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Discussão dos modelos pedagógicos e epistemológicos

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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

Exemplo 4 1o passo Diagnóstico

1o passo Desenvolvimento da temática

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2o passo Discussão

3o passo Avaliação Você diagnostica os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema que será estudado. Esse tema já foi previamente selecionado pelos estudantes e por você. A partir dos conhecimentos prévios dos estudantes, vocês (estudantes e professor) selecionarão material de interesse para discussão do tema. Você organiza uma discussão na sala de aula ou em outro ambiente que favoreça o desenvolvimento dessa atividade. Nessa discussão, você e os estudantes trarão seus questionamentos, e você fará o papel de mediador da aprendizagem. Todos os resultados obtidos a cada atividade serão avaliados por você e pelos estudantes. Para que os objetivos quanto à aprendizagem possam ser alcançados, você utiliza diferentes instrumentos de caráter cognitivo, interacional e autoavaliativo.

Discussão dos modelos pedagógicos e epistemológicos

Toda proposta de ensino tem como base uma concepção de aprendizagem (POZZO, 2002). Muitas vezes, o professor segue uma proposta já utilizada na escola e não procura saber qual episteme e teoria embasam sua prática. Esse conhecimento nos ajuda a entender a concepção do aluno, do professor e da escola. Outro ponto importante é quando tentamos modifi car algumas atividades de nossa prática pedagógica e acreditamos que estamos mudando a concepção pedagógica, mas, na maioria das vezes, estamos mantendo a mesma concepção de aprendizagem anterior. Por que isso ocorre? A mudança de concepção exige uma mudança de postura e um real incômodo com a prática pedagógica instalada. Vejamos as relações entre o modelo epistemológico, modelo pedagógico e as teorias de aprendizagem: 1. No modelo epistemológico Empirista, o conhecimento do sujeito vem da experiência com o objeto. Nele temos a relação (Objeto 

Sujeito). No processo educacional, esse modelo epistemológico corresponde à Pedagogia diretiva, ou seja, o aprendizado do aluno está diretamente relacionado ao que o professor ensina (Professor  Aluno). Além disso, esse modelo pedagógico é orientado pela teoria da aprendizagem Comportamental/Behaviorista que propõe um estímulo que gera uma resposta (Estímulo  Resposta).

2. No modelo Apriorista (Sujeito Objeto), o conhecimento é inerente ao sujeito. Nesse modelo, as contribuições do objeto são

desvalorizadas. No processo educacional esse modelo epistemológico corresponde à Pedagogia não diretiva, ou seja, o aprendizado do aluno não está diretamente relacionado ao que o professor ensina, mas ao que traz da sua herança genética (Aluno  Professor). O modelo Apriorista é orientado pela teoria da aprendizagem da Gestalt.

3. No modelo interacionista, o conhecimento é construído a partir da interação entre o sujeito e o objeto (Sujeito  Objeto). No processo educacional esse modelo corresponde à Pedagogia Relacional, ou seja, à construção do conhecimento a partir da interação entre aluno e professor (Aluno  Professor). Esse modelo pedagógico é orientado pela teoria da aprendizagem construtivista histórico-cultural, centrado na ação e na linguagem.

No modelo epistemológico empirista, o ser humano é visto como uma tábula rasa (uma folha em branco), e o conhecimento é incorporado a partir das experiências adquiridas no meio físico, mediado pelos órgãos dos sentidos. O modelo pedagógico relacionado é o da pedagogia diretiva, em que o aluno aprende porque o professor ensina, e a teoria relacionada é a behaviorista, ou seja, a aprendizagem é compreendida como uma modifi cação no comportamento do sujeito provocada pelo “agente que ensina”, utilizando estímulos reforçadores adequados sobre o sujeito que “aprende”. Esse modelo epistemológico e a teoria behaviorista são a base da concepção da escola tradicional. O professor é o centro, repassa as informações, o aluno repete/reproduz e o professor reforça, para aumentar as chances de obtenção dos resultados esperados. Parte-se do pressuposto de que a inteligência é uma aquisição que torna o ser humano capaz de armazenar informações das mais simples às mais complexas. É preciso fragmentar a realidade a ser estudada com o objetivo de simplifi car a complexidade dos conhecimentos, facilitando que o aluno armazene os resultados do processo. O papel do indivíduo no processo de aprendizagem é basicamente de passividade, como afi rma Mizukami:

[…] atribui-se ao sujeito um papel irrelevante na elaboração e aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está adquirindo conhecimento compete memorizar defi nições, enunciados de leis, sínteses e resumos que lhe são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema atomístico. (MIZUKAMI, 1986, p. 11).

O modelo epistemológico apriorista é o contrário do empirista. “Apriorismo” vem de a priori, isto é, aquilo que é posto antes (bagagem hereditária) como condição do que vem dep ois (BECKER, 2001). Considera-se que o indivíduo, ao nascer, já tenha as condições predeterminadas para a aprendizagem. Seg undo Facin (2017), na concepção apriorista, a partir da teoria da forma ou da Gestalt (conhecimento visto das partes para o todo), o

conhecimento é visto como algo inerente ao sujeito, necessitando ser despertado. O modelo pedagógico, nesse caso, é não diretivo, sendo o professor um facilitador com uma pequena intervenção no processo de aprendizagem do aluno. O professor precisa estimular o aluno para que o conhecimento desperte e se efetive. Existe uma supervalorização da percepção, chegando-se a confundir percepção com cognição. Esse modelo está mais nas concepções pedagógicas e epistemológicas do que na prática da sala de aula. Segundo Becker:

O aluno já traz um saber que ele precisa, apenas, trazer à consciência, organizar, ou, ainda, rechear de conteúdo. O professor deve interferir o mínimo possível. Qualquer ação que o aluno decida fazer é, a priori, boa, instrutiva. É o regime do laissez-faire: “deixa fazer” que ele encontrará o seu caminho. O professor deve “policiar-se” para interferir o mínimo possível. Qualquer semelhança com a liberdade de mercado do neo-liberalismo [sic.] é mais do que coincidência. O professor não-diretivo acredita que o aluno aprende por si mesmo. Ele pode, no máximo, auxiliar a aprendizagem do aluno, despertando o conhecimento que já existe nele. (BECKER, 2001, p. 4).

Ainda segundo Becker,

[…] o resultado é um processo que caminha inevitavelmente para o fracasso, com prejuízo imposto a ambos os pólos [sic.]. O professor é despojado de sua função, “sucateado”. O aluno guindado a um status que ele não tem e sua não-aprendizagem explicada como “défi cit herdado”; impossível, portanto, de ser superado. (BECKER, 2001, p. 6).

Já no modelo construtivista, a pedagogia é relacional, ou seja, professor e aluno trabalham juntos, e ambos ensinam e aprendem. O professor, além de ser um aprendiz, também é um mediador. Ele trará para o grupo sua experiência de vida, sua vivência acadêmica e seus questionamentos. Os estudantes também trarão suas experiências de vida, seus aprendizados escolares e seus questionamentos. O professor ou a escola que trabalham com essa concepção compreendem (teoria) que o aluno só aprenderá alguma coisa, isto é, construirá algo novo, se agir e problematizar sua ação (BECKER, 2001).

Em outras palavras, ele sabe que há duas condições necessárias para que algum conhecimento novo seja construído: a) que o aluno aja (assimilação) sobre o material que o professor presume que tenha sido cognitivamente interessante, ou melhor, signifi cativo para o aluno; b) que o aluno responda para si mesmo às perturbações (acomodação) provocadas pela assimilação deste material, ou, que o aluno se aproprie, neste segundo momento, não mais do material, mas dos mecanismos íntimos de suas ações sobre este material, este processo far-se-á por “refl exionamento e refl exão”. (PIAGET, 1977, apud BECKER, 2001, p. 6-7).

Agora, vamos discutir os exemplos apresentados na atividade anterior.

Exemplo 1: Nesse exemplo, repare que o professor é o centro do processo. Ele recorda a atividade anterior, o estudante responde e ele reforça o conteúdo, para que o estudante identifi que todos os fenômenos correspondentes ao conhecimento adquirido. Esse exemplo corresponde à concepção tradicional.

Exemplo 2: O professor continua sendo o centro. O docente, apesar de instigar o estudante com a apresentação de um problema real, fez todas as buscas de informações, apresenta as discussões do material e faz a validação do que foi assimilado. O estudante continuou passivo no processo. Esse exemplo também corresponde à concepção tradicional.

Exemplo 3: O professor estimula os estudantes, trazendo um problema de interesse, e eles terão de pesquisar as informações, fazer as leituras dos textos, levantar os questionamentos, preparar o material para ser discu-

tido com os colegas. A participação do professor é a de um facilitador, porém, no fi nal, a “avaliação” é dele. Foi o docente que elaborou questões para validar se seus estudantes conseguiram assimilar o que foi falado em sala de aula. Observe que, mesmo dando voz ao estudante, no fi nal, o professor validou o que o estudante assimilou ou memorizou. Mas e o que aprendeu? E as outras questões, além do cognitivo? Apesar de usar o modelo pedagógico não diretivo, o professor ainda continua no centro, e sua participação nas atividades foi pouca, mas a avaliação fi nal contou somente com a participação do professor. Apesar da tentativa, a concepção ainda é uma concepção tradicional. Exemplo 4: Nesse exemplo, o professor e os alunos estão ensinando e aprendendo. Há uma relação de construção do aprendizado de ambos os lados. Existe a preocupação de diagnosticar os conhecimentos já existentes dos estudantes sobre o tema selecionado por ambos (professor e alunos), de buscar informações (professor e alunos) para discussão e entendimento do tema, de discutir em voz alta e com a escuta de todos e de avaliar o processo de aprendizado por parte do professor e dos estudantes. O professor utilizará diferentes instrumentos, cognitivos ou não. Esse exemplo segue a concepção construtivista. De acordo com Piaget (apud BECKER, 2001, p. 10), não se pode fazer interdisciplinaridade se as direções sujeito-objeto dos modelos epistemológicos não estiverem sobrepostas à relação aluno-professor dos modelos pedagógicos.

CONVITE À LEITURA

BECKER, F. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos In: BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 15-32.

O autor aborda as três diferentes formas de representar a relação entre ensino e aprendizagem escolar, ou, mais especifi camente, entre o exercício da docência e as atividades de sala de aula. São discutidos os modelos pedagógicos: a) pedagogia diretiva; b) pedagogia não diretiva; e c) pedagogia relacional ou construtivista. É apresentado como tais modelos são sustentados, um a um, por concepções epistemológicas.

Disponível em: https://www.larpsi.com.br/media/mconnect_uploadfi les/c/a/ cap_01_95_.pdf. Acesso em: 1º dez. 2020.

Segundo Perrenoud,

é preciso reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências profi ssionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados, e aceitar a ideia de que a evolução exige que todos os professores possuam competências antes reservadas aos inovadores ou àqueles que precisavam lidar com públicos difíceis. (PERRENOUD, 2001)

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