EDIÇÃO #8 // A FORMA DA ÁGUA JANEIRO 2018
NA EDIÇÃO 2 ne1 ; a- l ouva-a- deus; A Fo r m a da Água; am er ican cr im e sto ry; b i g little lies; gr am m y awar ds; heath ledge; jum an ji; ki l l b i l l ; m alévo la; m e cham e pelo seu n o m e; m illen ium ; m oa na ; o ar tista do desastr e; o destin o de um a n ação ; o r ei d o sh ow; o scar awar ds; pela jan ela; r ida gigan te; sk in wa r s; th e po st - a guer r a secr eta; the sin n er ; the squar e
editorial;
É a oitava Edição da revista e trazemos o maior volume até agora! Temos dois Especiais nesse número, um para os 10 anos da morte de Heath Ledger e outro para mostrar os indicados para o Academy Awards de 2018! A ZINT #8 vem com matérias sobre A Forma da Água, que é a nossa Capa do mês. Além, temos textos sobre Jumanji, os Grammy Awards, Me Chame Pelo seu Nome, Big Little Lies, American Crime Story, e muitos outros. O Guia do Entretenimento vem com três novas palavras para você aprender, enquanto o Calendário Cultural mostra os principais lançamentos pro mês de fevereiros, como o muito antecipado “Pantera Negra” e as estreias de outros títulos indicados ao Oscar. Aproveitem!
A ZINT é uma revista mensal e gratuita voltada às áreas de Arte, Entretenimento e Cultura, em formato de publicação digital. Acreditamos na nossa independência editorial e esperamos que, dentro dos mais variados formatos de textos, possamos trazer alguma abordagem inventiva ou inédita aos assuntos que permeiam o campo do jornalismo cultural.
João Dicker & vics
Editores-chefes e idealizadores da ZINT
O QUê QUE A ZINT TEM? Aproveitando das possibilidades de uma publicação online, a revista conta com algumas interações bem legais. Para que nenhum leitor fique sem usufruir 100% do oferecemos, um manual de como funciona a ZINT.
Com uma publicação online, as possibilidades de interações são promissoras. Usando a plataforma digital ao nosso alcance, a revista pode sempre vir acompanhada de objetos interativos. A
ZINT
aproveita de todos esses recursos, e você pode usufruir de tudo de uma forma bastante simples e rápida. Capítulos
Em primeiro lugar, é interessante apontar que a revista funciona por Capítulos. As barras laterais correspondem ao capítulo correspondente: Laranja para Literatura, Roxo para Música, Azul-Céu para Séries, Verde-Grama para Filmes, Azul-Marinho para Tirinhas, Verde Água para Playlists, e, claro, Amarelo para Capa. Assim, fica fácil identificar o tipo de conteúdo em que você se encontra.
Vídeo e Áudio
Com uma revista de Entrenimento e Cultura em mãos, é simplesmente impossível não relacionar as matérias com um conteúdo digital. Um vídeo, um filme, uma música, uma playlist. No papel físico, tais interações são impossíveis de serem atingidas por motivos óbvios. Mas digitalmente, tudo é muito fácil. Toda vez que um matéria vier com qualquer tipo de conteúdo de Vídeo/Áudio, a imagem de destaque virá acompanhada de ícones correspondentes, como a ícone vermelha do Youtube. Se a matéria tiver mais de um conteúdio audiovisual, cada imagem disponível ao longo da matéria terá os mesmos ícones. Basta passar o mouse ou o dedo por cima da imagem, que ela se mostrará como um link. Clique, e seja redirecionado para o conteúdo! No caso de vídeos únicos (e não em playlist), o player será aberto dentro da própria revista, não interferindo na sua experiência.
Links
Além do conteúdo audiovisual principal, as vezes as matérias contém inúmeros outros links de Vídeo/ Áudio, tornando difícil colocar ícones para todos. Também acontece de uma matéria ter um link para outra matéria. Para isso, foi criado uma forma bem fácil de identifica-los: todos os links são sublinhados. O sublinhamento tem o efeito do marca-texto, parecendo que aquela parte do texto foi, de fato, destacada por um. Esta é a identificação de um link; uma linha grossa em Amarelo, a cor oficial da revista. Rodapé
O easter-egg da revista. No rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint. online sublinhado também é um link. Neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog. //
IDEALIZADORES
colab
DESENHO
colab
DIAGRAMAÇÃO
S E R ES DAS ÁGUAS
|
colabs
FOTOGRAFIA
colabs
TEXTO
idealizadores; joão dicker, vics desenho; rafael rallo
em ordem alfabética, da esquerda para a direita
eq uipe da edição
diagramação; maria nagib // vics fotografia; ana luisa santos, paulo puiati texto; bárbara lima, bruna curi, carolina cassese, deborah almeida, fábio gomides, giulio bonanno, jader, theóphilo, julio puati, raquel almeida, roberto barcelos, ruth berbert // joão dicker, vics
CALENDÁRIO CULTURAL A FORMA DA ÁGUA QUi.
01
q ui .
cinquenta tons de liberdade
q ui .
meu amigo vampiro o sacrifício do cervo sagrado
08 08
fifty shades freed
q u i.
a repartição do tempo
q ui .
q u i.
paddington 2
q ui .
o insulto
q ui .
sem amor
sex .
always ascending
01 01
A.P. BIO
q u i.
01
1ª Temporada
01
todo o dinheiro do mundo
sex .
altered carbon
qu i.
02
1ª Temporada
man of the woods
08 08 08 09 sex .
09
álbum de franz
ferdinand
crooked shadows
álbum de dashboard
confessional
little dark age
se x .
09
álbum de mgmt
álbum de justin
timberlake
sex.
02
11 2 dope queens
dom.
EA SPORTS UFC 3
seg.
shadow of the colossus
ter.
s ex .
02 s ex .
02 ter.
06 2018
here and now
dom.
1ª Temporada
para PS4,
XBOX ONE
para Playstation
JAN
FEV
4
1ª Temporada
homeland
11
7ª Temporada
american dad
12 13 MAR
15ª Temporada
Kingdom come: deliverance para pc,
ABR
ps4, xbox one
MAI
JUN
a agenda traz as datas dos principais lançamentos e estreias do mês de FEVEREIRO para as áreas de FILMES, MÚSICA, SÉRIES e JOGOS.
pantera negra
q ui .
22
QUi.
25
lady bird - é hora de voar
seg.
mudbound - lágrimas sobre o rio missipi
seg.
três anúncios para um crime
seg.
everything sucks!
seg.
26
3ª Temporada
mozart in the jungle
seg.
unsolved
qu i.
15 15 sex .
16 s ex .
16 t er.
20
final space
seg.
15
qu i.
3ª Temporada
eu, tonya
qu i.
15
ash vs evil dead
dom.
15
qu i.
pequena grande vida
26
1ª Temporada
good girls
26
1ª Temporada
living biblically
26
1ª Temporada
the voice
26
1ª Temporada
14ª Temporada
unreal
27
4ª Temporada
1ª Temporada
far cry 5
metal gear survive para pc,
ps4, xbox one
para pc,
ps4, xbox one
ter.
qu i.
A grande jogada
qu i.
pequena grande vida
q ua .
28
36ª Temporada
trama fantasma
q ua.
the looming tower
22 22
qu i.
22 JUL
AGO
SET
27 survivor
28 OUT
1ª Temporada
nov
DEZ
2019
dicionário // guia do entretenimento
Não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, ficando sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados pelas pessoas da área. E as vezes, até mesmo quem está inteirado, pode acabar desconhecendo alguma palavra do meio. Por essa e outras, a ZINT se prontificou a explicar alguns dos termos utilizados no mundo do entretenimento, em todas as áreas que a revista cobre. Mês a mês, novas palavras irão figurar por aqui, de acordo com as matérias que forem publicadas e os termos que as mesmas apresentarem. Ficar fora da conversa? Nunca mais!
r eboot
reinício // o REBOOT é um termo utilizado para filmes e/ou franquias que serão reiniciadas, recomeçadas do zero. mas atenção: quando um filme recebe esse reset, a história pode sofrer mudanças substanciais no seu roteiro, mas a trama base geralmente continua a mesma. neste caso, também não há necessidade de ligações entre o reboot e o original. << “Planeta dos Macacos: A Origem” (2011) é um reboot da franquia original de cinco filmes, que estrearam entre os anos de 1968 e 1973 >>
EP
o LEAD SINGLE é uma sigla para a palavra, em inglês, “extended play”, cuja tradução é um tanto difícil de estabelecer. porém, o EP é um álbum curto, geralmente possuindo algo em torno de 2 a 8 músicas, não sendo extenso o suficiente para ser considerado um álbum. << O primeiro lançamento de Justin Bieber, o “My World”, é um EP, justamente por conter apenas sete faixas. O quinteto a capella Pentatonix é conhecido por optar pelo lançamentos de EP à álbuns completos. >>
CROSSOVER
encontro, cruzada // amamos amar e estamos sempre pedindo por um. o cROSSOVER é o encontro de duas ou mais séries, que muitas vezes fazem parte de um mesmo universo. antigamente, eram eventos raros de acontecer, mas hoje em dia são mais comum, principalmente para promover franquias televisivas, compartilhar audiências e converter novos fãs. << Hoje, a The CW é o canal que mais promove crossovers, devido seu atual catálogo conter quatro das séries mais populares da DC (Supergirl, The Flash, Arrow e DC’s Legends of Tomorrow). Os personagens dos quatro programas já se encontraram duas vezes, sem contar as (diversas) vezes em que Arrow e The Flash já compartilharam o mesmo episódio. >>
[
jogos p.16
]
Os games mais esperados de 2018 Julio César Puiati
o rei do show pág. 34
S UMÁRI O
[ filmes ] p.24
Uma fábula poética João Dicker p.28
Uma divertida aventura na selva Bruna Curi p.32
Uma ode aos sonhos destruídos João Dicker p.34
O magnífico show criado por Michael Gracey Bruna Curi p.38
A arte que transborda seus limites João Dicker p.42
Um verão de 1950 Carolina Cassese p.44
O florescer dos pessegueiros Roberto Barcelos
heath ledger pág. 80
p.48
Uma manifesto ao jornalismo e liberdade de expressão João Dicker p.52
Um filme de poucas palavras e muitas histórias Fáboo Gomides p.56
Escuridão predestinada Giulio Bonanno p.60
Incentivo x Desafio – Uma lição de Moana Ruth Berbert
[
especial p.64
]
Os indicados ao Oscar 2018 p.80
10 anos sem Heath Ledger Ruth Berbert
me chame pelo seu nome pág. 44
[
música p.92
]
Grammy 2018: A maior premiação da música e as contradições do evento Jader Theophilo p.102
Um ano sem 2NE1 Bruna Curi
p.108
2ne1 pág. 102
Primeiras Impressões: American Crime Story, S02E01: “The Man Who Would Be Vogue” vics
p.114
A complexidade do cotidiano em “Big Little Lies” Carolina Cassese p.118
Os pecados de Cora Carolina Cassese p.120
The End of The F***ing World Bárbara Lima p.122
Skin Wars: quando as telas ganham vida Deborah Almeida
[
]
indicações p.126
Frias e calculistas: cinco vezes em que mulheres assumiram o papel de anti-heroína Raquel Almeida
[
tirinhas p.134
]
Café // Unha Rafael Rallo
[
fotografia p.138
]
Rato
Paulo Puiati p.152
american crime story pág. 108
Carnaval
Ana Luisa Santos
[
playlists p.164
Todas
Equipe ZINT
]
SUMÁRIO
[ séries ]
[
JOGOS
]
Os games mais esperados de 2018
Horizon Zero Dawn, The Legend of Zelda: Breath of Wild, Hellblade: Senua’s Sacrifice, Persona 5, Cuphead, PlayerUnknown’s Battlegrounds... 2017 nos revelou gratas surpresas no mundo dos games, tanto no mercado mainstream quanto no setor indie. Mas, olha... 2018 não vai ficar pra trás, viu? E digo mais: é um ano que pretende ser melhor ainda! E por isso separamos uma lista com os cinco games mais esperados do ano.
T E X T O //
j u l i o c é s a r p u i at i
d i a g r a m a ç ã o //
vics
Red Dead Redemption II
Não só de GTA vive a Rockstar Games. Prometida para 2017, a tão sonhada continuação de Red Dead Redemption ficou para este ano. E pelo o que vimos no segundo trailer divulgado pela produtora norteamericana... os fãs da franquia já podem comemorar. Os motores gráficos do jogo estão ainda mais impressionantes, agora, na nova geração de consoles. Red Dead Redemption II se passa antes dos acontecimentos do primeiro game e o novo protagonista é Arthur Morgan. Morgan é membro da mesma gangue de bandidos de John Marston, personagem principal do primeiro título. Então já podemos esperar links e associações diretas entre a história de ambos os jogos. É de se esperar que a continuação também amarre pontas deixadas no enredo de 2010. Carroças, espingardas, xerifes, cowboys, perseguições a cavalo e as principais características do cinema western norte-
-americano continuam em Red Dead II. A diferença é que agora o game possivelmente abordará os tempos de ouro e o apogeu do período histórico, já que Red Dead I se passou no declínio da expansão do Velho Oeste. A Rockstar é conhecida por sempre inovar. Desde os primórdios da produtora. E Grand Theft Auto V está aí para provar. Será que os desenvolvedores do game tentarão inserir elementos de jogabilidade inéditos na continuação da franquia? Ou apenas seguirão a receita do sucesso alcançada há oito anos? Ficaremos no aguardo. Red Dead Redemption II é um jogo de ação-aventura, em terceira pessoa e mundo aberto para PlayStation 4 e Xbox One. Ainda não há data de lançamento, mas se levarmos em conta que a Rockstar Games adora publicar os seus títulos no mês de maio, é provável que possamos desfrutar do jogo ainda no primeiro semestre de 2018. Hi-yo, Silver! zint.online | 17
Monster Hunter: World
Monster Hunter finalmente está de volta! E mais popular e reconhecido do que nunca. O game, que por muito tempo se limitou ao sucesso apenas em território japonês, é agora esperado por grande parte da comunidade gamer. Desenvolvido pelos estúdios da Capcom, a franquia chega ao seu sexto título primário com muito hype e expectativa. Monster Hunter: World se passa em um mundo fantasioso com criaturas pitorescas, diversidade de elementos naturais e combates de tirar o fôlego. Os jogadores poderão customizar o seu personagem e o seu Palico, uma espécie de felino companheiro de caçada. E a ideia do jogo é simples e divertidíssima: caçar monstros a partir de pistas, rastros e pegadas deixadas pelas criaturas. A ambientação é linda e os cenários deslumbrantes. Os monstros possuem maneiras próprias de se comportar, lutar e agir, além de um arsenal de armas, armaduras e itens craftáveis vasto. A depender 18
da situação, teremos de utilizar espadas, machados, martelos e estratégias específicas para derrotar determinados tipos de criatura. Tudo tem que ser bem pensado antes do duelo. O enredo nunca foi o foco da franquia, e não é diferente em Monster Hunter: World. A essência do game consis, mais uma vez, em missões e recompensas. Seremos instruídos a caçar monstros, coletar informações e realizar pesquisas. Acumulando recompensas poderemos adquirir novos itens para o set, incrementar armas e armaduras, conseguir buffs e nos tornar mais fortes. O modo campanha poderá ser jogado tanto em single player quanto em co-op. Monster Hunter: World é um game de ação, RPG e mundo aberto em terceira pessoa. O título estará disponível para PlayStation 4 e Xbox One dia 26 de janeiro. A versão para PC, sem previsão, deve ser lançada ainda em 2018. Preparem a suas armas que a caçada já começou!
Shadow of The Colossus
Um dos jogos eletrônicos mais influentes, icônicos e históricos da indústria de vídeo-games ganhará um remake espetacular em 2018. Estamos falando de Shadow of The Colossus, desenvolvido pela SCE Japan Studio e distribuído pela Sony em 2005, à época, para PlayStation 2. Antes de falarmos um pouquinho sobre o título, vamos esclarecer algumas definições: remake é totalmente diferente de remaster! Uma remasterização é o relançamento de um jogo antigo, cuja estrutura permanece a mesma. Nada é refeito. São apenas os gráficos que são melhorados para dispositivos de reprodução novos e consoles de nova geração. Exemplos: The Last of Us e Uncharted: The Nathan Drake Collection. Um remake é mais complexo. É também um relançamento de jogo antigo que visa a atualização de gráficos, mas o game é totalmente refeito. Do zero. Isso dá liberdade para os desenvolvedores alterarem elementos de jogabilidade, mecânica, cenário e ambientação caso necessário. Exemplos: The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D e Final Fantasy VII. Shadow of The Colossus, portanto, foi totalmente refeito. Não são só os gráficos que
estão visivelmente mais bonitos, vivos e detalhados, o game também recebeu um novo tratamento em sua estrutura de gameplay. O game conta a história do jovem cavaleiro Wander e a Região Proibida – um universo habitado por 16 criaturas gigantes. Guiado pela voz de uma entidade sem corpo e brandindo uma espada mágica, Wander precisa derrotar os 16 gigantes, conhecidos como Colossi, para trazer uma certa donzela chamada Mono de volta à vida. A narrativa é o ponto forte do jogo, que propões reflexões espirituais. Sério. Chega até a arrepiar. O game é de uma intensidade emocional que é difícil verbalizar, pois a complexidade do enredo e da construção dos personagens nos faz mergulhar de ponta à cabeça na jornada. A ausência de interação com NPC’s, cidades e civilizações torna a experiência única. Sem falar da trilha sonora envolvente. Shadow of The Colossus é um game de ação-aventura, puzzles e de mundo aberto em terceira pessoa. A franquia é exclusiva para PlayStation 4 e estará oficialmente disponível nas prateleiras no dia 6 de fevereiro. A Bluepoint Games ficou responsável pelo remake desta grandiosa e épica história. 19
Far Cry 5
Com uma pegada totalmente inédita, a franquia Far Cry chegará ao seu quinto jogo em 2018. Desenvolvido pelos estúdios da Ubisoft, o game não é uma continuação de Far Cry 4. A história se passa na cidade fictícia de New Hope, localizada no interior do estado de Montana, Estados Unidos, e promete bastante! Far Cry 5 contará a história de uma seita religiosa um tanto quanto excêntrica chamada Eden’s Gate. O grupo radical é controlado pelo líder Joseph Seed – uma espécie de coronel da cidade – e este será o nosso inimigo principal. Seed fundou uma igreja no vilarejo, manipulou os cidadãos e prometeu-lhes a salvação em troca de total apoio ao culto. Será o nosso dever, portanto, impedir os planos maquiavélicos do coronel. Para isso contaremos com o apoio de um grupo de resistência composto por moradores de New Hope e região. 20
Então já podemos esperar muito tiro, porrada e bomba de guerrilha, né? Bem ao estilo Far Cry de ser. A ambientação e o mapa aberto rico em detalhes impressionam como sempre. E o elementos gráficos de Far Cry 5 são bem fiéis ao interior norte-americano: celeiros, bosques com lagos e animais silvestres, tacos de baseball, tratores, trailers, aviões monomotores, espingardas e todo aquele countryside way of life que geralmente encontramos no cinema. Teremos ao nosso dispor uma grande variedade de armas e veículos, todos customizáveis. O modo campanha pode ser zerado tanto em single player quanto co-op. Far Cry 5 é um game de ação-aventura e mundo aberto em terceira pessoa. A lançamento está previsto para o dia 27 de março, disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. Até lá é melhor ir calibrando a sua mira, viu? Ou melhor. O seu bastão de baseball.
God of War
Por fim, e não menos importante, a cereja do bolo: God of War. O título, totalmente inédito, será o reinício da história do nosso amado protagonista Kratos – na nova geração de consoles – após os acontecimentos de God of War III. O game é desenvolvido pela SIE Santa Monica Studio, com distribuição pela Sony. A gameplay do jogo divulgada na E3 de 2016 deixa qualquer um de queixo caído. E as novidades são muitas! A mitologia grega dará espaço à mitologia nórdica. Kratos, visivelmente mais velho e cansado da sua luta por vingança na trilogia original, agora é pai de um pequeno garotinho. O jogo, portanto, vai explorar toda essa questão da relação paternal entre os dois personagens principais. Agora imagina AQUELE Kratos todo durão ensinando o seu filhote a caçar, batalhar e sobreviver? Não tem como não ficar hypado, né? As mecânicas de jogabilidade também
mudaram. Poderemos controlar Atreus, filho de Kratos, em situações específicas da campanha. A câmera cinematográfica fixa em terceira pessoa deu lugar à câmera livre. E nada de Lâminas do Caos. O deus da guerra agora tem ao seu dispor um machado de batalha mágico infundido com poderes elementais. Os quick time events estão de volta. O jogo vai contar com mais elementos RPGísticos do que os títulos anteriores. E por fim, os cenários são grandes e espaçosos. Mas não se engane: ainda não temos um jogo de mundo aberto. God of War é novo, diferente e encantador. E impecavelmente bem produzido. Sem falar que a nova personalidade de Kratos – mais calmo e reflexivo – tem tudo para nos oferecer uma experiência de jogo totalmente diferente do que já vimos na franquia. O exclusivo para PlayStation 4 é um game de ação-aventura em terceira pessoa e será lançado no dia 20 de abril. //
21
[
filmes
]
T E X T O //
joão dicker
d i a g r a m a ç ã o //
vics
Uma fábula poética Nas primeiras décadas do século XX, período em que o cinema passou por inúmeras experimentações estéticas, narrativas e tecnológicas, iniciou-se o que pode ser considerado como os primórdios do entendimento de que o cinema possui uma linguagem própria. Desde então, com os avanços da sétima arte enquanto manifestação artística cultural e como indústria, tornou-se claro que um filme depende da linguagem cinematográfica e da forma como ela é trabalhada para garantir a atenção do espectador, assim como construir a atmosfera que uma película procura representar nas telas. 24| zint.online
No cinema contemporâneo, Guillermo Del Toro se consagrou como um cineasta que domina diferentes maneiras de impressionar e transportar seu público para dentro da tela de cinema, usando sempre de um cuidado estético apuradíssimo e de uma direção de arte impecável para trazer vida aos contos, histórias e criaturas que cria. Dito isso, nada mais justo do que evidenciar que em seu mais novo longa-metragem, A Forma da Água (2017), o diretor não só entrega um de seus melhores trabalhos técnicos e estéticos, elogio que se estende a toda sua equipe de produção artística, mas também demonstra um total controle criativo e muita maturidade nas decisões criativas de sua nova produção. Ambientado nos anos 60, a trama do longa acompanha Eliza Esposito (Sally Hawkins), uma mulher muda
que trabalha como faxineira em uma base militar de pesquisas científicas. Em um dia comum de trabalho, ela presencia a chegada de uma criatura humanoide-anfíbia ao laboratório, que passa a ser utilizada como
s a l ly h a w k i n g s é a grande estrela do filme, ao dar vida à protagonista eliza esposito
cobaia de testes e exames biológicos. Assim, a mulher passa a se relacionar com a criatura e após presenciar diversos mau tratos e descobrir que ela será morta para dissecação, decide tira-lá da base militar e livra-lá de todos os problemas. Entretanto, sua missão de resgate encontra no chefe de segurança Strickland (Michael Shannon) um implacável e maléfico impedimento. Apesar de sua premissa simples, que em um primeiro olhar pode ser vista como uma corriqueira história de um romance desajustado, A Forma da Água é um filme repleto de nuances e camadas que se desvendam aos olhos do espectador durante a sua projeção. É verdade que o epicentro da obra é o romance entre a faxineira muda e a criatura anfíbia, mas Del Toro consegue mesclar gêneros cinematográficos com organicidade, dando mais fôlego a narrativa e as simbologias existentes no longa. É um trabalho que consegue homenagear outros filmes e épocas da sétima arte, mas ao mesmo tempo possui muita identidade na maneira como todos esses elementos se completam e agregam uns aos outros. Ainda, existe um lirismo intrínseco na obra, que logo em sua abertura é introduzido com uma narração em off que também estabelece o tom fantasioso da narrativa, e que junto da evocativa trilha sonora de Alexander Desplat asseguram os tons poéticos que perduram durante toda a projeção. Toda essa poesia que Del Toro propõe,
s a l ly hawkings e doug jones, como o misterioso anfíbio protagonista
conta também com o design de produção e uma direção de arte impecáveis. Mesmo que o diretor seja conhecido por trabalhar bem com efeitos práticos, maquiagens e por construir sets fantasiosos extremamente verossímeis e por trabalhar com uma equipe qualificada para tais funções, A Forma da Água é a produção de maior apuro estético em sua filmografia. O design de produção é rico em detalhes, cores e texturas, utilizando de uma paleta de cores focada nos tons de verde e azul, evocando a atmosfera sessentista do longa, ao passo que a iluminação flerta com os jogos de sombras do cinema noir. A cinematografia de Dan Lausten explora dos tons esverdeados e de filtros que combinam com a paleta de cores para tornar toda a estética do longa turva, além de utilizar de planos mais abertos que captam todo esmero estético existente nos cenários e figurinos. A escolha consoa com a falta de pudor que Del Toro filma os acontecimentos (que vão desde cenas mais gráficas e aflitivas de violência, até momentos tocantes de sensualidade), mostrando que o diretor tem total consciência dos movimentos de câmera e da decupagem necessária para valorizar a plasticidade de seu filme. No meio de todo o primor estético que enche a tela e os olhos, responsáveis por atrair o 26| zint.online
espectador para a fábula que é apresentada, há espaço para que o ótimo elenco entregue personagens profundos, mesmo quando não são tão bem construídos. Michael Shannon é intenso na forma com que dá vida a um típico antagonista de fábulas clássicas, utilizando de toda a crueldade possível para enfatizar não só os maus tratos à criatura mas também a todos os pensamentos machistas, racistas e preconceituosos que Strickland dispara a quem lhe convêm. Michael Stuhlbarg dá profundidade, dualidade e camadas à um personagem que apesar do esforço do roteiro em dar importância na trama, acaba sendo irritante para o espectador por tomar tempo da narrativa que poderia ser mais focada no relacionamento amoroso dos protagonistas. Octavia Spencer se sai bem com o pouco que o roteiro entrega, vivendo a amiga fiel e de personalidade forte de Zelda. Completando a turma dos coadjuvantes, Richard Jenkins faz um artista que se definha nas mudanças e avanços tecnológicos de seu tempo, que ganha substância pela atuação do interprete mas que também é pouco trabalho pelo texto e acaba funcionando como uma ferramenta narrativa para adicionar alguns discursos políticos que soam desnecessários ao longa. Sally Hawkins brilha trazendo a tona emoções genuínas de uma personagem profunda e
com personalidade forte. A atriz transita da ternura no olhar da faxineira nos momentos de encontro com a criatura, da forma leve, doce e graciosa com que se relaciona com a figura humanoide, para momentos de apreensão, desespero, dor e explosões de raivas transmitidas por uma atuação corporal difícil, mas realista. Doug Jones, acostumado a trabalhar com este tipo de papel (assim como fez com Del Toro em O Labirinto do Fauno, de 2006, e Hellboy, de 2004) conclui o trabalho impecável de caracterização do departamento de arte e maquiagem ao trazer emoções a criatura, com uma atuação muito expressiva e rica em linguagem corporal, utilizando de gestos e de olhares para se comunicar com Elisa. Toda a relação entre dois seres de espécies diferentes que não conseguem verbalizar palavras ou se comunicar propriamente por sons, fica ainda mais crível e envolvente pela química e pela trocas de olhares apaixonados, curiosos e profundos de ambos os atores. Ainda sobra tempo para o diretor homenagear filmes que lhe são queridos e para cultuar o cinema
como arte e como forma de comunicação e transmissão de sentimentos. São menções oras sutis, oras mais visíveis de gêneros e estilos diferentes dentro do longa que se completam não como um pastiche de referências, mas como uma metalinguagem enriquecedora para a a aura de fábula que o longa possui. Ao final, A Forma da Água não sofre com os poucos deslizes que seu roteiro apresenta, se edificando como um filme profundo, rico em detalhes e nuances que ganham vida na tela graças a genialidade de um cineasta que mostra, mais uma vez em sua filmografia, que o cinema pode ser poesia audiovisual. // guillermo del toro d i r i g e s a l ly hawkins e octavia spencer
Michael Shannon (esquerda) dá vida ao maléfico chefe de segurança Strickland, enquanto Octavia Spencer (direita) é responsável pela carismática Zelda, melhor a m i g a d e E l i z a E s p o s i t o ( S a l ly H a w k i n s , a o c e n t r o )
UMA DIVERTIDA AVENTURA NA SELVA T E X T O //
Bruna Curi
d i a g r a m a รง รฃ o //
vics
Q
Quem nasceu na década de 90 e cresceu assistindo televisão aberta, provavelmente deve ter se deparado com Jumanji (1995), considerado um verdadeiro clássico da Sessão da Tarde. Dessa maneira, quando foi anunciada que a famosa obra ganharia uma sequência, muitos temeram qual seria o rumo que o longo iria tomar: basear-se no nostálgico filme de 1995 ou apenas aproveitar-se da marca para faturar. Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2018) chegou as salas de cinema na primeira semana de janeiro, mostrando-se uma surpresa positiva. Ao invés fazer uma cópia da antiga produção (como muitos temiam), o diretor Jake Kasdan optou por fazer um filme que homenageia ao clássico da Sessão da Tarde, ao mesmo tempo que atualiza seus
conceitos para o mundo atual. A trama gira em torno de quatro adolescentes: Spencer (Alex Wolff), um garoto muito tímido; Bethany (Madison Iseman), a garota patricinha e popular da escola; Fridge (Ser'Darius Blain), o astro do time de futebol americano; e Martha (Morgan Turner), uma verdadeira nerd. Mas com personalidades tão diferentes, o que poderia unir esses jovens? Ao cumprirem detenção, os adolescentes descobrem um antigo videogame e são transportados para dentro do jogo, que se trata do universo de Jumanji, outrora (no longa de 1995) um tabuleiro. Dentro do mundo virtual, os jovens ganham o corpo, as habilidades e as fraquezas dos seus avatares adultos, porém a personalidade de cada um permanece intacta. Spencer vira o Dr. Smolder Bravestone (Dwayne Johnson), um homem bastante forte e grande, com absolutamente nenhuma fraqueza; Bethany vira o Dr. Shelly Oberon (Jack Black), um homem de meia-idade, acima do peso e bastante inteligente; Fridge vira Moose Finbar (Kevin Hart), um homem baixinho e fraco, que serve apenas para ser o ajudante e possui diversas fraquezas, como, por exemplo, “bolo”; e, por fim, Martha vira Ruby Roundhouse (Karen Gillan), uma mulher jovem e bonita, com grandes habilidades em luta. Seguindo, na trama, os "jogadores" são alertados zint.online | 29
D a e s q u e r d a p a r a a d i r e i t a : A l e x ( N i c k J o n a s ) , P r o f e s s o r S h e l ly O b e r o n ( J a c k B l a c k ) , R u b y R o u n d h o u s e ( K a r e n G i l l a n ) , D r . S m o l d e r B r av e s t o n e ( D w ay n e J o h n s o n ) e M o o s e F i n b a r ( K e v i n H a r t )
que para saírem do jogo e voltarem para a realidade, eles precisam se unir para vencer o vilão Van Pelt (Bobby Cannavale) e restaurar a pedra da floresta de Jumanji. É interessante observar a inversão dos papéis em que os nerds e tímidos se tornam os personagens mais fortes do jogo e os populares se tornam personagens de apoio, criando ótimas deixas para piadas. Um dos personagens mais engraçados do longa é o Dr. Shelly Oberon, comicamente interpretado por Jack Black, que conseguiu dar vida a patricinha da escola, por sua vez indignada ao saber que se transformou em um homem de meia-idade. Outro personagem bastante cômico é Moose Finbar, que praticamente tinha um repertório de piadas completo para as mais diversas situações: desde seu tamanho até suas inúmeras fraquezas – mesmo com as mesmas caras e bocas de sempre, Kevin Hart sabe como ser engraçado. Ruby Roundhouse, interpretada por Karen Gillan é uma das personagens com maior crescimento ao longo do filme, sendo perceptível todo o amadurecimento que 30
a personagem passou no decorrer da trama. Bastante insegura no início do longa, um traço da personalidade de Martha, Ruby vai ganhando confiança sendo capaz de utilizar habilidades de luta num momento de perigo. Ainda, a química de Gillan com o The Rock acaba sendo bem agradável, rendendo até alguns momentos engraçados no final. A adição do personagem Alex (Nick Jonas) durante a trama foi uma verdadeira surpresa, mas que contribuiu para o andamento do filme, funcionando como a “peça” que estava faltando. O personagem de Alex possuiu uma carga dramática maior do que os outros, ajudando o clímax da película a ser mais envolvente e com riscos elevados para os personagens. É tudo ou nada para eles. Alex, ainda, funciona como uma espécie de conexão com o filme original. Estando preso em Jumanji por muito tempo, o rapaz mora no mesmo local em que Alan Parrish, interpretado pelo icônico Robin Williams em 1995, morou quando foi sugado pelo jogo, no original. A homenagem é feita quando a gravação "Alan Parrish esteve aqui" aparece em uma árvore; ao ser
questionado quem é Alan, Alex diz não saber, apenas conhecer o fato de que era alguém que morou ali antes dele. Um detalhe importante para se observar é o espírito de renovação que o filme traz: o jogo deixa de ser um tabuleiro e vira um videogame, mais precisamente um jogo de cartucho. Além disso, a dinâmica de amizade estabelecida entre os quatro adolescentes remete ao clássico Clube dos Cinco (1985), mas sem as reflexões existencialistas de amadurecimento que a produção de John Hughes propõem. A união entre os personagens é reforçada muitas vezes durante Jumanji: Bem-Vindo à Selva, afinal de contas eles só vão conseguir escapar do jogo caso permaneçam juntos; é um verdadeiro trabalho em equipe. O filme conta com alguns elementos de videogames como as missões para passar de nível, o número de vidas (cada personagem possuiu apenas três), cutscenes que são utilizadas como flashback para explicar sobre a maldição que se
A.
alastrou sobre Jumanji (algo que deixa os personagens confusos) e diálogos de NPCs (personagem não jogável). Apesar de se tratar de uma história bastante divertida, Bem-Vindo à Selva acaba errando em alguns sentidos. O temível Van Pelt tinha grande potencial para desempenhar o seu papel de vilão, mas o personagem se tornou genérico, tendo acrescentado pouco à trama e não desempenhou muito bem a real ameaça que ele deveria significar para os jogadores. Jumanji: Bem-Vindo à Selva é um filme que apresenta uma proposta bem ousada, pegando um clássico do cinema para dar uma continuidade mais moderna. Mesmo tendo modificado alguns conceitos da primeira película, a atmosfera aventureira permaneceu a mesma de sempre. Jumanji pode não ser o longa mais brilhante de todos os tempos, mas cumpre o seu papel de divertir o telespectador entregando para o público um filme recheado de diversão e aventura. //
C.
B.
D.
A. na detenção, spencer, fridge, bethany e martha encontram “jumanji” e resolvem jogar uma partida; b. entre os poderes de spencer/bravestone está “intensidade ardente”; c. com mais fraquezas do que f o r ç a , f r i d e / m o o s e é o “a j u d a n t e d e a r m a s ” ; D. BEThany/RUBY é especialista em lutas o r i e n ta i s ; E . B E T H A N Y / S H E L LY É E S P E C I A L I S TA EM CARTOGRAFIA, ARQUEO E PALEONTOLOGIA
E.
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Uma ode aos sonhos destruídos T E X T O //
joão dicker
Quem consome produtos
artísticos-culturais com certeza tem o seu
próprio guilty pleasure. Seja um filme, uma série, um álbum de música, um livro ou até mesmo um artista; existem diversas coisas que mesmo sendo visivelmente muito ruins, gostamos da mesma forma. Considerado como o "melhor pior filme do mundo" The Room (2003), de Tommy Wiseau, talvez seja o maior guilty pleasure de todos os tempos, uma vez que, apesar de carregar tal título, acabou se tornando um sucesso cult que é reproduzido em diversas sessões noturnas em cinemas estadunidenses. Agora, passados mais de 10 anos da estreia, O Artista do Desastre (2017) conta a história de produção desta pérola que marcou o 32| zint.online
d i a g r a m a ç ã o //
vics
cinema. Adaptando o livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, The Greates Bad Movie Ever Mad, de Greg Sestero e Tom Bissel, o longa nos apresenta ao próprio Greg Sestero (interpretado por Dave Franco), um jovem ator que, assim como todos os outros iniciantes na profissão em Hollywood, sonha em se tornar um astro de cinema. Depois de conhecer o misterioso e peculiar Tommy Wiseau (James Franco), Sestero embarca em uma jornada para Los Angeles na tentativa de, junto de seu novo parceiro, se tornarem estrelas da sétima arte. Contudo, depois de meses falhando nas tentativas de papeis, a dupla decide produzir o seu próprio filme independen-
james franco, em destaque, com tommy wiseau ao fundo
te, que com a direção, produção, roteirização e atuação principal de Wiseau e atuação como coadjuvante de Sestero, viria a se tornar The Room. Um dos maiores acertos do filme reside na abordagem sutil e delicada com que Franco, que também dirige o longa, propõe a partir do roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, explorando de um olhar sensível para os esforços criativos e artísticos que Wiseau e Sestero tiveram na tentativa de realizar seu próprio filme. Se a indústria de Hollywood adora se promover como a terra da busca e realização dos sonhos épicos e glamourosos, como em La La Land (2016), O Artista do Desastre procura mostrar o outro lado da equação a partir do olhar dos que não alcançam o sucesso e tem seus sonhos frustrados ou destruídos. A delicadeza com que Franco aborda o tema e na forma tragicômica com que reconstrói as gravações de The Room fazem com que a experiência de seu novo longa seja interessante e forte mesmo para quem nunca assistiu ao filme de 2003, mas para quem já teve o prazer (ou desprazer) de assistir, o resgate de momentos ridículos e icônicos da produção agregam ao novo longa. Além da direção inteligente, Franco entrega sua melhor performance desde 127 horas (2010), dando vida a todos os trejeitos e manias caricaturais de Tommy Wiseau, reproduzindo a personalidade peculiar que tem em momentos que arrancam risadas pelo absurdo e pela vergonha alheia. O trabalho feito pela equipe de
maquiagem do longa é impecável na recriação de Wiseau, deixando Franco irreconhecível nas próteses e na longa peruca negra que o ajudam a se tornar outra pessoa em tela. É uma atuação que demanda muita entrega física do ator, mas quando o personagem exige que o ator transcenda emoções, Franco entrega o necessário. Seu irmão, Dave Franco, também se sustenta com uma atuação forte no longa, levando para a tela toda a organicidade e química que possui com o irmão, o que ajuda a tornar a relação dos protagonistas ainda mais crível e identificável. O que prejudica o filme é a dificuldade de não se tornar um documentário, trazendo tramas secundárias que trabalham questões pessoais dos atores que apesar de terem influenciado a todos na época em que The Room foi produzido, acaba sendo pouco atrativa para o espectador que está entretido na jornada estapafúrdia e caótica dos jovens atores que querem alcançar seus sonhos. É como se, principalmente no primeiro ato, quando somos tirados das cenas em que acompanhamos as gravações, passamos a querer assistir a mais daquelas bizarrices cômicas. Se em uma das canções mais famosas e simbólicas de La La Land, Audition (The Fools Who Dream), Emma Stone faz uma ode aos tolos que sonham em Hollywood, O Artista do Desastre dá vida aos tolos que normalmente não chegam as telas, sendo sustentado por atuações afiadas e por um olhar delicado e sensível sob a jornada criativa de jovens artistas. // zint.online | 33
O magnífico
show criado por Michael Gracey T E X T O //
Bruna Curi
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vics
P.T. Barnum (1810-1891) ficou conhecido na história por ser um showman e empresário do ramo do entretenimento norte-americano, sendo lembrado também por estar envolvido em fraudes famosas e por criar o circo que mais tarde viria a se tornar o Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus. Apesar de ser conhecido por ser seu comportamento abusivo, agressivo, preconceituoso e egóico com seus funcionários, Barnum teve um papel fundamental na história do entretenimento norte-americano. O filme O Rei do Show (2017) retrata a vida do empreendedor; mas a impressão que o longa traz, do início ao fim, é de que se trata de um verdadeiro conto de fadas devido o uso de cores fortes e vivas, as músicas e coreografias e aos cenários, que ajudam a construir essa impressão, transformando a vida do showman em uma história fantasiosa e não só uma mera cinebiografia – que, ao final, torna-se algo positivo.
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A trama do longa gira em torno de P.T. Barnum (Hugh Jackman) um homem de origem humilde e sonhador, que conseguiu se casar com a mulher de seus sonhos, Charity (Michelle Williams), desafiando as barreiras sociais da época. A sua grande motivação é conseguir proporcionar uma vida melhor para sua mulher e filhas e o pontapé inicial que Barnum dá é abrir um museu de curiosidades, um de seus maiores desejos.
a atriz K eala Settle é r espo n sável po r um do s m o m en to s m ais alto s do film e, co m a m úsica “this is M e”, que gan ho u “m úsica o r igin al” n o go lgen glo be awar ds 20 18 e está in dicado n a m esm a catego r ia n o academ y awar ds
Na cabeça de Barnum, o museu tem tudo para ser um verdadeiro sucesso, mas o empreendimento acaba fracassando. É nesse momento que ele decide colocar em prática uma alternativa ousada para a época: produzir um show estrelado por freaks, bizarrices e fraudes. Uma mulher barbuda, um anão com voz grossa e o homem mais gordo do mundo passam a ser estrelas do show criado por Barnum, que não se importa em vender algumas mentiras. Para ele o mais importante é o sorriso do seu público, que sai mais feliz do que quando entrou para o espetáculo.
Um dos pontos positivos do filme são as canções originais – destaque para The Greatest Show, A Million Dreams, Rewrite the Stars e This is Me, fazendo o espectador sair cantando do cinema – produzidas pela famosa dupla: Benj Pasek e Justin Paul (que participaram do departamento de música que compôs a trilha sonora do filme La La Land). O trabalho é eficiente, fazendo com que as belas canções ajudem na construção da trama, como exige um bom musical. zint.online | 35
Os extravagan t e s at os de P.T. B a r nu m (H u g h J ac km a n) r eu ni do s, co m L etti e Lu tz, A M ul h e r Barb a da (Kea l a Settl e), à d i r ei ta d e b ar n um
A trilha de O Rei do Show é tão marcante, que vem se destacando nas últimas semanas. No domingo 7/jan., a soundtrack passou do 63° lugar para o 1° na Billboard 200 (responsável por classificar semanalmente os álbuns mais populares e vendidos nos EUA), permanecendo no topo por duas semanas consecutivas. De acordo com o diretor, Michael Gracey, houve uma insistência muito grande para que o musical fosse como Moulin Rouge (2001), que utiliza de canções já existentes. “Houve uma época em que sentíamos muita pressão em fazer um 'musical jukebox', porque você sabe que as pessoas já amam as músicas. Se você usa hits, você já tem meio caminho andado. Mas Hugh e eu queríamos fortemente criar um musical original com todas as músicas originais, e essa pequena decisão resultou na demora de anos e anos até acharmos as pessoas certas”, explicou. Hugh Jackman já é um conhecido dos musicais, destacando-se por seu papel como Jean Valjean, em Os Miseráveis (2012), mas em O Rei do Show ele se sobressai por cumprir com o desafio de cantar e dançar ao mesmo tempo, apesar de a coreografia do longa ser mais singela 36| zint.online
se comparada aos clássicos Footloose (1984) e Chicago (2002). Outros atores também merecem comentário, como Zac Efron (o eterno Troy Bolton de High School Musical), que mostrou amadurecimento como ator; Zendaya (outra ex-estrela da Disney, mais conhecida pelo seu papel no seriado Shake It Up), fazendo suas próprias cenas do trapézio e mostrando cada vez mais o seu potencial para ser uma estrela de Hollywood; e a carismática e veterana da Broadway, Keala Settle, que mostrou o quão poderosa é sua voz ao cantar This Is Me. A parceria entre os personagens de Hugh Jackman e Zac Efron (na trama ele interpreta o burguês Philip Carlyle) também foi outro acerto de O Rei do Show. A química presente entre os personagens ficou evidente na cena musical embalada por The Other Side, em que os dois cantam, dançam e atuam ao mesmo tempo. A sincronia presente nessa cena é espetacular. A ótima relação entre os dois personagens não fica restrita as cenas musicais, sendo uma parceria
O romance entre Phillip Carlyle (EFRON) e Anne Wheeler (ZENDAYA) sofre preconceito, devido o racismo existente, assunto este que não é tão bem abordado no longa, mas rende a belíssima faixa "Rewrite The Stars"
os ho m en s po r tr ás da tr ilha so n ho r a or igin al: Ben j Pasek e Justin Paul
interessante no desenvolver da trama. O longa peca em mencionar, de forma superficial, algumas temáticas que são contemporâneas, como a estratificação social, indivíduos marginalizados e excluídos da sociedade (no caso do filme isso acontece por que alguns personagens são considerados como aberrações) e até mesmo sobre o racismo. A maior discussão promovida em O Rei do Show é sobre a cultura erudita e a popular, deixando a mensagem de que arte é apenas questão de opinião. A estreia de Michael Gracey como diretor foi marcada por alguns acertos: a fotografia utiliza de várias cores, o figurino extravagante e alguns pequenos detalhes inteligentes como, por exemplo, os edifícios de Nova York com as roupas estendidas nos varais. Com um passo na publicidade, de comerciais de TV, Gracey demonstrou o talento de um diretor veterano. Da mesma forma que Barnum fazia as pessoas sorrirem com o seu show, o filme consegue causar essa mesma sensação no público. O seu objetivo é entreter, fazê-lo esquecer dos problemas da vida por quase duas horas, ao entregar um longa recheado de belas canções, um cenário colorido e figurinos extravagantes. O Rei do Show consegue trazer à tona inúmeros sentimentos que cativam, emocionam e empolgam. // zint.online | 37
A arte que transborda seus limites T E X T O //
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João Dicker
epois de um 2017 em que a arte foi assaltada por diversas manifestações reacionárias a mostras artísticas e a liberdade de expressão, como a exposi-
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maria nagib
ção Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que chegou a ser encerrada pelo Santander Cultural, em Porto Alegre ou a tentativa de proibição judicial à peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, durante
a Ocupação Transarte, em Belo Horizonte, a experiência de assistir o filme sueco The Square - A Arte da Discórdia (2017), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017 e que estreou em janeiro nos cinemas nacionais, torna-se uma importante por promover uma importante reflexão sobre o papel da arte e também as suas influências no comportamento social e no ambiente cultural. Além de toda temática que envolve o debate sobre “o que é arte?” e suas ramificações, o diretor e roteirista Ruben Östlund propõe, também, um olhar sobre a hipocrisia existente nas relações sociais, afetivas e políticas no mundo atual. Assim como fez em seu excelente longa anterior, Força
Maior (2014), o diretor desconstrói a erudição e altruísmo de uma elite liberal pensante que se diz (e acredita ser) aberta e disposta a ajudar o próximo, evidenciando a hipocrisia enrustida nas relações de poder e no convívio social. Se no longa de 2014 o diretor utiliza de um casal em crise para expor suas críticas, em The Square ele escolhe o microcosmo da “alta sociedade” sueca que consome a erudita arte contemporânea, centrando o enredo na figura de Christian (Claes Bang) o curador de um museu relevante de Estocolmo. Desta forma, acompanhamos o protagonista no processo de organização de uma exposição contundente que dá nome ao filme: um quadrado luminoso instalado zint.online | 39
no chão que convida o público à adentrar suas linhas que configuram um espaço em que todas as pessoas devem se tratar e respeitar de maneira igualitária. Depois de ter seu celular e carteira furtados e adentrar em uma espalhafatosa jornada de recuperação de seus bens, Christian passa a ter suas convicções e valores altruístas testados em constantes incidentes e acontecimentos caóticos em sua vida, também motivados pelo trabalho. Com uma essência provocativa e desconfortante, The Square passa a apresentar personagens secundários que trafegam na vida de Christian nas mais variadas situações, intercalando momentos de humor sofisticado que são marca do diretor, de risos nervosos causados principalmente pelo incômodo com as situações e silêncios inquietantes como na cena mais dramática do longa. A direção de Östlund é primorosa, ditando um ritmo lento que se beneficia ao intercalar sequências ricas de humor ácido a outras desconfortáveis e impactantes, ora pelo incomodo em sua forma mais pura ora pela contundência do que o diretor quer evidenciar como crítica. Um dos apontamentos mais precisos e incisivos que o roteiro, assinado pelo diretor, se propõe a fazer reside na cena do jantar de gala em que a elite moderna erudita e ética se vê confrontada 40| zint.online
pela arte provocativa em essência, expurgando de suas entranhas toda barbárie e histeria social que repreende em si. Tudo isso é captado por um plano-sequência angustiante e muito bem feito, que junto da performance agressiva e visceral de Terry Notary tornam
a sequência ainda mais agonizante de assistir. É quase que imediato o resgate das manifestações violentas, preconceituosas e reacionárias contra a arte que ocorreram no Brasil em 2017. Dentro de toda essa experiência inquietante e provocadora que The Square assume ser, ainda há tempo e espaço para o diretor explorar de sua ironia tradicional como ferramenta para criticar as relações de poder existentes nas relações afetivas (como na hilária cena da camisinha com a personagem da excelente Elizabeth Moss) e a cegueira humana para as dificuldades e vulnerabilidade do próximo (nas diversas sequências que intercalam cenas nos espaços dominados pela elite e cenas de diversos moradores de ruas marginalizados). Mesmo com diversas questões e temas sendo trabalhados em sua longa exibição (são 2h22 de projeção), o filme consegue fugir de didatismos e situações expositivas ao espectador, agregando ainda mais valor para a experiência. Méritos para a
montagem de Jacob Secher Schulsinger, que dá uma sensação de desconexão narrativa aos acontecimentos caóticos da vida de Christian, deixando para o espectador a missão de preencher as lacunas que são deixadas propositalmente durante o longa. Ter sido premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes é uma consequência irônica e auto-referente de toda a valorização do evento cinéfilo como a meca do cinema erudito. Se o museu em que Christian trabalha cultua a arte contemporânea de experiências herméticas e profundas, Cannes é um dos principais festivais que cultuam a sétima arte e funciona como polo de apreciação do suposto “cinema de verdade”. Assim como a suposta definição de arte problematizada em The Square, o festival também existe em um mundo em que as noções de erudição na arte e na cultura são definidas e reforçadas pela elite – a mesma personificada e desconstruída no ciclo caótico que Christian adentra. Se essa desconstrução pode soar vazia ou pedante para alguns, pelo menos é uma tentativa de tratar de um importante diálogo a respeito da arte e seu papel na sociedade contemporânea. E se esse diálogo de fato ocorrer, que seja feito dentro das linhas igualitárias que a exposição fictícia do longa se propõe a incitar. //
O diretor Ruben Östlund (ao centro) reunido com o elenco do filme, durante a passagem por Cannes
Um verão de 1950 T E X T O //
carolina cassese
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maria nagib
C
oney Island é o (lindíssimo) cenário de Roda Gigante (2017). Ginny (Kate Winslet), uma ex-atriz apaixonada por cinema, trabalha como garçonete e é casada com Humpty (Jim Belushi), um operador de carrossel. O marido tem um comportamento agressivo e a situação se agrava com a chegada de Carolina (Juno Temple), filha do primeiro casamento de Humpty. A moça, que se casou com um gangster, está ameaçada de morte e pede ajuda ao pai. Depois de se envolver com o salva vidas bonito e carismático que trabalha na praia, Mickey (Justin Timberlake), Ginny se vê incomoda profundamente com a relação que seu amante passa a desenvolver com a jovem, entrando em uma trama de triângulo amoroso proibido. A atuação de Kate Winslet é sem dúvida o destaque do mais novo filme de Woody Allen, lançado dia 28 de dezembro. A personagem exige bastante da atriz, que se entrega e protagoniza cenas maravilhosas, que ficam ainda melhores na fotografia de Vittorio Storaro, retratando com cores saturadas um belo verão de 1950. As diversas nuances do cotidiano e seus dramas e frivolidades, tema constantemente explorado por Allen na maioria de suas obras, estão presentes no filme, assim como o seu humor auto-depreciativo e a melancolia de seus personagens. É possível até estabelecer um paralelo entre Roda Gigante e Blue Jasmine (2013), visto que ambos apresentam estruturas e enquadramentos teatrais e protagonistas femininas complexas e intensas. A polêmica com Woody Allen Com a crescente repercussão do Time’s Up (movimento que tem a finalidade de denunciar casos de assédio e abuso sexual), histórias do passado de Woody Allen voltaram a circular. Sua filha adotiva, Dylan Farrow, afirma ter sido abusada pelo pai quando tinha sete anos de idade. O caso, que já se tornou público há mais de 20 anos, engloba dois inquéritos policiais que investigaram
as acusações e não encontraram indícios que poderiam incriminar o diretor. Por outro lado, sabe-se que muitas de suas declarações foram consideradas contraditórias e mal contadas. Sobre as denúncias que abalaram Hollywood nos últimos meses, Allen afirmou temer uma “atmosfera de caças às bruxas”. O jornalista Álex Vicente, correspondente do El País na França, contou que, ao entrevistar Allen, o assessor do diretor ordenou: “Não faça nenhuma pergunta sobre Harvey Weinstein, Kevin Spacey ou Oliver Stone, senão a entrevista será imediatamente interrompida”. Eu, que sempre admirei diversas obras do diretor (como A Rosa Púrpura do Cairo, Scoop: O Grande Furo e Ponto Final: Match Point), comecei a questionar se é possível, afinal de contas, separar o artista de sua obra. Penso que essa é uma pergunta que tem sido feita por muitos, nesse momento em que vários podres de tantas estrelas de Hollywood estão escancarados. É um questionamento conflituoso e aflitivo. Quando nos damos conta que atrizes e (especialmente) diretoras são significativamente menos prestigiadas do que seus colegas do sexo masculino, pelo menos o esboço de uma resposta aparece: precisamos valorizar produções idealizadas e executadas por mulheres. Time’s Up, ou em bom português: já passou da hora, né? //
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O florescer dos pessegueiros
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roberto barcelos
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vics
O interior da Itália
e os pomares de pêssegos são palco para o filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017), baseado no romance homônimo escrito pelo egípcio André Aciman e dirigido por Luca Guadagnino. O encanto da ambientação onde acontece a história é incontestável na direção de fotografia feita por Sayombhu Mukdeeprom, com o uso da própria luz natural para dar cores e evidenciar a beleza das locações. Contudo, a história se desenvolve entre tropeços, sustentada pelo carisma dos personagens e a beleza do norte italiano.
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zint.online
Durante as férias de verão com a sua família em um casarão campestre, a rotina monótona de Elio (Timothée Chalamet) muda com a chegada do estadunidense Oliver (Armie Hammer) para ser orientado pelo pai do jovem em sua pesquisa sobre a cultura greco-romana. A presença inesperada do homem desperta a atenção de Elio, mas o protagonista da trama, à princípio, camufla o interesse no estrangeiro com doses de indiferença e implicância. Mesmo com as tentativas de tentar manter distância de Oliver, a atenção de Elio pelo homem torna-se latente após passarem algum tempo juntos em um tour pela pequena cidade. Nesse momento, o roteiro desenvolve com calma a aproximação entre os personagens e a maneira como o protagonista percebe o desejo de estar ao lado do outro homem. O romance dos dois ultrapassa as barreiras criadas para cristalizar a orientação sexual como algo cerceado entre o heterossexual e o homossexual, surgindo como uma experimentação durante as férias e o desabrochar de sentimentos inéditos para as duas partes. A relação entre eles, quando confrontada pelos próprios personagens, é encarada como uma situação atípica. Apenas Oliver compreende o tabu de se relacionar com outro homem, o que faz com que o mais velho crie barreiras e até mesmo trate o relacionamento como algo menor e passageiro. Nesse ponto,
o roteiro peca por não criar profundidade o suficiente para compreendermos as concepções desse personagem. Em um romance homoafetivo – algo tão pouco abordado no cinema que quase se torna um gênero entre os interessados – é comum procurar justificativas capazes de solucionar o porquê do afastamento de alguém, principalmente quando o outro já está entregue a essa tentativa de fazer o relacionamento dar certo. O filme não cria sinais sobre as motivações de Oliver e o seu relacionamento com Elio, como se fosse uma vontade que surgiu durante o verão e chegou ao fim no inverno. zint.online | 45
Por esse motivo, a visão do mais velho como um personagem homossexual se fragmenta quando ele se envolve com uma mulher durante a trama. Como espectador, é possível compreender a dificuldade de assumir a homossexualidade, sobretudo na década de 80. Em um diálogo entre os amantes, Oliver conta sobre as dificuldades que o seu pai teria em aceitá-lo caso fosse gay ou assumisse um relacionamento com um homem. Contudo, deve-se atentar o olhar à existência da bissexualidade quando os corpos se atraem. Me Chame Pelo Seu Nome é uma história sobre a jornada de autoconhecimento de Elio, principalmente com o amadurecimento do protagonista e o florescer frente os próprios sentimentos juvenis. A presença do estrangeiro em sua casa criou a possibilidade de compreender a própria sexualidade de uma maneira não-heteronormativa ao se sentir atraído por outro homem, algo inédito na vida do garoto. Porém, a temática gay da obra segue um caminho diferente do usual, principalmente ao não representar o protagonista preso em
questões que evidenciam fobias. Os próprios pais do garoto evidenciaram na sutileza de seus diálogos sobre como o aceitaram independente de sua orientação sexual, algo que não afetou Elio já que o protagonista não criava dilemas ou indagações sobre a própria sexualidade, ele apenas queria estar ao lado de Oliver. O foco do filme é o auto-descobrimento e os momentos de romantismo entre os personagens principais, mas que falha em alguns momentos no roteiro por não explorar ao certo o que esperar de cada um deles. O espaço aberto para a interpretação não cria nuances de ser algo proposital para que a história continue viva mesmo com o fim do longa-metragem, mas sim por ir devagar demais em certo momentos e precisar acelerar a narrativa quando ela precisa ser mais lenta e detalhada. Todavia, ele é de extrema importância para pensarmos sobre a representação da orientação sexual no cinema e a forma como personagens que não são héteros ganham, e precisam, de cada vez mais espaço nos grandes festivais de cinema. //
O DIRETOR Luca Guadagnino (no centro) dirigindo Timothée Chalamet (a e s q u e r d a ) e a r m i e H a m m e r ( a d i r e i ta )
A D U P L A D E P R O TA G O N I S TA S E M C E N A DO FILME (À ESQUERDA) E EM ENSAIO F O T O G R Á F I C O ( À D I R E I TA ) P A R A o j o r n a l NORTE-AMERICANo THE NEW YORK TIMES
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Um manifesto sobre jornalismo e liberdade de expressão T E X T O //
joão dicker
d i a g r a m a ç ã o //
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vics
É inegável a importância que Steven Spielberg tem na história do cinema. Considerado um dos responsáveis pela criação dos filmes blockbusters com o lançamento de Tubarão (1975), o cineasta também tem seu nome ligado a produções consagradas em diversas formas e gêneros dentro do cinema. Sua identidade autoral, sempre presente e manifestante em seus longas-metragens, varia de acordo com essa diversidade de filmes que o diretor se propõe a realizar, como o clima de aventura presente em franquias como Indiana Jones e Jurassic Park (1993), as abordagens singelas e intimistas com que trata da família em filmes como E.T. - O Extraterrestre (1982), As Aventuras de Tintim (2011) e O Bom Gigante Amigo (2016), ou nas tensões que cria em seus dramas mais sérios e soturnos como A Lista de Schindler (1993), Munique (2005), Lincoln (2012) e Ponte dos Espiões (2015). Com seu novo filme, Spielberg combina esses seus traços para fazer uma ode ao bom jornalismo e a liberdade de expressão. Se recentemente Spotlight: Segredos Revelados (2015) também flertou com o debate a respeito do papel do jornalismo e da mídia em momentos e casos importantes da história, The Post - A Guerra Secreta não cai nas escolhas genéricas e engessadas
que dramas históricos se permitem a cair, entregando um filme que, graças a maestria de seu diretor e ao ótimo trabalho do elenco, tem muito a dizer sobre o mundo contemporâneo. Na trama, acompanhamos um dos momentos mais críticos e importantes para a imprensa estadunidense quando, após o vazamento de um importante relatório confidencial sobre as ações do exercito americano no Vietnã, o então presidente Nixon proibiu o New York Times de publicar quaisquer informações a respeito do assunto. Desta forma, vemos a publisher do The Washington Post, Katherine Graham (Meryl Streep), na difícil posição de permitir ou não que o seu redator-chefe Ben Bradlee (Tom Hanks) produza matérias a respeito do tão falado dossiê e que podem influenciar no momento crucial de abertura de capital que o jornal se encontra. Desta forma, o roteiro de Liz Hannah e Josh Singer cria um jogo de tensões em conflitos morais e políticos, uma vez que Graham precisa defender os interesses econômicos de sua empresa, que também acabam por se cruzar com os interesses políticos dos aristocratas de Washington, enquanto Bradlee se torna a personificação da liberdade de expressão e da mídia como força vigilante das instituições. Dentro destas tensões criadas pelo roteiro, Steven Spielberg com Meryl Streep e Tom Hanks durante as gravações do filme
Spielberg utiliza de sua identidade como cineasta para dar mais nuances aos personagens e transformar o filme em um thriller jornalístico cheio de dualidades. Estas, vistas nos questionamentos que rondam o longa a todo momento, transformam a narrativa em uma crescente tensão graças as escolhas do diretor, que adiciona um caráter familiar e intimista à trama ao trabalhar a
Meryl Streep e Tom Hanks são responsáveis por darem vida à Kat Graham e Ben Bradlee, respectivamente
personagem de Streep e sua relação com o jornal e com figuras importantes da cúpula política, mas também transforma o exercício jornalístico em uma aventura diária (sempre visto com movimentos de câmera interessantes que circulam a redação do The Post e seus profissionais). Se a estrutura narrativa trafega entre duas principais linhas personificadas em dois personagens, ora as dificuldades de Kay e outrora os desafios da redação do jornal, sempre ligados a Bradlee, nada mais comum do que o filme depender das atuações de seu elenco, principalmente daqueles que encabeçam os debates. Assim, Spilberg enquadra seus atores com uma câmera móvel que se aproxima e se distancia de cada um de acordo com as necessidades de cada cena, transformando o longa em uma sucessão de momentos que poderiam soar cafonas e clichês com os tradicionais discursos impactantes apenas para conquistar Oscar, mas que nas atuações de Streep e Hanks são entregues em tom correto. 50| zint.online
O segundo, dá vida não só a um jornalista fervoroso e dedicado a produzir matérias impactantes, mas a um personagem que não soa datado por se relacionar a toda a mídia de qualidade que tem sido transformada em tempos de Fake News e mudanças das instituições como conhecemos nos dias de hoje. Meryl Streep entrega mais uma excelente atuação, permitindo que a personagem revele suas nuances a medida que os acontecimentos da trama vão exigindo suas mudanças e amadurecimento emocional em um meio dominado por homens, transformando Kay em uma mulher cada vez mais forte e pronta para o jogo político e de pressões que a presidência do jornal se mostra ser. Inteligentemente, Spielberg foge de didatismos temáticos e morais para que o público seja convidado não só a embarcar na narrativa mas também à problematizar o que está acontecendo. A própria escolha de filmar Nixon sempre de longe e com as costas para a câmera evidencia a
Ben Bradlee e Kat Graham
vontade de resgatar na mente de cada um o personagem cartunesco e já consagrado na história norte-americana e nas várias outras representações de Hollywood. Com o desfecho do longa deixando claro que tudo o que foi presenciado naquela projeção foi imprescindível para que o escândalo de Watergate viesse a tona, o longa se encerra deixando claro que as decisões tomadas por Kay Graham e pela equipe do The Washington Post deixaram um importante legado para a liberdade de expressão e para o jornalismo nos Estados Unidos.
Se a atmosfera sessentista do longa é impecável na reconstituição dos ambientes, com um design de produção e uma direção de arte afiadas, sustentadas ainda pela fotografia acinzentada e sombria de Janusz Kaminski, o longa se edifica como uma importante ode ao jornalismo de qualidade, a liberdade de expressão e um lembrete para a responsabilidade que a mídia possui no seu papel de vigilante social. Um discurso que, levantado e sustentado por Spielberg, transformam The Post - A Guerra Secreta em um retrato jornalístico e político importante para o mundo contemporâneo. //
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Um filme de poucas palavras e muitas histórias T E X T O //
52| zint.online
FÁBIO GOMIDES
d i a g r a m a ç ã o //
maria nagib
P
ela Janela (2017), co-produção Brasil/Argentina tem roteiro, direção e montagem assinados pela estreante Caroline Leone. Natural de São Paulo, Caroline já conseguiu deixar claro logo, com seu primeiro longa, que não está para brincadeira. Sua experiência como montadora certamente contribuiu para formar o olhar apurado que ela já demonstra logo de cara. O filme chega aos cinemas brasileiros depois de conquistar o prêmio FIPRESCI Award, concedido no Festival de Rotterdan pela Internacional Film Journalists a cineastas estreantes.
O foco principal do road-movie está em contar a história de Rosália (Magali Biff ), uma mulher com 65 anos, que acaba de ser demitida de uma indústria de reatores onde trabalhou como chefe de produção por 30 anos. Vivendo uma vida completamente pacata e previsível, entre sua casa e o trabalho, com uma rotina muito bem definida, ela se vê completamente sem rumo e sem perspectiva após receber a notícia da demissão - que se deu em função de uma fusão na empresa. À convite do irmão (com quem divide a casa), ela acaba seguindo com ele numa viagem a trabalho, de carro, até a capital da Argentina, Buenos Aires. Essa viagem servirá como uma espécie de catarse para Rosália uma vez que ela zint.online | 53
se vê, pela primeira vez, em um mundo completamente desconhecido e longe de sua rotina “confortável” e habitual. O filme possui uma estrutura relativamente muito simples e esse, é, justamente um de seus maiores méritos. Com personagens claros e muito bem construídos, além de uma estética muito naturalista, um dos grandes trunfos da direção está no fato de que o filme consegue, durante toda a exibição, transportar o espectador para dentro da trama, acompanhando e vivenciando os dilemas não só daquela mulher como de quem convive com ela. Ficamos completamente hipnotizados pela jornada e pelas aventuras da dupla ao longo do percurso. A escassez de diálogos dá um tom mais realista e contribui para reforçar os signos e linguagens subjetivas presentes na narrativa de forma muito bem resolvida, fugindo dos didatismos, do romantismo e, principalmente, de mirabolâncias. Podemos dizer que Pela Janela é um filme onde aparentemente nada acontece, mas tudo absolutamente acontece. E esse jogo criado com
o espectador é bastante envolvente e sedutor, resultando numa obra crível e ao mesmo tempo, muito sensível. A montagem de Caroline Leone coloca o espectador no lugar dos personagens, trazendo uma visão diferente da que estamos habituados quando estamos diante de uma produção cinematográfica. Pela Janela destaca a poesia do cotidiano e a beleza presente nas coisas simples da vida. É também um filme sobre a capacidade que temos de reinventarmos sempre que necessário. Destaque para a brilhante atuação da atriz Magali Biff, veterana dos palcos (são mais de 35 anos de carreira no teatro), mas que já demonstra uma intimidade surpreendente com a câmera. Tanto que ela poderá ser vista em mais dois filmes que serão lançados ao longo do ano: Deserto, de Guilherme Weber e Açúcar, de Renata Pinheiro. No geral, as interpretações são bastante minimalistas, focada nas ações, na cumplicidade entre os personagens e também no olhar, características marcantes da produção. Cacá Amaral, no papel de José, o irmão de Rosália também dá um show de entrosamento com a protagonista. Uma das cenas mais emblemáticas escritas por Leone é a passagem dos irmãos pelas Cataratas do Iguaçu. A longa sequência tem tomadas bastante fortes, evidenciando os dilemas, a cumplicidade entre os irmãos e exemplificando o ápice do processo de mudança da personagem, que vai se abrindo para a possibilidade do novo e para um processo de autoconhecimento ao longo dessa viagem. O longa ainda se edifica como um retrato do Brasil atual, onde tantas Rosálias perdem seus empregos diariamente e são obrigadas a se reinventar para sobreviver. Apesar da escolha da roteirista por contar a história de uma
Rosália (Magali Biff) ao lado de seu irmão José (Cacá Amaral)
mulher, a trama poderia se passar com qualquer outra pessoa. Outro ponto bastante interessante e corajoso do roteiro é que o filme aborda a velhice de um modo muito franco, mostrando como essas pessoas são substituídas no mercado de trabalho e como a sociedade convive com quem já passou dos 60.
Um dos grande méritos de Pela Janela é falar da realidade de uma forma que pode parecer despretensiosa, mas que vem carregada de simbolismos e de muita verdade. Definitivamente não se trata de um filme fácil e previsível, mas de um longa delicioso, muito bem construído e dirigido de uma forma que permite muitas leituras. //
Escuridão predestinada T E X T O //
giulio bonanno
d i a g r a m a ç ã o //
vics
A
s primeiras cenas de O Destino de uma Nação (2017) revelam imagens de arquivo de um exército marchando sob o discurso de um temido ditador. A ambientação não poderia ser mais sombria. Filmes sobre a Segunda Guerra sempre serão um terreno fértil para discutir os contextos da vida civilizada; trata-se de um episódio amargamente definitivo na história da humanidade. Como toda narrativa, precisamos de heróis e vilões. No referido caso, precisamos de líderes, de guias, de uma ilhota luminosa num oceano de escuridão, e existem caminhos fáceis para escolhê-los e prosseguir com a trama. Entretanto, usufruindo de sutil ousadia, O Destino de uma Nação direciona seus holofotes para uma improvável razão: a voz de uma população. Estrelando Gary Oldman no papel de Winston Churchill, acompanhamos sua jornada como recém nomeado primeiro-ministro durante alguns dias do ano de 1940. O exército nazista havia conquistado territórios de países estrategicamente importantes e se consolidou como uma ameaça direta ao território britânico. Em meio aos conflitos internos do parlamento, à insegurança da realeza e aos temores enfrentados pelas tropas no continente, Churchill precisa articular corretamente a situação para manter a ordem do país. Joe Wright é famoso pelos seus “oscar-baits”: filmes produzidos com tamanho cuidado estético e publicitário que a indicação às categorias do prêmio da academia acaba se tornando um lugar comum. Alguns exemplos de trabalhos do diretor incluem Jane Eyre (2011), Anna Karenina (2012), Desejo & Reparação (2007) e Orgulho & Preconceito (2005). Nem todo “oscar-bait” é ruim, mas a maioria costuma ser acomodada, inofensiva e pouco impactante sob a ótica de tempos posteriores. Não me julgarei responsável por dizer qual o futuro de O Destino de Uma Nação. Me atentarei às impressões iniciais. A narrativa não é fácil. São muitos eventos para desenvolver e o filme não consegue se livrar de extensos diálogos expositivos, repetitivos e, muitas vezes, enfadonhos. Um filme que
pode parecer necessitado de ritmo. A escolha de marcar a passagem dos dias consegue aliar didatismo ingênuo com um toque de maestria, ao embutir efeitos sonoros que me pareceram o de caixões fechando. Contudo, temos um protagonista dotado de carisma verossímil e retratado com uma imponência ímpar. Gary Oldman está espetacular; irreconhecível diante da maquiagem ultra-realista, o ator impressiona por aliar uma de suas principais habilidades (discursos rigorosos e esbravejados) com um inesperado timing cômico. Sua dedicação é genuína, e se não é o melhor papel de sua carreira, pelo menos é um dos mais merecidos destaques. Estendo meus elogios ao elenco de forma geral. Ben Mendelsohn como Rei George VI e Kristin Scott Thomas como Clementine Churchill estão afinadíssimos. O primeiro demonstra articulação certeira na voz e na postura para realçar suas incertezas diante do papel real, características que sempre foram a marca inconfundível do monarca. A segunda é zint.online | 57
competente ao embutir personalidade a uma figura predestinada ao segundo plano. Arrisco dizer que, se passamos a enxergar as principais fraquezas do protagonista, algo fundamental para a nossa imersão na narrativa, isso se deve majoritariamente às recaídas emocionais diante de sua amante. Todo esse desenvolvimento de personagens não teria o mesmo sucesso sem os cuidados impecáveis com a captação das imagens e a devida iluminação, responsabilidade do diretor de fotografia Bruno Delbonnel (responsável também por Amélie Poulain, Harry Potter e o Enigma do Príncipe e Inside Llewyn Davis). A maneira como são aplicadas diferentes posições de luz para representar Churchill denota uma vontade de retratar o político em todos os seus espectros. Temos uma insistência em internas rodadas em planos abertos com um ou dois focos de 58|
luz sobre algum personagem – o primeiro encontro de Churchill com o Rei é o exemplo-chave: são ícones, idealizações, antro de esperanças depositadas em figuras singulares. Agora, compare esse plano com o maravilhoso momento em que o primeiro-ministro encontra-se sozinho após uma conversa telefônica, sem solução aparente para a crise que enfrenta. A força do filme reside nesses contrapontos. Igualmente insistente são os plongées absolutos, com alguns deles aliando efeitos visuais e fotografia ao posicionar os personagens como meros pontinhos num mapa fadado à destruição. Contudo, os trackings que pintam os cidadãos comuns de Londres me pareceram mais bem aplicados. Intercalando com a câmera subjetiva, cabe ao político identificar ali uma ferramenta real para a tomada de decisões.
Diferente do belo, porém apático, Lincoln, de Steven Spielberg, o filme de Joe Wright convence quando posiciona Churchill no papel de observador, vide a maravilhosa cena do metrô. Méritos também para a atriz Lily James, que contribui bastante na humanização do personagem principal ao se apresentar como Elizabeth Layton, uma simpática assistente pessoal e datilógrafa sem floreios artificiais e representada com o charme do cidadão comum. Ouso afirmar que o filme poderia ter sido muito maior se trabalhasse aquela moça como a verdadeira protagonista. A recriação de época é eficiente, como toda produção do tipo costuma ser. Nada chegou a me impressionar de fato, com exceção da biblioteca particular no quarto de Churchill, da sala de mapas e de obras de arte que, em determinado momento no terceiro ato, aparecem curiosamente deitadas sobre algum móvel em vez de penduradas na parede. A trilha de Dario Marianelli merece aplausos por realçar a força das imagens com arpejos densos de piano e a ênfase dada aos staccatos graves. As leves melodias de sopros (evidente na peça “Winston and George”) ajudam a equilibrar a situação. Se em alguns momentos parece incessante, a ausência da trilha em certas sequências finais são um componente-chave para criar as fortes emoções que acompanham o desfecho do filme. Com uma elegância admirável e demonstrando muito mais conteúdo do que parecia ter, O Destino de Uma Nação constitui poderosa representação. Suas maiores forças residem na confiança de um líder indeciso sobre um herói improvável e como isso reverberou para além de seu tempo. É, definitivamente, uma história advinda dos tempos mais nebulosos. Só não lhe direi qual deles. //
Incentivo x Desafio Uma lição de Moana
T E X T O //
ruth berbert
d i a g r a m a ç ã o //
vics
A
pós acompanhar a incrível jornada de Moana, a princesa de Motunui, para salvar seu lar, uma reflexão me veio à mente. Como podem duas palavras impactar de forma igualmente forte, mas em sentidos tão opostos, aqueles dotados de sonhos. Sujeito e predicado. “Eu duvido”. 60| zint.online
Algumas pessoas sentem-se incentivadas pelo desafio imposto pelos outros, principalmente quando estes são próximos. Quanto maior o valor dado ao desafiador, maior a necessidade de provar o seu próprio. O desafio lhes fornece a vontade que faltava para conquistar o que se quer. Mas, para outras pessoas o incentivo impacta apenas pelo apoio.
Pelo suporte amoroso da junção de palavras: "você consegue". Afinal, quando elas são questionadas, a duvida do outro só se torna mais uma das tantas que massacram sua mente dia e noite. Pessoas que sonham muito alto costumam ser maioria nesse grupo. Afinal, é tão inalcançável não é mesmo? “And it seems like it's calling out to me So come find me And let me know What's beyond that line Will I cross that line?" Moana pertencia ao segundo grupo. Queria salvar sua ilha, mas não sabia como. Sentia em seus ossos a necessidade de conquistar seus anseios mais profundos, mas o medo fixava seus pés na ilha em que nasceu. Devia ao seu coração persistir, mas aos seus pais devia acima de tudo a obediência. Eles também duvidavam. Quando se ama muito, teme-se pela frustração do outro. Não acredito ser justo fazer julgamentos severos, mas privar Moana de seus sonhos só piorou a situação. Eles a queriam segura, onde conheciam cada centímetro do chão em que ela poderia pisar. Mas se a preocupação superasse o sonho não haveria história, não é mesmo? “I wish I could be the perfect daughter But I come back to the water No matter how hard I try” Tudo se desenrola graças a sua vovó Tala, uma das apoiadoras. Daquele seleto grupo que sonha junto e compartilha a viagem imagina-
da. Pela idade mais avançada talvez, sabia que decepções são inevitáveis e que cada queda tornaria Moana mais forte. Desde cedo observou a neta e reconheceu seu destino antes mesmo que ele a chamasse. Tala sentiria sua falta tanto quanto seus pais, mas o brilho da realização é algo que poucos se alegram ao ver, apesar da dor. Com cada palavra de incentivo, ela clareou o céu de Moana e, descortinou o horizonte de oportunidades que estavam antes escondidas pelo medo. Assim, nossa heroína realizou seu sonho e cumpriu sua missão com seu povo. “I'll be satisfied if I play along But the voice inside sings a different song What is wrong with me?” Antes de ela o fazer ninguém acreditava que seu papel de princesa seria mais bem exercido longe do que perto. E também, seu papel de filha. Sentir a insegurança de ser diferente e a pressão de ser o que os outros desejam, eram suas principais barreiras. A negatividade dos que temem se unir no fracasso é intensa, mas ao vencê-la, Moana conquistou não só o seu sonho, mas também a benção da esperança que recaiu sobre seu povo. Acreditar não é garantia de sucesso, mas é parte essencial para atingi-lo. Moana não é real, mas existem várias iguais a ela por ai. Moana é mais uma representante da força feminina com a delicadeza e sensibilidade dos filmes da Disney. Não importa o tipo de sonhadora que você é, o importante é torná-los realidade. Afinal, se nos desafiamos ao sonhar, porque não sermos nosso próprio incentivo? // zint.online | 61
OSCAR 2018
Os indicados ao Oscar 2018 A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou no dia 23 de janeiro os indicados à 90ª edição do The Academy Awards, o Oscar. Em 2018, a cerimônia de entrega acontecerá no dia 4 de março e terá pelo segundo ano consecutivo apresentação de Jimmy Kimmel, do programa Jimmy Kimmel Live!. A cerimônia já conta com algumas marcas importantes como a indicação de Greta Gerwig como Melhor Diretora, pelo filme Lady Bird, tornando-se somente a 5ª mulher a ser indicada na categoria. Outra mulher que conquistou uma marca importante é Rachel Morrison, por seu trabalho em Mudbound, que lhe rendeu a indicação na categoria de Melhor Fotografia, tornando-a a primeira mulher da história a ser indicada na categoria.
melhor filme
M e C h a m e P e l o S e u N o m e // O D e s t i n o d e U m a N a ç ã o // D u n k i r k // C o r r a ! // L a d y B i r d - É H o r a d e V o a r // T r a m a F a n t a s m a // T h e P o s t - A G u e r r a S e c r e t a // A F o r m a d a Á g u a // T r ê s A n ú n c i o s P a r a u m C r i m e
melhor direção
C h r i s t o p h e r N o l a n , p o r “ D u n k i r k ” // J o r d a n P e e l e , p o r “ C o r r a ! ” // G r e t a G e r w i g , p o r “ L a d y B i r d - É H o r a d e V o a r ” // P a u l T h o m a s A n d e r s o n , p o r “ T r a m a F a n t a s m a ” // G u i l l e r m o d e l T o r o , p o r “ A F o r m a d a Á g u a ”
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Melhor Atriz Coadjuvante
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A B e l a e a F e r a // B l a d e R u n n e r 2 0 4 9 // O D e s t i n o d e U m a N a ç ã o // D u n k i r k // A F o r m a d a Á g u a
HEATH LEDGER
crĂŠditos: Ensaio fotogrĂĄfico para a revista norte-americana interview magazine, clicada por ben watts
10 anos sem
Heath Ledger Em meio a dificuldades, o ator se dedicou a encantar com seu talento até três dias antes de sua morte
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ruth berbert
d i a g r a m a ç ã o //
vics
No auge de sua carreira
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T E X T O //
, aos 28 anos, um trágico acidente tirou a vida de Heath Ledger. Após adoecer durante as filmagens de seu último filme, que exigiam muito de sua disposição física, o ator começou a abusar dos analgésicos, comprando-os inclusive sem prescrição médica. A questão é que ele também fazia uso de remédios para ansiedade e insônia há algum tempo e a mistura desses componentes comprometeu seu sistema respiratório até que este cessasse permanentemente. A autópsia mostrou que não havia qualquer traço de drogas em seu corpo, nem mesmo de álcool. Alguns de seus amigos mais próximos afirmaram que seu grande senso de autocrítica e a dificuldade em lidar com a fama lhe causavam ataques de pânico, mas apesar do boato de suicídio, todos apelaram que Heath era, acima de tudo, um apaixonado pela vida.
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O Início da Carreira
Longe de sua casa na Austrália, Ledger tinha pouco mais de 100 dólares em sua conta no banco quando decidiu que não aceitaria mais papéis na televisão, a fim de lutar pelo seu sonho no cinema. E, claramente, sua persistência não foi em vão. Ao todo, Heath integrou o elenco de 15 filmes de Hollywood, em uma profusão de faces que exibiu a versatilidade de sua jovem atuação. Mas, como seria impossível relembrar cada um deles nessa breve homenagem, foram escolhidos cinco personagens vividos por Heath Ledger, para matar a saudade de seu talento e carisma inesquecíveis.
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Harry Fav e r sh a m
O verdadeiro significado de herói e amigo é ensinado pelo personagem de Heath em Honra & Coragem - As Quatro Plumas (2002). Após ser convocado para a guerra, o soldado Harry renuncia sua patente no exército britânico, porém, ao descobrir a quantidade de combatentes que estavam morrendo, ele sente a necessidade de ajudar, e percorre os mais perigosos caminhos para conseguir. Com ele aprendemos que corajoso não é aquele que nada teme, mas sim o que é capaz de enfrentar seus medos de cabeça erguida. Seu desespero, dor e coragem são emitidos de forma arrebatadora em cada olhar desolado do ator. A verdade de suas lágrimas é marcante e este foi um filme do qual ele participou em 2002, com apenas 22 anos. Uma grande responsabilidade cumprida com excelência.
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Enni s d el Mar
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"Uma coisa infeliz é que nós não poderemos ver a beleza de sua expressão", disse Jake Gyllenhaal em entrevista sobre como foi contracenar com Heath em O Segredo da Montanha Brokeback (2005). Neste filme, Ledger deu vida a Ennis del Mar, um jovem cowboy, sensível e retraído, que se vê confuso sobre sua sexualidade ao se apaixonar por um outro homem. Uma das formas de mostrar o quanto o personagem sufocava seus sentimentos, foi o jeito de falar que o ator desenvolveu. Sua voz era rouca, cheia de tensão, e a última barreira de Ennis era sua própria boca, que pouco abria pelo medo de se expor. Um personagem intenso imerso em um enredo complexo, que mostrou de forma real o preconceito vivido por homossexuais em um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos. Com essa atuação, Ledger conseguiu sua primeira indicação ao Academy Awards (o Oscar).
G i ac omo Casa nova
Em 1999, Heath estreou em Hollywood no filme 10 Coisas que Odeio em Você (1999), no qual deu vida a um marrento e charmoso adolescente, que apesar das atitudes ligeiramente grosseiras, conquista a protagonista do filme com facilidade. Com sua interpretação envolvente, Ledger atraiu o olhar de muitas jovens que ansiavam por vê-lo brevemente em novas tramas românticas. Mas o ator não pretendia ser o mais novo galã de Hollywood. Seus amigos confirmaram em entrevista ao Discovery que ele almejava guiar sua carreira por papéis desafiadores, negando vários trabalhos para comédias românticas. Porém, a fim de fazer algo menos exaustivo do que seu último filme, Heath aceitou ser o protagonista de Casanova (2005). O seu personagem era um típico bom vivant, sedutor e malandro, que se apaixona por Francesca, uma jovem que o despreza, mas que não percebe sua aproximação por não conhecer sua aparência. Além de enganar as mulheres que seduzia, usando vários disfarces e estratégias ele consegue passar outras pessoas para trás e conquistar o coração de sua amada. Um enredo óbvio, mas divertido. Dentro de um roteiro que trazia um conto de fadas baseado na história real de Giacomo Casanova, Heath teve muita liberdade para interpretá-lo. Interessante observar que mesmo ao viver um estereótipo do cinema, o ator sempre teve o compromisso de ser verdadeiro em suas atuações e desempenhou um ótimo trabalho.
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Th e J ok e r Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008) seria claramente mais um filme do herói de Gotham City, mas nada era previsível com Heath Ledger no set. Interpretando o vilão Coringa, o ator não só roubou o brilho, ou quase todas as cenas, mas também a lealdade dos espectadores. Ninguém queria vê-lo derrotado. A expectativa por seus próximos atos era excitante demais. "Foi a coisa mais divertida que eu fiz", afirmou Heath ao ser questionado sobre o papel e acredito poder afirmar que a maioria de seus fãs vivenciou o mesmo sentimento ao assisti-lo. Além da entrega incondicional do ator, o diretor Cristopher Nolan contou com os improvisos surpreendentes do ator. Nas cenas marcantes da demolição do hospital quando os explosivos parecem parar momentaneamente, e na cena em que o Coringa aplaude o Comissário Gordon por sua promoção, nenhuma de suas reações estava no roteiro. O personagem não estava pronto, a não ser na mente de Ledger, que se isolou por um tempo em seu apartamento para desenvolver cada detalhe da personalidade psicopata, construindo inclusive um diário, onde estariam descritos seus pensamentos e manias. Jack Nicholson pode ter sido marcante à época, mas foi o tipo Coringa engraçado que tinha os truques de um palhaço comum. A obra prima criada por Ledger trouxe a tona uma maldade ainda desconhecida nos quadrinhos, que invadiu a tela e recebeu o reconhecimento da Academia. Mas, infelizmente, o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante foi entregue à sua família, pois na época o ator já havia falecido. Heath não pode desfrutar nem mesmo da reação de seus fãs, que acompanharam a estreia mundial em julho de 2008.
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To ny Liar Em seu último filme, no qual trabalhou até três dias antes de sua morte, Heath interpretou um idealista que, apesar do seu suposto interior benevolente, foi corrompido pelo dinheiro. Envolvido com a construção de seu personagem, Ledger chegou a modificar o texto, escolhendo as falas que diria e adaptando outras ao que acreditava estar mais próximo do perfil do seu Tony Liar. Sua liberdade criativa serviu como incentivo aos atores mais jovens do longa a também criarem suas próprias falas. Graças a Heath, o universo sem limites do filme tornou-se realidade também no set de filmagens, e, para um diretor abrir mão desse tipo de controle, é preciso confiança em quem vai fazê-lo. Devido à morte de Ledger, o filme foi adiado, e aproveitando o enredo de fantasia e, literalmente, o mundo imaginário que existia dentro do caminhão do Dr. Parnassus, o ator foi substituído por três de seus melhores amigos: Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell. De acordo com o diretor do filme, Terry Gilliam, o ator estava muito empolgado com o andamento das gravações e finalizá-lo foi como cumprir uma promessa. “Um filme de Heath e seus amigos”, é a emotiva frase que aparece ao início dos créditos de O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus (2009).
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Este ano, no dia 22 de janeiro, completou uma década que o perdemos de forma precoce, mas Heath Ledger se manterá presente enquanto seu talento inspirar às novas gerações de atores, assim como aos mais experientes. Afinal, um legado nunca morre. Ao contrário, persevera e multiplica. //
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música
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Grammy 2018: A maior premiação da música e as contradições do evento Em meio a discursos emocionantes e performances com tons políticos, a 60ª edição do Grammy Awards reafirma a sequência de erros de anos anteriores e não consegue atender as demandas das vozes que movimentam a indústria musical contemporânea. T E X T O //
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jader theóphilo
pós 15 anos seguidos acontecendo em Los Angeles, a edição 2018 da maior premiação do mundo da música retornou pra Nova York, no Madison Square Garden, e consagrou, na noite do último domingo de janeiro, o cantor havaiano Bruno Mars 92| zint.online
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vics
como o maior vencedor da cerimônia. O artista, de 32 anos, venceu todas as categorias as quais disputava, com o álbum 24K Magic, levando para casa um total de seis gramofones: Disco do Ano, Música do Ano, Gravação do Ano, Performance R&B, Música R&B e Álbum R&B. O terceiro álbum de estúdio do cantor foi um dos
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grandes sucessos de 2017 e responsável por colocar o funk norte-americano de volta as paradas musicais de todo o mundo. Outro destaque do evento foi o rapper Kendrick Lamar, segundo grande vencedor da noite, que levou cinco prêmios. O músico levou os gramofones de Melhor Álbum de Rap, por DAMN., Melhor Performance, Melhor Canção, Melhor Videoclipe e Melhor Performance de Rap Cantado, por LOYALTY., parceria com a cantora Rihanna. Já o rapper Jay Z, o artista com maior número de nomeações na noite, concorrendo a oito categorias, saiu do Madison Square Garden sem nenhum prêmio. Indicada a duas categorias o super sucesso mundial Despacito, do cantor Luis Fonsi, em parceria com Daddy Yankee e adição de Justin Bieber no Remix, que ficou durante 16 semanas no topo da Billboard Hot 100, também não conquistou nenhuma vitória. O prêmio de Artista Revelação, entregue a novos artistas, ficou com a cantora Alessia Cara.
do rapper. Diversos bailarinos vestidos em uniformes militares e uma bandeira dos Estados Unidos projetada no telão compuseram o show. Em seguida, Bono e Edge, da banda irlandesa U2, surgiram no palco, marcando a transição para a canção DNA, um dos maiores sucessos de Lamar. O comediante David Chapelle também
Performances
O responsável por abrir a noite foi o artista Kendrick Lamar. Mantendo as características de suas apresentações com o viés político e de denúncia, inicialmente a música XXX, do álbum DAMN., foi apresentada com toda a grandeza Kendrick aceitando seu grammy award de “Melhor Álbum de Rap” Kendrick Lamar durante a sua performance de abertura nos Grammy Awards, que contou com participação de the edge e bono, do u2
Rihanna durante a performance de "Wild Thoughts", com DJ Khaled (direita) e de Bryson Tiller (esquerda)
participou da apresentação, fazendo intervenções. “Eu só queria lembrar vocês que a única coisa que dá mais medo do que ver um negro sendo honesto nos Estados Unidos é ser um negro honesto nos Estados Unidos”, disse Chapelle. O final da apresentação foi marcado por bailarinos vestidos de vermelhos que encenaram serem atingidos por diversos tiros. Ao piano, a cantora Lady Gaga optou por fazer uma apresentação mais simples e intimista, acompanhada do produtor musical Mark Ronson. Cantando a música Joanne (em versão piano) e Million Reasons, a artista fez uma homenagem a sua tia, que a inspirou a compor seu último álbum. Outra que escolheu uma performance mais delicada foi a artista P!nk. Com a música Wild Hearts Can’t Be Broken, presente em seu último trabalho Beautiful Trauma, a cantora emocionou o público com os vocais potentes. Além disso, a apresentação foi acompanhada de uma interprete de línguas de sinais. Com um clima dos anos 90, em sua primeira 94| zint.online
participação no Grammy, a rapper Cardi B se uniu a Bruno Mars para apresentarem a versão ao vivo do remix da musica Finesse, colocando todos para dançar. E por falar em dança, Luis Fonsi e Daddy Yankee fizeram uma verdadeira festa latina no palco da premiação interpretando o hit Despacito. Quem também se apresentou pela primeira vez no evento, foi a cantora SZA. Cantando Broken Clocks a artista que já vinha impressionando pela estreia na premiação com cinco indicações pelo álbum Ctrl (Artista Revelação, Música R&B, Colaboração de Rap, Álbum Urban Contemporâneo e Performance R&B), chamou atenção pela voz e segurança no palco. A edição 2018 do Grammy também marcou a volta da cantora barbadiana Rihanna ao evento. A artista, que não se apresentava na premiação desde 2015, cantou o sucesso Wild Thoughts, ao lado do DJ Khaled e de Bryson Tiller, em uma performance tropical repleta de coreografia. Antes de anunciar a apresentação de Kesha, a
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cantora Janelle Monáe discursou sobre o Time's Up, movimento/manifesto contra os recorrentes casos de assédios em Hollywood e pela igualdade de gênero.
janelle monáe chamou kesha ao palco, entregando um discurso sobre o time’s up
"Para aqueles que se atrevem a tentar nos silenciar, apenas uma coisa: o tempo acabou! Nós dizemos basta para a desigualdade salarial, a discriminação ou o assédio de qualquer tipo e o abuso de poder. Não está acontecendo apenas em Hollywood, ou em Washington, também está aqui na nossa indústria (...) Então, vamos trabalhar juntos, mulheres e homens, como uma indústria da música unida empenhada em criar ambientes de trabalho mais seguros, pagamento igual e acesso para todas as mulheres”. Em seguida a cantora Kesha subiu ao palco cercada por um time de mulheres poderosas, formado por Cyndi Lauper, Bebe Rexha, Andra Day, Julia Michaels e Camilla Cabello, para cantarem Praying, do seu mais recente álbum Rainbow. A artista, que enfrentou uma longa batalha judicial ao acusar seu produtor Dr. Luke de abusos sexuais e psicológicos, emocionou a todos com uma performance de tirar o fôlego. Além dessas cantoras, diversas estrelas que estavam no evento apareceram usando uma rosa branca em solidariedade ao Time’s Up. Em seguida a banda U2 foi apresentada por Camila Cabello que ressaltou a importância dos
K e s h a ( a o c e n t r o ) d u r a n t e a p e r f o r m a n c e d e " P r ay i n g " , q u e c o n t o u c o m a pa r t i c i pa ç ã o d e B e b e R e x h a e Cy n d i L a u p e r ( à e s q u e r d a ) e C a m i l l a C a b e l l o, J u l i a M i c h a e l s e A n d r a D ay ( à d i r e i ta )
imigrantes na construção dos Estados Unidos. "Sou uma orgulhosa imigrante cubana-mexicana, nascida no leste de Havana, e agora estou aqui na frente de vocês no palco do Grammy, em Nova York. Tudo o que sei é, como sonhos, essas crianças não podem ser esquecidas e vale a pena lutar por elas”, disse a cantora, com orgulho. Com esse tom político a banda irlandesa se apresentou do lado de fora do estádio, em um palco montado em frente ao Rio Hudson e com a Estátua da Liberdade como cenário eles cantaram a canção Get Out of Your Own Way. Entre as apresentações de destaque da noite estão as parcerias entre Elton John, que se prepara para sua ultima turnê, e Miley Cyrus. Juntos os cantores apresentaram a música Tiny Dancer. Já Sam Smith contou com o auxilio de um coral para performar a canção Pray. Os veteranos Sting e Shaggy se apresentaram com a musica An Englishman in New York. Joe Saylor, Jon Batiste e Gary Clark Jr formaram um trio incrível na homenagem a Chuck Berry e Fats Domino, lendas do rock que morreram em 2017. O grupo country Little Big Town cantou
Luis fonsi e d a d dy ya n k e e n a performance de “despacito”, que não contou com a participação de justin bieber
Sam Smith durante a apresentação d e “ P r ay ”
a música Better Man, composta por Taylor Swift e que levou o prêmio de Melhor Performance de uma Dupla ou Grupo Country. Childish Gambino, ou Donald Glover, mostrou a sensualidade em uma apresentação da faixa Terrified, presente no álbum Awaken, My Love!. No evento, Gambino ganhou o primeiro Grammy de sua carreira. A premiação também contou com a apresentação emocionante da música 1-800-273-8255, do rapper Logic com participação de Alessia Cara e do cantor Khalid. Polêmicas
Não é de hoje que a cerimonia do Grammy é criticada pela dificuldade em reconhecer o talento daqueles que não apresentam características de homens e brancos. Esse quadro tem sido ainda mais comentado nos últimos anos, principalmente nos assuntos ligados as questões raciais, incluindo tentativas de boicotes. Desde o início da premiação, em 1959, até hoje, apenas 11 artistas negros venceram a categoria de Álbum do Ano, a mais importante da noite, sendo eles Stevie Wonder, em 1974, 1975 e 1977 com os respectivos álbuns Innervisions, Fulfillingness’ First Finale e Songs in the Key
of Life; Michael Jackson, em 1984, com Thriller; Lionel Richie, em 1985, com Can’t Slow Down; Quincy Jones, em 1991, com Back on the Block; Natalie Cole, em 1992, com Unforgettable With Love; Whitney Houston, em 1994, com a trilha sonora de O Guarda-Costas; Lauryn Hill, em 1999, com The Miseducation of Lauryn Hill; Outkast, em 2004, com Speakerboxx/The Love Below; Ray Charles, em 2005, com Genius Loves Company; Herbie Hancock, em 2008, com River: The Joni Letters e Bruno Mars, em 2018, com 24K Magic. Em 2017 o cantor Frank Ocean publicou uma carta aberta criticando os organizadores do evento e destacando a vitória de Taylor Swift, com o álbum 1989, em relação a Kendrick Lamar, com To Pimp a Butterfly, em 2016, vitória que o artista não considerou justa. A cantora Solange Knowles criticou a derrota da irmã Beyoncé, com o álbum Lemonade, para Adele, com 25, em 2017. Injustiça esta que foi apontada pela própria cantora britânica na hora de fazer o seu discurso de ganhadora. Embora muitos artistas negros acumulem inúmeros prêmios Grammy, uma das críticas é em relação as categorias em que esses artistas
Lady Gaga cantou, ao piano, a música-título “Joanne”, num piano coberto por gigantescas asas, em homenagem à sua tia
bruno mars e cardi b foram os grandes responsáveis por animar a plateria, com a música “finesse”
geralmente vencem. Muitas vezes as classificações em R&B e Rap servem para encaixar determinados músicos e mante-los longe dos principais prêmios da noite. Em entrevista ao programa na rádio Beats 1, em 2017, o rapper Drake falou sobre ser colocado apenas como cantor rap. “As únicas categorias que eles conseguem me encaixar são de rap, talvez porque eu tenha feito rap no passado ou pelo fato de ser negro, não consigo entender. Assim como não consigo entender porque ‘One Dance’ não foi indicada. Digo, eles tem algumas obrigações pop e eu fiquei de fora. Fiquei de fora e tenho uma das maiores músicas do ano, que é uma música pop e me orgulho por isso. Eu amo o mundo do rap, amo a comunidade do rap, mas eu escrevo canções pop por uma razão: eu quero ser como Michael Jackson, como os artistas que me inspiram. E essas canções são pop, mas eu nunca ganho crédito por isso”. Outra crítica que o evento enfrenta é o baixo reconhecimento dado a artistas femininas, facilmente exemplificada pela categoria Best Pop Solo Performance. Com artistas como Kesha concorrendo ao prêmio, com a poderosa Praying, música em que fala sobre o assédio que sofreu e encontrar paz e perdoar seu abusador, foi Ed 98| zint.online
entre os seis prêmios ganhos por bruno mars está o de “melhor álbum”, pelo 24k
Sheeran quem carregou o gramofone para casa (figuradamente, uma vez que o cantor não estava presente), vencendo as quatro mulheres que concorriam com ele
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logic (ao centro) com khalid (esquerda) e alessia cara (direita) performando “1-800-273-8255 “
(P!nk, Kelly Clarkson, Kesha e Lady Gaga). A vitória do britânico acabou gerando grande repercussão na internet, sendo uma desgostosa surpresa para a maioria dos que assistiam, com alguns indo além e apontando que a cara feita por Kesha durante o anúncio provava que até mesmo a cantora não havia gostado do ganhador. Vale lembrar ainda que, embora nos últimos dois anos o prêmio mais importante da noite tenha ficado com duas mulheres, na edição de 2018 apenas a cantora neozelandesa Lorde foi indicada como Melhor Álbum. A categoria contava com Bruno Mars, Jay Z, Kendrick Lamar e Childish Gambino.
u2 no rio hudson apresentando a m ú s i c a “G e t O u t o f Yo u r O w n Way “
A situação se agrava depois que revista Variety e o site TMZ publicaram uma matéria informando que Lorde teria recusado se apresentar no Grammy por receber um tratamento diferenciado dos outros a artistas masculinos indicados em sua categoria. Os organizadores não teriam oferecido uma performance solo a cantora e demostraram como única possibilidade de apresentação uma homenagem, em grupo, ao cantor Tom Petty. De acordo com o estudo “Inclusion in the Recording Studio?”, realizado pela Dra. Stacy L. Smith, do Annenberg Inclusion Initiative, divulgado em janeiro de 2018, entre 2013 e 2018 somente 9,3% dos indicados ao prêmio foram mulheres. Na 60ª edição do Grammy a situação foi parecida com a do ano de 2013 em quantidades de indicações femininas, 8,2% e 8%, respectivamente. Já na cerimônia anterior, apenas 6,4% dos indicados zint.online | 99
Alessia Cara durante o seu discurso como ganhadora da categoria "Artista Revelação"
eram de artistas femininas. A categoria de Artista Revelação, que esse ano premiou Alessia Cara, única mulher vencedora entre as principais categorias, é a que mais possui mulheres indicadas, com 36,4%. O prêmio de Canção do Ano fica em segundo lugar com 21,3% das indicações para mulheres. Se esses números já impressionam, a categoria de Álbum do Ano, com 6,1% e Produtor do Ano com 0% mostra que ainda falta muito para que os prêmios distribuídos durante o evento entre em sintonia com os discursos reproduzidos em seu palco. Durante o período analisado, a pesquisa ainda revelou que no total pelo menos 471 homens (89%) foram indicados mais de uma vez ao Grammy. No entanto, apenas 58 mulheres (11%) tiveram esse mesmo resultado. Logo após a premiação o presidente da Academia, Neil Portnow, ao ser questionado pela revista Variety comentou as críticas ao baixo número de indicações e mulheres vencedoras. Segundo Portnow, as artistas precisam “se impor”. “As mulheres que têm criatividade em seus corações e almas, que querem ser cantoras, engenheiras, produtoras e que querem fazer parte da indústria em nível executivo… 100| zint.online
j ay z s a i u d a premiação sem nenhum gramofone, mas contou com a presença de beyoncé e blue ivy
Elas precisam se impor, porque creio que elas seriam bem-vindas. Eu não tenho experiência pessoal com esses tipos de problemas que elas enfrentam, mas acho que cabe a nós, como uma indústria, dar boas-vindas a todos, criando oportunidades para todas as pessoas que querem ser criativas e, assim, criando a próxima geração de artistas”. O comentário acabou causando controvérsias, levando cantoras como P!nk, Charli XCX e Iggy Azalea a darem uma resposta ao atual presidente do Grammy. Por sua vez, Portnow voltou a falar com a Variety, retratando-se. O questionamento que fica é em que momento a premiação irá parar com discursos e shows em prol da diversidade e igualdade, apenas pela busca da audiência e realmente começará a apoiar essas causas? //
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alguns dos principais vencedores do Grammy 2018
GRAVAÇÃO DO ANO; MELHOR ÁLBUM R&B; álbum do ano
música do ano; MELHOR PERFORMANCE DE R&B; MELHOR MÚSICA DE R&B
MELHOR PERFORMANCE POP SOLO
MELHOR PERFORMANCE DE RAP; MELHOR MÚSICA DE RAP; MELHOR CLIPE
MELHOR ÁLBUM DE RAP
MELHOR ÁLBUM VOCAL POP
MELHOR ÁLBUM URBAN CONTEMPORÂNEO
MELHOR ÁLBUM DE rock
MELHOR ÁLBUM pop latino
MELHOR ÁLBUM country
best new artist
A l i s ta c o m p l e ta d e vencedores pode ser conferida no site do Grammy
Um ano sem 2NE1 T E X T O //
Bruna Curi
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No final de 2008, a imprensa sul-coreana começou a especular rumores de que a YG Entertainment estaria criando uma versão feminina do tão aclamado e famoso boy group BIGBANG. Em 2009, esses rumores foram confirmados, quando o presidente da YG, Yang Hyung, disse que o “BIGBANG feminino” (na época ainda não tinham escolhido um nome para o grupo) iria estrear. As quatro integrantes, no entanto, estavam escolhidas: CL (Lee Chae-rin), Minzy (Gong Min-ji), Bom (Park Bom) e Dara (Sandara Park) formariam, assim, o girl group 2NE1, estreando em maio de 2009. A música de debut do 2NE1, Fire, foi lançada no dia 6 de maio de 2009. A canção foi escrita e produzida por Teddy Park, líder do 1TYM, e seu vídeo ganhou duas versões: space e street. Logo após o lançamento, durante as primeiras 24 horas, cada vídeo recebeu mais de um milhão de visualizações. Outro sucesso da banda, ainda no início,
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foi a música Lolllipop, em parceria com o BIGBANG. Lançada em 27 de março de 2009, a canção atingiu a primeira colocação em diversas paradas sul-coreanas online, incluindo a Mnet, onde permaneceu no topo por quatro semanas. O ano de 2013 foi marcado pela parceria entre 2NE1 e o cantor e produtor norte-americano will.i.am, doThe Black Eyed Peas. A música Take The World On lembra bastante as investidas mais eletrônicas do grupo, além de contar com uma produção bem característica do will.i.am, carregada de sintetizadores. Apesar de no início a banda ter sido considerada como o “BIGBANG feminino”, o girl group foi muito mais que isso. O nome 2NE1 significa “nova evolução do século 21” e ao longo dos anos a banda apresentou o figurino, coreografia e cenário inovadores dando significado ao nome; o 2NE1 criou a sua própria identidade e sua marca. Durante sete anos em que esteve atuando,
Nota do Editor: para entender melhor alguns dos termos utilizados na matéria, aconselhamos a leitura dessa outra matéria. zint.online | 103
Da e s que rda p ra di re i ta : b o m , M i nz y, Da r a , c l
a banda lançou diversos álbuns (tanto na versão coreana quanto na japonesa, como foi o caso dos álbuns Collection e Crush), realizou cinco turnês, além de ter ganhando diversos prêmios e reconhecimentos. Ainda, 2NE1 não foi um 104| zint.online
fenômeno somente na Coreia do Sul: o sucesso da banda se alastrou ao redor do mundo (a música I AM THE BEST, por exemplo, foi um dos maiores sucessos globais do grupo, ecoando até mesmo aqui pelo Brasil).
GOODBYE No dia 5 de abril de 2016, a YG Entertainment comunicou, através de seu site oficial, a saída da integrante Minzy, que não quis renovar o contrato com a gravadora. A empresa falou ainda que a banda iria fazer um comeback no verão de 2016. Contudo, as incertezas sobre o futuro do 2NE1, ainda mais após a saída de Minzy, eram grandes. Somente seis meses depois, no dia 25 de novembro de 2016, a YG anunciou a disband do grupo através de uma declaração:
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“Nosso contrato com 2NE1 chegou ao fim em maio de 2016, e enquanto nós enfrentamos uma situação onde a Minzy não está mais conosco, nós decidimos acabar com o grupo depois de uma longa discussão. Já que o 2NE1 foi o girl group oficial da YG por sete anos, não podemos não expressar como nos sentimos, mas sabemos que é muito difícil continuar. Em vez de esperar pelos grande pedidos pela promoções do 2NE1, nós decidimos focar nas atividades solos. Sinceramente, nós agradecemos aos fãs coreanos e internacionais que tem amado o grupo e sua música por todo esse tempo. Gostaríamos de anunciar também que oficialmente depois do próximo maio, nós continuaremos com CL e Sandara Park. Entretanto, infelizmente, não há contrato novo com Park Bom.''
Para se despedir dos fãs, conhecidos como blackjacks, o grupo liberou em janeiro de 2017 o clipe da música Goodbye. O vídeo, em preto e branco, mostra as integrantes CL, Dara e Bom em um cenário escuro e são projetadas cenas que marcaram os sete anos de trajetória do girl group, assim como momentos dos bastidores dos shows e trechos de clipes. Com uma carga nostálgica muito grande, combinada com a letra da música, o vídeo foi uma ótima forma de encerramento. O fim do 2NE1 foi um acontecimento triste para os fãs, mas ainda restam as boas recordações do tempo em que a banda esteve junta. E uma coisa é certa: durante a sua trajetória 2NE1 construiu um vasto legado que não será esquecido facilmente. //
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sĂŠries
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American Crime Story Primeiras Impressões:
S02E01: "The Man Who Would Be Vogue" T E X T O & D i a g r a m a ç ã o //
Q Quando foi anunciada, The Assassination of Gianni Versace seria a terceira temporada do mais recente sucesso seriado de Ryan Murphy. Após o bem recebido e multi-premiado The People v. O.J. Simpson, a segunda temporada de American Crime Story seria Katrina, focada na visão pessoal dos sobrevivente da destruição causada pelo furacão Katrina, em 2005, nos Estados Unidos. Porém, após diversos problemas, Katrina acabou sendo completamente reformulada (agora, focado na história do hospital que ficou
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sem energia durante dias após o desastre, resolvendo fazer eutanásia em 20 pacientes) e passando a ser a terceira temporada, dando lugar ao muito antecipado The Assassination of Gianni Versace, cujas gravações estavam avançadas e prestes a serem finalizadas (a segunda e a terceira temporada estavam sendo gravadas simultaneamente). Por mais que o assassinato do estilista italiano e fundador do império Versace, Gianni Versace, não seja exatamente um momento controverso da história, como foi o caso de O.J. Simpson, é inegável o fato do legado que Gianni possui no mundo da moda; sem contar, é claro, a sua morte completando 20 anos em 15 de julho de 2017. E convenhamos: ainda há aquele inegável fato de que a existência desse capítulo de ACS é um encaixe perfeito no meme "vou dar aos gays tudo o que
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eles querem", principalmente por ser encabeçado por Ryan Murphy (que é gay, casado e pai). The Assassination of Gianni Versace vem ao mundo para contar o antes, durante e depois do assassinato de Gianni Versace, em um cenário cheio de glamour, alta costura, cores neon, homossexualidade, dinheiro, gigolôs, talento, psicopatia, dor, força, preconceito e família. A série, criada, produzida e (as vezes) dirigida por Murphy, tem como panos de fundo a Miami Beach dos
anos 90. O império Versace já está edificado no mundo há quase 20 anos, com Gianni sendo o primeiro estilista a aproximar a moda com o mundo da música, possuindo poderosos amigos no setor, como Madonna, Elton John, Cher e Duran Duran, além de outros nomes como Naomi Campbell e ninguém menos que a Princesa de Gales, Diana. Versace é, também, abertamente gay e está há 15 anos vivendo com o seu parceiro Antonio D'Amico.
Na cena, Andrew (Darren Criss) conta a um casal de amigos sobre ter conhecido Versace, mas manipula a história para o seu benefício 110|
No dia de sua morte, Gianni (Edgar Ramírez) seguiu com a sua rotina como todas as manhãs, sem imaginar, é claro, o que o aguardava
The Man Who Would Be Vogue
A segunda temporada de ACS não demora a deixar claro ao que veio. O assassinato de Versace (Édgar Ramírez) é mostrado logo nos primeiros 10 minutos do programa, sendo procedido por uma breve narração (e uma maravilhosa fotografia meio desbotada e quente, para dar aquela ideia cinematográfica de uma praia dos anos 90) de como teria sido a manhã do estilista até a sua morte, nas primeiras horas da manhã, pelo serial killer Andrew Cunanan (Darren Criss), procurado pelo FBI por outros quatro assassinatos. Com esse barreira vencida, o episódio então propõe-se a logo apresentar quem seria a personagem de Darren. Fica logo claro que Andrew é um mentiroso por natureza (possivelmente encaixando-se na "mitomania", ou, no original, pathological liar), manipulando as pessoas ao seu redor através de mentiras que o colocam, principalmente, como alguém extremamente interes-
sante e importante. Em outubro de 1990, Cunanan esbarra com Gianni Versace em uma boate gay de São Francisco. Fã do estilista, o rapaz logo começa a soltar suas mentiras afim de chamar a atenção de Versace, contando à ele que sua vó também é da Itália, com o sonho de retornar à terra-mãe. Gianni logo fica interessado nas história da vó de Cunanan, iniciando uma conversa com o rapaz, posteriormente convidando-o para a ópera. Andrew, então, mostra duas histórias diferentes sobre esse encontro. Para um casal de amigos, Cunanan conta que o interesse partiu inteiramente de Versace, mostrando completa indiferença diante o acontecimento, enquanto zomba da homossexualidade do estilista e até mesmo menospreza o seu talento, falando que as roupas feitas por ele são para "putas". Para um outro amigo, Jerome (Joe Adler), no entanto, Cunanan já demonstra mais interesse no italiano. zint.online | 111
Donatella (Penélope Cruz) possui um relacionamento muito próximo de seu irmão, e mesmo muito abalada com sua morte, ela está mais do que determinada a não deixar o legado Versace morrer
Nessa cena, em particular, fica logo claro que a rede de mentiras criada por Cunanan não é, exatamente, uma novidade para todos. Jerome comenta as outras diversas vezes em que Andrew mentiu sobre o seu passado, e até mesmo aponta em como ele esconde sua sexualidade das pessoas, contando aos héteros que ele é hétero, e aos gays que ele é gay. Mas para Cunanan, as mentiras são complexas e vem com muita facilidade. A personalidade da personagem, que aparentemente será o grande protagonista desse ciclo de ACS, também torna-se visível através da atuação de Darren. O ator entrega muitos olhares e encaradas psicopáticas, além de dar vida à uma pessoa que mimetiza as expressões e reações de outras pessoas, afim de esconder o fato de que ela mesma não possui determinados sentimentos, como a empatia. Sua psicopatia volta a ganhar vida quando ele vibra e celebra ter matado Versace e compra todos os jornais para ficar antenado sobre a sua façanha. O episódio também dá indícios de como irá retratar a homossexualidade do estilista e todo o cenário queer da época (junto aos preconceitos), com os policiais completamente desnorteados em como um relacionamento gay acontece, muitas vezes deixando evidente 112| zint.online
suas pré-concepções. O exemplo para esta narração é o breve interrogatório feito pela polícia à Antonio D'Amico (Ricky Martin), onde eles questionam se, assim como os garotos de programa contratados para entreter Versace, D'Amico era pago para manter seu relacionamento com o estilista. Este terceiro momento do season premiere é marcado pela ilustre aparição de Penélope Cruz no corpo de Donatella
Versace, irmã de Gianni. Muito caprichada na caracterização e afiada em reproduzir o carregado e icônico sotaque de sua personagem, a presença de Donatella é introduzida de uma forma um tanto fria e distante, ainda que visivelmente abalada pela morte de seu querido irmão. A estilista aparece em cena para mandar a polícia embora e repreender D'Amico, mostrando um certo desafeto que ela possivelmente possui com o "cunhado". Donatella também é apresentada como uma mulher forte, determinada a tomar as rédeas do império criado por seu irmão, incapaz de deixar que todo o seu legado seja perdido devido seu assassinato ou até mesmo pelas histórias de sua vida particular que logo irão vir a tona pela imprensa de todo o mundo. Donatella não está no casarão de Miami Beach apenas para ficar de luto pela morte de Gianni, mas também para garantir que as engrenagens continuem rodando e que a empresa continue sob tutela da família Versace, com ela própria sentada no trono.
h á 1 5 a n o s c o m v e r s a c e , A n t o n i o D ’A m i c o (Ricky Martin) é quem fica com o corpo do amado até a chegada da ambulância
Fica claro, então, que podemos esperar pelo menos dois grandes arcos: a de Andrew (e a sua relação com Gianni) e a de Donatella (narrada pela sua ligação muito próxima com seu irmão). A mesma expectativa pode ser estendida para o maravilhoso trabalho visual que a série traz e a fiel caracterização de seus personagens e eventos, exatamente como aconteceu com a temporada anterior, ganhadora de prêmios como Melhor Minissérie ou Telefilme, no Golden Globe Awards, e Melhor Série Limitada, no Primetime Emmy Awards. Já é bastante evidente que o tom de fotografia quente, com breves cenas em cores neon e a música clássica serão elementos marcante nesta temporada. Para o telespectador, resta apenas acompanhar a narrativa que será dividida em nove capítulos, finalizando o seu ciclo, sem pausas, em 21 de março. No Brasil, a série vai ao ar pelo canal pago FX, com um dia de atraso, todas as quinta-feiras às 23h. //
A complexidade do cotidiano em "Big Little Lies" T E X T O //
Por que Mentir?
carolina cassese
Roupas de grife, casas belíssimas com piscinas gigantescas, feed do Instagram combinando. Estética. “Eu acho que a minha auto-estima depende de como as pessoas me veem”, admite Celeste Wright, a mulher do cabelo brilhante. Ela faz parte de alta sociedade de
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Monterey, na Califórnia. Sua melhor amiga, Madeline Mackenzie, também aparenta ser impecável, com seu visual tão padronizado e
sua influência no grupo das mães do colégio local. “Minha filha é a mais popular da escola. Se ela não for nessa festa, nenhuma criança irá”, exibe, com orgulho. Mãe da pequena Amabella, Renata Klein é uma mulher extremamente bem sucedida em sua carreira, o que desperta raiva em outras mulheres – que optaram por não trilhar um caminho profissional. Casada com Nathan Carlson, o ex-marido de Madeline, Bonnie também desperta inveja nas mães de Monterey, por apresentar um estilo de vida aparentemente equilibrado e 100% natural (produtos orgânicos, yoga e atitudes sempre zen). Novata na região, Jane Chapman destoa um pouco das mulheres já descritas. A mãe de Ziggy, jovem e misteriosa, é reservada e menos pretensiosa. E um assassinato. Em uma glamourosa festa à fantasia da elite de Monterey, um corpo é encontrado. Quem está morto? E quem é o assassino? Uma vida perfeita é uma perfeita mentira. Repercussão
Narrando a história dessas cinco mulheres, a série Big Little Lies, da HBO, foi um dos maiores destaques do último ano. A história, densa do começo ao fim, traz importantes reflexões sobre aparências, competição feminina e relacionamentos abusivos. Contando com
um elenco primoroso, a produção levou quatro estatuetas na 75ª Cerimônia do Globo de Ouro, realizada no dia 07 de janeiro: Melhor Minissérie, Melhor Atriz
as personagens de nicole kidman, reese whiterspoon e shailene woodley são destacadas como as grades protagonistas da série
em Minissérie (Nicole Kidman), Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie (Laura Dern) e Melhor Ator Coadjuvante em Minissérie (Alexander Skarsgård). Em dezembro, a narrativa foi o grande destaque do Emmy, garantindo oito prêmios. O diretor, Jean-Marc Vallée (responsável pelo Oscarizado Clube de Compras Dallas), também foi prestigiado. As atuações de fato são um ponto forte da trama. Nicole Kidman e Reese Whiterspoon, especialmente, brilham ao interpretar suas complexas personagens (Celeste e Madeline, respectivamente). As duas atrizes são também produtoras executivas da série, inspirada no romance homônimo da australiana Liane Moriarty. “Divido esse troféu com todas as mulheres maravilhosas que me ajudaram a idealizar esse projeto. Nós sentamos numa mesa e nos comprometemos umas com as outras, com fidelidade e confiança”, afirmou Nicole Kidman ao receber seu Globo de Ouro. O elenco infantil também rouba a cena, com
destaque para Darby Camp, que interpreta a fofíssima Chloe Mackenzie. Impossível não fazer menção também à trilha sonora, que auxilia na criação de uma atmosfera perfeita para a história. A abertura, com Cold Little Hearts de Michael Kiwanuka, é deliciosa de se assistir. Um Olhar Raro
Big Little Lies acerta, principalmente, em retratar com sutileza as tantas nuances dessa realidade padronizada e aparentemente impecável. Os personagens são pouco estereotipados e, portanto, construídos com verossimilhança. A narrativa envolve bastante o espectador – não só pela premissa do assassinato (que é apresentado no primeiro episódio e solucionado apenas no último), mas também pela complexidade das situações cotidianas apresentadas. Popularidade, corpos invejáveis, relações competitivas. A série retrata, com
Da esquerda pra direita: sessão de foto com as atrizes Laura Dern (Renata Klein), Reese Witherspoon (Madeline Martha Mackenzie), Nicole Kidman (Celeste Wright), Zoë Kravitz (Bonnie Carlsom) e Shailene Woodley (Jane Chapman)
densidade, todos esses (questionáveis) valores que são pertencentes, sabemos, não só à elite de Monterey, mas à nossa sociedade contemporânea como um todo. As cenas na casa de Celeste despertam angústia e apreensão. Os diálogos da personagem com sua terapeuta, interpretada por Robin Weigert, são muito bem elaborados e a relação das duas acaba se tornando um ponto alto da história. A série foi bastante elogiada pela abordagem em relação à temática do relacionamento abusivo. Para Melissa Jeltson, editora do The Huffington Post, a série “lança um olhar raro e cheio de nuances sobre relacionamentos abusivos, mostrando que vítimas e agressores nem sempre se comportam como esperamos”. As relações estabelecidas entre os personagens da trama ficam mais complexas a cada capítulo. Todos os mistérios apresentados ao longo da narrativa, porém, só são elucidados no último episódio - que é surpreendente e tocante. A história, idea-
no primetime emmy awards, “big little Lies” levou oito prêmios, entre eles “Melhor minissérie”
lizada para ser uma minissérie, é concluída com primor. Porém, por conta da grande audiência e da significativa repercussão, uma segunda temporada de Big Little Lies já foi confirmada e começará a ser gravada na metade deste ano. Os episódios serão dirigidos por Andrea Arnold (de American Honey) e as estrelas Nicole Kidman e Reese Witherspoon continuam à frente da produção (amém). Que essa reunião de mulheres talentosas e cheias de personalidade renda ainda muitas histórias e reflexões densas. //
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Os pecados de Cora T E X T O //
carolina cassese
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om sete facadas. É dessa maneira que, em um dia ensolarado de verão, Cora Tannetti mata um homem na praia, na frente de todos – inclusive de seu filho e marido. Mas por quê ela comete o crime? Essa é a premissa de The Sinner, minissérie do canal norte-americano USA Network, com distribuição pela Netflix. A produção, protagonizada por Jessica Biel, intercala cenas do presente com flashbacks que revelam o passado da personagem principal. Cora cresceu em uma casa extremamente religiosa, com uma mãe que a culpava pela doença de sua irmã mais nova. A personagem incorporou esse sentimento de culpa em sua personalidade e se tornou uma pessoa extremamente suscetível e insegura em diversos aspectos. Não é atoa que a mesma, logo nos primei118| zint.online
ros instantes após cometer o crime, se declara com muita convicção: “sou culpada”. O assassinato acontece logo no piloto. A (excelente) cena do crime conta com movimentos de câmera perfeitos para cada momento. Ao longo dos oito episódios, o detetive policial Harry Ambrose (Bill Pullman) investiga o caso, revirando o passado de Cora. A relação entre os dois personagens é densa e evolui gradualmente, garantindo ótimas cenas. As atuações de Biel e Pullman são, sem dúvida, o grande destaque de The Sinner. O papel de Cora exige bastante de Biel, que dá conta do recado com maestria. A atriz, inclusive, foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz de Minissérie no Globo de Ouro 2018 (como esperado, Nicole Kidman levou a melhor por seu trabalho em Big Little Lies). A relação de Cora com sua irmã, Phoebe (Nadia Alexander), é central na trama e também muito bem construída.
A minissérie possui um ritmo lento, o que deixa o espectador ávido (e até um pouco angustiado) para descobrir logo as razões do assassinato na praia. Boa parte da solução é apresentada no sétimo episódio, que emociona e tira o fôlego de quem assiste. A história é muito bem concluída, mas há rumores de que uma segunda temporada está sendo cogitada pelos produtores. Essa continuação, provavelmente, não contaria com a participação de Jessica Biel (já que a história de Cora parece realmente ter se encerrado), mas é possível que o personagem de Pullman permaneça na narrativa investigando outros casos intrigantes. The Sinner cumpre muito bem seu papel jessica biel entrega uma atuação memorável, sendo a grande atração da série
Na frente, em destaque, Cora Tannetti (Jessica Biel), com o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) ao fundo
como uma minissérie de suspense, mas também consegue ir além do acontecimento principal, suscitando reflexões sobre educação, religião e abalos psicológicos. A culpa, afinal, é de quem? //
The End of The F***ing World
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bárbara lima
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Baseada no quadrinho homônimo de Charles Forsman, a série britânica The End of the F***ing World, do canal britânico Channel 4, chegou com seus oito episódios na Netflix no dia 5 de janeiro. A série discorre de forma dramática e irônica sobre a vida dos adolescentes James (Alex Lawther) e Alyssa (Jessica Barden), carentes de afeto e
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atenção, com perturbações maiores do que somente a puberdade. A série recebeu diversas críticas positivas respeito de sua produção, com sua fotografia sendo enaltecida, assim como a trilha sonora pop e hermética.
Alex Lawther e Jessica Barden estrelam a série britânica de humor negro
O primeiro episódio começa explorando de forma criativa os traços psicopáticos da personalidade de James, como a sua falta de senso de humor e suposta insensibilidade a dor e quaisquer manifestações de emoção ou sentimento. O protagonista chegou a queimar a mão em uma fritadeira para tentar sentir algo quando pequeno. Com uma morte traumática em sua infância, o jovem desenvolve um desejo assassino patológico que se manifestou inicialmente em animas, mas que com o passar dos anos tornou-se um hobby maior. É ai que Alyssa passa a integrar a trama. Com vários problemas familiares, ela é a garota revoltada da escola, que se envolve em brigas, discute com os professores, tem explosões raivosas e demonstra pouquíssima paciência. Depois de se conhecerem no colégio, a dupla protagonista desenvolve um relacionamento desajustado e cômico, embarcando em uma aventura motivada pelo desejo e ambos de fugirem de suas vidas arrastadas e trágicas na pequena cidade onde moram. Um dos principais pontos positivos da série é a dinâmica criada entre os jovens, com Alyssa sendo uma garota que possui vários desejos obscenos e tenta manter relações sexuais com
James o tempo inteiro, enquanto ele não corresponde, devido a sua vontade constante de assassinar a companheira de jornada. Com o desenrolar da trama e a consequente aproximação das personagens, ambos passam a apresentar mudanças na personalidade. O garoto, por exemplo, ignora as inúmeras oportunidades encontradas para matar Alyssa, evidenciando o aflorar de sentimentos pela parceira de crime, desenvolvendo até uma dependência emocional da garota. Apesar disso, o roteiro de Charlie Covell consegue demonstrar a dualidade de James de forma primorosa, construindo cenas que fazem o telespectador mudar de opinião rapidamente, nos levando a ora acreditar, ora duvidar da psicopatia do protagonista. A partir das diversas práticas de atos ilícitos promovidas pelos jovens, surge a interferência de duas delegadas, uma interessada em entender os desvios praticados, e a outra em punir os jovens. A série consegue revelar muito bem os motivos pelo qual os dois sofrem e são carentes, mostrando a negligência da família com o passar dos episódios se tornar cada vez mais explícita. No entanto, o casal encontra na relação com o outro a companhia para suprir essa falta de compreensão que é tão presente em suas vidas. A história começa mostrando apenas adolescentes revoltados, mas depois, de forma sutil, é perceptível a química entre os dois e a razão para serem assim. The End of the Fu***ing World é emblemática, envolvente, e sem moralismo barato. É uma série que transmite a sua mensagem de forma caricata para o que acontece nos dias atuais, em que pais ausentes e adolescentes com problemas psicológicos e de socialização são comuns de se encontrar. De forma irônica, é entendido a gravidade da falta de afeto para um jovem, pois isso pode suceder a fatos de extrema magnitude (matar, roubar e outros atos). Alyssa e James ultrapassam a linha dessa gravidade, começando como adolescentes com o psicológico abalado para algo muito intenso e maior. // zint.online | 121
Skin Wars: quando as telas ganham vida T E X T O //
deborah almeida
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maria nagib
que acontece quando pinturas saem das telas planas e são feitas em pessoas, com todas as formas, detalhes e relevos que o corpo humano possui? A técnica, chamada pintura corporal, é a principal personagem do reality show de competição Skin Wars (Peles em Guerra, na tradução para o Brasil). O programa foi lançado em 2014 e conta com diversos artistas que mostram suas incríveis habilidades de enganar os olhos humanos e transformar um simples corpo 122| zint.online
em obra de arte. O game show segue o padrão que estamos acostumados. Os participantes são convocados e submetidos à desafios diários, seguidos pela avaliação dos jurados e uma eliminação ao final de cada dia. O clima é de muita tensão, competição acirrada e tentativas de formar alianças, como todo bom programa de competição. O diferencial deste são os resultados surpreendentes de cada desafio, que colocam à prova o que tintas, pinceis e um pouco de imaginação podem fazer. Quem apresenta o programa é a atriz Rebecca Romijin, famosa por interpretar a Mística em X-Men: O Filme (2000). A mesa de jurados é composta por RuPaul Charles, do programa
RuPaul’s Drag Race; Craig Tracy e Robin Slonina, renomados artistas de pintura corporal. Apesar de RuPaul não seguir o ramo de pintura, ele é referência em transformações corporais para drag queens, o que o deixa bem à par das inúmeras possibilidades que um corpo tem para ser usado como forma de arte. Além das habilidades dos artistas, o programa surpreende pelos desafios exigidos. Os participantes nunca sabem o que está por vir e a exigência dos jurados cresce a cada dia. Ao longo de três temporadas, boas parte das pinturas são feitas em mulheres, entretanto, às vezes surpresas acontecem e a disputa é feita desde lutadores de sumô até anões e grupos de contorcionistas. Os temas das pinturas também são variados e os artistas precisam estar preparados. Podem ser sonhos, estilos musicais ou animais, nunca se sabe. O importante é ter criatividade e técnica impecável. Apenas um desafio se repete em todas as temporadas: camuflagem. Esse é, sem dúvidas, um dos mais difíceis. Os participantes devem fazer a modelo sumir em algum determinado cenário, de modo que não seja possível perceber exatamente onde o corpo está. Parece impossível, mas muitos têm a capacidade de cumprir a proposta com maestria. No momento de pintar, não há um padrão exato. É possível usar pincel, esponja, air brush e, em muitas vezes, os próprios dedos. Os artistas estão liberados para completar as obras com pró-
teses e acessórios variados, como pérolas, tecidos e penas. É muito interessante ver como cada um tende seguir certo estilo de pintura, independente do desafio solicitado. Alguns gostam de abusar de cores vivas, outros mantêm nos tons de terra. Há artistas que fazer desenhos hiper realistas, enquanto outros seguem a linha do surrealismo. O que importa mesmo que o resultado final, que tende a ser impressionante. Apesar da arte não ser muito divulgada no Brasil, o programa já teve um brasileiro como participante. Seu nome era Marcio Karam, um carioca de meia idade. Ele não teve uma presença marcante na temporada, mas foi muito interessante ver uma figura brasileira nesse meio. A terceira temporada foi ao ar em 2016 e, infelizmente, ainda não há indícios de uma próxima a caminho. Mas é possível acompanhar diversos artistas através de suas redes sociais e portfolios. A pintura corporal ainda não é tão famosa quanto outras manifestações artísticas, contudo, tem grandes chances de crescer e mostrar ao mundo o quão maravilhoso o corpo humano pode ser. No Brasil, Peles em Guerra foi exibido pelo canal pago Multishow, e desde 2017 pelo E!. Um spin-off, Skin Wars: Fresh Paint (Peles em Guerra - Tinta Fresca), foi exibido em 2015 como um especial, entre a segunda e terceira temporada, sendo apresentado por RuPaul. Ambos os programa também estão disponível no catálogo nacional da Netflix. //
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INDICAÇÕES
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Fr i a s e calcul i sta s: c i nc o v e ze s em q ue m ul h er e s as sum i r a m o pa pe l de anti-heroína
// TEXTO
raquel Almeida
// D iagr a m aç ão
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Outro dia, perdida nas muitas opções do catálogo da Netflix, me deparei com uma nova série, produzida pela própria plataforma: A Louva-a-Deus (2017). A sinopse me laçou de primeira – porque produções sobre assassinos em série só tem dois caminhos: ou você abomina ou você é obcecado – e eu, claramente, me enquadro no segundo grupo. Bom, mas o que importa é que essa nova produção da Netflix havia, de fato, me interessado – não que a história me parecesse muito inovadora, mas o que me fez apertar o play foi apenas um artigo: UMA serial killer. Dos muitos filmes e séries que já consumi sobre o tema, me chamou imediatamente a atenção o fato de que se tratava de uma mulher no papel do criminoso. É curioso como anti-heroínas são bem mais incomuns do que os anti-heróis, né? Enquanto enumero com facilidade personagens aclamados como Walter White, Hannibal Lecter, Dexter Morgan e Tony Soprano, penso que poucas chances foram dadas à figura feminina de se colocar no papel da má-boa-moça. Mas a verdade é que as mulheres não deixam barato não – as anti-heroínas, além de injetarem aquela necessária dose de adrenalina no espectador, também debatem questões bem fundamentais a respeito do que é ser mulher, de como a sociedade pode ser cruel com a figura feminina e como isso pode afetar brutalmente seu comportamento. Essa lista é pra te convidar a assistir cinco produções em que as mulheres são barra pesada, mas de bom coração.
» Kill Bill Acho que é impossível falar de anti-heroína sem mencionar A Noiva. Nesse grande sucesso de Quentin Tarantino, Uma Thurman encarna uma integrante de gangue, extremamente habilidosa e bem treinada por Pai Mei, mestre das artes marciais e o famoso Bill (David Carradine). Na tentativa de largar o ramo e seguir outra vida, a Noiva tenta se casar às escondidas mas é espancada e quase morta, ficando em coma por anos. Quando acorda, sua sede de vingança toma conta e seu objetivo fica bem claro: matar Bill. Kill Bill é uma produção bem fundamental principalmente por ser um grande clássico consagrado do cinema em que a mulher assume o papel do assassino. O interessante é que os litros e litros de sangue derramados não são absolutamente sem propósito ou somente em nome da ação – o filme também traz à tona questões como estupro, por exemplo: há a clássica cena em que A Noiva está desacordada no hospital e um enfermeiro basicamente vende para outro homem 20 minutos no quarto com a personagem de Thurman, inconsciente. É uma cena indigesta, frívola e absolutamente banal – o enfermeiro dita regras sobre a conduta do homem durante o abuso como se estivesse o instruindo sobre qualquer atividade comum. Felizmente, estamos falando de Beatrix – o desfecho da cena é de descolar as costas do sofá e mostra que de sexo frágil ela não tem nada. Bom, é importante lembrar também que o roteiro de Kill Bill é uma colaboração entre Tarantino e Uma Thurman, o que pode ser uma justificativa bem plausível para que a figura da mulher tenha tanta força, em todos os sentidos, dentro da narrativa.
» Millenium Você sabe que um filme é forte quando Hollywood mete a mão na produção europeia, né? No caso, eu assisti a versão de David Fincher antes da original de Niels Arden Oplev e, por isso, a Rooney Mara é o rostinho que me vem à cabeça quando o assunto é Lisbeth Salander – portanto, vamos de Fincher. O filme conta a história de Henrik, um homem velho e muito rico cuja sobrinha está desaparecida há 36 anos. Motivado a encontrá-la mesmo depois de todo esse tempo, ele contrata Mikael Bomkvist (Daniel Craig), um jornalista investigativo que perde o emprego por enfrentar um processo por difamação e calúnia. Ele conta com a ajuda de uma hacker, a incrível Lisbeth Salander, considerada sociopata pelo Estado desde a adolescência. A primeira cena da personagem já diz muito sobre ela: em um ambiente empresarial absolutamente formal, clean e minimalista, dois homens conversam sobre o excelente-mas-excêntrico trabalho de Salander, que logo chega em uma moto, vestida de preto, com visual andrógino, corte de cabelo pouco convencional, e piercings por toda parte. Sua irreverência não se manifesta só na aparência: ao chegar na sala de reunião, os homens a cumprimentam e Lisbeth permanece em absoluto silêncio. Eu poderia passar horas falando sobre como boa parte da complexidade da personagem já se mostra nos primeiros minutos em que aparece em cena, mas deixo vocês com o benefício da descoberta. O passado de Lisbeth é a linha que desenrola a narrativa e é apresentado em flashbacks, num tom realista que até entendo ser incomum no cinema americano. As cenas são fortes e grotescas – ressalto a do estupro sofrido pela personagem, cometido pelo seu tutor. Sem dúvida, uma das produções americanas que mais me tiraram o conforto diante da tela. É bizarro e desesperador, do jeito que tem que ser, sem nenhum teor apologético ou fetichista. Bom, mas estamos falando aqui de mulheres que não deixam barato, né? A fragilidade física da personagem nada reflete seu temperamento; sua vingança é fria e calculista, impiedosa e bem cruel, dessas que você vibra com o acontecimento mas questiona o seu nível de sadismo. Esse filme é muito complexo para um só parágrafo. Qualquer dia a gente conversa só sobre ele por aqui. Próxima!
» The Sinner Como comentado anteriormente em uma matéria, The Sinner é um dos recentes sucessos da USA Network. É uma série de oito episódios que conta a história de Cora, vivida por Jessica Biel, uma mãe de família aparentemente normal que, em um dia na praia com a família, ataca brutalmente um jovem e o assassina à facadas. Cora não é capaz de explicar o que aconteceu ou qual o motivo para seu surto, mas confessa o crime e aceita a pena. No entanto, isso não é suficiente para encerrar a investigação: Ambrose, um detetive com gostos sexuais peculiares e bizarros, começa a ficar interessado sobre as lacunas na história de Cora que ela não lembra ou parece querer deixar atrás dos panos. Nada de novo sob o sol: The Sinner não é lá muito original em termos de roteiro e nem é a melhor mini-série sobre assassinatos inexplicáveis com investigadores estranhos (The Night Of é minha queridinha do momento). O que interessa aqui é como essa fórmula mágica que parece sempre dizer mais do mesmo, dessa vez, veio para dar voz a um tema bem importante. O passado de Cora começa a ser investigado e algumas recordações começam a aparecer na cabeça da protagonista. É interessante aqui ver como a série se propõe a compreender a mente da personagem desde sua infância, sob a criação rígida de pais religiosos, dividindo quarto com uma irmã gravemente doente. A mãe culpava Cora pela doença da filha mais nova e a atormentava das mais variadas formas. No entanto, as irmãs eram muito próximas e descobriram a vida juntas – através das vivências de Cora, já que sua irmã mal se levantava da cama. É interessante acompanhar a personagem de Jessica Biel começando a desvendar o mundo, os prazeres, as decepções e, principalmente, como é complexo, difícil e amedrontador ser mulher no mundo. O desenrolar da narrativa esbarra novamente em questões fundamentais sobre abuso sexual e como ele é catastrófico e devastador para a vítima.
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» Malévola Malévola não é dos meus filmes preferidos mas achei válido citá-lo para mostrar que essa temática em comum a todos os filmes e séries citados acima também pode aparecer, de forma mais sutil, em produções como essa. O filme é baseado no clássico conto d’A Bela Adormecida e conta a história de Malévola, protetora do reino dos Moors, que se apaixona por Stefan e vive um romance – mas a ambição de se tornar líder do reino vizinho faz com que o garoto deixe Malévola. Enfurecida, a personagem de Angelina Jolie amaldiçoa Aurora, a filha de Stefan. Embora Malévola seja bem sugestivo, esse é de fato o nome próprio da personagem, que antes de ser tornar uma feiticeira má, era alegre e doce. Aqui, a fantasia se aproxima da realidade: Malévola perde a ingenuidade e a doçura precisamente na cena em que seu amante arranca suas asas enquanto dorme. A metáfora é bem clara: a personagem foi violada nos contos de fada assim como mulheres são estupradas na vida real e isso é, novamente, decisivo e fatal no comportamento e na vida da vítima. Além disso, gosto que o filme escolhe desenvolver em primeiro plano o afeto de Malévola com Aurora; confesso que não me lembro como é que isso se desenrola em A Bela Adormecida, mas acho fundamental que a tensão entre as duas principais figuras femininas do filme seja gradativamente suavizada. Isso joga a favor da desmistificação dessa história tosca de rivalidade entre mulheres no cinema, que inevitavelmente acaba refletindo na vida também. E a Angelina Jolie tá ótima no papel, pode assistir.
» LA MANTE Eis aqui a razão de tudo. A Louva-a-Deus é o nome que, atualmente, ocupa a ponta da minha língua quando alguém me pergunta se eu tenho alguma coisa legal pra indicar. A série é sobre uma onda de crimes ocorridos em Paris que imitam rigorosamente as famosas mortes cometidas pela serial killer Jeanne décadas atrás. A criminosa é acionada pela polícia, que a procura em busca de ajuda para tentar descobrir quem é o novo assassino. Jeanne topa ajudar mas com uma condição: que ela trabalhe junto com seu filho, Damien, investigador, com quem não mantém contato algum desde que foi presa. Precisamos ser sinceros aqui e dizer que não há nada de muito inovador no roteiro – é um excelente True Detective francês. Mesmo que caia em alguns clichês de produções sobre assassinos em série, A Louva-a-Deus, pelo menos, sabe bem como resolver as pontas sem nó, faz excelente uso da linguagem a favor da narrativa, conta com plot twists realmente bons e, olha, as atuações são demais. A dualidade da anti-heroína aqui funciona perfeitamente: é fácil perceber o lado humano, materno e cuidadoso da mesma mulher que assassinou à sangue frio (e de maneiras bem criativas) oito homens, que, segundo o julgamento da protagonista, mereciam morrer. O desenvolvimento da relação entre Jeanne e Damien na série é brilhante, é tensa, fria e ao mesmo tempo é calorosa, como quem não consegue (e não quer) negar os laços afetivos que um dia existiram. Com o avançar da investigação, descobrimos um pouco mais sobre a Louva-a-Deus e seu passado obscuro. Novamente, aqui, os crimes contra a mulher aparecem e provam mais uma vez como a vítima está fadada a um completo desamparo emocional diante de atrocidades cometidas em nome da sensação de poder. É uma série visceral em todos os sentido. Além de cenas pavorosas de assassinatos, é bem forte e impactante acompanhar essa relação conturbada de repulsa e amor entre mãe e filho. Assistam, sério.
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tirinhas
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CafĂŠ
Rafael Rallo
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Unha
Rafael Rallo
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FOTOGRAFIA
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rato; fotógrafo; paulo puiati, 19 anos belo horizonte, minas gerais influências; richard avedon, nan goldin, zack arias, terry richardson “busco referências na internet o tempo todo. gosto bastante de pesquisar por fotos antigas e reinventar a estética delas, misturando com elementos dos dias de hoje” sonho de trabalho; “me interesso muito pela fotografia de moda. acho que seria bem feliz se conseguisse ingressar nesse mercado!” portfólio; paulopuiati.tumblr.com
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Sempre achei fascinante o momento after party. De fato, é um momento muito peculiar no qual você não sabe se está cansado, triste porque a festa acabou ou feliz pelas coisas que aconteceram... ou tudo ao mesmo tempo. Pensando nesse tema, reuní com alguns amigos e registrei o rolê do início ao fim. Quis retratar uma atmosfera extremamente jovem, com elementos que representassem os momentos emblemáticos que sempre acontecem quando a gente se reúne na casa de alguém. O ensaio foi meu projeto final no curso de fotografia que fiz ano passado, orientado pelo professor Samuel Mendes. A exposição foi na própria escola, em dois banheiros. Imprimi as fotos em vinil e colei nas paredes e teto dos dois. A trilha sonora foi uma playlist que montei com algumas músicas da banda HOMESHAKE.
carnaval
fotรณgrafa; ana luisa santos, 21 anos belo horizonte, minas gerais portfรณlio; flickr.com/fotografar-te instagram.com/analuisa.fotografa/
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Este ensaio foi realizado em parceria com algumas produtoras locais de produtos carnavalescos em Belo Horizonte. Figurinos: Laiê Ateliê Bolsas: Funs Bag BH Acessórios: Benedita Acessórios Maquiagem: A Gliterista Modelos: Bruna Curi, Isabella Asheri
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modelo; bruna curi
modelo; isabella asheri
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PLAYLISTS
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