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@ Adriano Messias @
O GRUMETE E O TUPINAMBÁ ROMANCE DA FRANÇA ANTÁRTICA
@ ilustrações de Carlos Caminha @
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O GRUMETE E O TUPINAMBÁ
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@ Adriano Messias @
O GRUMETE E O TUPINAMBÁ ROMANCE DA FRANÇA ANTÁRTICA
@ ilustrações de Carlos Caminha @
2a edição Belo Horizonte 2021
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Copyright © 2021 by Adriano Messias Editor Rafael Borges de Andrade Supervisão editorial Maria Zoé Rios Fonseca Gerente editorial Mário Vinícius Silva Ilustrações Carlos Caminha
M585g
Projeto gráfico Mário Vinícius Assistente editorial Olívia Almeida Copidesque Lílian de Oliveira Revisão Olívia Almeida
Messias, Adriano O grumete e o tupinambá: romance da França Antártica / Adriano Messias ; ilustrado por Carlos Caminha. - 2. ed. Belo Horizonte : rhj, 2021. 144 p. : il. ; 13,5cm × 20,5cm. I S B N 978-65-88618-08-0 1. Literatura juvenil. 2. Aventura. 3. Brasil do Século xvi. 4. França Antártica. i. Caminha, Carlos. ii. Título. CDd: 028.5 CDU: 82-93
2021-656
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - crb-8/9949 Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura juvenil 028.5 2. Literatura juvenil 82-93
2a edição Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o consentimento por escrito da editora. Todos os direitos reservados à: rhj Livros Ltda. Rua Helium, 119 – Nova Floresta – Belo Horizonte/mg cep: 31140-280 Telefone: (31) 3334-1566 editorarhj@rhjlivros.com.br www.rhjlivros.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil
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@!@!@!@! Grumete: aprendiz de marinheiro, geralmente adolescente. Ele era o responsável pela limpeza do convés, em especial por molhar a madeira do navio para que não rachasse. Outra função que recebia era a de informar sobre a passagem do tempo, fosse virando uma ampulheta, fosse batendo um sino. Costumava receber um salário bem simbólico. Assim como o personagem principal deste livro, todos fomos, somos ou seremos grumetes algum dia: aprendendo o que não sabemos, desenvolvendo o gosto por alguma profissão, descobrindo como nos relacionar melhor uns com os outros. O grumete de ontem é o aprendiz de hoje. É aquele que busca seu espaço e o respeito de seus pares. Seja bem-vindo ao barco!
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@ Escritor navegante @
O Grumete e o Tupinambá foi uma história que se construiu pouco a pouco em minha vida. Quando me dei conta, ela saltava da página como um peixe no mar. Seu enredo traz o sabor do início da adolescência, quando eu então me perdia em livros de aventura. Ao terminar de escrevê-la, lembrei-me que eu havia ido certa vez a Provins, a terra de Villegagnon, ainda sem saber que ela faria parte de um de meus romances. Medieval e amuralhada, por aquela cidade francesa incensa o perfume da cidra e dos doces de rosas. Como meu personagem Jean, atravessei o Atlântico de um lado a outro, ida e volta, percorrendo o mesmo caminho e tendo as mesmas paragens dos navegadores do século xvi: Rio de Janeiro, Cabo Frio, Salvador; depois, acenos ao arquipélago de Fernando de Noronha antes de ganhar, por vários dias, o marasmo assombroso do oceano na altura do Equador – linha reta, silenciosa e profunda. O Atlântico, em seu coração de abismo, carrega o mistério de cinco mil metros de profundidade. Ao entardecer, na superfície esverdeada em azeite, nenhum sopro, nenhum peixe. Quase se pode caminhar sobre aquelas águas. O mar é tão plástico a três mil quilômetros de qualquer rocha! Senti depois as aragens de Cabo Verde, até avistar, dias mais tarde, a suntuosidade do vulcão Teide e poder subir até seu sopé no interior da ilha de Tenerife. Formosas Canárias! 6
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Os alísios são uma bênção. Nunca pensei que o vento trouxesse alegrias tão doces. Passei pelo estreito de Gibraltar e subi em seu rochedo povoado por macacos em verde mata e feérica bruma. Também cruzei as colunas de Hércules de norte a sul, rumando ao profundo Marrocos, por onde viajei até dunas nas quais tempestades de areia nos arrebatam em vermelho morno. Aportei em Barcelona, cidade de minh’alma – porto magnífico da novela humana. Menino perplexo do Sul das Gerais, que viveu entre mares de montanhas verdes e azuladas, não imaginei ir tão longe, meu horizonte!
Dedico este livro à minha professora de geografia do colégio, Vera Lucia. Ela partiu tão cedo, mas aguçou em mim o intenso encantamento que eu já trazia pelo mundo. 7
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@ Figuras históricas @ mencionadas neste romance André Thevet (1502–1590): frade franciscano, explorador, cosmógrafo e escritor, escreveu As singularidades da França Antártica, publicado em 1557 e ilustrado com 41 xilogravuras. O livro, em grande parte, trata de suas experiências no Brasil do século xvi. Bispo Sardinha (Pero Fernandes Sardinha, 1496–1556): foi o primeiro bispo da colônia brasileira e morreu em um ritual antropofágico, provavelmente nas mãos dos caetés. Coligny (Gaspard II de Coligny, 1519–1572): estadista e líder dos calvinistas franceses, assassinado em 1572 no massacre da Noite de São Bartolomeu. O forte erigido na Baía de Guanabara a mando de Villegagnon foi batizado como homenagem a Coligny. Hans Staden (1525–1579): aventureiro mercenário alemão. Esteve duas vezes no Brasil colonial combatendo os navegadores franceses e seus aliados indígenas. Permaneceu nove meses refém dos temidos tupinambás. De volta à Alemanha, escreveu um livro que ficou conhecido como Duas viagens ao Brasil (embora tivesse como verdadeiro título História verdadeira e descrição de uma terra de selvagens, nus e cruéis comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas Terras de Hessen até os dois últimos anos, visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a conheceu por experiência própria e agora a traz a público com essa impressão). 8
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Henri ii, rei (1519–1559): entusiasmado caçador e amante dos torneios, foi casado com Catarina de Médici, com quem teve dez filhos e filhas. Tentou impedir a Reforma Protestante e repreendeu os huguenotes na França. Morreu prematuramente em um torneio de justa para celebrar a paz de Cateau-Cambrésis. O famoso cirurgião Ambroise Paré, especialista em monstruosidades, dentre outros temas, não foi capaz de curar-lhe a ferida infeccionada. Isabel I de Castela, rainha (1451–1504): conhecida como “Isabel, a Católica”, essa proeminente mulher realizou vários feitos políticos, tanto positivos quanto lamentáveis, e apoiou incondicionalmente Cristóvão Colombo. Assinou, junto com o marido, o rei Fernando de Aragão, o Tratado de Tordesilhas (1494). Foi rainha de Castela e rainha-consorte de Aragão. Le Testu (Guillaume Le Testu, 1509–1573): navegador, cartógrafo e corsário francês. É autor de cinquenta e seis mapas reunidos em uma obra denominada Cosmographie universelle selon les navigateurs, tant anciens que modernes, 1555–1556, ou seja, Cosmografia universal segundo os navegadores, tanto antigos quanto modernos, 1555-1556, na qual curiosamente inclui um continente austral “real”, ainda que ninguém o tivesse encontrado até então. Fez mapas bastante imprecisos, ilustrados com imagens de animais, plantas e povos “exóticos”, muitos dos quais imaginários. Villegagnon (Nicolas Durand de Villegagnon, 1510– 1571): oficial naval francês e vice-almirante da Bretanha. Foi um homem admirável. Grande humanista de seu tempo, mescla de aventureiro, empreendedor e cientista, movia-se por uma profunda ética. Sonhador, quis fundar uma França tropical no que são hoje as terras da cidade do Rio de Janeiro, mas fracassou. 9
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* Todos os demais personagens são fictícios, ainda que baseados na realidade histórica da época em que se passa o enredo: Jean, o grumete; Paskou, o cozinheiro; Grégoire, cronista e copista; Michel Le Gros, espécie de líder da tripulação; Gonzagues, o timoneiro; Jean-Cent-Hommes, bravo marujo com uma misteriosa tatuagem; Le Bon, um artista beberrão; Ron, marinheiro picado por uma cobra; María Del Mar, a louca catalã; Îagûanharõ, o índio tupinambá.
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@ Notas explicativas @ “Carioca” (Kariók ou Karióg) era o nome de uma aldeia tupinambá que havia aos pés do atual Outeiro da Glória, na cidade do Rio de Janeiro. Ela foi mencionada pelo francês Jean de Léry, que fazia parte da expedição de Villegagnon. O nome “carioca” pode ter vindo do tupi kariîó (“índio carijó”) e oka (“casa”), ou seja, “casa de índio carijó”. No século xvi, os tupinambás do entorno da Baía da Guanabara chamavam o homem português de akari (“cascudo”), porque suas armaduras se pareciam às escamas daquele peixe. Na região da atual Praia do Flamengo, na foz do rio Carioca, os portugueses da segunda expedição à Guanabara (1503–1504), sob a liderança de Gonçalo Coelho, construíram uma casa de pedra que os tamoios denominaram de akari oka, ou seja, “casa de homem branco”, uma espécie de feitoria desativada em 1516. Há, entretanto, outras versões para a etimologia de “carioca”.
A tribo criada para a narrativa deste livro é uma homenagem àquela que existia no lugar em que atualmente está o bairro da Glória, na capital fluminense.
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Para nomes de tribos e etnias indígenas aqui citadas, a preferência para este romance foi o aportuguesamento com a escrita em iniciais minúsculas, reservando-se a grafia em maiúscula e sempre no singular para trabalhos científicos e acadêmicos.
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Na narrativa, o ponto de vista é o de um personagem narrador francês e historicamente localizado, o que explica os termos e expressões que ele emprega, bem como seu entendimento do mundo.
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@ Sumário @ i. Mundo sem fim @0@ 18 De Dieppe a Cabo Frio @1@ 21 1555 @2@ 27 Um grumete de dezesseis anos @3@ 32 Atlas, filho de Netuno @4@ 38 Pão de Açúcar @5@ 43 O tupinambá guloso
@6@ 46 Baixando à terra @7@ 50 A ilha de Serigipe – 22° 54' 51" S, 43° 9' 35" O @8@ 55 O rabo do fauno @9@ 60 A cobra coral @ 10 @ 63 O forte e o casebre
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ii. Mundo pequeno @ 11 @ 72 A tatuagem misteriosa @ 12 @ 79 Na aldeia carioca, Îagûanharõ @ 13 @ 83 O abraço da sucuri @ 14 @ 88 A caverna do lagarto petrificado @ 15 @ 93 Tudo azul na França do Sul @ 16 @ 96 A deglutição do Bispo Sardinha @ 17 @ 99 O monstro Gritador
@ 18 @ 104 “Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi” @ 19 @ 106 O último dos heróis @ 20 @ 109 Que fim teve María Del Mar @ 21 @ 118 A lição das coisas @ 22 @ 121 “Meninos, eu vi!” 123 Post scriptum: E o tesouro? 128 paratexto: Entrando na máquina do tempo
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Mundo sem fim
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“No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, em que densas coortes Assombram das matas a imensa extensão.” (trecho de I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias)
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@0@ De Dieppe a Cabo Frio Desde o final do século xv, a França tinha interesses nas “terras do sul” que faziam parte de um enorme continente, a América. Em 1488, um normando de nome Jean Cousin encontrou a foz do rio Amazonas. Anos depois, o armador Jean Ango levou para as terras francesas uma enorme quantidade de materiais e “curiosidades” do novo mundo encontrado: não apenas a cobiçada madeira chamada pau-brasil, mas também alimentos nativos, animais “exóticos”, e indígenas, em especial tupinambás e tabajaras. Iniciava-se, assim, um período de fértil amizade entre esses povos de além e aquém-mar. Os papagaios e as araras, assim como os homens imberbes enfeitados com penachos, eram a sensação das festas nos ricos salões da nobreza europeia.
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@ I. Mundo sem fim @
Porém, de maneira contrária, entre portugueses e tamoios — os tupinambás que viviam sobretudo no litoral sul de um já conhecido rio de Janeiro — avançava a animosidade: os indígenas não apreciavam o tratamento que recebiam daqueles colonizadores ibéricos, denominados por eles de “perós”, relação difícil esta que muitas vezes favoreceu os franceses. Eram os tempos do rei Henri ii , o perseguidor dos protestantes huguenotes, e a França, apesar de dividida por guerras religiosas, desejava também partilhar das riquezas austrais. Uma das estratégias foi fazer crescer a amizade entre nativos e franceses. Com isso, o comércio de produtos entre ambos os lados do Atlântico passou a se intensificar, o que muito incomodava Portugal. Em 1551, Henri II enviou o cartógrafo Le Testu para fazer uma viagem de reconhecimento do que é hoje o litoral brasileiro. Porém, seria apenas com Villegagnon que a França tentaria dar um passo certeiro quanto a colonizar os novos territórios. Antes do início da corajosa empreitada, o sacerdote André Thevet e o aventureiro Hans Staden passaram a Villegagnon informações sobre o melhor lugar para se estabelecer um ponto de defesa e para se ter uma cabeça de ponte no vastíssimo litoral coberto por matas fechadas e povoado por índios temíveis. Staden, famoso na Europa como o mercenário que havia sido refém por nove meses dos tupinambás, conseguiu regressar à sua terra de origem e certamente tinha acumulado muita experiência no convívio com aqueles indígenas antropófagos. As sugestões de uma boa terra para povoamento, tanto feitas por Thevet quanto por Staden, coincidiam com uma certa bela baía de águas calmas e bem azuis, cerca de duzentos quilômetros ao sul de Cabo Frio. 19
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@ O grumete e o tupinambá @
Em 1554, portanto, o rei francês ordenou que seu principal ministro, Coligny, preparasse uma expedição, e Villegagnon foi designado o responsável por ela. Além das duas naus principais, havia na frota uma naveta exclusiva para guardar os mantimentos. Receoso de levar em sua heterogênea tripulação tantos homens que tinham um passado obscuro, Villegagnon não relutou em contar com a presença de escoceses de confiança para fazerem sua guarda pessoal, além de um tabajara que tinha se casado com uma francesa. Pouquíssimas mulheres, entretanto, fizeram a travessia com eles. O percurso da França até o Brasil, passando-se por Cabo Frio, teve a duração de aproximadamente dois meses e meio. Foi no dia 10 de novembro de 1555 que finalmente alcançaram a desejada baía…
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@1@ 1555 Estávamos em pleno mar. As pequenas vagas alvas eram como carneiros saltando o azul de um pasto que beijava o céu. De onde vinham as águas? Para onde iam? De lado a lado, um oceano largo. Aquilo foi tudo o que eu vi por semanas. Chegou uma hora em que aportamos no local a que chamavam de Cabo Frio, mas, dias depois, seguimos nosso rumo. Nos instantes de folga, eu ficava debruçado sobre meus baldes e meu escovão, olhando perdidamente para fora, sonhando com a terra nova da qual meu almirante tanto falara nos últimos dias. Ainda que tudo fosse água e céu, em algum momento eu encontraria o chão a recortar meu horizonte de norte a sul. O que eu fazia durante aqueles meses todos em alto-mar era cuidar atenciosamente das madeiras do convés que, com a secura e o calor, ameaçavam sofrer rachaduras. Ninguém queria um navio corroído. Então, eu fazia descer um pesado balde atado a crespa corda até o mar, metros abaixo, e isso dezenas de vezes ao dia. O próprio bater das ondas no casco produzia pequenas revoluções da água, e assim se enchia o vasilhame. A pior parte vinha a seguir: ele era puxado apenas por mim até que eu o tivesse nas mãos e jogasse a água pelo convés. O atrito da corda contra a madeira da amurada 21
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@ O grumete e o tupinambá @
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@ I. Mundo sem fim @
produzia o efeito de um assobio, quase um canto fino que chamei de “minha sereia invisível”. Eu jogava dezenas e dezenas de baldes de água salgada sobre o convés e tomava meu escovão para completar a limpeza. Por fingido descuido, vez ou outra eu deixava cair um pouco de água sobre um marinheiro preguiçoso ou pouco afeito à limpeza — como, aliás, era a maioria deles. Em todos, não. Exceto em Jean-Cent-Hommes, um grandalhão de pouca conversa que jamais dormia em serviço. — Olhe bem por onde vai com esse balde, grumete… — dizia-me, resmungão, enquanto olhava-me pelo rabo do olho. Aquela era minha rotina: água, balde e escovão. Ou, então, contar o tempo e dizer das horas: das que vinham, mas, sobremaneira, das que jamais voltariam. Quando gaivotas rodeavam a embarcação em busca de restos de comida, sobretudo dos peixes do almoço, cujos rabos, guelras e entranhas lhes eram atirados por nosso mal-humorado cozinheiro bretão, Paskou, eu desconfiava que houvesse alguma ilha nas proximidades. À presença daquelas aves ousadas e barulhentas, que traziam nos gritos o anúncio da terra, somou-se um vento fresco que tinha por hálito o aroma das ervas tenras. Isso se fez até que, certa manhã, pouco a pouco, entremeando-se a uma baía ampla de azul profundo, eu pude admirar enormes árvores cujas copas se abraçavam umas às outras e se confundiam a um verde-mar de tonalidades variadas. Nunca imaginaria tamanha verdura espraiada ao redor da linha d’água como um manto divulgado em vulto, monstruoso. Os troncos, como colunas de uma alta catedral erguida pela natureza, formavam a muralha firme que barrava a entrada dos homens nos segredos da mata. Adiante, uma faixa dourada de areia parecia uma preciosa renda que separava as águas e as terras. 23
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O grumete e o tupinambá
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i. mundo sem fim
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@ O grumete e o tupinambá @
Para mim, tudo era bonito e novo. Para os homens do mar, um pedaço de chão a mais a ser explorado. De fora a fora, como o contraforte de uma fortaleza, as árvores uniam suas copas de tal maneira que ninguém sentia vontade de penetrar o estranho recinto — provavelmente povoado por faunos e monstros —, fosse pela espada, fosse pela cruz. Da amurada do navio, vislumbrei grandes rochas descalvadas, ora cercadas por ralas nuvens, ora refletoras da luminosidade do mais cruel dos sóis. Rezavam as cartas dos portugueses, escritas anos antes de nossa chegada, que os gentios que lá habitavam em rudes vilarejos, abertos toscamente na parte tonsurada da mata, eram ímpios, imberbes e pagãos. À sua indecorosa maneira de viver, apartados de toda roupa, somava-se a nenhuma vergonha de qualquer pecado. E do pior deles: o da devoração da carne de um igual. Por isso, muitos bandidos que vieram conosco na viagem se arrependeram em bom tempo dos crimes cometidos, pois talvez viessem a conhecer uma realidade impensável. Infernal. Eu, grumete, essa espécie inferior aos mais reles marinheiros bretões, embevecia-me de poder um dia contar aos meus compatriotas as coisas maravilhosas que presenciei. Por isso, escrevi este diário de viagem. — Meninos, eu vi!
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@2@ Um grumete de dezesseis anos E viu Deus que aquilo tudo era bom. Quiçá havíamos chegado ao paraíso perdido, à terra dos tesouros infinitos de El Dorado que os bardos espanhóis cantavam em suas odes. Muitos acreditavam poder descobrir, percorrendo por alguns dias a floresta densa, os campos do Senhor em que os novos adões e as novas evas brincavam despidos entre rios de mel e chuvas de maná. Assim que vislumbramos a paisagem inerte, o primeiro sentimento que envolveu nosso agrupamento de homens ansiosos foi o piedoso: eles tinham certeza de que ganhariam o perdão divino se trabalhassem arduamente naquele mundo. Entretanto, Michel Le Gros, talvez o mais arguto dentre os brutos da tripulação, sem perder tempo, sussurrou baixinho ao desenhista e copista da nau, um marinheiro católico que acreditava piamente que a salvação estava por entre aquelas árvores: — Não se iluda, Grégoire… A maldade vem como contrapeso no lastro deste navio. Ela é a peste negra que deixaremos para os pobres nativos. A alvorada acendeu de vez o cenário e, ante a mudez da tripulação que a tudo admirava do convés das três embarcações, daqui e dali começaram a ser esboçadas, pontuando a paisagem novíssima, colinas pontiagudas que apontavam o céu como se fossem os dedos de um gigante adormecido e enterrado. 27
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@ O grumete e o tupinambá @
Os pombos daqueles ermos revoavam mansamente quando mal amanhecia. Dois. Três. Dez... Em seguida, um bando inteiro. E, de repente, fizeram uma algazarra que não se viu ave alguma jamais fazer em terras da Europa. À medida que a névoa que coroava os paredões e o cume das serras se dissipava como fantasma ao clarão do dia, os homens viram dezenas e dezenas de bandos de outros pombos verdes indo em folia de uma árvore a outra, acordando os bichos mais preguiçosos. — Não são pombos. São gralhas — argumentou Gonzagues, um timoneiro de longas barbas brancas que aninhavam percevejos entre seus fios irregulares. — Nem uns, nem outros — interveio meu intemerato almirante, colocando-se à frente da multidão. — São maracanãs. Sua voz se interpunha à de todos. Não somente porque nos comandava, mas por ser um homem diferente de todos os outros que eu havia conhecido. — Pelo fato de não se ter travado conhecimento com um 28
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@ I. Mundo sem fim @
animal novo, não se deve batizá-lo com um nome já em uso. Isso causa muita confusão. Esqueçam os bichos e as plantas de nosso velho mundo. Aqui é um recanto em que o Criador deixou o que de mais valioso e de mais estranho pôde inventar. Terra incógnita, a ser desvirginada. Nosso presente ao valoroso rei Henri ii. Provavelmente, os últimos seres a saírem da arca do admirável Noé para cá foram trazidos. Em seguida, apoiando uma das mãos em meu ombro esquerdo, como um pai que descortina ao filho um tesouro, ele me disse, ostentando um ingênuo orgulho: — Jean, olhe bem para aquele arvoredo, e, mais ao fundo, para as montanhas azuladas que apontam o firmamento como os tubos dos órgãos das nossas maiores igrejas. Creia-me: você não verá jamais nenhuma terra como esta. Estávamos no ano da graça de Nosso Senhor de 1555. E aquele que me falava, ao qual todos reportavam como “almirante”, era Nicolas Durand de Villegagnon. Um sonhador. Um visionário. Como muitos outros garotos da França, eu me chamava Jean. Os religiosos que me criaram deram-me como segundo nome François, em homenagem ao santo italiano. E o sobrenome ficou por conta do pequeno povoado que circundava o mosteiro: Delamare. Jean-François Delamare, “Do Mar”. Porém, desde que ingressei no navio do almirante Villegagnon, apenas me chamavam “grumete”, como se minha função de serviçal também valesse como vocativo. Fosse dia, fosse noite, gritavam: “Grumete, limpe este lado do convés.” “Grumete, traga-me um candeeiro.” “Grumete, diga-nos as horas e quanto tempo falta para o almoço.” Eu tinha então dezesseis anos quando chegáramos ao belo rio da Guanabara, também denominado rio de Janeiro. O 29
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que eu havia conseguido saber sobre aquela região de gentios bravos e chucros me tinha sido passado pelas suposições escandalosas da tripulação — em grande parte formada por bandidos perdoados, como já evidenciei, que preferiam a vida dura em alto-mar a apodrecerem nas masmorras dos castelos ao norte da França. — Tenho receio, senhor, de sermos mal recebidos por esses tantos homens a que chamam tupi… tupi… Como é mesmo? — indaguei meu almirante. — Tupinambás. Tu-pi-nam-bás, Jean. Villegagnon era a única alma cristã no mundo que me chamava pelo primeiro nome. — E já lhe digo, rapaz: os índios não são mais vis do que esse beberrão, pode crer. — e, dizendo aquilo, jogou a casca de uma noz sobre a cabeça de um indolente marinheiro que fingia não cochilar sob o lençol amarelo de uma vela enrolada. Meu maior temor se transformara em uma questão: — Senhor, é verdade que eles comem gente? O almirante se permitia conduzir por uma moral muito severa e não se importava de passar um bom tempo advertindo a tripulação com sermões de boa conduta. Quando se lhe fazia uma pergunta que esbarrasse com os problemas humanos, ele se inflava de um ar professoral: — Sim. E nós, os cristãos, comemos toda sorte de bichos e plantas. E destruímos povos inteiros com nossa ganância por ouro. E matamos crianças e mulheres em nome da religião… — após suspirar fundo, arrematou. — Ainda acha que um canibal seja mais ameaçador? Calei-me, portanto, e fiquei a pensar sobre as coisas diversas e profusas que iam por minha cabeça, em sarabanda, na banda mais funda do sarandi de meus cabelos. O momento da chegada à terra trazia a todos a contemplação. Ainda que eu já tivesse admirado outros pontos daquela 30
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extensa costa selvagem no decorrer do longo percurso empreendido, e mesmo que as Canárias me houvessem proporcionado visões esplêndidas e ensolaradas, semanas antes, coroadas pelo Teide, seu deus-vulcão, o local em que ancorávamos era muito silencioso, doce e encantador. Por isso, em mim, aquelas primeiras impressões superavam as que eu trouxera das ilhas próximas à costa africana. A longa e preguiçosa mirada que pude dar, de lado a lado, valeu, pois, cada manhã de espera, cada tarde de tormenta, cada refeição com água salobra e comida insossa. Valeu ter dormido ao lado de ratos e percevejos, e de amontoados de homens que roncavam como dragões e coçavam suas picadas de pulgas noite afora. O rio de Janeiro parecia trazer em seu entorno os jardins das delícias de meus desejos. Desde o início da viagem, eu, pouco a pouco, adivinhava em mim uma centelha heroica: um estranho naufrágio quis me levar, mas, na confusão das águas, conheci a força que eu poderia desenvolver em mim...
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@3@ Atlas, filho de Netuno Só sei que foi assim… Muitas vezes, duvidei que chegaríamos a solo firme, pois se passa facilmente da alegria à modorra quando o vento não ajuda e as embarcações apenas soçobram. É como se as horas tivessem parado e Deus quisesse castigar a ambição humana dando-nos como provação dias inteiros flutuando sobre as águas.
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@ I. Mundo sem fim @
O mar, quando se está dias e dias longe da terra, parece um titã adormecido a quem se deve muito respeitar. Não é violento, tampouco insano. Uma caravela ou nau, singrando seu corpo, passeia por uma geografia líquida enganosa. Morre-se de sede naquele útero de Gaia se não houver por perto um cantil com água doce. E, ainda que se possa pescar, há sempre a vigilância dos enormes tubarões e baleias, e de outros monstros da estatura daquele que fez Jonas refletir sobre o desígnio de Deus para sua vida. Serpentes aladas, dragões marinhos sanguinários, polvos e lulas de braços potentes que esfacelavam galeões com um abraço certeiro, além de sirenas e tritões armados de arpões tridentados, eram todos personagens de histórias que os mais velhos marujos me juraram ter sido verdadeiras. Esqueci-me, por várias noites, dos relatos exagerados de tormentas que engoliam naus e caravelas, e que tanto me preocupavam. A verdade é que, na grande travessia de um lado a outro, o oceano à volta de nossa breve frota ganhara o silêncio majestoso da sabedoria sem palavras. Quase nenhuma onda nos balançava e, no horizonte azeitado, havia cumplicidade de cores entre céu e águas. Peixes jamais eram vistos. Quando muito, encontrávamos os que eram apelidados de “voadores”. As baleias, caso existissem naquelas lonjuras, não emergiam nunca para aspergir a água engolida. Também nenhum golfinho e, felizmente, nenhum tubarão. O que impressionava a muitos marinheiros eram as cartas náuticas cheias de ilustrações dos monstros que salpicavam o mar profundo e alheio. Contaram-me que muitos eram sobreviventes do Dilúvio; outros não passavam de quimeras demoníacas, que vigiavam determinadas profundidades e ficavam possessas quando havia invasores. Villegagnon daquilo tudo duvidava: dizia que os monstros infernais não saíam dos abismos em que residiam. Apesar 33
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@ O grumete e o tupinambá @
disso, garantira-me que, certas vezes, enormes criaturas de oito braços foram capazes de agitar grandes embarcações, ou que sereias de estranho canto levaram corajosos homens do mar para as profundezas. O mundo líquido que eu divisava de proa a popa, de bombordo a estibordo, parecia sem fim. Entre nós, havia os que temessem que uma catarata nos consumisse, dragando-nos com abundante água salgada para o abismo do não mundo. Eu preferia acreditar nas informações que me eram passadas pelo almirante e por Grégoire, leitor de muitos livros e pergaminhos. Por muito tempo flutuamos sobre o mar de Atlas. Atlântico. Eu dormia mal, comia pouco e trabalhava muito. Porém, não me sentia maltratado. É que a vida a bordo era daquele jeito. Ainda assim, para muitos de nós, ela era melhor do que a vida em terra. Enquanto milhares de famílias de camponeses passavam fome ou morriam de peste e guerras nas terras da França, nós tínhamos comida, ainda que escassa, podíamos beber água, muitas vezes apodrecida nos barris cheios de animalejos, e criávamos um pouco de diversão nas noites longas ao som de desafinados instrumentos musicais, sempre ansiando por um mundo a ser descoberto. Numa daquelas noites em que a embarcação parecia não sair do lugar, eu tive um sonho: Villegagnon era Netuno, o deus dos mares, e eu era seu filho. Flutuava sozinho em um pequeno barco de pesca até que uma tempestade surgiu e me engoliu. Em desespero, agitei meus braços nas águas revoltas, buscando agarrar-me a um pedaço de madeira, até que me lembrei de minha estirpe. Não era filho de um pai degenerado, tampouco de um monge infiel. Eu era Atlas, e, sabendo aquilo, acalmei-me. E assim também ocorreu ao oceano ao meu redor. Boiei pacificamente e abri os braços e 34
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@ I. Mundo sem fim @
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pernas como uma estrela-do-mar. Espichei-me muito e confundi-me com o enorme colosso que antes quisera me tragar. Eu e as águas éramos um só. A lição veio com o sonho: era muito importante “saber-se” para fazer a travessia. Só assim se salvava de um naufrágio. Apesar das agruras, sentia-me privilegiado e agradecido. Como relatei, eu proviera de um orfanato um tanto sombrio nas proximidades de Provins, a cidade de meu almirante, de onde ele me retirou em troca de me ensinar os trabalhos básicos de uma nau e me dar um ofício. Os monges que me educaram, em contrapartida, ganharam uma boa soma em ouro, com a qual puderam reconstruir parte da torre da igreja de seu monastério. Apesar de Villegagnon fazer respeitar a hierarquia entre seus subordinados, sempre me tratara com gentileza, como se eu fosse um filho. Pacientemente, no decorrer dos longos dias em alto-mar, contou-me muitas coisas: defendia suas ideias, acusava os que levantavam injúrias, acalmava os que ameaçavam motins. — Não somos piratas, Jean — dizia-me sempre, contrariando o que corria a boca pequena pelos corredores da nau. — Tampouco corsários, ainda que o rei nos tenha permitido aproveitar daquilo que não tem outro dono que não o Criador… — Mas Portugal e Espanha fizeram um tratado. Aquele que a rainha Isabel de Castela assinou. Villegagnon riu: — Tordesilhas? E quem o reconhece, Jean? Apenas aqueles reinos ibéricos. Deus, por acaso, traçou qualquer linha no mundo e disse: “aproveite agora, cada um, o seu pedaço”? Se não o fez, sinto muito: não cabe àquelas coroas espremidas entre o Mediterrâneo e o Atlântico decidirem repartir os tesouros que supostamente possam existir no além-mar. 36
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— Se não somos piratas, nem corsários… somos aventureiros, almirante? — Bem mais do que isso, Jean. — Desbravadores? — Colonizadores. De um novo mundo. De um novo tempo. De uma terra que vai ser nossa nova França, porém, revigorada. Uma França austral. A França Antártica! Seu entusiasmo me tocava fundo, mas eu sentia que, por trás de todo o otimismo daquele homem portentoso, existia talvez o temor de que suas convicções não fossem partilhadas pelos que arrebanhara para realizar aquela viagem. Como se adivinhasse meus pensamentos, sussurrou-me: — Não tenho medo dessa pobre gente deserdada. Sei que há assassinos e ladrões entre nós. Mas existem os que apenas cometeram pequenos furtos e mesmo os que se embebedaram até incomodar os vizinhos. Estavam todos definhando em prisões escuras, aguardando a morte. O que fiz por eles foi praticamente restituí-los à vida. Concordei. Em seguida, olhei para fora, abrindo os braços como um Cristo que se espreguiçasse após ressuscitar no terceiro dia. No meu caso, após um mês e meio de chacoalhões e comida ruim. Minha sombra se projetou no convés de maneira engraçada. Assim como o rio, eu também era de janeiro, menino bobo e pobre criado longe do mar. Daquele instante em diante, sim, a grande aventura continuaria. E eu estava ansioso. Queria descer à terra logo.
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@4@ Pão de Açúcar Enquanto os marinheiros baixavam as pesadas âncoras até que estas se cravassem um pouco no solo da baía, Grégoire desenhava o croqui do que vieram a chamar de Pot‑au‑Beurre, “Pote de Manteiga”: tratava-se da mesma forma geológica que os portugueses denominaram de Pão de Açúcar, uma bela formação montanhosa que se erguia a partir da barra verde-escura da densa mata. Todo o arvoredo também subia, escalando as paredes rochosas, porém, de forma indecisa. Ao longe, era como ver uma trepadeira gigante abraçando a rocha. Nesse ímpeto, os vegetais se alastravam por entre as pedras, daqui e dali, até ralearem, perderem o vigor e deixarem partes do paredão descalvado. Foi exatamente lá que o sol ardente daquela manhã começou a se refletir.
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continua...
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Este romance, ambientado no século xvi, traz a amizade de Jean – grumete de um navio francês – e Îagûanharõ – índio de uma tribo tupinambá localizada nas proximidades do que é hoje a cidade do Rio de Janeiro. ! Seus dramas e aventuras acontecem durante a tentativa da fundação de uma colônia francesa no litoral brasileiro, a chamada França Antártica. ! A exuberante floresta tropical ao redor da Baía de Guanabara é o cenário de encontros com o outro, de descobertas culturais e de relatos amedrontadores. ! E tem até um tesouro à espera de quem o encontre. Mas, para isso, será preciso muita coragem e inteligência.?
ISBN 978-65-88618-08-0
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786588
618080