ANO IX - EDIÇÃO 61
A REVISTA DO EMPRESÁRIO DO SETOR FUNERÁRIO
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LUTO A
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O MAIS EFICIENTE DO MERCADO ALTA PERFORMANCE | SISTEMA AUTOMATIZADO
Facilidade de Utilização Gerenciamento automático do processo, sem a necessidade de interferência humana.
Pioneirismo Primeiro fabricante exclusivo de fornos crematórios do Brasil.
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Liderança Nacional Liderança consolidada do mercado nacional. Presente em todas as regiões do país.
Selo Ambiental Todos os fornos Brucker são adequados às normas ambientais do CONAMA.
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(17) 3421-4516 vendas@brucker.com.br | www.brucker.com.br FORNOS CREMATÓRIOS DE FABRICAÇÃO 100% NACIONAL
Financiamentos
Editorial Seja bem-vindo a mais uma edição da revista Inmemorian! Nessa 61ª edição nós preparamos várias matérias recheadas com informações interessantes para você! Conheça a empresa que tem inovado ao oferecer serviço funerário online completo, veja como o setor funerário está adaptando seu serviço às classes C e D e conheça a TV Funerário que foi lançada pelo presidente da ABREDIF! Entenda tudo que aconteceu no incêndio do Museu Nacional no Rio, com análise do acervo e da estrutura física do local. Veja os desafios que o nosso pais está enfrentando no setor agrário com relação aos agrotóxicos e como isso afeta sua saúde. Entenda como você pode alinhar a prática de atividades físicas com a prevenção ao câncer. Conheça um pouco sobre o destino turístico mais paradisíaco do Brasil, Fernando de Noronha e conheça a série que impressionou todo mundo trazendo pautas como extremismo religioso e direitos da mulher, O Conto da Aia. Além de tudo isso ainda pode contar com uma análise de como as pessoas agiriam se soubessem quando vão morrer. Boa leitura!
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Equipe InMemorian
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EXPEDIENTE Diretor geral ROBERTO MÁRCIO P. DE CARVALHO Direção de Marketing ROSA CARVALHO Administração Financeira SABRINA COSTA Redação Gabriella Carvalho Layout e diagramação Arte Final Comunicação
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Sindinef Av. Augusto de Lima, 479 sala 604 Bairro: Centro | CEP.: 30190-000 Belo Horizonte | MG | Tel.: (31)3273.8502 (31)3273.8503 www.sindinef.com.br
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Arte Final Comunicação R. Artur de Sá, 131, Salas 403 e 404 União | CEP.: 31170-710 Edifício Torres del Paine Belo Horizonte | MG Telefax: (31)3241.6069 art@artfinal.com.br | www.artfinal.com.br
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Sumário 7
Fique por dentro
Empresa faz venda online de caixão, sepultura, cremação e plano funerário
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Fique por dentro
Morrer também custa dinheiro e setor funerário cresce com serviços voltados às classes C e D
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Curiosidade
Empresa vende caixão de R$64 mil que toca músicas para morto
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Fique por dentro
Presidente da ABREDIF lança TV Funerária no Congresso Urnas Rigon
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Capa
O que se sabe sobre o incêndio no Museu Nacional, no Rio
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Saúde
Meia hora de exercício por dia pode evitar câncer, diz pesquisa
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Brasil
Brasil será “paraíso dos agrotóxicos”, diz pesquisador
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Decole
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Entreternimento
Fernando de Noronha
Por que todo mundo está falando sobre ‘O Conto da Aia’?
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Curiosidade
É mesmo possível um cadáver se mexer?
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Mente
Como seria nossa vida se soubessemos quando vamos morrer
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Fique por dentro EMPRESA FAZ VENDA ONLINE DE CAIXÃO, SEPULTURA, CREMAÇÃO E PLANO FUNERÁRIO Por redação Com a morte de um parente, a família pode se sentir perdida ao ter que tomar as providências para o funeral, desde velório até sepultamento ou cremação do corpo. E ainda sem fazer ideia de quanto vai gastar. De olho nesse filão do mercado, o empresário Siderlei Gonçalves, 45, lançou em abril deste ano, em Taboão da Serra (SP), a startup WebLuto, uma plataforma de e-commerce e marketplace para venda de serviços funerários, sepulturas em cemitérios particulares, cremações, exumações, planos funerários e arranjos para condolências, entre outros. O investimento foi de R$ 350 mil. A projeção de faturamento é de R$ 300 mil mensais, em média, a partir do 2° semestre deste ano. Ajudar a vencer a burocracia num momento difícil Em cidades onde o serviço funerário é municipalizado, como São Paulo, a WebLuto só presta serviço de assessoria funerária. “Presenciei durante muitos anos a dificuldade da família de resolver questões relativas ao luto. Além de estar passando por um momento delicado, a família tem que enfrentar a burocracia e o desgaste de contratar serviços para o funeral e nem saber quanto vai gastar. A plataforma centraliza todos esses serviços”, diz Gonçalves, que trabalhou por 18 anos no Grupo Memorial, voltado ao segmento funerário. Saiu da empresa em dezembro de 2016 para criar a startup. Gonçalves diz que a empresa irá faturar em cima da taxa de adesão para credenciamento de empresas do setor à plataforma e das transações realizadas dentro do e-commerce (taxadas de 5% a 25%).
Funeral custa a partir de R$ 2.100 Na WebLuto, funerais custam a partir de R$ 2.100. Os preços dependem do padrão de atendimento escolhido e podem variar de acordo com a distância do translado do corpo até o local do sepultamento ou cremação. Segundo Gonçalves, não é possível comprar apenas o caixão, por exemplo. “Não se vendem itens. Só é possível contratar o serviço completo”, declara. Planos funerários individuais oferecidos por parceiros na plataforma da WebLuto têm preços de
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Cemitério tem taxa de adesão de R$ 4.000 Segundo Gonçalves, a empresa está na fase de prospecção e credenciamento de cemitérios, crematórios, funerárias, floriculturas e demais prestadores de serviços que atuam no segmento. Até agora, a WebLuto tem cerca de 300 prestadores afiliados. A meta é chegar a 1.200 prestadores em 12 meses. Ele diz que, para estarem credenciados na WebLuto, os parceiros (exceto as floriculturas) têm de pagar uma taxa de adesão única, cujos preços variam de R$ 2.000 (funerárias) a R$ 4.000 (cemitérios). “As empresas têm na WebLuto uma alternativa para geração de negócios.”
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R$ 15 (dependentes com idade até 65 anos) a R$ 99 (dependentes com 80 anos de idade na data de adesão), por mês. Para adesão com mais de quatro dependentes, o sistema aplica desconto de 20% sobre o valor total. O plano funerário tradicional inclui higienização, preparação e translado do corpo, caixão e ornamentação e a organização do velório, entre outros. Outro serviço que a WebLuto oferece é o MeAjuda24h, uma assessoria funerária voltada para cidades que possuem atendimento funerário municipalizado, como São Paulo. “Por telefone, o cliente é orientado sobre as providências a serem tomadas, e a empresa coloca um agente para acompanhar a família nos trâmites necessários para o funeral, sepultamento ou cremação”, diz o empresário. O serviço MeAjuda24h custa a partir de R$ 500. Há também o app WebLuto (disponível para Android e em breve para iOS), por meio do qual o cliente pode acionar a assessoria funerária e contratar serviços. Há mais de 60 decisões para preparar um funeral Gisela Adissi, 43, presidente da Associação dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Acembra) e do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), afirma que são mais de 60 decisões que a família deve tomar diante da morte de algum parente. “Registrar o óbito no cartório, quem contratar, se será enterro ou cremação, local e horário do velório, que tipo de caixão, comprar jazigo e reunir documentação são algumas delas. É uma sequência de ações, mas a maioria das famílias não está preparada para isso”, afirma. Segundo ela, é importante criar uma consciência nas pessoas de como proceder em caso de morte de alguém da família. “Financeiramente, ninguém está preparado para um funeral. Da mesma forma que temos plano de saúde, seguro-saúde ou seguro do carro, deveríamos ter um plano funerário”, declara.
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Empresa deve ter controle logístico dos fornecedores Adriano Augusto Campos, consultor do Sebrae-SP, diz que o negócio da WebLuto oferece praticidade para quem procura esses serviços de luto num mesmo lugar. “Ter uma plataforma que agrega parceiros e prestadores de serviço facilita a compra do cliente, que necessita fazer aquela compra e até aceita pagar mais caro por isso. É como um shopping do luto, onde você encontra tudo de que precisa”, declara. Outro diferencial da empresa, diz Campos, é o atendimento 24 horas, “especialmente para famílias que não têm nenhuma referência ou seguro”. O consultor diz, no entanto, que a empresa precisa ter “uma boa base de fornecedores” e em quantidade para atingir o país todo. “E o atendimento tem de ser, de fato, 24 horas e impecável”, declara. “Se algum dos fornecedores não cumprir o prazo, por exemplo, isso reflete na WebLuto, e o cliente não diferencia quem errou. A empresa deve ter um controle logístico muito apurado”, afirma.
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Fique por dentro Morrer também custa dinheiro e setor funerário cresce com serviços voltados às classes C e D
Diz o ditado que a morte é a única certeza da vida. Mesmo assim, poucos se preparam para esta situação e acabam se assustando com os preços na hora de enterrar um ente querido. Por mais que ninguém goste de pensar nisso, morrer custa dinheiro - o que faz com que cemitérios e funerárias ofereçam serviços destinados às classes C e D. No Brasil, o custo médio de um enterro é de R$ 2,5 mil, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif). Em São Paulo, o valor mínimo para um funeral básico é de R$ 744,21, mas os custos podem ultrapassar R$ 24 mil dependendo do caixão, dos enfeites florais, mesa de condolência, véu e velas. Em tempo de crise econômica, esses valores assustam as camadas mais populares da sociedade. Para atender esse público, que corresponde a três quartos da população brasileira, as empresas do setor desenvolveram diversas soluções com preços mais em conta, como os planos familiares mensais. "Pensar em modelos de negócios que não oscilariam com a crise econômica foi um fator crucial para que déssemos os primeiros passos ao fundar o Colina dos Ipês", afirma João Paulo, Diretor Comercial do Cemitério Colina dos Ipês. "Mesmo assim, um dos nossos maiores desafios foi entregar
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Colina dos Ipês, localizado em Suzano (SP), é exemplo de cemitério com planos funerários populares
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um serviço acessível a todas as classes da região do Alto Tietê e Zona Leste de São Paulo". A empresa, localizada em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, é um exemplo disso. Atualmente possui mais de 70 mil vidas associadas, principalmente com a venda de planos funerários para as classes C e D. A média de sepultamentos no local é de 80 pessoas por mês, atendendo principalmente a região extrema da Zona Leste de São Paulo. Com o foco nas classes populares, o cemitério, fundado em 2002, conseguiu crescer dentro deste segmento. A estimativa de faturamento é de R$ 10 milhões até o fim de 2018, com um crescimento médio de 20% ao ano. O setor funerário como um todo também está em crescimento no Brasil. De acordo com estimativa do Sindicato dos Cemitérios Particulares do Brasil (Sincep), o mercado obteve um faturamento de R$ 7 bilhões nos últimos anos e emprega de forma direta mais de 50 mil pessoas. É um serviço constante: apenas na cidade de São Paulo a média é de 200 óbitos por dia, enquanto que no país chega a 3500 diariamente, de acordo com a Estatística de Registro Civil, do IBGE. De pai para filho A criação do Cemitério Colina dos Ipês é fruto da iniciativa do empreendedor João Lopes de Oliveira. Natural de Itaguajé, no Paraná, ele também morou em Presidente Prudente, região centro-oeste do estado de São Paulo, antes de se estabelecer na capital paulista. Na cidade, ele trabalhou em uma loja de calçados e fez carreira como instalador de telefone. Abriu sua própria empresa para vender linhas telefônicas, a Jotel, mas precisou encerrar o negócio durante a privatização das telecomunicações, na virada do século. Chegou a ter mais de 15 empresas nos mais diversos segmentos, como souvenir, transportadora, material de construção e motel, até ter um insight: trabalhar em algo que sempre tem demanda. Foi o ponto de partida para adquirir um terreno de 90 mil m² em Suzano e dar início ao Cemitério Colina dos Ipês em 2002. "A nossa experiência com os mais diversos setores do mercado, nos proporcionou insights para o nosso negócio, enxergamos um futuro promissor para os serviços de death care dentro do Brasil", conclui João Lopes.
Curiosidade Empresa sueca vende caixão de R$ 64 mil que toca músicas para o morto
O inventor sueco Fredrik Hjelmquist acredita que não é porque uma pessoa faleceu que o indivíduo não possa curtir uma boa música. Pensando nisso, o homem desenvolveu o “CataCombo”, que é descrito no anúncio como “o sistema mais avançado de entretenimento após a morte” (veja o vídeo, em inglês). Caixão com alto-falantes reproduz músicas para o morto (Foto: Reprodução) O produto, que custa pouco mais de 64 mil reais, é equipado com caixas de som internas que reproduzem faixas escolhidas pelo falecido e até por seus familiares. Além disso, o caixão possui um sistema de internet sem fio que permite que pessoas adicionem músicas à lista de reprodução de qualquer lugar do mundo, por meio de um aplicativo, ou mesmo da lápide do falecido, que conta com uma tela sensível ao toque ligada ao aparelho, que envia as escolhas musicais para o esquife. Familiares e amigos podem tocar músicas diretamente da lápide ou via internet (Foto: Divulgação) Fredrik garante no anúncio que o caixão é ligado a uma fonte de energia e tem sistema de refrigeração para que os componentes não superaqueçam. Os interessados podem entrar em contato com a empresa pelo site, e Hjelmquist afirma que já existem empresas funerárias interessadas em vender o caixão musical.
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Sistema ‘CataCombo’ possui alto-falantes e conexão Wi-Fi. Parentes e amigos podem enviar músicas ao falecido de qualquer lugar.
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Fique por dentro Presidente da ABREDIF lança TV Funerária no Congresso Urnas Rigon
A cidade de Indaiatuba – interior de São Paulo – recebeu mais de 200 empresários do setor funerário, vindos de várias partes do país, para o Congresso Urnas Rigon, realizado nos dias 23 e 24 de agosto. Os anfitriões do Evento, os irmãos Leonardo e Leandro Rigon, diretores da empresa que já contabiliza mais de 28 anos de experiencia, apostaram no formato que uniu palestras, debates e exposição de produtos, criando oportunidades de negócio e para ampliação de conhecimentos. Entre tantas novidades, um dos pontos altos foi o lançamento da TV Funerária – um novo veículo de comunicação e relacionamento para o setor – e da Escola de Ensino a Distancia (EAD). Ambos os projetos são comandados pela ABREDIF – Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário – com apoio de diversas entidades e do CTAF – Centro de Tecnologia em Administração Funerária.
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“Nos estamos em constante evolução e nossa comunicação deve acompanhar esse ritmo. A TV funerária é um canal democrático, plural e que deve alcançar ainda mais Diretores Funerários. A plataforma de Ensino a Distancia, que será realidade em breve, também vai permitir que todos, em qualquer parte do país possam se qualificar sob um padrão unico e obter uma certificação padrão”, explicou o presidente da ABREDIF, Lourival Panhozzi.
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A TV Funerária já está no ar e você pode acessá-la através do www.tvfuneraria.com.br. Dá uma espiada! O canal trará a cobertura completa do Congresso Urnas Rigon, que também estará na Revista Diretor Funerário de outubro 2018.
Capa O que se sabe sobre o incêndio no Museu Nacional, no Rio
Fogo destruiu o acervo com mais de 20 milhões de itens. PF investiga causas do incidente, que ocorreu após horário de visitação e não deixou feridos.
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Um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Nacional, na Zona Norte do Rio, entre a noite de domingo e a manhã desta segunda-feira (3). Maior museu de história natural do Brasil, o local tinha um acervo de 20 milhões de itens, como fósseis, múmias, peças indígenas e livros raros.
Em seis horas de incêndio, 90% do acervo do Museu Nacional se perdeu.
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Veja o que se sabe sobre o museu e sobre o incêndio: Causas da tragédia • Ainda são desconhecidas. A Polícia Federal vai investigar. • Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão falou sobre possíveis hipóteses, como curto-circuito e queda de balão.
Como o incêndio ocorreu • As chamas começaram às 19h30 do domingo (2), depois de encerrado o horário de visitação. • Ainda não se sabe em que local do museu o fogo começou. • Boa parte da estrutura do prédio era de madeira, e o acervo tinha muito material inflamável – o que fez o fogo se espalhar rapidamente. • Apenas quatro vigilantes estavam no local, mas eles conseguiram sair a tempo. Ninguém ficou ferido.
Como foi o combate às chamas
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• Os bombeiros chegaram ao local logo depois de iniciado o incêndio, mas, segundo eles, os dois hidrantes próximos ao Museu Nacional não tinham pressão suficiente. • O comandante-geral, coronel Roberto Robadey Costa Junior, disse que a falta de água atrasou os trabalhos em meia hora. • Bombeiros buscaram água de lago e precisaram pedir caminhões-pipa. • A Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) disse que uma “equipe se apresentou no local para verificar a necessidade de apoio aos bombeiros [...]. A Cedae disponibilizou carros-pipa que estão à disposição para uso dos bombeiros, mesmo com a região estando plenamente abastecida”. • O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Lehrer, criticou a atuação do Corpo de Bombeiros: “Há reserva para água no museu. A própria equipe da prefeitura universitária e escritório técnico orientou os bombeiros onde buscar água. Tivemos certamente problemas de logística”. • O diretor do museu, Alexander Kellner, afirmou que o uso de água para apagar as chamas pode ter prejudicado o acervo. • A chuva durante a madrugada desta terça-feira (4) ajudou a apagar alguns focos de incêndio.
Museu Nacional abrigava o maior acervo da América Latina
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Riscos de desabamento • A Defesa Civil do Rio de Janeiro informou na segunda (3) que o local está interditado. Técnicos do órgão identificaram que “existe um grande risco de desabamento, que pode ocorrer com a queda de trechos remanescentes de laje, parte do telhado que caiu e paredes divisórias do prédio”. • Na área externa, no entanto, a avaliação destaca que “devido à espessura das fachadas, não há risco iminente”.
Por que o museu é importante • Criado por D. João VI em 1818, o museu completou 200 anos em junho deste ano. Era a instituição científica mais antiga do país. • Ele tem coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia. Eram mais de 20 milhões de itens. • Foi lá que a princesa Leopoldina, casada com D. Pedro I, assinou a Declaração de Independência do Brasil em 1822. • Anos depois, também foi palco para a primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, que marcou o fim do Império no Brasil.
Tesouros do acervo do Museu Nacional
• O crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas. • Trono do rei de Daomé, presente dado por um rei africano a Dom João VI e um dos primeiros itens do acervo do museu. • Bendegó, meteorito de 5 toneladas que é o maior já encontrado no Brasil. Único item que ficou intacto após o incêndio. • Múmias e objetos egípcios raros comprados por Dom Pedro I e Dom Pedro II, que formavam a maior coleção egípcia da América Latina.
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Museu Nacional tem acervo de 20 milhões de itens e era o maior museu de história natural do país (Foto: Reprodução/Museu Nacional)
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O que foi salvo do fogo • • • • • •
Meteorito Bendegó. Parte da coleção de zoologia. Biblioteca central do museu, outros minerais e algumas cerâmicas. Herbário. Departamento de zoologia de vertebrados. Um crânio - que pode ser de Luzia.
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O que foi perdido
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Acesso aos quartos da família real no terceiro andar do Museu Nacional (Foto: Reprodução)
• Tudo que estava no prédio principal, exceto meteoritos. • Acervo mobiliário do 1º Reinado. • Peças herdadas da família imperial. Problemas estruturais do palácio • O Museu Nacional estava em situação irregular junto aos bombeiros, segundo a corporação. “Há cerca de um mês a organização do Museu entrou em contato com nosso pessoal e teria conseguido recursos. Eles queriam se regularizar junto ao Corpo de Bombeiros, mas não deu tempo”, disse coronel Robadey. • Três dias após o incidente, a corporação confirmou que o museu não tinha um Certificado de Aprovação atualizado. O documento atesta a conformidade das condições arquitetônicas da edificação (área construída, número de pavimentos), bem como as medidas de segurança exigidas pela legislação (extintores, caixas de incêndio, iluminação e sinalização de segurança, portas corta-fogo). • De acordo com a vice-diretora, Cristiana Serejo, o local era extremamente frágil e não tinha portas cortafogo. • O imóvel não tem seguro. • O telhado foi restaurado há menos de quatro anos e a estrutura de madeira dele foi totalmente comprometida no incêndio. • A instituição vinha sofrendo com falta de recursos e tinha sinais de má conservação, como fios elétricos aparentes, cupins e paredes descascadas. • As condições precárias já estavam sendo investigadas pelo Ministério Público Federal havia 2 anos. • O especialista Marconi Andrade, do grupo SOS Patrimônio, disse que havia denunciado várias vezes o estado de abandono do local e que a fiação era muito antiga, revestida com tecido. • O Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, disse à GloboNews que um contrato de revitalização do Museu Nacional foi assinado em junho, mas não houve tempo para que o projeto pudesse acontecer. Segundo ele, houve “negligência” em períodos anteriores.
Infiltração do forro centenário em um dos quartos da família real (Foto: Reprodução)
• A proposta do museu era retirar do palácio e levar para prédios anexos os materiais inflamáveis do acervo. São animais mantidos em frascos com álcool e formol. • De acordo com Luiz Fernando Dias Duarte, diretoradjunto do museu, parte deste acervo inflamável já havia sido retirado, mas outra parte ainda estava lá. • O diretor diz que o projeto previa ainda a instalação de extintores, remodelação e modernização do prédio. • A liberação da verba de R$ 21 milhões, conseguida no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), ocorreria após as eleições para evitar sanções previstas na Lei Eleitoral.
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Projeto de revitalização
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PRESTÍGIO INTERNACIONAL: BRUCKER FORNOS CREMATÓRIOS É HOMENAGEADA EM FEIRA EUROPEIA
No momento em que trilha novos horizontes no mercado internacional de cremação, a Brucker Fornos Crematórios foi homenageada na Funergal – 10º Feira Internacional de Produtos e Serviços Funerários, no dia 09 de novembro, em Ourense, Espanha.
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Representada pelo empresário e diretor Rolandinho Nogueira, a homenagem do órgão organizador do evento foi entregue pelas mãos do diretor Alejandro Rubin Carballo.
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Essa conquista é mais um reconhecimento da visão inovadora e empreendedora dos empresários Marcelo Grecchi e Rolandinho Nogueira, que prestam agradecimentos, em nome da Brucker, a todos os amigos, colaboradores e clientes que fazem parte do sucesso da empresa.
(17) 3421-4516 vendas@brucker.com.br www.brucker.com.br FORNOS CREMATÓRIOS DE FABRICAÇÃO 100% NACIONAL
Financiamentos
Saúde Meia hora de exercício por dia pode evitar câncer, diz pesquisa
Por Estadão Conteúdo
Seguir aquela recomendação básica de se exercitar por pelo menos meia hora por dia durante cinco dias na semana poderia prevenir pelo menos 2.250 casos de câncer de mama e de cólon no País. Se a atividade física fosse feita no nível que provavelmente o ser humano tinha quando vivia em sociedades caçadoras e coletoras, com cerca de 5 horas de exercícios diários, o potencial de prevenção poderia ser de até 10 mil casos. As contas, feitas por um grupo de pesquisadores das Universidades de São Paulo (USP), Federal de Pelotas, de Cambridge (Reino Unido), de Queensland (Austrália) e Harvard, foram publicadas neste mês na revista científica Cancer Epidemiology.
A ideia foi cruzar o conhecimento consistente que já existia de outros estudos científicos – que mostram os benefícios da atividade física na proteção contra esses dois tipos de cânceres -, com a incidência dessas doenças no Brasil e com a taxa de exercícios praticados pelos brasileiros. O dado sobre a atividade física vem da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. Segundo o trabalho, cerca de metade da população (47,6%) não atinge nem sequer os 150 minutos semanais de exercícios recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre as mulheres, a situação é pior (50,7%) que entre os homens (44,2%). Os dados de câncer foram extraídos da OMS e do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O câncer de mama é o mais comum entre mulheres no Brasil
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Menos da metade da população brasileira não atinge os 150 minutos semanais de exercícios recomendados pela Organização Mundial de Saúde
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e no mundo. Por aqui, responde por 28% dos casos novos a cada ano. Para 2018, é estimado o surgimento de 60 mil registros. Para o câncer de cólon, a estimativa é de 36 mil novos casos. Cenário ideal “A literatura científica já traz um bom entendimento sobre os benefícios, mas não sabíamos ainda o impacto que isso teria no Brasil”, afirma Leandro Rezende, doutorando em Epidemiologia na Faculdade de Medicina da USP e primeiro autor de artigo. “A ideia foi comparar a carga de câncer atual registrada no Brasil com a que seria observada se a população tivesse um nível de atividade física ideal para a prevenção do câncer.” Esse ideal, porém, admite o próprio pesquisador, é um número que assusta. Seriam necessárias 5 horas de atividade física diária para alcançar o máximo possível de prevenção – ou os 10 mil casos a menos, o que corresponde a 2,4% do total de registros de câncer hoje no País. “Falamos isso dentro de um cenário teórico ideal. O objetivo da pesquisa não é dizer que tem de fazer isso, ainda mais considerando a vida de escritório nas cidades. A PNS mesmo mostrou que só cerca de 6% da população atinge isso hoje. É o que faz quem trabalha com atividades ocupacionais e caminha o dia inteiro, por exemplo, ou alguns atletas”, diz. “Para efeitos de prevenção ao câncer, é como se ninguém fumasse, não tomasse álcool ou tivesse dieta perfeitamente saudável. É um cálculo sobre o quanto seria possível evitar, em termos de prevenção de câncer, quanto a gente conseguiria evitar”, complementa. Queda Em outra maneira de apresentar os dados, é possível dizer que 12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa e 19% dos de câncer de cólon são atribuíveis à falta de atividade física no País. Com os 150 minutos de exercício por semana recomendados pela OMS, seria possível prevenir 1,3% dos registros de câncer de mama e 6% dos de cólon. À medida em que se aumenta a atividade física, os casos vão caindo mais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Brasil Brasil será “paraíso dos agrotóxicos”, diz pesquisador • • •
Cerca de 30% dos alimentos no país já estão fora do padrão de segurança Pesticidas podem diminuir QI das crianças e provocar vários tipos de câncer Riscos se agravam pela falta de capacidade do Estado de monitorar o uso
Anna Beatriz Anjos
Na última segunda-feira (25), a comissão especial criada na Câmara dos Deputados para discutir o projeto de lei 6.299/2002, que propõe alterações na atual legislação de agrotóxicos, aprovou texto que divide opiniões. De um lado, empresários do agronegócio comemoram o parecer do relator Luiz Nishimori (PR-PR) sob o argumento de que moderniza a aprovação e regulação dos pesticidas. Do outro, organizações de promoção à saúde coletiva e defesa do meio ambiente afirmam que o relatório flexibiliza significativamente o processo, o que representa riscos não só aos trabalhadores do campo, mas também aos consumidores dos alimentos expostos aos agrotóxicos. Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Ceará Fernando Carneiro engrossa o coro do segundo grupo. Integrante do Grupo Temático Saúde e
Empresários do agronegócio comemoram o parecer do relator Luiz Nishimori (PR-PR)
Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e coordenador do Observatório da Saúde das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (OBTEIA), ele garante que as mudanças na lei significam um “retrocesso gigantesco”. Para Carneiro, um dos pontos mais críticos trazidos pelo texto – que agora vai a plenário – é a centralização das avaliações de novos produtos e autorização de registros no Ministério da Agricultura, em detrimento da estrutura tripartite de regulação – a lei em vigordetermina que os ministérios da Saúde e Meio Ambiente também atuem nas análises. “O processo fica concentrado em um órgão totalmente dominado pelo agronegócio, então o risco é de realmente haver a aprovação de substâncias que possam causar todo tipo de problema”, declara.
Há 60 anos, Rachel Carson, bióloga norte-americana, escreveu “A primavera silenciosa”, um clássico da literatura ambientalista, que marca o movimento ambiental mundial e ficou muitos meses entre os livros mais vendidos dos Estados Unidos. Teve uma repercussão tão grande que o governo americano criou uma comissão de cientistas comprovando tudo o que ela havia pesquisado, o que gerou, inclusive, a criação da agência de proteção ambiental nos Estados Unidos. Nós, em 2015, publicamos o dossiê Abrasco, com quase 700 páginas e mais de 60 autores colocando isso. Só que o que a gente vê hoje com esse PL é que, em vez de fazermos um movimento para cuidar da saúde da população e do meio ambiente, estamos vendo exatamente o contrário. O PL é a liberalização,
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Por que o senhor considera que o PL 6.299/2002 represente um retrocesso?
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o desmonte do aparato regulatório brasileiro do registro de agrotóxicos, com a perspectiva de permitir, inclusive, que substâncias muito mais danosas à saúde adentrem nosso mercado. Estamos assistindo a um retrocesso gigantesco. Era para estarmos diminuindo, mas estamos potencializando o uso.
Quais riscos – sociais, ambientais e para a saúde pública – essa proposta representa? Vai ter um impacto direto na saúde do trabalhador, do consumidor brasileiro, da população. Você de repente concentra [o processo de avaliação e aprovação dos agrotóxicos] na agricultura, tirando o papel da saúde e do meio ambiente de olhar a questão por seus ângulos – a saúde pela Toxicologia e o meio ambiente pela Ecotoxicologia. O processo fica concentrado em um órgão totalmente dominado pelo agronegócio, então o risco é de realmente haver a aprovação de substâncias que possam causar todo tipo de problema, tanto de saúde quanto de contaminação do ambiente, o que representa um risco à vida como um todo. Os danos causados pelos agrotóxicos são de várias ordens. Isso que querem chamar de defensivo é um veneno, causa efeitos imediatos e crônicos, desde câncer e até diminuição de QI em crianças. Isso para não falar nos impactos na cadeia alimentar, na nossa fauna. É muito grave o que está acontecendo.
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O uso de agrotóxicos ainda parece um tema distante na realidade urbana – não são todos os consumidores que se preocupam com isso quando vão ao mercado, por exemplo. Quais os riscos à saúde desse consumidor final?
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Para fazer estudos de seguimento e analisar essas questões, pode-se levar 20, 30 anos. São estudos caros e complexos; há a carga hereditária e a carga ambiental de doenças, é necessário que os estudos controlem esses fatores. Mas isso não tem sido prioridade na ciência brasileira. O agronegócio capitaliza o lucro e socializa o prejuízo: analisar uma amostra de agrotóxico no ambiente pode custar mil reais, e poucos laboratórios fazem isso no Brasil. Estamos liberando uma substância que não temos a capacidade de monitorar e vigiar. É caro e o ônus fica para o setor público – o ônus da pesquisa, da vigilância –, enquanto eles capitalizam em cima disso – e a maior parte dos agrotóxicos no Brasil
Para Fernando Carneiro, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Ceará, um dos pontos mais críticos trazidos pelo texto é a centralização das avaliações de novos produtos e autorização de registros no Ministério da Agricultura
nem paga imposto, em vários estados eles têm 100% de isenção. O que já se fez nesse sentido foi por meio da Anvisa, através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos [PARA]. A série histórica que apresentamos no dossiê da Abrasco [com base em dados da Anvisa] dos últimos dez anos mostra que 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros têm resíduos de agrotóxicos e 30% estão irregulares. Então, pelo menos, um terço do que a gente come está fora do padrão, ou seja, tem potencial de dano. Recentemente eles mudaram para essa metodologia de avaliação de riscos e, de um ano para o outro, de repente, esses 30% viraram 1%. A substância é carcinogênica, mas na avaliação de risco, que o PL quer implantar, você tem premissas. Quais são elas? A pessoa vai estar com luva e com máscara. Estando com isso, o risco é aceitável. Agora, vamos olhar para a realidade do Brasil. Como é possível aceitarmos premissas desse tipo sendo que o trabalhador não usa [as proteções], é caro, o patrão não paga o equipamento, que também não é adequado à nossa realidade, é quente. A premissa da avaliação de risco é que tudo isso está funcionando muito bem, cabe tudo no modelo teórico. Esse é o cavalo de troia desse projeto de lei: mudar de avaliação de perigo para avaliação de risco. Abrasco
Outra questão apontada como delicada pelos críticos do projeto é a criação do registro temporário para
produtos que já sejam registrados em pelo menos três países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que obedeçam ao código da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Você pensa da mesma forma? Estão dizendo que existe uma tal burocracia, que leva-se até oito anos para obter o registro de um agrotóxico no Brasil, mas isso é fake news porque compara a estrutura de países como Brasil e Estados Unidos. Na Anvisa há 20 ou 30 técnicos para analisar os pedidos de [registro] de agrotóxicos, na FDA [Food and Drugs Administration], a similar norte-americana, são 700. Aqui uma empresa paga poucos mil reais para fazer o processo de registro, nos Estados Unidos pode chegar a um milhão. A fila aqui é grande porque não se investe na capacidade de órgãos reguladores e porque é barato registrar, sendo que o registro é eterno – para você tirar um produto de circulação, tem que fazer uma reavaliação a partir de denúncia etc. O registro temporário é para forçar a barra e, em vez de investir na capacidade de análise dos órgãos – fazendo concurso, pagando equipe –, colocar uma faca no pescoço do órgão e dizer “se você não liberar o pedido em dois anos, o produto entra no mercado”. Eles falam dos problemas, mas o PL não é solução para nenhum deles. Ele está longe de resolver o problema da população, só resolve o problema das empresas. Vai virar o paraíso dos agrotóxicos, porque já é barato e eterno, vai poder tudo.
Ao discutir a flexibilização da legislação de agrotóxicos, o Brasil segue uma tendência mundial ou vai na contramão dos países mais desenvolvidos? Vai totalmente na contramão. Na Europa, foram colocadas mais restrições [ao uso de agrotóxicos]; a própria China, que tem um modelo selvagem de desenvolvimento, tem feito ações desse tipo. O Brasil está na contramão da história mundial. Lembra um pouco a década de 80, na época de Cubatão, em que os militares diziam “poluição, venha a nós, poluição é desenvolvimento”. Está muito parecido.
O Brasil adotou um modelo que chamamos de neoextrativismo. Basicamente, nas últimas décadas nos desindustrializamos e a economia foi puxada pela exportação de bens primários, tanto agrícolas como minerais. Houve o tempo da bonança, mas depois, com a crise e a queda dos preços, esse modelo entrou em colapso. O agrotóxico simboliza o modelo capitalista selvagem. Um modelo que distribua renda e preserve os ecossistemas, acho que seria possível apenas com a aplicação plena da agroecologia. Recentemente estive no Encontro Nacional de Agroecologia, o ENA, em Belo Horizonte, onde mais de 70% [do público] era de agricultoras e agricultores. Eles contam que começam a fazer a transição agroecológica, aí vem o vizinho com o avião, [pulveriza] o agrotóxico e as pragas fogem para onde? Para as áreas onde não há veneno. Isso causa um problema. Outra situação: escutei vários agricultores que têm caixas de abelhas, aí vem o avião e mata tudo. Vem a deriva [produzida quando o agrotóxico ultrapassa os limites da área que se pretende atingir], vai para a propriedade vizinha e dizima as abelhas. Há também casos de aviões sendo utilizados como forma de expulsar indígenas de suas terras, usados como arma de guerra. O PNARA surge quase como uma transição: vamos pelo menos reduzir o uso de agrotóxicos e trabalhar para fortalecer a agroecologia, porque é muito desigual o apoio de um modelo em relação ao outro. Quando se definiu que 30% da merenda escolar tem que ser proveniente de agricultura familiar, preferencialmente agroecológica, foi uma canetada que ajudou a desenvolver a agroecologia em todo país. Uma simples medida como essa. É possível criar formas de promover um modelo em relação ao outro, pois historicamente a gente vê o contrário. O agricultor que quer plantar sem veneno tem até hoje dificuldade de conseguir empréstimo no banco, porque se exige a nota fiscal fiscal do veneno, do adubo químico. É muito difícil convencer o gerente que não é necessário gastar com isso, que é possível gastar com outras coisas.
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Em contraposição ao PL 6.299/2002, seus críticos defendem a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA), transformado em projeto de lei que tramita na Câmara. É possível reduzir o uso de agrotóxicos sem repensar o modelo de produção agropecuário que hoje vigora no Brasil?
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Fernado de Noronha
Decole
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O Arquipélago de Fernando de Noronha mexe com o imaginário de muitos brasileiros. O lugar tem fama de ser um paraíso na Terra, e quer saber? É mesmo. Algumas de suas praias são as mais bonitas do Brasil, a água tem uma coloração incrível e a vida marinha... ah, essa é tão rica que é quase impossível descrever. O mergulho com cilindro é considerado um dos melhores do mundo e, mesmo nas praias, você pode nadar entre pequenos tubarões e tartarugas. Com 21 ilhas e ilhotas, apenas 17km² e a menor BR do Brasil, há quem duvide que Fernando de Noronha mereça todos os elogios que se ouve, mas é tudo verdade, ninguém exagerou. A beleza do lugar é inquestionável. Quando se fala em natureza, preservação e biodiversidade, o distrito, que pertence a Pernambuco, está de parabéns. Só vendo para crer. Basta um mergulho pelas águas cristalinas da Baía do Sancho ou um snorkel na Baía dos Porcos para entender a magia de Noronha. As praias recortadas em meio a grandes formações rochosas parecem ter sido desenhadas à mão. A mistura de tons verdes, azuis-claros e escuros do mar são o cenário perfeito para quem busca tranquilidade e um pouco de inspiração.
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Noronha foi uma base militar com ótimo sistema de fortificação e também prisão, que deixaram como herança fortalezas com uma bela vista para o pôr do sol. Hoje em dia sua área está dividida entre a APA (Área de Preservação Ambiental) e o Parque Nacional Marinho, que fazem a proteção do lugar. Ver golfinhos acompanhando os passeios de barco e tubarões num mergulho no mar não são fatos nada raros. Mas a beleza tem seu preço e ele não é nada baixo. O turista que vai a Noronha precisa desembolsar um bom dinheiro, já que tudo chega na ilha apenas de avião ou por embarcações - mas não desanime, o lugar vale cada centavo. O acesso à ilha é controlado e por isso vale a pena programar bem a viagem. Fique o máximo de dias que puder nesse paraíso: ande, conheça, explore e se encante com esse lugar que, orgulhosamente, faz parte de nosso país.
As principais atividades em Noronha giram em torno do mar. Basta sair um sol para que todos os turistas queiram ir à praia para curtir um mergulho refrescante. Quem quer se surpreender com água cristalina e visual paradisíaco não pode deixar de ir à Praia do do Sancho ou à Baía dos Porcos. Já para quem quer ficar perto do centrinho, ir à Praia da Conceição é a melhor ideia - essa praia é um point na ilha, especialmente no fim de tarde.
Se gosta de aventura, vale a pena fazer o agendamento de uma das trilhas que o Parque Nacional Marinho oferece. O agendamento deve ser feito com alguns dias de antecedência e algumas trilhas requerem a presença de um guia. A trilha da Atalaia curta não precisa de guia e é bem fácil de fazer; já a Atalia longa que tem cerca de 4h de duração é mais puxada, mas igualmente bela! À noite, uma boa pedida é sair para jantar em um dos ótimos restaurantes que a ilha possui. Se quiser participar de palestras educativas, você pode ir ao Projeto Tamar. Para quem prefere uma noite mais animada, a dica é dançar no Bar do Cachorro, um dos locais mais conhecidos da ilha para desfrutar da vida noturna!
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Além do Bar do Meio, o pôr do sol em Noronha também pode ser apreciado de outros locais, entre eles o Forte Nossa Senhora dos Remédios ou São Pedro do Boldró - ambos têm um visual deslumbrante! Aproveitando toda a pureza da água, reserve um dia para fazer um mergulho com cilindro, ou mesmo com snorkeling, e você ficará deslumbrado com a diversidade marinha de Noronha. Peixinhos, tartarugas e pequenos tubarões são visitantes que podem ser observados na Praia do Sueste ou na Praia do Porto.
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Entreternimento Por que todo mundo está falando sobre ‘O Conto da Aia’?
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Romance da escritora canadense Margaret Atwood lançado em 1985 permanece assustadoramente atual.
“O Conto da Aia’ não é um manual de instrução”, diz a placa da manifestante, em registro da própria Margaret Atwood em uma Marcha das Mulheres em 2016, em Toronto. 26
Imagine que, em um futuro próximo, o presidente e quase todos os congressistas do Brasil são assassinados por um grupo cristão fundamentalista. Em seguida, ele assume o poder, suspende a constituição e instaura uma ditadura militar. Agora o Brasil é uma teocracia. Os direitos das mulheres são retirados – e elas se tornam o centro desse novo sistema. Elas são divididas entre férteis e inférteis. As que podem ter filhos – poucas, pois a degradação do meio-ambiente causou danos à fertilidade de quase todas as mulheres – são mantidas na casa dos comandantes do governo para, uma vez por mês, serem estupradas por eles. O objetivo imposto a elas é trazer novas vidas ao país, agora chamado de “Gilead”. Este é, em resumo, o universo no qual acontece a história de O Conto da Aia(The Handmaid’s Tale, no título original), romance da escritora canadense Margaret Atwood lançado em 1985. A “República de Gilead” ocupa o que já foi chamado de Estados Unidos. O livro voltou a ser assunto recorrente quando Donald Trump foi eleito presidente dos EUA em 2016. A obra voltou às listas de bestsellers da Amazon na companhia de outra distopia: 1984, de George Orwell. Inúmeras referências ao livro de Atwood foram feitas em recentes protestos
feministas, incluindo a Marcha das Mulheres contra Trump realizada em janeiro. Agora adaptada para a TV, na série The Handmaid’s Tale, exibida pelo serviço de streaming Hulu, a história que Atwood criou ampliou ainda mais seu sucesso.
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A ascensão de líderes populistas, como Trump e Marine Le Pen, candidata da extrema-direita à presidência da França que chegou ao segundo turno, tem sido comparada ao enredo de ambos os livros, cujas narrativas distópicas, vistas frequentemente como “proféticas”, de fato podem apresentar semelhanças com a vida real. “O Conto da Aia conversa diretamente com as tensões que têm se construído [no mundo] desde que Atwood escreveu a narrativa”, defende Marlene Goldman, especialista em literatura canadense contemporânea da Universidade de Toronto, em entrevista ao HuffPost Brasil. Goldman diz que a história do livro é sobre nações-estados que incitam à xenofobia e usam a religião como estratagema para justificar a remoção de direitos dos cidadãos. Em O Conto da Aia, quando a facção fundamentalista Filhos de Jacob suprime o governo com um golpe, a culpa é atribuída aos fanáticos islâmicos. “O romance é estranhamente presciente. Atwood sempre teve um entendimento afiado da política, da família ao estado-nação”, diz. A professora de literatura considera o romance “de fato, profético”. A história O Conto da Aia é centrado em Offred. Ela perdeu a filha e o esposo para a República de Gilead e se torna uma das aias; a protagonista serve a um comandante do alto escalão do governo. Não fica claro qual é o nome real da personagem. Ela é apenas chamada de “Offred”, que se origina de “of Fred” – em livre tradução para português, “do Fred”. Em Gilead, as aias são, literalmente, possessões de seus comandantes. Elas vestem o corpo todo de vermelho, exceto a cabeça, na qual elas usam uma touca branca com duas grandes abas, que as impedem de ver ao redor e de serem vistas também. As Esposas dos Comandantes são donas de casa inférteis e usam vestidos verdes. As Marthas são responsáveis pela limpeza e pela comida da casa dos Comandantes. As aias são preparadas para o posto pelas Tias – treino que inclui humilhações e tortura.
nn Dowd (à esq.) como tia Lydia na série do Hulu, com Elisabeth Moss.
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Capa da nova edição de ‘O Conto da Aia’, feita por Laurindo Feliciano para a Rocco.
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Os Comandantes as estupram no período fértil, em um ritual bizarro no qual elas se deitam entre as pernas das Esposas dos Comandantes, enquanto os chefes as penetram. Se as aias tentam escapar, são assassinadas, pois a vigilância é intensa nas ruas de Gilead. Gays são chamados de “traidores do gênero” e são enforcados, assim como médicos que praticavam abortos em mulheres, antes dos Filhos de Jacob assumirem o poder. A história é narrada por Offred e soa como o relato de uma testemunha. Atwood se baseou em notícias para construir o universo e o enredo de O Conto da Aia. Em seu acervo, na Thomas Fisher Rare Book Library, biblioteca da Universidade de Toronto – Atwood se graduou em Inglês na instituição, nos anos 1960 –, encontram-se com o manuscrito do romance os recortes de jornais feitos pela autora. São reportagens sobre o cerceamento às liberdades das mulheres e poluição do meio ambiente. “O Conto da Aia alerta que, tipicamente, pessoas que buscam poder criam hierarquias que consolidam o poder masculino e patriarcal”, analisa a professora. “Insistem que a perda da liberdade das mulheres é justificável porque proporciona ‘liberdade’. A falsa mensagem nisso é que mulheres precisavam de proteção da brutalidade masculina e essa proteção, supostamente, implica no escravizamento pelo estado.” No Brasil, O Conto da Aia foi lançado pela Rocco, e no meio deste ano, ganhará uma nova
edição, com nova capa. Tiago Lyra, editor da obra, atribui o sucesso do livro à “força literária” da autora, e por ela trazer à ficção especulativa temas que ainda são mais relevantes no século 21, como a opressão feminina e o fundamentalismo cristão na política. “É difícil não associar as preocupações sociais que o livro lança ainda nos anos 1980 ao cenário político mundial atual”, diz. “Toda boa ficção científica carrega uma certa dose de ‘profecia’, já que trabalha potencializando temas que ainda são incipientes hoje e levando ao que poderiam ser suas consequências lógicas.” Lyra e Goldman são da opinião de que as instituições democráticas da vida real são frágeis. “O Conto da Aia apenas reflete sobre o que está ao nosso redor”, diz o editor. “A ficção de Atwood serve para qualquer um ingênuo o suficiente para pensar que direitos e liberdades democráticas são eternos”, defende a professora. De fato, o livro é assustador. A autora o escreveu com concisão e olhar atento aos detalhes do dia a dia de Offred. Há frases aterradoras, como quando a protagonista descreve o quarto que habita na casa do Comandante e percebe uma marca no teto: “Deve ter havido um lustre, antes. Eles tinham removido qualquer coisa em que você pudesse amarrar uma corda”. A escritora – hoje com 77 anos, mora em Toronto com seu parceiro, o escritor Graeme Gibson – venceu o icônico prêmio de ficção científica Arthur C. Clarke por O Conto da Aia. Ela também foi indicada ao Booker Prize e ao Nebula. Atwood é autora de aproximadamente 60 livros, incluindo romances, infantis, contos, poesia, não ficção e quadrinhos; frequentemente, ela é cotada para o Nobel de literatura. Outros trabalhos importantes dela são Vulgo Grace, O Assassino Cego, Oryx e Crake e Olho de Gato.
“Margaret Atwood é uma autora que sabe transitar muito bem entre diferentes gêneros. Com isso, ela quebra preconceitos já antigos em torno do que é ‘literatura’ e o que são gêneros populares, ou ‘de entretenimento’”, diz Lyra. “Em O Conto da Aia, tudo que conhecemos daquele mundo é através do relato extremamente subjetivo de Offred, que às vezes decorre como um fluxo de consciência. Cabe ao leitor preencher as lacunas de como a sociedade americana chegou àquele ponto, e é só no final do livro que entendemos por que é feita essa escolha. Assim, a autora consegue oferecer um romance ao mesmo tempo intimista no plano de sua personagem e tão panorâmico quanto uma distopia pode ser.” Goldman diz que Atwood é única na literatura canadense por adotar uma escala épica em suas histórias, mas sem abrir mão de seu “olhar infalível para cada detalhe doméstico”. “A escrita de Atwood trai seu treinamento inicial como poeta. Cada palavra, cada frase contém um soco. No caso de O Conto da Aia, isso serve bem. Os leitores não podem ignorar a mensagem. Nós entendemos que direitos e liberdades não são eternos. Uma inundação de detalhe sensual nos transporta para o mundo de Gilead – um mundo que, assim como o nosso, está encharcado com a banalidade do mal.”
A série
A canadense Margaret Atwood é considerada um dos principais nomes da literatura contemporânea em língua inglesa.
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Após adaptações para cinema e ópera – e, atualmente, para os quadrinhos –, O Conto da Aia chegou à TV neste ano por Bruce Miller, roteirista e produtor de séries como E.R. e The 100. Com episódios disponibilizados semanalmente (em exceção dos três primeiros) no Hulu desde abril, o seriado é uma produção do serviço de streaming e da MGM Television. No elenco estão Elisabeth Moss – colecionadora de indicações ao Emmy e ao Globo de Ouro, por trabalhos em Mad Men e Top of the Lake – como Offred, Samira Wiley (Orange is the New Black), Yvonne Strahovski (Chuck), Joseph Fiennes (Shakespeare Apaixonado), Alexis Bledel (Gilmore Girls), Ann Dowd (The Leftovers) e Max Minghella (A Rede Social). O seriado tem feito grande sucesso de público e crítica; uma segunda temporada já está confirmada. O Hulu está indisponível no Brasil, mas a série começará a ser exibida no Brasil pelo canal Paramount neste domingo (11). Outras adaptações baseadas em obras de Margaret Atwood estão em produção: Vulgo Grace (Alias Grace) uma minissérie dirigida por Mary Harron (Psicopata Americano), com roteiro de Sarah Polley (indicada ao Oscar por Longe Dela e amiga pessoal da escritora) já está disponível na Netflix. The Heart Goes Last, outra distopia – na qual criminosos estão à solta e o restante das pessoas está presa –, teve direitos de adaptação comprados também pela MGM. O livro infantil Wandering Wenda também vai virar série, pela emissora canadense CBC.
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Curiosidade
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É mesmo possível um cadáver se mexer?
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Isso é possível e tem uma explicação científica! Quando a pessoa é considerada morta, suas atividades cerebrais deixam de funcionar, há ausência de todas as funções neurológicas e não podem mais transmitir informações para as demais partes do corpo, a pessoa é dada como morta e não poderá realizar mais nenhuma atividade. As células que formam os tecidos começam a perder suas atividades e todos os órgãos entram no estado de decomposição ao longo do tempo, assim como acontece com todos os seres vivos. Porém, algum tempo após a morte acontece uma rigidez muscular chamada de Rigor mortis (rigidez cadavérica). Essa rigidez é causada pela falta de ATP (trifosfato de adenosina) uma substância química que nos ajuda a obter energia através dos alimentos. Quando a pessoa está morta, essa substância começa a ficar escassa e os músculos começam a iniciar o processo de rigidez, principalmente nas articulações, ficando assim por certo período de tempo que varia muito entre os seres vivos e só depois relaxam quando inicia o processo de decomposição dos tecidos. Então a explicação é bem simples: devido essa rigidez muscular que vai surgindo após a morte, a mesma vai contraindo os músculos e ao atingir algumas partes do corpo como os braços e pernas tendem a mover-se rapidamente, como um espasmo, que pode ser chamado de espasmos cadavéricos, ou seja, a pessoa continua morta (não se preocupe) apenas seus músculos com a ausência de ATP ficam sem energia e não podem realizar mais o movimento de contração, ou seja, não conseguem mais esticar e/ou relaxar, por isso apresentam esse tipo “aparente” de movimento, muitas vezes confundindo as pessoas ao redor que pensam que a mesma está viva! Com certeza será muito assustador estar num velório e perceber que o corpo se moveu ou o seu braço saiu do caixão… (Eu sairia correndo com certeza)! Mas, não se preocupe e não precisa entrar em pânico, os espasmos não duram muito tempo e podem variar bastante dependendo da temperatura do ambiente, fatores que levaram à morte da pessoa e até mesmo o jeito na qual o corpo foi encontrado, seja num acidente ou na cama de um hospital, as condições são diversas e tudo isso pode influenciar no processo da rigidez cadavérica!
Mente Como seria nossa vida se soubessemos quando vamos morrer?
Para pessoas saudáveis, a morte geralmente exerce uma influência subconsciente. “Na maior parte do tempo, passamos os dias sem pensar em nossa mortalidade”, diz Chris Feudtner, pediatra e especialista em ética do Hospital Infantil da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. “Lidamos com isso focando em coisas que estão mais à nossa frente”. O que aconteceria, no entanto, se não houvesse dúvida sobre o momento de nossa morte? E se de repente soubéssemos exatamente o dia e como morreríamos? Embora isso seja impossível, considerações cuidadosas desse cenário hipotético podem lançar luz sobre nossas motivações como indivíduos e sociedades - e dar pistas de como usar nosso tempo limitado na Terra da melhor forma possível. Primeiramente, como a morte define o comportamento no mundo? Nos anos de 1980, psicólogos passaram a estudar como lidamos com a enorme ansiedade e o medo da percepção de que não somos nada além de “peças de carne conscientes que respiram e defecam e que podem morrer a qualquer momento”, como define Sheldon Solomon, professor de psicologia de Skidmore College, em Nova York. A teoria de gerenciamento de terror, cunhada por Solomon e colegas, sugere que os humanos se apegam a crenças culturalmente construídas - de que o mundo tem sentido, por exemplo, e de que nossas vidas têm valor - a fim de afastar o que de outra forma seria um terror existencial paralisante. Em mais de mil experimentos, pesquisadores concluíram que, quando lembrados de que vamos morrer, nos apegamos mais às nossas crenças e nos esforçamos para aumentar o senso de valor próprio. Também ficamos mais defensivos de nossas crenças e reagimos com hostilidade a qualquer coisa que as ameace.
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Você e todos os que já conheceu irão morrer um dia. De acordo com psicólogos, essa verdade desconfortável fica escondida no fundo de nossas mentes e acaba direcionando tudo o que fazemos, desde ir à igreja, comer vegetais e fazer ginástica a nos motivar a ter filhos, escrever livros e fundar um negócio.
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Mesmo acenos sutis à mortalidade - como um flash de 42,8 milissegundos da palavra “morte” na tela do computador ou uma conversa que comece numa casa funerária - são suficientes para engatilhar mudanças comportamentais. Como são algumas dessas mudanças? Quando lembrados da morte, tratamos aqueles que são semelhantes a nós em aparência, inclinação política, origem geográfica e crenças religiosas de forma mais favorável. E nos tornamos mais desdenhosos e violentos com pessoas que não compartilham dessas semelhanças.
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Professamos um compromisso mais profundo com parceiros românticos que validam nossas visões de mundo. E estamos mais inclinados a votar em líderes mão de ferro que incitam o medo de pessoas de fora. Também nos tornamos mais niilistas, bebendo, fumando, comprando e comendo em excesso - e ficamos menos preocupado com o meio ambiente. Se todo mundo de repente soubesse o dia e a forma da morte, a sociedade poderia se tornar mais racista, xenófoba, violenta, belicista, auto e ambientalmente destrutiva do que já é. Mas isto não é uma predestinação. Pesquisadores como Solomon acreditam que, ao se tornar cientes dos efeitos negativos da ansiedade pela morte, poderíamos combatê-los. Na realidade, cientistas já registraram alguns exemplos de pessoas derrubando essas tendências gerais. Monges budistas da Coreia do Sul, por exemplo, não respondem dessa forma aos lembretes de morte. Pesquisadores estudaram um estilo de pensamento chamado “reflexão sobre a morte” e notaram que as reações são diferentes se as pessoas pensam em morte de maneira ampla ou, ao contrário, se forem específicos sobre como o episódio ocorreria e qual impacto ele teria em suas famílias. Nesse último caso, as pessoas ficaram mais altruístas - com a vontade, por exemplo, de doar sangue, mesmo que não houvesse uma demanda imediata. Elas também ficam mais abertas a refletir sobre os papéis positivos e negativos de eventos em suas vidas. Com essas descobertas, saber o dia da morte poderia levar indivíduos a focar mais em objetivos de vida e vínculos sociais em vez de se isolarem. Isso seria especialmente verdadeiro “se promovêssemos estratégias para aceitar a morte como parte da vida e se esse conhecimento fosse integrado a nossas escolhas de vida e comportamento”, diz Eva Jonas, professora de psicologia da Universidade de Salzburgo, na Áustria. “Entender a escassez da vida pode aumentar a percepção de valor da vida e desenvolver um senso de que
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Os mesmos processos provavelmente aconteceriam sob o cenário hipotético da data de morte. “Mesmo que você saiba que tem mais 60 anos, eventualmente essa expectativa de vida será medida em apenas alguns anos, meses e dias”, diz Feudtner. “Quando o relógio se aproxima do desfecho, acho que veríamos pessoas se movendo em duas direções diferentes”. Aqueles que tentam impedir a morte podem ficar obcecados em evitá-la, especialmente com o tempo se esgotando. Alguém que sabe que se afogará pode praticar natação incessantemente para ter uma chance de sobrevivência, por exemplo; e alguém que sabe que vai morrer em um acidente de trânsito pode evitar veículos a todo custo. Outros, no entanto, podem seguir o caminho oposto - tentando terminar a vida em seus próprios termos. Isso permitiria, de certa forma, ter controle sobre o processo. Jonas e seus colegas descobriram, por exemplo, que quando pediam às pessoas que imaginassem que sofreriam uma morte lenta e dolorosa por uma doença, aquelas que tiveram a opção de terminar a vida sentiram
ter mais controle e menos ansiedade da morte. Aqueles que seguem o caminho aceitando a sentença de morte podem reagir de várias formas. Alguns ficariam energizados para aproveitar ao máximo o tempo que lhes resta, atingindo altos níveis de conquistas criativas, sociais, científicas e empreendedoras. “Gosto de pensar que saber o dia da morte traria o melhor de nós, que nos daria uma amplitude psicológica para sermos capazes de fazer mais por nós mesmos e nossas famílias e comunidades”, diz Solomon. Realmente, há evidências promissoras de sobreviventes de traumas de que ter a noção do tempo limitado que nos resta pode motivar o auto aperfeiçoamento. Embora seja difícil coletar dados dessas pessoas, muitos insistem que eles mudaram profundamente, e de forma positiva. “Eles dizem estar mais fortes, mais espirituais, reconhecem mais possibilidades positivas e apreciam mais a vida”, diz Blackie. “Eles chegam à conclusão de que ‘uau, a vida é curta, eu vou morrer um dia, preciso tirar o máximo proveito disso’”. No entanto, nem todo mundo se tornaria o melhor de si próprio. Em vez disso, muitas pessoas provavelmente escolheriam acabar com
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‘estamos todos no mesmo barco’, aumentando a tolerância e a compaixão e minimizando as respostas defensivas”. Personalidades mórbidas Independentemente de a sociedade como um todo tomar um rumo bom ou ruim, como reagiríamos à informação de nossa morte poderia variar de acordo com a personalidade e as especificidades do grande evento? “Quanto mais neurótico e ansioso você for, mais preocupado estará com a morte e incapaz de se concentrar em mudanças significativas na vida”, diz Laura Blackie, professora-assistente de psicologia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. “Mas, por outro lado, se você souber que vai morrer em paz aos 90 anos enquanto dorme, talvez não se preocupe tanto com isso”. Se a vida termina aos 13 ou aos 113 anos, estudos sobre indivíduos com doenças terminais podem lançar luz sobre as típicas respostas à morte. Os pacientes de cuidados paliativos, diz Feudtner, muitas vezes experimentam duas fases de pensamento. Primeiro, eles questionam a própria premissa de seu diagnóstico, perguntando-se se a morte é evitável ou não. Depois disso, eles contemplam como aproveitar ao máximo o tempo que lhes resta. A maioria cai em uma das duas categorias: eles decidem colocar toda a sua energia e foco em fazer tudo o que podem para vencer a doença, ou optam por refletir sobre suas vidas e passar o maior tempo possível com os entes queridos, fazendo coisas que lhes tragam felicidade.
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a vida e parar de contribuir significativamente para a sociedade - não necessariamente porque são preguiçosos, mas porque são tomados pela sensação de falta de sentido. Como explica Caitlin Doughty, agente funerária, autora e fundadora do coletivo Ordem da Boa Morte: “Você estaria escrevendo esta reportagem se soubesse que morrerá no próximo mês?” (Provavelmente não). Sentimentos de inutilidade também podem fazer com que muitas pessoas desistam do estilo de vida saudável. Se a morte está predestinada para um período específico, “não vou mais perder tempo comendo alimentos orgânicos, beberei minha Coca normal em vez da sem açúcar, talvez experimente algumas drogas e coma Twinkies (bolinho industrializado) o dia todo”, lista Doughty. “Muito de nossa cultura é projetado para se evitar a morte”.
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Possivelmente, no entanto, a maioria dos indivíduos alternaria entre estar supermotivado e niilista, escolhendo uma semana para “sentar em casa e despejarCheez Whiz (molho de queijo) em um pacote de biscoitos e assistir (à série) Law and Order no Netflix” e na outra “se voluntariaria para preparar sopa (para a população pobre)”, diz Solomon. Mas independentemente de onde nesse espectro estejamos, até os mais iluminados - especialmente ao se aproximar
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do dia da morte - se tornariam ocasionalmente “uma ruína trêmula”. “Mudanças são estressantes”, concorda Feudtner. “Estamos falando aqui da maior mudança que pode acontecer ao um indivíduo - a de não estar mais vivo”. Pausa religiosa Em termos práticos, não importa onde vivemos, nossa vida mudaria totalmente se soubéssemos quando iríamos morrer. Muitas pessoas podem começar terapia, que acabaria desenvolvendo uma subárea relacionada à morte. Novos rituais sociais e rotinas poderiam surgir, com dias da morte celebrados como aniversários, mas contados para baixo em vez de para cima. E as atuais religiões seriam abaladas em seu cerne. Cultos podem surgir no rastro espiritual. “Vamos começar a adorar este sistema que nos diz quando vamos morrer? Fazer oferendas ao sistema? Entregar nossas filhas virgens?”, questiona Doughty. “Sem dúvida isto impactaria a crença religiosa”. Os relacionamentos seriam certamente afetados. Descobrir alguém cujo dia da morte está perto do seu próprio se tornaria um requisito obrigatório para muitos, e aplicativos de encontros que filtrassem a informação tornariam a tarefa mais fácil. “Uma das coisas que provocam medo da morte geralmente mais do que sua própria morte - é a perda do ente amado”, diz Doughty. “Por que eu ficaria com alguém que vai morrer aos 40 se eu vou viver até os 89?” Da mesma forma, se fosse possível saber o dia da morte a partir de uma amostra biológica, alguns pais poderiam abortar os fetos que fossem morrer muito jovens para evitar a dor de perder o filho. Outros - sabendo que não sobreviveriam até certa idade - poderiam optar por não ter filhos, ou fazer o oposto, ter muitos filhos o mais rápido possível. Também teríamos que lidar com novas leis e normas. De acordo com Rose Eveleth, criadora e produtora do podcast Flash Forward (no qual um episódio explorou uma hipótese parecida sobre o dia da morte), a legislação deveria ser pensada em torno da privacidade do dia da morte para evitar discriminação do empregador e do prestador de serviço. Figuras públicas, de um lado, podem ser obrigadas a compartilhar datas antes de se candidatar (ou podem causar polêmica se se negarem a fazê-lo). “Se um candidato à presidência sabe que morrerá três dias após o início do mandato, isso importa”, ressalta Eveleth. E se não for legalmente requisitado, alguns
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indivíduos podem escolher tatuar o dia da morte em seu braço ou numa plaqueta de identificação militar, de modo que - em caso de acidente-os profissionais de resgate saibam que não terão como revivê-los, diz Eveleth. A indústria funerária também seria profundamente impactada: ofereceria serviços aos que ainda estão vivos e não a famílias em luto. “As casas funerárias não poderiam mais assediar pessoas em luto para tirar o máximo de dinheiro possível”, diz Eveleth. “Isso coloca o poder nas mãos dos consumidores de uma forma positiva”. No grande dia, algumas pessoas podem dar festas como aqueles que optam pela eutanásia estão começando a fazer na vida real. Outros, especialmente aqueles que morreriam colocando outras pessoas em perigo, podem sentir-se ética ou emocionalmente compelidos a se isolar. Outros ainda, diz Eveleth, podem escolher usar sua morte para um propósito artístico ou pessoal superior, participando de uma peça em que todos de fato morrem no final ou encenando uma morte por uma causa em que acreditam. Se soubéssemos o dia e a forma como morreremos, nossas vidas seriam profundamente afetadas. “A civilização humana se desenvolveu totalmente ao redor da ideia de morte”, diz Doughty. “Eu acho que (esse conhecimento) iria minar completamente o nosso sistema de vida”.
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