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jornalista, Guilherme Pereira, Vítor Ramalho, Elísio Summaville, Paulo Fidalgo, pacifista Anil Samarth e muitos outros que não há espaço de aqui nomear. Entrevistas interessantes, Ana Drago, escritos oportunos, Catarina Marcelino, editoriais fracturantes, como o que trouxe à baila as touradas em Setúbal,”Ousamos Sonhar”, colectivamente assinado por quatro mulheres, Anita Vilar, Maria Madalena Fialho, Patrícia Trindade, e Rita Oliveira Martins, sobre o Dia internacional da Mulher, ou "Arrábida candidatura da utopia" que põe a nu as contradições do processo de canonização mundial da Serra da Arrábida, sofredora de tantos pecados mortais. E propostas culturais, numa cidade tão desafeita a essas lides, como a criação de um Museu do Negro. Entretanto, temos encorajado a escrita de novos cronistas, artistas (Francisco Noá) e músicos através deste jornal, rompendo expressamente com o sistema estabelecido, porque esta cidade tem jovens de mérito, e que pensam. E não deixamos de recuperar a memória histórica e republicana de Setúbal o que é muito importante, e de dar valor ao Teatro que cá se faz. Reconheço a necessidade de encontrarmos um espaço para os leitores interferirem connosco, e até, para o direito de resposta, mas sobretudo porque algumas são demasiado longas ou desadequadas, para o tema em discussão, pelo que vamos ter de pensa-los em termos de limite de sinais. Também não temos poupado criticas a erros que tem sido cometidos nesta cidade contra o património, veja se o caso do Largo da Fonte Nova, a pobreza da visão cultural que é um enorme deficit da nossa Cidadania, mas sempre com espírito construtivo, porque a amamos tanto, como aqueles que os cometem. E, apesar da crise, e contra a crise, cá estamos, para com todos, acompanhando o processo global, que também passa por Setúbal, tentarmos dar à volta ao futuro, por cima!

OB

O "Sul" quando nasce é para todos”. Foi com este slogan que o meu antecessor anunciou "urbi et orbi", o aparecimento deste novo mensário "cultural e de debates". Depois, começou um rosário de dificuldades e de vitórias, mas é em nome dessas que estamos aqui a comemorar o 1º ano do resto da nossa vida... O Sul nasceu para o debate de ideias, para defender a liberdade e o pluralismo, ao serviço da identidade regional e nacional, com o objectivo de formar uma opinião pública informada, e com o glorioso desejo de ter difusão nacional, e internacional, através da internet. Esta plataforma ambiciosa não é fácil de cumprir. Por detrás há muitas vontades somadas de diferentes opiniões todas aproveitadas para fazer um produto credível. Assim, este jornal que não tem funcionários, só voluntários, merece por isso o elogio a esse voluntarismo da escrita, mas isto também é um dos seus limites porque nem sempre os melhores escritos que desejaríamos nos chegam a tempo de publicação. Como é evidente o Sul está ainda inacabado e a cumprir-se. Eu que não sou membro da cooperativa só um voluntário tenho defendido acrisoladamente que temos de passar pra uma plataforma digital integrada, de acordo com as novas tecnologias, mas reconheço que isto não se faz só com voluntários, faz-se sobretudo com dinheiro.... que não tem abundado até agora . Contudo, isso não impediu que o jornal de distribuição gratuita, vivendo só da publicidade, pois a tipografia paga-se tenha marcado o seu espaço e hoje seja visto na cidade como um órgão de informação que merece ser respeitado. O que explica que personalidades da nossa vida cultural, política e artística tenham participado nele com artigos ou entrevistas de alto nível, Miguel Real, Fernando Dacosta, Adel Sidarius, Maria das Dores Meira, Prof Moisés Espírito Santo, Padre Constantino Alves,

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Ano: 2011 . nr 11 . Mês: Janeiro . Mensal . Director: António Serzedelo . Preço: 0,01 €

António Serzedelo Director


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02 NA VIGIA

Numa altura de crise económica é fundamental, para quem quer criar o seu próprio emprego, ter um plano de actividade, de forma a prever todos os custos que possam vir surgir no futuro, nomeadamente, os encargos ao nível da Fiscalidade e Segurança Social. O presente artigo é de natureza meramente informativa. Quando o Contribuinte pretende dar início à sua actividade na qualidade de trabalhador independente deve ponderar alguns aspectos, que poderão ser determinantes no que respeita à sua situação contributiva perante as finanças e a segurança social. Em primeiro lugar, atendendo à actividade que venha a exercer, é importante avaliar a necessidade de recorrer à prestação de serviços de um Técnico Oficial de Contas (TOC), pois há duas opções, Regime Simplificado e Contabilidade Organizada. Simplificado, se não tem TOC, ou Contabilidade Organizada, se tiver TOC. Para ajudar a avaliar a situação que melhor se adequa ao seu caso específico convêm contactar um profissional especializado na área da Contabilidade/Fiscalidade, de forma a fazer uma gestão mais eficaz e eficiente do seu orçamento pois ambos os regimes têm vantagens. Tendo em conta a actividade que vai desenvolver, é feita uma estimativa do volume de negócios (facturação) que espera obter no ano em que inicia actividade e o regime em que fica enquadrado (simplificado ou contabilidade organizada), determinando depois o seu enquadramento em IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) e IRS (Imposto sobre o Rendimento). Nem todas as actividades estão sujeitas a IVA

julia k.

TRABALHADORES INDEPENDENTES: informação essencial para quem exerce, ou espera exercer actividade.

ou Isentas de IRS. Por exemplo, no caso do regime simplificado, quando o contribuinte ultrapassa o limite de VN de 10.000€, terá que liquidar IVA, ficando a partir dessa data sujeito a retenção na fonte. A taxa de retenção varia consoante a actividade exercida.

Recentemente, a legislação veio determinar novas taxas de IVA e de Retenção na Fonte. Em sede de IVA encontramos a taxa reduzida a 6%, a taxa intermédia a 13% e a taxa normal a 23% (por norma aplicável à generalidade das prestações de serviços). No que res-

peita às Retenções na Fonte, as taxas aplicáveis às prestações de serviços podem ser de 11,5% ou 21,5% e a taxa aplicável a rendimentos prediais (rendas) é de 16,5%. O novo Código Contributivo veio introduzir também alterações no que respeita às con-

tribuições dos trabalhadores independentes para a segurança social, pelo que, alertamos para algumas situações mais importantes. Quando começa a trabalhar, o contribuinte fica inscrito como trabalhador independente, depois de a administração fiscal o comunicar à Segurança Social, ficando esta responsável pelo enquadramento do trabalhador. O trabalhador Independente tem de pagar segurança social, embora, nalguns casos específicos, possa estar isento. O montante a pagar de contribuição mensal, ficará dependente do valor de facturação anual. Contudo, por exemplo, quando tenha rendimentos anuais inferiores a 2515.32€, está isento de Segurança Social. O trabalhador independente é obrigado a pagar as suas contribuições e a enviar a declaração anual com os valores da actividade exercida, até 15 de Fevereiro do ano seguinte àquele a que respeitam os rendimentos. Esta declaração vai permitir à Segurança Social, calcular a base de Incidência Contributiva, que depois é fixada anualmente em Outubro, produzindo efeito nos 12 meses seguintes. Se já exerce actividade na qualidade de trabalhador independente, ou pensa vir a dar início à actividade, e não se sente devidamente informado relativamente às novas alterações legislativas, procure esclarecer as suas dúvidas junto de profissionais especializados. Sentir-se-á mais confiante e motivado sendo um factor determinante no seu sucesso profissional. Nuno Carpinteiro nuno.carpinteiro@fis7.pt

gostavas de ter um artigo no jornal O SUL? CONTACTA-NOS jornalosul@gmail.com 96 388 31 43


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NA VIGIA 03

Europa tem de apoiar a revolução de jasmim na Tunísia A “revolução de jasmim” de metralhar os compatriotas, da Tunísia enfrenta hoje três mas também não fez nenhum golpe militar. destinos. Assistimos actualmente a A Democracia, um golpe militar ou um caos total, um povo que está a reclamar que desacredite tudo quan- mudanças na rua, com grande to está a ser feito, libertação participação das mulheres, das dos presos políticos, liberda- polícias e dos soldados, sem de de imprensa, preparação slogans religiosos, nem protestos contra os de eleições livres ocidentais, mas e arruíne as posNão é fácil que não acredita sibilidades de, fazer rapidamente que o Governo noutros países do Magreb e árabes, a mudança de uma provisório que está instalado, se possa repetir ditadura de 23 herdeiro do anesta experiência anos, para um retigo regime, seja única, coisa cada gime democrático capaz de as revez mais desejada alizar, pois não pelos seus goverpensa que os actuais minisnantes autocráticos. Até á data, no mundo mu- tros, só por rasgarem a carta çulmano das margens do Me- do antigo do partido do poder, diterrâneo, só um pais conse- de repente, se transformem guiu compaginar islamismo em verdadeiros democratas. Entretanto a Europa pode com democracia: a Turquia. Não é fácil fazer rapidamen- ser um factor decisivo para o te a mudança de uma ditadura sucesso da Tunísia. Durante de 23 anos, para um regime muitos anos, particularmente democrático. Na Tunísia as ex a partir de 1995 fez um acordo de parceria com oposições foram aquele país, para dizimadas, não onde passou a tem líderes expeÉ do maior enviar rios de dirimentados, nem interesse dos eunheiro, fechando carismáticos. As ropeus encorajar a os olhos aos deselites estão ainda democracia laica, mandos políticos paralisadas, ou no do governo, e à exílio, enquan- e o respeito pelos corrupção reito o aparelho de direitos humanos nante, a troco estado do antigo da perseguição, partido no poder, implacável, feita RCD, se mantém intacto, apesar de ilegalizado. ao islão radical. Agora, é altura da Europa, A nível da justiça, das empresas, das polícias secretas, há começando pela França, seforças que conspiram para ao guida da Espanha, e depois regresso de Ben Ali. De resto, dos outros países da UE da a Constituição não foi ainda margem Norte do Mediterreformulada. Esta foi ideali- râneo, começarem a olhar zada á medida das necessi- para o que se está a passar dades do déspota que fugiu ali. E a despachar para lá funprecipitadamente, quando um cionários e apoios (Sarkozy general, Rachid Anmar, se re- acaba de prometer auxílio cusou cumprir a sua ordem económico para apoiar as

Nacer Talel

mudanças) que facilitem o câmbio democrático de que tanto nos fazemos arautos, e que é o nosso ex-libris. É que na actual conjuntura de crise económico-financeira internacional e nacional, não é fácil aos tunisinos realizar de forma segura e com a rapidez necessária essa transformação. Isto não é só no interesse

deles, mas é, sobretudo, no nosso. Convém-nos, no flanco Sul, governos que promovam o progresso social e satisfaçam as aspirações populares, particularmente da juventude magrebina, que assim deixará de sair dos seus países, à procura de melhor sorte nos estados comunitários, agora a braços com a crise económico

financeira e de emprego. É do maior interesse dos europeus encorajar a democracia laica, e o respeito pelos direitos humanos nestes Estados, para provar que desenvolvimento, islamismo e o arabismo não são incompatíveis com a Democracia. António Serzedelo Director

PROJECTO DE RESPONSABILIDADE E CONSCIÊNCIA SOCIAL AS EMPRESAS QUE AQUI ANUNCIAM SÃO MECENAS DA CULTURA. CONSUMA NESTES ESTABELECIMENTOS CONTACTE ATRAVÉS DE 96 388 31 43.


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04 ACTIVISMOS

No decorrer de mais uma visita à Ecoteca da Anta, situada num pequeno Jardim colorido pela natureza e plantado no meio da selva de cimento, algures entre a Agualva e Belas, um grupo de crianças de idades compreendidas entre os 7 e 11 anos reunirem-se em círculo enquanto conversam com o monitor. A determinada altura este questiona-os: “…então, se, como vocês dizem, nós também somos da Natureza, quando estamos a fazer mal à Natureza estamos a fazer mal a quem?” Logo a frenética Inês, respondona, afirma com prontidão: “Estamos a fazer mal a nós!” Gera-se um silêncio no ar, que o monitor respeita e deixa-o instalar-se para dar espaço aos pequenos grandes Seres Humanos ali presentes germinarem e assentarem a questão. Passados alguns momentos o Rui rompe o silêncio e, não escondendo a sua total incompreensão, pergunta com profunda humildade: “Porque é eles (falava dos adultos) fazem tanto mal à Natureza com as fábricas, os carros e aquilo tudo?”. De imediato o Aristides, que prefere ser chamado Júnior, um jovem de 8 anos de ascendência Cabo Verdiana, amante da Ecoteca e um apaixonado por tudo o que naquele clube de amigos da natureza se faz, responde-lhe: “Olha, porque eles

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ana sofia vaz

Educação Ambiental e Ecopedagogia

esqueceram-se que também são Natureza!” O Júnior tem toda a razão! A esmagadora maioria dos adultos esqueceu-se que são parte integrante da Natureza. Podemos ver os resultados desta gravíssima falta de consciência em todo o nosso redor. Desde a aplicação selvática da ciência à incessante exploração dos já quase findados

recursos do planeta, de forma a satisfazer uma economia e sociedade totalmente dependente do consumismo, como no completo desrespeito por as múltiplas formas de vida que partilham connosco este planeta e cuja existência é vital para a continuação da espécie Humana. Pelo mesmo caminho irão a maioria das crianças que não

forem educadas dentro de um contexto Ecopedagógico, em que a consciência diária dos indivíduos esteja impregnada da ligação dos mesmos com todo o mundo envolvente – biológico, económico, social e cultural. Ecopedagogia engloba a Educação Ambiental, mas vai muito mais além. Os princípios da Ecopedagogia são

mais amplos do que a educação ambiental, desde que a sua prática inclua processos de “coeducação”, no marco da cultura de sustentabilidade, dentro e fora das escolas. A sustentabilidade educativa está além das nossas relações com o ambiente – ela tem a sua maior e mais importante materialização no quotidiano da vida, no profundo valor da


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nossa existência e nos nos- Educação Ambiental, é acima sos projectos de vida no Pla- de tudo, consciência Pessoal e Universal. neta Terra. A sensação de pertencermos Como pedagogo e Ser à Terra não se inicia na idade Humano, envolvo-me na adulta e nem por um acto da Ecopedagogia com a sensarazão. Desde a ção profunda que infância, senpensar, falar e esta é, na verdade, timo-nos ligaum tremendo acto agir com a consdos a algo que é de Amor e, como muito maior do ciência e respeito tal, exige muita que nós. Desde pelo Todo, o muncoragem, pois criança sentimo- do envolvente e num mundo em nos profunda- todas as formas de que, desde cedo, mente ligados ao vida, que na verda- somos prograUniverso e colomados para pende não são mais do camo-nos diante sarmos acima de dele, num misto que uma extensão tudo em nós próde deslumbra- de nós próprios, é prios e competitimento e de res- um profundo acto vamente, pensar, peito. A educa- de coragem. falar e agir com a ção pode e deve consciência e rester um papel peito pelo Todo, o neste processo de se coloca- mundo envolvente e todas as rem questões filosóficas fun- formas de vida, que na verdamentais, mas tem a sua maior dade não são mais do que uma razão de existência se - prin- extensão de nós próprios, é cipalmente - souber trabalhar um profundo acto de coraao lado do conhecimento, essa gem. Esse só pode verdadeinossa capacidade de nos encan- ramente materializar-se atratarmos com o Universo, ou seja, vés da aplicação do conheciconnosco próprios. mento e criatividade Humana Sinteticamente falando, a de mãos dadas com uma Ecopedagogia procura mudar entrega profunda ao Amor as relações Humanas, sociais que em nós habita. De outra e ambientais que temos hoje. forma, começamos e terminaTorná-las saudáveis e em har- mos rapidamente – indepenmonia com os outros e restante dentemente do nosso suposto Universo. Isto é feito através avançado estado tecnológico do acordar da consciência do e intelectual – como sobreviindivíduo, para todo o mundo à ventes e nada mais. sua volta e do qual ele faz parte integrante. Daí que não possa Carlos Fairfield ser encarada somente como Pedagogo

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06 ACTIVISMOS

O SUL – O Segundo Primeiro Aniversário Para O SUL desejamos muitos anos de boas reportagens, grandes entrevistas, que continuem a divulgar o que de melhor acontece na nossa região, que continuem a ser um grande jornal com temas bastante interessantes. Que seja o primeiro de muitos aniversários deseja toda a equipa do Café Arco-Íris

O peido que aquela senhora deu, não é dela, é meu! Bocage – poeta sem eira nem beira

Deste azimute de Setúbal, só se vê o Norte. Até que em fim que apareceu o “SUL”. PARABÉNS!!!!!! Romi Vagos – mamaRosa

Na endémica mediocridade Eu gosto muito, mas tenho pena de não ter horóscopo Prof. Karumba – vidente, astrólogo e outros

Em meio da escuridão do dia-a-dia, eis que surge uma voz activa para dar um alento e clarear o caminho das pessoas, preenchendo com boa informação, cultura e também um pouco de descontracção. Que este aliado nunca fique mudo e continue a percorrer as grandes distâncias e derrubar barreiras. Parabéns Jornal O Sul

Continuo à espera da minha Casa-Museu. Luísa Todi – cantora pimba

Sociais-democratas da merda! Jaime Rebelo – o homem da boca serrada

Se com outros vocábulos, fores tratado da mesma maneira, não te sentes incomodado.

Quero que O SUL se foda!

No crescente marasmo cultural de Setúbal, O Sul e a Prima Folia, insistem e muito bem, em não deixar adormecer as vontades criativas e criadoras que ainda existem na cidade. Bem hajam!

Pitonisa de Delfos – Pitonisa

Luiz Paxeco – artista de variedades

João Oliveira – Passo do Olival

Elisson S. de Jesus ou simplesmente Bob

Mais do que um jornal cultural O Sul é, para mim, expressão de uma saudável atitude de independência, pluralidade e inconformismo. Um jornal do seu tempo que a região merece. Em torno da cultura, múltiplas narrativas e narradores vão construindo um novo sul a cada número que sai. É cultura em acção. Parabéns ao Sul, longa vida para O Sul. Paulo Cardoso – Docente universitário

Aleluia, aleluia, aleluia! Mata Cáceres – autarca desempregado

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Um órgão de comunicação verdadeiramente independente é hoje, como antes o foi sempre, uma arma vital para o desenvolvimento civilizacional. O SUL tenta sê-lo e, na nossa humilde opinião não especializada, como com tudo o mais na vida, “tem dias”... Mas conhecendo o esforço dos voluntários (e sublinho “voluntários”) envolvidos e a sua tenacidade, é de louvar a sua persistência findo este primeiro ano de actividade. Trabalhar em Setúbal e para Setúbal em outra actividade que não o assar peixe ou alugar camas (vulgo para definição oficial de “turismo” por quem tem tido “sensibilidade” para decidir sobre a matéria) é uma missão ingrata, bem o sabemos. Mas ainda assim o SUL encontrou o seu equilíbrio, o jornal tem conteúdo, uma boa apresentação, uma voz activa e, o mais importante, espaço e potencial para crescer. Portanto... PARABÉNS CARALHO! (Porque “quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm é como se estivéssemos a desinfecta-los, a tornalos decentes” - Miguel Esteves Cardoso)

Vamos dar Rock para acordar o menino Jesus. Rodrigo Justo – criança

Vivo virado a sul. A sul vejo o rio. A sul vejo os barcos que rasgam o seu próprio destino por entre a ondulação desse rio. A sul vejo os golfinhos-ruazes selvagens do Sado. A sul vejo as gaivotas que perseguem as traineiras e os pescadores da minha cidade. A sul vejo a península-praia da minha infância. E vivo no sul. No sul da Europa. No sul do meu país. A sul da margem sul. Aqui, neste lugar - que é meu e nosso e de ninguém - leio o sul. O sul do debate de ideias. O sul da partilha de experiências. O sul da convergência e da divergência. O sul da análise e do contraditório. O sul do esforço perseverante de amigos para continuamente fazer (re) nascer a paixão das cumplicidades. Fernando Casaca – Teatro do Elefante

É demasiado muito sério, peço desculpa. Ritinha – animadora de espaços sociais

António Aleixo – Low Cost Filmes

Esta coisa é um clister em forma de papel. Braúlio – ele mesmo

Comigo quem quiser, contra mim quem puder Dói Maria – assessora de cabeleireiro

Miga, ecá nã sei lerr. Mariana Torres – conserveira fuzilada

intelectual sadina, O SUL propôs-se a marcar a diferença pela palavra. Altas ambições, principalmente porque não deixa de ser duvidoso que “Setúbal” saiba ler. Ou pensar, como todos os dias os seus agentes se esforçam por nos confirmar. Colocandose fora desse plano, O SUL arriscou-se a criar um espaço novo e respirável. Um espaço onde muitas vozes até então aparentemente inexistentes puderam surgir. Um espaço onde, até eu, um escriba vagabundo, ocasionalmente fui encontrando um lugar. Simplesmente, não era possível pedir mais. Nem mais, nem melhor. Tiago Apolinário Baltazar – estudante universitário

Putos do carralho, têm a mania que sabem alguma coisa. Toino Jorge – vendedor da lota

Tendo em linha de conta o entediante e acomodado panorama da Comunicação Social Local, pode dizer-se que “O SUL - Jornal Cultural e de Debates” só vem acrescentar algum ar fresco ao meio, acima de tudo “O Sul” é uma aposta diferente para um público diferente com uma abordagem diferente a formato já gasto. Companheiros, formulo desejos de um saudável crescimento e apresento-vos saudações jornalísticas. Luís Mestre – SetubalTV

2 Supositórios e 1 BenU-Ron para escrever isto. Zebelina Pereira – Apoiante do Aníbal

No meu tempo, por bem menos, já estavam presos. Bem sei que quando criei O SUL fiquei a ver o sol aos quadradinhos por quatro meses. Paulino de Oliveira – Editor da 1.ª série de O SUL

Ao assinalar o seu primeiro aniversário, o jornal O Sul demonstra que, não só existe espaço para um projecto como este na cidade de Setúbal, como também fazia muita falta. O Sul dá voz não só aos agentes culturais e políticos como aos próprios cidadãos, proporcionando novas ideias, discussões, experiências e pontos de vista, numa abordagem plural. Além disso, há que saudar a sua gratuitidade, especialmente numa altura em que assistimos a mil e um planos de contenção, cortes na despesa e despedimentos colectivos em nome da crise financeira. Pedro Soares – Experimentáculo Associação Cultural

Não ponhas Kivi, Kiwi, Kivi, na sangria. Lena Raio Laser – Transexual sem-abrigo

O Jornal O Sul é uma alternativa à comunicação regular e pouco artística que se faz na região de Setúbal. Foi a minha primeira experiência num jornal e sei que me permitiu ganhar alguma noção do que é realmente participar num projecto cultural tão interessante. Este primeiro ano foi sem dúvida um sucesso, porque O Sul foi capaz de abordar temáticas tão interessantes quando criativas, de forma simples, dando voz a quem apenas quer falar e tem boas ideias. Os meus sinceros parabéns e espero que daqui a 50 anos O Sul ainda ande por aí, a agitar opiniões e a obrigar as pessoas a reflectirem, em vez de apenas lerem. É um prazer escrever para O Sul e dar força a este projecto. Obrigado por tudo. João Miguel Fernandes – ECOS – Movimento Cultural Setubalense

Tenho lido O Sul com um misto de surpresa e receio – respectivamente pela qualidade e pela fragilidade que estas coisas têm em sociedades em vias de organização como a do nosso país. Possa a meteorologia compadecer-se com este fenómeno... António Amorim – Docente universitário

A cavalo dado não se olha ao dente. Mourinho – gestor de Recursos Humanos

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ACTIVISMOS 07


80 79 62 42 17 6 15 1

Regras do jogo: 5. Tens um número de O SUL. Avança até à casa 18.

41

18. Assististe a uma peça do TAS. Avança 5 casas 23. O Teatro de Bolso vai ser encerrado para obras. Recua à casa 14. 27. Casa da Cultura. Onde? Volta à Casa da Partida.

41. Passaste pela Casa de Bocage. Não aquece nem arrefece. Segue jogo. 45. Passeaste nos conventos de S. Paulo, mas estão em ruínas. Fica à espera sentado pela sua recuperação ao longo de três jogadas.

GLÓR

84

85 6 49 9 70 25 51 26 68

23

50. Visitaste a Fortaleza de S. Filipe, na esperança de ver o 2.º Festival de Músicas do Mundo. Não é ano de eleições e a escarpa cedeu. Resvala 5 casas.

81

36. Ganhaste um passe do Festróia. Joga duas vezes.

45

32. Participaste nos maiores eventos culturais da cidade: Corso, Marchas, Feira de Sant’Iago, Festa da Sardinha e Festa da Cerveja. Pará ao longo de 5 jogadas para assimilar o que aprendeste.

82 83 6 4 4 6 3 67 5 6 6 8 4 4 4 4 2 46 47 19 2 0 21 22

14. Combinaste ir ao Charlot para ver um filme. Está em obras. Recua 5 casas.

18

9. Foste ao Fórum Luísa Todi. Fica 10 anos (jogadas) sem avançar.

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08 zoilos tremei! POSTER

50

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78 60 6 1 1 3 1 8 12 39 4 13

54. Compraste um bilhete para ver a “Carmina Burana”. Para o fazer tiveste de ir para Lisboa. Sai do jogo.

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87 88 89 73 6 7 74 75 55 8 5 56 57 33 34 35 6 7 8 9

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9

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53 0 4 3 29 3 2

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71 52 28 1

72

31

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Regras do jogo:

10

7 3

14

RRIA

59. Viste um espectáculo num dos espaços nocturnos fixes da cidade. Avança 4 casas. 63. A ASAE fez uma rusga. Fica 2 vezes sem jogar. 68. Procuraste pela Casa-Museu de Luísa Todi, mas está arruinada. Ficas duas vezes sem jogar, uma por cada mandato em que foi promessa eleitoral. 72. Aderiste à Festa do Teatro. Avança 5 casas. 77. Foste à tourada. Tourada não é cultura. Por desrespeito aos direitos dos animais voltas à Casa da Partida. 81. Compraste o Cartão-jovem Municipal, que te dá descontos fantásticos em espectáculos. Vai vê-los à casa 9. 86. O Museu da Cidade celebra 50 anos, porém, está encerrado, fará 19 anos, em Fevereiro. Por solidariedade, recua 18 casas, uma por cada ano.

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RIDADE, ÉS MINHA!


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10 PERIFERIAS

O sonho e a utopia de uma sociedade justa e verdadeiramente democrática Vivemos tempos em que avanços tecnológicos ao nível a descrença e a desilusão das armas, estaria em causa a reinam entre os cidadãos. sobrevivência do nosso próVivemos tempos em que o prio Planeta. Resta-nos, portanto, que o consumismo, o materialismo, o ter em substituição do ser Homem continue a sua luta são os príncipes da sociedade! individual e colectiva pela Estarei a ser demasiado pes- construção de um Mundo simista? Talvez! Mas é aquilo Melhor, onde o fim último de todas as coisas seja a felicidaque eu sinto! Acredito sinceramente que de do Ser Humano, sempre o ser humano não foi “criado” com total respeito pela nossa com o objectivo de viver neste Mãe Natureza. Mas para que esta luta indiactual estado de coisas. Seja em Portugal, na Europa ou no vidual e colectiva se concretize é fundamental resto do Mundo. E que, primeiro se nos queixamos Resta-nos, que tudo, haja da actual situação consciência sócio económica portanto, que o do nosso País (e Homem continue a dessa necessitemos razões para sua luta individual dade. Os mecanismos hoje isso), imaginem o e colectiva pela existentes para que será viver na construção de um “adormecer” os maioria dos PaíMundo Melhor Cidadãos evoses do Continente luíram de uma Africano. forma drástica. Na nossa condição de ser humano está implícita Muitos de nós dizíamos que a capacidade de sermos felizes. antes do 25 de Abril o Estado E o que significa isto em termos utilizava 3 ferramentas; Os 3 mais “terra a terra”? Significa Fs: Fado, Futebol e Fátima. Os termos os meios suficientes para mais velhos facilmente comgarantirmos uma vida digna às pararão esses meios utilizados nossas famílias. Significa termos pelos Governos de Salazar e um emprego, uma habitação, Marcelo Caetano com os meios actualacesso à saúde, mente utilizados ao ensino, enfim, para que através das novas tudo aquilo que tecnologias de é necessário para esta luta indiviinformação pelos que possamos dual e colectiva grandes Grupos andar de cabeça se concretize é Multinacionais. erguida. fundamental que, Qual é a lógiA História temca, por exemplo, nos ensinado que primeiro que tudo, de com o actual todos os avanços haja consciência estado de endicivilizacionais dessa necessidade. vidamento das tiveram fundafamílias, se conmentalmente duas causas: a luta dos Ho- tinue a ver na comunicação social anúncios publicitários mens e as Grandes Guerras. Obviamente que não de- a empurrar as famílias para o sejamos mais uma Guerra consumismo, com o corresMundial, pois com os actuais pondente aumento das suas

ana sofia vaz

dívidas para com terceiros? Dir-me-ão que as famílias têm que ser responsáveis pelos seus actos! Mas para que isso aconteça o cidadão tem que estar informado e formado. Essa é, sem dúvida, uma obrigação do Estado (porque, em última análise, o Estado somos todos nós). Mas também é um dever das ONGs, das IPSSs, das Associações Culturais e Desportivas, enfim

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de todas as Estruturas criadas por cidadãos e que estão ao serviço dos cidadãos. É o caso do Jornal O Sul, publicação que em boa hora apareceu, fruto do esforço de um grupo de jovens (e outros menos jovens). E acreditem que manter uma publicação deste tipo em formato papel e digital a sair com uma periodicidade fixa não é uma tarefa fácil. Meus caros amigos da Pri-

ma Folia e do Jornal O Sul um abraço de parabéns pela vossa perseverança e coragem. E continuem, porque desta forma também estão a contribuir para um cidadão mais formado e informado e, consequentemente, mais participativo na vida colectiva e na construção do tal Mundo Melhor! Carlos de Sousa Palmela, 22 de Janeiro de 2011


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PERIFERIAS Em síntese, a cultura portuguesa desenvolveu 10 interpretações sobre o fenómeno das “aparições” de Fátima: 1. Fátima-Oficial: corresponde à visão da Igreja Católica sobre Fátima, levantada desde a década de 20 pelo cónego Formigão, expressa na literatura oficial do Santuário, que, em síntese, declara ter sido Nossa Senhora, desagradada com as injúrias humanas a Deus, a “aparecer” aos três pastorinhos, exigindo reparação através da oração diária do “terço”. Mais tarde, já na década de 40, por via das Memórias da Irmã Lúcia e da revelação dos dois segredos, Fátima torna-se o centro de uma feroz diabolização do comunismo e da União Soviética como explícitos alvos ideológicos a combater pela Igreja, harmonizando-se assim Igreja e Estado Novo nos mesmos objectivos propagandísticos; 2. Fátima- Farsa: desenvolvida pelo republicano maçónico Tomas da Fonseca, em Na Cova dos Leões (1957), continuada por João Ilharco, em Fátima Desmascarada (1971), e de certo modo retomada por Mário de Oliveira, em Fátima Nunca Mais (2000), identifica Fátima com uma impostura montada pelos clérigos contra o republicanismo, utilizando jogos de espelhos ou uma imagem da Virgem, para convencer três crianças analfabetas da realidade das mensagens da “Senhora, tentando recuperar a força perdida do catolicismo em Portugal; 3. Fátima-Espírita: defendida por Furtado de Mendonça, em Raio de Luz sobre Fátima (1974), esta tese proclama o pré-conhecimento

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Oito Notas sobre Fátima

das “aparições” através da revelação feita à comunidade espírita de Lisboa e do Porto, que teria publicado anúncios no “Diário de Notícias” e no “Jornal de Notícias” avisando dos fenómenos do “além” que se iriam suceder em Portugal em 13 de Maio de 1917. É interpretada como anunciando um novo tempo de liberdade, de dignidade e de expansão do espiritismo, finalmente aceite como uma teoria verdadeira e rigorosa; 4. Fátima-Extraterrestre: tese defendida por Joaquim Fernandes e Fina d’Armada, em Intervenções Extraterrestre em Fátima (1982), As Apa-

rições de Fátima e o Fenómeno Ovni (1995) e Fátima. Nos Bastidores do Segredo (2002), identificando a “Senhora” com um ser extraterrestre e o coração de “Nossa Senhora” com a habitual “bola” produtora de luz e de imagem presente em outros “contactos”; 5. Fátima-Fatimida: tese defendida por Moisés Espírito Santo, em Os Mouros Fatimidas e as Aparições de Fátima (1995), declara ter sido a Serra d’Aire ocupada por berberes do Norte de África, das tribos Macemuda e Zenaga, que acreditariam no regresso do Iman Oculto Muhamad Al-Muntazar (Mohamed, o Esperado). As

“aparições”, constantes nesta serra desde o século X, seriam, assim, visões, não de “Nossa Senhora”, mas de “Fátima”, a filha do Profeta, prenunciando o regresso definitivo do Iman Oculto. 6. Fátima-Rosacruciana: tese defendida por A. Monteiro, em O Que é Fátima? (2000), postula ser Fátima uma “charka” da Terra, onde flui uma corrente de espiritualidade, permitindo a transmissão e comunicação de energia de um corpo para outro e de um mundo para outro. Assim, as visões não seriam de “Nossa Senhora”, mas de uma menina de “grande beleza, de baixa estatura, que viveu naquela

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região e que faleceu em plena juventude”, encontrando-se no “1º céu; 7. Fátima-Sentido-doSéculo-XX: nova tese, que prolonga e actualiza a tese Fátima-Oficial, defendida por J. César das Neves, em O Século de Fátima (2002), tese como que prenunciada em O Segredo que Conduz o Papa: A Experiência de Fátima no Pontificado de João Paulo II (2000), de Aura Miguel. Escrito após a revelação do “3º segredo” e já o englobando, interpreta o conteúdo das “aparições” de “Maria” como a revelação à Igreja Católica da sua missão de martírio e penitência ao longo de 100 anos de perseguição e martírio, findados no exacto momento em que Nossa Senhora terá desviado a bala que assassinaria João Paulo II, não deixando assim cumprir-se a profecia do “Terceiro Segredo”, 8. Fátima-Criação-daIgreja: Ao contrário das teses historicistas sobre Fátima, que sempre defenderam ter sido esta que se impôs à Igreja, obrigando-a a prestar-lhe reconhecimento oficial, Luís Filipe Torgal publica As “Aparições” de Fátima. Imagens e Representações (1917-1939), provando que Fátima é uma “construção” ou uma “criação” da estrutura hierárquica da Igreja a partir de 1920, sob a intervenção empenhada de dois clérigos: D. José Alves Correia da Silva, bispo da então restaurada diocese de Leiria, iniciando desde 1921 o processo de compra dos terrenos do futuro santuário, e do cónego Formigão; Miguel Real Escritor


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PERIFERIAS

Gandhi, dizia repetidas vezes aos hindus, que deus não era monopólio das castas mais elevadas. Desta forma, as portas de todos os templos hindus, deveriam estar abertas para toda a gente, principalmente para as castas mais baixas. Importa referir que, depois de ter atingido a idade adulta, gandhi nunca entrou em qualquer templo hindu, embora tivesse nascido no seio de uma familia hindu de casta superior, “vanijya”, culta e abastada. Com o objectivo de se eliminarem as divisões entre as pessoas que constituem uma sociedade, gandhi defendia que deveriam ser prestados cuidados especiais aos pobres e às pessoas das castas mais baixas. Como é do conhecimento comum, a india é uma sociedade organizada com base num injusto sistema de castas, contra o qual o mahatma se revoltou intensamente. A casta de nivel inferior é vulgarmente chamada “shudras”, ou a casta dos intocáveis. Aos intocáveis, gandhi preferiu chamar “harijan”, que significa “filhos de deus”. Foi também com este nome que gandhi intitulou o seu jornal “harijan”. Tradicionalmente a india (as outras sociedades não constituem excepção) tratava a mulher, como pertencendo ao segundo sexo, sexo fraco e, neste sentido, era tratada como escrava. A sua obrigação fundamental era a de servir e obedecer ao homem. Gandhi de igual modo se revoltou con-

miriam rabaçal

Mahatma Gandhi e o Dia Internacional Da Não-Violência (II)

tra esta condição da mulher. No contexto da sua filosofia e durante a luta da india pela sua independência, gandhi definiu e difundiu o seu conceito de estado ideal: “ o estado ideal será aquele em que, um dia, a chefia do estado da india for exercida por uma mulher harijan. Isto corresponderia á liertação da antiga escravidão de casta e discriminação contra as mulheres. Com esta declaração, gandhi provocou uma profunda ruptura no sistema de castas e, por conseguinte, no estatuto de inferioridade da mulher, patente em todas as castas. Para o mahatma, a mulher e o homem são iguais, declarando mesmo que, em alguns casos, a mulher desempenha funções

mais importantes do que o homem. “A mulher sofre quando dá à luz uma criança. É também ela que a alimenta com o seu próprio sangue durante nove meses, após os quais, continua a alimentá-la com o seu próprio leite.” Para gandhi, “a mulher faz muito mais sacrifícios do que o homem. É capaz de se multiplicar em diversas funções. Pela sua condição natural, a mulher é a mãe da humanidade. Primeira educadora e arquitecta da nação, do futuro e de toda a humanidade”. Desta forma, gandhi apela ao homem que aprenda a respeitar a fundadora da humanidade. Quando esteve na áfrica do sul, em 1913, gandhi encorajou a sua esposa

kastur, a tomar parte activa na luta contra a lei injusta do casamento dos cidadaos não-brancos. Kastur participou tão activamente, juntando a si centenas de mulheres, que acabou por ser feita prisioneira, pelo governo do apartheid da áfrica do sul. Para gandhi, a prisão de kastur significou a sua própria libertação, assim como a libertação de todas as outras mulheres. Mais tarde, quando gandhi regressa á india, orienta um movimento social, fazendo com que milhares de mulheres entrem nas prisões da india, pelo que passaram a ser chamadas “filhas corajosas”. De facto, nenhuma nação pode ser perfeita, enquando

as mulheres não participarem activamente em todos os domínios da vida pública, como parceiras, colegas e amigas do homem. A natureza não fez a mulher fraca e escrava. Foi o homem que, ao longo dos séculos, lhe atribuiu esta condição. A mulher deverá ser suficientemente corajosa para mudar esta situação e o homem deverá estar a seu lado nesta luta, através da qual também se libertará para que, desta forma, a civilização humana se torne finalmente forte, saudável e feliz. A mulher é, para gandhi, a fonte poderosa para a transformação da humanidade. O seu conceito de liberdade é totalmente abrangente, incluindo cada aspecto da vida humana. Gandhi, quis que a india e que toda a humanidade, se libertassem de qualquer forma de dominação. A sua noção de liberdade, não está apenas restrita à vida política dos paises. Durante toda a sua vida trabalhou arduamente para reunir pessoas de diferentes ideais e ideologias políticas. Sabendo ser um trabalho difícil, continuou-o até ao fim da sua vida. Experimentando com a unanimidade da verdade, algumas vezes foi bem sucedido, noutras falhou redondamenente. Mas nunca se tornou um pessimista, pois a busca pela veradade, não o permitia. (Continua no número seguinte) Anil Samarth, Professor - samarthanil@gmail.com

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PERIFERIAS 13 A Índia é como o que vemos na TV, no cinema, nos romances? Definitivamente não. Não se pode esperar nada da Índia, tudo é possível, tudo acontece simultaneamente. Aqui faz-se devagar mas vive-se caoticamente. O facto de ter vivido integrada na sociedade como estagiária numa universidade, com responsabilidades perante uma hierarquia, vivendo com eles, comendo com eles e utilizando as mesmas infraestruturas que eles (incluindo as sanitárias), permitiu-me obter uma perspectiva desta cultura diferente da de um turista. A adaptação às condições de higiene e salubridade, completamente deploráveis, foi fácil e rápida; por outro lado, mesmo comunicando na mesma língua, a adaptação à sociedade foi mais demorada devido a convenções sociais e a uma linguagem corporal completamente diferentes. O facto de ser uma mulher ocidental, livre e “dona do pedaço”, não ajudou. O oriental vive colectivamente, por isso cedi o meu espaço privado, tanto físico como social. No autocarro carrego ao colo sacos de batatas da velhota do fundo; numa mão tenho o portátil do estudante que vai agarrado à porta e com a outra passo o dinheiro entre o passageiro e o fiscal que se encontram separados por centenas de pessoas… e mais tarde o bilhete. No comboio durmo exposta, sem protecção, com as malas perto de mim. Ninguém me rouba, ninguém me viola. Nas celebrações e rituais religiosos sou convidada a meditar, a cantar, a banhar-me, a cobrir a testa com pó de sândalo e talco. As pessoas ajudam-me e pedemme ajuda. Não por favor, mas porque a sociedade é colectiva, a acção comunitária é orgânica

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miriam rabaçal

Contrastes – parte 1

As mulheres têm um pae ocorre de uma forma fluida e natural, sem expectativas nem pel bem definido na sociecobranças… excepto quando dade e um grande objectivo estou a regatear. Mas não há – o casamento. Tal como no espaço para o individualismo ocidente, existem mulheres nem para a minha opinião, te- que não querem “ficar para nho que me sentar onde o fis- tias”, vivendo em função de cal manda, tomar as decisões um pacote de características dos outros como verdades que as tornam mais atractivas. Os casamentos absolutas sem conarranjados são, testação, tenho que As pessosem dúvida, a me vestir de certa as ajudam-me e maior expresforma, e sendo são do sistema mulher tenho que pedem-me ajuda. de castas, sendo agir de certa forma. Não por favor, mas Fumar, beber ou porque a sociedade também uma das poucas. O expor as pernas e é colectiva arranjo está na ombros trazem compatibiliatritos com a polícia, que na verdade dão para dade das características dos escapar agindo como uma tu- futuros noivos que incluem rista branca ingénua – leia-se o nível de estudos, a religião, estúpida – ao invés de pagar a situação económica, a situação astrológica, entre ouao polícia.

tros. Os pretendidos podem recusar os pretendentes caso não sejam do seu agrado: uma queimadura na cara cuja cicatriz protuberante provocou um desvio na simetria natural dos lábios foi motivo suficiente para a pretendida recusar o pretendente. O arranjo também pode ser proposto pelos noivos: dois estudantes universitários apaixonados casaram-se após concluir o curso, dada a compatibilidade, com permissão dos pais. Desta forma perpetua-se uma ordem social segregativa na tentativa de produzir casamentos ideologicamente perfeitos, não havendo espaço para relações entre castas sociais. Há “casais proibidos” que fogem com o objectivo de começar uma vida nova noutra cidade

e são bem sucedidos; outros são perseguidos por familiares de “honra ferida”, por vezes até à morte. A minha viagem pela Índia, e mais tarde pela Tailândia, revelou-me que, apesar de através de meios diferentes, todos queremos o mesmo fim: uma casa para viver, uma família para amar, a segurança de que a nossa vida tem um objectivo e é isto que nos torna iguais. Impressionou-me como a família pode ser tão respeitada e nutrida, como a cultura pode ter tantas expressões, como a religião pode ser tão racional. Mas não me esqueço do desastre ambiental que testemunhei na Índia… Miriam Rabaçal


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CULTURA

Setúbal do ponto de vista de um jovem de 22 anos Aos meus olhos, Setúbal mesmo tempo, a preços basnão é uma cidade assim tão tante baixos, tendo em conta má como por aí opinam. É outras cidades com rendimencomo um diamante que ain- tos equiparáveis. Aqui não nos da não foi laminado, mas que podemos queixar. Se não vamos a nenhum evento, então tem imensa qualidade. Cresci numa altura em que não podemos dizer que não Setúbal foi afectada por deci- há nada. A nível social temos sões políticas bastante erradas, várias sociedades recreativas, o que originou transformações alguns bons parques, como do sociais. Primeiro no valor que de Algodeia e de Vanicelos (o as pessoas davam à cidade, de- do Bonfim não é de todo bom pois destruindo partes impor- exemplo). Cafés e bares existem, mas tantes do património cultural de Setúbal. Felizmente, nos úl- aqui é a maior falha. Se cafés timos anos esse panorama tem existem em excesso e em enormudado, mas o pessimismo me qualidade e originalidade generalizou-se e transpôs-se (exemplo do Octubrus ou La para a minha geração. É co- Bohéme), já bares tendem a ser mum ouvir-se um jovem de 17 cópias uns dos outros, oferecenou 20 anos dizer que “Setúbal do pouco de inovador à cidade. não tem nada, não tem sítios Não creio de modo algum que para onde sair, não acontece a cidade ofereça pouco a nível nada”. Esta é uma opinião quase cultural. Talvez a nível de entregeneralizada quando interroga- tenimento ligado com a noite, mos um jovem entre os 16 e os ou seja, bares e discotecas, tenha 23 anos. Contudo, é uma ideia pouca oferta de qualidade. Nos “adultos” há completamente a “mania” de dizer errada. Acredito Não basta fique “Setúbal é um que poderíamos car sentado no sofá dormitório, não ter muito mais e tem empregos, a em maior qua- e dizer que Setúbal lidade, porque a não tem nada para baixa está a morcidade tem tudo oferecer. Temos que rer”. Tudo isto é para ser uma criar e fazer desen- uma verdade, mas também é verdade das mais impor- volver. que para inverter tantes do país a esta situação é todos os níveis! preciso que cada Infelizmente não um de nós, entemos mais, mas quanto indivíduos, não temos asa contribuir posisim tão pouco. tivamente para a A nível cultural produzimos bandas e músicos nossa cidade. Não basta ficar de forma quase instantânea, sentado no sofá e dizer que surtindo efeitos bastante posi- Setúbal não tem nada para tivos. Para isso basta olharmos oferecer. Temos que criar e aos exemplos de sucesso dos fazer desenvolver. Para isso More Than A Thousand, dos basta vontade e esforço. É o The Doups ou até mesmo do mínimo, o resto vai-se conToy. A nível do teatro, da pin- seguindo aos poucos. O mal tura, de artistas plásticos, etc, de Setúbal não está propriatemos uma enorme qualidade e mente na cidade, mas sim na em boa quantidade. Os eventos mentalidade das pessoas. É ocorrem quase todos os dias necessário aproveitar espaços, pela cidade, por vezes vários ao dinamizar outros, criar mais,

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investir, publicitar lá fora, arriscar! E para isso temos que sair à rua e ir aos nossos cafés, aos nossos eventos, às nossas sociedades, à nossa baixa. É óbvio que isto não depende tudo apenas das pessoas, a Câmara também tem que

apoiar novos projectos. Mas se têm novos desafios, novas ideias, para transformar a baixa da cidade, o comércio, a cultura, porque não tentar ter sucesso? Setúbal é uma potência imensa e tem tudo para explodir positivamente.

Depende de cada um de nós se essa explosão é positiva ou negativa. Por mim será positiva, e para vocês? João Miguel Fernandes Ecos – Movimento Cultural Setubalense

FICHA TÉCNICA: Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL Morada: Rua Fran Paxeco nr 176, 2900 - 274 Setúbal Telefone: 96 388 31 43 NIF: 508254418 Director: António Serzedelo Subdirectores: José Luís Neto Consultor Especial: Fernando Dacosta e Raul Tavares Conselho Editorial: Catarina Marcelino, Daniela Silva, Hugo Silva, Jaime Pinho, Leonardo da Silva e Maria Madalena Fialho Directora de Arte: Rita Oliveira Martins Consultor Artístico: João Raminhos Morada da redacção: Rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal E-mail: jornalosul@gmail.com Registo ERC: 125830 Depósito Legal: 305788/10 Periodicidade: Mensal Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Tipografia Rápida de Setúbal Morada da tipografia: Travessa Gaspar Agostinho, nr 1 - 2º - 2900-389 Setúbal Telefone: 265 539 690 Fax: 265 539 698 E-mail: trapida@bpl.pt


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CULTURA

“Gostaria de viver da música, pois dá-me prazer”

diz Gerson Santos a O SUL

O SUL – Qual a tua relação 000 inscrições pelo que tivemos de passar por várias aucom a música? Gerson Santos – Comecei aos dições até que, em Novembro, 10 anos, com piano em lições éramos doze. Então, praticaparticulares. No Algarve, onde mente mudei-me para Lisboa. passo as férias com a família, Só vinha a Lisboa no final das iniciei-me na guitarra, faz dois noites de domingo e cá ficava às segundas-feiras. anos. Fui aprenDe terça a domindendo com os só quando go vivia vibranteamigos, vendo retornei a Setúbal mente, passando outros e indo os dias a ensaiar e à net. Recebi a tive a noção que, em workshops. Era minha guitarra para além de mim tudo muito intenno Natal e ago- e da minha famíso. Chegava ao fim ra já toco alguma lia, também redo dia estafado. Só coisa. Desde enpresentei, de certa parava finalmente tão pratico uma forma, a cidade para jantar e, logo hora a hora e após, íamos todos meia por dia, sendo que nas férias varia para o hotel cair derreados muito, mas é tudo muito mais sobre a cama. Havia discipliintenso. Por vezes chego a tocar na, mas fomos sempre super um dia inteiro, mas apesar de ter bem tratados pela produção. consciência que é necessário um Só tenho que lhes agradecer imenso trabalho e disciplina, não a simpatia. vivo angustiado com isso. Para além disso estudo no conserva- S – Imagino que tenham hatório, onde aprendo formação vido alterações na tua vida por teres participado num musical, coro e piano. programa de grande audiS – Como foi a tua participa- ência. Quais foram? GS – Participar foi engraçado, ção no “Ídolos”? GS – As audições foram no fi- foi bom. Para se perceber a vinal do Verão. Havia quase 50 sibilidade é olhar para coisas

gerson santos

Gerson Santos nasceu em 1993. Começou a ter aulas particulares de piano aos 10 anos de idade. Após uma pausa de um ano, ingressou no Conservatório de Setúbal onde até hoje é discente. Jovem, sentiu o fascínio dos programas televisivos e participou, em 2010, num deles. De cerca de uma vintena de milhar de candidatos, terminou a sua participação entre os dez primeiros. Representante de uma nova geração sadina, que brevemente se fará ouvir intensamente ou migrará para outras paragens, não se lhe poderá apontar sede de vedetismo, mas antes uma sincera vontade legítima de dar a conhecer o que faz e o que o apaixona, pretendo partilhá-lo sem rodeios. Os preconceitos conservadores estilhaçam diante um pensamento claro e expurgado dos epítetos qualificativos tradicionais. As mentalidades vão mudando, é parte importante da vida.

mais simples. Quando entrei no programa tinha mais de uma centena de amigos no facebook. Quando de lá saí tinha 5000 e essa conta rebentou. Havia várias outras contas com o meu nome também, as quais não me pertenciam. Actualmente continuo nessa rede social, mas tenho um número de amigos absolutamente normal. De que serve dizer que tenho muitos amigos virtuais se não conheço nem metade deles? Independentemente disso, só quando retornei a Setúbal tive a noção que, para além de mim e da minha família, também representei, de certa forma, a cidade. Afinal tinha muito mais responsabilidade do que pensava, disse a mim

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próprio. No entanto, tudo isso me passou ao lado. Na escola sempre me dei bem. Quando lá retornei fui muito bem recebido. A diferença maior está no número de pessoas me conhece. Sabes, sempre me preocupei simplesmente em ser eu próprio. S – Que planeias fazer? GS – Comecei a tocar em público na minha escola, num projecto de uns amigos meus. Também no Algarve, pela cumplicidade que tinha com animadores dos “bifes”, fui desafiado a tocar. Toquei e cantei, tanto em português como inglês e acima de tudo diverti-me. Quero investir fortemente na música. Sinceramente gostaria de viver

da música, pois dá-me prazer. Componho músicas, já tenho algumas. Vou fazendo-as na guitarra, porque para mim, o piano é muito mais complexo que a guitarra. Naturalmente é consequência do modo e da idade com que iniciei essa relação. Por enquanto vou terminar o 12.º ano e o conservatório, depois logo verei. Estou envolvido numa lista candidata à Associação de Estudantes, pois devemos agir onde estamos e no presente. Depois gostaria de prosseguir os estudos, não excluo que o faça em Portugal, mas sonho, e sonhar é bonito, com ir para a London Music School, em Londres. José Luís Neto


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