O GATO NA GOTA

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Jader de Melo

Belo Horizonte Dezembro de 2021 2ª edição


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Editor: Rafael Borges de Andrade Supervisão editorial: Maria Zoé Rios Fonseca de Andrade Projeto gráfico: Mário Vinícius Silva Diagramação: Alexandre Alves Ilustrações: Jader de Melo Preparação de originais: Lílian de Oliveira | Alice Bicalho Revisão: Olívia Almeida Revisão de provas: Lílian de Oliveira

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Copyright © 2021 by Eunice de Melo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD M528g

Melo, Eunice de

O gato na gota / Eunice de Melo ; ilustrado por Jader de Melo. - 2. ed. Belo Horizonte : Valor Crucial, 2021. 48 p. : il. ; 20,5cm x 27,5cm.

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ISBN: 978-65-84694-00-2

1. Literatura infantil. 2. Liberdade. 3. Fantasia. 4. Aventura. I. Melo, Jader de. II. Título.

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2021-4835

CDD 028.5 CDU 82-93

Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410

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Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil 028.5 2. Literatura infantil 82-93

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Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem o consentimento por escrito da editora.

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Todos os direitos reservados à:

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VALOR CRUCIAL TREINAMENTO LTDA Rua Helium, 115, 3º andar, sala 01 – Nova Floresta – Belo Horizonte/MG CEP: 31140-280 Telefone: (31) 3334-1566 Impresso no Brasil Printed in Brazil


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Para Mercedes, que escuta sonhos.

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dgar vivia no Bosque Escuro, atrás das montanhas, em uma casa de paredes deformadas e grandes janelas, que se misturava às ramas das árvores ao seu redor. Passava seus dias na soleira da janela, perto do fogão a lenha, ou em alguma almofada, sobre a qual se encolhia.

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Sim, entre as patas!

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Não se sabe se por feitiço ou por medo, ele não se aventurava a conhecer a floresta, sequer nas redondezas. Ia levando a vida se distraindo com livros de histórias ou decifrando receitas de magia. Com um exemplar entre as patas, esquecia tudo ao redor.

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Edgar era um leitor assíduo, mas muito diferente. Ele era um gato! Um gato de bruxa!

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A bruxa, uma feiticeira renomada, porém desastrada, vivia naquela casa com o seu gato, preparando os seus feitiços. Ela sabia de cor as receitas, mas, por ser confusa e desatenta, volta e meia trocava os ingredientes. Quando isso acontecia, só desfazia a bagunça com a ajuda de Edgar, que conferia os escritos no livro de bruxarias.

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A vida na casa do Bosque Escuro transcorria tranquila. Mas tudo se transformaria naquela noite de lua cheia:

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— Edgar, me traga a vassoura. Preciso sair! — ordenou a bruxa. 5


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O gato, obediente, porém chateado com tantas ordens, fuçou todos os cantos onde normalmente costumavam deixá-la: atrás da porta de entrada, na área de serviço, perto da lareira, na sala de magia… No corre-corre de um cômodo para outro, parou de repente, quando viu um livro de capa vermelha sobre a mesa, e deu alguns passos para trás. Com um só salto, já estava em cima do móvel, totalmente esquecido da tarefa que lhe foi incumbido. Cheirou o exemplar, sentiu com as patas a textura da capa com letras e arabescos dourados, desenhados em baixo-relevo. 6


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Gatos enxergam bem à noite. Por isso, mesmo na penumbra da casa, conseguiu decifrar o título: O gato de botas. Abriu o livro e começou a ler. Ficou surpreso. Um gato que percorria o mundo! Entusiasmou-se tanto com a história que não notou a aproximação da bruxa.

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Quando ela o viu lendo sobre a mesa, ficou furiosa e tomou-lhe o exemplar. Edgar saltou para o chão e correu, subindo pela chaminé até o telhado.

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Lá de cima, encantou-se com a lua que, de tão grande, parecia estar ao alcance das patas. Ergueu as orelhas para ouvir melhor os barulhos da floresta. Sentindo a brisa acariciando seus bigodes, ele suspirou e ficou por ali, imaginando aventuras pela mata.

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Seus pensamentos cessaram quando percebeu pelo cheiro a aproximação de um velho conhecido das noites aluaradas, o grande Lobo Vermelho. Saltou do telhado para o galho de uma árvore e, quando se sentiu seguro, posicionou-se em direção ao vulto do visitante e perguntou:

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— Lobo Vermelho, de onde você vem? Que notícias traz? O que viu pelo caminho? 8


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O lobo procurou ao redor e não viu ninguém. Olhou para cima e num galho bem alto percebeu olhos brilhantes mirando em sua direção. Ficou confuso com a tranquilidade de sua possível presa, mas resolveu responder:

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— Eu venho das terras do sul e vi o que pude ver! Notícias não trago nenhuma! Ficaram todas para trás. Não tenho por que carregá-las comigo.

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O gato não entendeu a resposta, mas insistiu nas perguntas. O lobo, impaciente, respondeu:

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— Vá você mesmo ver o que tem depois da floresta, gato curioso!

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— Ah! Como eu queria! Mas viajar? Só nas histórias que leio.

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— Que absurdo! Como você vive assim? — perguntou o lobo.

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— É assim que eu vivo. Estou acostumado. Fico sempre disponível para obedecer às ordens da bruxa. Mas, além de gostar de ler muitos livros, tenho vontade de sair, de ver o mundo…

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A conversa foi interrompida pelos gritos da bruxa: — Edgar! Edgaaar! Onde você está? Preciso sair, vou colher ramas perfumadas em noite de luar para o evento de amanhã!

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O gato despediu-se do lobo e desceu depressa para casa. Quando chegou, a bruxa esbravejava:

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— Procurei você em todos os lugares! Aposto que estava outra vez com os bigodes enfiados num livro! Preciso de sua ajuda.

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Amanhã sairei para um evento muito importante. Tenho que preparar os ingredientes para levar, as receitas e todas as minhas novidades e descobertas de feitiçaria.

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A bruxa falava sem parar, franzia a testa, torcia o nariz, até que, de tão desesperada, uma lágrima rolou de seu olho torto... lágrima de bruxa, que é rara, só é derramada de dez em dez anos. Assim, a inusitada gota, enorme e reluzente, foi 11


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— Ooooh não! Que tragédia! — disse a bruxa.

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caindo lentamente e encontrou Edgar em seu caminho. O gato foi sentindo a gota encobrir todo o seu corpo.

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Desolada e aflita, ela se deu conta de que, sem querer, havia produzido uma magia perigosíssima…

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Amedrontado, com os olhos arregalados, miando sem parar, o pobre bichano tentava, com suas unhas afiadas, sair dali. Magicamente, mesmo imerso em água, ele sobrevivia... 12


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A desastrada bruxa tentou ajudar. Quis enfiar a mão para tirar o gato lá de dentro, mas a gota estava envolta por uma membrana mágica e não se rompia. Foi até a sala de magia e voltou com uma agulha de crochê… nada! Correu para cozinha e retornou com uma faca pontiaguda. O gato temeu mais uma trapalhada, mas também nada aconteceu. Decidiu fazer um feitiço, declamando palavras mágicas. Só conseguiu fazer chover dentro de casa.

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Estavam exaustos. A bruxa se encostou à parede e foi deslizando as costas até se esparramar no chão. Edgar flutuava dentro da gota, com o olhar fixo para o nada, concentrado e pensativo: “Eu, que não tinha coragem de sair por aí antes, agora, preso nesta gota, nunca mais terei chance de conhecer a floresta.”

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Enquanto isso, a bruxa se questionava: “O que foi que eu fiz? Pobre Edgar! Sou um desastre mesmo. O que será de mim agora, sem a ajuda dele? E na hora que meu mentor descobrir!”

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O gato lhe fora dado por um poderoso feiticeiro da Caverna dos Morcegos Roxos, seu mentor.

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“Sou um vexame… Preciso resolver essa situação! Mas como?”

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Pensou... Pensou... e, como viajaria no dia seguinte para o Festival de Bruxaria, almejou até levar o gato na gota.

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“Péssima ideia. Todos vão rir de mim.”, julgou-se.

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“Ah, já sei! Durante o evento vou apresentar a situação como se fosse um desafio.”

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Ela se levantou, segurou a gota, olhou nos olhos de Edgar e lhe disse:

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— Não sei ainda como, mas resolverei isto. Até pensei em não ir amanhã ao festival, depois deste acontecido, mas acho melhor buscar ajuda aos muitos feiticeiros lá presentes.

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Edgar deu um miado curto e balançou o rabo. Ela levou a gota para o quarto. Deparou-se com a vassoura caída perto da cama. Já não importava mais.

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Na manhã seguinte, a bruxa se foi. Edgar, preso na gota, ficou em casa matutando: “E agora, o que fazer?”

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Mais tarde, mesmo estando na gota, conseguiu ouvir um uivo vindo de fora da casa e farejou o cheiro do Lobo Vermelho. Pôs-se a miar alto, com todas as suas forças, e minutos depois viu o lobo pulando a janela.

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— Quem está me chamando? — perguntou o lobo.

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Sondou a sua volta e não encontrou ninguém. Edgar miou o mais alto que pôde. O Lobo Vermelho então olhou para cima e viu o gato flutuando na gota.

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— Você de novo? Bicho esquisito! Sempre no alto. Desconfiado… O que quer comigo?

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— Por favor, me ajude! Estou preso nesta gota de lágrima encantada. Ajude-me a sair daqui.

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— Isso eu não posso fazer! Uma magia só pode ser desfeita por outra mais poderosa. Mas eu sei quem tem poder para resolver isso.

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— Então me diga logo!

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— Em minhas andanças, ouvi dizer que a Fada Verde faz feitiços mais poderosos do que os da bruxa do Bosque Escuro, mas ela só pode ser vista se quiser ser encontrada. 17


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— Ai! Pobre de mim! Como vou encontrar a Fada Verde se estou dentro de uma gota?

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— Chega de lamúrias! Você precisa se movimentar!

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— Não consigo! Veja! Só flutuo, flutuo, no mesmo lu-

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— Se você não pode, a gota pode! Vou chamar o Vento da Campina. Com o seu sopro potente, vai empurrar a gota para bem longe.

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— Como você vai chamar o vento?

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— Já viajamos juntos. Ele conhece o meu uivo. Deixe comigo!

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O lobo abriu bem todas as portas e janelas e pôs-se a uivar. Uivava tão alto que ensurdecia o gato.

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O vento chegou de repente, varrendo o que encontrava pelo caminho. Deu uma volta pela casa e carregou tudo que estava lá dentro, inclusive o lobo e o gato na gota.

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Depois de muito uivar e rodopiar, foi perdendo força e se tornou suave como uma brisa da manhã.

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Enquanto isso, no festival, a bruxa bem que tentou, mas ninguém conseguiu dar uma solução ao desafio que ela propôs. De volta para casa, deparou-se com uma enorme bagunça e não encontrou Edgar.

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“Que confusão! Parece que passou um vendaval por aqui! Para onde pode ter ido um gato preso em uma gota?”, pensava ela enquanto o procurava. 20


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E o gato, já bem longe, perguntava:

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— Onde estamos?

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— Do outro lado da floresta. — respondeu o lobo, soltando-se do tronco de uma árvore.

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— Que aventura! Eu nunca consegui me afastar tanto de casa. Que cheiro bom! — farejou o gato.

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— É o cheiro das flores das palmeiras. Elas balançam seus ramos floridos para atrair as abelhas.

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— Ah! Eu já li sobre elas; fabricam uma substância doce, não é?

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— Para um bicho tão acanhado, você é bem sabido.

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— Aprendi nos livros que eu li.

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— Em todas as minhas longas andanças, conheci apenas um bicho leitor: uma coruja orelhuda. Prometi a ela muitos presentes se me ensinasse a ler. Mas ela me disse que leitura era só para bichos que voam. Disse que bichos de quatro patas nunca conseguem entender os sinais. Vejo que mentia, pois você tem quatro patas, não voa — ou não voava —, mas sabe ler! 22


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— Eu aprendi a ler quando era filhote, na Caverna dos Morcegos Roxos — disse o gato, cheio de orgulho. — O feiticeiro que era meu antigo dono me ensinou, para que eu pudesse ajudá-lo em suas receitas de magia. Um dia, quando precisou fazer uma longa viagem, ele me deu de presente para a bruxa, sua aluna. Mas ele não fazia ideia do quanto ela é desajeitada! Façamos um acordo: você me ajuda a encontrar a Fada Verde e eu te ensino a ler.

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— Combinado! Vamos continuar nossa viagem, senão não chegaremos a lugar algum.

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— Mas como vamos continuar? — perguntou o gato.

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— Do mesmo jeito que chegamos aqui! Com o vento. — respondeu o lobo. — Quando seu sopro for forte, andaremos mais. Quando for suave, andaremos menos. Quando desaparecer, descansaremos.

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E assim eles viajaram, no ritmo do vento, até que chegaram a uma vereda. Neste momento, o lobo aproveitou para beber água fresca e caçar algo para se alimentar.

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Mas não pôde descansar à sombra das árvores, como gostava de fazer após as refeições. Como o gato não conseguia comer ou beber água, a viagem precisava continuar antes que fosse tarde demais. Exaustos, o lobo e o gato já estavam perdendo as esperanças de ter novas pistas sobre a Fada Verde, quando ouviram o zumbido de um grande enxame de abelhas.

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— Veja as abelhas! Vieram buscar o pó das flores da palmeira para fabricarem mel — disse o Lobo Vermelho.

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— Será que elas sabem qualquer coisa sobre a Fada Verde? — indagou Edgar.

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— Vamos lá perguntar.

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— Mas eu nunca conversei com abelhas! — disse Edgar desanimado de fome.

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— Está na hora de começar! — retrucou o lobo.

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Quando as pequeninas pousaram sobre a palmeira, o gato, desconfiado e tímido, puxou conversa:

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— Desculpe incomodá-las no seu trabalho, mas preciso de uma informação. As abelhas, agitadas na colheita do pólen, nem se deram ao trabalho de responder ao gato. Porém, uma delas, dessas que vasculham tudo à procura das flores mais viçosas, interrompeu seu voo e, pousando num galho mais baixo, indagou:

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— O que você quer saber, gato na gota? O que faz aí dentro? Nunca vi gatos presos, ainda mais dentro de uma gota. Como você foi parar aí?

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Edgar contou sua triste história para a abelha e ela respondeu:

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— Que pena! Não posso ajudá-lo. Já vi muitos, muitos seres fantásticos: sereias, duendes, lobisomens... Mas Fada Verde eu nunca vi. Ouvi falar que fadas só aparecem se quiserem, são muito misteriosas. Talvez a criatura mais respeitada daquela montanha lá possa ajudar você! — disse a abelha mostrando uma serra distante. 27


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— É a grande harpia. Ela é a sentinela da floresta.

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— E quem seria o bicho mais respeitado?

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O gato agradeceu a informação e rapidamente pediu ao

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— Chame o vento e vamos partir. Quando a noite chegar, já estaremos na serra.

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O lobo uivou e o vento os carregou, dando continuidade a viagem. Foram longe à procura da harpia…

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— Iuuu! Hu!

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De repente, o lobo parou e disse:

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— Já escuto o canto da harpia, ela deve estar por perto. Vamos por aqui! É nesta direção que devemos seguir. Quando a lua iluminou as trilhas da montanha, eles avistaram a majestosa ave terminando de jantar um pequeno roedor e se preparando para voltar ao seu ninho. Ao ver o gato flutuando, ela se deteve curiosa.

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O lobo afoito disse:

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— Aí está a sabe-tudo! Pergunte a ela sobre a Fada Verde. — disse o lobo, animado. 29


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O gato, arrepiado, flutuou de mansinho e disse:

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— Desculpe incomodar, harpia. Eu preciso de sua ajuda. Estou procurando a Fada Verde, que pode me soltar desta gota. A senhora, que já viu muitas coisas, até o que ninguém vê, saberia me dizer onde poderei encontrá-la?

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A ave, surpresa com a ousadia do gato em lhe procurar,

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piou:

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— Vigilante na gruta escura Uma pensadora silenciosa

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Sobre a carcaça de um quadrúpede

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Guarda a fada que procura.

Então, piscou seus olhos penetrantes, abriu suas grandes asas e voou.

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O gato, apavorado, voltou para perto do companheiro e lhe contou a intrigante charada.

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Ao ouvir, murmurou o sabido lobo:

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— Relembrando o passado desvendamos o presente…

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Aquela resposta o deixou ainda mais curioso. No entanto, começou a vasculhar em suas lembranças cenas, cheiros ou alguma palavra que lhe trouxesse uma pista para entender o enigma e encontrar a fada. 31


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Enquanto isso, no Bosque Escuro, a bruxa tentava encontrar o gato, que até então nunca havia sumido.

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Quando a lua já se despedia naquela madrugada fria, Edgar lembrou-se da Caverna dos Morcegos Roxos. Vieram à lembrança sua antiga morada e as lições que recebera de seu 32


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primeiro dono, também se recordou da luz do sol, que iluminava a entrada da caverna, que era muito escura. Nesse momento, ele decifrou parte da charada feita pela harpia. Agora já sabia onde procurar pela fada.

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Mais que depressa, o gato e o lobo chamaram novamente o Vento da Campina e partiram a vasculhar a serra, atravessando montanhas, seguindo por trilhas sinuosas, fuçando buracos entre pedras no alto dos morros e perto das cachoeiras. Já estavam cansados quando o gato se lembrou da revoada dos morcegos roxos, ultrapassando o paredão de rochas, acima da caverna e desaparecendo na noite escura.

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“Vigilante na gruta escura Uma pensadora silenciosa Sobre a carcaça de um quadrupede Guarda a fada que procura.”

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“Estou cada vez mais perto da liberdade!”, pressentiu Edgar. O enigma parecia estar sendo decifrado. O lobo se preocupava cada vez mais com as condições em que se encontrava o seu amigo gato na gota. Assim, logo que surgiam os primeiros raios de sol, eles saíram para mais uma busca. Andavam horas, olhos atentos, orelhas eretas e focinhos a postos. Examinavam entre várias rochas, quando, finalmente, o lobo encontrou a entrada da caverna. O vento se encarregou de levá-los para dentro. 33


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— Tem alguém aí? aí? aí? aí? — ecoou a voz de Edgar.

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Sem resposta, começaram as buscas pelos utensílios do feiticeiro.

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Em meio ao caldeirão empoeirado, frascos vazios e papéis amarelados, o gato pediu ajuda ao vento, que o soprou suavemente para perto de um livro. Conseguiu ler silenciosamente uma das receitas de magia em uma de suas páginas abertas. O Lobo Vermelho farejava os cantos da caverna e, às vezes, desaparecia nas galerias.

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De repente, Edgar escutou um barulho de asas batendo seguido de um chiado. Paralisou-se dentro da gota feito uma estátua, orelhas em pé, até que viu o Lobo Vermelho surgir da escuridão carregando na boca um velho morcego roxo. Ele o cuspiu perto da gota, dizendo:

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— É este aí o velho morcego dos poderosos feitiços da Fada Verde que você ouvia falar? Reconheci de longe o cheiro desse bicho!

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O gato, em êxtase, escutava atentíssimo.

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Todo babado, o morcego se aprumou e então contou:

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— A Fada Verde não é uma fada. É um livro! Um raro exemplar de magia, muito antigo, guardado a sete chaves pelo feiticeiro. Nele há receitas tão poderosas que são capazes de fazer e desfazer magias inimagináveis. Mas infelizmente não sei onde o livro está.

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“Ah! Deciframos a charada da harpia. Era isso que ela queria nos dizer!”, deduziu o gato.

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“Vigilante na gruta escura Uma pensadora silenciosa Sobre a carcaça de um quadrupede Guarda a fada que procura.”

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Ainda sobressaltados com a descoberta, continuaram a refletir onde poderia estar escondido o livro mágico.

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Seus pensamentos foram interrompidos por pios cadenciados e incessantes de uma coruja.

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O gato e o lobo se colocaram a postos, curiosos. O vento foi chamado e carregou todo mundo, inclusive o morcego. Atravessaram algumas galerias até que em uma delas avistaram a mesma coruja orelhuda, piando sobre um ninho. O vento arrefeceu, apenas soprando a gota para perto da ave que voou, mas pousou próximo a eles. 37


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Ofegante de emoção, o lobo se aproximou e com cuidado colocou a pata bem dentro daquela ossada. Sentiu a capa de um livro. Era o livro verde, que ao toque começou a brilhar no escuro.

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Finalmente encontraram a Fada Verde!

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O lobo abriu o exemplar e, ao passar as páginas, a luz verde ofuscava os olhos de todos. Não conseguiam enxergar direito. O gato piscou várias vezes e então… ooooh! Foi surpreendido com uma página com a seguinte instrução:

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O gato, perplexo, emocionado, leu primeiro em silêncio: — L i b e r d a d e!

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Depois, tomou fôlego e leu em voz alta, com firmeza. A cada sílaba pronunciada, a gota ia se desfazendo, libertando os movimentos de Edgar.

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Os amigos acompanhavam boquiabertos, até que um susto! Edgar despencou do alto… Livre, esticou-se todo, ronronando muito e alongando cada parte do corpo. Correu para perto do lobo, que uivava. O Vento da Campina se movimentava de um lado para o outro, até formar um redemoinho. O morcego batia as asas freneticamente.

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Edgar deixou a caverna na companhia dos amigos, subindo e descendo árvores pelo caminho, afiando as unhas nos troncos. Rumaram todos para o Bosque Escuro, para contar as boas-novas à bruxa e dar a ela um presente especial: a Fada Verde. Em uma das paradas para descansar, comer e beber água, o gato percebeu que foi a partir do feitiço atrapalhado da bruxa que viveu uma grande aventura. Então, ele sentiu que estava pronto para realizar seu sonho de desbravar o mundo.

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Entre uma aventura e outra, agora Edgar retorna para a casa do Bosque Escuro, sempre na companhia do Lobo Vermelho e do Vento da Campina. Quando portas e janelas começam a bater, a bruxa já sabe que eles estão chegando.

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Um gato numa gota, flutuando por aí! Onde já se viu uma coisa dessas? No campo da imaginação e da fantasia, tudo é possível. Assim como na história deste livro. Como foi bom saber que nosso amigo Edgar encontrou, enfim, uma forma de se libertar daquela gota mágica! Quem poderia imaginar o segredo por trás da Fada Verde?! Você também se surpreendeu com esse desfecho?

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Muito além de mistérios e magias, uma curiosidade nesta narrativa é a paixão de Edgar pela leitura: o gato estava sempre com um livro entre suas patas, com seus bigodes enfiados em páginas e fantasia. Você já percebeu que os livros têm esse incrível poder de nos transportar para outros lugares, universos e épocas? Você já teve essa sensação ao ler outras histórias?

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Por ter de ajudar sua tutora nos afazeres e receitas de magia dela, o bichano quase não saía de casa, conhecendo o mundo apenas por meio dos livros que lia. Até se encantou com a história de outro felino, do famoso conto O gato de botas, esse sim mais aventureiro e viajado. Porém, Edgar não sabia que em pouco tempo também começaria uma jornada de aventuras. Afinal, você conhece o conto O gato de botas? Será que existe alguma coisa parecida entre essas duas narrativas?

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Toda essa imaginação de um gato dentro de uma gota foi ideia de Eunice de Melo. Além de escritora, ela é professora e psicóloga, em Belo Horizonte. Desde criança, Eunice tem grande interesse por ler histórias fantásticas. Agora, na idade adulta, além de ler muitos livros, sempre escreve suas ideias cheias de imaginação.

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As peripécias de Edgar surgiram de um sonho que a autora teve, em que uma gota flutuante se deslocava de um quadro em direção a ela. Mesmo após acordada, as imagens da gota continuaram na mente dela e, em um determinado momento, numa troca de vogais, a gota virou um gato, que virou um gato leitor e então um gato de bruxa.

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A escrita de tudo que encheu o pensamento de Eunice naquele dia após o sonho transformou a leitora de histórias 45


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encantadas em autora de história fantástica. E você? Quantos sonhos já teve que poderiam virar história?

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As cores e formas de todos os personagens foram criadas pelo ilustrador Jader de Melo, que nasceu em Goiânia, cidade também conhecida como a capital verde, por ter muitas árvores e belas paisagens. Apaixonado por livros desde criança, o ilustrador começou a trabalhar com literatura infantil em 2013. Fazendo sua arte aqui e acolá, ele cria projetos gráficos e ilustrações para livros literários e didáticos destinados a crianças de todas as idades.

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A fábula é um gênero literário universal em que as personagens principais são animais que apresentam características humanas, envolvendo-se em situações que fazem o leitor pensar sobre o caráter moral de todos nós. Fábulas são narrativas muito simbólicas, fantásticas, que têm o objetivo de divertir e instruir.

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O livro O gato na gota é uma fábula.

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A diversão fica no plano da magia, do encantamento, da imaginação. Nessa história, Edgar, o Lobo Vermelho e os demais animais falam e expressam o que sentem.

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Ao acompanhar esses dois amigos, certamente você conheceu outros curiosos personagens pelo caminho: uma bruxa atrapalhada que mora em uma casa torta lá no Bosque Escuro e que faz magias inusitadas, uma harpia que vigia a floresta e pia charadas, e um morcego roxo que sabe de muita coisa... Você conhece ou já leu outras histórias como esta, com animais falantes, bruxas, fantasias, ou que se passa numa floresta? 47


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Certas histórias, como a de O gato na gota, nos faz pensar. Neste livro, vimos que o bichano segue corajoso e persistente, enfrentando todas as dificuldades em uma aventura, usando de sua habilidade de leitor para se desprender de uma gota mágica. Ele só não imaginava que o que encontraria mesmo era sua tão sonhada liberdade.

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Nós também podemos ir em busca de novas descobertas. E podemos fazer isso brincando, lendo livros como O gato na gota, estudando, aproveitando a natureza e estando com a família e os amigos, como Edgar nos mostrou.

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O gato de uma renomada bruxa do Bosque Escuro levava a vida lendo livros de história e receitas de magia. Certo dia, ele foi surpreendido por um momento mágico nem um pouco agradável. Amedrontado, o gato contará com a ajuda de seu novo amigo para viver uma incrível jornada em busca da tão sonhada liberdade.

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ISBN: 978-65-84694-00-2


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