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Atividade 2: Alteridade – conflitos, preconceitos e intolerâncias
Estabeleça com eles alguns critérios para a análise da forma e do conteúdo de cada pintura: 1. tipo de perspectiva do pintor observador (de onde provém o olhar do artista);
2. enquadramento (horizontal, vertical), cores (mais contrastantes ou mais neutras, mais fiéis à luminosidade tropical ou mais dentro da paleta holandesa) e traços (mais ou menos difusos, com muitos ou poucos detalhes); 3. elementos naturais e não naturais retratados (relevo, acidentes geográficos, fauna, flora, grupos humanos, tecnologias, etc.); 4. ideias que cada imagem sintetiza sobre o Brasil. À medida que os alunos forem tecendo suas observações, escreva-as no quadro. Quando finalizado esse momento da atividade, peça que eles anotem nos cadernos a análise coletiva.
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Na próxima etapa, os estudantes se dividirão: cada grupo escolherá um quadro de Frans Post para analisar. O texto resultante desse processo de interpretação comporá um material informativo contendo reproduções de cada obra estudada.
A atividade será concluída com uma exposição em um mural da escola ou em algum espaço comunitário.
ATIVIDADE 2: Alteridade – conflitos, preconceitos e intolerâncias
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 2 Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 490)
HABILIDADE (EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
Falas de diferentes personagens podem ser entendidas como maneiras de cada qual expressar visões de mundo e, por consequência, de se tecer narrativas a respeito da vida (valores, ética, moral, preconceitos, etc.). Nesta atividade, os alunos deverão analisar algumas dessas falas para compreenderem as relações de poder no âmbito fictício, mas também histórico, proposto no livro Maurícia. Para tanto, você pode estimulá-los a compreender como determinadas ideologias circulam e se reproduzem historicamente em nosso país.
Leia com sua turma os trechos a seguir: — Estêvão, cuide bem de seu gado para você ficar bem rico um dia, ter engenhos e escravos. (p. 30, fala de Joaquim para o irmão, Estêvão) — Não confio num homem filho de português e que, ainda por cima, se veste como a gente flamenga. Anneken, saiba o sinhozinho, é sinhá doente, sofre de males do sangue e, por isso, o doutor mandou ela tomar sol de manhã. Mas não acredito em suas palavras, assim como não confio em ninguém que tenha trazido a desgraça para o povo de minha cor. Com os holandeses, até que sou bem tratada, mas não posso me esquecer do que acontece com minha gente nesses canaviais sertão afora. (p. 94, fala da escrava de Anneken para Joaquim) — E fugir para onde, Joaquim? Nem calvinista você aceitou ser. Sua pele amorenada infelizmente é seu fado. Meu povo de Flandres não quer misturas. É claro que alguns marinheiros não recusam as putas mestiças. Mas o sol e a raça são seus inimigos aqui, em Nova Holanda. Se fugirem, vocês dois irão se perder nos charcos do litoral, onde os mangues nas luas cheias podem engolir experientes canoeiros. Nos canaviais, existe apenas a certeza dos engenhos, dos feitores e dos senhores de escravos. Se fossem além, guiados pela sorte, teriam o que chamam de sertão, não é mesmo? Gado solto, poucas palhoças, a natureza agressiva e os indígenas desconhecidos. (...) Você percebe que, mesmo livre, tem aqui uma espécie de prisão, infelizmente? (p. 100, fala de Eduwart para Joaquim)
Em seguida, peça aos estudantes para fazerem comentários sobre os discursos de cada personagem e sobre o entendimento destes a respeito do contexto em que viviam. Nas três falas anteriores, professor, podem ser percebidos diversos confrontos de alteridade em visões bastante complexas e antagônicas. Primeiramente, Joaquim, nascido no Brasil e filho de uma família muito pobre, conversa com o irmão menor, incentivando-o a sonhar a ter engenhos e escravos, ou seja, ele reproduz a ideologia do colonizador e do opressor, mesmo estando na condição de oprimido. Por outro lado, a escrava desconfia do caráter de Joaquim, que lhe parece dúbio por ser brasileiro e ter aceitado se vestir como holandês. Ela tem consciência do sofrimento dos negros na colônia e repudia o comportamento do rapaz. Joaquim, por sua vez, a trata muito mal, usando do mesmo tipo de violência física e simbólica dos senhores de engenho para com seus escravos.
Por fim, Eduwart dá um “choque de realidade” em Joaquim, que acreditava poder alçar a uma condição social diferente a partir da amizade com o estrangeiro. O holandês é quem salienta ao brasileiro as várias restrições que este não poderia superar, a exemplo da origem, a cor da pele e da segregação racial que encontraria em Flandres, caso fosse para a Europa.