de encontro, um momento que as pessoas da comunidade próxima podem sentar e conversar, bater papo. A Faísca virou um evento tradicional de Belo Horizonte”. O artista também comenta que o evento é uma forma de ocupar a cidade, seguindo a tendência de feiras como as de alimentação e artesanato, que têm crescido em BH. Entretanto, ocupar a rua é uma ação que envolve muita burocracia. Para a produtora do evento, essa é uma das maiores dificuldades que a feira enfrenta atualmente. São muitas especificidades e empecilhos para se ter o apoio da Prefeitura. No mercado gráfico, a grande maioria das produções são impressas. Com o avanço das tecnologias e a popularização da internet, o meio impresso aparenta ter ficado em segundo plano. No jornalismo, isso se manifesta na decadência dos jornais impressos e no crescimento das grandes reportagens transmídia,


que reúnem imagens, vídeos, gráficos e áudios. Na literatura, surgem os audiobooks, o kindle e as versões digitais dos livros, que são mais baratas que as impressas. Para Murta, os artistas gráficos estão retomando técnicas mais antigas de impressão, que evidenciam o cuidado e a dedicação com o trabalho físico e manual, que não são possíveis no meio digital. Hoje, formatos antigos como a fotografia analógica e os discos de vinil são resgatados em uma onda vintage nostálgica que atinge o cinema, a música, a literatura e as produções gráficas. Do ponto de vista do consumo, essa moda atrai consumidores para uma lógica contrária à dos tempos atuais, acelerados pela internet. Mas, do ponto de vista da produção, Helen defende que “não é só a onda retrô, os próprios artistas já têm um gosto natural por isso ao escolherem essa área”. Já no universo dos quadrinhos, o artista Jão acredita que a internet só ajuda o meio a crescer. “O digital foi um dos avanços mais importantes que tiveram para os quadrinhos. Muita gente surgiu na internet, eu mesmo comecei meu trabalho em blogs, e muita gente saiu do meio digital e foi pro impresso”, afirmou. Jão também observa que, nos últimos anos, surgiram muitos bons quadrinistas no meio, que está crescendo, mas o público não acompanha essa produção. Para ele, “quadrinho é uma questão de nicho, e faltam iniciativas como o FIC (Festival Internacional de Quadrinhos) e a Faísca, para formação de público”. O designer Régis Luiz, que já está no mercado há 12 anos, ressalta que a Faísca também dá a oportunidade de profissionais mais experientes entrarem em contato com profissionais iniciantes da área gráfica. Ele também acha que “o evento é muito bem organizado e é um momento em que o mercado apresenta para o grande público o que é feito no nicho do mercado gráfico de BH”. Como ele é gratuito, reúne também curiosos e permite que qualquer um possa participar, tanto

46| zint.online

como expositor quanto como visitante. As irmãs Isis Henrique, de 20 anos, e Maíra Henrique, de 25, criaram juntas, em 2015, o estúdio de desenho Analogika que participou da Faísca pela terceira vez na edição de setembro. As irmãs ressaltam que a feira possibilita a venda direta e o contato com o cliente, além de concordarem com com Régis ao afirmar que a feira é uma ótima oportunidade para ter contato com outros produtores. “É sempre legal conhecer alguém interessante e formar essa rede de pessoas”, conta Maíra. As edições da Faísca de julho e agosto fugiram do tradicional local na rua Bernardo Guimarães, acontecendo na Praça da Liberdade. Para as irmãs da Analogika, a localização na rua Bernardo Guimarães é muito escondida. "Quem vem é porque já sabe que a feira é aqui. As edições na Praça foram mais legais porque passa muito mais gente lá”. Elas defendem que melhorar a localização seria fundamental para a Faísca evoluir. Régis concorda que ir para a Praça da Liberdade traz mais projeção para o evento: “A circulação de pessoas lá é maior. Infelizmente a Bernardo Guimarães não é passagem Se a feira for pra um local em que o público já está, vai ter uma circulação maior e um consumo maior. O público na Praça era menos de nicho, a gente atingia um público que estava ali para ver museus, para fazer atividade física. Esse alcance é o que permite que o mercado cresça”, explicou o designer. Por outro lado, a produtora Helen Murta afirma que fazer a feira em outro espaço que não seja em frente ao BDMG Cultural, principal apoiador do projeto, é mais complicado tanto em termos de custo quanto de burocracia. Por enquanto, a Faísca continua na rua Bernardo Guimarães, e é um ótimo programa para quem quer tomar uma cerveja numa tarde de sábado e conhecer e apoiar os artistas gráficos independentes de BH.


zint.online | 47



música


Um megafone para os pensamentos mais íntimos Melodrama, novo álbum de Lorde, compartilha sentimentos com uma geração de jovens mulheres de forma madura e original // TEXTO

V

MARINA MOREGULA

ocê com certeza se lembra de Royals (2013), o primeiro sucesso de Lorde, que ganhou o Grammy de Canção do Ano, em 2014. A cantora tinha apenas 16 anos quando lançou um dos singles mais bem-sucedidos do mundo. Eu também tinha 16 nesse momento, e o escutava todos os dias. Mas, para ouvir Melodrama (2017), melhor esquecer tudo isso. O segundo álbum da artista neozelandesa demorou a sair, mas está aí. Ela está com 20 anos agora, e eu também. O novo disco, um sucesso para a crítica, vem exatamente para mostrar que Lorde cresceu como pessoa, como mulher e como artista. Para quem foi da adolescência à juventude também nesse meio tempo, é difícil não se identificar com as confissões da artista, mesmo não estando sob os holofotes do pop. Melodrama, lançado no início de junho pela Universal Music, conta a história de uma festa onde tudo pode acontecer. É íntimo, nas letras e nos vocais, e mantém a estranheza que fazem de Lorde única, como vi em seu primeiro álbum, Pure Heroin (2013). Os vocais excêntricos e etéreos estão de volta, ainda mais marcantes e expressivos. O storytelling é equilibrado com momentos de quebra de expectativa e de viradas completas de ritmos, como na faixa Hard Feelings / Loveless. Pure Heroin trazia histórias de uma adolescente normal, insegura, e que se diverte com os amigos do jeito que der. Propunha uma oposição ao mundo glamouroso do pop. Lorde criticava a ostentação e o 50| zint.online

// Diagramação

VICS

luxo de estrelas, que estavam distantes do seu público e de quem eram antes da fama. Hoje, a artista já não se encaixa tanto nesse quadro. A fama veio com o primeiro álbum e mudou a vida da cantora. Melodrama é um registro das novas vivências no mundo da música. O disco foca nos pensamentos da própria artista, inclusive os mais obscuros. A artista conta por meio de suas músicas como é ser uma jovem mulher, como são os primeiros amores não correspondidos, como é ir da adolescência à juventude dentro dessa nova realidade, mas sem perder a visão crítica, ao ironizar o estereótipo da “geração sem amor”. Lorde fala muito sobre o seu jeito de amar, e também sobre se sentir um fardo para as pessoas próximas. É como se ela musicalizasse, para o mundo ouvir, o que os jovens estão pensando. Quando lembro de quem eu era há quatro anos, inicialmente penso que mudei um pouco. Atentando-me aos detalhes, concluo que quase já não sou a mesma pessoa que era aos 16. Se transferimos esse pensamento para artistas da música, vem aquele medo de que a fórmula do pop ou a máquina de fazer hits engulam nossas vozes preferidas com o tempo. Bate aquele receio de que as pessoas percam as características originais que te fizeram gostar tanto daquele som no passado. Em meio a outros lançamentos de novos álbuns de vozes femininas em 2017, como Halsey, Lana Del Rey e Taylor Swift, que também mudaram em seu próprio jeito, o receio só cresce. Mas Lorde não desapontou. Melodrama se equilibra bem na linha entre o pop que agrada a todos


e as estranhezas que definem quem ela é na música. O cabelo longo e cacheado ficou para trás, assim como os batons escuros. O visual adolescente que misturava branco, preto e roxo deu lugar a vestidos rosa, um corte de cabelo mais moderno, maquiagens mais leves e aquele tênis clássico da Adidas. É fácil perceber as mudanças de estilo se comparamos os clipes dos dois álbuns. Vale a pena assistir também as seis performances que Lorde gravou com a Vevo, para seu canal no YouTube. São poderosas, já que para interpretar cada faixa de Melodrama escolhida, a artista teve as melhores ideias. Os vídeos transmitem muito bem a energia da música e a atmosfera da ocasião em que foram gravados.

Lembro da primeira vez em que ela performou ao vivo aquela dança desajeitada e excêntrica. Fizeram comentários maldosos e acharam que Lorde não sabia dançar. Eu, por outro lado, fiquei hipnotizada pensando que aquela menina não estava preocupada se sabia dançar ou não. Ela estava se divertindo, sentindo suas músicas do jeito que queria, e estava confortável ao fazer isso na frente do mundo todo. Essa mesma dança não fica de fora dos clipes de Melodrama e nem das performances para a Vevo: virou sua marca registrada. Ela continua se divertindo com o que faz, e colocando sua personalidade em cada faixa. Lorde coloca “um megafone em seu peito, transmite as batidas e faz todos dançarem”. zint.online | 51



AS NOVAS REGRAS DO POP // TEXTO

P

STEphanie torres

ara quem aguardava uma renovação no mercado de músicas do gênero pop, New Rules, o primeiro grande hit da artista britânica-albanesa Dua Lipa, assegurou a ascensão de uma nova boa artista no estilo musical. A divertida faixa traz uma sonoridade cheia de sintetizadores, que nos faz lembrar uma ligação telefônica onde uma amiga nos instrui sobre como ficar longe de um relacionamento ruim, garantiu seu lugar no Billboard Hot 100 e no topo do iTunes UK. O clipe da música, que já soma mais de 200 milhões de visualizações no Youtube, é igualmente divertido e também muito atual, trazendo uma experiência estética muito bem feita, além de uma mensagem sobre sororidade e girl power. Mas apesar do sucesso da música, Dua Lipa tem potencial para ser muito mais do que uma artista de um hit só. A cantora de voz, personalidade e visual marcantes começou a sua carreira aos 14 anos postando covers no Youtube. Músicas de Nelly Furtado e Cristina Aguilera eram algumas interpretadas por ela. Apesar de nenhum de seus vídeos ter viralizado, a jovem que agora tem 22 anos afirma que eles foram essenciais para o seu trabalho, pois serviram como um portfólio para que, em 2015, ela assinasse com a gravadora Warner Bros Records. Dua Lipa lançou seu disco homônimo, o primeiro de sua carreira, em julho de 2017. O gênero dele foi definido pela própria artista como “pop sombrio”. As 12 faixas (17, na versão deluxe) narram a história nada nova no mundo da música de um relacionamento do começo ao fim. Porém, o som meio experimental das canções, junto com a potente voz de Dua, trazem originalidade e apresentam bem o estilo da artista, que é influenciada por cantoras como Nelly

// Diagramação

matheus leão

Furtado e P!nk. O CD começa com Genesis, fazendo um paralelo entre a criação do mundo e o início do relacionamento. A metáfora permeia outras canções, como Garden, onde Lipa pergunta, já no fim do romance, se eles estão deixando o Jardim do Éden. Já na fase de superação do amor que não deu certo, ela entoa hinos de superação dançantes, como IDGF e New Rules. Alcançando a primeira posição no iTunes britânico, o álbum trouxe músicas já conhecidas pelos fãs da cantora, como Blow Your Mind (Mwah), lançada em 2016, que foi a estreia de Lipa no Billboard Hot 100 e garantiu a ela o título de uma das maiores artistas revelação daquele ano, de acordo com a MTV. Além disso, o álbum conta com uma faixa composta em colaboração com Chris Martin, do Coldplay, e uma parceria com o cantor americano Miguel (que também já colaborou com o brasileiro Emicida). Dua foi considerada pela BBC uma das artistas mais promissoras do mundo, e seu álbum mostra bem porque. Em tempos de crise na música pop, onde a originalidade anda em falta, ela consegue nos apresentar algo novo e cativante. É definitivamente uma artista em que vale a pena ficar de olho. apresentando //

DUA LIPA Deezer Spotify Youtube zint.online | 53


54|

zint.online


A ASCENsÃO DO POP SUL-COREANO: uma introdução ao Kpop // TEXTO

O

Matheus Gritten

que é kpop? Seria um gênero musical, uma febre, um estilo de vida? Kpop, por si só, não é sempre visto como apenas um estilo de música baseado em sua localidade, a Coreia do Sul, mas também é uma variedade de sons, estilos e visuais que moldam tudo o que vemos em um clipe ou um show de um “idol” coreano. Tudo isso está muito em evidência novamente agora, mas o kpop está na cena oriental já há muitos anos, talvez mais do que a gente possa imaginar. As origens desse gênero começam ali na década de 90, com grandes investimentos tomando forma e crescendo na Coreia do Sul (alguns ousam dizer que a origem real data de 1885, mas vamos nos ater ao modern kpop digno do que a gente tá escutando agora). O advento da internet e das mídias digitais muito influenciaram para o avanço dessa cultura, e de um maior alcance desse tipo de entretenimento. Mas o que difere a música coreana da música ocidental que estamos acostumados? Tem muita coisa, desde ritmos a ciclo de lançamentos. Estilos, divulgações, grupos ou solistas. Enquanto que no Ocidente – mais especificamente a música norte-americana – artistas em carreiras solo têm mais facilidade em divulgar seu material, recebendo maior investimento de suas gravadores, no Oriente girlgroups e boygroups são extremamente mais populares, muitas vezes criados pelas próprias empresas, ou eventualmente através de reality shows (o que acontece também nos Estados Unidos ou, mais popularmente, no Reino Unido em programas como o The X Factor). Na indústria musical oriental, especificamente na coreana, os artistas comumente são chamados de “idols”, e passam por um longo e dedicado período de

// DESIGN

Maria Nagib

PSY é um dos principais propulsores do kpop no mundo, com o seu hit single “Gangnam Style” e “Gentleman”

treinamento como trainees nas empresas de entretenimento. Esse treinamento pode durar vários anos, iniciando ainda como adolescentes, sem uma idade específica para começar ou debutar, que, neste caso, significa estrear em algum grupo ou dar início em sua carreira como idol. Infelizmente, não é 100% garantido que após todos esses anos, a pessoa consiga

zint.online | 55


Em 12 anos de carreira, o boygroup Super Junior já conta com nove álbuns, seis álbuns ao vivo, 15 compilações e 29 singles

debutar, considerando o mercado bastante competitivo. E mesmo quando isso acontece, não é sempre que o sucesso vem, resultando no que é conhecido como “disbands”. Para se tornar um trainee, acontecem as audições, ou os jovens são recrutados por olheiros na própria Coreia do Sul e outros países, como Japão, China, Austrália ou Estados Unidos. O treinamento inclui dança, canto, rap, e línguas estrangeiras, como inglês, japonês e mandarim, que eventualmente serão necessários em eventos, shows, comerciais ou mesmo músicas, conforme o sucesso de cada idol ou grupo. O inglês é primordial, tendo em visto que muitas vezes é “mesclado” com o próprio coreano nas músicas, com o intuito de se tornar mais popular em países próximos ou no Ocidente. E aí chega o debut! Após anos de treinamento, o grupo precisa agora mostrar aos netizens (termo utilizado para definir os fãs mais árduos, aqueles que realmente possuem seus bias, vão aos shows apoiar seu idols, etc) a que vieram. A divulgação é intensa, com aparições em programas musicais e de variedades. Um mesmo grupo pode ter mais de um single ou mini álbum lançado num mesmo ano. O ciclo é bem rápido, com um debut e um comeback acontecendo num curto período de tempo. Muitas vezes, a carreira 56| zint.online

decola rápido, com o grupo se lançando no Japão ou na China alguns anos (algumas vezes, meses) após estrearem na Coreia. Talvez o maior impacto que o kpop já tenha causado mundialmente foi o a música e o videoclipe do artista PSY, Gangnam Style, atualmente com quase três bilhões de visualizações no YouTube e incontáveis covers mundo afora. O barulho causado com seu lançamento em 2012 trouxe mais atenção ao kpop, que ainda era pouco conhecido, mas já com grupos de sucesso como Girls’ Generation, 2NE1 e Super Junior estabelecidos, a geração mais popular do gênero até então. Com isso então, chegamos ao período mais atual, já na 5ª geração do kpop moderno. Após reality shows de sucesso como o Sixteen, que originou o TWICE e o Produce 101, que teve duas temporadas e criou o girlgroup I.O.I. e o boygroup, em 2017 Wanna One. Ainda que seja um estilo musical em ascensão, muita coisa boa está presente no kpop e muito ainda está por vir. Eles estão chegando a Billboard, estão influenciando novos artistas pelo mundo todo e fazendo muito sucesso por onde passam. A gente curte, dança, faz as coreografias e canta mesmo sem saber. Pois é divertido, né? Annyeong!


O 2NE1 é um dos grupos mais consolidados do kpop, tendo durado sete anos antes de acabar oficialmente, em 2016. As meninas tiveram alguns de seus singles explodindo no mundo, inclusive aqui no Brasil, como foi o caso de “I Am the Best”

PARA COMEÇAR Wanna One Recém chegados da segunda temporada do Produce 101, os onze membros já tem um mini álbum pra gente ouvir! Pristin Elas debutaram esse ano e já tiveram comeback. I like, dududududududu IOI O primeiro grupo formado pelo Produce 101, com o sucesso Pick Me, as onze garotas tiveram vida curta como grupo, mas deram origem a novos girlgroups desde o seu fim. Girls’ Generation 10 anos de estrada e muito sucesso! As Divine 9 (hoje 8, após a saída da Jessica), lançaram em agosto desse ano o Holiday Night, álbum comemorativo da carreira.

Blackpink Da YG Entertainment, responsável por grupos como BIGBANG e 2NE1, o quarteto surgiu em 2016 com o hit BOOMBAYAH e tem se estabelecido como um dos grupos mais fortes no Ocidente, quebrando recordes de views no YouTube. BTS Grupo mais popular do momento, os garotos ganharam, recentemente, um prêmio na edição deste ano da Billboard Music Awards, e já até figuraram na Billboard Hot 100. fã base consistente e devotada #ARMY apresentando //

KPOP

Deezer Spotify Youtube



A caminho de um panorama musical inclusivo Grupos minoritários passam a questionar representações midiáticas // TEXTO

Carolina Cassese VICS

// Diagramação

N

o dia 28 de agosto, MC Livinho lançou a música Covardia. A primeira frase do refrão anuncia: “Vou abusar bem dessa mina”. Diversos internautas não receberam bem a letra da música, considerada, por eles, apologia à violência contra a mulher e ao assédio sexual. O cantor se defendeu das críticas, chamando os que reclamaram da letra de “família mimimi”. Em um vídeo postado em seu canal, afirmou: “Essa música não tem nada a ver com abuso. Quem me conhece sabe minha índole, meu caráter e a minha criatividade”. Sabe-se que o Brasil é um país essencialmente conservador, que recentemente foi considerado o pior país da América Latina para se nascer mulher (de acordo com relatório da ONG Save the Children). Considerando que a mídia pode refletir os sintomas da sociedade, não é de se espantar que os produtos culturais estejam impregnados de diversos tipos e estereótipos. Nos últimos cinco anos, grupos minoritários tem conquistado mais espaço no Brasil, manifestando-se cada vez mais em diversos âmbitos (tanto nas ruas

quanto nas redes sociais). Diversas pautas foram levantadas por essas minorias, dentre elas, a questão da representação midiática: não seria mais aceitável se conformar com representações excludentes, normativas em nossa sociedade. Em março deste ano, foi lançada a página do Facebook Arrumando Letras, que tem o objetivo de corrigir letras de músicas desrespeitosas. Em entrevista a diferentes veículos, a autora da página, Camila Queiroz, afirmou que frases abusivas geralmente não são questionadas porque muitas atitudes preconceituosas já estão enraizadas na cabeça das pessoas. Em entrevista ao site do Correio Braziliense, ressaltou: “Eu queria mostrar que o machismo ainda é muito naturalizado pela sociedade. Mesmo ele estando presente todos os dias nas nossas vidas — em músicas, nas ruas, no trabalho - ainda passa despercebido por nós”. A página, que conta com cerca de 258 mil curtidas, já problematizou músicas de diversos gêneros. Camila reafirma com frequência que a página não foi criada para reforçar nenhum tipo de preconceito musical. "Eu tento demonstrar, a cada postagem, como o machismo está inserido em todos os gêneros musicais e como as canções são, na verdade, reflexo da nossa sociedade que é, ainda e desde sempre, patriarcal e misógina", disse ao Correio Braziliense. Uma das letras mais problematizadas por coletivos feministas é o hit Vidinha de Balada, da dupla Henrique e Juliano. No refrão da música, estão os seguintes trechos: "Vai namorar comigo, sim! (...) Se reclamar, cê vai casar também". Diversas mulheres identificam, nessas passagens, uma romantização de relacionamentos abusivos, já que o eu lírico demonstra exercer controle sobre a parceira. Outro hit considerado extremamente problemático foi a canção Química, do cantor Biel. O trecho "Você me fala que não/ mas eu te provo que sim" evidencia um comportamento de desrespeito em relação à palavra da mulher. O mesmo cantor, em junho de 2016, foi acusado de assédio sexual por uma jornalista. Durante a entrevista, Biel chamou a repórter de “gostosinha” e afirmou que “a quebraria no meio” caso tivesse oportunidade de ter relação sexual com ela. As falas do cantor ficaram registradas em vídeo e áudio, já que a entrevista estava sendo gravada. Ao denunciar o garoto, a jornalista, que fez o possível para preservar sua privacidade, perdeu o emprego – tornando-se mais um caso em que a vítima foi punida por ter denunciado um episódio de assédio. A repercussão do caso não parou por aí: o assunto zint.online | 59


chegou aos Trending Topics do Twitter e, dias depois, Biel perdeu diversos contratos publicitários. O cantor insistia: "mas foi só uma brincadeira...". Outras músicas de sucesso comercial, como o funk Lei do Retorno (de Mc Don Juan e Mc Hariel) e Every Breathe You Take (The Police), são citados nas redes sociais como maus exemplos para os ouvintes. Também por meio das redes sociais, é possível perceber um crescente movimento de questionamento da própria problematização destas canções. Muitos consideram exagero reclamar de letras de música, já que, para essas pessoas, existiriam pautas mais importantes a serem abordadas. A fala de Livinho sobre a repercussão de sua música, chamando de "mimimi" as críticas que recebeu, evidencia esse tipo de pensamento. É importante, sim, fazer uma diferenciação entre o eu lírico e o perfomer da música: nem sempre o cantor concorda com o que está cantando. Porém, 60| zint.online

não se pode ser simplista e ignorar que todo produto cultural passa alguma mensagem para o receptor. Gerações que crescem assistindo ou escutando representações excludentes podem vir a incorporar as mesmas como normativas, sem nenhum tipo de questionamento. Hiperssexualização de garotas adolescentes, comportamentos abusivos, estereótipos desrespeitosos: todos esses elementos são facilmente encontrados em diversos clássicos e hits da cena musical - nacional e internacional. Representatividade

Como forma de resistência, além das problematizações, outra mudança é perceptível nos últimos anos: grupos minoritários passaram a produzir mais conteúdo. Essas produções geralmente são mais engajadas, e é perceptível uma maior preocupação com a mensagem que será passada para o ouvinte. A cantora Karol Conka, por exemplo, se apresenta


MINORIAS // panorama inclusivo Em sua música, Karol Conka mostra muito do seu lado ativista, cantando sobre liberdade sexual, a independência da mulher, a luta contra o preconceito e a força feminina

Nos últimos cinco anos, grupos minoritários tem conquistado mais espaço no Brasil, manifestandose cada vez mais em diversos âmbitos, principal na/pela música. Deezer Spotify Youtube

Pabllo Vittar, drag queen brasileira, viu sua fama alavancar durante o ano de 2017, conseguindo uma carreira de sucesso sólida e tornando-se uma porta voz ativa para as causas LGBTQ+

com o intuito de reinventar o cenário musical brasileiro, compondo músicas que falam de temas tabus, como o prazer sexual feminino. É o caso também da icônica Pablo Vittar, cantora drag queen que alcançou mais de 100 milhões de visualizações no clipe de sua música mais famosa, K.O.. A partir do momento em que mulheres, negros e membros da comunidade LGBTQ+ começam a produzir conteúdo e ganhar reconhecimento, a cena cultural se torna, finalmente, mais diversificada e, consequentemente, menos excludente.



De Araxá para o mundo: prazer, Ruben di Souza! Conheça o mineirinho come-quieto que iniciou a carreira como músico de turnê e hoje se tornou em um dos maiores produtores musicais do Brasil // TEXTO

C

Julio César Puiati

amuflado em meio a guitarras Gibson penduradas na parede, violões dos anos 70 dispostos pela sala e uma dúzia de teclados espalhados pelo estúdio, Ruben di Souza respira música. O que era de se esperar de um produtor musical de longa data. O Rubinho – como é conhecido por artistas, cantores e compositores de Minas Gerais e do Brasil – não esconde a satisfação e o orgulho por trabalhar com o que ama. Pelo contrário. Faz questão de apontar, uma a uma, todas as conquistas da vida. E que conquistas! Pode até parecer clichê, mas assim como a maioria dos profissionais do ramo, Ruben nasceu para a música. Natural de Araxá, desde criança se interessou pelos acordes, melodias, arranjos e composições. Filho de pastor evangélico e de mãe integrante do coral da igreja, Rubinho já desenvolvia um gosto que iria ser importantíssimo lá na frente em seu futuro: a afinidade pela música gospel. Antes de ser tornar um produtor musical renomado, entretanto, Ruben di Souza foi músico. Viveu toda aquela experiência de banda. De estar em conjunto. Tocou em grupos de baile, acompanhou artistas, viajou pelo país inteiro, esteve presente em inúmeros estúdios para gravar. De tanto acompanhar os processos que envolviam a produção de discos, EP’s e canções, decidiu seguir outros caminhos. “Com

// DESIGN

Maria Nagib

tanta intimidade que fui pegando nesse meio de gravação, saber equipamentos, saber quem é quem, pesquisar… o trabalho acabou virando produção musical”, explica. Foram muitas horas de voo de estúdio e como músico. O primeiro trabalho de Rubinho na nova profissão foi um álbum infantil em 1989. Ele viajou para São Paulo, trabalhou junto de uma gravadora e assinou o primeiro disco da dupla de palhaços Patati Patatá. “E de lá pra cá eu não parei mais”. Milton Nascimento, Tianastácia, Skank, Beto Guedes, Lô Borges, 14 Bis… quer mais? Daniela Mercury, Vander Lee, Guilherme Arantes, Jota Quest, César Menotti e Fabiano. Ruben di Souza assinou trabalhos com vários cantores, cantoras e bandas conhecidíssimas do cenário brasileiro. Seja no pop rock, no axé, na MPB ou no sertanejo, Rubinho esteve presente como produtor musical. “É tanta gente! Às vezes chega dar até um branco!”, brinca. Produzir não é tão simples!

O produtor musical é a ponte para tudo. Ele liga todos os pontos. São os pontos do artista com a parte técnica, o artista com os músicos, o artista com a indústria. Esse disco vai para onde? Para o rádio? É de igreja, de um artista popular, de uma banda? Qual é o nicho? É dever deste profissional responder essas e outras perguntas que não envolvem apenas notas, zint.online | 63


acordes e arranjos. Embora Rubinho tenha vivido toda uma carreira como compositor e arranjador, essa não é uma condição específica para o trabalho. “Não necessariamente ele precisa ser um músico. Mas ele precisa entender o negócio como um todo”. O trabalho realizado por Ruben di Souza envolve cinco etapas principais: repertório, músicos, estúdio, equipe técnica e finalização. O percurso envolve muito planejamento, dedicação e paciência, acima de tudo. Segundo Rubinho, o artista quer gravar um trabalho quando ele tem a necessidade de “contar uma nova história, criar novas canções ou produzir músicas encomendadas para novelas, turnês ou outros fins específicos. E tudo começa em uma ligação”. O repertório é o conjunto de canções já planejadas pelo artista, compostas por uma junção de arranjos, melodia, harmonia e letra. Os músicos são os profissionais que estarão dentro do estúdio para gravar todos os instrumentos envolvidos nas canções: percussões, guitarras, baixos, teclados, sopro, voz, etc. Esses profissionais podem ser da mesma banda do artista ou contratados para essas ocasiões. O estúdio é a estrutura física de gravação, composto por mesas de áudio, equipamentos de captação e instrumentos musicais. Finalmente, a finalização envolve a edição de todo o material bruto, adição de efeitos especiais, mixagem e masterização. Para Rubinho, o planejamento é essencial. O artista precisa estar com tudo na cabeça. Assim o trabalho flui da maneira correta. “Uma vez o saudoso Vander Lee me ligou e disse que queria gravar um disco. Em um telefone ele me falou tudo o que queria”. O trabalho, na ocasião, foi o álbum ao vivo Pensei que fosse o céu, gravado no Palácio das Artes em 2006. “Ele já sabia o repertório, os músicos convidados, o local, etc. Quando a gente foi pro ensaio ele já tava com tudo na cabeça”, conta. Hoje com 43 anos de idade, Ruben se dedica apenas à música cristã. Produziu músicos como André Valadão, Lu Alone, Gui Rebustini e bandas como a Discopraise, Livres para Adorar e Pedras Vivas. Mas foi com a cantora Aline Barros que aquele Rubinho, filho de pastor evangélico e mãe regente do coral da igreja, alcançou o ápice de sua carreira. O produtor musical ficou responsável pela organização do disco Graça, produzido em 2013 junto à gravadora MK Music. O trabalho foi tão impecável que Rubinho e Aline foram reconhecidos internacionalmente. Juntos receberam o Grammy Latino na categoria “Melhor álbum de música cristã em língua 64| zint.online

portuguesa” no ano posterior. Ao mostrar a famosa estatueta em formato de vitrola, Ruben di Souza reforça com o maior orgulho do mundo: “O disco é muito bom. O disco é realmente sensacional”. A indústria da música

Questionado se existem gêneros musicais que fazem mais sucesso do que outros no mercado da música brasileira, Ruben di Souza explica que não há receita. Mas ele conta que existe sim uma certa tendência natural ao predomínio de determinados tipos de música a depender do contexto histórico. “Há quanto tempo não temos um novo artista de MPB? Há quanto tempo não temos uma banda de rock nova? Tem um bom tempo”, reflete. Segundo Rubinho, as maiores festas brasileiras são os rodeios e as exposições. Por isso o sucesso tão grande das duplas e cantores sertanejos que não param de explodir no cenário do nosso país. Além disso, as canções desse gênero musical são muito populares e fáceis de se assimilar. As pessoas ouvem e já saem curtindo rapidamente. “É uma música que tem encomenda e endereço”, brinca. Antes de se dedicar única e exclusivamente ao segmento gospel, Ruben produziu o hit Ciumenta, da dupla César Menotti e Fabiano. Os cantores mineiros estavam no alto das paradas com a música Leilão e precisavam manter o alto padrão de trabalho com outra canção de sucesso. Ciumenta, portanto, surge com uma letra cativante que reflete situações do cotidiano. Afinal, quem nunca passou por problemas de ciúme em relacionamentos? Foi com essa chamada que César Menotti e Fabiano mostraram ao público, pela primeira vez, o hit em um show ao vivo. “Quando eu ouvi a introdução… o povo já foi à loucura. O Fabiano olhou pra mim e gritou: deu certo! Às vezes você procura e procura o sucesso e ele não aparece. E de repente acontece”, complementa. Neste caso, o sucesso veio após um longo período de produção musical, planejamento de arranjos, letras e dias de estúdio. Mas o sucesso pode vir também de outras maneiras. Estamos em um mundo cada vez mais digitalizado, globalizado e interativo. Deixamos os discos físicos para dar mais atenção às plataformas de streaming. Não precisamos ficar de olho na MTV ou na Multishow para acompanharmos aquele novo clipe do Justin Bieber ou da Rihanna – basta acessarmos o Youtube. Rubinho conta que isso tira um pouco da essência daquele ritual: de poder contemplar a ficha técnica de um álbum e descobrir em qual estúdio foi gravado, quais foram os engenheiros de


mixagem e todos os outros profissionais envolvidos na confecção do produto final. “Os LP’s tinham muito disso. Hoje nós perdemos essa ficha técnica. Ninguém sabe quem tocou, quem gravou, onde que foi feito…”. O produtor musical, no entanto, acredita que a música digital não chegou para atrapalhar. E sim para complementar. De acordo com Ruben, o Brasil é um país continental, gigantesco. E a internet auxilia na difusão dos trabalhos autorais espalhados pelas cinco regiões do país. Ele conta que, no passado, os hits passavam por diferentes estações de rádio – desde o interior até às capitais – para estourar no Brasil inteiro. Hoje as coisas são muito mais fáceis. “Eu toco esse piano, faço um upload e já tá no mundo inteiro. Tô conversando com o planeta!”, explica. Música é cultura! Ruben é realmente um daqueles caras que nasceram para a música. Ele é pai de João e Bernardo di Souza, que já herdaram essa paixão que começou lá

em Araxá, no coral da igreja. Com um certo brilho nos olhos, ele conta que ser produtor musical é poder acompanhar a história da música e todos os seus processos adjacentes. “É a sensação de ser um espectador privilegiado. A música te dá a possibilidade de estar do lado do seu ídolo. E isso aconteceu comigo. Poxa, tocar teclado com Guilherme Arantes? Isso é demais pra mim!”, conta emocionado. Ser produtor musical é também acompanhar o mercado da indústria fonográfica. Descobrir novas linguagens, tendências e estilos. E todas essas formas de manifestações são válidas. Independente do gênero, local ou exposição. “Nós temos bandas se rock, sertanejo, pagode e música cristã maravilhosas. O Brasil é muito rico! E é isso mesmo. Cada um produzindo a sua música. E o holofote cada hora virado para um lado”. Pode ter certeza que o nosso país é muito rico sim, Rubinho! E você foi fundamental no cenário musical produzindo e divulgando trabalhos. A música agradece! zint.online | 65


Cultura em BH: ocupações de espaços públicos e eventos musicais independentes // TEXTO

66| zint.online

Barbara Lima

// DESIGN

Maria Nagib


A

ocupação de espaços públicos em Belo Horizonte vem ganhando mais força com o passar dos anos. Eventos em praças ou espaços culturais, que promovem a interação de diferentes públicos de forma totalmente independente, são uma importante atração para inúmeras pessoas. Neste ano, 2017, não haverá a clássica Virada Cultural e que conta sempre com o mais variado público, mas estão surgindo outros eventos que abrangem toda a forma de cultura, de maneira plural. Alguns dos encontros em espaços públicos tradicionais em Belo Horizonte que acontecem em 2017, nos finais de semana, férias e feriados, são a Praia da Estação, o Samba da meia-noite, Saraus, Duelo de MCs e o Forró no Viaduto Santa Tere-

za. Winnie Parreira, estudante de geografia, marca presença na maioria desses eventos desde os seus 15 anos por diversos motivos, entre eles está sua preocupação em ocupar espaços públicos. “É importante não só para a população carente, de baixa renda, mas para todos. Esses lugares universalizam cultura”, afirmou a estudante. O último evento no qual Winnie esteve presente foi o Forrozeiros de Rua, no Viaduto Santa Tereza, no dia 16 e setembro, sendo este um dos que mais frequenta, pois gosta muito de dança e música. Outro espaço de atração para o público é o bar Zona Last, localizado no bairro Horto (região Leste de Belo Horizonte). É um bar que foge da área central da cidade, para atrair as pessoas a outros locais, quebrando com o estereótipo de que eventos independentes, nas ruas, só acontecem no Centro. Sem zint.online | 67


Praia da Estação

preconceitos, muita dança e muita música, o DJ Gabriel Peixoto, é um dos parceiros do Zona Last. Ele promove o seu baile toda quinta-feira no local. Recentemente, Gabriel realizou a festa Subversivas no bar de maneira independente, sem nenhum incentivo e patrocinadores. Essa festa foi o encerramento de um festival que se chamava Reverberar. A festa surgiu da necessidade de dar maior visibilidade à população minimizada pela sociedade e, nessa edição, a principal temática era proporcionar às mulheres a possibilidade de conduzir as oficinas de danças. “Eu me preocupo em fazer o público se sentir à vontade. E a maioria das pessoas que frequenta esses eventos estão a todo tempo questionando, se envolvendo e participando da temática abordada”, conta Gabriel. O Zona Last é um bar aberto a experimentações, 68| zint.online

que acredita na ocupação de espaços públicos, no empoderamento do chão, das paredes. Consegue fazer as pessoas sentirem que a cidade é de todos. O próximo evento no bar realizado por Peixoto será no dia 12 de outubro, em comemoração ao dia das crianças. A programação ainda está a ser definida. Em Belo Horizonte, a cultura independente é muito diversificada. Ela consegue atender a todos os gostos e preferências, seja do cinema ao show de rap e oficinas. Isso é de extrema importância para valorizar todas as belezas que existem nos centros urbanos, e fazer com que os indivíduos descubram o novo, libertando-se de sua rotina. Duelos de MCs O Duelo de MCs em Belo Horizonte é um dos eventos de rua mais significativos que está


presente na programação cultural da cidade desde 2007. Criado pela Família de Rua, que tem como integrantes os MCs PDR Valentim, Thiago Monge, Ozléo, e a jornalista Ludmila Ribeiro, o movimento sempre teve o mesmo objetivo: de apresentar diversas manifestações culturais ao público, com rimas, grafite e danças. O Duelo, inicialmente, tinha a ideia de ocupar a Praça da Estação, por se tratar de um lugar de fácil acesso, mas, devido às chuvas, o grupo optou por ocupar o Viaduto Santa Tereza. Desde então, os encontros já aconteceram por mais de 300 sextas-feiras e domingos. Durante a tarde de um domingo em 2012, no decorrer da comemoração dos cinco anos do Duelo de MCs, foi criado o Duelo de MCs Nacional. Essa data foi histórica pois contou com a participação surpresa do rapper Emicida, de dançarinos e grafitei-

ros. Mas a atração principal foi o duelo entre os MCs de sete capitais brasileiras no palco do Viaduto para disputar o título nacional. Nesse dia, o vencedor foi o mineiro Douglas Din. A partir de 2014, o Duelo de Mcs nacional foi realizado por meio de arrecadação colaborativa, uma vez que o projeto não conseguiu nenhum patrocínio. Neste ano de 2017, o evento nacional terá o seu desfecho, novamente, no palco do Viaduto Santa Tereza, e contará com finalistas de 16 estados brasileiros. Está programado para acontecer nos dias 25 e 26 de novembro, com o início às 14h de sábado, e o término às 20h, de domingo. Mais de doze horas de evento, para celebrar os dez anos do Duelo, eleger um vencedor e, acima de todos os objetivos, ocupar o espaço público urbano com diversas expressões culturais.



quadrinhos


Poesia desenhada // TEXTO

JOÃO DICKER

// diagramação

E

VICS

m dado momento do enredo de Como Falar Com Garota Em Festas, graphic novel lançada no Brasil no último mês de agosto, o protagonista ouve que "você não consegue ouvir um poema sem que ele te transforme". Tal afirmativa, maravilhosamente criada por Neil Gaiman, resume perfeitamente o quadrinho que adapta o conto homônimo do escritor nos traços dos gêmeos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá. O trabalho de adaptação realizado por Moon e Bá é impecável. Existe um respeito pelo material original, que é traduzido literalmente para o texto, mas há um toque refinado na maneira com que os gêmeos dão forma e vida a história de Enn. Situada na Londres dos anos 70, em pleno movimento punk, o jovem de 15 anos se encontra no momento mais difícil da puberdade: o desenvolvimento de sua sexualidade. Tímido, retraído e desajeitado para paquerar, o protagonista segue seu descolado e galante amigo Vic para uma festa. Chegando lá, Enn se depara com moças deslumbrantes e incomuns, vivendo uma situação inesquecível em sua vida. A premissa simples da narrativa ganha profundidade ao ser trabalhada com os devaneios e peculiaridades corriqueiras das histórias de Gaiman. Conhecido por seus enredos alegóricos e fantasiosos que evocam mitologias e folclores consagrados, além de temáticas culturais e referencias artísticas, o autor entrega em Como Falar Com Garotas Em Festas um conto mais intimista e que não se esquece do lirismo ao retratar as diferenças e dificuldades do amadurecimento, além da poesia existente na descoberta do 72| zint.online


amor. É interessante como o autor encontra na diferente representação das personagens femininas uma forma de resumir o pensamento que muitos meninos adolescentes tem sobre o sexo oposto. A adaptação literal do texto garante a identidade narrativa do autor, com um texto orgânico e energético, representações sucintas de culturas diferentes (que apesar de extremamente imaginárias e fictícias, aparentam ser complexas e interessantes ao leitor) e recheadas da profundidade existente em todas as obras de Gaiman. Ainda, Moon e Bá deixam a narrativa mais fluída na forma com que exploram a disposição de seus quadros nas páginas, dosando perfeitamente bem quando encher a página com um único desenho, picotar a narrativa em quadros menores ou então trabalhar balões de um mesmo diálogo em ações consecutivas. A dupla dá um show a parte nos desenhos e na coloração. Com seus traços leves e minimalistas, os personagens ganham movimento em suas ações, complementando o texto perfeitamente. A maneira com que dão vivacidade as expressões faciais de seus personagens colaboram para a melhor compreensão das sensações em cada momento posto nas páginas; nos grandes olhos das mulheres desenhadas são hipnotizantes e magnéticos; a coloração emulando aquarela da tons líricos e poéticos à obra por completo, além de ser extremamente bem explorada ao apresentar as mulheres em tons de vermelho (cor do desejo) ou no uso excessivo de tons amarelos (remetendo a ideia de distração que o protagonista sofre com as personagens femininas). Desta forma, Como Falar Com Garotas Em Festas assegura ao seu leitor o mesmo efeito que Enn vive em seu encontro incomum. Com a premissa de que toda poesia nos transforma de alguma maneira, a HQ se afirma como uma bela maneira de sentir os mistérios do amadurecimento e as descobertas do autoconhecimento, colocadas sob a forma de uma poesia desenhada nos tons de um amor inocente. A graphic novel foi adaptada para os cinemas no filme How to Talk to Girls at Parties, que estreou no festival de Cannes em maio deste ano. Contudo, o filme ainda não entrou no circuito mundial e não tem data de previsão de estreia no Brasil. O longa é dirigido por John Cameron Mitchell e conta com Nicole Kidman, Elle Fanning, Alex Sharp e Ruth Wilson no elenco. zint.online | 73


20 Anos de One Piece Série de Eiichiro Oda completa duas décadas como fenômeno absoluto de vendas no Japão e se torna o terceiro quadrinho mais vendido na história // TEXTO

RAFAEL BONANNO

// Diagramação

M

VICS

uito provavelmente, você nunca ouviu falar de One Piece. Se ouviu, não se interessou tanto pela série em função da vasta quantidade de capítulos (880 até o fechamento desta edição) ou por não se interessar tanto por mangás mesmo. Afinal, o que faz desta série um fenômeno? Antes de tentar responder essa pergunta, é fundamental compreender alguns aspectos que orbitam o universo otaku. One Piece, assim como vários outros mangás, é publicado pela editora Shueisha por meio de sua revista semanal, a Weekly Shonen Jump. Nesta revista, que existe desde 1968, são publicados apenas mangás voltados para o público alvo determinado como shōnen (jovens do gênero masculino). Por exemplo, Dragon Ball e Yu Yu Hakusho, duas séries de mangá bem populares por aqui, foram serializadas pela Shonen Jump. O mesmo aconteceu com os também populares Death Note e Naruto. No dia 22 de julho, de 1997, a história Romance Dawn figurava nas páginas da revista semanal da Shueisha. Nela, Monkey D. Luffy, um garoto de sete anos de idade que queria entrar para o bando de piratas de Shanks, o ruivo, come acidentalmente uma fruta que o transforma em homem-borracha, com a desvantagem de não poder nadar nunca mais. Depois de um conflito com bandidos da montanha, Shanks salva a vida do pequeno garoto de borracha e Luffy acaba decidindo se tornar um pirata por conta própria e passa a perseguir o sonho de se tornar o rei dos piratas. Surpreendido com a declaração ousada, o ruivo decide presenteá-lo com seu Chapéu de Palha e provoca: “venha me devolver este chapéu quando se 74| zint.online

tornar um grande pirata”. Dez anos depois ele vai para o mar em busca de companheiros e o resto é história... Parece uma narrativa simples e centrada apenas nos personagens principais, mas o mundo de One Piece é extremamente vasto e povoado por personagens icônicos, que renovam a história a cada arco dramático. É muito importante compreender que os piratas como são retratados em One Piece não são como Jack Sparrow, Capitão Gancho ou Barba Negra. Eles podem vir nas mais variadas formas e dos mais distintos lugares. Na verdade, a existência de piratas no mundo de One Piece se relaciona bastante com a conjuntura apresentada por Oda, em que um Governo Mundial existe exclusivamente para manter o status quo dos nobríssimos Tenryuubitos (os Dragões Celestiais). Este Governo Mundial, estabelecido há 800 anos, tem como braço militar a Marinha, a agência de inteligência e espionagem Cipher Pol, e os Shichibukai (sete piratas poderosos que agem como corsários a serviço do Governo Mundial). Obviamente, o status quo dos Tenryuubitos é mantido sob muita opressão e desigualdade. Ser pirata em One Piece significa, sobretudo, encontrar o próprio meio de viver e sonhar diante destas restrições. Formar um bando, é compartilhar com os companheiros valores e princípios semelhantes. É navegar por aí e virar o mundo de cabeça para baixo. No começo do mangá, Oda nos conta que somente um pirata navegou todos os mares e encontrou o One Piece. Gold Roger foi o rei dos piratas que


conquistou tudo e, quando capturado pela marinha e condenado a execução, suas últimas palavras inspiraram muitas pessoas a irem para o mar, dando início a grande era dos piratas. O foco principal da história é a jornada de Luffy para se tornar o rei dos piratas. A medida que este e outros objetivos vão se desenvolvendo, o mangaká faz questão de colorir e enriquecer o universo com muita personalidade. A cada ilha visitada, conhecemos um novo ambiente, uma nova civilização, seus costumes e economia, assim como seus problemas e conflitos. Uma ilha no céu, um navio fantasma, reinos tomados por piratas, uma cidade construída nas costas de um elefante colossal que vaga pelo mar há mais de mil anos e um arquipélago de ilhas feitas de doces são apenas um breve exemplo do quão vasta costuma ser a caracterização em One Piece. Sendo sensato, é muito difícil explicar exatamente porque algumas obras atingem o status de fenômeno absoluto. Chego a simples conclusão que tem muita relação com o tanto que o conteúdo presente em uma obra consegue reverberar e transcender dentro de seus próprios meios de distribuição. Diante das devidas proporções, foi um pouco o que aconteceu com Beatles e Star Wars, talvez os dois maiores expoentes da cultura pop ocidental - e que também se fazem presentes em diversos cantos do oriente. Não que seja o caso com One Piece, é algo que

ainda será observado a medida que o mangá conclui e enquanto ele se desdobra no ocidente. Fato é que a história de Luffy e seus companheiros conquistou o seu lugar e já ganhou o coração e a simpatia de muita gente. Há quem diga que, mesmo diante da imensidão dessa história, existe um lugar pra qualquer pessoa se divertir e se emocionar. Falo por experiência própria. Já coloquei pessoas diferentes para “experimentar” One Piece e me aventurei com as reações. Sempre bastante surpreso em como a série consegue conferir importância e densidade aos momentos mais singelos e despretensiosos. Guinness Book e outros Recordes

Em 2015, a série atingiu duas marcas reconhecidas pelo Guinness World Records: Série de quadrinhos de um mesmo autor com mais cópias publicadas no mundo e Série de mangá mais vendida da história, atualmente com mais de 416 milhões de cópias contabilizadas ao redor do planeta. Além disso, One Piece ultrapassou Homem-Aranha e se tornou o terceiro quadrinho mais vendido da história, atrás apenas de Batman e Super-Homem, respectivamente.

No Japão, a série domina o ranking de vendas de mangá há mais de dez anos. No Brasil, o mangá de One Piece é publicado em formato regular pela editora Panini Comics.

zint.online | 75


LADY DI ESPECIAL




Duas décadas sem a princesa do povo // TEXTO

LAURA MICHELL VICS

// DIAGRAMACÃO

Fotografia de Mario Testino


D

iana Spencer não teve uma infância feliz. Apesar de crescer em uma influente família aristocrata, nem tudo era perfeito. Aos seis anos, sua mãe abandonou seu pai, deixou a família para trás e fugiu com outro homem. Com suas duas irmãs mais velhas em um colégio interno e seu pai em depressão profunda, Diana e seu irmão mais novo, Charles, foram criados por uma sucessão de babás. A solidão de Diana era evidente. Sentada na porteira de casa toda noite, esperava sua mãe voltar de “férias”, algo que jamais aconteceria. Apaixonada por dança, mudou-se para Londres em 1978, aos dezessete anos, onde conseguiu um emprego como professora de balé no famoso estúdio

29 de Julho de 1981: A Princesa Diana e o Príncipe Charles passeiam por uma carruagem após o casamento

Revista People; Fotografia de Anwar Hussein/WireImage

Vacani. Pouco tempo depois, começou a trabalhar como professora do jardim de infância Young England School. Nessa época, sua irmã mais velha, Sarah Spencer, namorava o cobiçado príncipe Charles, e Diana a acompanhava em eventos da família real. Com o namoro em declínio e a pressão para arranjar uma esposa, Charles viu em Diana uma possibilidade. Em fevereiro de 1981, com 19 anos e tendo se encontrado com Charles apenas 13 vezes, Lady Di ficou noiva do príncipe de 32 anos. Na semana do noivado, Diana desenvolveu uma bulimia, que só viria a público anos depois. No dia 29 de julho de 1981, 750 milhões de pessoas ao redor do mundo assistiram, pela televisão, a cerimônia na Abadia de Westminster. Nascia ali, um ícone da cultura pop


mundial. Após o casamento, Diana viajou para vários países acompanhando Charles em eventos da família real britânica. Com sua beleza e carisma, conquistou o público de maneira rápida e devastadora. A princesa passou a ser mais requisitada pelo povo e pela imprensa do que seu marido, o futuro rei da Inglaterra. Em junho de 1982 e setembro de 1984, Diana deu à luz aos seus dois meninos, herdeiros do trono, William e Harry. Contudo, a partir de meados da década de 80, a tensão entre o casal real aumentava de forma constante. Isso porque, após o nascimento dos filhos, Charles passava cada vez mais tempo com seus amigos,

o que incluía sua ex-namorada Camilla Parker Bowles – com quem voltaria a ter um affair, e menos tempo em casa. A solidão de Diana e as suspeitas de que o príncipe estava tendo um caso extraconjugal, a deixava extremamente insatisfeita. Filantropia

Como válvula de escape para os problemas matrimoniais, Diana decidiu transferir sua atenção para causas humanitárias e usar a popularidade do Palácio de Buckingham para mostrar ao mundo a realidade da vida em países menos privilegiados e, também, questões relacionadas ao câncer, pessoas sem-teto, crianças amputadas, surdos e cegos, viciados, etc. Dentre as mais de cem instituições sociais e organizações de caridade do qual era madrinha, Diana se empenhava especialmente nas campanhas contra minas terrestres e combate à AIDS. Em 1987, época em que o vírus HIV ainda era pouco conhecido, mas já muito temido, a princesa fez o inimaginável. Enquanto muitos acreditavam que a doença era passada de uma pessoa para outra, pelo simples toque entre elas, Lady Di visitou o London Middlesex Hospital, centro médico que possuía uma unidade de tratamento exclusivo para portadores de AIDS, e, na frente de diversos fotógrafos e jornalistas, tirou suas Charles Spencer luvas para estender a mão a um paciente portador do vírus. Um simples gesto que percorreu o mundo levando consigo a uma importante mensagem: AIDS é uma doença que precisa ser vista com compaixão e compreensão, não medo e ignorância. Dez anos depois, em 1997, ano de sua morte, Diana viajou à Angola como voluntária do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, para promover a campanha internacional de proibição de minas terrestres. Com o objetivo de conscientizar os angolanos e o mundo, sobre o perigo que a guerra civil trazia para toda a população, Lady Di atravessou, andando, um campo de minas terrestres ainda ativo. Devido ao seu empenho nessa campanha, e com a ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro

"De todas as ironias a respeito de Diana, talvez a maior seja esta: a garota, batizada com o nome da deusa da caça da antiguidade, tornou-se, no final, a pessoa mais caçada da era moderna"

zint.online | 81


só aumentou. O assédio da imprensa era tanto que, por vezes, o carro da princesa foi engolido pela multidão de fotógrafos e jornalistas, sem conseguir sair do lugar. A curiosidade para saber o que Diana faria ou com quem se relacionaria chegou ao seu limite no dia 31 de agosto de 1997. Era noite em Paris e Diana estava voltando de uma temporada de férias no sul da França, com seu novo namorado Dodi Al-Fayed, um milionário egípcio, herdeiro da luxuosa loja de departamento Harrods. Logo após saírem do hotel em que estavam hospedados, o carro de Diana foi perseguido, em alta velocidade, por vários paparazzi em motocicletas. Ao

de 1997, três meses após sua morte, foi assinado o Tratado de Ottawa que proíbe o uso, a produção, a estocagem e a transferência de minas terrestres pelos países signatários. O casamento de Diana e príncipe Charles terminou em 1992, quando já estava insustentável para toda a família real. A separação foi anunciada no dia 9 de dezembro de 1992, porém, o divórcio só foi oficializado em agosto de 1996, ano que se sucedeu a histórica entrevista concedida por Lady Di, dentro do palácio de Kensington, para a emissora inglesa BBC. Nela, Diana falou abertamente sobre a traição do príncipe, seus próprios affairs, sobre a bulimia que nutriu por muito anos, suas tentativas de suicídio, sobre depressão, doenças mentais e sobre a sua relação com a realeza antes e depois da separação. Desafiar a família real e expor problemas que ainda não eram falados na mídia, teve um grande impacto no mundo. Após o divórcio, o interesse da mídia por Diana 82| zint.online


tentar escapar das motos, o motorista do carro, Henri Paul – que estava sob influência de álcool e remédios prescritos - perdeu o controle da direção, causando o fatal acidente no túnel da Pont de l’Alma. O motorista e Dodi, morreram na hora, mas a princesa foi levada ainda com vida, a um hospital da capital francesa, onde faleceu pouco depois, aos 36 anos. O único sobrevivente do acidente foi o até então guarda costas da princesa, Trevor Rees-Jones. Na manhã do dia 6 de setembro, não era possível chegar perto das grades dos principais palácios do Reino Unido. Um oceano de flores se estendia pelos portões dos palácios de Kensington e Buckingham. O silêncio nas ruas, mesmo que povoadas por milhões de pessoas, era impressionante. Durante quase duas horas de procissão, o príncipe Charles, junto ao seu pai, príncipe Philip, seus filhos William e Harry e seu cunhado, irmão de Diana, conde Charles Spencer, acompanharam o caixão da princesa pelas ruas de Londres.

O funeral foi visto por cerca de dois bilhões de pessoas ao redor do mundo, se tornando um dos eventos mais assistidos da história da televisão. Durante a cerimônia, o cantor Elton John, amigo íntimo da princesa, reescreveu a música Candle In The Wind e cantou em homenagem à amiga: “adeus, rosa da Inglaterra, do país, perdido sem sua alma, que vai sentir falta da proteção da sua compaixão, mais do que você jamais saberá”. Após a cerimônia, que ocorreu na Abadia de Westminster, o corpo de Diana foi levado para ser sepultado em Althorp – propriedade da família Spencer por séculos, onde até hoje descansa. Passadas duas décadas, o que fica como legado da princesa do povo, é a sua luta pelas minorias, sua ligação com as pessoas menos privilegiadas, a busca constante pela igualdade e sua rebeldia. Já para Patrick Jephson, secretário particular de Diana durante quase oito anos, o principal legado da princesa é, justamente, seus filhos, como disse em entrevista para a Agence France-Presse (AFP): “podemos apreciar neles Logo após as primeiras notícias do trágico momento, um memorial foi erguido em frente ao Palácio de Buckingham; os britânicos entregavam flores, recados e fotos, em meio a muitos choros. Desde então, todos os anos, no aniversário de sua morte, as pessoas sempre prestam homenagens à Princesa no mesmo lugar


muitas de suas qualidades, principalmente, a capacidade de combinar a realeza com a sensibilidade popular”. O fato é que, Lady Di, continuará influenciando gerações mostrando que, muito mais que um mero personagem da realeza britânica, deve ser lembrada como um verdadeiro ícone da humanidade. Seguindo os Passos de Nossa Mãe

Diana foi uma pioneira na maneira em que usou a sua imagem para fazer do mundo um lugar melhor. Seus filhos, os príncipes William e Harry, hoje com 35 e 33 anos, respectivamente, dão continuidade ao trabalho humanitário pelo qual Diana tanto lutou. Dentre várias ações de caridade em diferentes organizações do mundo, uma das mais marcantes aconteceu em setembro de 2009, quando os príncipes decidiram criar a The Foundation of Prince William and Prince Harry, que mais tarde se tornaria The Royal Foundation of The Duke and Duchess of Cambridge and Prince Harry, uma fundação que tem como objetivo arrecadar recursos para diversas causas. A instituição possuí três áreas de foco, apesar de não ser exclusiva a elas: Jovens: especialmente quem tem 35 anos ou

menos, e que estão em desvantagem ou precisam de orientação e apoio em um momento crucial da vida; Desenvolvimento sustentável: para desenvolver uma conscientização sobre a necessidade de encontrar modelos melhores e mais sustentáveis de vida, para equilibrar o desenvolvimento e a conservação dos recursos naturais do meio ambiente; Forças Armadas: para o bem-estar daqueles que servem seu país nas Forças Armadas, principalmente aqueles que retornam com algum trauma físico ou mental e suas famílias. Outras causas que eram muito importantes para a princesa Diana e que os príncipes tomaram como suas também se beneficiam com a fundação como, por exemplo, a campanha de Harry pela retirada das minas terrestres, e para a facilitação dos testes do vírus HIV em países menos desenvolvidos, bem como as campanhas de Wiliiam para ajudar crianças órfãs e pessoas sem-teto. “Nós faremos tudo o que está ao nosso alcance para que ela nunca seja esquecida”, constatou Harry em uma entrevista em 2016 para o programa Good Morning America. Ela não será Harry, ela não será..


Legado

Sendo uma das maiores personalidades do mundo, a Princesa Diana acabou tornando-se uma grande influência no mundo pop/cultural, gerando livros, filmes, séries e documentários sobre a história de sua vida. Aqui estão os principais deles.

A Rainha (The Queen; 2006)

Diana (2013)

Sombras de uma Princesa Shadows of a Princess

Diana, Nossa Mãe: Sua Vida e Legado Diana, Our Mother: Her Life and Legacy

Autor: Patrick Jephson Ano: 2000

Canal: HBO Ano: 2017

Diana – Sua verdadeira história em suas próprias palavras Diana: Her True Story in Her Own Words

A história de Diana

The Story of Diana

Canal: ABC

Ano: 2017

Autor: Andrew Morton Ano: 1992

Diana – o Último Amor de Uma Princesa Diana: Her Last Love Autora: Kate Snell Ano: 2013

Princesa Diana: Na Primeira Pessoa Diana: In Her Own Words Canal: NatGeo Ano: 2017

O ano de 2018 ainda contará com duas participações da personagem Diana em séries. A primeira será na segunda temporada de FEUD, sub-intitulado Charles and Diana. A segunda será na segunda temporada de The Crown. zint.online | 85



filmes


Mãe desacreditada // TEXTO

N

GIULIO BONANNO

atureza. Entidade acolhedora onipresente. Não há civilização que não a compreenda à sua maneira. Dela somos fruto e de quem tiramos alimento. Ser humano é ser folgado, ser carente, disposto a achar um abrigo no meio do nada e ludibriar-se de prazeres. Às futuras gerações, transmite-se culpa e insurgência. Na forma de ressaca apocalíptica subsequente, mãe! (mother!, 2017) é a exegese intimista de uma alma deiscente. Chamas dão lugar à cama onde acorda uma mulher. Seu nome? Deixemos para a posteridade. Estamos na casa que, embora vazia, aparenta aconchego paradisíaco. Vivendo com o parceiro, claramente de mais idade, essa mulher parece satisfeita. Com um cantinho para embelezar, reformar e chamar de seu, não há necessidade para novas companhias. Tal coexistência tranquila é prontamente deturpada pela chegada de novos rostos, novos corpos e novas intera88| zint.online

// Diagramação

MATHEUS LEÃO

ções. Toda uma população engajada no compromisso de ir e vir, tomar um pouco do que é seu e fazer do recinto a coisa pública. O filme segue uma estrutura maleável. Pontos de virada não são necessariamente o que ditam os tons da narrativa. Na verdade, pequenos versículos fílmicos são pontuados pela chegada de uns, pela morte de outros, pela quebra de objetos ou pela celebração de um sucesso. Javier Barden é o escritor. Sua musa, Jennifer Lawrence, é quem cuida da casa (uma personificação desta, eu diria). Ed Harris é um admirador exaurido que, junto à esposa, Michelle Pfeiffer, semeiam tentações e aberrações carnais. Gosto especialmente de como o personagem de Domnhall Gleeson - um dos filhos do casal visitante - é trabalhado. Sua presença chama atenção pela visceralidade. Cumpre seu papel na narrativa e deixa uma impressão excedente. É a amargura que reflete e reverbera nas relações humanas. A identificação autoestabelecida com a protagonista é perturbadora:


“Te abandonaram também?”. O roteiro, assinado pelo diretor, e fotografia (caprichosamente elaborada por Matthew Libatique) elegantemente apropriam-se do design de produção (assinada por Philip Messina) para construir a casa como um ser pulsante. É bom nos acostumarmos, pois serão duas horas de angústia e confinamento. Acompanhamos tudo com mórbida curiosidade, chegando a ser enjoativo ver como as visitas vão chegando e roubando doses de protagonismo. Abusam da hospitalidade e não tardam a opinar, seja sobre a cor da parede ou a vontade da mulher de ter filhos. Aspecto trabalhado de maneira gradualmente reveladora, envolvendo signos nada ortodoxos como a ingestão de contraceptivos ou entupimentos sanitários, a maternidade é o elemento transformador. mãe! – o filme – é uma coisa antes e outra depois desta. Espelhando a mais prolífica das frases hermenêuticas (o nascimento de Cristo), Darren Aronofsky despe seu filme de todas as nuances precedentes para confe-

rir sadismo à poesia crua. São muitos símbolos, muitos contornos para traçar. Uma obra adubada pela catarse dos tempos imediatistas. Aronofsky construiu sua carreira estudando paradigmas comportamentais, especialmente com base na obsessão (incluindo a loucura e sua parceira, a genialidade). Entramos agora em contato com mais uma de suas dissertações de antropologia. Dessa vez, a origem do culto. Seria este uma forma socialmente aceitável e civilizadamente controlada de obsessão? Quais as consequências de deixar portas abertas e janelas escancaradas? Desvios de interpretação? As sequências finais já dão uma pista para o que vem a seguir. Dizem que a natureza é sábia. Prever tragédias, responder a elas é parte da sabedoria. Os que idealizam ícones não realizam o ser. Ignoram a maciez do solo fértil, o calor do ventre fúlgido único e passageiro, vale dizer. Arrancam e agridem repetidamente até não aguentar. Tolos, todos eles. Resta um único fim: exclamar o fim e incendiar. zint.online | 89



Revivendo os medos da infância “It: A Coisa”, adaptação da obra de Stephen King, surpreende pela narrativa bem desenvolvida

// TEXTO

GABI CARVALHO

uando eu era mais nova, meu avô morava em um apartamento com um corredor enorme que dava para os quartos. No fim desse corredor, tinha uma pintura de três bebês - medonhos, diga-se de passagem - que sempre me dava calafrios quando eu tinha que passar por ela. Lembro de sempre olhar para meus pés enquanto atravessava o corredor e, por mais que eu tentasse manter meus olhos afastados da pintura, antes dela desaparecer do meu campo de visão, eu olhava para os três bebes, eles me olhavam, e eu corria para dentro do quarto. Depois de alguns anos, tinha esquecido completamente dessa pintura e do tanto que ela me aterrorizava. Mas foi dentro de uma sala de cinema que minha memória recordou todo um pavor de infância, e me fez ter sonhos com bebês gigantes me encarando e palhaços com balões. Em It: A Coisa, o diretor argentino Andy Muschietti traz a adaptação de uma das histórias mais famosas do mestre do terror Stephen King. Diferentemente do extenso e genial livro, em que a trama se passa no fim dos anos 50 e 80, intercaladamente, o longa é ambientado em 1989, e apresenta a história de um grupo de crianças, que se intitulam Clube dos Perdedores, e que encontram uma semelhança em suas diferenças: todos passaram por situações de desespero e terror, em que avistaram a imagem de um palhaço. Assim como em outros enredos de King, em It vemos novamente a fórmula de um grupo de crianças se aventurando pela pequena cidade onde moram – no caso, a assombrada Derry, no estado do Maine - e lutando contra um monstro que está sequestrando crianças. Porém, mais do que isso, a história de Bill, Richie, Eddie, Stanley, Beverly, Mike e Ben é zint.online | 91

// DESIGN

THALES ASSIS

sobre confiança, esperança, amizade e pertencimento. Em um dia chuvoso, Bill Denbrough (Jaeden Lieberher) ajuda seu irmão mais novo, Georgie Denbrough (Jackson Robert Scott) a fazer um infalível barquinho de papel. Georgie, brincando na chuva, deixa o barquinho cair em um bueiro, e desaparece misteriosamente. Mesmo com as poucas esperanças de todos da pequena cidade de Derry, Bill segue sua teoria de que seu irmão estaria perdido no labirinto de esgotos da cidade e, com a ajuda de seu melhor amigo Richie “Trashmouth” Tozier (Finn Wolfhard), o hipocondríaco Eddie Kaspbrak (Jack Dylan Grazer), e o amigo judeu Stanley Uris (Wyatt Oleff), traça planos à procura de seu irmão desaparecido. Por acontecimentos do destino, Beverly “Bev” Marsh (Sophia Lillis), única garota do grupo, Mike Hanlon (Chosen Jacobs), que é perseguido por ser negro, e Ben Hanscom (Jeremy Ray Taylor), um garoto acima do peso, se juntam ao clube e completam o grupo dos “perdedores” que, depois de presenciarem coisas anormais, encontram em suas amizades um refúgio. Em seu primeiro ato, o longa mostra qual seria o “medo” de todos os garotos do grupo, e apresenta cenas bem construídas, fazendo a aproximação das personagens com o espectador mais profunda. Cada um possui um medo que seria infantil e irracional para qualquer



adulto, mas, que nas mãos de Muschietti e com a ótimo desempenho dos atores mirins, se torna extremamente cabível e aterrorizante. Em uma das cenas, Eddie Kaspbrak é abordado e perseguido pela figura de um leproso, e Beverly Marsh, vítima de abusos dentro de casa pelo pai, é surpresa por uma fonte de sangue que brota da pia de seu banheiro. São medos que ajudam no entendimento e veracidade de cada personagem, mas que ao mesmo tempo instauram a sensação de desconforto no espectador. Porém, cada aparição ou materialização desses “medos” é apenas uma maneira do real vilão da história se apresentar. Impecavelmente interpretado por Bill Skarsgard, o palhaço Pennywise, “A Coisa”, é o responsável pelos desaparecimentos na cidade e pelos acontecimentos com o Clube dos Perdedores. Skarsgard entrega o personagem de maneira brilhante, trazendo trejeitos próprios e uma forma específica de falar, chegando, até, a despertar uma simpatia momentânea pelo palhaço “de olhos prateados”. A maquiagem e o figurino terminam por construir o semblante pavoroso que o palhaço tem, assegurando ainda mais credibilidade e veracidade à performance do ator. O ponto negativo, porém, está no exagero dos efeitos visuais em vários momentos em que vemos Pennywise, principalmente quando o palhaço precisa se movimentar para atacar as crianças, o que deixa 0 personagem um pouco caricato (se for possível afirmar tal coisa) e perde um pouco a aura macabra produzida pelo ator. Por trás da trama de terror, existe também uma dinâmica quase tangível entre o elenco infantil de It. Os destaques vão para Finn Wolfhard (Stranger Things), e Jack Dylan Grazer que, de forma divertida e natural, criam um jogo de diálogos e expressões faciais impossíveis de não acompanhar e se identificar. Nas cenas em que o Clube dos Perdedores está reunido, seja brincando nas bordas do rio Barrens, ou fugindo do bully Henry Bowers (Nicholas Hamilton), é importante observar que, assim como no livro, foi como estar assistindo a um grupo único. Uma junção que só funciona e se mostra inteira quando os sete garotos estavam juntos lutando contra Pennywise e suas diversas facetas. Outro fator positivo do longa foi a mudança do ano em que a história se passa, que atualizou discussões presentes tanto no livro quanto na mini-série de Tommy Lee Wallace, It – Uma Obra-Prima do Medo (1990), que no Brasil foi lançado como filme, tangendo temas como racismo, homofobia e machismo. Com a mudança, também foi possível adicionar

elementos dos anos 80 em It, como a trilha sonora recheada de canções do New Kids On The Block e The Cure, e várias referências ao longo do filme, como a cenografia dos quartos das crianças e da própria cidade de Derry (posters de Gremlins e A Hora do Pesadelo 5: O maior horror de Freddy). E, mesmo que a ambientação e todo o design estético possa lembrar muito Stranger Things, é importante lembrar que It é, antes de tudo, uma inspiração para a série. Ultrapassando a arrecadação de grandes filmes de terror como Invocação do Mal 2 e o clássico O Exorcista, It, em menos de 15 dias em cartaz, já se tornou a maior bilheteria de todos os tempos para um filme de terror nos EUA. A principal justificativa, talvez, está na reunião dos fãs que, desde o lançamento do livro, se apaixonaram pela história de Stephen King. Mas, ainda mais que isso, pelo fato de que It: A Coisa desperta em sua narrativa os medos de infância de quem assiste. Bill Skarsgard em sua aterrorizante performance como o palhaço Pennywise, em “It: A Coisa”


Bingo: um filme para rir e se emocionar // TEXTO

A

BRUNA CURI

década de 80 foi marcada por inúmeros acontecimentos políticos e econômicos, como a Ditadura Militar no Brasil e a Guerra Fria. Em meio a um período conturbado, os movimentos artísticos e culturais reagiram. Foi nessa década que aconteceu o primeiro Rock In Rio, sem contar o surgimento de bandas como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso. Ao mesmo tempo, um fenômeno de público 94| zint.online

// DESIGN

THALES ASSIS

acontecia longe dos palcos: um palhaço fazia um grande sucesso na televisão brasileira. Outrora indicado a Oscar como montador, Daniel Rezende estreia na direção de um filme ao comandar Bingo: O Rei das Manhãs, uma cinebiografia inspirada na vida de Arlindo Barreto, um dos artistas que deu vida ao palhaço Bozo, sucesso na TV durante os anos 80. Trata-se de uma trajetória que foi da ascensão à decadência.


A trama mostra a vida de Augusto Mendes (Vladimir Britcha), um ator de pornochanchadas que está decidido a conseguir o papel de um protagonista em uma telenovela. Ele não se contenta com o papel de coadjuvante. Então, quando aparece a chance de fazer um teste para ser apresentador de um programa infantil, Augusto resolve agarrar essa oportunidade. Melhor do que ser um protagonista em uma novela, é ter um programa somente dele. Aprovado para o papel, logo Augusto dá vida a Bingo, um palhaço sorridente, de personalidade cativante e que diverte as crianças com as suas brincadeiras e caretas. Porém, não podemos nos deixar enganar por toda essa felicidade, uma vez que ele possui uma vida privada bastante conturbada. O roteiro se baseia nas dualidades do protagonista, contrapondo trabalho excessivo, sexo e vício em drogas com sua vida familiar. Augusto vai de um pai dedicado ao seu filho (interpretado por Cauã Martins) a um pai ausente que se esquece de seus compromissos. As festas, as mulheres, as drogas, as bebidas e a fama vão ganhando um maior espaço e importância em sua vida, de maneira que ele passa a deixar o seu filho de lado. Não se trata apenas da carreira de um astro de TV que foi arruinada devido ao uso excessivo de álcool e cocaína, Bingo: O Rei das Manhãs também é uma metáfora às máscaras que usamos diariamente. Funciona da mesma maneira que uma pintura facial de um palhaço. Por fora podemos aparentar uma felicidade, mas nem sempre isso é verdade. A personagem Lúcia (Leandra Leal) é outra que se destaca ao longo da trama. A diretora do programa possui uma personalidade forte, é uma mulher decidida e extremamente ambiciosa, que sonha em ter sucesso em seu trabalho majoritariamente dominado pela presença masculina. A fotografia do longa utiliza de cores saturadas para construir a atmosfera nostálgica oitentista, enquanto o figurino dos personagens e a trilha sonora composta por Gretchen, Titãs, Roupa Nova, Echo & the Bunnymen, terminam por resgatar um pouco dos anos 80, em uma verdadeira máquina do tempo. Com um diretor promissor e ótimas atuações, Bingo: O Rei das Manhãs é um filme que faz rir com algumas piadas e cenas cômicas, mas também emociona bastante. E da mesma maneira que o palhaço Bozo se tornou memorável durante os anos 80, é possível que o mesmo aconteça com o personagem vivido por Britcha: que ele se torne marcante para toda uma geração.



indicações


Netflix & Chill // TEXTO

MARINA MOREGULA

// Diagramação 98 | zint.online

VICS

A

Netflix produz séries originais leves e divertidas, que são ideais para aquelas noites ou finais de semana que a gente só quer ficar em casa. Mas elas não deixam de ser interessantes, seja abordando o cotidiano de forma inusitada ou super realista. A lista a seguir é de séries que apostam na comédia, flertam com o drama e passeiam pelo romance. Séries boas de se maratonar em um fim de semana, uma ótima opção para quem quer descansar a mente, mas também para quem gosta de repensar as relações humanas e a nossa rotina.


Easy (2016)

Uma antologia sobre sexo, mas também sobre o dia seguinte, amor e família. São oito histórias curtas em oito episódios de meia hora, que giram em torno de um grupo de personagens que moram em Chicago. A diversidade de personalidades, casais e problemas é tanta, que é muito difícil não se identificar com a série em algum momento. Além disso, os diálogos são feitos no improviso, o que explora bem a atuação do grande elenco que conta com Dave Franco, Michael Chernus, Jane Adams e Aya Cash e dá um tom muito realista às cenas, que fluem com mais naturalidade. Vale a pena reparar também na abertura dos episódios: cada uma tem um desenho diferente. A série mostra como o cotidiano das nossas relações pode ser belo e interessante ao mesmo tempo em que é tão trivial.

You Me Her (2016)

O casal Emma (Rachel Blanchard) e Jack (Greg Poehler) resolve reanimar sua vida sexual convidando a universitária Izzy (Priscilla Faia) para se juntar ao relacionamento. Mas, quando os dois começam a se apaixonar por ela, a história se complica. A série trata de relacionamentos poliafetivos e bissexualidade de um jeito que não se costuma ver por aí. Ela foge do tradicional e reinventa os relacionamentos amorosos, de uma forma bem humorada que conquista o espectador de primeira. São duas temporadas disponíveis, e a terceira está prevista para estrear em 2018.

Crashing (2016)

A primeira temporada da série britânica tem apenas seis episódios que deixam aquela sensação de “quero mais”. Ela conta a história de personagens que moram em um hospital abandonado em Londres, devido a seu aluguel acessível. Dentre eles estão Kate (Louise Ford) e Anthony (Damien Molony), um casal de namorados que começa a ter problemas depois da chegada de Lulu (Phoebe Waller-Bridge), uma amiga de infância de Anthony com quem ele tem uma forte e óbvia conexão. Kate e Lulu tem personalidades completamente opostas, e as confusões no hospital podem ser exageradas, mas são hilárias. É uma série bem descontraída e despretensiosa. zint.online | 99



playlists


NICKI MINAJ // comemorando 10 anos de carreira

O

nika Tanya Maraj; nascida no dia 8 de dezembro de 1982, no distrito de St. James, em Porto de Espanha, no Estado de Trindade e Tobago, no Caribe. Ou, para os mais íntimos, Nicki Minaj, uma das maiores rappers do cenário musical norte-americano. Com dez nomeações ao Grammy Awards e onze prêmios ganhos no BET Awards (a maior premiação de música negra dos Estados Unidos), a cantora já vendeu, como artista solo, mais de 20 milhões de singles, além de 60 milhões de singles vendidos como featuring, e cinco milhões de álbuns mundialmente. Com isso, Minaj é a rapper mais bem sucedida todos os tempos. Sua carreira conta com três mixtapes, três álbuns, um compilado, outros três como parte do grupo Young Money, 85 singles (27 deles em carreira solo) e três turnês como headliner. Com singles próprios, são quatro Top 10 na Billboard Hot 100, maior chart musical do mundo, além de outros 10 em featurings. Seus dois primeiros álbuns, Pink Friday e Pink Friday: Roman Reloaded, atingiram os #1 na Billboard 200, enquanto o terceiro, The Pinkprint, debutou em #2. Todos os três alçaram o topo das paradas Top R&B/Hip-Hop Albums e Top Rap Albums, ambos da Billboard. Atualmente parte do selo Young Money, criado pelo rapper Lil Wayne, e que conta com a presença de outros artistas do cenário, como Drake e Mack 102 | zint.online

Maine, Nicki Minaj lançou sua primeira mixtape, Playtime is Over, em julho de 2007, recebendo boas críticas e garantindo a ela alguns prêmios como o de Artista Revelação e Melhor Artista Feminina de Hip-Hop no BET Awards de 2010. O trabalho é considerado por muitos como "influenciador" devido o ênfase que Minaj deu ao ao conteúdo da mixtape, invés do seu sex appeal, se distanciando de outras rappers da época. A lista de colaboração de Nicki é extensa, já tendo realizado featuring com artistas como Beyoncé, Madonna, Alicia Keys, Drake, Justin Bieber, Ariana Grande, Kanye West, Rihanna, Christina Aguilera, Fergie, DJ Khaled, Nick Jonas, Katy Perry, Lil Wayne, Jason Derulo, David Guetta, Ciara, French Montana, Usher e Mariah Carey. Desde então, Nicki Minaj vem mesclando sua influência de Hip-Hop, Rap e R&B com o Pop e o Electropop, gerando hits como Super Bass, Starship, Anaconda, Only (com participação de Lil Wayne, Drake e Chris Brown) e No Frauds (com Drake e Lil Wayne). A playlist conta com 10 de seus mais bem sucedidos singles + 10 de suas mais bem sucedidas participações

Deezer Spotify Youtube


ANNE MARIE // APRESENTANDO A CANTORA BRITÂNICA

O

Reino Unido é um verdadeiro achado de grandes talentos. É também, curiosamente, um lugar onde artistas fazem um monumental sucesso dentro das fronteiras do Estado, mas falham miseravelmente em replicarem o reconhecimento em outros lugares do mundo. Os exemplos podem ser diversos, como a Girls Aloud, ou a Little Mix, ou o Take That, ou Mika, ou Rebecca Ferguson, ou Paloma Faith. Little Mix?, você pergunta? Sim. Apesar de serem conhecidas mundo a fora, o sucesso que elas fazem fora do Reino Unido não é comparado com o sucesso que elas fazem na terra da Rainha. Também, entre esses nomes está o de Anne-Marie, novata no cenário musical. Oriunda de Essex e com apenas 26 anos de idade, Anne-Marie começou a carreira recentemente, com o lançamento de Karate, em 2015. Antes disso, pasmem, a cantora foi duas vezes campeã mundial de Karatê. Com sete singles lançados até agora, a inglesa conta com cinco dessas produções nas paradas britânicas, o UK Single Charts. Rockabye, parceria

Deezer Spotify Youtube

que fez com o grupo Clean Bandit, alcançou o #1, enquanto o seu mais recente single solo, Ciao-Adios, alcançou o #9 nas paradas. Para os que desconhecem os trabalhos até mesmo do Clean Bandit, que, inclusive, vale muito a pena ser ouvido (eles são uma banda de música pop-eletrônica mesclando com o uso de instrumentos clássicos, como o violino e o violão-cello), Anne-Marie também figura no (delicioso) single mais recente de Nick Jonas, Remember I Told You, que também conta com a participação do talentoso Mike Posner. No Dia 22 de setembro, a cantora lançou Heavy, que agora é o seu atual single de trabalho. Tendo servido como o número de abertura na primeira fase da ÷ Tour, de Ed Sheeran, a inglesa está com álbum previsto em algum momento deste ano. Mas como faltam menos de quatro meses pra 2018 chegar, acho melhor ela correr pra liberar isso aí, hein?...

zint.online | 103


BEBE REXHA // APRESENTANDO A CANTORA NOVAIORQUINA

T

alvez como consequência de uma realidade onde as cantoras consagradas não emplacam tão bem como antes, o mundo da música pop está em uma espécie de metamorfose. Agora, é mais comum ver artistas “alternativos” fazerem algum barulho no cenário musical, ganhando espaço para mostrar sua música aos milhares de fãs órfãos de suas divas. E entre os nomes em ascendência está o de Bebe Rexha. Com 28 anos de idade e natural do Brooklyn, Nova Iorque, Estados Unidos, a cantora de descendência albanesa já apareceu algumas vezes na Billboard Hot 100, maior parada musical de singles do mundo. Seus vocais foram emprestados para músicas como Me, Myself & I, do rapper G-Eazy, In the Name of Love, do DJ Martin Garrix, e Take Me Home, do grupo de música eletrônica Cash Cash,

zint.online 104 | zint.online

alcançando, respectivamente, as posições #7, #24 (e #1 nas Dance Club Songs) e #57. Em carreira solo, Bebe conta com três EP já lançados, o I Don’t Wanna Grow Up (2015), All Your Fault: Pt. 1 (2017) e All Your Fault: Pt. 2 (2017), tendo comentando em seu perfil no Twitter que sua preferência é lançar EPs, e que, se alguma vez chegar a lançar um álbum completo, provavelmente será seu único. Um quarto EP está a caminho, entitulado All Your Fault: Pt. 3, ainda sem previsão de lançamento. Em seu currículo estão No Broken Hearts, com participação de Nicki Minaj, I Got You e Dance With Somebody, com participação do rapper Lil Wayne. Sua atual música de trabalho é a canção country Meant to Be, parte do Pt. 2, e conta com a participação do duo Florida Georgia Line. A faixa, curiosamente, não foi lançada oficialmente como single, embora venha sendo muito bem recebida nas rádios e ganhando forças nos charts de forma expontânea. Bebe participa no atual single de Louis Tomlinson, Back to You, que também conta com a participação do DJ Digital Farm Animals.

Deezer Spotify Youtube


PALOMA

FAITH // APRESENTANDO A CANTORA BRITÂNICA

D

ona de uma enorme talento e de um muito bem merecido sucesso dentro do Reino Unido, Paloma Faith é mais um desses nomes que tem grande reconhecimento na terra da Rainha mas, infelizmente, chega a ser desconhecida no resto do mundo. Com oito (oito!) anos de carreira, Paloma Faith nasceu em Hackney e tem 36 anos. Além de cantora, Faith é também compositora e atriz, cujos trabalhos se resumem a séries e filmes ingleses, além de sua participação como jurada do The Voice UK em 2016. Em 2015, ganhou o BRIT Awards (o Grammy britânico) como Artista Solo Feminina Britânica; ela ainda é dona de seis outros prêmios. A carreira da britânica já vale menção pela simples artisticidade de sua performance: é marca registrada da cantora o seu lado teatral, marcado por uma roupa, maquiagem e cabelo retrô e com preocupação nas cores e detalhes, sendo extremamente ligada ao mundo da moda. A voz de Paloma também é marcante, tendo fortes influências de gospel e soul, com

Deezer Spotify Youtube

um alcance vocal marcado pelas cantoras clássicas. Embora tenha consigo apenas um #1 com seus singles solos, a cantora tem quase todos seus trabalhos debutando dentro da UK Singles Charts. Seu três álbuns entraram no Top 10 da UK Albums, e, juntos, venderam mais de 2 milhões de cópias. Lançada no início de setembro, Crybaby é o atual single de Paloma. A faixa é o carro-chefe do quarto álbum, intitulado The Architect, com previsão de lançamento para o dia 17 de novembro.

zint.online | 105


ARTISTAS

//

TODAS AS OUTRAS PLAYLISTS DA ZINT, PRODUZIDAS PELA NOSSA EQUIPE

ANITTA // hit singles

O cenário musical brasileira atual tem Anitta como um de seus maiores representantes. Fenômeno nacional, a carioca hoje trabalha para lançar material no mercado internacional (em espanhol e inglês).

ADELE // singles

ADELE chegou ao ponto onde dispensa introdução. A britânica acabou de lançar um álbum de gigantesco sucesso, assim como uma turnê mundial, entrando em hiatus inderteminado.


JOEY BADA$$ // apresentando

Joey Bada$$ é um nome em ascensão no cenário hip-hop/rap norte-americano, tendo nascido no mesmo lugar que artistas como JAY Z.

DUA LIPA // apresentando

Dua Lipa, uma cantora britânica-libanesa, viu a sua carreira escalar em nível mundial com o single New Rules. atingindo o #1 da UK Charts Singles. Seu primeiro e único álbum até o momento, Dua Lipa, atingiu a posição #5 na UK Albums.

ONE DIRECTION // singles

Com o fim temporário do One Direction em 2016, os integrantes da boyband se dedicaram a carreira solo, apresentando não só um novo material, como novas influências musicais.

KARMIN // apresentando

O auto-entitulado daring-est duo Karmin é formado por Amy e Nick Noonan; ela fica por conta dos vocais principais, enquanto ele se diverte nos backing vocals e na produção de todas as faixas da dupla.


TEMÁTICAS

//

GOSSIP GIRL // comemorando Em 2017, Gossip Girl, série de sucesso da The CW, comemora 10 anos desde o seu primeiro episódio. A produção tornouse um marco televisivo, influenciando (e sendo influenciada pela) a moda e a música.

KPOP // apresentando

O kpop é um gênero musical muito famoso no Oriente, gerando carreiras de sucesso e vendagem estrondosa. No Ocidente, a música vem ganhando cada vez mais fama, conquistando mais e mais fãs.


TODAS AS OUTRAS PLAYLISTS DA ZINT, PRODUZIDAS PELA NOSSA EQUIPE

MINORIAS // panorama inclusivo

Nos últimos cinco anos, grupos minoritários tem conquistado mais espaço no Brasil, manifestando-se cada vez mais em diversos âmbitos, principal na/pela música.

THE X FACTOR // apresentando Com 14 anos no mercado, o The X Factor é um dos raros reality shows a colocar músicos de grande sucesso no mercado britânico e mundial. Foi no programa que artistas como One Direction, Little Mix, James Arthur e Leona Lewis foram descobertos.


EDI ÇÃO ANTE RIOR «

PRÓ XIMA EDI ÇÃO »


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.