E D I ÇÃO #5 // STRI PPED OUTUBRO 2017
NESTA EDIÇÃO blade runner 2049; contatos imediatos de terceiro grau; cuphead; divinas divas; don mccullin; dynasty; graham norton; grunge; john mayer; lucifer; marina abramovic; michelle pfeiffer; miley cyrus; mindhunter; netflix; paul mccartney; pixo; raven’s home; reign; satoshi kon; shawn mendes; showgaze; stephen king; stranger things; this is us; thor: ragnarok; turma da mônica;
editorial;
A quinta edição da revista comemora os quinze anos do Stripped, da cantora norteamericana Christina Aguilera, um dos álbums mais memoráveis do pop. As Tirinhas e as Fotografias voltam a figurar na revista, acompanhadas das Playlists e das Indicações. O recheio da ZINT #5 conta com matérias sobre a segunda temporada de Stranger Things e a estreia de Mindhunter. Ainda temos reviews sobre os show de John Mayer e Paul McCartney, que aconteceram esse mês. Celebramos Stephen King, Satoshi Kon e Michelle Pfeiffer, e os filmes Blade Runner 2049 e Thor: Ragnarok. Inaguramos nessa Edição o “Guia do Entretenimento”, um dicionários de termos utilizados na área. E se preparem: como o Calendário Cultural lembra, novembro tem a estreia do aguardado Liga da Justiça. Juntem-se à Liga e aproveitem!
A ZINT é uma revista mensal e gratuita voltada às áreas de Arte, Entretenimento e Cultura, em formato de publicação digital. Acreditamos na nossa independência editorial e esperamos que, dentro dos mais variados formatos de textos, possamos trazer alguma abordagem inventiva ou inédita aos assuntos que permeiam o campo do jornalismo cultural.
João Dicker & vics
Editores-chefes e idealizadores da ZINT
O QUê QUE A ZINT TEM? Aproveitando das possibilidades de uma publicação online, a revista conta com algumas interações bem legais. Para que nenhum leitor fique sem usufruir 100% do oferecemos, um manual de como funciona a ZINT.
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zint.online
Com uma publicação online, as possibilidades de interações são promissoras. Usando a plataforma digital ao nosso alcance, a revista pode sempre vir acompanhada de objetos interativos. A ZINT aproveita de todos esses recursos, e você pode usufruir de tudo de uma forma bastante simples e rápida. Capítulos
Em primeiro lugar, é interessante apontar que a revista funciona por Capítulos. As barras laterais correspondem ao capítulo correspondente: Azul-Céu para Séries, Verde-Grama para Filmes, Roxo para Música, Laranja para Literatura, Festa de Ceraja para Jogos, Salmão para Fotografia, Azul-Marinho para Tirinhas, Magenta para Indicações, Verde Água para Playlists, e, claro, Amarelo para Capa. Assim, fica fácil identificar o tipo de conteúdo em que você se encontra.
Vídeo e Áudio
Com uma revista de Entrenimento e Cultura em mãos, é simplesmente impossível não relacionar as matérias com um conteúdo digital. Um vídeo, um filme, uma música, uma playlist. No papel físico, tais interações são impossíveis de serem atingidas por motivos óbvios. Mas digitalmente, tudo é muito fácil. Toda vez que um matéria vier com qualquer tipo de conteúdo de Vídeo/Áudio, a imagem de destaque virá acompanhada de ícones correspondentes, como os mostrados acima. Se a matéria tiver mais de um conteúdio audiovisual, cada imagem disponível ao longo da matéria terá os mesmos ícones. Basta passar o mouse ou o dedo por cima da imagem, que ela se mostrará como um link. Clique, e seja redirecionado para o conteúdo! No caso de vídeos únicos (e não em playlist), o player será aberto dentro da própria revista, não interferindo na sua experiência.
Links
Além do conteúdo audiovisual principal, as vezes as matérias contém inúmeros outros links de Vídeo/ Áudio, tornando difícil colocar ícones para todos. Também acontece de uma matéria ter um link para outra matéria. Para isso, foi criado uma forma bem fácil de identifica-los: todos os links são sublinhados. O sublinhamento tem o efeito do marca-texto, parecendo que aquela parte do texto foi, de fato, destacada por um. Esta é a identificação de um link; uma linha grossa em Amarelo, a cor oficial da revista. Rodapé
O easter-egg da revista. No rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint. online sublinhado também é um link. Neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog. // zint.online | 5
IDEA LIZAD ORES colab
DES EN HO
colabs
DIA GRA MA ÇÃO
colab
FOT OGR AFIA
equipe
a revista é um projeto colaborativo voluntário. além dos idealizadores, a Edição conta com um colaborador de desenho, quatro de diagramação, um de fotografia e dez de texto
colabs
TEX TO
em ordem alfabética, da esquerda para a direita idealizadores; joão dicker, vics desenho; rafael rallo diagramação; maria nagib, thales assis, victoria cunha fotografia; ana luisa santos texto; bruna curi, bruna nogueira, carolina cassese, guilherme rodrigues, julio puiati, laísa santos, marina moregula, renato costa, renato quintino, roberto barcelos, samantha burton, stephanie torres, sylvia amorim, victoria cunha, yuri soares
CALENDÁRIO CULTURAL QUI.
02
the thrill of it all 09
DEPOIS DAQUELA MONTANHA THE MOUNTAIN BETWEEN US
02
um cilada para meu avô
alias grace
qui.
amor e tulipa
SEX.
kids in love
sex.
LIFE IN PIECES
SEX.
call of duty: wwii
sex.
CIDADE DOS SONHOS
sext
03 03
QUI.
02
03
QUI.
02 02
borg vs mcenroe
qui.
SEX.
SEX.
QUI.
qui.
09
THE SON OF BIGFOOT
DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS
gosto se discute
álbum de sam smith
BIG PAI, BIG FILHO
QUI.
qui.
ESTREIA DA 3a Temporada
MULLHOLLAND DR.
03 03
02
TERRA SELVAGEM
QUI
DESERTO
02
álbum de kygo
pc, playstation 4, xbox one
02 QUI.
02
SWAT
ESTREIA DA 1 TEMPORADA a
02
.hack//g.u. last recode
sex.
playstation 4
03 2017
JAN
synthesis
álbum de evanescence
doom
10
nintendo switch
reputation
texoma shore
álbum de
taylor swift
SEX.
10 SEX.
03 dom.
05
GABRIEL E A ter. MONTANHA 07
qui.
10
tulip fever
álbum de blake shelton
WIND RIVER
DESIERTO
09
álbum de maroon 5
ESTREIA DA 5a Temporada
QUI.
ESTREIA DA 1a Temporada
the war with grandpa
red blue pills
MOM
QUI.
09
ter.
07 FEV
ter.
14 pokémon - o filme: eu escolho você! Gekijōban Pocket Monster: Kimi ni Kimet
sou luna - voando sobre roda
ter.
MAR
ABR
ben 10
14 ter.
livro de malka monteverde
nintento swith, pc, playstation 4, xbox one
ter.
sonic forces
pc, playstation 4, xbox one
lego marvel super heroes 2
14 14
playstation 4
future man
ESTREIA DA 1a Temporada
l.a. noire
pc, playstation 4, xbox one
MAI
JUN
a agenda traz as datas dos principais lançamentos do mês de NOVEMBRO para as áreas de FILMES, MÚSICA, SÉRIES, JOGOS e LITERATURA.
liga da justiça justice league
SEX.
17 SEX.
17
everyday is christmas álbum de sia
pokémon ultra moon nintendo 3ds
qui.
23 qui.
23
marvel’s punisher 23 qui.
ESTREIA DA 1a Temporada
qua.
15 qui.
16
24 com amor, van gogh
loving vincent
tudo que quero
qui.
16 qui.
16
please stand by
SEX.
star wars: battlefront ii
SEX.
the elder scrolls v: skyrim
SEX.
i fall in love too easily
SEX.
the sims 4
SEX.
mari maria - por trás da máscara
17 17
nintendo switch
17
resident evil: revelations collection
extraordinário
qui.
desejo de matar
qui.
no limite
ESTREIA DA 1 TEMPORADA
qui.
JUL
AGO
28 30
livro de camila ferreira
nintendo switch
death wish
23 qui.
23
o estrangeiro
30
the foreigner
não devore meu coração assassinato no expresso do oriente murder on the orient express
qui.
23 SET
overdrive
qui.
playstation 4
livro de mari maria
who built the moon?
álbum de noel gallagher’s high flying birds
30
álbum de katherine mcphee
17
A Crucificação - Demônios São Reais the crucifixion
ter.
a
victoria and abdul
pc, playstation 4, xbox one
aftermath
godless
27
wonder
breathe
victoria e abdul - o confidente da rainha
17
22
em busca de vingança
adorável cretino
17 qua.
livro de vários autores
SEG.
sex.
uma razão para viver
qui.
16
SEX.
vilões da disney (box)
jogos mortais: jigsaw jigsaw
qui.
30 qui.
30 OUT
NOV
pai em dose dupla 2 daddy’s home 2
DEZ
2018
dicionário // guia do entretenimento
Não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, ficando sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados pelas pessoas da área. E as vezes, até mesmo quem está inteirado, pode acabar desconhecendo alguma palavra do meio. Por essa e outras, a ZINT se prontificou a explicar alguns dos termos utilizados no mundo do entretenimento, em todas as áreas que a revista cobre. Mês a mês, novas palavras irão figurar por aqui, de acordo com as matérias que forem publicadas e os termos que as mesmas apresentarem. Ficar fora da conversa? Nunca mais!
SEQ UE L
sequência // como estabelecido pela tradução, uma SEQUEL é sequência de um filme. o termo pode ser utilizado, na língua inglesa, também para designar uma a “segunda sequência” (terceiro filme), ou “terceira sequêncial” (quarto filme) e assim sucessivamente. Exemplo: Blade Runner 2049 é a primeira sequel do filme Blade Runner, estrelado por Harrison Ford e lançado em 1982.
D E B UT A LBUM álbum de estreia // como já explicado pela tradução, o debut album é o primeiro álbum lançado por qualquer artista, estreando sua carreira.
Exemplo: Christina Aguilera lançou o seu debut album, Christina Aguilera, em 24 de agosto de 1999.
SERIES PREMIERE início de séries, lançamento de série // o series premiere é apenas o primeiro episódio da primeira temporada de uma série. é o momento de exibição do episódio piloto, quando uma série está, pela primeira vez, entrando no ar. Exemplo: This is Us, série da NBC, teve o seu series premiere no dia 20 de setembro de 2016.
SUMÁRIO música
filmes
16;
Os 40 de John Mayer
18;
Nostalgia, emoção e magia
22;
Ninguém permanece o mesmo
26; 28;
44;
Victoria Cunha
João Dicker 48;
Bruna Curi
Anos 90: Quando a música adoeceu Guilherme Rodrigues
6 segundos de fama
52;
O apocalipse nunca foi tão engraçado
56;
Satoshi Kon: as principais obras do diretor mais importante do seu tempo
Stephanie Torres
João Dicker
Roberto Barcelos
Mente sombria e coração assombrado
60;
Michelle Pfeiffer, o Retorno
64;
O Bairro do Limoeiro ficou pequeno
Bruna Nogueira
Renato Costa
Stephanie Torres
capa
jogos 36;
Os 40 anos de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” Renato Quintino
Bruna Curi
literatura 32;
Uma experiência sensorial, reflexiva e essencialmente humana
Cuphead: não negocie com o diabo!
66;
Julio Puiati
pág.
22
pág.
52
Nua vics
OIRÁMUS indicações
séries
Arte e Resistência
Não é um sonho, Stranger Things está realmente de volta
110;
82;
A mente humana como objeto empírico
tirinhas
86;
A dinastia americana
88;
Família como a nossa, gente como a gente
90;
Lúcifer: Anjo caído ou incompreendido
fotografia
92;
Isso é tão Raven!
118;
94;
O fim do reinado
96;
Let’s start the show
80;
Marina Moregula
100;
João Dicker
Sylvia Amorim
114;
Halloween - João e Pedro
115;
Rafa Zumbi
Victoria Cunha Laísa Santos vics
Bruna Curi
Samantha Burton
Netflix completa 20 anos em busca de expansão
Carolina Cassese
Rafael Rallo Rafael Rallo
Ensaio
Ana Luisa Santos
playlists 126;
Todas
Equipe ZINT
Yuri Soares
pág.
66 pág.
80
pág.
118
[
música
]
Os 40 de John Mayer O cantor, que sofreu mudanças espirituais e musicais, fez uma parada em Belo Horizonte com seu novo álbum, o mais pessoal de sua carreira. // TEXTO
Ao
victoria cunha vics
// Diagramação
Ao completar 30 anos, John Mayer descansava da turnê com um de seus álbuns de maior sucesso, Continuum. Dez anos depois, entrando na casa dos 40, o artista aterrissou no Rio de Janeiro para uma série de shows da turnê de seu álbum mais pessoal, o recém-lançado The Search for Everything. O sétimo disco do cantor, apesar de não ter agradado os fãs quanto seus primeiros sucessos, é considerado uma obra de arte pessoal. John Mayer, em diversas entrevistas e anúncios, afirma que as últimas músicas lançadas compõem o álbum mais pessoal e humano que ele já escreveu. Diferentemente do estilo que levava no começo de sua carreira, o cantor e compositor norte-americano resolveu trocar o álcool pela maconha e se basear mais em seu desenvolvimento pessoal do que os relacionamentos turbulentos que estamparam capas de revistas e o 16| zint.online
rotularam erroneamente. Apesar de seus maiores sucessos serem, em sua maioria, dos primeiros discos, seus fãs não deixaram de acompanhar e cantarolar suas melodias, mesmo com a mudança de estilo nos últimos três álbuns. Essa tal mudança pode ser facilmente explicada pelo seu hiato devido a um granuloma nas suas cordas vocais. Por mais de um mês, John teve que ficar em completo silêncio, sem poder falar, tendo que digitar em um iPad para poder conversar, e apontar seus pedidos nos cardápios de restaurantes. Durante os dois anos em que ficou sem aparecer publicamente, o álbum Born and Raised, que havia sido gravado antes do diagnóstico, foi lançado e atingiu o topo de diversas paradas rapidamente, enquanto o cantor recebia doses fortíssimas de Botox em suas cordas vocais, uma tentativa de cura mais rápida que o normal, para que ele pudesse voltar aos palcos e divulgar seu novo disco. Já que não podia performar e gravar novas músicas, John, natural de Connecticut, decidiu viajar pelos Estados Unidos e apenas ver e ouvir, quando se apaixonou por uma cidade no estado de Montana e decidiu se basear por lá. O álbum possui uma pegada diferente dos primeiros, com uma grande influência do country e clássicos estilos americanos. Ao que tudo indica, mesmo antes
de sua pausa, John Mayer já estava em uma reforma de estilos como músico. Com toda essa transição e fase espiritual, nasceu um novo John Mayer, que se preocupa cada vez menos com os tabloides e mais com si mesmo. Em Paradise Valley, álbum que escreveu durante seu afastamento da mídia, é possível sentir não só a influência do country já citada, mas também um estilo blues, mais intimista e acolhedor. Ao ouvir o disco, é quase como se estivéssemos sentados na varanda com John Mayer em sua nova casa em Montana, apreciando a vista das montanhas. Como o próprio autor comenta em sua entrevista à rádio NPR, “eu não sei como conciliar a vida de músico com a vontade de ser um cara que adora ficar em casa”. The Search for Everything World Tour
No tal álbum “mais pessoal e humano de sua vida”, John volta às raízes do início da sua carreira, com letras nostálgicas e a famosa pitada de blues que só ele consegue ter. Um novo formato de show também é posto à prova: com a duração exata de duas horas, o show é divido em quatro capítulos. O cantor afirma que esta turnê é dedicada à "geração Netflix", e montou um show de tal forma que o fã não se sinta
cansado. Em sua entrevista ao portal UOL, Mayer diz aos fãs que “vocês não vão ver um show de duas horas, mas vocês vão ver quatro shows. A ideia é que quando o show acabar, vocês não percebem o quanto ele demorou. Eu saio do palco, entro novamente e é como o relógio voltasse ao zero”. No último dia 20, o artista se apresentou em Belo Horizonte, e, mesmo sem tocar muitas músicas queridas, não deixou a desejar. O highlight do espetáculo foi durante a apresentação de Who Says, em que o cantor substituiu a cidade Austin da letra por nossa querida capital: “It’s been a long time in Beagá too...”. No primeiro capítulo do show, intitulado "Full Band”, sucessos como Belief, Helpless, Love on The Weekend e Who Says foram cantados em altíssimo volume pela plateia mineira. Já na segunda parte do show, “Acoustic”, músicas muitas vezes pedidas pelos fãs agradaram a todos: o cover de XO, da Beyoncé, e Stop This Train, que foi recebida aos gritos e aplausos já na primeira nota do violão. O terceiro e tão esperado capítulo, “Trio”, leva ao palco apenas John Mayer, o baixista Pino Palladino e Steve Jordan, baterista que completa o trio de blues mais querido dos Estados Unidos. Mesmo tocando apenas três canções, os músicos foram muito bem recebidos e aplaudidos no final do capítulo. Para finalizar o show, o “Full Band - Reprise” trouxe sete músicas, sendo duas delas os incríveis sucessos Slow Dancing in a Burning Room e Gravity. #InMemoryOfRafael
No domingo anterior ao show, a vida de Rafael Brandão, estudante de jornalismo da PUC Minas foi tomada em um acidente de moto. Rafael, amante da música e grande fã de John Mayer, foi homenageado, mesmo que não publicamente, pelo cantor. Uma mobilização foi levantada nas redes sociais para que o artista homenageasse Rafael no palco, com a música Slow Dancing in a Burning Room, a preferida do estudante. O artista fez questão de receber em seu camarim, antes de começar o espetáculo, a irmã e namorada do homenageado, e conversaram sobre ele, a música, e tudo aquilo que ela proporciona. John também explicou que não faria uma homenagem específica no palco para Rafael uma vez que recebe pedidos como este em todas as cidades que passa, e por isso prefere não se comprometer. O tributo pessoal, no entanto, foi recebido com muito carinho por todos os amigos e parentes de Rafael que estavam presentes na Esplanada do Mineirão, todos vestindo camisetas com a hashtag #INMEMORYOFRAFAEL. // zint.online | 17
Nostalgia, emoção e magia // TEXTO
18| zint.online
bruna curi
// diagramação
victoria cunha
Aos poucos as pessoas foram entrando e ocupando os espaços e as cadeiras vazias do Estádio do Mineirão. E em seus rostos era perceptível a animação e a alegria por estarem prestes a ver o cantor e compositor Paul McCartney se apresentando. O show que aconteceu na terça-feira, 17 de outubro, em Belo Horizonte, faz parte da turnê One on One e contou com um público de aproximadamente 51 mil pessoas. Os fãs aproveitaram para matar as saudades do ex-Beatle desde a sua primeira vinda a capital mineira, há quatro anos e meio, depois da estreia de Out There!. Mesmo com um pequeno atraso de aproximadamente 10 minutos, Paul conseguiu fazer uma abertura em grande estilo com a música Hard Day’s Night e animou todo o público que esperava ansiosamente para vê-lo. Aos 75 anos, McCartney provou que ainda possuiu uma grande energia ao apresentar um show de três horas. Além disso, ele mostrou ser bastante carismático interagindo com as pessoas, fazendo algumas brincadeiras e se arriscando em algumas frases em português como “É bom estar de volta”, “Tudo bem com vocês?”, “Olá, BH” e “Está chegando a hora de partir”. O repertório passeou pelos 60 anos de carreira do músico, com sucesso dos Beatles, do Wings e até mesmo do The Quarryman (a banda formada por Paul e John Lennon, que mais tarde deu origem ao The Beatles). Alguns sucessos como Love Me Do, Blackbird e In Spite Of All The Danger (uma das primeiras músicas gravada pelo The Quarryman), foram relembradas por Paul. Além de algumas músicas mais antigas, ele também apresentou alguns de seus trabalhos mais recentes como Queenie Eye, New (duas faixas do álbum New, lançado em 2013) e Four Five Seconds (uma parceria entre Rihanna, Paul McCartney e Kanye West). Um dos momentos mais emocionantes da apresentação foi a música Hey Jude, em que milhares de pessoas levantaram plaquinhas e balões com a frase escrita “Na na na” (referência ao trecho “na, na, na, na na na na, na na na na, hey Jude”). Os fãs acompanharam o cantor enquanto balançavam as plaquinhas e balões, mobilizando todos que estavam presentes no Estádio do Mineirão. A estudante de jornalismo Sylvia Amorim é uma grande fã do músico e teve a oportunidade de ir ao show. Ela observou a energia e entusiasmo de Paul McCartney que tem muita disposição para cantar e tocar, andar pelo palco, trocar de instrumentos, fazer dancinhas, sem demonstrar nenhuma dificuldade no trabalho vocal. “Ele contagia todo mundo e emociona
também. Foram três horas de show que passaram muito rápido, você fica entretido naquilo. Eu achei muito fofo também como ele sempre mexe com o público, fala em português, chama Belo Horizonte de ‘BH’ e usa gírias daqui de Minas. Parece que ele conquista a gente assim, pela simplicidade e gentileza, como se a gente tivesse intimidade com ele. Foi uma experiência incrível, que vou levar pro resto da vida, parece que toda a plateia ali dividia um só coração, cantando as músicas”, relata. O jovem Pedro Caxito também sempre gostou dos Beatles, uma vez que sua mãe é uma verdadeira “beatlemaniaca”. Essa paixão pela banda é algo que está presente em sua família há anos, pois sua mãe e suas tias eram adolescentes quando os Beatles estouraram aqui no Brasil, em 1964. Elas juntavam moedinhas para comprar os discos, que hoje fazem parte da coleção de vinil do Pedro. Por ter crescido com essa influência dentro de casa, o rapaz considera uma experiência mágica poder ver um ex-Beatle cantando ao vivo. “O show foi incrível, não tenho palavras pra descrever. Fico imaginado como deve ter sido para minha mãe e para minhas tias que são fãs há 50 anos, faz toda aquela espera de décadas escutando Beatles, Wings e o Paul valer a pena”, afirmou. 50 anos Sgt. Pepper’s
No dia 1º de junho de 1967, o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi lançado. Tratava-se de uma obra do rock psicodélico, que estava emergindo naquela época. Assim que chegou às lojas o disco se tornou líder das listas de sucesso do Reino Unido por 27 semanas, além de ficar por 15 semanas no lugar mais alto do ranking da Billboard. Não demorou muito tempo para que o álbum
começasse a quebrar algumas barreiras. Sgt. Pepper’s ficou conhecido por ser o primeiro álbum conceitual que não tinha interrupções entre as suas faixas, ou seja, isso criou uma ideia de obra global, algo para ser escutado como se fosse uma obra única e não como 13 faixas separadas. Além disso, foi o primeiro álbum a ter as letras das músicas impressas no encarte. A capa do disco também foi algo revolucionário para a época, uma vez que elas resumiam-se a fotos brilhantes dos artistas. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band quebrou essa tradição. A capa do álbum apresentou uma montagem com figuras icônicas e históricas como Edgar Allan Poe, Marilyn Monroe, Bob Dylan, Marlon Brando, Oscar Wilde, Gustav Jung, Lewis Carroll, Karl Marx e os próprios Beatles, que usavam uniformes militares carnavalescos. Agora, 50 anos depois desde o seu lançamento, o disco ainda é considerado como uma obra bastante influente. Para muitos trata-se de uma obra fundamental de rock de todos os tempos. E para comemorar esse aniversário, foi lançada uma edição especial 20| zint.online
de Sgt. Pepper’s. Essa edição contém remixes, demos, versões alternativas, um livro de 144 páginas e o documentário remasterizado de Making of Sgt. Pepper (1992). Esse pacote contém quatro CDs, DVD e um box Blu-ray. E nos textos que acompanham o box, Paul McCartney comentou a respeito do álbum e de seu grande sucesso nos dias atuais. “É uma loucura pensar que, 50 anos depois, ainda estamos olhando para trás com tanto carinho. Também não conseguimos acreditar como quatro homens, um produtor genial e sua equipe de engenheiros puderam fazer uma peça de arte duradoura tão impressionante”. A Influência dos Beatles
John Lennon, Ringo Starr, George Harrison e Paul McCartney. Esses são os nomes dos quatro integrantes que compunham a banda The Beatles, que fez um enorme sucesso e que revolucionou o mundo da música. A trajetória deles iniciou-se no The Cavern Club,
em Liverpool, e aos poucos o sucesso crescente fez com que eles se tornassem mundialmente conhecidos. E durante oito anos, de 1962 a 1970, os Beatles mudaram para sempre o mundo do rock and roll. Eles criaram uma linguagem musical única e influenciou o comportamento da juventude daquela época, de forma que esse fenômeno ficou conhecido como “beatlemania”. E, até hoje, nenhum outro grupo musical conseguiu alcançar tal façanha. O sucesso deles era tão grande que em 1965 a rainha Elizabeth II, da Inglaterra, condecorou os Beatles com a Ordem do Império Britânico. Nesse mesmo ano, eles já haviam lançado o seu sexto álbum. No ano seguinte, em 1966, eles iniciaram uma turnê por cinco países: Alemanha, Filipinas, Japão, Estados Unidos e Canadá. O dia 10 de abril de 1970 ficou marcado por uma notícia chocante: Paul McCartney estava deixando os Beatles, ao mesmo tempo em que estava lançando o seu primeiro álbum solo. Aquele era o fim da banda. Foi uma das separações mais impactantes de todos os tempos. Porém, apesar do fim deles, a sua influência continua mais forte do que nunca e suas músicas continuam conquistando uma legião de jovens. De acordo com o professor de português Guilherme Lentz, que é um grande fã da banda, toda essa importância dos Beatles se dá por diversos
fatores, entre eles a ousadia: “Eles viveram em um momento propenso à experimentação, encontraram portas já abertas por artistas que vieram antes deles; tiveram à disposição recursos técnicos privilegiados. Nesse sentido, os Beatles tiveram muita sorte”. Além disso, eles também possuíam um enorme talento em mãos. “Eles tinham ideias, criatividade, determinação, profissionalismo, inspiração, inteligência, todo um instrumental que com o passar dos anos se desdobrou em outras virtudes, como engajamento, correção, maestria, interesse por outras áreas, tudo isso sem nunca se acomodarem, sem nunca repetirem receita, sem nunca cederem às facilidades, às tentações do sucesso garantido”, explica Guilherme. O professor também observa que não há tantos artistas que reúnam tanta riqueza como os Beatles, e ressalta que existe certo interesse por parte da indústria cultural que contribuiu para esse sucesso após tantos anos. Porém, esse não é o fator principal, e sim as músicas carregadas por uma essência forte e verdadeira: “No final das contas, é isso que permite que todos os esforços ao redor dos Beatles continuem frutificando”. // A Hard Day’s Night
SETLIST ONE ON ONE. MINEIRÃO, 17 DE OUTUBRO DE 2017 Save Us Can’t Buy Me Love Letting Go Drive My Car Let Me Roll It I’ve Got a Feeling My Valentine Nineteen Hundred and Eighty-Five Maybe I’m Amazed I’ve Just Seen a Face In Spite of All the Danger You Won’t See Me Love Me Do And I Love Her Blackbird Here Today Queenie Eye New Lady Madonna FourFiveSeconds
Eleanor Rigby I Wanna Be Your Man Being for the Benefit of Mr. Kite! Something A Day in the Life Ob-La-Di, Ob-La-Da Band on the Run Back in the U.S.S.R Let It Be Live and Let Die Hey Jude Yesterday Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band Helter Skelter Birthday Golden Slumbers Carry That Weight The End
zint.online | 21
Ninguém permanece o mesmo // TEXTO
Bruna Curi
C
om 11 anos de carreira e envolvida em algumas polêmicas — uma das mais famosas foi sua apresentação em 2013 no MTV Video Music Awards (VMA), em que ela fez o twerk ao dançar junto do cantor Robin Thicke durante a apresentação da música Blurred Lines —, Miley Cyrus está de volta com o seu sexto álbum de estúdio: Younger Now. Depois de um hiatus de dois anos, a ex estrela da Disney deixou um pouco de lado a música pop e voltou-se para o country. Em seu novo trabalho a cantora regressou às origens e decidiu se inspirar nas raízes de sua família, que é formada por grandes ícones da música country americana. Ela é filha de Billy Ray Cyrus, que ficou muito conhecido após o lançamento de Some Gave All (1992), o seu primeiro álbum e o mais bem-sucedido de sua carreira; e sua madrinha é a famosa Dolly Parton, que é considerada um dos maiores nomes na história da música mundial, sendo reconhecida como “Rainha da Música Country”. O Álbum A música Younger Now, que dá o nome ao álbum, fala sobre a mudança. A inspiração para compor essa música veio através de sua mãe que, no Natal do ano passado, achou que ela parecia mais nova do que há alguns anos. E em uma entrevista para a MTV, Miley explicou que essa música veio para fazer as pazes com o seu passado e abraçar todas as suas fases sem ter vergonha de quem já foi: “Agora posso me orgulhar de todas as Mileys que já fui, em vez de tentar fugir de quem eu era aos 11 anos. Entendi que isso faz parte da minha vida. Não tenho medo de quem eu era. Ninguém permanece o mesmo”. Com uma letra bastante romântica, Malibu é ins-
// diagramação
Maria Nagib
pirada em seu relacionamento com o ator australiano Liam Hemsworth. Eles se conheceram nos bastidores do filme A Última Música (2010) e depois de alguns términos ao longo dos anos, os dois voltaram oficialmente em 2016 e estão juntos deste então. O cenário californiano, em que a música se passa, é o local onde ela vive atualmente com o ator. Rainbowland marca a sua parceria com Dolly Parton. A música começa com uma mensagem de Dolly e é mais voltada para o clássico country. A canção também fala sobre a aceitação da diversidade — não é nenhuma novidade a cantora ser a favor das diversidades. Ela criou a fundação Happy Hippie para abrigar e ajudar jovens sem-teto e homossexuais expulsos de casa — e o pedido de um mundo melhor. As músicas Week Without You, Miss You So Much, I Would Die For You e Love Someone tem o amor como tema, tratando sobre términos, a dor, a saudade e as incertezas de estar em um relacionamento. Algumas são verdadeiras declarações de amor. Com uma energia mais vibrante, uma batida e um refrão mais voltado para o pop, Thinkin’ quebra essa sequência introspectiva. Já Bad Mood, é uma mistura de country com o rock, podendo ser considerada como uma das melhores faixas do álbum. She’s Not Him chama a atenção por ser uma música pop que fala sobre a bissexualidade. Essa canção aborda a sexualidade de Miley, que revelou se considerar uma pessoa trans não binária. “Eu não ligo pra isso de menino ou menina e eu não quero ter um companheiro que ligue para isso. Eu estou literalmente aberta a qualquer coisa que seja consentida e não envolva animais e nem menores de idade. Tudo que é legal, eu estou dentro”, explicou em uma entrevista para a Paper Magazine. A última faixa do álbum, Inspired, foi uma música que Cyrus escreveu inspirada em seu próprio pai e em Hillary Clinton, que foi candidata na última eleição presidencial americana e para quem a artista zint.online | 23
fez campanha. Trata-se de uma música muito reflexiva e, como o próprio nome diz, inspiradora. A Crítica Em 2012 ao cantar o cover de Jolene (música de Dolly Parton), Miley Cyrus já demonstrava parte de seu grande talento. Acompanhada somente por guitarras acústicas, ela mostra que tem uma voz perfeita para o estilo country, mas, somente em seu sexto álbum foi que a cantora resolveu apostar nesse estilo, encontrando um som em que se sente confortável. O álbum Younger Now está marcando uma nova fase na vida da cantora, sendo o início de uma mais “tranquila” (influenciada por Elvis Presley, Johnny Cash e outros nomes importantes da música country 24| zint.online
americana) em que Miley optou por uma sonoridade leve e doces letras. Está sendo uma forma da artista se reconectar com os seus fãs, mesmo que alguns deles não estejam tão acostumados com esse novo estilo. A repercussão do disco na mídia também está sendo favorável, veículos como o Entertainment Weekly, Rolling Stone e NME escreveram críticas positivas a respeito do novo trabalho da cantora. Além disso, o disco completou quatro dias no primeiro lugar do ranking de vendas mundial do iTunes e durante o seu lançamento (29/9) chegou a liderar as paradas em 50 países. Atualmente (até o fechamento dessa matéria, no dia 17 de outubro), álbum está no Top 10 de mercados de países como o Brasil, Estados Unidos e do Reino Unido.
E apesar do nome Younger Now (“Mais Jovem Agora”, em tradução livre), o disco é um dos trabalhos mais maduros de toda sua carreira. Existe mais profundidade nesse trabalho, mostrando
que Miley amadureceu ao se rejuvenescer. Agora resta saber qual será a próxima mudança, afinal de contas, a artista já mostrou que diversas vezes que “ninguém permanece o mesmo”. //
Anos 90: Quando a música adoeceu // TEXTO
GUILHERME RODRIGUES
Em uma conferência sobre física, Lorde Kelvin afirmou que a física não tinha mais nada a descobrir. Não existe declaração melhor para descrever a música dos anos 90. Enquanto o mundo presenciava a Guerra Fria desabar junto ao muro de Berlim, a música enfrentava suas “nuvens no horizonte”. A impressão que se tinha era de que nada mais inovador poderia ser feito, tínhamos atingido o ápice. A solução foi simples: a inovação viria da mistura de estilos e do aperfeiçoamento de estilos já criados. As boybands retornaram ao mercado, agora com um leve toque da música eletrônica, que seria aumentada nos anos 2000. Os irmãos Gallagher, juntamente com Damon Albarn, juntaram as influências britânicas dos anos 60 e colocaram novamente a rainha do mar no mapa da música. De todos os estilos que surgiram, dois merecem menção honrosa nesse texto: O Grunge e o Shoegaze. Com sonoridades fortes e letras melancólicas, o Grunge surge no começo dos anos 90, tendo como sua capital a cidade de Seattle. O estilo foi um símbolo para uma juventude rebelde, que se voltava contra todo o pragmatismo musical das décadas passadas, com exceção do Punk. A ideia era sim26| zint.online
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VICS
ples, quanto mais distorcida a guitarra, melhor o som. A explosão do Overdrive e a bateria pulsante eram acompanhadas por letras hora com um teor de revolta e ódio, hora com um teor extremamente melancólico. Em meados da mesma década em que surgiu, o Grunge ainda sentia o suicídio de Kurt Cobain, símbolo de toda essa geração, e acaba caindo em desuso. A falta de atitude e o ar de apatia eram marcas registradas. Marcado por guitarras barulhentas e letras extremamente intimistas, o Shoegaze surge no fim dos anos 80 e tem seu ápice nos anos 90. Pouco conhecido no mundo mainstream, o estilo se sobressaía no submundo da música. A sonoridade forte e os abusos da distorção tornam difícil o entendimento. É considerado o percussor da música Indie que se seguiria nos anos 2000. Bandas como Sonic Youth e My Bloody Valentine são um dos destaques. O movimento teve seu declínio devido à ascensão do britpop na Inglaterra e do próprio Grunge nos Estados Unidos, além do surgimento da mudança de algumas bandas para o post-rock. Os dois estilos têm muito em comum no que diz respeito a temática. Nunca a morte e a melancolia
foram uma temática tão abordada. Esse fato tem uma explicação, a década foi marcada por uma pressão e exposição enorme dos músicos na mídia. Muito desse fato tem a ver com a criação de um canal que falava 24h de música, a MTV, que praticamente patrocinou o grunge, e teve sua parcela de culpa nessa exposição ao máximo dos músicos. Cobain foi o maior alvo disso, exposto ao ridículo diversas vezes, chegaram a colocar boatos de que ele e Courtney prejudicaram a saúde do bebê, devido a um suposto abuso de drogas durante a gravidez, o que levou a perda temporária da guarda da filha. Outra parte se deve também à pressão em que eles eram submetidos, o nível dos músicos tinha aumentado, não era mais tão fácil fazer sucesso na música, os Gatekeepers ficaram mais exigentes e a concorrência dentro do próprio cenário virou uma realidade. Os produtores exigiam cada vez mais de seus produtos. Além da pressão do próprio mercado, existia uma certa pressão social. Os anos 90 foi época em que os estilos efervesceram, todos aconteciam ao mesmo tempo, o mercado era amplo e, consequentemente, exigência dos fãs também. A música não tolerava mais o monopólio de um estilo só. A maior proble-
mática dessa situação é o fato de que houve uma glamourização da depressão no artista, era algo sofisticado o artista sofrer e, se isso rendesse bons álbuns e discos, tudo bem. A falta de sensibilidade quanto a assuntos relacionados aos transtornos psicológicos dos artistas era nítida e se refletia no modo como a mídia e até mesmo os fãs faziam disso uma qualidade no músico. Não se enxergava uma pessoa com dor, se enxergava uma pessoa talentosa que transformava seu próprio sentimento em algo bonito. Nunca foi algo bonito. Nunca soubemos enxergar as letras das músicas como um desabafo. Continuamos errando. // NOSTALGIA //
90’s GRUNGE & SHOEGAZE Deezer Spotify Yo u t u b e zint.online | 27
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6 segundos de fama // TEXTO
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STEPHANIE TORRES.
o dia 16 de setembro, o cantor e compositor Shawn Mendes se apresentou no palco Mundo do Rock In Rio. O canadense começou a chamar atenção dois dias antes, assim que pisou no Brasil para se apresentar no festival, quando tirou foto com cada um dos cerca de 100 fãs que o esperavam no aeroporto e esbanjou simpatia. A atitude não só deixou seus admiradores ainda mais apaixonados, como também o fez conquistar o respeito de muita gente que não o conhecia. Apesar de não ser headline do evento (posição ocupada pela banda norte-americana Maroon 5), Shawn conquistou o público, que cantou todas as suas músicas entusiasmadamente. Foi a maior plateia para quem ele, que se mostrou claramente emocionado, já se apresentou. Porém, com apenas quatro anos de carreira, o sucesso do cantor evidencia o potencial para ser mais do que apenas mais uma sensação entre o público adolescente. O canadense começou a chamar atenção na internet em 2013, no extinto Vine (aplicativo que permitia aos usuários postar vídeos de seis segundos), fazendo covers de músicas conhecidas. Seus vines alcançaram sucesso instantâneo, conquistando milhares de visualizações e seguidores. Em 2014, Shawn já era um dos três cantores mais populares da rede social. Seis segundos logo se tornaram pouco para o sucesso que o jovem músico vinha fazendo. Naquele mesmo ano ele assinou contrato com a gravadora Island Records e lançou o seu pri-
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vics
meiro single. Life of the Party estreou no Top 25 da Billboard Hot 100, feito que transformou Mendes no artista mais jovem a estrear na posição. No ano seguinte, o primeiro álbum de estúdio do artista foi lançado. Handwritten trouxe o single de sucesso Stitches e definiu o estilo musical de Shawn, com um som muito semelhante ao do cantor norte-americano John Mayer e influências do britânico Ed Sheeran. Também em 2015, ele abriu 1989 World Tour, de Taylor Swift, que viria a ser a turnê mais bem sucedida daquele ano. Em 2016, o canadense ganhou sua própria turnê mundial, foi listado pela revista Time como um dos 25 jovens mais influentes do mundo e fez sua primeira aparição na Forbes no anual "30 Under 30" (lista que aponta os 30 jovens mais bem sucedidos antes dos 30 anos). Em seguida, em setembro do mesmo ano, Mendes lançou o seu segundo álbum. Illuminate estreou na primeira posição da Billboard 200, maior chart de música mundo, mostrando um amadurecimento musical em comparação ao álbum anterior. Em dezembro, o cantor fez uma apresentação no Madison Square Garden, em Nova Iorque, com ingressos esgotaram em menos de cinco minutos. Joe Coscarelli, jornalista do New York Times, definiu o estilo de Shawn mendes como "seu pop-rock macio, às vezes soulful toca principalmente para pré-adolescentes e adolescentes, mas também tem encontrado atração em estações de rádio contemporâneas adultas" e é exatamente essa a impressão que o cantor passa. Embora seu principal público atualmente seja formado por jovens seduzidos por sua voz agradável, letras doces e aparência de galã teen, em sua breve carreira o artista já provou que tem talento e que a maturidade pode transformá-lo nos próximos anos em um dos maiores artistas da geração. //
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literatura
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Mente sombria e coração assombrado Stephen King consegue, aos 70 anos, transformar seus medos em um império que não parece ter fim e lança um sucesso atrás do outro
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bruna nogueira
magine seu pior pesadelo. Imaginou? Provavelmente Stephen King já escreveu um livro a respeito. É também muito provável que esse livro já tenha se tornado um filme ou uma série, ou está nesse processo em forma de um roteiro em alguma mesa de Hollywood. Com mais de 80 livros publicados e traduzidos para mais de 40 línguas, Stephen King completou 70 anos de vida no final de 32| zint.online
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thales assis
setembro. E após mais de 40 anos de carreira, 2017 finalmente parece ser o seu ano: com três longas-metragens lançados nos últimos meses (It - A Coisa, A Torre Negra, e Jogo Perigoso), além de séries como O Nevoeiro, que já foi lançada e até cancelada, e Mr. Mercedes, que já foi renovada para um novo ano. Stephen definitivamente não sai das manchetes ou das livrarias. Enquanto o filme A Torre Negra estrelado pelos grandes Idris Elba e Matthew McConaughey passou quase despercebido nas telas do cinema, o remake de It alcançou um sucesso de bilheteria, arrecadando
mais de US$ 600 milhões. Já Jogo Perigoso é uma produção da Netflix e desde o último final de semana de setembro já está disponibilizado no catálogo do serviço de streaming, assim como The Mist, que a empresa tem direitos exclusivos de transmissão. Stephen Edwin King
Com um sobrenome que remete a nobreza, Stephen Edwin King se tornou conhecido pelos fãs e a comunidade da literatura de horror como o “Rei do Terror”, e o título é merecido. O autor começou a escrever quando ainda era um moleque como os personagens de It, como ele mesmo conta em seu livro Sobre a Escrita. Seu pai saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou, ele viu seu amigo morrer tragicamente em um acidente na linha do trem, acumulou diversos problemas psicológicos, desenvolveu alguns físicos e conheceu a pobreza. Stephen seguiu o conselho dado por muitos professores e escreveu sobre aquilo que conhecia. Com suas dores e medos na bagagem, ele tinha (e ainda tem) material de sobra para trabalhar. Na adolescência, ele mesmo distribuía seus contos e no ano de 1973, ele fez sua primeira venda real: Carrie. O livro sobre a menina que sofria bullying e tinha poderes psíquicos lhe rendeu oito mil dólares em suas vendas, e três anos depois mais de um milhão de dólares com a venda de sua adaptação para os cinemas. Nessa época, Stephen dava aulas na Academia Hampden, em Maine nos Estados Unidos, e vivia em um trailer com sua esposa Tabitha Spruce, dependendo do salário baixo de professor e com uns trocados que ganhava com um ou outro conto publicado. Vivendo como um legítimo estereótipo de escritor atormentado pelos próprios demônios, King se tornou um viciado: viciou-se em drogas, em álcool, e no medo. Ele mesmo afirma que não consegue viver sem seus medos, tal qual um usuário de cocaína não consegue sobreviver sem sua dose. Após o lançamento de Carrie, o autor decidiu parar de lecionar e foi para o Colorado, onde se dedicou de corpo e alma à escrita. Lá, entregue completamente aos prazeres químicos, ele escreveu O Iluminado, lançado em 1977. Segundo o autor, o personagem Jack Torrance foi inspirado em si próprio: um escritor com problemas de alcoolismo, que se perde em sua própria mente. Diferentemente do personagem, o destino de King ao final do livro foi um dos melhores possíveis: Stanley Kubrick dirigiu a adaptação da obra para os cinemas, criando um clássico e um dos maiores filmes de terror/suspensa da história, e, com
o sucesso, o escritor começou o caminho para se consagrar como o maior nome do horror. “Você tem que ser meio doido para ser escritor porque tem de imaginar mundos que não existem. Você está ouvindo vozes, está fantasiando, está fazendo tudo o que se diz às crianças que não façam. Ou então nos mandam distinguir entre a realidade e essas coisas. Os adultos vão dizer: ‘Você tem um amigo invisível, que lindo, você vai superar isso’. Escritores não superam isso”, afirma o autor na biografia escrita pela jornalista Lisa Rogak “Coração Assombrado”. No livro, a jornalista tenta explicar aquilo que Stephen diz passar dentro de sua cabeça. Ela tenta, mas nem mesmo King consegue colocar em palavras a casa de horrores que ele chama de mente. O autor conta que passa todos os dias sentindo medo. Em diversas entrevistas dadas pelo escritor ao longo de mais de quatro décadas de carreira, ele afirmou que seus pesadelos são muito piores do que seus leitores podem imaginar. Isso acontece porque seus medos além de serem constante, são muitos: aranhas, palhaços, pessoas deformadas, chuvas fortes, escuro, altura, violência, terapeutas, ratos, gosmas, lugares fechados e a lista segue. Tudo aquilo que King aflige às suas personagens é o que ele mais teme que aconteça a si próprio.
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Jack Nicholson interpretando Jack Torrance na adaptação cinematográfica de O Iluminado (1980), dirigida por Stanley Kubrick
Quando eu era criança, um dos meus maiores medos eram palhaços. Com o passar dos anos achei que tinha perdido esse medo, e então eu li It. Durante a adolescência, o meu maior sonho era morar sozinha, em uma casa só minha, onde eu pudesse escrever em meio ao silêncio, e então eu li O Iluminado, e conheci os horrores do isolamento. Stephen King ensina o que é sentir medo de verdade e muda o conceito de terror psicológico a cada nova história. Em suas obras, guia os leitores nos maiores temores das personagens, e a cada página traz a sensação de estar sob a pele de cada uma delas. Ler as obras de Stephen King é como puxar uma pequena pelinha solta no canto dos dedos: o prazer começa lentamente, e, mesmo que doa no meio do caminho, a necessidade de chegar ao fim é irresistível. Com cores imaginárias, os cenários são pintados na mente do leitor, e não desejar a adaptação cinematográfica dessas obras é quase impossível. Dessa forma, ao longo de sua carreira mais de 240
livros e contos do autor se transformaram em filmes, curtas e séries, e continuam fazendo sucesso até hoje. E para quem acha que 70 anos é a idade certa para a aposentadoria, King responde com contratos fechados. O escritor acaba de lançar um novo livro, escrito em parceria com seu filho Owen, intitulado Belas Adormecidas. Além do lançamento literário, a Netflix já fechou contrato e segue em fase de desenvolvimento do seu novo filme original baseado nas palavras do autor: 1922. Adaptação de um conto presente no livro Escuridão Total, Sem Estrelas, o filme será sobre uma família que mora no campo. O marido decide assassinar a esposa com a ajuda do filho do casal, mas a situação piora quando ela volta para assombrá-los. Os próximos anos prometem trazer muito, muito mais de King ao público, como a continuação cinematográfica de It, fazendo com que as próximas gerações, assim como a nossa e a dos nossos pais, conheçam seu nome e acima disso, seus medos. // zint.online | 35
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JOGOS
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Cuphead: não negocie com o diabo!
Conheça Cuphead, o fenômeno que já vendeu um milhão de cópias no mundo inteiro
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julio puiati
ode ter certeza que Cuphead é um jogo totalmente diferente do que você já viu até hoje. Inspirado nas clássicas animações das décadas de 20, 30 e 40, o título desenvolvido pelo StudioMDHR está conquistando uma massa de fãs gigantesca desde que foi lançado oficialmente, no dia 29 de setembro deste ano. 38| zint.online
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thales assis
Cuphead é um jogo de plataforma 2D, de visão lateral, em terceira pessoa e de gênero run n’ gun (corra e atire). Publicado pela Microsoft e disponível para Xbox One e PC, o game conta a história de dois irmãos “cabeça de xícara”: Cuphead e Mugman. O game possui, teoricamente, duas horas de campanha e pode ser jogado no modo co-op. À primeira vista, Cuphead nos leva a crer que o jogo é destinado ao público infantil. Afinal, estamos falando de traços artísticos característicos de desenhos como Mickey Mouse (1928), Popeye (1929) e Betty Boop (1930).
Os gráficos lúdicos e bonitinhos, no entanto, escondem um enredo sombrio, elementos visuais psicodélicos e um nível de dificuldade absurdo. Digno de gente grande! A história de Cuphead – não negocie com o diabo começa quando os nossos simpáticos personagens se deparam com uma situação de vida ou morte. Os irmãos cabeça de xícara acabam deixando se levar pelo vício das apostas em um cassino gerenciado pelo próprio Diabo em pessoa. E aí, Cuphead, o personagem de vermelho, aposta a sua alma em troca de todo o lucro do estabelecimento. É claro que ele perderia, né? O Diabo, entretanto, oferece aos dois protagonistas uma chance de liberdade. Eles teriam 24 horas para derrotar e coletar todas as almas de uma extensa lista de devedores do cassino. Agora tá explicado por que o game não é destinado para crianças, certo? Cuphead é composto por dois tipos de fase: de plataforma (com a possibilidade de mini bosses ou não) e de chefões. E as referências não ficam restritas apenas aos desenhos antigos. A jogabilidade é bastante inspirada em games conhecidos do público como Megaman (1987), Contra (1987) e Metal Slug (1996). Nós podemos andar, pular, pular com um giro especial, abaixar, dar um dash e atirar. Tiros secundários e consumíveis podem ser adquiridos em uma lojinha que fica no mapa, que se assemelha (e muito) com o mapa de Super Mario World! As fases e chefões, além de muito bem desenhados,
ricos em detalhes e pra lá de excêntricos, nos proporcionam uma experiência única. Os bosses possuem mecânicas específicas, diversas variedades de ataque, além de
Em Cuphead, os bosses do jogo se adaptam a quantidade de mortes do jogador para não se tornarem previsíveis
duas ou mais transformações. E lembra que mencionei que os elementos gráficos continham um toque de psicodelia e extravagância? Pois bem, podemos enfrentar um marujo em cima de um barco vivo, uma cenoura gigantesca, sapos lutadores de boxe e uma abelha rainha que se transforma em avião! Tudo parece ser insanamente louco, mas cada pedacinho do game foi muito bem pensado. Cuphead começou a ser desenvolvido pelos irmãos Moldenhauer – fundadores do StudioMDHR – em 2010. Ainda em fase de aperfeiçoamento, o game foi anunciado pela primeira vez na E3 de 2014. E apenas em 2017 foi oficialmente liberado para vendas. O motivo de tanta demora? Os quase 50 mil quadros do projeto foram desenhados separadamente, um a um, (e a mão) pela equipe de criação! Capricho não faltou, né? Cuphead possui poucos diálogos de personagens. A introdução do game, por exemplo, é narrada por textos como se fosse um livro de histórias infantil. Todavia, a ausência de dublagens de falas é totalmente suprida por uma trilha sonora original e de tirar o fôlego. As aventuras dos cabeças de xícara são regadas por aquele típico jazz estadounidense do início do século XX. As linhas de guitarra, piano, contra-baixo e instrumentos de sopro como trompete, saxofone e clarinete te envolvem completamente na história e na ação de cada fase e boss battle. O jogo pode ser zerado, teoricamente, em duas 40| zint.online
horas, como dito no começo desta análise. Mas a tendência é que esse número duplique, triplique ou até mesmo quadruplique devido ao nível intenso de dificuldade. Os bosses possuem características específicas que variam de tentativa em tentativa. Eles não se comportarão da mesma maneira se você for derrotado mais de uma vez! Por exemplo: o primeiro boss do jogo pode te lançar rajadas supersônicas em seu primeiro encontro. Mas se você perder e tentar novamente, talvez ele não agirá da mesma forma e atacará diferente. Então fica difícil prever ou decorar a movimentação de cada inimigo. Cuphead é, sem dúvidas, uma ótima pedida para os fãs de vídeo-game. O jogo se diferencia dos demais títulos justamente por ser tão singular. Desde a etapa de idealização até o produto final, os irmãos Moldenhauer fizeram questão de não se prender à corrente realista da atual geração de consoles, desenvolvedoras e games. Pelo contrário, os criadores viajaram no tempo, resgataram a cultura antiga das animações e conseguiram elaborar um jogo que funcionasse nos padrões atuais de consumo. Se você gosta de referências, gráficos impecáveis, uma proposta diferente, enredo criativo e um pouco de desafio, “Cuphead – não negocie com o diabo” irá te proporcionar boas doses de diversão! O jogo pode se encontrado por R$37,00 na Steam e R$77,00 na Live. Boa sorte no resgate das almas! //
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filmes
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Uma experiência sensorial, reflexiva e essencialmente humana // TEXTO
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joão dicker
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vics
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Apesar de ter sido mal recebido quando lançado, em 1982, Blade Runner se tornou, com o passar dos anos, não só uma das ficções científicas mais importantes da história, mas também um clássico do cinema que marcou época. Mesmo que com uma produção conturbada e com diferentes versões sendo lançadas, até o consagrado “final cut”, o longa envelheceu bem por possuir, além de todo apuro estético e sensorial, camadas de simbologias e interpretações a serem desvendadas com o tempo. Desta forma, nada mais do que natural do que a sua continuação, Blade Runner 2049, comece a traçar um caminho parecido. Assim como o original, o longa que aborda o mundo dos humanos e andróides conhecidos como replicantes não alcançou números bons de bilheteria nos EUA, principal mercado cinematográfico, com uma abertura de apenas US$ 32,753,122. Para fins comparativos, It: A Coisa teve
uma abertura de US$ 123,403,419 em seu fim de semana de estreia. Contudo, bilheteria e apelo popular não são, necessariamente, sinônimos de qualidade artística e Blade Runner 2049 comprova tal premissa ao se edificar não só como um dos melhores filmes do ano, mas como um longa-metragem que deixa a impressão de que com o passar dos anos, e a cada vez que for revisto e repensado, apresentará mais nuances e qualidades. Assim como o primogênito, 2049 não é um filme convencional. O importante aqui não é seu enredo ou a narrativa apresentadas, e sim o que todo esse texto tem para falar. Os inúmeros questionamentos possíveis de serem levantados a respeito da individualidade humana, do avanço tecnológico, da formação de personalidade e memórias, da profundidade das relações sociais, da busca por identidade e auto-conhecimento, dentre outros, são o verdadeiro guia do filme, que trabalha tais indagações com perfeição. Desta forma, somos reinseridos no mundo criado por Ridley Scott 30 anos depois dos acontecimentos do longa de 1982, acompanhando o blade runner K (Ryan Gosling), zint.online | 45
responsável por caçar e exterminar replicantes de gerações anteriores, que estão atualmente foragidos. Em uma de suas missões, o detetive se depara com um segredo misterioso capaz de colocar em cheque toda a aristocracia e a ordem social existente. Embora seja uma excelente continuação, talvez uma das melhores já feitas na história do cinema, Blade Runner 2049 se sustenta sozinho. Parte desse exito reside no roteiro de Hampton Fancher e Michael Green, responsável por propor questionamentos, reflexões e agregar substância ao longa, além de apresentar personagens bem construídos com arcos dramáticos interessantes, profundos e críveis. Há um trabalho incrível nas liberdades tomadas para referenciar situações vividas no primeiro longa, ao mesmo tempo que criam simbologias e analogias profundas com coisas sutis (como nomes de personagens, por exemplo), e na maneira com que levam a história deixada em aberto para frente sem responder perguntas, que funcionam melhor sem respostas. Vale ressaltar que o roteiro não é previsível e que mesmo que o importante aqui não seja investigação policial protagonizada por K, consegue apresentar uma narrativa envolvente e com boas reviravoltas. Trazendo forma ao texto, o trabalho visual é impecável, com um design de produção encabeçado por Dennis Gassner deslumbrante e eficaz em criar cenários e paisagens futuristas marcantes, que não só respeitam e homenageiam a identidade visual criada no primeiro longa, como expandem de forma orgânica o universo criado anteriormente. São soluções
A fotografia de Roger Deakins torna os planos de Blade Runner 2049 em verdadeiras obras de artes plásticas
visuais interessantíssimas para um filme que quer ser profundo e escolhe um ritmo lento para isso. Essa opção por uma narrativa mais contemplativa e um ritmo desacelerado funcionam perfeitamente bem nas mãos de Dennis Villeneuve. O canadense se assume, a cada filme que faz, como um dos mais talentosos diretores da atualidade, e em 2049 demonstra domínio total sobre a produção. Desde a maneira com que enquadra seus atores à consciência que têm para usar do silêncio, do avança narrativo gradativo, da contemplação enquanto interação com os personagens, dos planos longos que captam os desolados cenários deslumbrantes, o cineasta produz um filme que utiliza da imagem como principal elemento textual. O design de produção volta a complementar o trabalho do diretor ao apresentar um mundo arquitetonicamente homogeneizado e escuro, dando a impressão que os poucos sinais de vida são provenientes dos neons das enormes propagandas de empresas e corporações. Existe um respeito claro da atmosfera e do traço noir apresentado no primeiro filme, mas atualizado e revisitado, em um trabalho criativo de Villeneuve para entregar sequências visualmente marcantes e poderosas. Roger Deakins comanda a fo-
tografia com brilhantismo e impecabilidade, mesmo quando se distancia da estética consagrada pelo filme de 82, ao introduzir uma paleta de cores mais quente e intensa para agregar a atmosfera mórbida daquele mundo traços de um ambiente árido e devastado não só de vida física, mas de alma. Tão perfeito quanto os elementos estéticos e visuais do longa é a parte sonora da produção. Jogando com silêncios pontuais, Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch terminam por tornar Blade Runner 2049 em uma experiência sensorial completa. O trabalho dos compositores na trilha sonora original emula sons e melodias da trilha composta por Vangelis para o primeiro filme, ao mesmo tempo que atualiza os sons para combinarem perfeitamente com a imagem. Seja com efeitos sonoros diegéticos ou com melodias atmosféricas, os sons tomam o espectador e o inserem em toda atmosfera do longa, ajudando na construção de um clima tenso e inquietante perfeito para as provocações existencialistas do filme. Todas as questões existencialistas acabam recaindo sobre K e sua percepção de mundo, na suas relações pessoais, e na sua própria percepção enquanto ser. Os questionamentos e as emoções (ou a falta delas) são extremamente bem interpretadas por Gosling, no melhor papel de sua carreira. Ao mesmo tempo que tem uma performance fria, introspectiva e retraída, condizendo perfeitamente com a personalidade de seu personagem e com suas frustrações crescentes, garante seus traços de carisma inigualáveis. Ainda, vale ressaltar a atuação corporal do ator, que se posiciona e movimenta de maneira engessada e travada no início da trama, mas que com o passar do tempo vai se mostrando fisicamente mais a vontade e
confortável, como se o próprio K se sentisse melhor em seu próprio corpo. Outro destaque do elenco é Ana de Armas, que torna sua personagem uma das mais importantes de todo o filme. Sua pureza, carisma, espontaneidade são destoantes de toda a atmosfera construída, agregando um escape para o protagonista e funcionando como ferramenta catalizadora de questionamentos profundos a respeito das emoções humanas, dos relacionamentos e da artificialidade de nossa identidade. Harrison Ford, que tem seu retorno como Deckard, organicamente e logicamente introduzido na narrativa, trás mais do que um mero fan service para o longa, agregando com uma interpretação que carrega a dor, o amargor e a experiência vivida pelo personagem nestes 30 anos desconhecidos para o espectador. Sylvia Hoeks é intensa em todos os momentos que está em tela, fazendo com que Luv transpasse toda dificuldade emocional e psicológica em se abster de sua programação replicante ao demonstrar sentimentos fortes e contrários as ações que seu mestre Niander Wallace, interpretado de forma hipnotizante por Jared Leto, pretende para toda raça replicante. Neste conjunto de trabalhos impecáveis, o filme termina por ser uma experiência cinematográfica por completo. Trabalhando todos os sentidos do espectador com perfeição, o longa consegue manter a atenção na tela durante de toda a longa projeção, que parece ser mais curta justamente pelo trabalho impecável de toda equipe da produção. 35 anos após o filme de 82, Blade Runner 2049 trás continuidade ao seu antecessor, sem se preocupar em responder perguntas passadas mas sim em aprofundar seus conceitos ao levantar novos questionamentos. // zint.online | 47
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Renato Quintino
Os 40 anos de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” // diagramação
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Maria Nagib
“Uma boa ideia e uma câmera na mão”, era a frase dos anos 70 quando se fazia referência ao talento revelado por um jovem cineasta independente. Foi assim que Steven Spielberg começou com o seu Encurralado (1971), ótimo filme e de produção barata, que manipulava muito bem o suspense numa direção ágil mostrando um motorista sendo inexplicavelmente perseguido por outro numa estrada. O filme despertou o interesse pelo diretor que ganhou a auréola de “Cult”. Em seguida, veio o colossal sucesso de Tubarão (1975), baseado numa novela mediana de Peter Benchley, sobre os conflitos de interesses num pequeno balneário quando um tubarão branco ataca e mata uma mulher durante a temporada de verão, a grande época de faturamento da cidade. A cena do primeiro ataque é brilhante e hoje um clássico, com a câmera representando a perspectiva do tubarão se aproximando das pernas da mulher vistas acima, ao som do inesquecível tema composto por John Williams. Ninguém nuca mais entrou no mar do mesmo jeito.
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Estrondoso sucesso mundial e ainda um filme de baixo orçamento, Tubarão trouxe um enorme prestígio a Spielberg, inaugurou em conjunto com Star Wars do amigo George Lucas a “era dos blockbursters”, na época em que cineastas como Bergmann, Fellini, Antonioni, Godard e François Truffaut estavam na ativa. Como era de se esperar, Spielberg foi taxado pela crítica e pelos mais intelectualizados como um cineasta menor, diretor de filmes comerciais para jovens de QI reduzido e autor comercial, fora do circuito dos chamados na época “filmes de arte”. Estamos falando de Spielberg antes da consagração pelo Oscar com o elogiado pela crítica A Lista de Schindler (1993) e antes de E.T. (1982). Isto foi há quarenta anos atrás quando o cineasta escreveu e dirigiu o seu Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), que anos mais tarde se tornou um “filme cult” e um clássico de ficção científica. Contatos Imediatos foi filmado numa época em que livros de grande sucesso como Eram os Deuses Astronautas? questionavam se seriam de autoria de seres extraterrestres obras como as estátuas da ilha da Páscoa, as pirâmides do Egito e as linhas de Nazca, livros estes que inspiravam documentários e especiais para a TV. Livros sobre discos voadores figuravam semanalmente na lista dos mais vendidos, fenômenos paranormais eram abordados em revistas respeitadas, escrevia-se e lia-se também muito sobre o mistério do Triângulo das Bermudas onde aviões e navios desapareciam como se houvesse ali um portal para outras dimensões e a cultura “New Age” florescia apoiada em yoguis e mestres espirituais e em experiências lisérgicas como as retratadas no livro A Erva do Diabo de Carlos Castanheda. Contatos Imediatos do Terceito Grau foi um impactante e original filme sobre discos voadores, com os alienígenas tratados como seres pacíficos, a comunicação com os mesmos sendo feita através da música, com a inovação nos efeitos especiais na criação de naves espaciais, especialmente a nave mãe que aparece nos quinze minutos finais, que deixava muita gente fascinada e presa na cadeira do cinema. O filme colocou a visão de discos voadores - ou como eram chamados dos UFOs ou OVNI no Brasil (objetos voadores não identificados) tema muito comum em discussões cotidianas na época - numa dimensão quase espiritual e mística. As tomadas privilegiando o enorme céu estrelado sobre as casas e as cidades trazia a todo mundo uma noção da imensidão do universo, conferindo um caráter transcendental ao mesmo, de onde poderiam surgir forças que a
qualquer momento poderia intervir e influenciar em nossas vidas. Como em Tubarão, Spielberg dizia que gostava de filmar pessoas comuns expostas à circunstâncias extraordinárias. O diretor foi fiel ao léxico da época quando se referia à OVNIs, com “Black outs”, queimaduras de sol, relatos de objetos não identificados por pilotos aos controladores aéreos e tem a honrosa participação em poucos segundos do filme de J. Allen Hynek, o mais respeitado e famoso ufólogo da época. O longa tem ritmo, manipula bem o suspense e caminha num crescendo bem estruturado entre a confusão dos protagonistas expostos à influência psíquica dos extraterrestres e os pesquisadores ufólogos e membros do governo que construíam o que seria a vivência do contato imediato do terceiro grau, ou seja, o encontro físico com um ser extraterrestre. Cineasta que se equilibrava entre o cinema comercial e a independência, marca que o diretor traz até hoje
(para bem ou para mal), Spielberg teve a participação especial de François Truffaut como o ufólogo Lacombe, o que foi um marco. O respeitado, “cabeça”, francês (este detalhe aqui é importante) e vanguardista Truffaut num papel central num filme de ficção científica do jovem, estadounidense e teoricamente comercial e hollywoodiano Steven Spielberg foi um misto de ousadia do francês, que mostrou sua liberdade e respeito ao jovem cineasta, lançando no mínimo uma incógnita para os amantes de cinema de arte e detratores do cinema comercial. Contatos Imediatos do Terceiro Grau conseguiu unir os dois universos. É um filme autoral, ousado e experimental de um jovem cineasta que tinha todos os recursos do mainstream. É um prazer revê-lo quarenta anos depois, enxergar a juventude, a criatividade, a independência e a genialidade de Spielberg, deixando-os ansiosos por o que ele ainda pode nos trazer. //
A composição de cena de Spielberg torna o vislumbre das naves alienígenas mais impactante
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joão dicker
// Diagramação
vics
O apocalipse nunca foi tão engraçado D
esde que a Marvel iniciou a construção do seu coeso universo cinematográfico, o Thor nunca foi propriamente representado. Seus dois primeiros longas individuais nunca conseguiram reproduzir a riqueza histórica 52| zint.online
e cultural que poderia ser aproveitada nas telas, ao mesmo tempo que as participações do herói nos filmes dos Vingadores servissem somente para fazer as devidas conexões entre o lado cósmico e o lado terráqueo do universo Marvel. Toda essa inconsistência sempre partiu da difi-
culdade de representar o herói, que nunca teve um tom ou jornada bem definidos: ora era o príncipe asgardiano falastrão, fútil e descolado, ora apresentava responsabilidade e preocupações dramáticas e sérias demais. Agora, em Thor: Ragnarok, seu terceiro filme individual, o Deus do Trovão finalmente recebe
uma representação digna, que apesar de extremamente desvirtuada em relação aos quadrinhos, transforma o personagem e o encaixa de maneira cômica e ácida no universo Marvel. Desta forma, acompanhamos Thor (Chris Hemsworth), em uma jornada de procura de resposzint.online | 53
tas a respeito do Ragnarok: o apocalipse nórdico. Ao retornar à Asgard, o herói descobre que seu irmão Loki (Tom Hiddleston) tomou o lugar de Odin (Antonhy Hopkins) no comando e na proteção dos nove reinos. Neste cenário de bagunça e desatenção, Hela (Cate Blanchett), a deusa da morte, escapa de sua prisão e toma Asgard para si, expulsando os irmãos e matando todos aqueles que se opõem a ela. Assim, Thor se vê preso em um estranho planeta, onde precisa encontrar forças, agora sem o seu martelo, destruído pela antagonista, para retornar ao reino dos deuses e impedir que a vilã causa o Ragnarok. Curiosamente, o enredo do longa se assemelha muito com o primeiro filme de Thor, de 2011, apresentando o herói preso fora de Asgard e precisando retornar para impedir o pior para o reino e seu povo. A diferença fundamental é que em Ragnarok a única jornada existente para o protagonista é a de regresso para casa, diferentemente do primeiro longa em que o Deus do Trovão passava por punições e aprendizados de humildade, em um arco dramático fraco e pouco crível. Agora, o roteiro de Eric Pearson, Christopher Yost e Craig Kyle, acerta ao trazer uma narrativa mais ágil e descomplicada, de acontecimentos simples e sem arcos dramáticos. A forma com que o filme não se leva a sério, quase que em uma paródia de si mesmo, encontra em Taika Waititi a mente perfeita para direção. Responsável por O Que Fazemos na Sombras (2014) e The Hunt for the Wilderpeople (2016), o 54| zint.online
diretor trás consigo o seu tradicional humor ácido, irreverente e auto-depreciativo, para conduzir o longa com leveza e jocosidade. É admirável como Watiti consegue implementar sua identidade como cineasta na fórmula Marvel, fazendo com que Ragnarok seja o filme da Casa das Ideias que mais demonstre o traço autoral de seu diretor e que mais tenha personalidade. Ainda, ele se mostra confortável nas cenas de ação, sem explorar de cortes desnecessários ou movimentos de câmeras confusos, fazendo com que as sequências de combate sejam coloridas, divertidas e entretenham, apesar de não apresentarem inventividade ou nenhuma coreografia extraordinária. Todo humor do filme depende, também, das atuações de seu elenco, que entrega um trabalho preciso e consoante com a proposta do longa. Chris Hemsworth e Cate Blanchett demonstram total compreensão do tom e da abordagem necessárias para o filme, com o protagonista se mostrando mais a vontade do que nunca encontrando a caracterização perfeita de um Thor irreverente, bobo e cômico, fazendo humor não só com a punchline, mas com muita atuação corporal. Blanchett, brilhante como sempre, entrega uma vilã cartunesca e canastrona, que apesar de ser subaproveita pelo roteiro marca presença pela atuação expansiva da atriz e pelo visual estilizado do figurino. Jeff Goldblum trás carisma e personalidade para um Grão-Mestre unilateral, mas que na extravagância de seu figurino e na atuação magistral de Goldblum se torna um dos personagens
inspiração visual do longa remete ao trabalho de Jack Kirby, responsável por alguns dos melhores arcos do herói nos quadrinhos. A trilha sonora termina por agregar uma atmosfera oitentista ao filme, com sons tecnopops sintetizados que completam perfeitamente o ritmo aventuresco e gostoso da produção. O que prejudica o longa é, ironicamente, sua maior virtude. O tom jocoso adotado é inegavelmente importante para o avanço narrativo e para as relações entre os personagens, principalmente na dinâmica de grupo criada entre o protagonista e o Hulk (Mark Ruffalo), mas acaba tirando o peso de qualquer atitude mais séria ou dramática do filme. Mesmo que a única personagem com alguma construção de jornada pessoal propriamente dita seja a Valquíria, vivida por Tessa Thompson, fica a sensação de que o longa deixa de aproveitar o conceito do Ragnarok e sua potencialidade cataclismática. Ao final, mesmo que com algumas falhas na estrutura do roteiro e na falta de densidade dramática na narrativa, Thor: Ragnarok se assume como uma Cate Blanchett é a primeira super vilã do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, em inglês), interpretando Hela, que na mitologia nórdica é deusa do Reino dos Mortos
Em Thor: Ragnarok, o dreamteam da salvação de A s g a r d é f o r m at o, i n e s p e r a d a m e n t e , p o r H u l k , T h o r , Valquíria, e Loki, meio-irmão do Deus do Trovão
mais cômicos do longa. A parte técnica, inclusive, é um show a parte. A direção de arte se esmera na construção dos cenários e planetas diferentes, com uma Asgard sempre colorida e brilhante para demonstrar sua atmosfera divina, e um planeta Sakar recheado de cores vivas e saturadas que contrapõem o lixão cósmico que é. Toda a
das melhores aventuras solos do universo Marvel, graças ao seu humor irreverente e sarcástico, as atuações precisas de seu elenco e a direção autoral e cheia de personalidade de um diretor que, ao saber inserir sua identidade como cineasta na fórmula reproduzida pelo estúdio, injeta frescor e fôlego na caminhada da Marvel nos cinemas. // zint.online | 55
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zint.online
Satoshi Kon: as principais obras do diretor mais importante do seu tempo // TEXTO
A
Roberto barcelos
os 46 anos de idade, Satoshi Kon chegou ao fim de sua vida devido a um tumor repentino que surgiu no pâncreas. A notícia surpreendeu seus fãs e a mídia japonesa, pois o importante cineasta revelou apenas para a esposa e alguns amigos o estado grave e incurável de sua doença. A morte prematura interrompeu a ascensão de um nome importante para o universo das animações orientais, mas que ficou mundialmente conhecido por suas obras: Perfect Blue (1997), Millenium Actress (2001), Tokyo Godfathers (2003) e Paprika (2006). Satoshi Kon nasceu em 1963 na cidade de Kushiro, Hokkaido, e cresceu em um momento importante para as produções de desenhos nas televisões japonesas. Durante o período pós-Segunda Guerra Mundial e a chegada dos soldados estadunidenses ao Japão, o país começou a ser pressionado pela cultura ocidental, abrindo as portas para uma indústria que dava os primeiros passos para se tornar hegemônica. A animação A Branca de Neve e os Sete Anões (1963) estreou no
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thales assis
país na década de 60 e chamou a atenção de nomes que se tornariam importantes para a indústria dos animes. Também em 1963, estreou nas televisões nipônicas Astro Boy, a primeira série animada nacional com história contínua e personagens recorrentes, baseado no mangá de um dos ídolos do Kon, Osamu Tezuka. A grande influência da TV e do cinema motivaram o cineasta a estudar artes plásticas, por isso se formou em Design Gráfico na Musashino Art University sem esperar que o cinema seria algo tão importante em sua trajetória profissional. Em uma entrevista concedida a Anime News Network, ele revelou que inicialmente queria ser um pintor: “Além da pintura, houve também um tempo em que eu queria ser um ilustrador. Como resultado, eu acabei me tornando um mangaká, e agora estou trabalhando com animação. (…) Desde que a arte e os desenhos estavam envolvidos no meu trabalho, independentemente do gênero, eu estava satisfeito. De modo geral, me matriculei no Musashino College of the Arts porque eu queria trabalhar profissionalmente com a arte.” Após a faculdade, Kon criou o doujinshi (termo japonês para publicações independentes) Toriko e ganhou o segundo lugar em um concurso para mangakás (quadrinistas japoneses) realizado pelo governo japonês. O prêmio rendeu a oportunidade de trabalhar com Katsuhiro Otomo e o ajudou na fina 57
lização e edição do mangá Akira, que virou um filme na década de 80 e é até hoje aclamado pela crítica e a audiência. Nesse momento, Kon teve a liberdade de se aventurar como mangaká, roteirista, diretor e animador. Sua participação na indústria cultural japonesa marcou um estilo que inspira muitos artistas. Após a longa carreira como colaborador em diversas produções, Satoshi Kon conseguiu dirigir o seu primeiro filme em 1994 e teve maior liberdade para se expressar como um autor. O diálogo entre a realidade e o onírico criam camadas e ajudam a trazer indagações complexas sobre questões culturais do Japão e do ocidente, com personagens marcados por conflitos internos e subjetividade. A grande maioria de sua filmografia foi animada pelo estúdio Madhouse, conhecido por produzir animes como Hunter x Hunter, NaNa, One Punch Man, Death Note, Sakura Card Captors e outros. Perfect Blue O primeiro filme de Satoshi Kon marcou a sua capacidade como diretor e roteirista ao trazer a psicose da jovem Mima Kirigoe, membro de uma banda de música pop japonesa. Apesar do relativo sucesso do grupo que faz parte, Mima decide deixá-lo para dedicar a sua carreira de atriz. Essa decisão deixou 58| zint.online
muitos dos fãs indignados, principalmente pelo fetiche construído pela indústria do entretenimento japonês em sempre representar as “ídolos pop” como uma figura inocente e virginal. Para ascender em sua nova carreira, a protagonista precisou romper com essa imagem e aceitar papéis controversos, o que desencadeou em um surto moral e psicológico pela falta de uma identidade própria. O longa teve o direito de imagem comprado por Darren Aronofsky para usar algumas cenas no filme Réquiem para um Sonho (2000), mas foi em Cisne Negro (2010) que ele mais aproveitou a temática e as cenas de Perfect Blue para expor as crises da bailarina Nina. Millenium Actress Com uma abordagem mais romântica e temas pouco provocadores, o segundo filme de Satoshi Kon conta a história do cinema japonês de acordo com a vida da atriz de sucesso Chiyoko Fujiwara. Após abandonar a sua carreira de forma totalmente repentina enquanto estava no ápice da fama, Chiyoko é procurada por um diretor interessado em filmar um documentário sobre a sua vida. Durante as entrevistas, memórias são unidas pelos relatos pessoais e apresentados em forma de imagem
que permite ao usuário visitar o sonho de terceiros. Atsuko Chiba é a chefe de pesquisa desse novo tratamento e começa a usar a máquina ilegalmente para ajudar os seus pacientes psiquiátricos fora do centro de pesquisa. Contudo, o dispositivo é roubado antes que o seu uso fosse sancionado pelo governo e os pesquisadores responsáveis por eles começaram a enlouquecer por causa dos sonhos. O que fez com que Chiba assumisse o seu alter-ego Paprika para mergulhar no mundo do inconsciente em busca do responsável pelo roubo. O filme volta a trabalhar nuances que unem a realidade com o universo onírico, às vezes em um nível capaz de causar confusão para quem assiste. Contudo, Kon utiliza aspectos visuais da animação para complementar as nuances presentes em ambas as realidades, principalmente com o equilíbrio entre a animação 2D e 3D para acentuar detalhes sobre as duas realidades que entram em conflito no decorrer do longa-metragem. O sucesso do filme inspirou o diretor Christopher Nolan a criar seu aclamado longa metragem A Origem (2010), com diversas cenas inspiradas em Paprika e a temática do sonho como algo principal em sua trama. //
para os espectadores, o que une, outra vez, a realidade com a fantasia. A temática abordada rendeu maior destaque no circuito nacional e popularizou o nome do Kon, principalmente por envolver o imaginário dos japoneses sobre as produções cinematográficas durante os períodos que antecederam e procederam a Segunda Guerra Mundial. Tokyo Godfathers
Um alcoólatra, uma adolescente que fugiu de casa e uma ex-drag queen fingem ser uma família enquanto vivem nas ruas de Tóquio. Na véspera do natal, eles encontram um bebê abandonado em uma lata de lixo com apenas uma pista pode ajudá-los a encontrar sua mãe. Determinados a entregá-los, os três partem uma jornada de autoconhecimento e de grande teor questionativo sobre a família, afeto e a individualidade. Apesar de ter uma história linear e sem a união da realidade com memórias ou a fantasia, o filme carrega diversas significações sobre as dificuldades que possuímos em nos relacionar com outras pessoas. Paprika Em um futuro próximo, um novo tratamento psicoterapêutico foi inventado por meio de um dispositivo
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Michelle Pfeiffer, o Retorno // TEXTO
A
Renato costa
estreia de Michelle Pfeiffer nos cinemas não foi lá muito bem sucedida. Em seu primeiro papel relevante, ela atuou em Grease 2: Os tempos da brilhantina voltaram (1982), filme que foi detonado pela crítica e ainda teve pouca bilheteria. Entretanto, a atriz não desistiu da carreira e, a despeito do fiasco, se inscreveu para um papel em Scarface (1983), dirigido por Brian de Palma. Já no teste, Michelle se excedeu e cortou Al Pacino com um caco de vidro. A audição foi imediatamente cancelada e o ator levado embora para receber os devidos cuidados médicos. Apesar do acidente, de Palma gostou do desempenho da atriz e deu a ela o papel de “mocinha” em seu filme clássico. A partir daí, a atriz ascendeu e se consagrou como uma das mais belas e talentosas do cinema nos anos 1980 e 1990. Seus maiores
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thales assis
papéis foram icônicos. Em 1985 impressionou o público com seu lindo rosto e sua pureza na fantasia O Feitiço de Áquila, filme que no Brasil se tornou um clássico da Sessão da Tarde. Em 1988, atuou no tenso drama Ligações Perigosas fazendo o papel da religiosa e recatada Madame de Tourvel. No ano seguinte, interpretou uma escaldante cantora em Susie e os Baker Boys e protagonizou a famosa cena em que cantava em cima do piano de Jeff Bridges usando um vestido vermelho. E em 1992 foi a dúbia e insana Mulher-Gato de Batman: O Retorno e roubou a cena deixando o homem-morcego apaixonado (Tim Burton, que a dirigiu no longa, declarou durante a divulgação do filme que Michelle havia sido a me
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lhor atriz com quem trabalhara). Nessa época, a atriz emplacou um Globo de Ouro, um BAFTA e mais três indicações ao Oscar. A carreira movimentada, no entanto, foi dando uma esfriada durante os anos 2000. Gradualmente, Michelle foi se afastando das telas até simplesmente negar todo e qualquer trabalho alegando questões pessoais. Até que em 2007, a atriz parecia empenhada a voltar à cena, quando atuou em três filmes no mesmo ano. Foram eles: o divertido musical Hairspray – Em Busca da Fama, que com seus inúmeros personagens não abriu tanto espaço para a atriz expor seu potencial; a fantasia Stardust: O Mistério da Estrela, em que interpreta uma bruxa centenária; e a fraca comédia romântica Nunca 62| zint.online
é Tarde para Amar, que foi lançada diretamente em vídeo. Dessa vez seu retorno foi discreto e a atriz que beirava completar 50 anos, mantendo sua inacreditável beleza, não chamou tanta atenção. Desde então, Pfeiffer seguiu atuando em pequenas produções ou em papéis de pouca visibilidade. Neste período seus maiores destaques foram: Sombras da Noite (2012), filme em que voltou a trabalhar com Tim Burton, mas assim como Hairspray, teve atuação discreta devido ao elevado número de personagens e a comédia A Família (2013), de Luc Besson. Agora em 2017, Michelle volta a dar sinal de vida. E que vitalidade. Ao lado de Robert de Niro ela trabalhou no telefilme O Mago das Mentiras,
produzido pela HBO, e recebeu uma indicação ao Emmy por seu desempenho. E de volta às telas de cinema, ela encara três filmes de peso de uma só vez. O intenso mãe! de Darren Aronofsky, o suspense Assassinato no Expresso Oriente, que estreia em 23 de novembro, e Homem-Formiga e Vespa, já em processo de produção e com estreia agendada para o ano que vem. Além disso, Michelle atuou, também, no drama independente Where is Kyra? que, por enquanto não tem data de lançamento, mas lhe rendeu elogios em festivais. E já em Mãe! a atriz mostra que, neste retorno, ela veio com tudo. No filme ela encarna com paixão e uma das personagens mais estranhas de sua carreira.
Pfeiffer desperta de uma só vez toda a força e vigor que pareciam estar sob si durante todos esses anos, entregando a Aronofsky uma interpretação digna de seus filmes turbulentos. Sua personagem, identificada apenas como mulher, consegue causar desconforto com seus mistérios e com sua inconveniência. Prestes a completar 60 anos de idade e com mais de 30 de carreira, Michelle Pfeiffer continua estonteante e, ao que tudo indica, com vontade de se reafirmar como estrela de Hollywood. E se no passado ela mostrou que era mais que um rosto (muito) bonito, agora ela comprova, mais uma vez, essa sua capacidade. Só que, atualmente, de forma mais acentuada e com papeis mais desafiadores. // zint.online | 63
O Bairro do Limoeiro ficou pequeno // TEXTO
STEPHANIE TORRES
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VICTORIA CUNHA
Nossa baixinha, gorducha e dentuça preferida finalmente chega às telonas
Se você é jovem, é praticamente certo afirmar que a Turma da Mônica fez parte da sua infância de alguma forma. E mesmo que você já tenha alguns anos de idade a mais que o necessário para que tenha conhecido a turminha quando era criança, os personagens com certeza não lhe são estranhos. Criados por Maurício de Sousa, os primeiros personagens que viriam a fazer parte da famosa turma do Bairro do Limoeiro (mais especificamente Bidu e Franjinha) foram criados em 1959. Entre os anos 1960 e 1963, as histórias começaram a ganhar a identidade atual, tendo Mônica e Cebolinha como protagonistas. As primeiras tirinhas de Maurício eram publicadas no antigo Jornal da Manhã. Com o tempo, os 64| zint.online
personagens foram se desenvolvendo e saltaram para as páginas da revistinha Mônica e sua Turma, que teve sua primeira edição publicada em 1970. O sucesso das histórias rapidamente fez com que os quadrinhos começassem a competir nas bancas com títulos estrangeiros como Pato Donald, Zé Carioca e Luluzinha. Com isso, outros personagens logo ganharam suas próprias revistas também. O primeiro deles foi Cebolinha, em 1973, seguido por Cascão e Chico Bento, ambos em 1982, e por fim, em 1989, a comilona Magali. Além dos moradores do Bairro do Limoeiro, que são os integrantes da Turma da Mônica, várias outras turmas fazem parte do mesmo universo, como
a Turma do Chico Bento, do Bidu, do Horácio, do Penadinho, da Tina, do Piteco, do Astronauta e até mesmo a Turma do Ronaldinho Gaúcho, criada para homenagear o famoso jogador de futebol. Mas as páginas dos quadrinhos não foram suficientes. Ao longo dos mais de 50 anos de existência, Mônica e seus amigos já ganharam série de animação (considerada a primeira feita no Brasil), longas-metragens animados, peças de teatro, CDs de músicas infantis, DVDs, videogames, jogos, produtos personalizados, lojas e até mesmo um parque temático. Além dos gibis, que são comercializados em 40 países em 14 idiomas diferentes. Mas o que a Turma da Mônica nunca teve, foi um live-action. Até agora. Laços
Recentemente, a Maurício de Sousa Produções anunciou que pela primeira vez, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e outros personagens serão interpretados por crianças de verdade. Os atores Giulia Barreto (9 anos), Kevin Vechiatto (11 anos), Gabriel Moreira (9 anos) e Laura Rauseo (9 anos) foram escolhidos após uma série de testes e apresentados para o público em um vídeo que mostra Maurício e sua filha Mônica dando a eles a notícia de que ganharam os papéis. A estreia do longa estrelado pela turma está prevista para julho do ano que vem e será comandado por Daniel Rezende, responsável por Bingo: O Rei das Manhãs (2017), filme brasileiro que é candidato
ao Oscar 2018, além de ter trabalhado como editor em filmes como A Árvore da Vida (2011), Ensaio sobre a Cegueira (2008) e Cidade de Deus (2003), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar da categoria. O filme será baseado na graphic novel Turma da Mônica: Laços. A obra faz parte do projeto Graphic MSP, que traz releituras dos personagens de Maurício de Sousa sob a visão de artistas brasileiros com diferentes estilos. Os irmãos Vitor e Lu Cafaggi foram os responsáveis pela história e pelos desenhos. Com traços muito mais finos e minimalistas que os originais, o livro publicado em 2013 traz uma versão mais delicada e sensível dos personagens, que se estende aos aspectos narrativos em uma história tão tocante quanto os desenhos. Inspirado em filmes infanto-juvenis dos anos 80, como Os Goonies (1985) e Conta Comigo (1986), Laços adaptará a aventura de Mônica e seus amigos para encontrar Floquinho, o cachorro do Cebolinha, que desapareceu. A trama tem um clima de mistério e de saudosismo, fazendo menção a antigas historinhas e a experiências de vida do próprio Maurício, como uma homenagem à vida e trabalho do autor. Com o sucesso recente de produções que resgatam o clima oitentista, como a série de TV Stranger Things (2016) e o remake do filme de It – A Coisa (2017), a adaptação cinematográfica de Laços tem tudo para conquistar crianças de todas as idades. Inclusive as que já cresceram, mas não perderam o amor por Mônica e sua turma. //
Cascão (Gabriel), Cebolinha (Kevin), Mônica (Giulia) e Laura (Magali) ao lado de Maurício de Souza e sua filha, Mônica
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CAPA
STRIPPED ESPECIAL
nua // TEXTo & diagramaçãO
vics
A
A primeira vez que apareceu na televisão, Christina Aguilera era apenas uma menina de 13 anos. A cantora, nascida em Staten Island, Nova Iorque, Estados Unidos, fazia parte do extinto programa O Clube do Mickey Mouse, reboot de um programa de mesmo nome da década de 1950, junto aos colegas famosos Britney Spears, Justin Timberlake e Ryan Gosling, além de Tony Lucca, JC Chasez, Nikki DeLoach e Keri Russell. Aguilera, no entanto, foi lançada como cantora solo apenas aos 19 anos, em 1999. Após dar voz à música tema do filme Mulan, animação da Disney, Christina lançou seu primeiro single, Genie in a Bottle. O sucesso veio rápido, assim como seu primeiro álbum, o auto-intitulado Christina Aguilera, lançado em 1999. O álbum chegou ao topo da Billboard 200, maior chart musical de álbuns do mundo, e gerou uma boa recepção das críticas que elogiavam, principalmente, a potência vocal que Christina possuía na voz (e que ainda possui), tornando-a facilmente distinguível no mercado fonográfico. A sua primeira "Era" foi marcada pela imagem da garota inocente: a menina loira, fofa, educada e retraída, como se tivesse catapultado de uma pequena cidade para a grande metrópole. Christina Aguilera (o álbum) carregava uma jovem em busca do amor, de seu príncipe encantado,
com suas baladas poderosas como I Turn to You. Mas a produção também já trazia um discurso de independência e poder feminino, que seria usado com maior ênfase nos anos seguintes, com exemplo o single What a Girl Wants. Assim, o álbum deixava um espaço aberto para a vindoura "rebelião" da artista enquanto cantora. Stripped chegou como um baque. Causando. A nova Era de Aguilera carregava uma imagem completamente oposta à apresentada anteriormente. O conceito era, por definição, provocador, sendo o primeiro álbum que dava a oportunidade ao público de realmente conhecer quem era Christina Aguilera. Enquanto seu debut album era apenas uma imagem criada por sua gravadora para tornar a cantora mais comercializável, seu quarto projeto na linha de lançamento era bastante pessoal. Stripped é, para todos os efeitos, a sua grande revelação/debut para o mundo. Para quebrar completamente com a sua imagem de garota inocente, Aguilera trabalhou pesado no marketing visual, passando a utilizar da imagem da bad girl problemática. A cantora amarrava seu cabelo de forma que os fios pareciam dreds e o tom loiro platinado agora vinha acompanhado de várias mechas pretas, até o momento em que, efetivamente, ele ficou completamente negro. Para dar um peso ainda maior ao seu novo visual, Aguilera colocou alguns piercing no rosto e vários brincos na orelha, todos de pressão. Christina Aguilera agora adotava o punk e não tinha papas na língua, determinada em cantar as mensagens que sempre quis cantar, com mensagens de empoderamento, independência e liberdade, ao mesmo tempo em que contava a sua triste história de vida para o mundo, que envolvia, principalmente, abuso e uma família disfuncional. O álbum ainda aborda temas como sexismo e depressão. Suja?
A primeira vez que o mundo pôde ter um gostinho do quarto álbum de Christina foi em setembro de 2002. Grafado com dois "R" invés de apenas um, Dirrty é o carro-chefe do novo projeto. Com produção e composição de Christina Aguilera, Dana Stinson, Balewa Muhammad, Reginald "Redman" Noble e Jasper Cameron, a música já estabelecia a completa mudança da cantora. Pela primeira vez, como cantora solo, fazendo uma parceria com um rapper, Dirrty tinha fortes influências de R&B e Hip-hop. A música vinha acompanhada dos vocais de Redman e uma letra carregada de sensualidade. Recebida de forma dividida pela crítica, alguns zint.online | 69
colocaram a música como uma das "mais interessantes" daquele ano, até mesmo comparando com I'm Slave 4 U, famoso hit single de Britney Spears que havia sido lançado no ano anterior. Outros, por outro lado, alegavam que a faixa não representava o conteúdo do álbum, apontando que o single era um "desrespeito" com o resto do trabalho. Enquanto a música não caiu muito bem no gosto dos norte-americanos, alcançando o pico de #48 na Billboard Hot 100, maior chart de singles do mundo, a música entrou no Top 10 de países como Austrália (#4), Canadá (#5), Alemanha (#4), Itália (#8), Irlanda (#1), Espanha (#3), Suécia (#6), Suíça (#6) e Reino Unido (#1). O clipe de Dirrty ajudou ainda mais a artista a desconstruir sua imagem de "cantora chiclete". O vídeo estreou 15 dias após o lançamento do single, trazendo o que foi colocado como uma "orgia pós-apocalíptica". Christina utilizou de todos os visuais sexuais possíveis para de desconectar da Aguilera do primeiro álbum, apostando em micro-saias, sutiã à mostra, um ringue de luta livre entre mulheres, mulheres lutando na lama, e muito suor e danças sensuais e com conotação sexual. Então, veio a quebra de expectativa. O single foi logo acompanhado por Beautiful, que futuramente viria a figurar em todas as listas das 100 melhores músicas dos anos 2000. Enquanto Dirrty vinha recheada de sexualidade e sensualidade e era colocado como um desvio do que o álbum representava, Beautiful era exatamente o contrário. O segundo single do Stripped trazia uma Christina completamente vulnerável, aberta para contar tudo 70| zint.online
o que sofreu quando mais jovem e o seu caminho até a auto-aceitação e superação. Aclamado universalmente pelos críticos, Beautiful traz, nas entrelinhas, a história de uma Christina com depressão, que não gosta de sua aparência física e infeliz com sua vida. A balada, no entanto, preza o estágio de aceitação ao ecoar, em seu refrão, a frase "eu sou bonita não importa o que os outros digam". A poderosa música se tornou um sucesso no mundo inteiro, entrando no Top 10 de quase todos os charts do mundo. Nos Estados Unidos, a música atingiu o #2, conseguindo o certificado de Ouro (mais de 500,000 cópias de single vendidas!). A faixa chegou ao topo na Austrália, Canadá, Irlanda, Nova Zelândia, Romênia e Reino Unido, além de ter debutado em #1 nos charts da Billboard Adult Contemporary, Dance Club Songs e Mainstream Top 40. Dirigido por Jonas Åkerlund, que futuramente seria responsável por dirigir artistas como Beyoncé, Madonna, Lady Gaga e P!nk, o clipe da música estreou um mês após o single. O vídeo colocava Christina de volta à vulnerabilidade, agora explorando outros problemas. O videoclipe trouxe histórias de pessoas com bulimia, sofrendo de homofobia, depressão e até mesmo praticando auto-mu-
tilação. Na medida que o video passa, as pessoas vão aprendendo a se amar, terminando por se sentirem felizes em seus próprios corpos e realidades. Marcando uma geração e sendo uma dos mais expressivos da carreira de Christina, a música também marcou a primeira colaboração entre a cantora e Linda Perry, responsável por compor e produzir a música, além de tocar o piano ouvido na faixa. O sucesso acabou fazendo com que as duas colaborassem em outras músicas. Linda esteve presente em mais duas faixas do Stripped, além de ter co-composto todas as músicas do Back to Basics, álbum que sucede o trabalho. Beautiful então deu espaço para Fighter. A música ficou conhecida, entre outras coisas, pelo poder vocal que Christina dedicou à faixa, estabelecendo um poderoso hino de força. O terceiro single dá uma continuidade ao anterior, estabelecendo uma música na qual a cantora agradece a todas as pessoas que duvidaram de seu talento e de sua capacidade pela a força que a deram para ser melhor. De acordo com Christina, a ideia da música surgiu ainda na turnê de promoção de seu primeiro álbum, quando ela já pensava em criar algo que emponderasse as mulheres
e que as encorajasse a falarem por si mesmas. A ideia seguiu com Can't Hold Us Down. Com participação da rapper Lil' Kim, a música se estabeleceu como um hino feminista. Mesmo não sendo recebida bem pela crítica, que categorizou a faixa como um "desperdício de talento", o single chegou ao #12 da Billboard Hot 100, além de atingir picos maiores em países como Austrália (#5), Hungria (#4), Nova Zelândia (#2) e Reino Unido (#6). Com uma letra que tratava da independência do sexo feminino e o direito da mulher de ser e falar o que bem entender, sem ser vista de forma negativa, denunciando machismo e misoginia, Can't Hold Us Down teve seu clipe dirigido por David LaChapelle, famoso produtor artístico também viria a trabalhar com Mariah Carey, Britney Spears, Amy Winehouse e Whitney Houston. Visualmente inspirado na década de 80 e influenciado pelo estilo kitsch (um palavra bonita para dar status para o popularmente conhecido como "brega") do diretor, o clipe da música trouxe uma divertida abordagem da música, ao colocar Christina e Lil' Kim na periferia, em uma espécie de "batalha dos sexos". O vídeo, no entanto, acabou sendo acusado de apropriação cultural, além de exercer uma imagem contraditória no discurso da cantora. The Voice Within foi o quinto e último single do trabalho, trazendo uma abordagem ainda mais pessoal para a divulgação do álbum. A balada trouxe um alcance vocal ainda maior para Christina, cuja força foi bem recebida pelos críticos. A música é sobre
auto-descobrimento, de encontrar a voz dentro de si. Em entrevistas, a cantora diz que escreveu a faixa no início dos seus 20 anos, em uma época que sua família esta "indo de lá pra cá". Ainda que a recepção da crítica especializada tenha sido favorável à música, The Voice Within teve um resultado mediano nas paradas. Na Billboard Hot 100, alcançou o #33, enquanto na maioria dos outros países ficou de fora do Top 10 dos charts. Desculpe por Nada Assim como todos os seus singles, as faixas presentes no Stripped também contavam diferentes história, que, juntas, estabeleciam uma narrativa sobre a vida de Aguilera. Ao todo, o álbum é composto de 20 faixas, sendo quatro delas interludes. Stripped Intro abre o álbum já com uma mensagem clara de Christina, que, de forma sarcástica, se
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desculpa por todas as "coisas ruins" que é. "Esperando um longo tempo" para se introduzir, a faixa pede "desculpas" por coisas como ter "quebrado o molde", "falar o que me vêm à cabeça" e por ter "ficado real demais". A tracklist então segue com Can't Hold Us Down, antes de apresentar Walk Away. A terceira faixa do álbum fala sobre um relacionamento abusivo e criar coragem de sair dele e seguir em frente. Acompanhada de um piano, a música é uma das mais bem recebidas pelos críticos. Temos então Fighter, o interlude Primer Amor, Infatuation, inspirada pela música latina (a artista tem ascendência latina), em especial o flamenco, com um teor mais romântico. Temos então o interlude Loves Embrace, e Love Me 4 Me, que segue a ideia de um amor puro, que ama-a por ela ser ela, como ela é. A nona faixa do álbum é Impossible, uma feliz surpresa. A faixa é composta e produzida por Alicia Keys e até mesmo conta com uma curtíssima participação da cantora na música, além
de tocar o piano que segue por toda a produção. Underappreciated conta sobre a dor de um término, Beautiful sobre auto-aceitação e então temos Make Over e Cruz. Ambas as músicas, inspiradas no rock, foram compostas e produzidas mais uma vez por Linda Perry. Vale destacar que no Reino Unido, Make Over foi processada por ilegalmente samplear (arte de utilizar acordes reconhecíveis de uma música em outra) Overload, da girlband Sugababes, sendo, posteriormente, creditadas. O álbum segue com Soar, Get Mine, Get Yours (mais uma vez sobre sexualidade), Dirrty, Stripped Pt.2 (uma continuação para Stripped Intro) e The Voice Within. É aí temos I'm Ok, faixa que fala sobre o abuso que sofreu quando criança, na época em que seu pai ainda morava em casa. Utilizando de elementos que remetem à sua infância e introduzindo a letra com um "Era uma vez" numa espécie de fábula sombria, Christina conta que, apesar de tudo, agora as coisas estão melhores. Keep on Singin' My Song fecha o
álbum, com uma influência gospel e quadro de esperança diante o futuro. Reconhecimento
Embora o Stripped tenha se tornado um dos álbuns mais influentes no mundo da música e estabelecido uma grande marca na música pop, na época de seu lançamento, o trabalho de Christina Aguilera foi recebido de forma mediana. O Metacritic, site especializado e agregador de críticas de produtos culturais, coloca o álbum com 55/100 de aproveitamento. Revistas como Rolling Stone e The Guardian deram 3/5 estrelas ao álbum, enquan-
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to a Billboard deu um "favorável" e a Entertainment Weekly um "C+". Comercialmente, no entanto, o sucesso do álbum foi maior. Stripped debutou em #2 na Billboard 200, com mais de 300,000 cópias vendidas, ficando nas paradas até 2004. Até agosto de 2014, o álbum já havia vendido, apenas nos Estados Unidos, mais de quatro milhões de cópias, sendo certificado com o Platina Quádruplo. Ao todo, o disco já foi comercializado mais de 10 milhões de vezes ao redor do mundo. Stripped garantiu cinco prêmios para Christina, sendo o mais importante deles o Grammy Award para Beautiful, na categoria Melhor Vocal Pop
Feminino, em 2004. O sucesso do álbum também assegurou à artista a sua primeira turnê mundial, conhecida como The Stripped Tour. Os shows mundiais foram antecedidos pela turnê norte-americana Justified & Stripped Tour, uma parceria que a cantora fez com Justin Timberlake, que promovia o seu debut album Justified. A world tour, no entanto, se limitou apenas à Europa, Ásia e Austrália, tendo sua perna nos Estados Unidos e Canadá cancelada devido problemas vocais da cantora. The Stripped Tour mesclava músicas do Christina Aguilera, Mi Refrejo (álbum em espanhol que servia como uma espécie de "tradução" para o debut) e Stripped, contando com 22 músicas. Durante uma das apresentações no Reino Unido, o show foi gravado e posteriormente lançado em DVD, com o Stripped Live in the U.K.. Inspiração
O legado deixado por Stripped vai além do que seu sucesso comercial ou a posterior ascensão nas maiores listas de melhores álbum da década, servindo de inspiração para muitas pessoas ao redor do mundo da música. São diversos os artistas que colocam Christina Aguilera como grande influência de suas carreiras como cantores, podendo citar alguns dos mais famosos no meio pop. Selena Gomez, por exemplo, já estabeleceu a afirmativa. O último álbum da cantora, intitulado Revival, inclusive, é uma clara evidencia disso. A cantora coloca que Stripped a ensinou a "abaixar suas defesas, e ser sexy e divertida ao mesmo tempo", inspirando-a a lançar o álbum, que parece replicar o que Christina quis fazer com seu trabalho. A capa, por exemplo, onde Selena senta nua, em preto-e-branco, é facilmente relacionada à da veterana. Tell Me You Love Me, recente álbum lançado por Demi Lovato, é um outro exemplo do legado. Aqui, Demi também baixa sua guarda e permite-se ser ainda mais vulnerável, contando sobre os problemas de sua vida pessoal. A cantora já contou que o trabalho de Christina a ajudou a surgir
com o conceito deste. Junto à essa experiência, Demetria lançou um documentário, Demi Lovato: Simply Complicated, no qual discute todos os problemas psicológicos e de saúde que enfrenta em sua vida. Ariana Grande também é um grande influenciada. Com o Dangerous Woman ela apostou em um lado mais sensual e emancipado, dando à Grande um controle maior à sua carreira. O trabalho quebrou, de uma vez por todas, com a perspectiva de "garotinha fofinha, indefesa, chiclete" que tinha quando ainda era uma atriz do canal Disney Channel.E aí, embrou alguém? //
f ighters
Enquanto cantoras utilizam de suas plataformas para cantar suas mágoas e a história de suas vidas, os fãs de Christina Aguilera, conhecidos como Fighters, mantém um vínculo com a cantora (e o álbum) menos público.
MARCOS PAULO;
LUIZ;
Stripped me abriu os olhos para a vulnerabilidade. Assim como a Xtina se permitiu abrir seus defeitos, erros, medos e ver beleza no errado, eu comecei a ter essa noção. Mas foi em 2011 que atribuí um significado ao álbum: o que ela chama de primeiro amor, eu chamo de primeira vez que achei que fosse amor. A letra de Infatuation caiu bem, mas a de Walk Away combinou melhor. É incrível você se conectar com umas músicas assim (música essa que sempre que mostro para alguém, a pessoa se identifica e vira fã). Mas a principal mesmo foi em 2016, num momento de depressão e medo de tentar de novo, foi Soar que me inspirou a seguir e tentar. A história de “não tenha medo de voar, encontre um caminho que seja seu” era só o que estava na minha cabeça enquanto eu deixava minha família e voltava sozinho para a minha cidade e seguir minha vida em outra tentativa de ficar feliz. Atualmente estou na minha melhor fase, consigo dedicar Loving Me 4 Me para alguém pela primeira vez e me sinto muito bem por isso.
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Apesar de eu não ser tão jovem, na época (2002), eu não era muito interessado em tantas personalidades da cultura pop como eu sou hoje. Lembro que a primeira música da Christina que me foi apresentada foi Dirrty e não foi tão chocante assim, lembrando que Britney Spears já tinha aberto o caminho para esse conceito com o I’m a Slave 4 U, mas aí então ouvi Fighter e Beautiful e aí sim! A voz de Xtina me atingiu. Lembro que repetia tanto as músicas que devo ter perdido muito da minha capacidade auditiva, mas valeu a pena.QUE HINOS! Comecei a divulgar para amigos e mesmo sempre sendo ignorado, segui firme. Xtina chegou até mim nessa era e comecei a questionar o quanto que ela era igual e diferente ao mesmo tempo da miss Spears. O visual dela em Fighter me fez criar uma identificação instantânea com a garota propaganda da NBA em 2003. Confesso que me limitei a poucas canções do álbum na época (além das já citadas, ouvia também The Voice Within, I’m Ok e Can’t Hold Us Down). A era Stripped foi realmente icônica para a carreira dela, se você observar o conjunto da obra, foi muito bem aproveitada e para a época, foi desafiadora por ter protestado contra o machismo, preconceitos e bullying.
JOANDERSON;
É um dos álbuns mais inspiradores da música pop para mim, porque mostra a Aguilera de várias formas: uma mulher empoderada que canta sobre amor, força, mas que também possui suas inseguranças. Pessoalmente, essa desconstrução de como devermos sentir e sobre quem devemos ser é importante pois tenho aprendido a ser sincero comigo mesmo sobre minhas inspirações pra vida e meus desejos. Por isso, a principal característica do álbum para mim é mostrar uma Xtina que aprendeu sobre si com a vida e continua aprendendo, resultando numa demonstração da sua verdade de forma “nua” e crua. Ouvir o álbum me faz lembrar que preciso continuar descobrindo mais sobre mim, para que um dia eu possa ver ainda mais claramente o que sou e poder afirmar que realmente conheço minhas forças e limites.
CHRISTIAN;
Lembro como se fosse hoje eu comprando esse álbum; tinha 15 anos e já era fã dela desde 1999. Quando coloquei o Stripped pra tocar, meu Deus!, desde a Intro até a última faixa eu me arrepiava a cada uma música. Quando chegou em Beautiful, que eu considero como a minha música, eu chorava e ria ao mesmo tempo. Esse álbum é sim muito inspirador, não só para mim ou para todos os fãs, mas para qualquer pessoa que gosta de músicas boas e de cantoras como a Christina.
GEORGIO;
Esse álbum marcou MUITO minha adolescência e, sem dúvida, minha vida como um todo. Mesmo após 15 anos ainda ouço com muita empolgação, como se fosse algo novo. Stripped muito atemporal. Simplesmente AMO.
GIULIO;
Stripped representa emancipação; processos de autoconhecimento decorrentes da superação das próprias dificuldades e das próprias imperfeições. Reflete o amadurecimento que vem com a chegada da idade adulta, quando racionalizamos as descobertas da adolescência e contrapomo-las às responsabilidades de se viver em coletividade. Quando o descobri a fundo, já me considerava grande admirador da Christina Aguilera. Adorava o Back to Basics, que considero mais rebuscado em termos de instrumentação e produção musical. No entanto, sabia que o Stripped carregava um significado muito mais abrangente e desafiador. Um manifesto sincero de independência, cuja força se traduz na representatividade que este trabalho assume na carreira da cantora.
RAFAEL;
O álbum realmente é incrível, produção impecável e os vocais insuperáveis. A transição em diversos estilos certamente é um diferencial, e isso chamou a atenção de muita gente da industria fonográfica. Tem rock, hip hop, soul, R&B, etc., enquanto o pop ficou em segundo plano e é isso que o torna tão especial, porque Christina rompeu definitivamente com aquele clichê comercial. Reuniu temas como feminismo, homossexualidade, bullying e passou a mensagem principal de que não deveriamos nos envergonhar de ser quem somos. Stripped, como título, não quer dizer somente nú, mas sim crú, despido de máscaras, controvérsias e aparência. O que importa é a beleza que está dento de você.
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sĂŠries
Não é um sonho, Stranger Things está realmente de volta Segunda temporada da série original da Netflix traz novos personagens, mais referências e as respostas que os fãs estavam esperando // TEXTO
N
MARINA MOREGULA
a temporada de estreia, Stranger Things (2016) pegou o público de surpresa. A Netflix não fez muito alarde com a produção e ninguém estava esperando muito, mas o sucesso e a popularidade nas redes vieram muito rápido. 80| zint.online
// diagramação
vics
As referências aos clássicos dos anos 80 conquistaram o público dos jovens adultos, também fisgando públicos mais novos, mostrando que sua narrativa é tão poderosa quanto a nostalgia. A Netflix entendeu o recado e fez bem diferente no lançamento da continuação. Stranger Things 2
chegou bem a tempo do Halloween, na sexta-feira, 27 de outubro. E veio acompanhada de muita expectativa, em um marketing que envolvia trailers, teasers e posters inspirados em filmes dos anos 80. Parece que os produtores estiveram atentos ao feedback dos fãs, sabendo investir pontualmente no que agradou a audiência na estreia da série. A segunda temporada traz justas respostas às pontas soltas que ficaram da primeira, investindo menos em cenas de ação e mais nos diálogos e nas jornadas pessoais dos personagens mais queridos pela audiência. Will Byers (Noah Schnapp) está de volta à suposta segurança de Hawkins, mas tem visões cada vez mais recorrentes do mundo Upside Down. Os meninos já não estão mais na onda do jogo Dungeons & Dragons, agora que a moda é a novidade do fliperama. Em uma analogia com o jogo deixado para trás, fica claro nesta temporada que o Upside Down não é imaginação e nem sonho, é uma realidade. O xerife Hopper (David Harbour) e Joyce (Winona Ryder), mãe de Will, são os primeiros adultos a acreditarem no perigo real. O Laboratório está sob nova direção. O Demogorgon foi derrotado, mas temos um monstro maior desta vez. Agora que Will voltou, recebe muito mais destaque nos episódios e Noah Schnapp tem a chance de se provar tão bom ator quanto seus pequenos colegas de elenco. O que não se pôde ver de seu talento na primeira temporada, fica bem claro na segunda. Enquanto isso, o queridinho Dustin (Gaten Matarazzo), que roubou a cena na primeira temporada, ganha mais protagonismo nos novos episódios. Stranger Things 2 foca nos traumas emocionais que ficaram dos acontecimentos passados. Por isso, Mike (Finn Wolfhard), que sente muita falta de Eleven (Millie Bobby Brown), também ganha mais cenas de destaque. O grupo das crianças é responsável pelas cenas e diálogos divertidos que se equilibram com os momentos tensos e sombrios, fazendo com que a série tenha um bom ritmo para se assistir. É uma estrutura semelhante ao que se viu na primeira temporada, com os primeiros episódios mais lentos e os últimos mais acelerados, mas agora apostando menos em cenas de ação e aprofundando na construção dos personagens. Eleven é o maior exemplo. Os teasers da segunda temporada deixaram claro que ela estaria de volta, assim como os Eggos. Millie Bobby Brown, a atriz de apenas 13 anos, se supera em uma atuação cada
vez mais impressionante. Sem spoilers, vale dizer que a menina passa por uma jornada pessoal, solitária e difícil, mas fundamental para seu amadurecimento. Uma aventura cheia de visões e flashbacks brincando com o espaço e o tempo. Os novos episódios abordam temas mais delicados, íntimos e emocionalmente carregados do passado dela. Max (Sadie Sink), a ruivinha que acaba de se mudar para Hawkins e se junta ao grupo dos meninos, também tem uma família conturbada. É outro momento em que vemos que a série amadureceu, superando a fantasia e tratando de assuntos mais sérios e reais. Assim como Eleven, Joyce e Nancy (Natalia Dyer), Max exala girl power. A menina anda de skate, supera os meninos nos videogames e questiona os amigos imediatamente quando acha que eles estão a deixando de fora por ser menina. O time de personagens femininas de Stranger Things subverte muito bem os papéis tradicionais dos gêneros na TV, seja pelo visual ou pela atitude. A ambientação da série em uma Hawkins dos anos 80 está ainda mais caprichada que na primeira temporada. Mais uma vez, os produtores souberam investir no que mais agradou os fãs. A fotografia, as cores e a luz são dignos de cinema, assim como os cortes inteligentes entre as cenas. Stranger Things 2 dá um show de montagem. O roteiro da segunda temporada se mostra tão bom quanto o da primeira, mas a direção de arte se mostrou ainda melhor. Isso tudo potencializa a imersão e prende a atenção do espectador. Além disso, cada episódio termina com um cliffhanger irresistível. Para quem gosta de assistir a série aos poucos, sem maratona de final de semana, vencer a curiosidade será um desafio. Alguns episódios de destacam mais do que outros, mas todos acrescentam à história e, com certeza, valem a pena. Hawkins tem muito a ser revelado nesta temporada, e até mesmo o segredo de Steve Harrington (Joe Keery) para ter um cabelo que faz tanto sucesso vem à tona. Quem está preocupado com o esquecimento de Barb também pode esperar por respostas. Outro núcleo que traz novidades é o triângulo amoroso de Nancy, Steve e Jonathan (Charlie Heaton). Stranger Things 2 é um investimento pesado da Netflix que não prejudica em nada o sucesso da primeira temporada. Pelo contrário: é uma evolução em muitos aspectos e dá continuidade à história de uma forma honesta, interessante e pronta para atender as expectativas dos fãs, da primeira à última cena. // zint.online | 81
A mente humana como objeto empírico
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JOÃO DICKER
// diagramação
vics
M
Mindhunter, nova série da Netflix, é uma experiência sensorial. Assim como fez em Seven: Os Setes Crimes Capitais (1995), David Fincher, diretor do longa que produz o programa e comanda a direção de quatro episódios, conjuga elementos de gêneros, principalmente suspense e mistério, em uma produção seriada de investigação policial totalmente diferente do que se vê na indústria. Ao definir um tom lúgubre e um ritmo lento à produção, com um olhar mais contemplativo reproduzido com perfeição pelos diretores que completam a série, Mindhunter entrega uma análise de personagem profunda, que sustentada por um trabalho técnico perfeito, transformando-a em uma produção arrebatadora e pungente. Apesar de se apresentar como uma série de investigação policial, a produção se distancia das demais existentes na indústria ao optar por uma narrativa um
ritmo desacelerado, permitindo o estudo psicológico que se propõe a fazer. Situada nos anos 70, a trama, baseada no livro Mindhunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano, acompanha os agentes do FBI Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), responsáveis por uma pesquisa do setor de Ciência Comportamental da agência federal americana que visa compreender a psiquê de assassinos que cometeram crimes brutais, na tentativa de preparar o departamento policial para reconhecer as circunstâncias que formam um criminoso deste porte. A dupla recebe ajuda da psicóloga Wendy Carr (Anna Torv), que agrega o conhecimento técnico e acadêmico ao projeto, embasando a construção dos perfis que os agentes se dispõem a fazer. Assim, a equipe viaja boa parte dos EUA visitando penitenciarias e entrevistando homicidas dos piores tipos, tentando ao máximo se conectar com os entrevistados e, acima de tudo, encontrar na psicopatia de cada um o gatilho que os fez surtar. Com cenas de diálogos longas, o roteiro entrega uma narrativa de evolução gradativa, desenvolvida a cada entrevista e, consequentemente, a cada novo aprendizado ou decepção que os agentes conseguem dos encontros. A importância no texto reside nos personagens, seus sentimentos, pensamentos, aflições, decisões e questionamentos, e não na resolução de um mistério ou crime. Ainda, o roteiro trabalha a violência psicológica como forma de prender a atenção do espectador, expondo os impactos que o projeto causa nos protagonistas e em suas vidas pessoais na medida em que vão não só compreendendo a mente dos criminosos, mas precisando emula-la para conseguir um diálogo. zint.online | 83
A relação de Kemper (a esquerda) e Holden (a direita) é um dos pontos fortes da trama de Mindhunter
É um trabalho de construção de personalidade e desenvolvimento dramático primoroso, fazendo com que todos os personagens sofram transformações profundas e importantes para a trama. Mesmo que sem cenas de perseguição, tiroteios frenéticos ou lutas bem coreografadas, a série não se arrasta em momento algum graças à intensidade das performances e a toda parte técnica da produção. A fotografia define a estética sombria e pastel, capturando os cenários e ambientações de maneira que tudo parece ser visto por um olhar pessimista. As cenas das entrevista são extremamente bem montadas, alternando cortes e planos curtos em momentos de questionamentos e bate-bocas com planos mais longos para revelações importantes. A experiência sonora é um show a parte. A trilha sonora de Jason Hill trás músicas consagradas dos anos setenta que terminam por ambientar a narrativa, ao mesmo tempo que da um respiro contrastante à toda atmosfera pesada existente. A edição de som é impecável ao criar efeitos sonoros que dão vida às ambientações, diferenciando cada uma das cadeias 84| zint.online
ou então cada sala do prédio do FBI, cenários, estes, que são fruto de um design de produção louvável. O elenco, por sua vez, assegura toda intensidade exigida pelo roteiro nas situações críticas, ao mesmo tempo em que entrega naturalidade e organicidade nas relações pessoais entre os personagens. Jonathan Groff demonstra uma grande amplitude dramática, crescendo junto de seu personagem e revelando nuances de um agente Ford que se deturpa gradativamente com o desenrolar da trama. Anna Tory assegura frieza e sobriedade a cabeça mais pensante do trio de pesquisadores, fazendo de sua personagem uma mulher forte que se impõe em um ambiente masculinizado e violento. Holt McCallany torna Bill, o parceiro experiente e melancólico de Holden, atormentado pelos problemas pessoais que possui em casa. Mas quem rouba a cena é Cameron Britton, ao interpretar o meticuloso e sereno Edmund Kemper, assassino que matou mais de 10 mulheres e era conhecido por ter relações sexuais com os cadáveres das vítimas. A semelhança com o que ator emula os trejeitos físicos e da dicção do homicida chegam a arrepiar, tornando todas as situações em que Kemper está em cena ainda mais viscerais. Se ao longo dos dez episódios enxergamos a identidade de Fincher em todos aspectos da série, nos fazendo lembrar, naturalmente, de Se7en e de Zodíaco (2007), o último capítulo encerra a primeira temporada com um momento intenso, que nos faz remeter a Clube da Luta (1999), e que representa o que todo investimento emocional e psicológico do trio de pesquisadores, e principalmente de Holden Ford, causou. É o ápice catártico de um estudo de personagens e de uma análise psicológica lenta, profunda e arrebatadora, que acaba por apontar como o objeto empírico mais complexo e perturbador possível de ser estudado é a mente humana. //
A dinastia americana // TEXTO
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Sylvia Amorim
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oder, disputa e dinheiro: Dynasty, a nova série da The CW, promete abordar os conflitos da “realeza” dos Estados Unidos. A trama é um reboot da famosa novela homônima dos anos 80, exibida pela ABC, e relata a história das duas famílias mais ricas do país, os Carringtons e os Colbys. Além dos conflitos envolvendo dinheiro e corrupção, Dynasty mostra a rivalidade entre Fallon Carrington (Elizabeth Gillies), filha do grande empresário Blake Carrington (Grant Snow), e sua futura madrasta Cristal Flores (Nathalie Kelley). A versão de 1981 foi febre no mundo, marcando uma geração com suas sete temporadas. A produção ganhou um Globo de Ouro, além de um spin-off (The Colbys) em 1985. E esse ano, ganha um reboot. A série é produzida por Josh Schwartz e Stephanie Savage, responsáveis pelo fenômeno adolescente 86| zint.online
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Gossip Girl, caracterizado pela rivalidade entre as personagens femininas, segredos e escândalos. Os cenários são deslumbrantes; mansões e aviões de primeira classe, além do figurino extraordinário. Jóias, acessórios e roupas de grife usadas, principalmente, por Fallon são impressionantes, ajudando a compor a caracterização da personagem e refletindo sua personalidade: atrevida, destemida e cheia de atitude. Fallon é a típica queen-B. Ela é diretora de aquisições da Carrington Atlantics, empresa de seu pai. Ambiciosa, a personagem se dedica ao sucesso da empresa, visando um dia se tornar a COO. Quando seu pai liga pedindo que ela e seu irmão Steven (James Mackay) retornem para casa, a jovem volta na esperança de que finalmente vá conseguir o tão desejado cargo. Porém, ao chegar na luxuosa mansão, se depara com seu pai aos beijos com uma mulher mais nova, em cima da mesa do escritó-
rio. Ali, ela descobre que não se trata de um simples caso: ela é noiva de seu pai. A partir de então, Fallon começa a odiar Cristal, e cria como objetivo principal destruir a vida da nova rival. Seu irmão, por outro lado, não parece compartilhar do ódio pela futura madrasta. Steven se encontra em uma relação delicada com seu pai, e é revelado que os dois brigaram no passado. Enquanto isso, Cristal enfrenta o dilema das mudanças de se casar com um milionário. A jovem parece guardar segredos profundos, e o primeiro episódio instiga a curiosidade do espectador para descobrir mais de seu passado, que vê a tensão aumentar quando Fallon descobre um antigo romance de Cristal com Matthew (Nick Wechsler) engenheiro da Carrington Atlantics. O primeiro episódio de Dynasty introduz os segredos do passado de muitos personagens. Rivalidades foram estabelecidas e o clima de tensão entre os
personagens é nítido, com direito a até mesmo tapas entre Fallon e Crystal. Os diálogos, repletos de ironia, sarcasmo e provocação podem por vezes parecer forçados, mas conseguem entreter muito por saberem emular a fórmula de relatar a vida dos ricos que tanto faz sucesso nos Estados Unidos, reproduzida em séries como Gossip Girl, The O.C. e Revenge. A série destaca a atitude das personagens femininas. Tanto Fallon quanto Cristal são mulheres confiantes, independentes e determinadas, dispostas a trilharem seu próprio caminho. Podemos esperar uma pegada girl power, intrigas e muitas revelações. Para os fãs desse tipo de narrativa, Dynasty tem potencial para ser a série queridinha do momento. Com um ar de novela, a série pode se tornar um fenômeno, que encontrou em Elizabeth Gillies a atriz perfeita para dar vida ao tipo de garota ousada e poderosa que o público gosta. // zint.online | 87
Família como a nossa, gente como a gente Afinal, qual o segredo da série que recebeu 11 indicações ao Emmy e é a única representante da TV aberta norte-americana no páreo de Melhor Série Dramática? // TEXTO
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Victoria Cunha
his Is Us está em todo lugar. Nos Estados Unidos, a série foi um sucesso automático, levando centenas de fãs de todo o país a postarem declarações e comentários sobre o drama em todas as redes sociais possíveis – e isso não demorou para acontecer no Brasil. Apesar da espera de mais de 1 ano para ser exibida na televisão brasileira (sim, o canal Fox Life agora transmite a série!), a história da família Pearson conquistou o público brasileiro junto com sua estreia na TV americana, fazendo os espectadores soluçarem de tanto chorar. Mas qual é a receita? Por que a série é tão emocionante? A resposta é simples: This Is Us somos nós. Todos nós. 88| zint.online
// diagramação
MAria Nagib
Comparada com outros dramas familiares de sucesso, como Gilmore Girls (2000), a série nos conta uma história real, em que seus espectadores possam se identificar. Porém, diferentemente de outras tramas, This Is Us conta não apenas a história de uma família, mas sim de todos os seus personagens, inclusive durante todo seu crescimento. Os episódios são construídos com base em uma estrutura não-linear, aliando flashbacks e flashforwards de forma orgânica, sem necessidade de destaque com efeitos artificiais visuais e sonoros, como podemos ver em Lost (2004). Na obra de Dan Fogelman, diretor de This Is Us, é possível entender claramente todos os motivos dos relacionamentos de cada personagem, tanto uns com os outros, quanto com seus problemas pessoais. Em seus flashbacks, que são realçados por uma fotografia em sépia, são trabalhados dramas familiares e
da sociedade, como por exemplo o racismo, gordofobia e obesidade, abandono de crianças, alcoolismo, bullying e problemas com drogas. Kate (Chrissy Metz), que luta contra sua obesidade desde criança, embarca em uma aventura amorosa nada convencional com Toby (Chris Sullivan). Kevin (Justin Hartley), ator de uma sitcom muito famosa, está cansado de ser reconhecido apenas pela sua aparência, e não por seu trabalho digno como artista. Randall (Sterling K. Brown), o terceiro irmão, adotado e negro, lida com o reencontro de seu pai biológico que se entregou ao câncer terminal. Os pais do trio, Jack e Rebecca, protagonizados por Milo Vertimiglia (o eterno Jess de Gilmore Girls) e Mandy Moore, não se cansam de roubar a cena: no primeiro episódio, aguentam juntos uma gravidez de risco e nos mostram quão importante é o apoio e o amor pelo outro. A partir daí, cada vez mais nos emocionamos com as cenas de brigas, discussões, abraços, choros, amores, afinal, eles são uma família. Todos os personagens – incluindo os agregados, como a esposa de Randall, o médico que fez o parto dos gêmeos e até mesmo o bombeiro que encontrou
Randall na rua – são muito bem trabalhados, de uma forma que nunca vimos antes. Folgeman considera o tempo não-linear a principal razão do sucesso da série, que se desenvolve em diferentes tempos da vida da família, contando a história de diversos pontos de vista, em diversos momentos cruciais da vida dos personagens. Com isso, foi possível escrever no mínimo uma surpresa importante em cada episódio, afirma Folgeman. Além disso, o primeiro episódio teve enorme importância para a criação de laços com o espectador, além da vontade de saber mais sobre a família Pearson. O final da series premiere é considerado um dos melhores plot twists já vistos na TV americana, fazendo jus a toda a intenção da série – a tal da não-linearidade da história. This Is Us é uma grande obra de arte que te faz entender todos os seus problemas familiares já enfrentados. A série tem um poder muito forte de identificação com o espectador, mesmo que ele não tenha sofrido com nenhum dos temas específicos tratados em cena – o relacionamento familiar dos Pearson diz muito mais sobre a vida do que você já imaginou. This Is Us é sobre família. É sobre todos nós. //
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Lúcifer: Anjo caído ou incompreendido Nova série da FOX juntamente com outros projetos audiovisuais abordam uma temática de reflexão a respeito da verdadeira identidade do Senhor do Inferno // TEXTO
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Laísa Santos
empre que o assunto envolve as extremidades sobrenaturais da morte, surgem diversos questionamentos a respeito da real tranquilidade do Céu e do verdadeiro caos do Inferno. Esse tema já foi pauta
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// diagramação
Maria Nagib
de discussões fervorosas anos atrás e continua sendo figurinha carimbada em livros, filmes e agora na famosa série de televisão, Lucifer (2015). O interessante em ter esse e outros temas relacionados a criação do mundo e obviamente, a Bíblia, é
que propõe um grande debate a respeito desse assunto bem polêmico e desperta além da reflexão sobre a vida, uma série de defesas à respectivos pontos de vista. Lucifer é uma série produzida pela FOX, estreando no início de 2016. A produção é baseada nos quadrinhos Lucifer, spin-off de The Sandman, ambos da editora Vertigo, selo da DC Comics voltado ao público adulto. Desde sua estreia, o show já conquistou milhares de fãs no mundo inteiro, seja pela excentricidade do personagem ou pelo sarcasmo explicito em cada parte do roteiro. Com duas temporadas de sucesso (e uma terceira em exibição), os espectadores esperam que nos próximos episódios alguns problemas sejam solucionados e que o inferno, de certa forma, chegue até o protagonista. Para entender melhor o contexto da obra é preciso saber que Lucifer Morningstar (Tom Ellis) é o Senhor do Inferno há milênios, mas se cansou do trabalho e decidiu “tirar férias” por tempo indeterminado na cidade de Los Angeles. Deixando o Inferno para trás e sem ninguém para tomar conta, Lúcifer fugiu com sua aliada demoníaca Mazikeen (Lesley- Ann Brandt), abriu uma boate badalada no centro da Cidade dos Anjos e tomou para si uma vida de luxo e luxúria, até encontrar a detetive Chloe Decker (Lauren German). Despertando um outro lado no personagem principal, Decker também irá desencadear outros efeitos colaterais involuntários no protagonista, fazendo com que ele possa entender o que se passa em seu coração. O seriado recebeu diversas críticas desde sua estreia, com algumas delas pedindo que o programa fosse cancelado por representar uma “violação das crenças religiosas e desrespeito com a Bíblia sagrada”. Tratar de assuntos de cunho religioso é complicado, visto que interfere no modo de pensar que um indivíduo tem e, muitas vezes, contestar o que foi dito desperta uma certa desavença. Isso acontece exatamente com o seriado da FOX, devido a tema apresentar um diabo que odeia morar no inferno e punir pessoas, sendo o oposto do que até hoje é o “estereótipo” do famoso Satanás. A forma como essa questão é manipulada em Lucifer é bem icônica, com um constante uso de ironias (grande parte, com cunho sexual), sarcasmos e piadas tanto com Deus quanto com outros membros da história da criação. Morningstar também é atraente, dono de uma lábia extraordinária, uma libido gigantesca e um ego(ísmo) maior ainda. O roteiro acaba refletindo uma visão bem divertida acerca do que realmente aconteceu com o anjo ca-
ído, o motivo que o levou a se tornar o diabo e quais seus sentimentos a respeito de tal punição. Enquanto nunca houve uma versão da real história dessa figura extremamente conhecida, a série busca dar ao Rei das Trevas uma espécia de “poder de resposta” e contar o seu lado dos fatos, embora quase nenhum humano realmente acredite que ele é O verdadeiro Lúcifer. //
Indicações
Se engana quem acredita que essa nova roupagem do Diabo acontece apenas em uma série de televisão específica. O tema já é repercutido bastante e um dos lugares para encontrar mais sarcasmos icônicos e uma personalidade diferente, são nas tirinhas Um Sábado Qualquer, criadas em 2009 pelo designer Carlos Ruas. O blog de tirinhas também explora o lado humorado da criação do mundo e utiliza os personagens da Bíblia para criar situações cotidianas e mostrar como cada um reage ao que está sendo dito. O mais interessante é que o diabo também se sente muito incomodado por ser denominado o culpado de todos os problemas humanos e vive em um inferno completamente diferente do que as pessoas imaginam. O filme de comédia Um Diabo Diferente (2000), protagonizado pelo ator americano Adam Sandler, é outro exemplo, dessa vez trazendo um enredo que dialoga com o lado paternal do Satanás. Na obra cinematográfica, Nicky é um dos filhos do Diabo e vai para Terra na tentativa de proteger o legado do seu pai e impedir que o mesmo morra nas mãos dos outros dois filhos. O interessante sobre a narrativa é a abordagem familiar que ela faz e as consequências que os conflitos relacionados a ela podem atingir na civilização humana. South Park - Bigger, Longer and Uncut (1999) é um filme de animação americano lançado em 1999, que problematiza diversas situações da série e acompanha as aventuras de quatro crianças. No longa-metragem, o Diabo aparece como namorado de Saddam Hussein e eles possuem muitos problemas na relação, uma vez que o companheiro além de tarado é maligno. Entretanto, Satã é bastante sentimental, carinhoso, tem misericórdia por alguns humanos e merece uma pessoa melhor ao seu lado. Ninguém nunca para e pensa sobre o diabo, nem mesmo usa o nome Lúcifer para se referir a ele. Com isso, várias áreas do entretenimento se sentiram com vontade de produzir algo que saísse do padrão e provocasse um questionamento, mas claro, de forma moderna, cômica e sem a pretensão de ofender as religiões. zint.online | 91
Isso é tão Raven! // TEXTO & diagramação
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e você cresceu durante o ano de 2000 e assistia regularmente o SBT, é muito provável que As Visões da Raven tenha sido uma das primeiras séries que você acompanhou na vida. A produção, originalmente do Disney Channel, seguia a vida de Raven Baxter (Raven-Symoné), uma adolescente com um peculiar poder de espiar o futuro através de visões aleatórias. Ao lado de Chelsea (Anneliese van der Pol) e Eddie (Orlando Brown), a garota entra em inúmeras aventuras pra evitar que os desastres que prevê se concretizem, mas apenas acaba causando ainda mais problemas do que o previsto. Raven eventualmente também coloca sua família, que desconhece de seu poder, no meio, fazendo com que Tanya (T'Keyah Crystal Keymáh), Victor (Rondell Sheridan) e Cory (Kyle Massey) entrem nas "roubadas" sem saberem exatamente o motivo. A série foi um sucesso espontâneo, garantindo quatro temporadas e exatos 100 episódios (o últi92| zint.online
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mo episódio, inclusive, completa 10 anos em 10 de novembro). Ainda, o programa gerou um spin-off, Cory na Casa Branca, que levou seu pai Victor, um então chef de cozinha consagrado, e seu irmão Cory para trabalhar para o Presidente dos Estados Unidos. A família Baxter acabou marcando a vida de inúmeras pessoas e pegando o embalo da atual onde de remake, reboot e revival que Hollywood está tendo no momento. Anunciado em 2016, Raven's Home ("A Casa de Raven", em tradução literal) é o segundo spin-off do programa. Estreando em julho de 2017, a série possui uma temporada de 13 episódios. Também produzida pelo Disney Channel, o programa segue a vida de Raven e Chelsea, agora com filhos. Como colocado na música tema, o enredo funciona da seguinte forma: "Ei, deixe eu te contar uma coisa. Eu tinha minhas visões todas certas, mas a vida tinha outros planos. É
engraçado como as coisas viram de ponta cabeça, mas você tem que aceitar e aproveitar a chance. Talvez eu esteja apenas procurando meu caminho, e nós ficaremos de boa. É uma aventura, mas você sabe que nós fazemos funcionar. Nós somos apenas crianças nesse mundo doido, qual é! É a casa da Raven (nós fazemos barulho), é a casa da Raven (são as nossas pessoas). Pode ser difícil, mas juntos nós fazemos parecem bom. Juntos, uns com os outros, como as famílias devem ser, é a casa da Raven (quando é difícil), é a casa da Raven (nós temos amor). Porque não importa o clima, você sabe que nós brilharemos. Estamos aqui uns para os outros, você sabe que é a nossa hora. É, somos nós." Em Raven's Home, Raven é uma mãe de gêmeos e trabalha como designer de moda para cachorros, enquanto Chelsea tem um filho e é dona de casa. Ambas divorciadas, elas decidem morar juntas para diminuir as contas e uma poder ajuda a outra, ao mesmo tempo que criam as três crianças. Brooker (Issac Ryan Brown) e Nia (Navia Robinson) são filhos de Raven, mas apenas Brooker herdou o poder de visão da mãe, e Levi (Jason Maybaum) é o menino de Chelsea. A família fica ainda maior com as visitas constante da vizinha Tess (Sky Katz), melhor amiga de Nia. Assim como era sua mãe com seus dois amigos, Brooker também entra em diversas aventuras com seus três amigos para tentar reverter suas visões, sem resultado na maioria das vezes. Ao mesmo tempo, Raven também continua tendo as suas, se aventurando com Chelsea. O mais peculiar de tudo é que ela desconhece que seu filho herdou seu poder, enquanto ele também não sabe que sua mãe é uma vidente. A série acompanha esse senso de aventura e nostalgia ao longo de seus treze episódios, fazendo com que todos os personagens se envolvam em algum acontecimento cômico tentando consertar algo. Ao mesmo tempo, há essa atmosfera engraçada entre os adultos e as crianças, que se recusam a contar sobre as visões uns aos outros. Tudo isso é misturando com o senso de que apesar de tudo, família permanece unida e o amor entre eles é para todos os momentos. Não limitando-se apenas a servir como uma programa para novos telespectadores, a produção tem consciência que alguns dos fãs fiéis retornaram à casa para acompanhar esse novo passo na vida de Rae. Assim, a série faz diversas referências ao programa original. Embora nunca se lembre que a vida das duas envolvia o melhor amigo Eddie, Raven acabou casan-
do-se com o namorado do colégio Devon (Jonathan McDaniel), que aparece em um episódio. Os pais de Rae também são citados algumas vezes, mas seu irmão não. O Grill Nota Mil também figura entre umas falas, assim como o famoso "É, sou eu", da música de abertura de As Visões da Raven. Até mesmo Liz Anya aparece em um episódio do programa. O mais nostálgico de tudo, no entanto, é como Raven-Symoné manteve 100% de sua personagem principal, voltando a exibir todos os trejeitos, caras e comportamentos que faz de Raven Baxter famosa e engraçada. Todas os carões estão lá, assim como o seu sorriso escrachado e sua personalidade exagerada. Anneliese também apresenta uma Chelsea nostálgica, que volta a ser aquela personagem meio burra e sem muito talento, mas com um gigantesco coração e servindo de consciência para Raven. E assim como eram os Baxter, aquela família toda engraçada e criançona, os Baxter-Carter/Grayson também mantém a característica, fazendo com que o novo lar deles seja sempre um espaço de alegria e diversão. A temporada terminou sua primeira temporada apresentando episódios consistentes e bastante divertidos, garantindo uma audiência bastante estável ao longo de seus 13 capítulos. Assim, a série já foi renovada para uma segunda temporada, e começa a ser filmada em novembro, com retorno programado para ano que vem. Agora a gente fica a curiosidade pra saber se eles vão trazer de volta outros personagens. Já estamos no espero da reunion. É, é isso. //
O fim do reinado
Uma série baseada em um drama histórico, personagens femininas fortes, romances e traições. Essas são algumas características que descrevem a série Reign, produzia pela The CW, que chegou ao seu fim em junho desse ano. A decisão de cancelar a série, em sua quarta temporada, foi anunciada em dezembro do ano passado, pois o drama estava tendo apenas 0.3 de audiência, ou seja, menos de um milhão de pessoas estavam assistindo. Outra coisa que contribuiu para a queda de audiência foi a saída dos atores Toby Regbo (Francis) e Toorance Coombs (Bash). Dessa maneira, a quarta e última temporada de Reign teve que correr um pouco com os acontecimentos sobre a vida de Mary Stuart (Adelaide Kane), a rainha da Escócia. Mesmo com um deadline apressado e com um total de 16 episódios, os produtores conseguiram entregar um final recheado de acontecimentos de peso e um pouco de nostalgia para os fãs. A quarta temporada desenvolve ainda mais a rivalidade entre a rainha da Escócia e Elizabeth I (Rachel Skarsten), a rainha da Inglaterra. 94| zint.online
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BRUNA CURI VICTORIA CUNHA
Ao mesmo tempo, também é apresentada a disputa pelo trono francês entre os irmãos Charles (Spencer MacPherson) e Henri (Nick Slater). Os três últimos episódios, mesmo deixando muitas coisas de fora, conseguiram dar destaque aos acontecimentos importantes e encerraram a série da maneira que ela merecia. A participação especial de Toby Regbo, nos minutos finais, fez com que tudo ficasse um pouco mais especial. Inicialmente, Reign foi uma série mais voltada para o público juvenil, mas com o passar das temporadas foi tornando-se um pouco mais obscura. Durante esses quatro anos é perceptível a evolução de vários personagens, principalmente, Mary. Adelaide Kane retratou com maestria todo esse amadurecimento da rainha da Escócia. A transformação de uma garota doce e ingênua que sonhava em se casar por amor, em uma mulher de personalidade forte e ambiciosa ao lutar por tentar reivindicar o seu direito ao trono inglês. Em todos esses anos, apesar da baixa audiência nas últimas temporadas, Reign conseguiu ser uma boa série da The CW que se destaca pela trama, a excelente atuação dos atores e por seus belíssimos figurinos (a responsável por isso era Meredith
Markworth-Pollack, a costume designer também conhecida pelo seu trabalho em Gossip Girl). Foi uma série que contou de maneira memorável a vida da rainha da Escócia. A Ficação e a Realidade
Por se tratar de uma série inspirada em fatos históricos, é claro que existem algumas diferenças entre a ficção e a realidade. Alguns personagens e tramas foram criados apenas para atrair ao público como, por exemplo, um triângulo amoroso entre Mary , o príncipe Francis e o bastardo Bash. No início da trama é mostrado que Mary foi enviada pela sua mãe a um convento na França, onde ela passa toda sua infância escondida. Porém, na realidade, isso nunca aconteceu. Ela foi enviada para a França ainda quando criança, mas foi criada na Corte Francesa em vez de um convento. Outra mudança feita foi o nome das damas de companhia da rainha da Escócia. Em Reign elas se chamam Lola (Anna Popplewell), Greer (Celina Sinden), Kenna (Caitlin Stasey) e Ayle (Jenessa Grant). Já na realidade, todas compartilhavam do mesmo nome da rainha e eram conhecidas como “4 Marys” (as "Quatro Mary"). E como é mostrado em Reign, o rei francês Henry II (Alan van Sprang) tem um caso assumido com Diane de Poitiers (Anna Walton), que de fato ocorreu. Porém, existem algumas diferenças com relação ao que foi exibido na série. Para começar não há nenhum registro de que eles tiveram algum filho. Outro fato bastante curioso é que Henry II mandou espelhar monogramas “HD” por paredes e fachadas de vários castelos da França, demonstrando o quão forte era forte a união entre eles. Vida e Morte
Ao longo de seus 42 anos de vida, Mary Stuart pode ser considerada uma das mais famosas rainhas
do século XVI. Ela tornou-se rainha da Escócia quando era apenas um bebê, pois era a única sobrevivente e descendente legítima do rei Jaime V da Escócia. Ainda quando criança, foi mandada para ser educada na França e passou boa parte de sua infância e adolescência na corte francesa enquanto sua mãe, Maria de Guise, continuou governando a Escócia até que Mary crescesse. Aos 16 anos ela se casou com o príncipe Francis, unindo assim a França e a Escócia. Porém, o casamento não durou muito tempo. Após dois anos ela ficou viúva e retornou para a Escócia. Por ter recebido uma criação católica, Mary teve de enfrentar muitos problemas quando retornou ao seu país natal. A Escócia tinha acabado de adotar o protestantismo, de maneira que muitos nobres não queriam uma rainha católica. Outro fator que a tornava impopular entre os escoceses foi a sua escolha para os conselheiros e o seu segundo marido, Henrique Stewart, conhecido como Lorde Darnley, que também era bastante impopular. Em 1568, ao fugir de seus inúmeros inimigos, Mary recorreu a Elizabeth I, que era sua prima. Ela buscou abrigo na Inglaterra, mas baseado nas suas pretensões em tomar o trono inglês (o direito da rainha da Escócia ao trono inglês provinha de ascendente com Henrique VII, o fundador da dinastia Tudor. Através de sua filha Margart, avó de Mary), Elizabeth I a prendeu na prisão de uma maneira preventiva. Ela permaneceu na prisão pelo resto de sua vida e após o seu julgamento em 1586, foi decapitada no dia 8 de fevereiro de 1587, sob os protestos da França e da Espanha. E mesmo tendo se passado 430 após a sua morte, a figura da rainha da Escócia ainda exerce um enorme fascínio entre os estudiosos. Mary Stuart foi uma mulher impotente, que ariscou o seu reino para viver um desejo inconsequente e como consequência ela teve de pagar com sua própria vida por almejar o trono inglês. // zint.online | 95
Let’s start the show! // TEXTO
samantha burton
Em fevereiro de 2017, o The Graham Norton Show completou 10 anos de história com a estreia de sua 21a temporada. Seu episódio de retorno contou com nada menos que a dupla Sir Michael Caine e Morgan Freeman, marcando o início do novo ciclo. O chat show comandado pelo carismático irlandês Graham Norton foi criado em 22 de fevereiro de 2007 em parceria com (produtor executivo do programa) e com produção da SO Television, produtora de entretenimento criada em 1998 por Norton. Formulado para competir com outros programas de bate-papo, The Graham Norton Show e o seu set vermelho e roxo vibrante se tornou ao longo de uma década uma sensação britânica. Por que será? 96| zint.online
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VICTORIA CUNHA
Nascido e criado no condado de Cork, na Irlanda, Graham Walker se mudou para Londres para que pudesse estudar dramatização na capital. Por já haver um artista com o mesmo nome que o seu, ao se juntar ao Sindicato dos Atores, ele adotou o nome de solteira de sua bisavó: Norton. Após alguns programas sem sucesso a sorte do ator frustrado mudou quando o mesmo foi convocado a substituir um colega em um talk show (a performance lhe rendeu o prêmio de melhor revelação pelo British Comedy Awards, em 1997). Graham já se aventurou pelo mundo da escrita com a sua autobiografia The Life and Loves of a He Devil (2014) e seu, até então, único romance intitulado Holding (2016). O tv host é também, desde 2009,
o comentarista oficial do Reino Unido do Eurovison Song Contest (competição anual de música entre os países europeus). Sua conexão com os talk shows remonta ao final da década de 90: em 1998 teve seu big break no canal britânico Channel 4 com o SO Graham Norton (1998-2002) sucedido pelo V Graham Norton (2002-2003), na mesma emissora. Em 2004 migrou para os Estados Unidos com o The Graham Norton Effect, televisionado pela Comedy Central. Durante os anos de 2005 e 2006 teve um programa na english telly chamado Graham Norton’s Bigger Picture: painel de convidados com o qual debatia as grandes histórias da semana. E desde 2007 apresenta o seu maior sucesso, o The Graham Norton Show, pela BBC One. Existe algo a entender sobre a rede BBC inglesa: a emissora de tv pública possui uma extensiva rede de canais. Esses são: a BBC News (programação dedicada exclusivamente à notícia), os canais infantis
CBeebies e CBBC e os quatro canais de programas variados conhecidos como BBC One, Two, Three e Four. Cada canal é especializado em certos conteúdos e possui uma identidade visual característica. O catálogo de programas varia entre entretenimento, ciência, artes, história, docs e outros. Existe, portanto, uma hierarquia entre esses quatro canais e a BBC One está no topo dessa cadeia. Em 2009, o The Graham Norton Show migrou da BBC Two para a prestigiada BBC One fisgando o mais nobre dos horários nobres de sexta-feira, privilégio que antes pertencia ao The Jonathan Ross Show. E desde então o talk show de Graham permanece no mesmo espaço, arrebatando uma bela audiência toda semana. The luck of the Irish
O National Television Awards, prêmio influente que prestigia o melhor da televisão britânica, homenageou esse ano o apresentador com o Special Recognition Award. O prêmio criado em 1995 já con zint.online | 97
decorou personagens ilustres da tv como Sir David Attenborough, David Tennant, a dupla Ant & Dec, Stephen Fry e muitos outros. A cerimônia aconteceu no dia 25 de janeiro na O2 Arena, em Londres, e a entrega do troféu foi atarefada à Hugh Bonneville. Graham foi chamado ao palco após ser exibido uma compilação de sua trajetória (de 20 anos!) pela tv, narrada por amigos e família. Dame Judi Dench, Will Smith, Dolly Parton, a diretora de conteúdo da BBC Charlotte Moore e sua companheira de tela do programa Let It Shine (2017), Mel Giedroyc, foram algumas pessoas que prestigiaram o colega. Graham Norton: The Making of a National Treasure foi o título dado pelo jornal The Telegraph para uma matéria escrita sobre o apresentador que reforçou o título de lenda que ele lentamente vem estabelecendo. Muitos o comparam com Sir Terry Wogan, falecido apresentador irlandês de rádio e televisão previamente já considerado um “queridinho
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da nação”. Graham acumula diversos reconhecimentos por seu trabalho na televisão. Ganhou cinco de um dos mais prestigiados prêmios do meio, o BAFTA, no quesito Entertainment Perfomance (2000, 2001, 2002, 2011 e 2012) por suas performances individuais em um programa de entretenimento e seu chat show homônimo ganhou 2 BAFTAs (2013 e 2015). Já levou para casa três prêmios Best Comedy Entertainment Personality (2000, 2002 e 2011) concedidos pelo British Comedy Awards. 2001 se mostrou um ano relativamente agitado para o irlandês, tendo ele acumulado os títulos de personalidade de TV do ano (Tric Awards), melhor artista (Broadcasting Press Guild Awards) e de melhor apresentador (RTS Television Award). Mas qual seria o motivo de tanto sucesso? O site The A.V. Club cita algumas das caraterísticas do chat show que o destacam em relação aos de seus colegas (britânicos e americanos) na matéria intitulada In an era of gimmicks, The Graham Norton Show
keeps the conversation going (Na era dos truques, The Graham Norton Show faz a conversa fluir). Alguns dos itens considerados auxiliadores no sucesso do programa são: a quase inexistente censura de palavrões por parte da televisão inglesa (não acredita? Assista a qualquer episódio de Celebrity Juice); a política de free booze (os convidados são recebidos no set com bebidas alcoólicas previamente selecionadas) e o modelo do chat show conhecido por reunir todos os convidados ao mesmo tempo, juntando atores, diretores, cantores e comediantes em um único sofá vermelho. E claro, há de se destacar a incrível capacidade de Graham de escutar e adaptar aos seus convidados, conduzindo-os sem aparente esforço pela estrada do bom humor e dos comentários rápidos e inteligentes. O fato de ser um show semanal foi apontado nos comentários da página como um fator crucial da qualidade dos episódios. Uma das principais atrações do programa é a big red chair (a cadeira vermelha). Na qual, ao final de cada programa, sentam-se pessoas pré-selecionadas que contam breve histórias pessoais. Graham e os seus convidados da noite são postos a escutar as anedotas e possuem a opção de virar a cadeira para trás, através de uma alavanca, se a coisa degringolar ou se tornar entediante. O resultado muitas vezes é hilário, com contos genuinamente cômicos. Um fato interessante é que são distribuídos ingressos para assistir de graça o programa em Londres, porém a demanda é grande e os tickets costumam esgotar rápido. Para conseguir um é necessário preencher um formulário de inscrição através do site da empresa SRO Audiences. O youtube oferece a possibilidade de assistir a quase todos os episódios na íntegra e há vários vídeos compilando os melhores momentos dos últimos anos. Eles vão de Matt Damon afirmando que foi “a maior
diversão que játive em um talkshow” em um episódio hilário com seus colegas Bill Murray e Hugh Bonneville; Benedict Cumberbatch reencenando fotos de lontras; Julie Walters enfiando a mão dentro da boca do rapper 50 Cent para poder sentir os fragmentos de bala em sua língua; a vergonha alheia ao ver Mark Wahlberg bêbado no programa; a divertida de Greg Davies sobre usar a calcinha da mão e por ai vai. Em entrevista ao This Morning, Graham comentou sobre o emocionante fato de que Carrie Fisher fez sua última aparição televisiva em seu programa e diz que gostaria de ter feito um trabalho melhor: “demorou bastante tempo para entender que ela se foi”. A eterna princesa leia faleceu depois de sofrer um ataque cardíaco apenas duas semanas após aparecer no sofá vermelho. A 22ª rodada do programa estreou no finalzinho de setembro. Judi Dench, Kenneth Branagh e Michelle Pfeiffer são algumas das atrações agendadas para a temporada. O The Graham Norton Show está previsto para ir ao ar até março de 2018, totalizando 24 episódios no novo ano. //
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Netflix completa 20 anos em busca de expansão A maior plataforma de streaming do mundo tenta, novamente, dar um passo a frente de seu tempo // TEXTO
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YURI SOARES
Pode não parecer, mas a Netflix é uma jovem de duas décadas. No dia 29 de agosto a empresa, que começou como uma locadora de filmes via correios, em 1997 nos Estados Unidos, completou 20 anos de existência, sendo, por exemplo, ligeiramente mais velha que outra gigante da Internet, a Google, que iniciou suas atividades em 1998. A idade da marca gera surpresa devido ao fato de que seu principal serviço, o streaming de audiovisual, é razoavelmente novo comparado a trajetória da empresa. Em seus primeiros dez anos de existência, a Netflix inovou no mercado de locadoras ao permitir que seus clientes ficassem com os DVDs o tempo que quisessem, em troca de uma mensalidade. O serviço de conteúdo online começou nos Estados Unidos em 2007, com um catálogo limitado, se expandiu para o Canadá em 2010 e no ano seguinte estreou ao Brasil. Atualmente, está disponível em quase todos os países, exceto China Continental, Coreia do Norte, Síria e região da Crimeia. Além disso, tem versões em 18 idiomas. Líder em seu segmento, não demorou muito para a empresa assumir outro papel importante: as produções seriadas. Percebeu nesse nicho uma forma de conquistar mais usuários e, assim, começou a investir em produções originais com uma nova forma de
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disponibilizar conteúdo. Hoje, é fácil apontar séries originais de sucesso como Stranger Things (2016) e Orange is the New Black (2013). A gigante de streaming notou que canais de TV estavam produzindo conteúdo de acordo com a demanda de seus telespectadores e passou a utilizar da mesma característica em suas produções. Entretanto, foi além e alterou o modo convencional de disponibilizar séries. Ao invés de oferecer um episódio por semana, método tradicional, liberou uma temporada inteira por vez, tanto em suas produções originais, quanto em séries com direitos de exibição comprados de emissoras de televisão. Não parou por aí. A Netflix realizou diversos estudos para achar a forma ideal de produzir seriados. Exemplo desses estudos é a teoria do “episódio-gancho” (cliffhanger, no original), que se resume no fator de que há um episódio do seriado que vai prender a atenção do telespectador. A empresa também explorou de seu banco de dados como método de análise para aperfeiçoar a produção de suas séries, utilizando-se de dados quantitativos que informam quais as melhores decisões para melhorar seus serviços. Para ter-se um dimensionamento disso, a Netflix tem hoje mais 100 milhões de assinantes em todo o mundo; uma grande base de usuários que reúne uma quantizint.online | 101
Stranger Things
Orange is the New Black
House of Cards dade exponencial de dados. Sugestões como “Continuar assistindo” e “Porque você assistiu determinado filme” são resultados do processo e armazenamento de dados de usuários, coletados e indexados em tempo real. Em suas análises, a Netflix segue alguns critérios, como a parte em que o usuário deu pausa no episódio, em quais dias da semana ele assiste o conteúdo, a sua localidade, em qual dispositivo acessa (TV, tablet, smartphone, etc.), se há o abandono do conteúdo, as avaliações diárias, os prints tirados da tela em determinada cena, entre outras características. Essas informações apontam para a empresa qual é o engajamento de seus clientes com as produções. Se uma série antiga apresentar altos índices de audiên102| zint.online
cia na plataforma, ela pode entrar na agenda para a produção de uma nova temporada. Assim se define o conteúdo de seu catálogo. O cruzamento de dados não só estabelece quais títulos serão inseridos em seu catálogo, mas principalmente na produção de conteúdo original que agrada o público. House of Cards
Em março de 2011, a Netflix anunciou que faria investimento até então jamais visto na televisão norte-americana. Iniciou a produção de uma série de duas temporadas, com treze episódios cada, e orçamento total de 200 milhões de dólares, a mais cara daquele ano. Essa produção é House of Cards. A empresa tinha certeza que o programa seria
sucesso de audiência, tudo graças ao cruzamento dos dados armazenados em sua plataforma. Dentre as informações, levou em consideração a porcentagem dos usuários que assistiram o filme A Rede Social (2010), de David Fincher, e a minissérie de sucesso homônima britânica de Andrew Davies, exibida pela BBC em 1990, além dos filmes dirigidos e produzidos por Kevin Spacey e Fincher. A Netflix sabia que um número considerável de seus usuários estava carente de dramas políticos, mas entendeu também que eram necessárias estratégias de marketing, criadas por meio do cruzamento de dados. O trailer de House of Cards foi dividido em dez cortes, cada um voltado para determinado tipo de espectador. As previsões e táticas do serviço de streaming foram bem-sucedidas. A série protagonizada por Kevin
Spacey e Robin Wright, resultou em dois milhões de novas assinaturas para a empresa nos Estados Unidos, apenas no primeiro trimestre de 2013, e aproximadamente um milhão em outras partes do mundo. Em 2014, a segunda temporada marcou a estreia do 4K (ultra alta definição) na plataforma. A super qualidade de imagem exigiu cenários detalhados e reconstituições minuciosas, como a Casa Branca e o Congresso, que se confundem com os originais. Atualmente, todas as produções originais da empresa são transmitidas neste formato de resolução, sem contar diversas outras séries, como Breaking Bad, que foram remasterizadas para poderem se adequar. A Netflix não poupou investimentos em produções próprias nos últimos cinco anos e não deve poupar nos anos que virão. Recentemente anunciou que aplicará sete bilhões de dólares em conteúdo original
Castlevania
Knights of Sidonia
Blame!
para 2018. A ação é também uma tentativa de frear a redução de seu catálogo, já que as grandes produtoras decidiram criar seus próprios serviços de streaming, em busca de lucrar mais do que com a venda dos direitos de transmissão para plataforma da empresa. Animes
Líder entre as plataformas de vídeo sob demanda, a Netflix tem hoje número significante de séries, documentários e filmes originais; entretanto, sua aposta de expansão parece caminhar para a animação japonesa. Sólido na Itália e em países sul-americanos, o segmento conta também com base de fãs extremamente fiel. Em agosto passado, a empresa participou do Anime Slate 2017, em Tóquio, e chamou a atenção de todos ao anunciar lista expressiva de produções originais que estrearão em seu catálogo de animes nos próximos anos. No evento, a Netflix divulgou que no Japão, maior mercado da categoria, apenas 50% de seus usuários assistem animes. Porém, no resto do mundo, essa porcentagem ganha ainda mais força e sobe para os 90%. O número acaba justificando o interesse da gigante no segmento.
Aparentemente modestos, os investimentos da Netflix na indústria dos animes não é tão recente quanto parece. A empresa tem calorosa parceria com o estúdio Polygon Pictures, responsável por muitos animes originais da plataforma, dentre os sucessos de audiência estão AJIN: Demi-Human (2016), Knights of Sidonia (2014) e Blame! (2017). Outra colaboração importante é com a Frederator Studios, que resultou em Castlevania (2017). É sabido que o serviço de streaming pretende fechar acordos com o estúdio Bones, produtor do mainstream Fullmetal Alchemist, e com Masamune Shirow, criador do mangá Ghost in the Shell, um dos mais cultuados da cultura pop. O catálogo de animes da Netflix ainda possui obras consideradas clássicas, como Akira (Katsuhiro Otomo, 1988) e Ghost in the Shell (Mamoru Oshii, 1995). A empresa ainda conta com filmes de Makoto Shinkai, diretor de Your Name (2016), maior bilheteria mundial de um anime. O acervo da empresa é pequeno, se comparado comparado ao Crunchyroll. O serviço de streaming é especializado em animes, oferecendo mais 800 títulos de animação japonesa em sua plataforma. //
Animes apresentados pela Netflix no Anime Slate 2017 Cyborg 009: Call of Justice (12 episódios; estreou em 10 de fevereiro de 2017): Anos depois de estarem vivendo no anonimato, os ciborgues são forçados a lutar novamente quando os super-humanos surgem com um plano nada bom para a humanidade. Blame! (1h46min; estreou em 20 de maio de 2017): Em uma cidade controlada por máquinas destrutivas, surge o misterioso e solitário Killy, um sobrevivente lutando para evitar a extinção da raça humana. Little Witch Academia (2ª Temporada; data de estreia indefinida): Akko se inscreve na academia para bruxas Luna Nova. Ela pode não ser a melhor aluna da escola, mas sua atitude incrível é com certeza a chave para o sucesso! Death Note (1h40min; estreou em 25 de agosto de 2017): Adaptação live-action de um dos animes mais cultuados. Um jovem usa os poderes de um caderno sobrenatural para matar bandidos, mas acaba atraindo a atenção de um detetive, um demônio e uma colega. Voltron: Defensor Lendário (3ª e 4ª Temporada, estrearam em agosto e outubro de 2017, respectivamente): Esta série inédita, cinco heróis improváveis pilotam seus leões robóticos para juntos formar o megapoderoso Voltron e defender o universo contra mal. Fate/Apocrypha (25 episódios; estreia em 02 de dezembro): Participando do que se denomina "Grande Guerra do Santo Graal", 14 "espíritos heróicos" dividiram-se em duas facções e enfrentam uma guerra épica medieval, mas completamente mágica. Os vários cavaleiros e mages têm poderes incríveis, e suas muitas batalhas serão o foco principal de Fate/Apocrypha. Erased (11 episódios; previsão de estreaia para o último trimestre de 2017): Série live-action com atores japoneses baseada no mangá homônimo. A série terá 11 episódios de 30 minutos cada e o final será completamente diferente daquilo que se viu no mangá! Blazing Transfer Students REBORN (oito episódios, com estreia marcada para o dia 10 de novembro): Série live-action com atores japoneses baseada
no mangá homônimo. Os garotos da banda Johnny’s West interpretam um grupo de estudantes recrutados para uma misteriosa missão numa escola complicada, sob o comando de seu sinistro diretor. Castlevania (2ª Temporada, com estreia marcada para 2018): Um caçador de vampiros luta para salvar uma cidade sitiada por um exército de criaturas controladas pelo próprio Drácula. Inspirado no clássico videogame. Devilman Crybaby (10 episódios; com estreia marcada para 2018): Como uma antiga raça de demônios invade a Terra em um esforço para retirá-la dos humanos, a protagonista Akira Fudo resolve se fundir com um demônio. Ele "conseguiu transformar-se em zint.online | 105
Devilman, que possui os poderes de um demônio e a alma de um humano". Devilman literalmente lutará contra o fogo, mas ele também lutará para manter sua identidade humana. Kakegurui (12 episódios; com estreia marcada para 2018): Tipicamente subtitulado Compulsive Gambler, especialmente em sua forma de mangá, Kakegurui ocorre na Hyakkaou Private Academy, onde estudantes ricos e privilegiados apostam fortunas inteiras em diferentes jogos. Aqueles que devem dívidas são forçados a escravidão enquanto o sucesso se eleva ao topo da hierarquia da escola. Um novo aluno passa a ser um viciado em jogo louco que joga pela emoção, que joga a escola e sua administração no caos. Children of the Whales (com estreia marcada para 2018): Chakuro, o arquivista da ilha que tem poderes especiais, conhece uma menina misteriosa chamada Rikosu enquanto investiga um navio abandonado que se deslocava até a Baleia de lama. É a primeira vez que alguém na ilha fez contato com alguém do mundo exterior, mas é um sinal auspicioso de que um novo mundo aguarda?
Lost Song (12 episódios; com estreia maracada para 2018): Uma história completamente original faturada como uma "fantasia clássica" com duas heroínas femininas, “Lost Song” segue um jovem aldeão e uma cantora vivendo na capital. Cada um tem um poder especial: "Um poder milagroso que pode curar feridas, criar água e agitar o vento - o poder da música". À medida que a guerra ameaça surgir no reino, ambas as jovens usam suas vozes mágicas para curar e ajudar onde eles podem. Sword Gai (com estreia marcada para 2018): Depois de um acidente, o jovem Gal tem o braço substituído por uma espada do demônio. Ele e a arma vão se unir em um só corpo no combate aos inimigos. A.I.C.O. – Incarnation (12 episódios; com estreia marcada para 2018): O ano é 2035, e um experimento está muito errado. Chamado Burst, "uma forma de vida artificial fora de controle chamada Matéria" explode a existência e se espalha rapidamente. Dois anos depois, uma jovem descobre que ela pode manter a chave para parar essa ameaça bizarra. Ela só terá que se infiltrar no coração da zona em quarentena.
B: The Beginning (12 episódios; com estreia marcada para 2018): Na cidade futurista de Cremona, os avanços tecnológicos ditam as regras. É a partir daí que um grupo de cientistas planeja criar novos humanos capazes de instaurar a paz na região. O único problema é que nem todos apoiam essa ideia. Cannon Busters (12 episódios; data de estreia ainda indefinida): Programa para a amizade, a simpática andróide S.A.M embarca em uma jornada em busca de seu melhor amigo ao lado de uma robô de manutenção e um perigoso fugitivo. Rilakkuma Series (13 episódios; data de estreia ainda indefinida): Kaouru recebe em seu quarto um morador inesperado: Rilakkuma, um urso preguiçoso com um zíper nas costas. Mas de quem é impossível não gostar. Godzilla (sem informações; data de estreia ainda indefinida): Neste novo anime, Godzilla chega a um futuro totalmente novo, mas não imune as caos que o lendário monstro pode provocar. Baki (26 episódios; data de estreia ainda indefinida): Baki Hanma é o filho de ninguém menos que
Yujiro Hanma, o homem mais forte do mundo. Decidido a conquistar o título do seu pai, esse jovem se submete a intensivos treinos, mas seu objetivo tem consequências: sua determinação atrai cinco terríveis lutadores dispostos a deterrotá-lo de todas as formas. A última esperança de Baki são três gerreiros de artes marciais, Gouki Shibukawa, Retsu Kaioh e Doppo Orochi, que ressurgem para ajudá-lo. Os Cavaleiros do Zodíaco: Saint Seiya (12 episódios; data de estreia ainda indefinida): Dentre os animes anunciados, sem dúvidas “Saint Seiya” foi o que mais repercutiu na imprensa internacional. Sucesso no Brasil na década de 1990, a obra será um reboot que atualizará a Guerra Galactica até o começo do arco dos Cavaleiros de Prata. Feito por imagens geradas por computador, terá uma temporada de 12 episódios com cerca de 30 minutos cada. A produção continua sob responsabilidade da Toei Animation e direção de Yoshiharu Ashino.
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INDICAÇÕES
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Arte e Resistência // TEXTO
Carolina Cassese
arte? // Diagramação
É inegável que o Brasil, atravessa um momento instável e caótico. Exposições de arte são invadidas e artistas se tornaram alvos de diversos tipos de violência. No último dia 30, a assessora de imprensa do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) foi agredida por uma manifestante com um soco, além de ter sido chamada de “pedófila”. Outros funcionários desse museu
VICS
também foram violentados. O curador da exposição Queer Museu, Gaudêncio Fidélis, afirma ter recebido incontáveis ameaças de morte. Diante desse cenário, a própria arte pode funcionar como um antídoto contra tamanha agressividade. Confira abaixo alguns documentários que trazem análises e reflexões sobre o papel da arte na sociedade.
Pixo
(2016)
Dirigido por Roberto T. Oliveira, o documentário é uma imersão no cotidiano dos pixadores. Primeiramente, há uma contextualização histórica do movimento, que ganhou força no início da década de 80. Em seguida, PIXO apresenta depoimentos de pixadores conhecidos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Diversas falas traçam um paralelo entre as pixações nas duas cidades, apontando as diferenças estéticas - em relação ao tamanho das letras e nos traços - e evidenciando os cenários de convivência entre os pixadores. O documentário, que não carrega um tom moralista ou enaltecedor, funciona como um mergulho empático em uma realidade que muitas vezes parece inacessível.
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» outlander Baseada na série literária de mesmo nome, de Diana Gabaldon, o seriado, atualmente na terceira temporada, conta a história da inglesa Claire Beauchamp, enfermeira na Segunda Guerra Mundial e casada com o historiador e professor Frank Randall. Após anos separados pela guerra, o casal viaja para as Terras Altas da Escócia a fim de restabelecer o relacionamento, porém, Claire é subitamente tele transportada 200 anos no passado, para 1743. Sozinha, em meio ao levante jacobita, Claire precisa aprender os costumes da época para sua sobrevivência, e descobrir uma forma de voltar ao seu tempo.
McCullin (2012) Don McCullin é um dos fotógrafos de guerra mais reconhecidos e premiados da história. Começou a clicar nos anos 1950, registrou a guerra do Vietnã e diversos acontecimentos do século XX. O documentário, que retrata a obra do artista, proporciona também reflexões sobre o jornalismo, a fotografia e questões éticas. O espectador é convidado a presenciar cenas tão impactantes quanto as discussões que o documentário propõe.
Divinas Divas (2016) Com a direção de Leandra Leal, o longa conta a história da primeira geração de artistas travestis do Brasil. O filme, que foi muito bem recebido pela crítica, retrata o reencontro de nomes como Rogéria, Jane Di Castro, Camille K, Marquesa e Valéria para a montagem de um novo espetáculo. O preconceito que todas essas artistas sofreram na época é uma pauta debatida na obra, que também conta a história do Teatro Rival, localizado na Cinelândia.
Marina Abramovic - A Artista Está Presente (2012) O documentário, produzido pela HBO, é uma retrospectiva da performance mais famosa de Marina Abramovic no Museu de Arte Moderna de Nova York (MOMA). A artista é conhecida por se expor a situações-limite, como fez na obra em que ela se deitou nua ao lado de um esqueleto. A performance A Artista Está Presente consiste em um cenário composto por uma mesa e duas cadeiras em que Abramovic se senta em uma das cadeiras e o visitante do museu se senta na outra, ficando de frente com a artista. O documentário retrata não somente as reações dos visitantes, mas também os bastidores da criação e a repercussão da obra. 111
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tirinhas
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tirinha um; Halloween - JoĂŁo e Pedro por Rafael Rallo
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tirinha dois; Rafa Zumbi por Rafael Rallo
zint.online | 115
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FOTOGRAFIA
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ensaio um; fotógrafo; ana luisa santos, 21 anos belo horizonte, minas gerais inspirações;
Annie Leibovitz, Bárbara Magri, Fernando Chassot, Matt Ferr, Fabs Grassi
“são muitas as inspirações. séries, filmes, livros, música e, principalmente, fotógrafos. acompanho o trabalho de todos os que admiro pelo instagram, mas estes têm estilos que me agradam muito” portfólio; flickr.com/fotografar-te instagram.com/analuisa.fotografia/
zint.online 118 | zint.online
modelo; bettie adams
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modelo; bettie adams
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PLAYLISTS
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ANITTA // hit singles
O cenário musical brasileira atual tem Anitta como um de seus maiores representantes. Fenômeno nacional, a carioca hoje trabalha para lançar material no mercado internacional (em espanhol e inglês).
ADELE // singles
ADELE chegou ao ponto onde dispensa introdução. A britânica acabou de lançar um álbum de gigantesco sucesso, assim como uma turnê mundial, entrando em hiatus inderteminado.
BEBE REXHA // apresentando
Bebe Rexha é uma cantora nova-iorquina de ascendência albanesa, já tendo colaborado com artistas como Nicki Minaj, Louis Tomlinson, David Guetta, Martin Garrix, Lil Wayne e G-Eazy.
ANNE-MARIE // apresentando
Anne-Marie é uma cantora inglesa de 26 anos, com cinco singles na parada britânica, a UK Singles Charts. Seu primeiro álbum está previsto para 2017.
GOSSIP GIRL // comemorando
Em 2017, Gossip Girl, série de sucesso da The CW, comemora 10 anos desde o seu primeiro episódio. A produção tornou-se um marco televisivo, influenciando (e sendo influenciada pela) a moda e a música.
DUA LIPA // apresentando
Dua Lipa, uma cantora britânica-libanesa, viu a sua carreira escalar em nível mundial com o single New Rules. atingindo o #1 da UK Charts Singles. Seu primeiro e único álbum até o momento, Dua Lipa, atingiu a posição #5 na UK Albums.
KARMIN // apresentando
O auto-entitulado daring-est duo Karmin é formado por Amy e Nick Noonan; ela fica por conta dos vocais principais, enquanto ele se diverte nos backing vocals e na produção de todas as faixas da dupla.
JOEY BADA$$ // apresentando Joey Bada$$ é um nome em ascensão no cenário hip-hop/rap norte-americano, tendo nascido no mesmo lugar que artistas como JAY Z.
MINORIAS // paranorama
Nos últimos cinco anos, grupos minoritários tem conquistado mais espaço no Brasil, manifestando-se cada vez mais em diversos âmbitos, principal na/pela música.
KPOP // apresentando
O kpop é um gênero musical muito famoso no Oriente, gerando carreiras de sucesso e vendagem estrondosa. No Ocidente, a música vem ganhando cada vez mais fama, conquistando mais e mais fãs.
ONE DIRECTION // solos
Com o fim temporário do One Direction em 2016, os integrantes da boyband se dedicaram a carreira solo, apresentando não só um novo material, como novas influências musicais.
NICKI MINAJ // comemorando Nicki Minaj é a rapper com maior vendagem de todos os tempos, sendo uma das mais bem sucedidas artistas do meio. Em 2017 sua carreira completa 10 anos, com o aniversário de lançamento de sua primeira mixtape, Playtime is Over.
THE X FACTOR // comemorando
Com 14 anos no mercado, o The X Factor é um dos raros reality shows a colocar músicos de grande sucesso no mercado britânico e mundial. Foi no programa que artistas como One Direction, Little Mix, James Arthur e Leona Lewis foram descobertos.
PALOMA FAITH // apresentando Paloma Faith é uma cantora britânica com oito anos de carreira, seus três álbuns são Top 3 na UK Albums, maior parada musical do Reino Unido, e é ganhadora de um BRIT Awards, o Grammy britânico.
90’S GRUNGE & SHOEGAZE // nostalgia
Com um mundo pós Guerra Fria, a música apostou em uma mistura de estilos e do aperfeiçoamento de outros para trilhar a década de 90, com o tom melancólico e intimista reinando no underground.
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