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NR 13
Ano: 2010 . nr 13 . Mês: Fevereiro . Mensal . Director: António Serzedelo . Preço: 0,01 €
www.jornalosul.com
Praça de Toiros Carlos Relvas
será reinaugurada a 30 de Julho (para lá se fazerem duas corridas de touros)
VERGONHA!!!!!
LUTO POR SETÚBAL
MENOS 84 210 MENOS 59 260 MENOS 215 640 Refeições escolares
ou
ou
MENOS 465
Refeições Em IPSS’s
ou
ou
ou
Pensões mínimas ou
Fraldas para utentes de lar ou
MENOS 11 000 MENOS 106 666 Tratamentos veterinários a animais de rua
ou
ou
Comparticipações sociais de bilhetes ida - volta nos barcos de Tróia, baixando o preço para 1€/bilhete ou
MENOS 320 000 MENOS 200 000 MENOS 340 Refeições para animais abandonados
ou
Vacinas comparticipadas
ou
Cantoneiros de limpeza urbana
160 000 € desfeitos em 3 horas
Serge Latouche é o grande sociedade em que se viverá paladino do modelo de de- melhor, trabalhando e consucrescimento sereno e susten- mindo menos. O conceito de tável. As suas teses acabam desenvolvimento sustentável de aparecer entre nós e se- fundamenta-se em ambiguiguramente que vão alimen- dades e equívocos, tudo leva a tar discussões sobretudo nos crer que os economistas que meios ligados à ecologia, aos no fundo suspiram só pelo modelos económicos alter- crescimento pelo crescimento nativos e à alterglobalização: até gostem do conceito, tão “Pequeno Tratado do Decres- neutro que ele é. A economia cimento Sereno”, por Serge neoclássica condescende com a necessidade de apregoar a Latouche, Edições 70, 2011. Outrora, falava-se em redu- sustentabilidade mas no funzir, reutilizar e reciclar. Na sua do mantém-se indiferente às proposta para o decrescimento leis fundamentais da biologia, sereno convivial e sustentável, da química e da física. Esses Latouche propõe: reavaliar, re- economistas negam a bioconceptualizar, reestruturar, economia, ou seja, rejeitam redistribuir, relocalizar, reduzir, pensar a economia no interior reutilizar e reciclar. Vivemos da bioesfera. Segundo, a sociedade em no mundo em que os danos ambientais estão largamente que vivemos é a da acumuladenunciados mas como temos ção ilimitada, nela o impora nossa refeição garantida to- tante é criar desejos ao condos os dias, tudo pretendemos sumidor, dar-lhe crédito para ignorar. Há décadas que se fala ele nunca deixar de consumir nos riscos a prazo de um con- e programar os produtos junto de substâncias como os para que se renove regupesticidas, muito pouco se fez; larmente a necessidade de quase todos os dias emanam sua substituição. Chegámos relatórios perturbadores de en- assim a uma pegada ecolótidades respeitáveis, continua- gica insustentável, vivemos mos vergados ao crescimento do rendimento e do patrimópelo crescimento, parece que nio. Os excessos cometidos há uma incapacidade gene- têm sido tão grandes que ralizada para pôr um travão a não há ninguém que não se este bólide sem condutor, sem interrogue se não estamos a marcha atrás e sem travões. preparar o nosso desapareciFazendo fé à argumentação mento: uma guerra atómica, de Latouche, vamos passar em através de pandemias, esgorevista os dados fundamentais tando os recursos naturais e deste projecto de sociedade destruindo a biodiversidade, de decrescimento que o autor mediante alterações climátiapresenta como a única alter- cas que tornem a existência nativa que se pode pôr a uma inviável. As discussões sobre o modelo econóprevisível catásmico alternativo trofe ecológica e Vivemos no prosseguem, mas humana. mundo em que os parece que ninPrimeiro, a guém quer pôr d e s p e i t o d e danos ambientais em causa a lógica m u i t a i n d i - estão largamente de desmesura do f e r e n ç a d o s denunciados sistema económeios políticos mico. dominantes, há Terceiro, para uma gradual entender o deatenção ao decrescimento que já aparece crescimento é necessário associado à rejeição do cres- compreender o ciclo dos oito cimento ilimitado o tal que se “R” que Latouche preconiza: pauta pelo culto irracional e reavaliar (os valores do pasquase idólatra do crescimento sado são incompatíveis com pelo crescimento. Retomando os desafios do presente, preenunciados e olhares que vêm cisamos de cooperação, vida da contestação ambiental e social, autonomia como os de muitos intelectuais alter- valores indispensáveis para nativos, o projecto de decres- substituir a competição decimento orienta-se para uma senfreada, o consumo ilimita-
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do e a eficiência produtivista); touche: a reavaliação, porque reconceptualizar (porque esta ela preside a toda a mudança, mudança de valores pressu- a redução porque condensa põe uma outra maneira de todos os imperativos práticos apreender a realidade); re- do decrescimento e a relocaestruturar (ou seja, adaptar o lização porque diz respeito à aparelho de produção a essa vida quotidiana e ao emprego de milhões mudança de valode pessoas. res o que significa a sociedade Relocalizar que se terá de pôr em que vivemos é será inventar em causa e muito a democrap r o v a v e l m e n t e a da acumulação cia ecológica abandonar o capi- ilimitada, nela o local com as talismo); redistri- importante é criar suas relações buir (a reestrutu- desejos ao contransversais, ração das relações sumidor, dar-lhe virtuosas e sosociais acarretará crédito para ele lidárias, com uma distribuição); um elevado relocalizar (produ- nunca deixar de zir localmente uma consumir e progra- grau de autosuficiência parte fundamental mar os produtos a l i m e n t a r, do que é indispen- para que se renove mas também sável para satisfa- regularmente a económica e zer necessidades necessidade de sua financeira. O da população); que nos remereduzir (para di- substituição. te para um vaminuir o impacto lor profundo na bioesfera das da regionalinossas maneiras de produzir e consumir); reu- zação, ela própria com uma tilizar/reciclar (aqui parece decrescente pegada ecolóestar toda a gente de acordo, gica graças à produção e ao é um conceito pacífico). Des- consumo sustentáveis e uma tes oito “R” três têm um papel elevada riqueza em iniciatiestratégico, como escreve La- vas locais decrescentes.
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Quarto, reduzir será contrariar a irracionalidade da globalização, onde camarões dinamarqueses são descascados em Marrocos e regressam à Dinamarca, lagostins escoceses são expatriados para a Tailândia para ser descascados à mão e regressar à escócia para ser cozidos. Esta globalização irracional assenta no uso indiscriminado transporte e na indiferença pela velocidade. Este decrescimento, como é óbvio, carece de um programa político, não pode ser implementado sem uma grande adesão das populações: para reduzir a pegada ecológica; para se aplicar ecotaxas; para se fixarem actividades económicas e pessoas em meio local, para encorajar uma produção o mais local, sazonal, natural e tradicional que for possível; para transformar os ganhos de produtividade em redução do tempo de trabalho e em criação de empregos; para reduzir os desperdícios de energia; e para impulsionar os chamados bens relacionais, como a amizade e o conhecimento. Estamos pois no centro das grandes controvérsias: nesta acepção do decrescimento o que seria o pleno emprego, que modelo capitalista se poderia institucionalizar, isto logo à cabeça. Está aberta a grande discussão. Em jeito de conclusão, é bom que se diga que os partidários do crescimento são rotulados de todas as enormidades: são contra o progresso, contra o turismo de massas, a inovação e competitividade, por exemplo. Latouche responde que a realização de uma sociedade de crescimento passa necessariamente por um reencantamento do mundo, o que ninguém sabe muito bem o que quer dizer. Querer travar a banalização das coisas requer artistas e entusiastas pelo decrescimento. Resta saber qual a adesão que este modelo alternativo encontrará, qual o entusiasmo a este modo de vida gradual e serenamente decrescente. As grandes discussões vão agora começar. Beja Santos Docente universitário
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O lado social das empresas ou o lado facial das empresas? Antes de mais importa colocar a seguinte questão: faz sentido integrar a ética no campo empresarial? Alguns autores acreditam que para um desempenho saudável da economia e das empresas é necessário que haja o cumprimento efectivo de princípios éticos e enumeram alguns aspectos que ocorrem devido à não observação desses princípios: despesas com processo judiciais, má gestão dos recursos humanos, má imagem da empresa junto da comunidade e dos clientes, entre outros. Para outros, a actividade das empresas não se coaduna com os postulados éticos. A este propósito, Friedman (1970) refere que “a responsabilidade social das empresas é aumentar os lucros”. Uma das questões que resulta deste debate prende-se com o facto de se utilizarem as mesmas palavras para se referirem a conceitos diferentes. Vejamos então algumas definições: “A responsabilidade social das empresas é, essencialmente, um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo (...). Esta responsabilidade manifesta-se em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afectadas pela empresa expressa nos princípios e e que, por seu turno, podem valores adoptados pela orinfluenciar os seus resultados” ganização. Não há respon(Comissão das Comunida- sabilidade social sem ética nos negócios. Não des Europeias, adianta uma em2001). Ora, por Uma das presa pagar mal aqui podemos aos seus funcioverificar que a questões que renários, corromper gestão das em- sulta deste debate a área de compras presas não pode prende-se com o dos seus clientes, apenas obefacto de se utilipagar luvas a fisdecer apenas cais do governo e, aos interesses zarem as mesmas ao mesmo tempo, dos proprietá- palavras para se desenvolver prorios, mas passa referirem a conceigramas voltados também pela tos diferentes. para entidades soconsideração ciais da comunide outras partes dade. Essa postura interessadas. não condiz com Um outro exemplo mostra-se bem mais uma empresa que quer trilhar pragmático sobre a definição um caminho de responsabide ética empresarial: “A base lidade social. É importante da responsabilidade social, haver coerência entre ação
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Decrescimento sereno: um conceito altamente polémico
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e discurso” (Instituto Ethos, 2009). É evidente, e o leitor já percebeu, que qualquer iniciativa de responsabilidade social empresarial deve ter um âmbito holístico, não se confinando, como é comum, à dimensão externa. Muitas empresas pecam por aí, ampliando as iniciativas externas, nomeadamente patrocínios de eventos culturais e desportivos, donativos para acções de caridade, mas descuram, por exemplo, a saúde e segurança dos trabalhadores. Outro aspecto que merece a nossa atenção diz respeito à disseminação dos códigos de ética e/ou de conduta pelo meio empresarial que, por uma questão de simplificação, tomaremos como um todo. Eis
algumas ideias que estão na origem da sua adopção: -Esclarecem o pensamento da gestão da empresa sobre o que é o comportamento ético. -Estimulam os colaboradores da empresa que pretendem actuar eticamente. -Procuram dissuadir condutas e acções indesejáveis por parte dos membros da empresa. Contudo, apesar da boa vontade que possa existir, estes documentos apresentam alguns problemas e limitações. A saber: -É difícil contemplar a grande variedade de problemas éticos que podem surgir. -As alterações políticas, sociais, económicas, tecnológi-
cas originam desactualização das normas e regras pelo que o código perde validade e eficácia. -A existência de um código de conduta/ética não garante que a empresa e os seus membros actuem eticamente. Ora, este último aspecto é deveras importante. Muitas vezes, as organizações, por uma questão de moda ou de imagem, preocupam-se em exibir o documento, mas não se envolvem na adopção dos comportamentos aí plasmados e enquanto isso não acontecer não podemos falar de empresas socialmente responsáveis. Edgar Gomes Mestre em Políticas Europeias, FLUL
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Sempre existiu pornografia como forma de provocar erotismo, vidé, excitação nas pessoas. Há pinturas murais, vasos e estátuas “porno” na Grécia, e os museus atenienses, o British Museum e o Louvre exibem-nos orgulhosamente, apesar das cenas homoeróticas. Em Roma e nas várias cidades da Itália, continuam a ser escavadas e tiradas do esquecimento peças muito interessantes que envaidecem muitos italianos. Os falos como símbolo da masculinidade foram sempre sendo esculpidos, aparecendo até em objectos de uso doméstico. Pompeia (por ex. a “Casa dos Faunos”) é celebre também por isso... Há revistas e postais pornográficos do século XIX muito interessantes, trata - se da época Vitoriana, época da grande hipocrisia social e burguesa, que talvez nos provoquem risos, pelas indumentárias usadas, mas o objecto sexual era sempre o mesmo. Em Portugal a pornografia centrais de certas cidades. A maior parte da pornodemocratizou- se depois do 25 de Abril. Até então estava grafia é hetero, mas também há alguma pseuproibida, pelos do pornografia “bons costuA pornografia lésbica, para exmes”, mas nescitar os homens, sa altura tam- serviu, por exembém serviu de plo, para democra- que se imaginam a satisfazer, deficrítica social, e tizar o sexo oral, nitivamente, uma um grande hu- que antes era tabu, morista portutanto entre homens mulher lésbica, e fazê-la assim muguês, o Vilhena, como mulheres dar de orientação tornou-se césexual, e, pornolebre com as grafia gay, para suas caricaturas. Depois do 25 de Abril usufruto deste nicho de houve uma enorme avidez mercado. Há cerca de 50 pelas revistas desse conte- anos nos EUA já se faziam údo, para grande escândalo revistas para este segmento, das forças conservadoras. e há mais de 35, lembroEncontravam-se por toda a me de as ver em sex shop parte, a descoberto nas praças em Amesterdão. Porém o
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Maldita pornografia
grande ícone do porno gay, é o célebre “Tom of Finland”, que nos anos 50-60 se celebrizou com os seus modelos de marinheiros, soldados e polícias, de ombros largos, pernas fortes e glúteos destemidos, todos com ar muito másculo, inter-agindo entre si. Hoje os seus desenhos são considerados Arte. Hoje a pornografia “sofisticouse”, “, já usa preservativo por causa das DST, um sinal positivo, tornou-se mais inclusiva, e há para todos os gostos, com jovens recém saídos ou saídas da adolescência, com homens/mulheres já feitos, e até com seniores, a começar a fazer sucesso, porque se está a reabilitar a
sexualidade desta idade. Há mulheres, e avançou para uma cada vez mais pessoas que miscigenação de etnias, pois os preferem como objecto agora é vulgar verem-se afros de desejo. Muito pornografia ou asiáticos a ter sexo com sado-maso, S/M, ensina aos gente europeia, sem qualquer seus amantes, certos fetiches limitação nos papéis desempenhados. Ou para excitar a fanseja, quando se tasia das pessoas, Do mesmo trata de sexo, as e agora, com o modo vulgarizou barreiras étnicas facto de poder e racistas, são ser animada com o sexo anal com esbatidas, para filmes e vídeos, as mulheres, e obtenção do t o r n a - a m a i s avançou para uma prazer que se vendável e bem miscigenação de procura, a qualsucedida. etnias quer preço. A pornografia Outra noviserviu, por exemdade na porplo, para democratizar o sexo oral, que antes era nografia foi o surgimento, em tabu, tanto entre homens como força, dos transsexuais, ou das mulheres. Do mesmo modo “she-male”, ou seja, indivíduos vulgarizou o sexo anal com as que são portadores de todas
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as graças femininas em grau superlativo, mas ao mesmo tempo exibem um enorme pénis, desempenhando, conforme o caso, inúmeros papéis sexuais na acção em que entram. Creio que para muitos jovens a pornografia ainda serve para descobrirem as suas preferências sexuais, ou seja, para começarem a estruturar a sua personalidade sexual, particularmente aqueles que estão em áreas mais isoladas, indo à net procurar filmes, pois há-os grátis, para todos os gostos. Já tenho ouvido a algumas pessoas esta revelação, que há uns anos seria inconfessável:”gostava de fazer um filme porno, amador!”. Nesta indústria globalizada,
também há super vedetas. Nos EUA, lembro-me do célebre “Garganta Funda”, que fez furor entre nós. Na Europa uma super vedeta porno chegou a ser eleita euro deputada, a Ciociollini, proposta pelo partido Radical italiano. Mas a Itália não se contentou só com uma euro deputada. Ali a pornografia quer sempre voar mais alto, ou não seja a sede da Santa Sé. Chega mesmo à presidência, e os filmes são nos palácios governamentais, com as festas “bunga-bunga” promovidas pelo grande actor supervedeta, Il Cavaliere, ou Silvio Berlusconni. Ele conseguiu fazer uma grande reforma do Estado, praticamente sem oposição, transformando-o liberalmente, em pornocracia. Em Portugal, julgo que até à data não há nada que mereça registo especial, embora se tenham produzido alguns vídeos pornos nacionais, de relativo mau gosto e obsoletos, como é grande parte da nossa indústria. Aqui, ou ali, um jornal ou revista de distribuição nacional, mas com pouca originalidade e má apresentação. Entretanto, actualmente as sex shops são o “must”. Nascem como cogumelos, até em terras pequenas, e já não são só frequentadas por homens. Muitas mulheres libertas de preconceitos e livres vão lá à procura de brinquedos sexuais, ou de estímulos para o casal. Eis uma indústria global que está para dar e vender. E o seu segredo é só este: continuar a ser condenada pela hipocrisia reinante e assim vender cada vez mais! António Serzedelo Director anser2@gmail.com
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leonardo da silva
O discurso das gerações é sempre uma armadilha. Pierre Bourdieu, um dos mais importantes sociólogos do século XX, dizia de forma provocadora que a “juventude é apenas uma palavra”. E dizia-o para chamar a atenção para a existência de “juventudes”, isto é, de experiências de vida e de classe muito diferenciadas dentro de um mesmo grupo etário. E é verdade: não é a condição juvenil que anula as desigualdades profundas que marcam a nossa sociedade. Mas também seria absurdo negarmos a existência de uma condição precária que é a marca da nossa geração. Quase metade dos 619 mil desempregados são jovens com menos de 35 anos. Num ano, foram destruídos 100 mil postos de trabalho de jovens com menos de 35 anos. Entre estes, a taxa de desemprego nunca foi tão alta e sufoca que só um contrato pode tratodos, mesmo aqueles que zer (protecção na doença, subinvestiram na sua qualifica- sídio de desemprego, protecção: mais de 23%. 9 em cada ção contra os despedimentos 10 novos empregos são tra- arbitrários, reforma), vítimas balho precário. Os jovens são de novas formas de escravaparticularmente vulneráveis tura e servidão laboral (de que à precariedade porque são os estágios não remunerados quem ocupa, na maior parte serão porventura o exemplo das vezes, os novos trabalhos. mais eloquente). Entre os joPor isso, podemos falar de vens, a precariedade significa uma desqualificação social também um prolongamento e laboral dos jovens, apesar forçado da adolescência, com da sua crescente qualificação a dificuldade em arranjar casa académica. Ou seja, há uma própria, sair de casa dos pais, desqualificaemancipar-se. ção objectiva Esta condição O senso co(o salário é precária, que é a mum dos comentahoje menor condição domipara as mes- dores conservadores nante da nossa mas funções tentou passar a ideia geração, não é da do que era, em de que a “desgraça” responsabilidade proporção, há da “geração parva” dos trabalhadoalgumas décares mais velhos. eram os seus pais, das, e o vínculo O senso comum que quiseram viver mais precário) dos comentae uma desqua- “acima das posdores conserlificação sub- sibilidades” e que vadores tentou jectiva (as ex- reservaram todos os passar a ideia de pectativas que empregos para si. que a “desgraça” as pessoas têm da “geração parde um “bom va” eram os seus emprego” em função da sua pais, que quiseram viver “aciqualificação são goradas por ma das possibilidades” e que uma economia que só oferece reservaram todos os empremcjobs e trabalho mal pago gos para si. Pelo contrário, a e desqualificado). Há hoje, de “geração deolinda” conhece facto, uma parte substancial bem os seus pais. Sabe que dos trabalhadores que são re- o salário médio em Portumetidos para uma categoria gal ronda os 700 euros, que low cost, a quem se negam os quase 20% dos trabalhadodireitos mais fundamentais res não conseguem, apesar
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Linha da frente das novas gerações sem direitos
de trabalharem, sair do limiar mam o patrão num cliente, da pobreza, que há cerca de subvertendo completamente 300 mil desempregados que a natureza da verdadeira relajá não têm direito ao subsídio ção de trabalho subordinado, de desemprego e que, dos dois evitando que os empregadores milhões de precários, uma boa assumam as suas responsaparte tem certamente mais bilidades, isentando-os das que 35 anos. A sentença que contribuições para a seguranquerem passar-nos tem ou- ça social, colocando sobre o tros responsáveis: um modelo trabalhador todos os riscos e de precarização laboral que é nenhuma protecção. Trabaa forma de reduzir os custos lhadores-empresa, pessoas com o trabalho para aumentar que têm horário de trabalho e que às vezes os lucros e de disaté trabalham ciplinar a força de trabalho para que Quase metade para o Estado, mas cuja relaesta não possa dos 619 mil desemção formal é a organizar-se nem pregados são jovens de uma emexigir direitos. E presa a quem e s s e p r o c e s s o com menos de 35 são contratasem precedentes anos. dos “serviços”. de descontratuaSão muitas as lização, de individualização e de descolectivi- faces da precariedade. A precariedade significa, zação do trabalho trouxe para a ordem do dia as formas mais por isso, menos autonomia, aberrantes de exploração. Es- menos salário, menos direitágios não remunerados obri- tos, menos capacidade de gatórios para o acesso a uma projectarmos as nossas viprofissão (veja-se o caso dos das, menos liberdade. A força arquitectos ou dos advogados, da narrativa da precariedade por exemplo), uma reinvenção é apresentar-se como uma inesperada do trabalho não suposta libertação de um pago. Empresas de trabalho velho mundo burocrático e temporário que alugam tra- como a situação normal e balhadores a outras empresas, inevitável do nosso tempo. ficando com uma parte do seu Nada mais falso. Como qualsalário, como se fazia com o quer escolha, o processo de trabalho à jorna no século XIX precarização não é uma fae antes de existirem centros talidade e pode ser invertido. de emprego públicos. Falsos Basta que se cumpra a lei e recibos verdes, que transfor- se impeçam os falsos recibos
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verdes, criminalizando-os e obrigando o Estado a dar o exemplo. Basta que se exija o mínimo e se regulem os estágios, proibindo que sejam não remunerados. Basta que se acabe com o absurdo das Empresas de Trabalho Temporário em todas as situações em que as pessoas deviam ter um contrato com a empresa em que trabalham. Basta que a economia seja entendida como uma resposta às necessidades das pessoas e não como uma realidade exterior que se impõe sobre as nossas vidas. Quem achou que, isolando-nos e precarizando-nos, ia conseguir transformarnos em escravos obedientes, pode desenganar-se. Há hoje a percepção de uma condição comum que será certamente a base de novas lutas. Existem movimentos que têm ganho força e protagonismo. Existem sindicatos e partidos que já acordaram para esta realidade. Existem redes de contactos e mobilização. Existem, até, novas palavras e novas músicas para falar não apenas da nossa condição, mas de como vamos transformá-la. As notícias sobre o fim da história foram, como diria Twain, manifestamente exageradas. José Soeiro Sociólogo, deputado do BE
Desde os primeiros Governos pitalista, o direito do trabalho se de direita após o 25 de Abril, com convertesse gradualmente afinal especial destaque para o de Má- numa arma de intensificação da rio Soares e o de Cavaco Silva, exploração, ao invés de contrique o poder económico fez cati- buir para a sua limitação. Portugal sente com particular vo o poder político, à revelia do texto Constitucional, mas com gravidade esse retrocesso civia parceria clara desses gover- lizacional precisamente a partir nantes e seus executivos. A linha dos anos 80 e, fruto da resistênpolítica afastava-se radicalmen- cia dos trabalhadores em torno te do projecto constitucional e das conquistas deAbril, consegue iniciava-se a consolidação da conter essa ofensiva a um ritmo contra-revolução no plano le- muito inferior ao que desejariam gislativo. A abertura de brechas os grandes grupos económicos. profundas na legislação laboral Contudo, é a partir de 2001 com começa com o conceito legal de PSD e CDS no Governo que o contrato de trabalho temporário, Código do Trabalho conhece imposto pelo Governo de Mário novo agravamento no sentido Soares e a dogmatização dos da precarização e flexibilização primeiros ensaios de “empreen- do direito laboral. Na sequência dedorismo” tornam-se a moda desse negro período da história, do governo Cavaco Silva, numa Sócrates e PS assumem o go“yuppização” das camadas juve- verno em 2005 e aprofundam o nis que se repercutia com atraso carácter exploratório desse Cóneste lado do Atlântico e vêm digo, gerando movimentações traduzir-se numa brutal sub- sociais e laborais ainda maiores versão dos princípios basilares do que as que expressaram o seu da Revolução de Abril e do que descontentamento para com o esse acto libertador governo da direpresentava. reita. O certo A praga social é que, apesar A desregulamentação laboral da precariedade da resistência foi, principalmen- alastra-se socialsindical, da orte no século XIX, a ganização dos mente, traduzindoarma mais consetrabalhadores, quente do capita- se num enorme a marcha de lismo para explo- retrocesso civilizapulverização rar sem limites as cional dos direitos dos camadas trabalhatrabalhadores é doras. A Revolução de Outubro, consistente e persistente e dura a constituição de um Estado desde há 3 décadas, erodindo os operário, o avanço das lutas direitos conquistados e vindo a do movimento operário inspi- reflectir-se com particular intenrado por essa conquista histó- sidade junto das camadas jovens rica e no desenvolvimento das da população que constituem lutas do final do século XIX na assim a linha da frente das novas América e Europa, impuseram gerações sem direitos. Os governovas regras e determinaram a nos assumiram o lado do poder regulação do trabalho através económico, colocaram-se do da lei de diversos estados, num lado dos interesses do lucro, da movimento favorável ao traba- avidez e da exploração e traíram lhador. No entanto, não tardou sempre o compromisso constipara que em todo o campo ca- tucional que o povo lavrou de
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pedro dinis carrilho
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forma revolucionária em 1974. fragilização da posição reivinA introdução de mecanismos dicativa do trabalhador, o dode precariedade cada vez mais mínio da vida privada e familiar generalizados na lei, de que o do trabalhador e o alastramento contrato a termo, a contratação do desemprego. O s j ov e n s por via de emprepor tugueses sas de trabalho temporário (ETT’s) os grandes in- são pois a primeira linha de e o chamado “reteresses económicos, gerações vincibo verde” são os os grandes grupos e douras que magnos exemplos, trabalharão vieram a satisfazer particularmente o com menos dium antigo desejo capital financeiro, reito e menos do grande patro- apoderam-se de retribuição que nato: poder pôr e uma cada vez maior as gerações dispor da vida do fatia da riqueza anteriores. A trabalhador e da nacional praga social sua força de trada precariebalho, assim determinando uma mais elevada dade alastra-se socialmente, taxa de exploração, a menor traduzindo-se num enorme responsabilidade perante o retrocesso civilizacional, faEstado e a Segurança Social, a zendo com que o futuro dos
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jovens portugueses seja mais escuro que o dos seus pais. Em contrapartida, os grandes interesses económicos, os grandes grupos e particularmente o capital financeiro, apoderam-se de uma cada vez maior fatia da riqueza nacional, espoliados que estão os que a produzem – os jovens e os trabalhadores em geral. É certo que existe uma linha que visa criar uma linha divisória entre o trabalhador e o jovem precário. No entanto, só a percepção de que se trata da mesma luta e a acção em defesa convergente dos direitos dos trabalhadores poderá assegurar a ruptura necessária com esta política de submissão aos ditames da avidez do lucro. Um trabalhador é sempre precário na medida em que a sua sobrevivência depende da capacidade de venda da sua força de trabalho, que por sua vez está dependente da procura para essa oferta. Os precários não constituem nenhum “precariado”, mas são antes uma camada especialmente frágil do “proletariado”, porque o seu vínculo laboral é ainda menos sólido que o dos trabalhadores efectivos. Qualquer tentativa de mistificação desta natureza de classe dos jovens precários contribui para uma clivagem no seio daqueles que não podem dar-se ao luxo de se dividir. Só o reforço da luta dos trabalhadores, pelo fim da precariedade, pelo fim da utilização dos recibos verdes e contratos a prazo, pelo fim do recurso a ETT’s, pode criar as condições para a necessária e urgente ruptura com a política de destruição nacional que se traduz na destruição das nossas vidas. Miguel Tiago Deputado do PCP
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Mahatma Gandhi e o dia Internacional da Não-Violência (III) Foi a sua busca incessante economicamente auto-supela verdade e pela justiça, ficiente fôr. Cada aldeia que fez com que Gandhi deve tornar-se mais e mais se opusesse de igual modo, produtiva , de acordo com contra o domínio britânico, as suas condições geográfiportuguês , francês e dos mais cas, então, poderá relaciode 700 grandes e pequenos nar -se com outras aldeias, reis indianos, na Índia. De em condiçoes geográficas acordo com a sua verdade diferentes, e com diferentes produções agrísobre a moral, colas. Seria esta a ninguém é Uma a república das permitido doaldeias. minar, pois a tal república Uma tal repúblipura e supre- constituída por ca constituída por ma moral, a aldeias, não aldeias, não pode verdade e/ou pode depender depender totaldeus não são totalmente das mente das regras monopólio de regras e leis, e leis, ditadas por ninguém. um poder distante A sua noção de ditadas por um em Nova-Delhi. independência poder distante em Cada aldeia deera absoluta, Nova-Delhi veria resolver os abrangendo seus problemas todos os asdentro da própria pectos da vida social, económica e religiosa. aldeia, com o conselho de Para si, tudo deveria come- pessoas de moral impoluta. çar na família e, a partir daí, Tais pessoas de moral consestender-se ao nível da nação. tituem a lei, são juizes, não No entanto, como a nação tem há necessidade de tribunal, a sua base na aldeia, defendeu muito caros de manter e a absoluta independência das que custam muito tempo e dinheiro. aldeias. Para este propósito, a ini- Em tais aldeias, a educaciativa deve pertencer às ção não é apenas literária, pessoas mais competen- do género da que se leva tes da aldeia, no mínimo em Oxford ou Cambridge. em número de cinco. Um A verdadeira educação é a tal concelho, na tradição que permite conhecer aquiindiana, chama-se “pan- lo que cada um quer cochayat”. A regra do “ pan- nhecer/aprender, mas mais chayat “ na aldeia é a fonte que tudo, a que ensinava do “swaraj” (independência a viver uma vida economicompleta).Foi a partir desta camente indepedente, autónoção de panchayat, que o noma e responsável. Cada parlamento indiano deve um, meninos e meninas, hoa sua fundação. Se houver mens e mulheres, deveriam algum problema, alguma aprender uma profissão de diferença de opinião, deve acordo com a sua vocação, ser livremente discutida e com as suas motivações, seja resolvida unanimemente . ela carpinteiro, físico, saA aldeia será tanto mais pateiro, engenheiro, músico, independente , quanto mais agricultor , professor, etc.
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A educação incluía também animal. No contexto das condia aprendizagem de questões que se prendem com a manu- ções internacionais, Gandhi tenção da saúde, para o que expressou a essência do seu defendia a prevenção , em pensamento de várias maneideterimento da cura. “ Deve ras, incluíndo a corresponaprender-se a não depender dência com eminentes figuras dos profissionais médicos políticas de outros países. A e dos hospitais para tudo.” título de exemplo iremos Os preceitos reunidos nes- referir apenas duas das que te artigo, constituem a he- consideramos mais significarança espiritual de Mahatma tivas: no dia 23 de julho de Gandhi. Inspirando-se nas 1939, escreveu uma carta a fontes mais antigas da Ín- Hitler nos seguintes termos dia, o seu ensinamento é : “caro amigo, devo fazer-lhe universal e profundamente um apelo, tenha isso o valor actual. Devemos-lhe no- que tiver. Neste momento, ções tão modernas como a tornou-se claro que você é “não-violencia activa“ ou a a única pessoa no mundo “desobediência civil. ”O seu que pode evitar uma guerra, pensamento , impregnado de capaz de fazer retroceder a uma grande tolerância para humanidade ao seu estado mais selvacom as outras gem”. religiões, é in(...) a palavra Gandhi era o separável da sua inimigo númeacção política, e de Gandhi dirigero um do imo seu empenha- se a todos os perialismo brimento a favor da povos, a todos os tânico. Winston igualdade dos di- homens e a muChurchill, foi reitos, é antes de lheres desejosos o mais forte mais, resultante de dirigir a sua apoiante do de uma reflexão espiritual. Ele é vida com coragem imperialismo britânico. No um verdadeiro rumo à verdade. seu habitual servo de deus, que modo arrogansente o sofrimento te e agressivo , dos outros como chamou a Ganse fosse o seu sofrimento. Está sempre pronto dhi o “faquir-nu” querendo para servir e nunca está cul- esmagá-lo, como expressou pado ou orgulhoso.” Cardeal no dia 17 de julho de 1944, John Henry Newman era um no parlamento. Mahatma inglês católico-romano (1801- gandhi resolveu responder: “caro primeiro ministro, pelo 1890) Hoje, a palavra de Gandhi que sei, você tem o desedirige-se a todos os povos, jo de esmagar o faquir-nu, a todos os homens e a mu- como me descreveu. Sailheres desejosos de dirigir a ba pois que eu, há muito sua vida com coragem rumo tempo, tento ser faquir, e à verdade. A não-violência , fazê- lo nu, será uma tarefa é a lei da espécie humana, ainda mais dificil. Encaro do mesmo modo que a vio- assim a sua expressão como lência é a lei da brutalidade um elogio, apesar de não
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ter sido essa a sua intenção.Contacto-o pois, nesta posição, pedindo a sua confiança na esperança de me usar para o bem do seu povo e do meu e, através deles, todos povos de todo mundo. Seu amigo sincero, m. K. Gandhi.” Cada geração continua a encontrar em Gandhi algo de novo, redescobrindo ou recriando para si o Mahatma, seja como inspiração para o movimento civil de Martin Luther King, nos Estados Unidos, ou como fonte de inspiração e coragem para Nélson Mandela, numa prisão da África do Sul. Martin Luther King referiu-se a Gandhi do seguinte modo: “Gandhi era inevitável. Se o destino da huminadade é o progresso, Gandhi é imprescindível. Viveu, pensou e actuou inspirado numa visão da humanidade a evoluir em direcção a um mundo de paz e harmonia. Se o ignorarmos, equivocarnos-emos.” Dr. Martin Luther King, Jr. Muito tempo depois, nos anos oitenta do século xx, Nélson Mandela, declara: “pensámos que tinha chegado o momento de dar início, na África do Sul, ao movimento de massas com base nas linhas de protesto não-violento que Gandhi levou a cabo na Índia”. Desejamos ainda referir a declaração do visconde louis mountbatten, último vice-rei britânico da india: “o Mahatma Gandhi entrará para a história como buda e Jesus Cristo. Professor Anil Samarth samarthanil@gmail.com
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Contrastes – parte 2 A Índia é, com certeza, um uma viagem desde Mumbai dos países mais excitantes a Kolkata, mais de 3000 km, para se viver e trabalhar nes- efectuando-se algumas parate momento. O crescimento gens pelo caminho, tem um económico e populacional custo aproximado de 1000 é brutal e as oportunidades rupias, o que equivale redonde desenvolvimento de no- damente a 16,5€. Uau, meio vos mercados de consumo, cêntimo por quilómetro é, sem dúvida alguma, de novas indúsbarato! trias e prestações (...) uma No entanto de serviços são este crescium regalo para as viagem desde mento tem um gigantes corpora- Mumbai a Kolkatipo de custos ções multinacio- ta, mais de 3000 nefastos, dado nais numa sociekm, efectuando-se que não se deve dade que conhece só ao sistema bem o conceito de algumas paragens ferroviário. globalização (com pelo caminho, tem Este crescimenuma certa conota- um custo aproto alimenta-se ção negativa dado ximado de 1000 também da que adveio da co- rupias, o que equiextraordinária lonização), mas vale redondamente riqueza em reque não entende cursos naturais, o conceito de “es- a 16,5€. da exploração colha” do consumidor, nem está preparada da mão-de-obra extremamente barata, da corrupção para o capitalismo. Na base do grande desen- em massa e da inexistência volvimento está aquela que de políticas ambientais na foi a maior contribuição que indústria (e na própria culo Reino Unido deu à Índia: o tura indiana). Estão na Índia sistema de transporte ferrovi- algumas das cidades de maior ário. Percorrendo milhares de crescimento no mundo inteiquilómetros por toda a Índia, ro. Bangalore tem-se revelado como um imtransportando portante pólo da milhares de pesindustria IT, tal soas e milhões A roupa é como em outras de toneladas de de ocidental, a cidades onde mercadorias, a comida é fast existe indústria um custo irride serviços, obsório é de facto food, as ruas são serva-se um jogo impressionante pejadas de Levis e de manipulação como é possível de MacDonalds, perpetrado pela gerir um sistema a publicidade é desta dimensão agressiva e a opção aliança entre as grandes corporamastodôntica de uma escolha é ções. Na verdade, recorrendo ao a jovem populamodelo de ges- nula. ção com um eletão baseado no registo escrito em papel, tam- vado nível de educação que bém este deixado pelo Reino trabalha nas companhias ociUnido. A título de exemplo dentais ganham ordenados do baixo custo, considere-se bastante atractivos, apesar
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miriam rabaçal
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de ainda assim serem bastante baixos de acordo com os nossos critérios ocidentais. Nestas cidades, onde a
população jovem possui um rendimento acima da média, o planeamento urbano das zonas em crescimento é fei-
to de uma forma desconcertantemente impositora de um determinado estilo de vida. A roupa é de ocidental, a comida é fast food, as ruas são pejadas de Levis e de MacDonalds, a publicidade é agressiva e a opção de uma escolha é nula. As miúdas andam de mini-saia e os rapazes levam-nas a sair nos seus carros, no que aparenta ser uma vida excitante. Sugiro o livro “One night @ the call center” da autoria de Chetan Bhagat, que apesar de não ser, de todo, um livro com qualidade literária, permite ter uma ideia desta realidade. Noutras cidades onde a indústria de bens próspera, como Coimbatore, a realidade é bem diferente. A mão-de-obra não é qualificada, as condições são precárias e a higiene e segurança, assim como as políticas ambientais, são inexistentes. A produção tem portanto um custo extremamente reduzido. Dada esta situação, é difícil, em particular para a UE, competir com a Índia no contexto global em que se vive. É difícil prever como a Índia se irá desenvolver numa perspectiva global. O crescimento económico desenfreado, que promete o surgimento da classe média, na realidade poderá certamente aumentar o fosso entre a extrema pobreza e a extrema riqueza, e criar uma burguesia que alimenta as grandes multinacionais. Paralelamente a poluição atmosférica, fluvial, marítima e terrestre, óbvia e grave, irá comprometer os recursos naturais da Índia. Eventualmente, de tão chupada que é, a Índia vai implodir… resta-nos esperar que a nova geração acorde. Miriam Rabaçal Engenheira
As actuais revoltas nos países árabes têm suscitado apoios no Ocidente, na esperança da instauração da democracia (ocidental). Ora, de entre todas as declarações dos manifestantes transmitidas pelos jornais e televisões não vi uma única a reclamar a laicidade do Estado. Sem laicidade efectiva (a opção e as práticas individuais da religião garantidas pelo Estado) não há democracia. Também não vi reclamações de igualdade dos sexos (para já não falar de igualdade de género). Dentro dum Estado não-laico pode haver uma certa forma de liberdade política, mas isso não chega para a democracia. O islão é incompatível com a democracia porque o Corão sobrepõe-se a qualquer lei ou constituição e a discriminação sexual é um preceito religioso. Em países de Islão maioritário há um único caso de Estado constitucionalmente laico, a Turquia, desde Ataturk (anos 20 do séc. XX); mas, note-se, graças ao exército que, segundo a constituição de Ataturk, era quem velava pela separação absoluta entre islão e Estado, controlando tanto as leis como os actos e as palavras dos governantes que ele podia demitir por sua livre iniciativa. Refiro-me ao passado porque, a Comissão Europeia, para a
Turquia poder entrar na EU, obrigou a rever a constituição turca no sentido de afastar o exército da política (um erro monumental, um eurocentrismo estúpido). Não há nenhum país islâmico, mesmo com a prática de eleições, que goze dum regime democrático de tipo ocidental. O islão não é como o cristianismo (católico ou protestante), o budismo, o hinduísmo, o judaísmo ou o animismo que podem coexistir com qualquer sistema jurídico. As doutrinas destas religiões podem coexistir com a laicidade. É conhecida a frase de Jesus Cristo (que nunca associou a religião à política e ao direito) considerada como justificadora da laicidade: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mateus, 22:21). No islão não há separação entre César (poder político) e Deus (religião). O islão não é apenas um sistema de crenças sobre o Além nem práticas individualistas como as outras religiões, mas um sistema social e jurídico de origem divina. Se o Estado se posicionar contra o islão, o Corão e a Suna (tradição do islão) obrigam cada muçulmano a combater esse poder político no sentido de defender o islão, inclusivamente pelo atentado frontal ao líder ou pelas várias for-
ana sofia vaz
O Islão e a democracia
mas de terrorismo. É evidente que, nos países ocidentais, os muçulmanos respeitam maioritariamente os sistemas políticos e sociais vigentes; eu falo de «islão maioritário». Neste, quando existe liberdade para as minorias e uma relativa independência das leis, é por
graça do autoritarismo dos líderes e da força pública. Era o caso da Tunísia e do Egipto e, ainda actualmente, do Líbano, de Marrocos, da Líbia, da Argélia e outros em que a ordem assenta na personalidade forte dum líder. Portanto, nos países islâmicos, a democracia (ou um simulacro disso) vai com líderes autoritários e repressivos (tidos eventualmente como ditadores). A grande diferença entre o islão e as (outras) religiões é o modo como se entra no sistema religioso. As outras religiões partem do princípio da consciência. Só se é cristão, hindú, budista ou judaizante por livre vontade. E pode deixar-se de o ser por ditames de consciência. No islão, não é assim. É-se muçulmano por nascimento. Os casamentos são obrigatoriamente homogâmicos (o pretendente a cônjuge nãomuçulmano deve converter-se previamente, ou fica-o automaticamente). Nos países islâmicos, os filhos dos muçulmanos são - obrigatoriamente e por lei - muçulmanos e a menção à religião consta no bilhete de identidade. A conversão a outra religião pode ser punida pela pena de morte (justificada pelo Corão) - o anterior rei de Marrocos resolveu esta questão dizendo que «quem deixa o islão para outra religião só pode
ser louco, e como os loucos são inimputáveis, não se lhes aplica a pena de morte nem outro castigo civil». O problema é que a família, os grupos de colegas, os caciques, a vizinhança e a administração local podem não ser assim tão tolerantes e, cumprindo as obrigações que competem a cada muçulmano na defesa do islão, podem punir por qualquer meio quem se converte a outra religião. O Corão diz expressamente na Sura 8: «Matai todos os infiéis e hipócritas que estão à vossa volta» (é a justificação do terrorismo). Depois, os preceitos muçulmanos transmitem-se desde os seis-sete anos pela aprendizagem maquinal, literal, obcessiva, do Corão ou, como hoje dizemos para as máquinas, pela «formatação» ou «programação» - das mentes. É desta forma, pelo nascimento, pelo desenvolvimento demográfico e emigração, e pela pressão social sobre os indivíduos, que o islão se difunde como fogo pelo mundo. E só conhece avanços, nenhum recuo. Muitos reclamam uma «reforma do islão» (como a do cristianismo), mas reclamar isso é uma apostasia punível com a pena de morte.
Moisés Espírito Santo Sociólogo das religiões
ACADEMIA PROBLEMÁTICA E OBSCURA a questionar desde 1721 04 de MAR
sex. às 20:00
11 de MAR
sex. às 20:00
Jantar Cultural seguido de palestra “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas” por Anita Vilar. JANTAR 10 folias (8 folio divinus)
Jantar Cultural acerca da criação da “Associação de Homens contra a Violência” com José Manuel Palma. JANTAR 10 folias (8 folio divinus)
18 de NOV
Debate “A Marcha Mundial das Mulheres: Rede Internacionalista Feminista” com Almerinda Bento.
25 de MAR
Jantar Cultural com a apresentação do livro “Feminismos em Portugal (1947-2007)” de Manuela Tavares com a presença da autora. JANTAR 10 folias (8 folio divinus)
ENTRADA LIVRE!!!
SEX. ÀS 21:30
sex. às 20:00
RUA FRAN PAXECO NR 178
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Música de Intervenção? Depois de um ano em que estive integrado no colectivo de luta anti-precariedade, Precários Inflexíveis, fiquei a conhecer mais de perto esta realidade. Na verdade, nada mais do que jovens da minha idade, outros mais velhos, preocupados, cansados, pouco esperançosos. É assim que milhares de jovens desempregados encaram o seu futuro, com pouca motivação, sabendo do exemplo de muitos dos seus amigos. Números entre números. Diz-se desta geração que viverá pior que a dos seus pais. Este grupo de jovens activos, com os quais tive o prazer de trabalhar, pretende uma mudança radical do paradigma da empregabilidade em Portugal. Para eles, e para mim, a razoabilidade de empregar uma geração, fazendo-a depender em grande número dos casos, de recibos verdes, há muito deixou de se poder considerar aceitável. Estar empregado a recibos verdes é ter um futuro à condição, sempre na corda bamba, sem poder fazer planos a longo prazo. De tudo um pouco já fomos apelidados. Não esquecer que quem está agora nesta condição é a anteriormente denominada, por alturas do governo cavaquista, de geração rasca. A brincadeira e o passatempo de encontrar uma designação que estereo-
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tipe todos os jovens continua. Segundo o jornal Público, em vigor estão as seguintes: geração canguru, por tardar a sair de casa dos pais; nem nem, porque nem trabalha nem estuda; mileuristas, que vem de Espanha e só com boa vontade se pode aplicar a Portugal porque a média salarial dos que trabalham nem sempre
atinge os 500 euros. A esta geração pode ser dito o mesmo que a qualquer outra: talvez tenha aquilo que procura e que merece. Este tipo de pensamento pode parecer um pouco incómodo e até injusto mas a verdade é que também para as gerações anteriores a luta foi complicada. Cansa a habitual
desculpabilização geracional, que a culpa é dos que deixaram os legados e que a nós nos deixam manietados. A intervenção tem andado por aí, não sei se desapareceu, mas o povo continua adormecido, por escolha própria. A propósito desta conclusão, a de que também a nossa geração pode e deve fazer muito mais
politicamente, entro na esfera da intervenção social. O contentamento com um suposto hino fabricado para expressar a voz de uma geração sabe-me a pouco. Aliás, mostra bem a atitude passiva no que toca à reflexão: assimilamos apenas o que nos cai “no colo”. A ideia de que estamos na presença de uma canção que “eterniza a geração parva” e que, de algum modo, revitaliza a canção de intervenção, não é honesta. Costuma faltar algum bom senso às comparações e este é só mais um caso exemplo: comparar a dimensão de temas de Zeca Afonso ou José Mário Branco a este tema pode até tornar-se insultuoso. Não só pela sua dimensão histórica mas também pela gritante diferença entre os regimes em que os artistas viveram. Nesse caso a culpa será de quem usa esta canção como arma de arremesso e nem tanto da banda. Diferenças à parte, e campanhas de marketing também, é possível que, pelo menos, algum tipo de debate possa surgir desta ocasião. Aguardamos então pela profundidade ideológica deste, já precocemente eterno, hino. Esperando sempre que o debate que se pretende seja tão viral como o lançado pelos responsáveis desta campanha. Azevedo Silva
O Teatro Estúdio Fontenova apresentou, no seu espaço, na Rua Dr. Sousa Gomes nº11 em Setúbal, entre 24 e 25 de Fevereiro, um trabalho dos Artistas Unidos/ LAMA/ Molloy Associação Cultural, conceituado grupo teatral de Lisboa, numa adaptação do texto de Antonio Tarantino intitulado “Lustrini”, com tradução de Tereza Bento, com representação de João de Brito e Tiago Nogueira, Cenário e Figurinos de Rita Lopes Alves, Luz de Pedro Domingos, Assistência de Joana Barros e Apoio à produção de João Meireles, num espectáculo de João de Brito e Tiago Nogueira com a colaboração de Jorge Silva Melo. A peça desenrola-se em torno dos dramas de Brilharetes e Canastro, dois homens de meia-idade sem-abrigo, que aguardam, na rua, pela saída do director de serviço do hospital, que saca dos «comer- dade e da consciência. Ali a ciantes que têm um cagaço pobreza não é apresentada medonho de morrer e desem- de forma poética, tão pouco pocham que nem banqueiros», lustrosa. Assume-se na sua aquele a quem vão extorquir fealdade, na sua ignorância, com uma história triste, se- na sua crueza. Trata-se da regundo “a dica” de Canastro, lação violenta entre um houma quantia proporcional à mem e outro homem, entre sua má consciência. O cenário agressor e agredido, onde a lógica dos esqueé extremamente mas e dos trambisimples, procuA peça ques é constantes, rando retratar, desenrola-se em onde o racismo, a na essência, a torno dos dramas homofobia e a xemiséria. nofobia social são A narrativa, de Brilharetes e gritantes e assutambém ela, é Canastro, dois mem contornos sobre as misé- homens de meiade absurdo entre rias humanas. idade sem-abrigo dois miseráveis. A Procura-se dar degradação é compresença e voz a tudo aquilo que, dentro de pleta, é abjecta. A linguagem, nós, se agita na sombra: o uni- essa, reforça o incómodo do verso obscuro e miserável da espectador e a sensação de marginalidade e da doença, náusea é inevitável. Quer João que a sociedade oculta nos de Brito, quer Tiago Nogueira mais escuros recantos da ci- apresentaram-se a um nível
Uma velha louca tira da cabeça a tigela de sopa que usa como chapéu e oferece o nada que a tigela contém cantando “Diz-nos, diz-nos ó história esquecida, quem compra com a morte o que paga com a vida...”. A oferta desta sopa marca o início do ensaio para a imprensa da peça “Pedro e Inês” do Teatro O Bando. No pouco que pudemos vislumbrar sentimos a condição crua das personagens que respiram mais o âmago da sua individualidade e se recusam a ceder ao conformismo de serem figurantes de uma história já escrita, a trama intriga-nos, envolve-nos e, acaba... infelizmente é só um ensaio para a imprensa, para podermos alimentar o “bicho da curiosidade” despertado em nós, temos de esperar pela estreia da peça que acontecerá em Guimarães no dia 4 de Março, percorrendo o país nos próximos meses até finalizar com o regresso a casa no Vale dos Barris lá para Junho. Há muito que O Bando no habituou a uma inconstante maneira de ser, reinventado-se a cada passo que firma. Para esta jornada foi convidado pela pessoa de João Brites, o conceituado encenador russo Anatoly Praudin, director do Experimental Stage of Baltic House de São Petersburgo (Rússia), colaboração que já há algum tempo era ambicionada pelo director do teatro O Bando, desde os tempos da participação de ambos na Magic Net plataforma para o teatro europeu, e, a língua em que se expressam nunca foi barreira, comunicavam através das obras, nascendo um mutuo apreço pela pela exigência e afinidades apesar da diferença .
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extraordinário. Merecem sin- teatrais e culturais dos setucero aplauso, pois fizeram- balenses. Porém, a vinda de nos esquecer que estávamos uma sonante e reputada coma ver uma peça e não a rea- panhia não conciseguiu agitar lidade. Mais, no final da peça as gentes, o que é lamentável, é que conseguimos discernir entristecedor e preocupante. que se tratam ainda de dois As consequências das escolhas jovens actores. É de louvar o feitas e das escolhas que deveriam ter sido feitas, mas não seu desempenho. O que será digno igualmen- foram, deixarão forçosamente te de nota é que, na estreia, as suas marcas. Utilizando a apreciação do houve fraca aflupróprio autor ência de público. Quando nos derepresenta um s o b r e o s e u texto e a nossa paramos, de mosincero esforço de realidade, cummento, com uma manter as rotinas pre-nos medicidade destituída tar na força da dos seus mais ele- teatrais e culturais palavra: “Uma mentares equipa- dos setubalenses noite fui commentos culturais prar cigarros à de raiz, a proposta do Teatro Estúdio Fontenova, estação dos comboios, era merecia maior receptividade bastante tarde e vi um hoentre o público setubalense, mem a olhar fixamente para pois representa um sincero mim. Lembrava-me daquele esforço de manter as rotinas homem, lembrava-me de o ter
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conhedo trinta anos antes. Ele olhava para mim com olhos de pessoa que dorme ao relento, que precisa de ajuda, e naquele momento fez-me um gesto. Queria um cigarro. Eu dei-lho e olhei para ele e perguntei: “És o Brilharetes, não és?”. E ele assentiu. Dei-lhe o cigarro, levei-o para um café e dei-lhe algum dinheiro. Lembrei-me da história daquele homem a quem, naquela altura, todos chamavam “o poeta”. Era uma pessoa culta, uma pessoa culta que de repente… Lembro-me que me recomendou a leitura de Vadios, de Pasolini. Dirigia a biblioteca do círculo comunista Garibaldi de Turim. Depois, de repente, desapareceu de circulação. Era um homem que aparentemente podia ter sido alguém na vida.” José Luís Neto
teatro o bando
Inês Morre
jorge gonçalves
Uma brisa que vem de fora – Os Artistas Unidos em Setúbal
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A escolha do mito inesino, segundo Miguel Jesus autor do texto “Inês Morre”, e, que serve de mote à peça tinha o objectivo de “cativar Anatoly e ao mesmo tempo dar-lhe algo nosso, com uma trama e personagens densas.” ou “uma trama que vive da incerteza da natureza humana,” de acordo com João Brites. Acerca do mito, Anatoly considera que “o que permanece são os mistérios” e sente-se fascinado pela “indestrutibilidade da ligação, e a destruição desses laços por forças exteriores” fazendo-lhe sempre surgir a pergunta “Porquê?”, relativamente à estética apresentada diz-nos “chegámos ao corpo desnudado e à crueldade através das nossas sensações acerca daquela época,
nasceu das investigações em comum com os actores, além do mais o convite pedia uma estética diferente, é esse o trabalho do encenador.” Para Miguel Jesus o texto é “uma reflexão sobre como a culpa se divide socialmente, como as pessoas olham para a avalanche esquecendo a pequena pedra que a despoletou. Não houve nenhuma tentativa de actualização realista ao ponto de transformar D. Afonso IV num gesto de uma grande empresa, não faz sentido visto a contemporaneidade estar em nós e na nossas próprias vivências”, avança-nos ainda mais ”normalmente existe a predominância de um visão maniqueísta, há dois lados e estamos sempre no certo, seja
há 700 anos ou hoje, sempre para o bem de todos, na guerra, política... nem mesmo os “terroristas” se acham maus.”. Acerca do texto João Brites interroga-se “acerca de não sermos capazes de fazer certas coisas em determinadas circunstâncias, cada vez menos me convenço que não é bem assim.”, “é um tema que ultrapassa fronteiras”, visão corroborada pelo encenador russo que afirma “o mito de Pedro e Inês é europeu, é das pessoas é do mundo”. Pedro e Inês” tem composição musical de Jorge Salgueiro, espaço cénico de Rui Francisco e figurino e adereços de Clara Bento. Sara de Castro (Teresa), Inês (Susana Blazer), Miguel Borges (Pedro), Ivo Alexandre (Pacheco), Estêvão Antunes
(Coelho) e Helena Afonso (Corifeu) são os actores que dão corpo à peça. Caldas da Rainha, Bragança, Vila Real, Estarreja, Sines, Guarda, Torres Novas, Alcobaça, Lisboa e Palmela são as localidades onde a peça será apresentada. A 09 de Abril “Pedro e Inês” é apresentado no Teatro Municipal de Bragança, a 15 de Abril estará no teatro de Vila Real e a 21 de Abril no Cine-Teatro de Estarreja. A 21 de Maio é apresentada no Teatro Virgínia, em Torres Novas, nos dias 09, 10, 11, 12, 14 e 15 de Junho vai estar no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e a 17 e 18 de Junho, n´O Bando, em Palmela. Leonardo da Silva
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Espirituosas, licorosas, destiladas e encevadas
Solta a franga e arredores TRAVESSA DOS GALEÕES, L. 5 C
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o último dos grandes hits, o grande Jorge Nice! Isto para não falar nessa Meca da cultura rencente, a grande loja do Charrôque da Prrofundurra (“Apah aquile é même gire, né? Apah muita gire même, ganda maluque!”) E no fim admiramo-nos de nos tornarmos cada vez mais uma cidade periférica, dormitório na margem sul e com pouco interesse para lá do óbvio, vulgo peixe assado, choco frito e camas para albergar o pessoal que cá vem pastar ao fim de semana. No fundo o melhor seria fechar a cidade durante a semana e abrir apenas ao fim de semana para acolher os turistas, esses grandes comilões! E pronto, é com tristeza que bergará uma companhia a cipal, um organismo público, escrevo estas linhas sobre esta quem já ninguém liga (mas não dê avultadas quantias de grande cidade onde todos não é a única, porque na ver- dinheiro para investimento somos os maiores. Sinto-me dade nenhuma companhia em negócios privados na triste porque depois de tanto em Setúbal leva público às Baixa de Setúbal? É impen- tempo a trabalhar fora de Setúbal e do país, salas. Mas claro que a culpa sável, “só mesmo decidi voltar é do Estado, da Câmara ou e m S e t ú b a l ! ” ) , ainda houve para apostar do público pouco instruído uma promessa de e não dos profissionais ta- desenvolvimento quem pensasse que numa cidade que acredilentosos e motivados que com os empreen- a casa da cultura to poderia ser estão dispostos a tudo para dimentos de Tróia iria albergar promuito melhor devolver o brio à sua arte. que não passou jectos novos se houvesse Eles que tanto e tão bem se disso mesmo, de uma verdadeipromovem), uma baixa de- uma promessa. sabitada e recheada de lo- Sim, digam lá porque razão o ra estratégia concertada com jas que não cobrem a oferta tio Belmiro se iria interessar vista ao futuro mas não... Tá (orientada por uma muito por uma cidade que não se tudo na mesma, eternamenpromove e insiste te à espera que venha daí um capaz associana comunicação grande investidor, qual D. Seção de comerum fórum e proliferação do bastião do Sado, implementar ciantes que tem popularucho? (E um grande indústria que nos ideias brilhan- Luísa Todi que vai não tenho nada salve a todos. E digo e repito, tes como pôr ficar uma maravicontra a cultura “estratégia concertada” pois o bandeirinhas lha (quando ficar popular, adoro-a. mal, assim como a solução, à porta das pronto que estas O que me impres- não está inteira ou exclusilojas na altucoisas levam temsiona é a promo- vamente no poder autárquico. ra do mundial ção folclórica do Está em todos nós, públicos, porque é giro e po, muito tempo...) popular a nível privados, cães e gatos ou até “vai atrair para institucional, isso no choco que importamos da aqui muita sim é mais grave, Índia. gente”. E cladesvirtua o popuro, estes só não fazem mais porque a Câmara lar e torna-o popularucho, não ajuda. Realmente como é triste). E temos o Toy, o CleAntónio Aleixo possível que a Câmara Muni- mente, o Quim Gouveia ou Low Cost Filmes antónio aleixo
O SUL pediu-me para escrever um texto para esta edição e eu, sem reflectir, disse que sim. Ora o problema é motivação... Falar do quê? É que não há realmente nada a dizer. A cidade é linda, tão linda e perfeita que dói. Temos tudo do bom e do melhor e somos os maiores. Temos o Vitória a arrastar-se para não descer e a hipotecar-se anualmente para pagar uma equipe de futebol que nada ganha, o rio que sempre lá esteve, a serra que não aproveitamos, o estuário que ignoramos, os golfinhos que não protegemos devidamente ao ponto de fazermos uma festa de cada vez que têm uma nova cria e esta não morre, uma escola de turismo que é o (e ainda houve quem penex libris daqueles que não sasse que a casa da cultura conseguem acabar o 12º ano iria albergar projectos novos, (mas claro que é aí que temos encabeçados por gente nova de concentrar o nosso inves- e com uma visão de futuro. timento e dotá-los de infra- Há gente capaz de pensar em cada coisa!!! estruturas no cenOra isso seria tro da cidade. Uma Temos o Vitó- uma tremencoisa em grande, da irresponcomo deve ser!), ria a arrastar-se sabilidade, no uma Escola Supe- para não descer mínimo...), um rior de Educação e a hipotecar-se fórum Luísa das mais fáceis Todi que vai de entrar no pais, anualmente para ficar uma maum Politécnico de pagar uma equiravilha (quanquem nunca nin- pe de futebol que do ficar pronguém ouviu falar nada ganha to que estas para lá de Alcácer coisas levam ou Barreiro, uma tempo, muito verdadeira política social salvaguardada pela tempo...), um novo, grande nossa tradição em políticas e imponente fórum comerde esquerda e tão avessa cial em construção que vai ao nepotismo (deve ser das empregar muita gente com poucas autarquias nacionais generosas remunerações de que não se deixa mover por 500 euros (quando estiver lobbies partidários. É de uma pronto, mas estas outras coiintegridade que, em Portugal, sas ficam sempre prontas a chega a ser comovente), um tempo e horas), um auditómuseu da cidade encerrado rio charlôt em construção até que a vaca tussa, uma que nunca mais meterá água casa da cultura em cons- (este é outro dos tais que detrução que visa albergar os mora tempo, muito tempo), mesmos “velhos” de sempre um teatro de bolso que al-
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Carta ao Director do jornal dos, tinha um papel na porSenhor Director: Escrevo-lhe esta carta ta dizendo: “Lamentamos o porque estou muito triste e incómodo mas…”. Em suma, desapontada. Sou uma rapari- qual não é o meu espanto ga simples, de pouca cultura, que além daquele cinema, mas honesta, e por isso resolvi não há mais nenhum. Bem, contar-lhe minha história na fomos para Lisboa. A vez sua cidade. Venho de uma fa- seguinte foi com o teatro. mília de emigrantes, mas eu Quiseram levar-me ao não nunca saí da minha terra, que sei quantos de bolso, dizené o Fundão, até ao dia em que do que era um dos melhores meu pai resolveu mandar-me da cidade. E sabe que mais, para a cidade para me tornar estava fechado, tinha um uma mulher educada e culta, papel igual ao outro. Adipois até aqui só conheci os vinhe lá… fomos para Lisboa. montes, os riachos e os ani- A melhor foi quando fui para ver a dança dos finalistas mais da minha zona. Meu pai queria que fosse da Academia de Dança de para Lisboa, mas essa é mui- Setúbal. Até me vesti de gala. to grande e eu tinha muito Meus primos igualmente. medo. Escolhi Setúbal, por- Fomos todos pimpões até que é mais pequena, tem sol ao Fórum da Luísa, mas esse e, afinal de contas, é capital nem papel tinha. Resuminde distrito. Cá cheguei fará do, fomos ver os dançarinos seis meses no próximo dia 30 da cidade a Lisboa. Como pode ver as saídas e nunca tinha visto nada tão nocturnas não lindo. O mar é têm tido muitos grande, como É claro que resultados aqui. a minha tia me contava, cheio não imaginava um A g o r a vo u - l h e contar as diurde barcos. Por Louvre aqui, mas nas. Olhe, meu vezes confesso, ter apenas um corpai contava-me até mete medo. redor com pinturas que lá no Louvre, F o i f á c i l a rem Paris, havia ranjar casa, há é menos do que eu muitos quadros. t a n t a s … m a s esperava. É claro que não acabei por ficar imaginava um com uns priLouvre aqui, mos da minha mas ter apenas mãe. São muito simpáticos e têm-me ajuda- um corredor com pinturas do no propósito da minha é menos do que eu esperaeducação, só que não tem va. À galeria chamam Museu resultado muito bem. É por da Cidade e além disso com essa razão, meu senhor, que muitos buracos vazios. Fui gentilmente informada por lhe escrevo. Veja, a primeira foi quan- um senhor que estava à pordo meus primos quiseram ta, que me disse que os que levar-me ao cinema e fala- faltavam, vejam lá, estavam ram-me de um tal Charlot. em Lisboa. Também me disDepois de jantarmos fora, se que, para além disto, não para lá fomos em animado havia mais nada de pinturas, passeio mas, quando chega- nem antigas, nem modernas.
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leonardo da silva
Setúbal, fechados de 2ª a 6ª feira
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Lá fui para Lisboa. Decidi descansar com isto da cultura e resolvi ir beber uns copos com meus primos. Aqui sim, tivemos muita sorte. Entrámos num bar onde havia bela música ao vivo. Fartei-me de emborcar ma-
cieiras e de dançar. Poupámos imenso dinheiro em gasolina, portagens e bilhetes de entrada. Enfim, seis meses depois, foi muito importante para mim ter vivido em Setúbal. Agora vou para Lisboa, pois perdi-lhe o medo e despeço-
me daqui, agradecendo-lhe a possibilidade que me dá de contar minha aventura na sua cidade. Atenciosamente. Maria do Fundão mariapapoilafundao@gmail.com
bOLSA CULTURAL L i v ra r i a
FICHA TÉCNICA: Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL Morada: Rua Fran Paxeco nr 178, 2900 Setúbal Telefone: 96 388 31 43 NIF: 508254418 Director: António Serzedelo Subdirectores: José Luís Neto Consultor Especial: Fernando Dacosta e Raul Tavares Conselho Editorial: Catarina Marcelino,Hugo Silva, Leonardo da Silva, Maria Madalena Fialho, Paulo Cardoso Directora de Arte: Rita Oliveira Martins Consultor Artístico: João Raminhos Morada da redacção: Rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal E-mail: info@ jornalosul.com Site: http://www.jornalosul.com Registo ERC: 125830 Depósito Legal: 305788/10 Periodicidade: Mensal Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Tipografia Rápida de Setúbal Morada da tipografia: Travessa Gaspar Agostinho, nr 1 - 2º - 2900-389 Setúbal Telefone: 265 539 690 Fax: 265 539 698 E-mail: trapida@bpl.pt
f e v 2011
CULTURA
NR 13
f e v 2011
NR 13
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Um espaço que marca a diferença
Rua do Concelho, nr 13, Setúbal. Junto à Câmara Municipal de Setúbal De 2ª a 6ª feira das 9h-13h e 14h-19h
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Requalificação paisagística do exterior do Moinho da Ludoteca. Obra orçamentada em 46.000.00 € de custo total. Obra a levar a cabo pela Freguesia da Anunciada, Câmara Municipal de Setúbal e Biostásia