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NR 14
ano: 2011 . nr 14 . mês: março . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
O SUL em terceira geração “Um jornal impresso tem de se reinventar ou tornar-se-á irrelevante”, dizíamos nós no primeiro número. Isto aplica-se perfeitamente a O SUL, que se vem reinventando sempre, e tem como slogan, “O SUL quando nasce é para todos”. Mas apresentemo-nos desde já aos nossos leitores desta nova viagem no SemMais.
Contem portanto também que vamos defender acrisoladamente o Património, um riqueza cultural que os portugueses e os poderes desprezam, por baixa auto-estima, da mesma forma que vamos defender a promoção da criação artística. Vamos defender o bom-trato dos animais, como forma de acrescentar um “plus” à Democracia. Vamos dar oportunidades aos jovens da geração dita “à rasca” que agora começa a acordar. Quanto às Mulheres contem connosco!
Esta é a terceira geração do O SUL, como “upgrade” para o SemMais, resultando de um “casamento” que, como em todos os contratos de casamento, vai trazer um enriquecimento dos nubentes, neste caso no domínio dos conteúdos, e uma maior visibilidade e amplitude para O SUL.
O SUL é propriedade da cooperativa Prima Folia, primafolia.blogspot.com, uma cooperativa cultural, sem fins lucrativos, que o edita em Setúbal, e por cujos princípios se rege. Atente-se que a cooperativa não recebe apoios do Estado, nem do Poder Local. Quanto ao jornal já vai na terceira geração.
Recuemos então até 1901, ano da criação do jornal O SUL, um semanário republicano, em plena monarquia, para o qual escreveram personalidades como Ana de Castro Osório ou Paulino de Oliveira. Na altura era o que hoje se chamaria um jornal alternativo, como este continua a ser, e por isso agradou e marcou a região, como este pretende marcar.
Para isso queremos contribuir para a existência de uma opinião pública informada, activa e interveniente, contra a iliteracia reinante, pois isto é condição fundamental da democracia, e do exercício pleno de uma Cidadania activa e não reactiva, como a que vimos vivendo, que não gera alternativas, e quer simultâneamente isto, e o seu contrário. Contem portanto, os nossos leitores, com um jornal que vai promover a construção de uma cultura viva alternativa ao centro, ao invés de uma cultura suburbana como a que estamos vivendo, lutaremos pela compreensão da globalização, sem deixar de dar atenção ao global.
Abertos a todos, agora, vamos à obra! António Serzedelo – Director anser2@gmail.com
Passando a O SUL na versão de 2010, segunda geração, trata-se de um órgão de informação, que visa ser um jornal de cultura e promoção de debates e partilha do conhecimento.
Por isso este mensário tem sido composto de reportagens, entrevistas, artigos de opinião das mais diversas sensibilidades, dando relevância à problemática do género, e publicando textos de divulgação do património histórico, cultural e natural envolvente. O jornal está ao serviço do desenvolvimento nacional e regional, que neste distrito não é fácil, devido ao conservadorismo dos poderes fácticos. Somos pela promoção do progresso económico, social e cultural das populações, com atenção para os mais desfavorecidos, tendo em conta os princípios da sustentabilidade e da verdade. Somos contra os discursos únicos, que tanto grassam na nossa sociedade, fruto de uma mentalidade herdada do passado que fez com que, em muitas cabeças dos nossos concidadãos, haja sempre ou um polícia ou um padre.
Identidade da Margem Esquerda? Procurar promover um discurso cultural para a região do Distrito de Setúbal não é tarefa de pouca dificuldade, até porque, em qualquer análise mais rigorosa, nos apercebemos que a região aparece desprovida de uma identidade comum. Calibramos a nossa bússola e trocamos impressões com o Governador. Ele aponta para o Sul, pois Norte não há. De um ponto de vista geográfico temos dentro da província sadina regiões bem distintas. No extremo Norte situase uma vasta área estuarina, com as suas especificidades. Seguese-lhe uma zona plana, arenosa e razoavelmente fértil – a charneca, que abrange os concelhos a Norte do Distrito. Depois temos outra, central, que corresponde a uma micro-região serrana. Seguese-lhe uma vasta área estuarina, com as suas especificidades. Por fim, a Sul, temos a área do litoral alentejano, com características diferenciadoras bem vincadas. O Distrito não é nenhum continente geograficamente evidente, pelo que a ser algo mais do que um conjunto de linhas arbitrárias traçadas por um qualquer político da capital, terá de trata-se de um conceito cultural e histórico, um território de fronteiras imateriais. Quando abordamos o problema identitário numa perspectiva histórica, também não lhe vislumbramos homogeneidade. Avieno e Plínio descrevem diversos povos, de diferentes origens e com graus civilizacionais distintos, para este território, antes da conquista romana. Politicamente não houve unificação desta zona nem em período romano, nem nos seus subsequentes, à excepção da época em que todas estas terras foram doadas à Ordem de Santiago e Espada. Foi um fogo-fátuo, pois pouco depois as propriedades antes ofertadas foram anexadas à Coroa, extirpando qualquer semente identitária. Mesmo a criação do actual distrito é de data muito recente. Trata-se de um território de fronteiras novas. É quando analisamos este território de um ponto de vista socioeconómico, que nos aperce-
nesta Diocese. Aqui essa prática socialistas e comunistas, tudo isto diminuída em muito antecede a bem cimentado e consolidado com queda do Estado Novo, está lio muito de sangue que jorrou dos gada ao surto industrializante já trabalhadores para se defenderem aludido de finais de Oitocentos, da cobiça. Esse vínculo histórico que teve causas e consequências semelhante, por vezes até partidemográficas, sociais, culturais e lhado em acções contestatárias políticas profundas. Trata-se de concertadas, permite talvez falar uma Igreja com rotina centenária de uma ligação solidária entre todo de resistência e sacrifício, de trabao território. Aliás, nesse fenómelho efectivo de “trincheiras”, o que no assenta muito da explicação explica em muito o da Margem Sul ser a seu poderio e eficaz Margem Esquerda do De um ponto capacidade de resZeca Afonso, ou mais posta, bem como prosaicamente, um de vista geográfico “Comunistão”. Essa temos dentro da pro- das suas ONG’s força política vê-se, víncia sadina regiões (directas e indirectas), em território actualmente, reduzida bem distintas. particularmente à esfera local. O sistedifícil e, quantas ma de empregabilidade vezes, declaradamente hostil. Ao mudou, passando da indústria para contrário do que vemos no resto os serviços. Essa transformação no do país, aqui existe uma Igreja sector do trabalho não implicou o em crescimento. Mas se com D. enriquecimento dos trabalhadores, Manuel Martins ainda podia hacomo é evidente, mas erradicou ver, para os mais distraídos, uma definitivamente a formação marinterpretação das acções da Igreja xista das massas proletárias, o que local como inspirada na “Teolocoloca em causa essa matriz idengia da Libertação”, actualmente titária. Tal é particularmente visível já ninguém pensa nisso. através de dois fenómenos, um É neste caldo, primeiro indiscutivelem que catolicismo mente político, que é o É quando e marxismo se enfacto de a nível naciocontram reunidos nal os resultados das analisamos este ternuma mesma paneeleições cada vez se ritório de um ponto la, com implicações aproximarem mais da de vista socioeconóeconómicas, sociomédia do resto do país, mico, que nos aperlógicas e psicológibaseada na polarização cebemos de ténues cas profundas, em PSD/PS e, um segundo, laços comuns que cada povoado de natureza demográos pondera nas fica, com o êxodo de devidas proporções próprias eshabitantes de Lisboa para áreas pecíficas, mas sempre presentes, com habitações a preços mais móque vislumbramos um ligante neste dicos na periferia, o que amolece território. E sendo estes os factores o sentido de pertença local. que condicionam a priori qualquer Outro fenómeno cultural releabordagem cultural, é com eles que vante é habitualmente subvaloriteremos de reflectir. Tratam-se de zado. Setúbal, para além de Distrito dois fenómenos determinantes, é, igualmente, uma Diocese. Apesar mas, por si mesmos, não constida história da Igreja ser longa e tuem uma identidade, mas sim duas importante, ela não deixou de ser totalmente distintas e, a fazer fé nos muitas das vezes apagada. Setúbal pareceres de Bento XVI e Karl Marx, é a Diocese com menor prática totalmente irreconciliáveis. Não católica do país, mas talvez por deixa por isso de ser um território isso mesmo possui uma das igrejas nas fronteiras da solidariedade … e mais pujantes e interventivas. Os isso é importante. desafios da contemporaneidade, que têm afastado os portugueses da prática católica nos últimos José Luís Neto 30-40 anos, pouco eco tiveram jornalosul@gmail.com
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Lenin, The New Brush That Sweeps Clean
bemos de ténues laços comuns. Há uma importante tradição operária em toda a região, em parte dela porque ali se fixaram as unidades industriais, noutra parte porque era quem as abastecia de forma directa, tanto em víveres, como em mão-de-obra barata, mercê das migrações dentro da região. A tradição operária também não é uniforme, pois pouco tem a ver a CUF (Barreiro) com a indústria conserveira (Setúbal), a corticeira
Mundet (Seixal) com a Lisnave (Cacilhas, Almada). A análise social do fenómeno industrial oferece-nos finalmente um ligante em comum. Tratam-se de grandes indústrias, mesmo as agro-industriais (viticultura), que são detidas desde finais do Século XIX por um número limitado de famílias burguesas bem conhecidas. Do outro lado estavam os proletários, mão-deobra massificada, que se formou dentro das ideologias anarquistas,
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PROJECTO DE RESPONSABILIDADE E CONSCIÊNCIA SOCIAL AS EMPRESAS QUE AQUI ANUNCIAM SÃO MECENAS DA CULTURA. CONSUMA NESTES ESTABELECIMENTOS CONTACTE ATRAVÉS DE 96 388 31 43.
Puxar pela excelência do distrito de Setúbal Neste primeiro número em que O SUL é distribuído para o distrito de Setúbal com o semanário Sem Mais/Expresso, associo-me com gosto ao inicio desta relação. Faço-o convocando à reflexão os agentes que representam os vários sectores da Sociedade Civil e os políticos do nosso distrito para a necessidade de criarmos uma estratégia concertada, que lhe reforce a identidade, suportada num projecto claro de qualidade em que todos os cidadão se revejam, para além das opções individuais de cada um. Por múltipla razões o distrito está hoje, ainda associado, no imaginário colectivo às dificuldades da vida, simbolizadas no que foram as bandeiras negras e infelizmente menos às invulgares
e excepcionais potencialidades que encerra, para além da sua centralidade policroma que se estente do Litoral Alentejano ao Arco Ribeirinho-Sul. Sucede, como a realidade o demonstra, que mesmo para a superação das dificuldades dos que mais sofrem, é decisivo priorizarmos a criação de riqueza, puxarmos pelo bem estar e pela qualidade de vida, e integrarmos estes objectivos na referida estratégia, de futuro e de reforço da nossa identidade. Essa estratégia passa pela compreensão da centralidade do distrito, quer no plano interno que no da relação com o nosso único vizinho continental, a Espanha, para além da importância que o distrito tem para a ligação euro-
últimos estejam condicionados atlântica, a favorecer a valorizaagora pelos constrangimentos ção dos portos, sobretudo os de decorrentes da crise. Sines e Setúbal. Estes objectivos não precluEm função desta centralidade dem a necessidade de, face a esta melhor se compreendem os escrise, centrarmos também esforforço que se têm levado a efeito ços na valorização nos últimos anos, com de todo o sector a programação de inPor múltiplas primário, ou seja, fra-estruturas essenna agricultura e ciais para a afirmação razões o distrito está nas pescas, para de Portugal no mun- hoje ainda associaalém da reindusdo, traduzidos entre do, no imaginário trialização, essenoutros na plataforma colectivo, às dificulciais à criação de logística do Poceirão, dades de vida riqueza, numa lónos investimentos na gica coerente que plataforma industrial contribua para de Sines, na dinamiresponder ao próprio endividazação turística da península de mento externo. Como é sabido Tróia, para além do novo aeronão produzimos o suficiente para porto no Campo de Tiro de Ala nossa própria auto-sustentação cochete, na nova travessia sobre alimentar, importante a maior o Tejo e no TGV, ainda que estes
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parte dos bens, o que não pode persistir. O distrito deve contribuir fortemente para a alteração deste estado de coisas e não o fará se muitos continuarem a puxar para baixo. Não temos tempo para perdemos tempo para a concretização desta estratégia para o distrito. Esta é a grande prioridade, incompatível, em absoluto, com a persistência da exploração do miserabilismo. Como está à vista de todos e que a persistir deve ser penalizada. Temos que puxar pela excelência do nosso distrito! É este o caminho. Vitor Ramalho Presidente da Federação do PS do Distrito de Setúbal
Animais, Democracia e Poder Local Em Dezembro do ano passado, num sobressalto de cidadania, duzentas figuras públicas enviaram ao ministro da agricultura um abaixo – assinado a favor de uma campanha nacional de “esterilização de cães e gatos”. Preconizava-se que esta campanha fosse feita em estreita colaboração com os municípios, canis, médicos veterinários e associações, para levar a cabo este objectivo. O século passado ficou conhecido pela erradicação da raiva, com a vacina. Pretende – se que este fique reconhecido, por ter reduzido o mau trato dos animais, diminuído a sobrepopulação dos de companhia, o abandono de animais, (que a crise económica pode agravar)
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Mas estes problemas que pae por pôr termo ao seu abate, que recem óbvios, e para os quais o é superior a 100 mil/ano e tende ministério da agricultura numa a aumentar. reunião a que estive presente É que a qualidade da Demodeclarou “dar todo o apoio para cracia, e da Cidadania, também resolver”, mas lemse mede pelo bom ou brando as “ restrimau trato que dá aos (...) a ções orçamentais “ animais, e infelizmente, qualidade da tem outros busílis em Portugal eles são a ultrapassar. muito mal tratados, Democracia, e da Primeiro, é prehavendo muito pouca Cidadania, também ciso dialogar com a consciência disso. se mede pelo bom associação nacional Não vamos aqui ou mau trato que dá de municípios, que falar de touradas, nem aos animais em muitos casos de lutas de cães. Aquenão tem a mesma las que tanto dividem sensibilidade do ministério, depois, a opinião pública, apesar do mau é preciso fazer uma “abordagem tratam que publicamente é infliestratégica “que passa pela congido aos animais como espectátrolo das populações, identificação culo. Setúbal é aqui uma cidade de todos os animais, pelo abate dos pecadora.
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animais problemáticos, e esterilização dos restantes. Passa ainda pela criação de protocolos com associações de animais, de sensibilidades diferentes, universidades, ONG´s internacionais, e de novo o Poder Local. Entretanto, há que avaliar os recursos municipais e sobretudo impulsionar as associações intermunicipais, que apontam desígnios mais vastos, com baixas de custos, mas a que alguns municípios são reactivos, por razões ideológicas. As associações ficaram de apresentar um projecto-piloto com custos, estratégias, e populações abrangidas. Sugerimos a intervenção dos “media”, e informações no site do ministério, mas constatei certas reservas em mobilizar a cidadania.
Enfim, há que enfrentar o tema dos animais errantes. O zootécnico Pedro Vieira alertou para a gravidade do que se passa na Serra da Arrábida, onde uma matilha de 6 cães, em 2003, se transformou em mais de 100, ameaçadores para pessoas, e rebanhos, depois de destruírem toda a fauna de raposas e coelhos da serra. A DGV empurra para a Câmara de Setúbal, cujo canil não é modelo, que por sua vez empurra para DGV, que empurra para a direcção do Parque Nacional da Arrábida. Todos reconhecem ser um caso grave de “saúde pública”. Até à data não tomaram decisões. Mobilizem-se os cidadãos! António Serzedelo – Director anser2@gmail.com
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Indignação e alternativa torais. Importa portanto que haja à tração partidária e do Estado opaesquerda o amadurecimento de um cas. E tem de envolver igualmente combate pela boa administração a rigidez do arco da representação do país só possível de resto com partidária na medida em que são nereformas inadiáveis na economia cessários novos protagonistas com e no Estado. novas soluções partidárias e novas E é chegados aqui que se torlideranças em partidos tradicionais nam imperativas as discussões mais permeáveis ao poderoso sensobre os eixos transformadores. timento que vem de baixo, da rua. Devem suscitar um O evolucionismo amplo debate probleque se advinha é o o que transmas como a evolução de ser necessário abordar a questão parece “é a descrença do sistema assalariado que comprometa os programática com nestas elites polítitrabalhadores num um forte pendor cas”, naqueles que empreendimento de para assumir as “são supostos saber prosperidade, nomedores concretas da conduzir” os repreadamente na esfera da governação e que sentados economia pública e no permita ir experiapoio à inovação, e na mentando transquestão europeia com a resposta a formações que relancem a prosdar às orientações neoliberais que peridade e o emprego. Só uma nova prevalecem amplamente na direcdisposição para discutir estratégias ção da União Europeia. No fundo de governo, na praça pública e em a mensagem é esta: a “geração à aberto confronto negocial com os rasca”, para ganhar o seu lugar na potenciais parceiros que gerem história e na construção do país, maiorias viabilizadoras, poderá tem de se desenrascar. trazer à esquerda o protagonismo na construção da prosperidade, ao invés do que tem sido o seu enfoque Paulo Fidalgo no protesto e em meros ganhos eleiRenovadores Comunistas
os excluídos de hoje a co-modelar o novo sistema também. Essa remodelação tem obviamente de atingir o próprio modelo de democracia parlamentar que cultiva a passividade do voto de 5 em 5 anos e que gera uma adminis-
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a de que uma licenciatura dava gaA duas pelo menos. Uma sobre rantias automáticas de emprego. E economia e outra sobre educação. com uma agravante: a qualidade da Por esta ordem. Muito simplesdita educação piora mente, Portugal não de dia para dia. Hoje tem uma economia Uma leitura não se ensina; ‘quaintermédia sólida; e por lificam-se’ pessoas isso, muito logicamente, do ‘manifesto’ da para um mercado não se demonstra capaz rapaziada (o oficial) de trabalho inexisde gerar qualquer forma – uma coisa pobre, tente. de trabalho intermédio. desinteressante e Perceber como O que existe, e já existe se chegou a esta há muito tempo, é al- insípida – não deixa miséria deveria ter gum (pouco) emprego de ajudar a explicar sido o primeiro e para pessoas com altas o fenómeno único objectivo de qualificações e um vasto toda aquela gente. emprego para pessoas Infelizmente, não foi, tendo-se precom baixas qualificações – algo que ferido antes exigir acéfalamente não implicam muito mais que uma “um futuro digno, com estabilidaformação de 9º ano. Enquanto foi de e segurança em todas as áreas possível, o emprego na máquina do da nossa vida”: na educação, no Estado foi absorvendo todos aqueles trabalho, na saúde, na família, no que estavam no meio – uma soluamor. Uma loucura claustrofóbica ção desde logo a prazo e em última que ignora uma premissa base de análise ruinosa, mas que servia para toda a existência: na vida não há esconder a crua realidade. Agora isso garantias. De nada. acabou. Agora, a mentira em que o Por esta razão não deixa de ser sistema educativo português se tem sintomático a ‘frase de ordem’ que baseado, e que muitos se esforçaram fecha o dito ‘manifesto’: “Protestamos por alimentar, chegou ao seu limite:
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No dia em que o Bloco de Esquerda apresentou a sua moção de censura, o primeiro-ministro garantia no parlamento que o orçamento estava controlado e que estava tudo de acordo com o guião. Deixem-nos trabalhar, repetia, lembrando alguém do passado. Sabemos agora que, à mesma hora, já o governo tinha negociado com a União Europeia e o BCE um novo pacote de austeridade que implica reduzir para um terço as
indemnizações por despedimento, congelar as pensões e diminuir mesmo algumas, cortar no serviço de saúde, aumentar os preços da electricidade, liberalizar as rendas de casa dos inquilinos mais velhos e provavelmente cortar nos subsídios de férias e de Natal. Para um país que entra agora em recessão, graças às medidas negociadas pelo PS e PSD, não está mal. Curamos a economia através das medidas parvas, para parafrasear os
Deolinda – a solução do governo é continuar a facilitar despedimentos, diminuir salários e pensões e financiar o sistema financeiro. Não sei onde estão agora os que diziam que a moção de censura era inoportuna, radical e extremista. Já vemos onde estão os radicais, inoportunos e extremistas: no governo e na direita, cujas políticas provocam o maior desemprego da nossa história. Precisamos de alguma prova mais de que esta economia é destruidora?
De que não traz nenhuma solução? De que persegue os salários e pensões? De que só garante aos jovens que os vai expulsar cá dentro? Não precisamos. Esta política tem que ser parada e já. Foi esse o sentido da gigantesca manifestação das “gerações à rasca”. A maior moção de censura já conhecida. Um governo isolado e uma direita aflita. Continuar esse combate é hoje a única garantia que temos de recuperar a democracia
e de estabelecer uma economia decente, que proteja os salários e crie emprego, que tribute o sistema financeiro e ataque as desigualdades. Esse é o sentido da acção do Bloco de Esquerda, porque só por esta via se pode conseguir a força, a maioria, a determinação para uma governação de esquerda para uma política socialista.
assume um lugar privilegiado na definição dos rumos colectivos. Por isso se torna tão premente eleger melhores representantes – parlamentares mais conscientes do impacto das medidas que votam e que não verguem o seu “sim” ou “não” às indicações de um líder ou o condicionem à mera proveniência das propostas. Num momento em que as legislativas antecipadas são um dado adquirido, os eleitores devem assumir a responsabilidade de recusar o facilitismo da abstenção, do voto
nulo ou do voto em branco, e escolher entre as opções disponíveis – e não apenas entre os alegados “candidatos a primeiro-ministro” – deputados que, à semelhança da vitalidade cívica que inundou as ruas a 12 de Março, inundem de vida (e de soluções) o debate político. Porque, afinal, como se lia num mural pintado há uns anos em Setúbal, “mais vale um deputado acordado do que dez a dormir”.
Francisco Lousã Deputado – Coordenador do BE
Agora sim, damos a volta a isto?
Um impressionante e inconsequente protesto com assento parlamentar – que, coiNo último 12 de Março, uma tados, não possuem outra forma de suposta “geração à rasca” saiu à expressão – as ‘jotas’ do BE, do PCP rua numa dúzia de cidades do e do PSD marcaram a sua presença. país. Em protesto. Por Lisboa, Os dos do PS, apesar de fisicamente contaram-se umas 200 mil pesausentes, espiritualmente não deixasoas. Por entre as restantes, outras ram de trautear umas músicas; afinal, 100 mil. Os números, diga-se, imnão fora o próprio Primeiro-ministro pressionaram toda a gente. José Sócrates quem viria a revelar que Ou nem toda a gente. Uma leitura “compreendia” muito bem o sentido ‘manifesto’ da rapaziada (o oficial) mento dos manifestantes, enquanto – uma coisa pobre, desinteressante desculpava a sua aue insípida – não deixa sência pelas presende ajudar a explicar o Por entre tes obrigações de um fenómeno. Engendraanarquistas, naciotrabalho que hoje em do para não excluir dia ele próprio sente nada nem ninguém, nalistas, e outros o dito ‘movimento’ tantos anacronismos como ‘precário’? É claro que, no propunha-se a abria a célebres, não faltou meio de todas as porta a todos os que se quase ninguém ‘cantigas de interdecidissem a protestar venção’ e ‘palavras de ordem’, contra a ‘precariedade’. Sem limite de ninguém gastou um momento da idades, credos, ideias, ou a falta delas, sua ocupada vida a pensar no que todos estavam convocados. E se a coirealmente o havia ali levado. Afinal, sa começava como intencionalmente nem nisso “a geração com o maior vaga, veio naturalmente a terminar nível de formação na história do particularmente confusa. Por entre país” quis ser muito diferente de anarquistas, nacionalistas, e outros qualquer outra, tendo faltado a tantos anacronismos célebres, não algumas aulas básicas. faltou quase ninguém. Pelos partidos
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aprendizagem adaptativa, mesmo que se desfaçam algumas ambiguidades presentes no movimento. Desde logo porque não poderá abrir-se o sistema sem que aconteça uma remodelação económica e política de tal forma que sejam
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A censura contra a economia parva
por uma solução e queremos ser parte dela.” Uma frase simples que encerra em si mesma todo um projecto: a “geração à rasca”, longe de desejar uma reforma de um Estado falido e de um regime falhado, exige, isso sim, que esse mesmo Estado e regime os absorva, como durante anos, aliás, absorveu muitos outros. Sim, as pessoas têm plenas razões para estarem insatisfeitas. E sim, o número de manifestantes impressionou. Quase tanto como a clara inconsequência da coisa. O protesto de 12 de Março poderia ter sido importante e marcar o princípio de uma mudança de mentalidades. Infelizmente, não o foi. Ao invés de procurar responsabilizar os vários governos que se têm deleitado a gerir irresponsavelmente e mentirosamente este país desde 1974, a “geração à rasca” preferiu antes exigir ao país a cota parte do bolo de que se acha merecedora. No fundo, nada mudou. Tiago Apolinário Baltazar Estudante Universitário
FICHA TÉCNICA: Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL . Morada: Rua Fran Paxeco nr 178, 2900 Setúbal . Telefone: 96 388 31 43 . NIF: 508254418 . Director: António Serzedelo . Subdirector: José Luís Neto Consultores Especiais: Fernando Dacosta e Raul Tavares . Conselho Editorial: Catarina Marcelino, Daniela Silva, Hugo Silva, Leonardo da Silva, Maria Madalena Fialho, Paulo Cardoso . Directora de Arte: Rita Oliveira Martins . Consultor Artístico: João Raminhos . Morada da redacção: Rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal . E-mail: jornalosul@gmail.com . Registo ERC: 125830 . Depósito Legal: 305788/10 . Periodicidade: Mensal . Tiragem: 45.000 exemplares . Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA – Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 – Moralena 2715-029 – Pêro Pinheiro
Agora sim, damos a volta a isto! / Agora sim, há pernas para andar! / Agora sim, eu sinto o optimismo! / Vamos em frente, ninguém nos vai parar!
tar a sobrevivência das forças de menor expressão. Então, o que nos pode travar? Agora não, que falta um impresso... / Agora não, que o meu pai não quer... / Agora não, que há engarrafamentos... / Vão sem mim, que eu vou lá ter...
Foram 300 mil as pessoas que, por todo o país, aderiram ao Protesto da Geração à Rasca. Um mar de gente e de opiniões divergentes que Nós mesmos. Apesar de terem – partilhando a urgência de fazer algo superado as barreiras instituciopara contrariar aquilo que Salgueiro nais, quatro dessas Maia designaria por “o cinco novas forças estado a que isto chepolíticas (o Partigou” – saiu às ruas e Foram 300 do pelos Animais e deu mediatismo a uma mil pessoas que, por pela Natureza ainda insatisfação latente – e todo o país, aderinão se submeteu a crescente – há muito. ram ao Protesto da eleições) tiveram Com esta força uma fraca prestapopular transversal Geração à Rasca ção eleitoral. às gerações, vamos Então e a necomeçar, por fim, cessidade de novos actores? Não a construir um país melhor, um supera a resistência à mudança? Portugal mais justo. Estaremos assim tão apegados A matéria-prima existe e a vonà lógica de “mais vale um diabo tade de criar alternativas foi visível conhecido...”? Se a descrença nos nos últimos três anos, com a funpartidos que goverdação de cinco novas naram o país nos úlforças partidárias timos 35 anos atinge – uma efervescênTemos um o nível expresso a 12 cia que só encontra sistema eleitoral paralelo nos anos 70 que, ao dividir o país de Março, como continuam essas forças a e que se torna mais em 20 círculos, favoter mais de três quarnotável pelo facto tos da representação de, em 2003, PSD, rece os dois maiores parlamentar? PS e CDS-PP terem partidos Entre os inúmeros aumentado em 50% factores que contribuem para este o número de assinaturas exigidas cenário, destacaria dois. Em primeipara legalizar um partido, a par de ro lugar, temos um sistema eleitoral outras medidas tendentes a dificul-
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Desta vez foram tanto a Sul como a Norte as centenas de milhar que vieram para a rua mostrar a sua indignação na jornada da “Geração à Rasca”. Indignação por lhes ser negado o acesso às virtudes que o sistema costumava prometer: acesso ao emprego e razoável possibilidade de ascensão social, pelo menos ao nível do que os pais tinham conseguido. Pode até recriminar-se a geração anterior pelo bloqueio a que deixou chegar as coisas, mas, para além do fantasma de conflito geracional, o que transparece “é a descrença nestas elites políticas”, naqueles que “são supostos saber conduzir” os representados. O que é deveras perturbador é a experiência colectiva da “ansiedade associada ao reconhecimento de que têm de ser as pessoas”, os representados, a ensaiar realmente uma resposta (as aspas são para citar livremente Slavoj ZiZek no Seu “Da Tragédia à Farsa”). Se este primeiro momento é o de desejar ainda (re)conquistar o direito a re-entrar no sistema, a verdade é que pode acontecer uma
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que, ao dividir o país em 20 círculos, favorece os dois maiores partidos, quando um círculo nacional único permitiria aumentar a pluralidade no parlamento. Em segundo, prevalece no discurso político e mediático uma lógica maniqueísta inerente à suposta “eleição do primeiroministro” nas legislativas, quando estas visam, na realidade, eleger os 230 deputados da Nação. Se é verdade que as mudanças de que o país carece passam por todos e não apenas pela classe política, também é certo que esta
Luís Humberto Teixeira luis.teixeira@mudaromundo.com
A persistência do Naturalismo Os pintores que a partir de 1830 escolheram a aldeia de Barbizon para pintar fundaram o Naturalismo e lançaram a semente de uma revolução na pintura. O seu sucesso não se deveu a um consistente suporte teórico, que não existia, nem à realização de obras especialmente elaboradas ou inovadoras, o que de um modo geral também não acontecia; deveu-se, sim, a uma atitude que marcou a diferença. Os pintores da escola de Barbizon recusaram o ensino académico, fechado, previsível e sempre agarrado aos mestres do passado, onde apenas eram considerados os temas tidos como nobres, como a mitologia, a história e o retrato (nesta altura, em França, a religião já não era tema que tivesse muitos adeptos). Pretendiam apenas pintar o dia-adia do espaço onde estavam inseridos, com especial destaque para as paisagens e para o trabalho rural. Duas décadas depois esta atitude viria a ter reflexos também no meio urbano de Paris, numa primeira fase através do Realismo.
Luciano dos Santos - O Ensino e o Trabalho, fresco do átrio da Escola Secundária de Sebastião da Gama, em Setúbal, 244x697, 1955
A focagem no presente retirou exclusividade aos temas admitidos pelos académicos. O ar livre permitiu descobrir coloridos, reflexos, sombras, brilhos, texturas e ambientes impossíveis de discernir nos estúdios. E para isso bastou-lhes trocar a escola de belas-artes pela “escola das belas árvores”, como lhe chamavam. O colorido de ar livre tornou-se o principal pilar do Impressionismo. A valorização da cor nos seus múltiplos aspetos (atmosféricos,
simbólicos, emocionais, etc.) vai estar também presente no Pósimpressionismo, no Simbolismo e no Expressionismo. A partir daqui surge um rol de movimentos e de grupos que, ao longo do século XX, fizeram com que a pintura não mais voltasse a ser como antes. O Naturalismo continuou e espalhou-se por toda a Europa e até fora dela após 1870, quando a escola de Barbizon se desintegrou. Contudo, este movimento foi relegado para segundo plano, trucidado por
outros que não teriam existido sem ele, assim como por historiadores e teóricos que valorizam no séc. XX apenas os que se afastavam da realidade objetiva. O Naturalismo passou a ser um movimento de artistas dispersos e sem organização, tendo como suporte teórico o de sempre, primordial e básico, apenas acrescentando à sua temática original a paisagem urbana e o retrato. Contudo, o Naturalismo não desapareceu. São naturalistas os pintores que registam as paisagens da sua
terra; são naturalistas aqueles que pintam as coisas comuns à sua volta, com um razoável grau de fidelidade. Alguns entre eles são senhores de um elevado domínio técnico. Ora, um movimento artístico que resistiu a mais de cem anos de desprezo pelos fazedores da história, que não alinhou em inovadoras propostas estéticas, mesmo que aliciantes, obviamente tem de ser visto com respeito. Não se tenham dúvidas de que, além dos poucos conhecidos, outros nomes de valor se escondem ainda, merecendo ser valorizados e divulgados. No Naturalismo português do séc. XX ainda são poucos os nomes sonantes que marcam o seu lugar na história, como Abel Manta e Henrique Medina. Por que não incluir nesse grupo o setubalense Luciano dos Santos, com uma obra coerente e de qualidade, de quem se comemora presentemente o centenário do seu nascimento? António Galrinho Professor
"Minha pátria é a língua portuguesa", Fernando Pessoa mos o contributo das mais relevantes figuras da nossa Cultura, que serão chamadas a reflectir sobre determinados temas. O tema do sexto número, que agora lançamos, é “Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa” (nos 15 anos da CPLP)”. Uma vez mais, a NOVA ÁGUIA celebra, de forma assumida e descomplexada, as figuras maiores da nossa Cultura. Para além de Fernando Pessoa, outros autores são abordados neste número da Nova Águia – nomeadamente, António Feliciano de Castilho, Carlos Queiroz e António Quadros, de quem publicamos um texto, “Da língua portuguesa para a filosofia portuguesa. Neste número, quisemos ainda homenagear Malangatana, recentemente falecido, dada a sua importância para a cultura lusófona.
Para além das rubricas habituais, “Portugal não pode ser pensado fora publicamos ainda um longo ensaio da grande comunidade dos cerca de de cariz pedagógico, bem como al240 milhões de falantes, em todo gumas recensões, a maior parte delas o mundo”. Alguns dos textos que de títulos da “Colecção não couberam neste Nova Águia”, em que se Tal como n’ A número serão, contudo, publicaram já mais de publicados no próxiÁguia, procurarevinte títulos (ver lista mo, cujo tema maior mos o contributo no final). será: “O Pensamento Incluindo este das mais releda Cultura de Língua número todos esses vantes figuras da Portuguesa: nos 30 textos, mais alguns po- nossa Cultura, que anos da morte de Álemas – a Nova Águia varo Ribeiro”. serão chamadas a tem sempre publicado Como tem aconreflectir sobre depoesia –, tivemos que tecido semestre após sacrificar em parte a terminados temas semestre, também este secção “Minha pátria número será lançando é a língua portuguesa” (nos 15 anos por todo o país e em vários locais da CPLP)”, apesar da importância do do espaço lusófono, dado o apoio tema para nós – como se pode ler no que o MIL: Movimento Internacional Lusófono (www.movimentolusofono. “Manifesto da Nova Águia”, publicaorg) tem dado a este projecto. O MIL do no primeiro número da revista:
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é um movimento cultural e cívico, registado notarialmente no dia 15 de Outubro de 2010, que conta já com mais de 5 MIL adesões, de todos os países da CPLP. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países lusófonos – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade. Renato Epifâneo NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI www.novaaguia.blogspot.com
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Espirituosas, licorosas, destiladas e encevadas
MAR 2011
Decrescimento, Crise, Ecologia
NOVA ÁGUIA, Nº 7 (nos 15 anos da CPLP)
Como é sabido, a revista A Águia foi uma das mais importantes do início do século XX em Portugal, em que colaboraram algumas das mais relevantes figuras da nossa Cultura, como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Leonardo Coimbra, António Carneiro, António Sérgio, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. A ideia de relançar a revista, agora sob o nome de NOVA ÁGUIA, pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da nossa História, procurando recriar o seu “espírito”, adaptado aos nossos tempos. Não se trata, nessa medida, de fazer uma revista voltada para o passado, meramente revivalista. Trata-se, antes, de fazer uma revista para os tempos de hoje, para o século XXI. Tal como n’A Águia, procurare-
NR 14
MARÉ ALTA 07
Solta a franga e arredores TRAVESSA DOS GALEÕES, L. 5 C - SETÚBAL
Assim, visto que não há no planeta lugar para sete mil milhões de consumidores, a nossa primeira obrigação consiste em reduzir sensivelmente as nossas ilusões a esse respeito.
Carlos Taibo
Ao ritmo alucinante que os telejornais e outros media nos intoxicam com esse espectáculo de variedades chamados notícias, vamos-nos apercebendo de que algo anda mal por aqui. Mas a intoxicação que pouco permite pensar dá-nos uma ideia confusa da crise que vivemos. Decrescimento é uma palavra assustadora no meio de tudo isto, mas que funciona, não como uma solução, mas como um convite à reflexão. Vivemos uma crise, é certo. Mas que tipo de crise? Ou de que crises? Este debate tenta centrarse sobretudo na crise dos recursos naturais. É um debate difícil porque precisamente por cima desta análise padecemos da intoxicação que nos colonizou o imaginário e nos faz olhar para a economia como o deus supremo do mundo. O convite então fica em tentar perceber que economia teríamos sem recursos? Sem petróleo, sem trigo, sem minerais... E quem acredita que podemos consumir eternamente num planeta onde os recursos são finitos, ou é louco, ou é economista. O debate do decrescimento centra-se muito aqui. Se considerarmos o consumismo como indústria, falaremos com certeza
free commons
MAR 2011
NR 14
06 CULTURA
E é complicado procurar outras da maior actividade económica soluções, requer um esforço indivimundial. Plasmas, gps’s, roupa dual enorme pensar de outra forma e calçado, automóveis, turismo, que não a imposta pelas 3000 menportáteis, telemóveis... voam a sagens diárias que um ritmo alucinanuma pessoa recebe te das prateleiras (...) um moda publicidade a diádo consumo para delo capitalista que rio. Seja pela tv, pelos as casas das conjornais ou pelos cerca sumidoras. A eco- para alimentar um de 40kg de panfletos nomia de um estado europeu exige 2 ha que cada pessoa deimede-se pelos ín- de terra pode bem ta ao lixo por ano... A dices de confiança atirar-nos para um publicidade já é a sedo consumo e não lugar bem pior gunda maior indústria pela nossa felicimundial a seguir à do dade real. Se não armamento. Por isso, juntando-a às há consumo, não há economia, indústrias que nos permitem este se não há economia não há emmodo de vida irresponsável, certapregos e por aí adiante... Espirais mente temos o consumismo como loucas e sem fim que parecem grande motor da nossa economia. não ter soluções nem fins.
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Juntando a facilidade ao crédito para continuar a consumir e a obsolescência programada, vemos que estamos dentro de uma teia bem montada para nos prender a esta forma de viver. Tendo em conta o fim do petróleo e ainda não termos encontrado alternativas viáveis para manter o mesmo modelo (biocombustíveis e automóveis eléctricos não são solução) os caminhos para encontrar viabilidade escasseiam, pois tal acontece com os recursos. O modelo agro-industrial ameaça a soberania alimentar das pessoas, como vemos acontecer no Médio Oriente e noutros lugares. A resposta é complicada, mas o movimento do decrescimento aponta soluções
nada desprezáveis. Mas parece que repensar o nosso modo de vida, o do norte opulento, que se alimenta vorazmente à custa dos países africanos, americanos e asiáticos é cada vez uma questão mais urgente. Menos é mais. Menos consumo é mais qualidade de vida. Menos trabalho é mais tempo e lazer. Menos velocidade é mais eficiência. Decrescer não significa atirar-nos para a idade da pedra. Agora, um modelo capitalista que para alimentar um europeu exige 2 ha de terra pode bem atirar-nos para um lugar bem pior. Se o planeta tem 13 biliões de hectares de superfície e somos 7 biliões de habitantes é fácil fazer as contas. João de Sousa Gomes
Viver e Conviver Positivamente com o VIH tes e Informação VIH/SIDA e CoHoje, na África e no resto do Infecções (www.redepositivo.org) Mundo (onde o problema é escase que está presente em diferentes sez de antiretrovirais), resolvido o localizações na internet e enquanproblema da sobrevivência ao SIDA to marca, tais como: Facebook/ fica o problema social do VIH. Orkut/Blogger/Badoo/GNP+/ Quanto maior a distância dos Aidsspaces (ONUSIDA). grandes centros, maior o fenómeReflectindo sobre este prono de “insularidade” e isolamenblema e no que ele constitui to dos portadores VIH e menor a para quem vive e probabilidade de essobrevive com esta tes, nas suas regiões, Todos temos patologia, importa encontrarem formas falar-se – e na nossa de sociabilizarem e de direito à integração sociedade sobretudo combaterem a auto- social. O estigma e o – do enorme probleexclusão. preconceito existem ma do estigma e ao Surge por isso a e seriaa um erro preconceito ligado Rede Positivo, uma crasso negá-lo ao VIH e ao peso de rede reconhecida e ser portador, à conao serviço da CPLP, sumação dos afectos apesar do como uma resposta sob a forma de que isso implica no ato de reveuma rede social destinada a serolar ao outro o estatuto serológico, positivos e a todos aqueles que se como ainda nas relações laborais preocupam e que de algum modo e familiares. se relacionam com os assuntos que Nenhuma outra patologia tem lhes dizem respeito e que dispõe tanto estigma e preconceito asde Chat, Fóruns, Blogues, Deba-
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da de ânimo leve. A prevenção sim, sociado, mas existem as mesmas é obrigação de todos. Devemos pessoas com os mesmos estigmas gostar de nós mesmos e respeitar sociais em todas elas. Só no VIH as o outro, de na dúvipessoas se interrogam da (ou não), usar o primeiro como a conTemos é sim, preservativo. traiu e depois, como se O VIH é hoje, sente ou como o porta- a obrigação conosco nos países desendor/paciente lida com próprios de procurar volvidos, nos casos o assunto. formas de socialionde os antiretroTodos temos direito zar abertamente e virais estão razoaà integração social. O sempre que possível velmente disponíestigma e o preconceiduma forma segura veis, um Síndrome to existem e seria um Inflamatório Cróerro crasso negá-lo. nico Adquirido e uma doença Numa comunidade de seroposique predispõe os pacientes para tivos, qualquer pessoa com VIH/ problemas cardiovasculares e Sida se sente segura e na sociedapara depressões, cujo mecanisde em geral, juridicamente, todos mo ainda não compreendemos temos o direito à não discriminacompletamente. ção que lhe é constitucionalmente Embora não exista cura para o garantida. VIH, podemos ter esperança nisso e A revelação do estado serológino avanço em melhores tratamentos, co é opção do indivíduo. A atitude que aliás estão em fase de desenvolde revelar a sua condição de saúde, vimento (quase todos os dias saem tal como a opção sexual, é algo de novidades sobre isso ao contrário muito íntimo e não deve ser toma-
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de há anos). Existem esperanças redobradas saídas do mapeamento de processos feito durante o sucesso de cura do Homem de Berlim. Não afirmamos isto sob o pressuposto que o VIH é hoje uma doença letal (mas pode ser), mas porque é uma doença crónica, complicada, pode muito bem não ser a única que venha por essa via e o tratamento é caro e fica connosco para a vida toda. Temos é sim, a obrigação connosco próprios de procurar formas de sociabilizar abertamente e sempre que possível duma forma segura, para que nos possamos sentir mais iguais, mais libertos e menos sós e sem preconceitos. Qualquer que seja a situação é nossa missão lutarmos pelo direito que nos assiste a todos de sermos felizes. Luís Sá REDE POSITIVO www.redepositivo.org
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