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ano: 2011 . nr 16 . mês: maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
O Vergonhoso
1º de Maio O dia em que a democracia é posta na gaveta Foi convocada uma manifestação para o pretérito 1.º de Maio, em Setúbal, por um colectivo intitulado “Terra Livre”. Apesar de não ter sido participada ao Governo Civil, os cartazes estavam espalhados por toda a cidade e noutras, inclusive Lisboa (5000 panfletos e 1000 cartazes, o que dá nas vistas). A manifestação pode e deve ser vista, bem como o mais divulgada possível em http://www.youtube.com/ watch?v=ngMyjZVOG4U. Ao longo do percurso não houve desacatos, houve uma boa interacção entre os manifestantes e os transeuntes. A PSP acompanhou-a desde a sua chegada à cauda da manifestação da CGTP. As palavras de ordem foram “nem Estado, nem patrão, auto-gestão”, ou, “Não negociamos a nossa escravidão, a vida é nossa, não é do patrão”. A convocatória é clara, no sentido em que nos permite ver a sua intenção: “Desde o grupo de pessoas que compõem o recém-formado colectivo anarquista “Terra Livre” de Setúbal queremos convocar uma manifestação de indivíduos, grupos, colectivos, espaços ou sindicatos apartidários, anti-autoritários, anti-políticos ou autónomos para o Domingo 1º de Maio de 2011. Desejamos fazer desta data um marco de mobilização não controlada por nenhuma força partidária, por
nenhuma central sindical, ou qualquer força de repressão e controlo do Estado. Desejamos recuperar o seu carácter de mobilização geral de trabalhadores, desempregados, estudantes e de todos quantos anseiam por uma sociedade nova, livre de violência capitalista, jogos partidários e repressão estatal.” Os manifestantes, cerca de algumas dezenas de jovens, chegados à Fonte Nova, baixam os estandartes e bandeiras e preparam-se para consumir uma sopa comunitária. A PSP cerca-os, tanto a nascente como a poente. Vêm-se agentes a saírem dos carros policiais com shotguns. Logo a seguir vê-se a chegada de uma carrinha da Brigada de Intervenção Rápida e, mal estaciona, dá início um acto de brutalidade que a todos nos envergonha. Jovens a serem brutalmente espancados, como uma menina, que escorrega ao fugir a quem desferem uma bastonada na cabeça, ou um menino baleado por duas vezes no pescoço, outro com cinco tiros num joelho. Ninguém sabe como naquela tarde não morreu ninguém. As imagens ficam na retina, princi-
palmente a de uma jovem, braços abertos, desesperada, só, com os agentes a bramirem os bastões em seu redor, indefesa, vulnerável. Não façamos de conta que concordamos, ou que discordamos, com a ideologia publicitada na manifestação. Isso é irrelevante. A primeira questão importante é tentar perceber se podemos aceitar que os nossos filhos sejam espancados pela polícia por terem ideias próprias e legítimas. A segunda questão relevante é que se agentes procuram controlar uma manifestação em desmobilização com shotguns, há uma intenção inegável e uma premeditação da violência intolerável. A terceira questão é que o comunicado da PSP comprovadamente mente, e as instituições do estado não podem mentir. A última razão é, se aceitarmos o que se passou em silêncio, enterramos a democracia, o direito à opinião e à sua expressão. Por tudo isto, acusamos! josé luís neto
"Não devemos tentar manter um sistema que, se falir, não dará direitos a ninguém", diz Catarina Marcelino a O SUL Catarina Marcelino, deputada do Partido Socialista, licenciada em Antropologia, afirma-se como de Esquerda, Socialista e Feminista”. De facto, a actual presidente das Mulheres Socialistas tem um vasto currículo nos movimentos feministas e assumiu papel preponderante na campanha pela despenalização do aborto. Jovem, com ideias claras e objectivas, é novamente aposta do PS para nova legislatura. Catarina Marcelino é da banda de cá, é montijense, conhecedora comprometida com as reivindicações da Margem Esquerda. Não é, consequentemente, de espantar que tenha estado na Comissão do Trabalho, Segurança Social e Administração Pública bem como na Sub-Comissão da Igualdade, na Assembleia da República. res, sendo que Setúbal é um dos distritos cuja marca é das mais pesadas. O que tem falhado nas políticas de igualdade? CM – Nas políticas de igualdade há duas questões a desenvolver. A primeira tem a ver com a Justiça. Tem de haver menos impunidade em relação aos agressores. As falhas estão relacionadas com o dilatar dos tempos num processo, falha porque é difícil provar a agressão, falha, por vezes, pela falta de formação dos juízes para lidar com esta realidade. O Centro de Estudos Judiciários devia contemplar formação mais específica S – A actual legislação conta nesta área. A nova lei da violência com oposição, tanto à direita, que doméstica é uma boa lei. Precisa não a quer, como à esquerda, que é de melhor aplicação. A segunda a acha curta, pois a adopção fiquestão é que, estou convicta, que cou adiada. Que futuro para este a violência doméstica só diminuiequilíbrio? rá em Portugal quando as pesCM – Espero que em breve soas forem educadas possa ser aprovacom comportamentos do na AR a questão (...) é pessoais e sociais no da adopção, porque é uma questão de importante discutir âmbito da cidadania, da igualdade e da igualdade, direitos, é o estatuto tolerância. Para isso liberdades e garan- das crianças é preciso que nos tias de tod@s face aos nas famílias currículos escolares valores de Abril. O PS homossexuais. exista uma disciplina assumiu, no anterior específica transversal a todos os programa eleitoral, a legalização graus de ensino, com um programa do casamento sem a questão da estruturado e com professor@s/ adopção. Assim o fez. Agora o que formador@s com conhecimentos é importante discutir é o estatuto singulares para leccionarem estes das crianças nas famílias homosprogramas. sexuais, que existem, mas que não têm qualquer enquadramento na S – Dentro das discriminações lei. É como se não existissem. Esta existentes no distrito, uma das lei é altamente punitiva para estas mais gritantes e preocupantes é crianças. Por exemplo, em casos de o racismo. O que foi feito nessa separação, por puro preconceito matéria? social, estas crianças podem ficar CM – Apesar de ser uma reapartadas da sua família afectiva. alidade europeia, sendo que em O que realmente importa é que momentos de crise haverá uma a criança tenha uma família, não tendência de aumento, Portugal se é um pai e um pai, uma mãe e é um dos países mais tolerantes. uma mãe ou um pai e uma mãe. Temos boas políticas de imigração e uma boa lei de nacionalidade, S – Apesar da actual legislarazão que levou a que fossemos ção, o panorama da violência de premiados pela ONU. Temos uma género na intimidade continua a história de acolhimento rica, que apresentar números desoladoO SUL A meio da sua primeira legislatura o Governo demitiuse. Que balanço faz dos seus dois primeiros anos na Assembleia da República? Catarina Marcelino - Foi uma experiência interessante e enriquecedora, que me permitiu defender causas em que acredito, contribuir para o debate de ideias e poder, de forma efectiva, alterar legislação como a do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tenho muito orgulho em ter votado essa lei.
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também tem a ver com a nossa história da emigração. Tudo isto dá-nos uma perspectiva diferente, contudo o distrito tem grandes pólos de imigrantes lusófonos, que, por políticas de habitação datadas dos anos 70 e 80 sobretudo, criaram situações de exclusão social que precisam de ser reequacionadas, através de projectos de multiculturalidade e de trabalho com os jovens de 2.ª e 3.ª geração. Também é preciso reinventar o modelo urbanístico, que precisa de ser de maior integração. As margens do Sado têm uma história de fixação e de integração exemplares, que remontam ao Século XV. Esta pode ser recuperada como um bom exemplo para a actual realidade dos imigrantes lusófonos e é com agrado que vejo a possibilidade do surgimento de um museu do negro num concelho ribeirinho do Sado, eventualmente no concelho de Alcácer do Sal. S – Neste distrito todos os dias empresas fecham, o desemprego prestados pelo Estado. Este esforço tem números assustadores, o Banco foi apanhado por esta crise, não Alimentar já anunciou que esgotou tendo havido tempo para que o os stocks e não estamos ainda a país se musculasse o suficiente meio do ano. Como gerar e redispara ter capacidade plena de fazer tribuir a riqueza para todos? face aos problemas daí recorrenCM – Estamos a viver um motes. Quanto ao combate à pobreza mento de crise internacional como proveniente deste momento difícil, há muito não acontecia no mundo. só há um caminho, que terá efeiEstamos a viver com dificuldades tos positivos e que passa por uma acrescidas pelos nossos défices economia mais forte, estruturais, nomeadamais competitiva e mente na área da quaA situação do capaz de gerar maior lificação profissional e na capacidade do nosso distrito, felizmente, riqueza. Um Estado tecido empresarial se não é comparável à que responda às necessidades destas adaptar a uma nova década de 80. pessoas e necessário realidade competitiva, e precisa de contifruto da globalização. nuar a apoiar quem Houve um esforço, nos menos tem, mas não pode ser, nem últimos anos, para aumentar a será, a solução deste problema. No qualificação dos portugueses, auque respeita às relações laborais, mentar a qualidade da escola púo que eu acho é que devemos gablica e um investimento ímpar na rantir os direitos de quem trabalha, ciência e na inovação, bem como mas também devemos ter alguma na desburocratização dos serviços
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Semmais
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flexibilidade atendendo à crise e à globalização. Não devemos tentar manter um sistema que, se falir, não dará direitos a ninguém. Temos de garantir os direitos dos trabalhadores e também temos de garantir que há condições para haver postos de trabalho. S – Em 1983, aquando da última intervenção do FMI, o distrito ficou destroçado, a fome e o desemprego assolaram-no. E agora? CM – A situação do distrito, felizmente, não é comparável à década de 80. Temos uma estrutura económica e social mais consolidada. Também temos uma rede de respostas sociais que, à época, não existia e temos empresas estruturantes, como a Auto-Europa e a Portucel. Leonardo da Silva e José Luís Neto jornalosul@gmail.com
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Há alguns anos um novo movimento de renovação do associativismo e cooperativismo vai-se dando em Portugal. Trata-se de uma renovação subterrânea do colectivismo cultural, inspirado mais ou menos assumidamente na ideia da alter-globalização à escala local (o “glocal”). Ambientalista, protectora do património, inclusiva e descomplexada, corresponde a uma autêntica revolução mental, em iniciativa livre da influência e normalização dos poderes instituídos. Vamos assistindo a um número vasto de erupções espontâneas que se transformam num processo ímpar de defesa dos direitos civis fundamentais? Prima Folia (Setúbal), Velha-aBranca (Braga), Bacolheiro e Crew hassan, RDA 69, Casa da Achada e Grupo de Acção e Intervenção Ambientalista - GAIA (Lisboa), Cooperativa Árvore (Porto), Mercado Negro (Aveiro), entre outras, será que têm algo em comum? Pensamos que sim. Esta visão ideológica, penhorando convicções em prol do movimento, de colocar crenças em acção, motivou um convite da Associação Cultural Padre José Idalmiro, sedeada na Ilha do Pico, à Prima Folia, para aí leccionar um workshop de formação de dirigentes associativos das ONG’s culturais do grupo central do arquipélago dos Açores. Esta acção decorreu entre 2 a 6 de Maio na Biblioteca de São Roque. A intenção era explorar metodologias e estratégias de aferição de necessidades, formas de envolvimento da comunidade, opções de financiamento e obtenção de apoio, técnicas de cultura e contra-cultura, entre outras questões para o desenvolvimento sustentável de organizações com acção comunitária. A belíssima paisagem que nos enquadrou, que foi classificada como património da humanidade pela Unesco, terra de basaltos e de extremos, lá nos foi permitindo passar pelo centro interpretativo da paisagem da vinha, obra pre-
Karin Hartmann
O sol afinal nasce no Poente, e tudo faz sentido
trabalho através dos seus três númiada da dupla setubalense SAMI cleos (São Miguel, Terceira e Faial). – arquitectos. Por aqui são invisíO panorama traçado pelas suas veis, mas em Portugal e no mundo voluntárias não é, de todo, animavão somando prémios, prestígio e dor, mas o activismo convicto vai reconhecimento. Há injustiças de dando seus frutos. E o que dizer da tal modo flagrantes que das duas Agenda Cultural Faialense, com o uma, ou se transformam em aneseu FAZENDO, jornal comunitádotas, ou em fenómenos. Numa rio, não lucrativo e independenaltura em que são finalistas da te, “boletim do que 53ª edição dos Prémios por cá se faz”, irmão FAD (Foment de les Arts gémeo separado de i del Disseny), tanto na O activismo O SUL (ver http:// categoria de arquitec- cultural constituifazendofazendo. tura com o referido se como último blogspot.com). Talprojecto, como na de garante da qualmente como a Intervenções Efémeras Prima Folia com a com uma exposição de democracia (e, ACPAES (Associação J. A. Tenente, que teve no actual estado de Cidadãos pela lugar no MUDE-Museu das coisas, talvez Arrábida e Estuário do Design e da Moda, a mesmo o único) do Sado) promovem eles destinamos o nosanualmente – tanto quanto é posso pensamento e energia positiva. sível - os encontros de DesenvolNa Escola Profissional do Pico, vimento Sustentável, vemos a ACF assistimos e participámos numa com o encontro Potenciar das Inacção de divulgação contra a viodústrias Culturais e Criativas. E lência no namoro, promovida pela porque não salientar o já intenso UMAR (União de Mulheres Altertrabalho da ACPJI (Associação nativa e Resposta) - Açores, assoCultural Padre José Idalmiro), ciação para a Igualdade e Direitos que já antes da sua oficialização das Mulheres de cariz feminista. se encontrava no terreno, fazenExistente desde 1992, desenvolve
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do tertúlias, workshops e debates. Note-se que independentemente do ecletismo das crenças pessoais de cada membro, souberam ter arte e engenho de se congregar em torno de uma figura que, sendo eclesiástica, foi simultaneamente um vulto cultural de maior relevo. Num lugar em que a terra pode ser sacudida a qualquer momento e que tem actividade sísmica permanente, ganha-se atitude, isso é inolvidável… sobrevive-se com a força mental dos baleeiros ou, em alternativa, da grande Natália Correia. Neste enquadramento, nada se tem que ensinar, antes sim para partilhar. As periferias são-no cada vez menos, afirmamse sim como espaços de fronteira, de ensaio de soluções culturais novas e autónomas, profundamente comprometidas com as comunidades onde se integram. À frente deste novo projecto está Susana Moura, setubalense de ascendência cabo-verdiana, que estudou em Coimbra, licenciou-se em Estudos Teatrais em Évora, estagiou no Chapitô em Lisboa, percorreu trabalhando em todas
as ilhas atlânticas e, no Pico, dinamiza a construção deste novo pólo emissor de cultura e vanguarda. As peças que em perpétuo movimento se deslocam no espaço, por vezes, assumem sentidos intencionais que escapam aos mais distraídos dos mortais. O activismo cultural constitui-se como último garante da democracia (e, no actual estado das coisas, talvez mesmo o único), mostra-se adaptado e modernizado, estabeleceu-se em rede, contrapondo-se eficazmente às dificuldades de adaptação das organizações governamentais. Num país onde tudo se esboroa um pouco mais todos os dias, terá que saber e querer assumir a sua visão, pois a sua legitimidade e energia será fundamental para dar horizonte onde se já não cantam amanhãs, bem como terá de fornecer coordenadas a quem já governa sem destino. Estou convicto que cada vez mais é sua missão assumir-se publicamente. José Luís Neto jornalosul@gmail.com
O Património das Misericórdias Instituições centenárias, as A União das Misericórdias Misericórdias são detentoras de Portuguesas (UMP) iniciou no ano um património que interessa em 2000, um projecto para a invenmuito não só à História da Arte, tariação do património móvel e mas também a uma História integrado de todas as MisericórSocial e Cultural Portuguesas. dias Nacionais. Citando um investigador da área, Primeiramente através de um Dr. Pedro Raimundo: as miseriprotocolo com o Ministério da córdias portuguesas funcionam Cultura, rapidamente se lhe secomo repositórios do património guiu, em 2006, uma candidatura nacional nas suas mais diverao Programa Operacional de Culsas expressões. Afirmação esta tura, a partir do qual, o projecto que condensa seguramente e em de inventariação teve maior impleno, a dimensão da sua imporpulso e dimensão. Desta forma, se tância patrimonial e inventariaram 47 Micultural. sericórdias, na região (...) a As formas sob as de Lisboa e Alentejo, quais este património neste momento, o elaboração chega a estas instituiprojecto avança na deste projecto de ções são variadas e região Norte do País inventariação muitas vezes fruto de através do Progra- é o de se conjunturas nacionais, ma Regional “Novo identificarem 2 contudo as mais freNorte” onde se ingrandes temáticas: quentes foram através ventariaram mais a religiosa de legados, doações, 21 santas casas. testamentos, benfeiSetúbal aderiu ao obviamente, mas torias e anexações de projecto e concluiu também a laica de outras instituições na o seu inventário em âmbito civil. Idade Moderna. Con2007. No seu patritudo, a forma de como mónio móvel e inteeste património foi entendido pelas grado conta com 583 peças na sua gerências destas instituições seguiu maior parte em regular estado de na generalidade três linhas: o seu conservação. uso ininterrupto, a sua alienação Este projecto, na sua globalicomo fonte de receita ou o armadade e máxima, pretende a divulzenamento puro e simples desses gação deste património perante objectos. Só muito recentemente, o público em geral, mas também esses objectos começam a ser enperante a comunidade científica. tendidos como Património. Pretende ainda, que sirva de Um facto importante que se exemplo a outras Misericórdias, verificou com a elaboração deste para que estas hajam no sentido projecto de inventariação é o de de preservar, valorizar e dinase identificarem 2 grandes temámizar o seu património, e que ticas: a religiosa obviamente, mas ainda não o fizeram pelas mais também a laica de âmbito civil. diversas razões.
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Rita oliveira martins
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Aqui, estão incluídos os retratos dos benfeitores reflectindo valores e atitudes próprias do seu tempo
no âmbito político e social; estão incluídos também objectos que recheavam os hospitais e asilos a cargo das Misericórdias desde finais do século XV, bem como instrumentos cirúrgicos associados a uma História da Medicina. O Património móvel das Misericórdias, contém um leque infindável de temáticas inerentes aos objectos, que nos podem contar várias histórias desde a social à política, da económica à cultural, da religiosa à artística. No âmbito da Arte, encontramos um estilo misericordiano inerente a alguns objectos, comum e transversal a todas as Misericórdias Portuguesas. Consiste numa iconografia distinta e específica e falo obviamente da Virgem da Misericórdia ou Virgem do Manto, no seu papel de intercessora pelos mais desfavorecidos e que abriga e os protege sob o seu imenso manto azul. São estas as imagens que estão presentes nas suas Bandeiras, e são estas as imagens que honram as finalidades destas instituições, substanciadas simbolicamente nas 14 Obras de Misericórdia. Também as procissões, autênticos espectáculos públicos de demonstração de magnificência destas instituições em séculos passados, são possíveis de serem caracterizadas e recriadas hoje, através dos objectos que subsistiram e que as acompanhavam, também muito específicos das Santas Casas. Por exemplo, as varas dos mesários, as lanternas, o pálio, o esquife onde se transportava o Senhor Morto, as matracas, e as bandeiras volantes
Fernando Tordo em Setúbal Fernando Tordo apresenta um espectáculo no Auditorio Nª Sª da Anunciada- Rua Alves da Silva, 42, dia 18 de Junho pelas 22.00h. Fernando Tordo é hoje um dos mais reconhecidos cantores da música ligeira portuguesa. Neste espectáculo, da cariz muito intimista, interpreta alguns novos temas do futuro álbum a lançar
no final do ano, que se chamará “Por este andar”, cantando também clássicos como “Adeus Tristeza”, “Cavalo à solta”, “Tourada”, “Se digo meu amor”, ”Balada para os nossos filhos”, “Estrela da Tarde”, “Cinema Paraíso”, “Chegam palavras” entre outras canções que fazem parte da história musical do nosso país.
com as temáticas da Visitação e da Paixão de Cristo. O indivíduo é central em todas as actividades das Misericórdias, sejam elas ao nível espiritual, como era o caso das procissões e dos enterros, seja ao nível assistencial. Todo este Monumento que hoje iniciamos a compreender, foi movido a força humana. Homens ilustres ou do povo, mulheres e damas das diversas comunidades, assumiram um papel vital no sucesso da obra que as Misericórdias se propunham a realizar, e por isso foram celebrados, marcados na sua História, homenageados para todo o sempre, num gesto de reconhecimento pelas suas doações e auxílios. Os retratos dos benfeitores, representam no geral, pelos inventários até agora publicados on-line pela UMP, uma importante fatia do património das Misericórdias Portuguesas, pintados ou fotografados, deixam-nos um testemunho de uma história de beneficência, altruísmo e solidariedade. Para concluir, saliento e reitero a afirmação que citei inicialmente do Dr. Pedro Raimundo: as Misericórdias são repositórios do património nacional nas suas mais diversas expressões e adiciono a necessidade de dar a conhecer a todos, aos mais diversos níveis, este universo centenário e único à escala Mundial, que são as Misericórdias Portuguesas, também elas parte fundamental e indiscutível da construção da nossa identidade nacional. Daniela Silva
Setembro (data a confirmar) Auditório Nª Sª da Anunciada
É um encontro marcado pela relação de proximidade que o cantor estabelece com o seu público através do prazer que revela em cima do palco, fruto de 47 anos ininterruptos de total dedicação ao seu trabalho. No seu historial, conta com 28 álbuns gravados, todos eles de grande qualidade.
Voz Fernando Tordo Piano Pedro Duarte Marcações para o número: 96 505 13 47 ou para o espectaculos@fernandotordo.com
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Polir o Racismo Voltaram a ser falados entre nós os casos de Huckleberry Finn, Tintin no Congo e do ensino do Holocausto em Inglaterra. Aparentemente há problema em abordar assuntos históricos e parece que se pretende suavizar períodos terríveis do nosso passado, atormentados que ficamos com a perseguição dos crimes que cometemos. Um grupo de pessoas sentiu-se sensibilizado com o racismo presente nas obras, próprias do seu tempo. Importa dizer que as obras foram escritas nas décadas inicais do século XX. Será aceitável a alteração desses textos? Parece-me censura, da mesma maneira que seria censura se não se publicassem os desenhos de Maomé. O que a minha consciência e bom senso me dizem é que é mais significativo preservar essa Históra, para que episódios desses não se repitam. É por isso que é importante exercitar a memória, ter museus, registos históricos, enciclopédias. Talvez seja
melhor começarmos a censurar os nossos comportamentos actuais, em vez de nos arrependermos ou nos sentirmos incomodados quase um século depois.
ventudes partidárias. Este caso parece dizer sobre os partidos: “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti.”. Manuel Alegre falou mal da política e foi apoiado por dois(!) partidos com ideologias totalmente divergentes; Fernando Nobre seguiu-lhe Nobre, PSD e Passos o rumo e é convidado pelo PSD. Esta Coelho: Categoricamente tentativa de conquista imediata de não! votos por parte de Passos Coelho Fernando Nobre, candidato não deverá resultar e o pobre Pedro da cidadania nas últimas eleições já não tem sítios onde dar tiros. O pé, presidenciais, deu o dito pelo não coitado, já está completamente dizidito. Não é isto que o torna pior mado. Outra visão da questão: será que os outros. Isto apenas o torna que os políticos instaigual aos demais polados estão com medo líticos que criticamos. parece que se de que outros indepenNão percebo porque pretende suavizar dentes se juntem para ir é atacado tão ferozroubar “ao pote”? Terão mente. De incoerên- períodos terríveis receio de concorrência? cias ou contradições do nosso passado Possivelmente não deestá cheia a boca de sejam que os cidadãos se tornem Sócrates, Cavaco, Passos Coelho realmente activos. E de que maou outros “notáveis”. O que parece neira se “expulsa” a concorrência? é que Fernando Nobre não tem o Humilhando-a, ridicularizando-a, calibre necessário para ser político fazendo-a passar por inferior. Será mas isso também pode fazer parte que as críticas de outros políticos da sua natural inocência, de quem são, no fundo, receito de mudança? nunca militou ou parasitou em ju-
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Se os pobres somos nós...
pobres da Europa, temos de pensar na nossa produção, sob pena de Portugal sempre foi um dos paficarmos totalmente dependentes íses europeus com mais problemas do exterior, à medida que os nossos económicos (neste momento, o 4º produtos deixam de poder competir na Zona Euro com maior défice) e com o exterior. Numa notícia retalvez devamos pensar um poulacionada, a ideia de co em nós. Com isto que podemos poupar quero dizer que é imPossivel uns milhões de euros portante dar atenção mente não desejam “extinguindo” o Minisà produção nacional. tério da Agricultura Há alguns exemplos que os cidadãos se pode ser um erro treóbvios pelos quais tornem realmente mendo. Não produzinpodemos optar sem activos. do, temos de importar. pestanejar: legumes, Como exemplo, a farinha que se usa fruta, azeite, leite e derivados. para fazer pão. Noventa por cento Outros produtos poderão ser mais é importada e implica um custo de caros mas talvez possamos pen9 mil milhões de euros. Que não se sar nos seguintes aspectos: maior caiam em erros popularistas que proximidade é equivalente a mepossam condicionar ainda mais a nos poluição; com menos dinheiro nossa economia. E que esta ideia gasto em importações, melhora a sirva de reflexão sobre o nível de nossa balança comercial. O leitor dependência externa que pretenpoderá fazer soar o alarme do demos porque, obviamente, isso proteccionismo mas não é o que condiciona a nossa soberania. pretendo com esta ideia. Apenas uma solução para uma equação básica: se as estatísticas nos inLuís Azevedo Silva dicam como um dos países mais www.epilepsiasocial.net
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Touradas S. A. No ano passado regressou à cidade de Setúbal um triste espectáculo que alguns teimam em chamar de cultura. Foi anunciado que, por alturas da Feira de Santiago, haveria uma tourada. Esta foi feita com dinheiros públicos, 15.000 € ofertava a Câmara Municipal de Setúbal com o apoio incompreensível do Vereador dos Verdes André Martins para um retrocesso civilizacional. Com a tradicional desculpa da tradição, tentava desta forma o executivo impor este esquecido tipo de eventos que muito pouco diz às gentes da cidade do Sado. O resultado na altura ficou à vista de todos, uma casa meio vazia para ver o sanguinário acontecimento, e, uma resposta na sociedade civil contra este esbanjar de dinheiro de todos cidadãos, mesmo daqueles que se confessam adeptos da brava festa. Com um Festival Internacional de Teatro e outro de Cinema, além inúmeras instituições culturais e grupos de
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teatro a passar por dificuldades financeiras foi totalmente imperceptível e inadmissível gastar esse valor num só evento, é que toda a gente sabe existem companhias de teatro que trabalham um ano inteiro com muito menos. Águas passadas não movem moinhos poderão dizer alguns, mas enganam-se os mais incautos, tudo isto não passou do prelúdio para uma nova vergonha de trágica dimensão. O Executivo presidido por Maria das Dores Meira visa reabilitar a Praça Carlos Relvas em sistema de Parceria Público Privada, sendo que em 216 000 € investidos pelo privado (Empresa Aplaudir) para gerir o espaço durante 12 anos, 120 000 € vêm do erário público municipal, pago em prestações “suaves” que comprometem os próximos 6 anos, ou seja, este e o próximo executivo. As tentativas de disfarçar com as Marchas, com o até com o Corso, vão para além do ridículo, não con-
que esta verba permitiria atenuar seguindo esconder o essencial, que com alguns dos duríssimos probleisto mais não é que uma PPP, e para mas por que passa, por exemplo, quê? Para pagar a sede de sangue a Associação de Apoio aos Defide alguns, a ganância de outros, cientes e Amigos de Setúbal? Esta que duvidosamente poderemos ainda aguarda resposta para os considerar legítimas. mais simples auxílios. Uma cadeira Em ano de crise, no qual se pede rodas eléctrica custa 2600€, diu compreensão às instituições parece-nos que a culturais pelos cortes exigência de apoio nos apoios, em que Maria das para adquirir pelo o Festróia perdeu 15 Dores Meira visa menos cinco, feita à 000€, o TAS 10 000€, Presidente, para funo Teatro do Elefante 1 reabilitar a Praça cionarem em sistema 500€ e o TEF 2 000€, Carlos Relvas de partilha, para que questionamo-nos so- em sistema de estas nossas gentes bre as políticas cultu- Parceria Público possam ir às compras, rais autárquicas. As Privada ao hospital, ou pelo instituições culturais menos sair de casa e devem compreender apanhar sol é legítima e justa. A too quê? Sem dúvida alguma, todas talidade do investimento para touelas já retiraram proveitosas lições radas poderia ajudar os 50 casos da anunciada PPP. mais graves e dar condições dignas Mas se as reais intenções e proa estes nossos concidadãos. pósitos destas políticas nos fazem Este valor permitiria alimenquestionar o que para a edil da tar em muitas IPSS, permitiria cidade à beira Sado significa Culdar condições aos que menos ou tura, que pensar quando se sabe
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nada têm. Vivemos tempos em que a solidariedade pode e tem de ser praticada. Sejamos pró ou contra as touradas, neste momento, os valores implicados nesta espécie de PPP são pornográficos e socialmente criminosos. Não podem usar o dinheiro de todos setubalenses, para manchar o chão da cidade com bárbaras torturas sobre os animais, nem o podem usar sem critérios sabendo das grandes necessidades desta nossa gente. A Câmara não deve e não tem de pagar mais de metade do investimento privado. Pelos Animais e pelas Pessoas, não são tempos para usar dinheiros públicos em touradas. Haja decência! Existe uma petição pública pelo direitos dos animais e por uma cidade mais humana em: http://www.peticaopublica.com/ PeticaoVer.aspx?pi=P2011N9450 Leonardo da Silva jornalosul@gmail.com
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Na mesa-de-cabeceira LIVROS. Joel Neto é, talvez, o mais bem escondido e subestimado cronista (ou «escritor de jornais», como ele se prefere caracterizar) da imprensa portuguesa. Afinal, ele está aí, disponível, próximo, todas as semanas, numa banca de jornal, mas apesar de tudo parece que nos esquecemos que ele existe. (Ou serei só eu?) É estranho. E é difícil de compreender. Mas se existiam razões, agora não existem desculpas. “Banda Sonora para um Regresso a Casa”, obra que reúne alguma da sua melhor prosa, já se encontra nos escaparates. Mas eu disse que Joel Neto era um cronista? Disse. E disse bem. Não com certeza pelos critérios pátrios, os quais não distinguem o trigo do joio, nem o cronista do comentador. Esclareço: Joel Neto não comenta; Joel Neto discorre. E a diferença é fundamen-
tal. Porque este não se foca sobre as minudências da politiquice (aliás, cada dia mais enfadonha) caseira ou estrangeira, mas procura colocar em evidência, como qualquer verdadeiro escritor, as tendências e contradições da nossa sociedade humana. Que é como quem diz as tendências e contradições das nossas mundanas vidas. Da minha. Da sua. Da do Joel. E tudo isto numa prosa do que de melhor por aí se faz. Sem desculpas, Joel. [Joel Neto, “Banda Sonora para um Regresso a Casa”. Porto Editora, 2011.] FILMES. “It’s Kind of a Funny Story”, passou despercebido por Portugal – se é que passou por Portugal. De que se trata? Será suficiente afirmar que se trata de um filme despretensioso e, por isso, inteligentíssimo, acerca de um rapaz
de 16 anos, Craig (Keir Gilchrist), que sucumbe à pressão das expectativas familiares e sociais desenvolvendo pensamentos suicidas. A coisa, dita assim, parece séria. E é, mas apenas q.b. O filme cedo se desenvolve num drama cómico quando este vem a procurar os serviços psiquiátricos do hospital em busca de um curativo imediato para a sua situação – afinal, e como ele não se cansa de esclarecer, no dia seguinte tem aulas –, mas se vê confrontado com o facto de que aí terá de ficar internado para observação durante pelo menos 5 dias. Lá, na ala psiquiátrica, este encontrará em Bobby (Zach Galifianakis), um amigo, e na jovem Noelle (Emma Roberts), uma paixão, que o ajudaram a compreender que, muitas vezes, somos nós, com as nossas próprias inseguranças e dramatizações, o nosso maior inimigo.
Um filme que procura evidenciar o facto de que a vida, afinal, não é feita senão de momentos, e de que vivêla é a única verdadeira solução. [“It’s Kind of a Funny Story”. Directores: Anna Boden e Ryan Fleck. 2010.] MÚSICA. As compilações servem vários propósitos. Mas duvido que um deles seja o de assassinar por completo um autor. De quem falo? De Israel Kamakawiwo‘ole. Como disse? Calma. Eu repito: Israel Ka-maka-wiwo-‘ole. Esse mesmo. Autor de quem saiu, este ano, (mais) um álbum póstumo (morreu em 1997) que recolhe as suas melhores obras. Israel, tratemo-lo assim, foi um influente músico havaiano que teve um “one hit wonder”. A música que o lançou para as bocas do mundo? Uma combinação de “Somewhere over the Rainbow” e “What
a Wonderful World”, embaladas pela sua voz e suavemente acompanhada por ukulele, que surgiu originalmente no álbum “Facing Future”, de 1993. Infelizmente, a compilação presente, intitulada simplesmente “Somewhere over the Rainbow. The Best of Israel Kamakawiwo‘ole”, para além de ser constituída em metade por músicas do álbum “Facing Future”, apresenta a sua icónica música mutilada. Que dizer? Que a colectânea é uma trampa? Que é uma vigarice? Que pessoalmente voltei ao “Facing Future”, de onde aliás nunca deveria ter saído? [Israel Kamakawiwo‘ole, “Somewhere over the Rainbow. The Best of Israel Kamakawiwo‘ole”, 2011. / Israel Kamakawiwo‘ole, “Facing Future”, 1993.] Tiago Apolinário Baltazar
COMENTÁRIOS DE CONTEMPORÂNEOS ILUSTRES SOBRE MAHATMA GANDHI “A resistência passiva, ou não violenta, tem certamente um importante campo de influência; deste modo, na Índia, Gandhi conduziu ao triunfo contra os Britânicos. Mas depende da existência de determinadas virtudes naqueles contra os quais é praticada. Quando os Indianos se deitaram nas linhas férreas e desafiaram as autoridades a esmagá-los debaixo dos comboios, os Britânicos consideraram que tal seria duma Ber t crueldade intolerável.” ra
britâ n d R u s s n e a c t i v ico, foi m l ( E a r l , 1 ista 872a temá pe 1 Liter atura la paz. P tico, filó 9 7 2 ) , sofo rémi em 1 e o No 950. bel d a
“A simplicidade da sua vida é como a de uma criança, a sua adesão à verdade é inabalável, o seu amor pela Humanidade é positivo e enérgico. Ele possui o que é conhecido como espírito de Cristo.” Rabindranath Tagore (1861-1941), ícone cultural da Índia. Poeta, filósofo, ensa ísta, dramaturgo, músico, pintor. Amig o próximo de Gandhi. O primeiro asiát ico homenageado com o Prémio Nobe l da Literatura, em 1913.
“O grande Goethe e o Indiano humanista e santo Ganido dhi tiveram o mais profundo ). Nasc 5-1965 7 i8 m (1 d r a e z o impacto na minha vida e it iã e g w e r h Sc ou , hoje Albert Alsácia esde 1919, tom - filosofia. Ambos atingiram a a n , o alemã rança, d a. Médico, teó va de F s plenitude interior através ica. nistrati lidade france em Áfr na sionário . da ordem e do princípio is m a nacio i úsico, fo m 1952 logo, m obel da Paz e do amor.” Prémio
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“Com ele tinha vindo ao mundo, não só uma nova personalidade religiosa do mais alto nível, conduzindo os corações dos homens e das mulheres para inacreditáveis sacrifícios, mas também uma nova verdade religiosa.”
. sionário ews, mis r i d h d n n A a . do C.F atma G Reveren te ligado a Mah n e . Intimam ranath Tagore ind e a Rab
“O poder e o sofrimento criativos são decerto evidentes para qualquer pessoa da minha idade; para as gerações nas quais me incluo. Não houve apenas a geração de Hitler no Ocidente e a de Stalin na Rússia; houve também a Índia de Gandhi; e pode já prever-se com e nbe Toy , foi alguma segurança que a influência de h e p ânico Jos r e Gandhi na História da Humanidait e r t 72), br toriado b l A 9 s i 1 h de será maior e mais duradoura 9 o (188 eputad istória. r do que a de Hitler ou de um fo da H o Stalin.” filós
N
Selecção de Anil Samarth
MAI 2011
NR 16
CULTURA 07 O município de Setúbal decidiu dar à estampa, no passado dia 6 de Maio, um livro intitulado “A cidadela das mulheres pobres – O recolhimento da Soledade de Setúbal”. Em boa hora o fez, pois a sua intenção não podia ser mais clara, quando nos diz: “Quando analisamos a história, rapidamente percepcionamos que um dos seus universos mais esquivos é o do mundo feminino. A maioria das mulheres viveu e morreu à margem das autorias dos grandes tratados e não participou nas grandes controvérsias académicas. Tendo como modelo comportamental não optativo Maria, mãe de Jesus, assistiram passivas ao trabalhar da “maquina mundi”, que as relegou sistematicamente para o ambiente intra-muros das habitações, enquanto a vida decorria nas ruas. Esse afastamento é tanto mais forte quanto a maioria esmagadora das mulheres era analfabeta e a memória se perpetuava através da escrita. Se as mulheres em geral sofreram com a discriminação, as mulheres pobres sofreram duplo anátema, mercê da condição feminina e de pobreza. Sobre elas há um quase total desinteresse, é como se nunca tivessem existido, pois quem se preocupará com história de gente pouco importante? Este texto contraria esses preconceitos, pois versa sobre o universo feminino das pobres e miseráveis no Século XVIII, na cidade de Setúbal, ressuscitando do esquecimento uma das mais importantes instituições das cidades ibéricas - os recolhimentos. Inevitavelmente, pelo pioneirismo,
leonardo da silva
A Cidadela das Mulheres Pobres
não esgota o tema, mas abre portas a um novo género de estudos históricos que parece estar destinado a humanizar o nosso olhar sobre o passado. Assim, constitui-se simultaneamente como homenagem às duras vidas das mulheres setubalenses, tanto as de ontem, como as de hoje.” Devemos aqui uma palavra de elogio e incentivo à Câmara Municipal por várias razões. Em primeiro lugar, creio tratar-se da primeira edição municipal sem um preâmbulo assinado por um dos seus presidentes, o que revela um significativo amadurecimento
este livro, sendo de história, permite face à instrumentalização do coao leitor aprofundar o seu conhenhecimento. Outro aspecto signicimento sobre um dos mais fracficativo é o preço, que é de 6,5€, o turantes paradigmas que o torna acessível a da nossa sociedade todas as bolsas. Desde actual, lamentavela saída do best-seller (...) home mente subsistente. “Quando a Tróia era nagem às duras – o machismo. Essa do Povo”, editado pela vidas das mulheres categoria cultural é Escola Secundária D. João II, que não existia setubalenses, tanto cabalmente revelada ao longo das páginas, nada que, com quali- as de ontem, como deixando-nos a cladade, fosse amigo do as de hoje.” ra ideia, como Ana de consumidor. É também Castro Osório dizia: “A ignorândevido um elogio à qualidade da cia não é mais que uma forma de edição, de extrema simplicidade e opressão”. notável bom gosto. Porém, o que Os autores, José Luís Neto e de mais significativo existe é que
“
Nathalie Antunes-Ferreira, são dois académicos das áreas de arqueologia e antropologia física com créditos firmados. Com uma linguagem acessível, oferecem-nos uma exaustiva viagem através de muros, fragmentos de cerâmicas, vidros e ossos, papéis e pinturas, para remontar pacientemente um gigantesco puzzle, que é o esquivo mundo das mulheres há séculos atrás. As análises cuidadas oferecem conclusões arrebatadoras. Aconselhamos vivamente a sua leitura. Leonardo da Silva jornalosul@gmail.com
PRIMA FOLIA ON (low cost) TOUR ONCE AGAIN Comemoram-se frequentemente efemérides que têm tanto de graciosas como de inúteis, mas tal não nos interessa de todo. O património, cimento da identidade e do conhecimento sobre nós mesmos, deve ser praticado. Por isso, a Prima Folia desenvolve, ao longo dos próximos meses, várias visitas numa verdadeira revolução face às políticas e práticas museoló-
gicas tíbias que têm sido apanágio. Acreditamos que o turismo cultural não deve ser um entretenimento pobre apenas destinado às crianças e à terceira idade, mas pode e deve ser um exercício de aventura, fascínio e descoberta extensível a tod@s, filiado ao enriquecimento pessoal através da discussão e tertúlia, do risco e da fronteira, marcos genéticos desta cooperativa.
A assistência em Setúbal é muito antiga. Os hospitais medievais pululavam nas ruas estreitas de um burgo em crescimento. Mais tarde, vieram as confrarias, tanto na figura hegemónica da Santa Casa, bem como noutras que arreigadamente se mantiveram zelosas da sua independência. Assim fomos, passando no tempo, para já no século XIX assistirmos à construção de asilos,
de orfanatos, de enfermarias. Que lugares existiram, quando e como funcionavam, e, já agora, a favor de quem, são as questões que procuraremos desvelar com Daniela Santos Silva, mestra em História pelo ISCTE, acerca de uma subterrânea história transecular da solidariedade, útil em pleno tempo de crise económica e social. Vamos refazer percursos, recriar quotidianos e simbologias
e solidificar conceitos que se foram estruturando século após século. O passeio faz-se a dia 9 de Junho, às 19h, tendo como ponto de encontro a Sé Catedral de Setúbal, a Igreja de Santa Maria da Graça. Note-se que é preciso marcação prévia, pois temos de saber anteriormente o número de comensais. Inscrevam-se. primafolia@gmail.com 96 388 31 43
“Férias de Verão na extinta Biarritz portuguesa”, bem que poderia ser o título do último livro saído da pena de Inês Gato de Pinho. A autora, arquitecta com sólida formação em reabilitação urbana,
mas que apresenta capacidade e fôlego para ambicionar a outros voos, apresenta-nos um fascinante estudo acerca das escolhas feitas pelas elites sadinas há cerca de 100 anos atrás. Dessa Setúbal cosmo-
polita e elegante, vocacionada para o turismo balnear, para o usufruto da natureza e para o consumo da criação cultural, quase nada sobreviveu após o surto industrializador massivo das conservas. Assim, as
vastas praias, a avenida, os jardins, os teatros e a elegante etiqueta vitoriana foram substituídas por outras realidades. O passeio, guiado pela própria, sai no dia 22 de Junho, às 19h, em frente à Biblioteca Pública
Municipal de Setúbal. Note-se que é preciso marcação prévia, pois temos de saber anteriormente o número de comensais. Inscrevam-se. primafolia@gmail.com 96 388 31 43
FICHA TÉCNICA: Propriedade e Editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL . Morada: Rua Fran Paxeco nr 178, 2900 Setúbal . Telefone: 96 388 31 43 . NIF: 508254418 . Director: António Serzedelo . Subdirector: José Luís Neto Consultores Especiais: Fernando Dacosta e Raul Tavares . Conselho Editorial: Catarina Marcelino, Daniela Silva, Hugo Silva, Leonardo da Silva, Maria Madalena Fialho, Paulo Cardoso . Directora de Arte: Rita Oliveira Martins . Consultor Artístico: João Raminhos . Morada da redacção: Rua Fran Pacheco n.º 176 1.º andar 2900-374 Setúbal . E-mail: jornalosul@gmail.com . Registo ERC: 125830 . Depósito Legal: 305788/10 . Periodicidade: Mensal . Tiragem: 45.000 exemplares . Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA – Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 – Moralena 2715-029 – Pêro Pinheiro
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e o povo pa Nao queremos subsidios queremos emprego As políticas públicas de promoção de emprego têm-se pautado por um constante esvaziamento de funções e de serviços. Os Centros de Emprego deveriam e poderiam ser interfaces fundamentais entre as pessoas sem emprego e as entidades empregadoras. Deveriam ser um serviço público de qualidade, eliminando os intermediários agiotas que são as Empresas de Trabalho Temporário, e permitindo real aconselhamento profissional e formativo, para um correcto encaminhamento para o emprego. Os Centros vêm sendo sucessivamente enfraquecidos, os seus técnicos e conselheiros de orientação profissional colocados em funções de fiscalização e monitorização de inscritos, o que em tudo se afasta das funções de um Centro de Emprego. Actualmente, num Centro de Emprego não se encontra emprego. Encontramse fiscalizações sucessivas, propostas formativas muitas vezes desajustadas, encontra-se trabalho quase gratuito através dos contratos de emprego-inserção, encontram-se ameaças constantes de cortes nos subsídios. Mas não se encontra emprego. Somos pessoas livres e não aceitamos viver com o termo de identidade e residência que nos é imposto pelas apresentações quinzenais. Denunciamos a mentira que constitui a procura activa de emprego, porque, apesar de o procurarmos, sabemos que ele nos é recusado ou porque somos novos demais ou velhos demais, com qualificações a menos ou a mais, porque somos mulheres ou temos filhos. Rejeitamos a coacção de comprovar a procura activa de emprego com carimbos, que temos que mendigar junto de empresas que sabemos que não nos vão contratar, e que muitas vezes exigem dinheiro em troca. Não aceitamos o escândalo silencioso dos Contratos de Emprego Inserção (CEI) e dos Contratos de Emprego Inserção+ (CEI+), que obrigam a trabalhar
quase gratuitamente quer para instituições públicas quer para instituições privadas (IPSS). A propagação dos CEI e CEI+ tem vindo a destruir o valor do trabalho e diversas carreiras profissionais, como é o caso, por exemplo, da dos Auxiliares de Acção Educativa. Consideramos que a educação e qualificação profissionais são um direito e não algo que se possa impor indiscriminadamente a todas as pessoas com habilitações inferiores ao 12º ano de escolaridade inscritas no Centro de Emprego, obrigando-as a frequentar formações ou processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, muitas vezes desajustados das necessidades, possibilidades ou competências. Denunciamos, rejeitamos e exigimos alternativas a esta farsa em que se tornaram as políticas públicas de emprego em Portugal. Exigimos dignidade. Exigimos que os Centros de Emprego sejam aquilo que o seu nome anuncia: locais que centralizam as ofertas de trabalho, onde os processos de selecção são efectuados por conselheiros de orientação profissional, públicos e qualificados, onde o cumprimento da legislação laboral impera, onde podemos encontrar apoio para a construção de um projecto de emprego e formação. Não aceitamos que sejam locais onde somos ameaçados, vigiados e fiscalizados como se não ter emprego fosse um crime que nos devesse ser imputado. Neste país há 700 mil trabalhadores sem trabalho e que querem trabalhar. Confundir a excepção com a regra é, deliberadamente, querer imputar a responsabilidade de não ter trabalho a quem o perdeu ou a quem o procura. Não aceitamos a mentira e exigimos respeito. NÃO NOS FALEM DE AUSTERIDADE, FALEM-NOS DE DIGNIDADE. Movimento Social Clandestino eopovopa.wordpress.com