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NR 04
Ano: 2010 . nr 04 . Mês: Maio . Mensal . Director: António Serzedelo . Preço0,01 €
A Pobreza e a Exclusão Social ASTROLÁBIO
que se chegou. Os lucros fabulosos dos grupos económicos e financeiros foram obtidos à custa da desvalorização do trabalho e dos direitos dos trabalhadores, da degradação dos salários e das prestações sociais, do desinvestimento em políticas públicas, das políticas fiscais gravosas para quem Decidiu a União Europeia dedicar o ano de 2010 ao vive ou viveu do seu trabalho, da liberalização de sectores económicos, incluindo serviços, enfim do combate à pobreza e à exclusão social. Com isto, reconhece o fracasso implícito de todas resultado do reforço do neoliberalismo em todas as suas políticas económicas e sociais que remetem as políticas da UE. para a tão “cantada” Estratégia de Lisboa, a mesma A pobreza em Portugal tem vindo a crescer e, hoje, que correndo o ano de 2000 se propunha erradi- 18 em cada 100 pessoas vivem na pobreza. Estes car a pobreza da Europa até 2010. Sim, erradicar a números incluem desempregados, reformados, pensionistas, mas também trabalhadores pobreza! E propunha-se a algo que se tornam pobres a trabalhar (cerca mais vistoso e grandiloquente: de 38%) devido aos baixos salários, à preque teríamos «a economia do Entrevista a cariedade e ao custo de vida cada vez mais conhecimento mais compeAna Drago elevado. titiva e avançada do mundo, O número europeu que serve de referência a caminho do pleno emprego e da inclusão social». Miríficas palavras? Ou um para definir a pobreza equivale a um vencimendiscurso que ocultava decisões sinuosas e oblíquas? to mínimo mensal de 406 euros. Quem tiver um O que nos resta hoje? E onde está a dita coesão rendimento inferior é pobre. Contudo,há grupos económica e social de que os seus mais famosos que são muito mais vulneráveis ao risco de poarautos põem já em dúvida, titubeantes em en- breza e, nesses, contam-se as crianças, os jovens, contrar justificações que, como véus, escondam as os reformados e também as mulheres. Nestas, as verdadeiras causas da profunda crise em que vive desigualdades salariais repercutem-se nas reformas mergulhada a UE, nestes dias do nosso profundo e pensões onde continuam a existir discriminações entre homens e mulheres. descontentamento? Em 2000, a taxa da pobreza europeia era de 15%; Um espesso manto de silêncio cobre a situação dos em 2010, subiu para 17% ameaçando cerca de 85 deficientes em Portugal que serão muitos daqueles milhões de pessoas com todo o sofrimento e de- que vivem situações de pobreza extrema devido sespero a que conduz. Há 19 milhões de crianças aos montantes muito baixos das suas pensões e na situação de pobreza na rica UE! Com os seus 23 às suas necessidades acrescidas e à falta de apoios sociais condignos. milhões de desempregados, com destaque Com as medidas anunciadas para os jovens, cuja taxa de desempreEntrevista a no PEC, a pobreza e a exclugo ultrapassa já os 21%, com o crescente Fernando são social irão agravar-se muito número de trabalhadores precários que Dacosta rapidamente. E vem o governo afecta, sobretudo, os jovens e as mulheres, falar-nos do Ano de Combate à as contínuas ameaças de despedimentos, os salários cada vez mais baixos, a pobreza terá Pobreza e Exclusão Social! Basta de hipocrisia! tendência a subir e a inclusão social será cada vez A pobreza não é uma fatalidade à qual tenhamos de nos resignar e o aumento do desemprego, os mais uma miragem na UE. Não foram os trabalhadores e as populações que salários baixos e as condições de precariedade beneficiaram com a dita Estratégia de Lisboa que são as principais causas de pobreza e que a perpetuam e agravam. A pobreza leva à fome, a fome vai ser retomada na estratégia «Europa 2020». A pobreza e a exclusão social são atentados aos leva à doença e pode levar à morte, a pobreza direitos humanos fundamentais e não se comba- leva ao insucesso escolar e … Estes círculos de tem com acções generosas ou com sobras ou actos causas e consequências têm de ser quebrados e como os que se prevêem para este Ano Europeu de só uma vontade política determinada e corajosa poderá fazê-lo. Combate à Pobreza e Exclusão Social. As causas da pobreza são estruturais e há que A pobreza e a exclusão social serão combatidas identificar as responsabilidades da situação a com políticas económicas e sociais que apostem
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“Quem poderá ser tão bárbaro, a ponto de não perceber que o pé de um Homem é muito mais nobre que o seu calçado...e que a sua pele é mais nobre que a roupa que veste?” MIGUEL ÂNGELO
no desenvolvimento e valorização da produção nacional e do mercado interno, no emprego com direitos e respeitadoras dos direitos dos trabalhadores, com aumentos salariais e das reformas e pensões, na promoção de serviços públicos de qualidade, devendo estes estarem excluídos de quaisquer acordos comerciais, nomeadamente, a saúde, a educação, a cultura e o ambiente. “Na hora que o bicho pega/ Na hora que o bicho corre/ Gente rica fica junto com quem/ Já morreu de fome.” Não podemos deixar à solta o bicho rico que precisa da miséria da grande maioria para mais enriquecer. Anita Vilar
anita.vilar@gmail.com