Ed 51

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ANO VIIII - 51 - NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2015

A REVISTA DO EMPRESÁRIO DO SETOR FUNERÁRIO

DE LUTO PELO

mundo


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EDITORIAL

Nesta edição da In Memorian, falamos um pouco sobre as maiores tragédias que aconteceram nesse mês de

Novembro: uma bem perto de nós, em Mariana, e outra um pouco mais longe, em Paris. Porém, nenhuma distância se tornou impedimento para milhares de pessoas se solidarizarem com os acontecimentos que, falando o mínimo, foram catastróficos. Negligência ou religiosidade, a Revista escolheu a causa como tema para a matéria principal, e esperamos que você, leitor, também se posicione a parte de não apenas essas duas grandes tragédias, mas também de tudo de ruim que acontece ao redor do mundo. Assim como dizia Cassia Éller, “O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Bom, talvez agora, estamos finalmente prestando atenção.

Nas indicações de leitura, indicamos “País do Carnaval” primeiro livro do aclamado autor Jorge Amado, um livro

que merece um lugar de destaque na sua estante. E, para o filme, indicamos documentário da diretora e roteirista gaúcha Mirela Kruel, que fala sobre a relação entre Drummond e professora. Você não pode perder! Viaje para Itacaré, uma das paisagens intocadas pelo homem, localizada no sul de Salvador, e descubra sua beleza e seus destinos ecoturísticos, perfeitos para os amantes dos esportes radicais. Em Mil e Uma Histórias, Antônio Gobbo traz mais uma de suas fantasiosas e divertidas histórias, “A Mão da Bruxa”. Divirta-se!

No Luto, dizemos adeus à Yoná Magalhães, eterna e talentosa atriz, com mais de 60 anos de carreira.

E ainda, matérias exclusivas sobre o Mundo Funerário, que contou com um workshop realizado pelo SINDINEF,

“Conhecendo a nova resolução da Secretaria de Estado de Saúde”.

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Esperamos que desfrute desta edição da Revista InMemorian!

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EXPEDIENTE Diretor geral ROBERTO MÁRCIO P. DE CARVALHO Direção de Marketing ROSA CARVALHO Administração Financeira SABRINA COSTA Redação Gabriella Carvalho Layout e diagramação Arte Final Comunicação

INMEMORIAN www.revistainmemorian.blogspot.com www.revistainmemorian.com.br twitter: inmemorian inmemorian.revista@gmail.com tel. (31)3241 6069

nº 51| Ano V IIII |nov | dez 2015

SINDINEF Av. Augusto de Lima, 479 sala 604 Bairro: Centro | CEP.: 30190-000 Belo Horizonte | MG | Tel.: (31)3273.8502 (31)3273.8503 www.sindinef.com.br

ARTE FINAL COMUNICAÇÃO R. Artur de Sá, 131, Salas 403 e 404 União | CEP.: 31170-710 Edifício Torres del Paine Belo Horizonte | MG Telefax: (31)3241.6069 art@artfinal.com.br | www.artfinal.com.br

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14 VALE ASSISTIR

29 ESSÊNCIADO DOSABOR SABOR ESSÊNCIA

MUNDO FUNERÁRIO

16 DECOLE

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Mundo Funerário

A melhor forma de superar o medo da morte é viver com verdade, dizem especialistas

A cantora Lana Del Rey, 30 anos, disse

recentemente à Revista ‘Billboard’ que tem pânico da morte. Ela revelou ainda que recorre à terapia três vezes por semana. Tinha apenas quatro anos quando “percebeu” que a morte é inevitável. Desde aí, Lana Del Rey vive em constante sobressalto. “Lembro-me de ver um programa na TV no qual uma pessoa era assassinada. Perguntei aos meus pais: ‘Vamos todos morrer?’ Eles disseram: ‘Sim’. Fiquei completamente devastada e desatei a chorar”, recordou.

A cantora ainda relatou: ‘Aconteceu algo nos

últimos três anos, com os meus ataques de pânico… estão piores. É difícil ter uma vida normal quando sabemos que todos nós vamos morrer”. Além da morte, a cantora disse que também tem medo de tubarões. TANATOFOBIA: MEDO DA MORTE

Na mitologia grega, Tanato ou Tanatos era

sobre os mortos no mundo inferior. Assim como Hades para os gregos, tem uma versão romana (Plutão), Tanatos também tem a sua: Orco (Orcus em latim) ou ainda Morte (Mors). Era conhecido por ter o coração de ferro e as entranhas de bronze.

Diz-se que Tanatos nasceu em 21 de Agosto,

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a personificação da morte, enquanto Hades reinava

sendo a sua data de anos o dia favorito para tirar vidas. 9


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Mundo Funerário

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Tanatos era filho de Nix, a noite, e Érebo, a noite eterna

temem ir embora. Por que temos tanto medo de

do Hades. Era irmão gêmeo de Hipnos, o deus do

morrer?

sono e era representado como uma nuvem prateada

Cristiana Savoi: Essa é uma pergunta instigante. A

ou um homem de olhos e cabelos prateados. Tanatos

morte é mistério e como tal gera medo e fascínio. Medo

tem um pequeno papel na mitologia, sendo eclipsado

do fim, medo da perda, medo do desconhecido…

por Hades. Tanatos habitaria os Campos Elísios junto

Ninguém sabe o que vem depois… se é que há um

com seu irmão.

depois . O medo da morte é quase universal naqueles

Três Medos – segundo o filósofo Jacques

que se sabem mortais. Animais morrem, mas não têm

Choron existem três tipos de medo da morte: medo

consciência da sua mortalidade e por isso não temem

do que vem depois da morte (ligado as religiões,

a morte .

castigos, solidões, sentimento de culpa, etc.), medo

Adriana Santos: Quando o medo da morte é uma

do evento ou do processo de morrer (sofrimento

doença?

prolongado, fraqueza, dependência, estar exposto e

Cristiana Savoi: Quando ele é grande o suficiente

vulnerável, etc.) e medo do “deixar de ser” (é o mais

para paralisar a vida. Quando é disfuncional e gera

terrível, é conflito entre o nada versus a continuidade

limitações nas atividades diárias da pessoa. Quando

após a morte, o não ser).

causa sofrimento desproporcional. Um pouco de

O medo é um sentimento natural e necessário

medo é necessário à nossa sobrevivência. Por medo

para que sejamos prudentes frente a perigos. No

de morrer, não atravesso a rua sem olhar. Mas se deixo

entanto, medo excessivo é patológico. Segundo,

de sair de casa porque posso morrer atropelada, algo

Osho, em “O Livro do Viver e do Morrer: Celebre a Vida

está errado.

e Também a Morte”, o medo surge não por causa da

Adriana Santos: As pessoas no final da vida, por

morte, mas por causa da vida não vivida. E, por causa

conta de doenças terminais, sentem muito medo de

do medo da morte, a velhice também causa medo,

morrer?

pois esse é o primeiro passo para a morte. Do contrário,

Cristiana Savoi: O medo está presente muitas

a velhice também é bela. Ela é o amadurecimento do

vezes, mas não obrigatoriamente. E nem sempre é

seu ser, é maturidade, crescimento.

o medo da morte em si. Pode ser medo da dor, da

Conversei com duas profissionais sobre o

incapacidade, da dependência, do abandono. Como

processo de morrer: a vice presidente da Sotamig,

dizia Epicuro, não precisamos temer a morte, pois

Cristiana Savoi, e a psiquiátrica e coordenadora do

quando ela está, nós não estamos.

Grupo de Enlutados- GAL, Mariel Paturle. Confira:

O medo da morte não é diretamente ligado à

ENTREVISTA COM CRISTIANA SAVOI

proximidade dela, no sentido temporal. Acredito que

Adriana Santos: A morte é inevitável, mas muito

a intensidade do medo de morrer tenha mais relação


com a percepção de cada um, com a experiência de

viveram despreparadas para viver. Vivemos negando

vida, com as crenças e espiritualidade do paciente.

a morte, a escondendo, a dissimulando. Vivemos

Há doentes muito graves que, na iminência da morte,

como se fôssemos imortais. Já diz Mário Quintana;

são capazes de experimentar grande aceitação,

“Esta vida é uma estranha hospedaria, da qual saímos

serenidade e paz. Vivem de modo pleno a experiência

quase sempre às tontas, pois as nossas malas não

de morrer. Estão vivos no momento final. Há diversos

estão prontas e a nossa conta nunca está em dia”…

relatos emocionantes de pacientes. A impressão que

Adriana Santos: Qual a melhor idade para se falar

tenho é de que o medo da morte é inversamente

sobre a morte com as crianças?

proporcional ao sentido que se atribui à própria vida.

Um dos objetivos da nossa associação, a SOTAMIG

Adriana Santos: Como ajudar os pacientes terminas

( Sociedade de Tanatologia e Cuidado Paliativo de

para uma boa morte?

Minas Gerais), é o da educação para a morte, que

Antes de tudo, é preciso ter conhecimento técnico

deve começar desde cedo, na infância. Começar

no caso do médico, saber prescrever analgésicos,

a trazer para as crianças a ideia que a morte é algo

remédios pra controle dos sintomas desagradáveis,

natural, que faz parte da nossa condição humana

como falta de ar, agitação, vômitos e tantos outros,

e que acontecerá a todos nós. Isto pode ser feito a

que podem ser intensos e devem ser tratados com

todo momento em que ocorrer na vida da criança

eficiência e rapidez. Esse é o primeiro passo. É

algum questionamento, ou pergunta a respeito.

necessário conhecer o paciente, seus desejos e seu

Estas informações serão passadas de acordo com a

conceito de ‘ boa morte’ . Pra isso, a comunicação

capacidade de compreensão e entendimento destas

é imprescindível. O que é importante para aquela

crianças, aproveitando fatos corriqueiros da vida,

pessoa? Estar em casa? Estar lúcido? Ter a companhia

tipo a perda de um animal de estimação ou a morte

de alguém especial? A relação de confiança e respeito

de um amigo ou de um parente. E também permitir

entre o paciente, a família e os profissionais de saúde

que elas compareçam a funerais, a velórios e sejam

é a base para que se construa a ‘ boa morte’, ou a

apresentadas a estes rituais. Isto deve ser feito, com

melhor morte possível…

o consentimento da criança, se ela manifestar esta

ENTREVISTA COM MARIEL PATURLE

vontade de ir.

Adriana Santos: Por que ainda temos tanto medo de

Adriana Santos: Falar sobre a morte é sintoma de

morrer?

depressão?

Mariel Paturle: Temos medo da morte porque na

Falar sobre a morte, ao contrário do que se imagina,

nossa cultura não somos preparados para lidar

não é um assunto depressivo, macabro ou que deva

com as perdas e nem com a nossa morte. Assim, as

ser evitado. Pelo contrário, percebemos que falar da

pessoas morrem despreparadas para morrer, como

morte, é falar da vida! A morte nos remete ao sentido

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Mundo Funerário

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Mundo Funerário da vida. Ver a vida, sob a ótica da morte. Ela nos ensina a viver melhor. Ela é muito útil e prática para nos dizer que se o tempo é limitado,( não sabemos quando iremos, só que iremos um dia) então devemos aproveitá-lo e viver da melhor forma possível evitando procrastinações e adiamentos e de uma forma responsável. Frente à possibilidade da morte, tudo se ilumina no seu aspecto essencial. Estaremos alertas para o que estamos fazendo do nosso tempo de viver, o que estamos buscando e construindo nas nossas vidas. Adriana Santos: A senhora tem alguma dica para perder o medo da morte? Mariel Paturle: Se vivermos bem, de uma forma intensa, com bons vínculos e relacionamentos com as pessoas, se conseguirmos realizar os desejos da nosso coração, se sentirmos que a nossa vida valeu a pena, será na minha opinião, mais fácil ir embora. Poderemos ir serenos, sem grandes arrependimentos, sabendo que cumprimos a nossa missão, que o nosso tempo foi útil e proveitoso. Principalmente, se desenvolvemos o nosso potencial espiritual. Se crescermos como seres humanos. Sabendo que a nossa vida será transformada, que algo de nós permanece vivo e em constante evolução. Parece que tememos a morte, pois estamos no geral, muito identificados com o nosso corpo e vivendo de uma forma muito materialista. Temos medo de morrer porque não sabemos quem somos! Se tivermos a consciência da nossa espiritualidade, se a tivermos trabalhado em vida, poderemos ir tranquilos!

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Fonte: Saúde do Meio

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BOA LEITURA I

País do carnaval

Jorge Amado é um escritor que dispensa

maiores apresentações. É um autor reconhecido pela sua vasta produção literária. O homem é um gênio da raça. Seus personagens ganharam e ainda ganham o imaginário de todos os leitores do Brasil e do mundo.

inventou um Brasil diferente. Sua prosa é cativante. Um contador de histórias de primeira linha. Sua narrativa é simples, econômica carregada de uma ironia fina. Um homem que dedicou sua vida à literatura e, em certo período, à militância no Partido Comunista Brasileiro. Quando abandonou a militância, dedicou-se (dito em suas próprias palavras) ao ofício que sabia fazer melhor: escrever. Nunca parou de produzir. Seu romance de estreia “O país do carnaval” foi uma obra que ganhou elogios enfáticos de críticos nada amigáveis, o que acabou catapultando-o para o cenário literário do Brasil da época, aos 18 anos de idade. O livro foi escrito em 1930 e publicado em 1931, foi traduzido para três línguas diferentes: espanhol, francês e italiano, além de ter sido editado em Portugal. Jorge Amado acabou vendo sua primeira obra sendo queimada em praça pública em 1937 em Salvador, Bahia, durante o regime do Estado Novo. No livro “O país do carnaval”, Jorge Amado nos mostra um país de liberdade e desordem. Os personagens deste romance enfrentam conflitos existenciais, cada um tentando desvendar o sentido da própria vida e, assim, tentam entender o caldeirão cultural em que vivemos com um pouco de coerência e de incoerência. Os personagens apresentam suas dúvidas e dificuldades cotidianas e suas tentativas de compreender os valores

deste país. Expressa o clima intelectual da época, marcado pela ideia de crise e incerteza. Seria um livro de época? Creio que não. Quando vemos nos dias de hoje a crise e a incerteza em que vivemos, o primeiro pensamento que muitos vislumbram é o aeroporto. Há oitenta cinco anos este livro foi escrito. Podemos nos perguntar: o Brasil mudou? Sim, mudamos um pouco. Mas mantemos as mesmas contradições de séculos guardadas debaixo do tapete. O sonho do futuro sempre nos arrasta para o nosso passado imperfeito. Até quando? O livro traz uma excelente reflexão, no posfácio de José Castello, para entendermos a obra em questão. Diz ele: “Seu primeiro romance é, em resumo, um amálgama das perguntas que o formaram como escritor. Uma espécie de rascunho do próprio Jorge Amado. Todo escritor escreve a partir das perguntas que consegue formular.” “O país do carnaval” nos seus oitenta e cinco anos de existência permanece com as mesmas perguntas sem respostas. O que fazer com todas as incertezas e ausência de valores éticos presentes nos dias atuais? Uma coisa é certa: as respostas para essas questões não podem ser carnavalescas. Um livro que merece um lugar de destaque na sua

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Através de seus romances podemos dizer que ele

estante.

Fonte: Luiz Guilherme de Beaurepaire | Bons Livros para ler

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VALE ASSISTIR I |

Ultimo Poema Filme sobre relação de Drummond e professora é joia de sensibilidade Este documentário da diretora e roteirista gaúcha Mirela Kruel é uma pequena joia de lirismo e sensibilidade. Centra-se na relação epistolar travada entre Helena Maria Balbinot Vicari, uma jovem estudante de Guaporé (RS), e o poeta Carlos Drummond de Andrade, missivista de mão cheia.

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Tudo começou no fim de 1962, quando Helena, que

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cursava o ensino médio, decidiu escrever ao autor

amizade, numa aproximação gradativa cheia de afeto

mineiro falando do entusiasmo que sentia por sua obra

e cumplicidade.

e da divergência de opinião com sua professora de

Isso é feito com grande economia de recursos, que

português, que preferia Cecília Meireles.

enfatizam a força da poesia e as possibilidades de

Para surpresa da jovem, o poeta respondeu a carta, e

liberdade que ela suscita para uma jovem do interior

ambos se corresponderam durante 24 anos, até meses

cuja família austera não entendia seu fascínio pela

antes da morte dele, em 1987.

literatura.

A narrativa exibe trechos das cartas e poemas de

Além dos depoimentos da própria Helena, hoje

ambos, mostrando como a afinidade entre os dois, que

professora aposentada, Kruel usa atores –Janaína Kremer

nunca se encontraram pessoalmente, foi se tornando

(Helena na juventude) e Rodrigo Fiatt (Drummond)–,


VALE ASSISTIR I |

que vão urdindo uma teia que mistura o amor pela poesia, a trajetória pessoal de Helena, reflexões sobre vida, a angústia diante da morte e a maior das intimidades: a solidão. Janaína aparece frequentemente em descampados, declamando ou recitando trechos de cartas, rodeada por páginas que se espalham pelo chão ou que estão penduradas em varais como lençóis. Rodrigo faz o mesmo caminhando pelo Rio e em espaços como bibliotecas e escadarias. No Arpoador, olha o mar e se diz que ainda é um interiorano, estabelecendo um paralelismo com a amiga. Uma menina (Ana Júlia Chiodi Alberti) aparece em alguns momentos. Além de representar Helena quando criança,

Um tom grave domina o filme. Sintomaticamente, Helena diz que se não escrevesse, Drummond seria um depressivo, um melancólico.

O ÚLTIMO POEMA DIREÇÃO Mirela Kruel ELENCO Janaína Kremer, Rodrigo Fiatt, Ana Júlia Chiodi Alberti

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pode ser vista como uma alegoria da própria poesia, da pureza que levou Helena a se aproximar do escritor.

PRODUÇÃO Brasil, 2015, livre

Fonte: Folha de SP 15


Mundo Funerário

Conheça a rotina da maquiadora de mortos

Quase ninguém entende o nome do ofício a que Enilda Freitas Schultz, 63 anos, se dedica há cerca de

três décadas. Quando ela explica o significado do prefixo da palavra “necromaquiadora”, a primeira pergunta, em espanto, costuma ser a mesma: — Você não tem medo? Enilda repete a resposta:

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— Os mortos não piscam o olho, não reclamam. É mais fácil do que com os vivos.

Proprietária de um salão de beleza por mais de 20 anos, a cabeleireira conciliou o trabalho com as duas

clientelas por muito tempo. Bastava atravessar a Avenida Professor Oscar Pereira para transitar entre um e outro mundo: de um lado da avenida, cortava cabelos e aplicava tinturas no salão que levava o seu nome.

Do outro, nas Funerárias Reunidas, embelezava cadáveres. Chegou a maquiar a mesma cliente nos dois

endereços. Preparou até o cadáver da própria mãe, quando recém começava a desvendar as peculiaridades da atividade. Enilda não buscou essa especialização — o convite veio até ela, em 1987.

Um funcionário da funerária vizinha perguntou se alguém da equipe do salão poderia reconstituir a face de

uma menina de cinco anos atropelada por um caminhão sem freios. A esteticista aceitou e, na iniciação de improviso, foi observada pelo pai da criança em todo o processo. Ela voltou a ser requisitada eventualmente, até a maquiagem 16


Mundo Funerário ser incorporada como um dos serviços permanentes oferecidos pela Reunidas no momento do óbito. — No começo me impressionava com criança, o caixãozinho pequenininho, branquinho. Hoje não me impressiono com nenhum tipo de morte — assegura Enilda, que rejeitava refeições com carne nos primeiros tempos e agora procura desfazer qualquer eventual mal-estar com uma volta para admirar as vitrines da Avenida da Azenha.

A tranquilidade diante do fim alcançada na maturidade contrasta com o temor dos anos de juventude.

Enilda jamais passava pela região da Oscar Pereira repleta de cemitérios e funerárias. Lembrava sempre uma história de assombração relatada repetidas vezes pelo pai.

Uma mulher, contava ele, havia tomado um táxi em frente a um cemitério. Depois de ela ter desembarcado

no destino, o motorista percebeu um objeto esquecido dentro do carro. Ele então retornou ao local e pediu informações, dando as características físicas e de vestimenta da passageira. A resposta de um morador deixou o condutor em choque. — Ele soube que ela havia morrido há muitos anos — recorda Enilda, rindo. — Costumo ouvir que os mortos puxam os pés, andam por aí. Os mortos não incomodam ninguém.

Enxergar a tarefa com naturalidade não isenta a profissional de sustos. Certa vez, Enilda atendia um menino

quando sentiu o que classifica como um “congelamento na medula”, muito pior do que um “frio na espinha”: entrelaçadas sobre o abdômen, as mãos do garoto se soltaram, batendo com força e estrondo nas laterais da urna de madeira.

Em outro episódio, ela terminava de pintar as unhas de um cadáver quando percebeu uma pressão nos

dedos — era o defunto, garante, impedindo-a de retirar a mão. “Bom, vivo não está”, cogitou, na tentativa de se tranquilizar. “Se estivesse vivo teriam visto no laboratório”, concluiu, pensando que uma possível ressurreição seria flagrada pelos colegas que executam a tanatopraxia (procedimento que retarda a decomposição). Verificou se o serviço de manicure estava bem feito e seguiu adiante.

Personalidade da morta dita cores

Enilda está sempre à disposição da funerária, a qualquer hora do dia ou da noite. Em 28 anos de profissão,

onde às vezes é forçada a largar pretendentes no meio da pista.

Quando é convidada para uma dança, acomoda o celular no decote da blusa, contra o peito, para sentir

a vibração das chamadas e não perder nenhum cliente por conta da música alta. Ao sair, não revela o motivo da urgência. — Tenho que ir para o meu plantão — avisa Enilda depois de atender ao telefonema. — Você é médica? — questiona o par da dança. — Não — resume ela, sem detalhes, ao correr para a porta.

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teve de abandonar incontáveis festas de aniversário e ceias de Natal. Gosta de frequentar bailes da terceira idade,

Responsável pela última etapa da preparação do corpo antes do traslado do esquife para o velório, Enilda

verifica as orientações repassadas pelo agente funerário ao chegar. O falecido já está vestido e acomodado no caixão adornado com flores quando ela veste as luvas. 17


nº 51| Ano V IIII |nov | dez 2015

Mundo Funerário

Há famílias que trazem de casa o batom, o perfume

pente, vaporizando-os com fixador.

ou a peruca da preferência de quem se foi. A sessão

— Gosto de receber elogio.

de maquiagem é rápida com os homens, apenas uma

Há dias em que Enilda está mais reflexiva, divagando

cobertura fosca suavizando o aspecto cadavérico. Nas

sobre a identidade e a trajetória do morto. Já encarou

mulheres, Enilda se detém um pouco mais — é possível

vítimas de acidentes de trânsito, assassinatos com

fazer a pintura padrão, bastante simples, ou a social,

múltiplos tiros, crimes passionais executados à faca. Nos

mais marcante, com rímel, sombra, delineador.

casos mais difíceis, utiliza uma massa restauradora para

Ela diz analisar a personalidade do morto ao escolher

o preenchimento dos orifícios de ferimentos.

as cores. Em um dos atendimentos da última semana,

— Tem rico, tem pobre, e termina tudo na mesma coisa.

posicionou a maleta com uma variedade de tons de pó

O cheiro é o mesmo. A diferença entre vida e morte é só

compacto, batom, sombra e esmaltes ao lado do caixão

o tempo da palavra: você pode terminar de falar “vida” e

e avaliou a senhora a sua frente, uma paciente que não

já estar morto.

resistiu às complicações de um câncer.

Enegrecidos, os lábios da senhora vitimada pelo

— As mais festeiras têm maquiagem definitiva,

câncer recebem então uma camada de base, depois

como eu — exemplifica Enilda, que imprimiu traços

pó compacto. O batom finaliza o trabalho no rosto.

permanentes no contorno dos lábios, ao redor dos

Nas unhas, a pintura com um rosa antigo é realizada

olhos e nas sobrancelhas. — Esta devia ser uma senhora

nas mãos já entrelaçadas, o que dificulta o alcance do

discreta, que gostava de cores claras — conclui.

pincel. A esteticista tenta não borrar os dedos da idosa,

Começa cobrindo com uma camada de pó as zonas

evitando ter de usar acetona. Minuciosa, colore até o

escurecidas — marcas deixadas, provavelmente, pela

polegar direito — na posição em que repousa sobre a

pressão de aparelhos usados na internação hospitalar.

barriga, o dedo está encoberto, nem se pode vê-lo.

Enfermidades arrastadas, diz Enilda, impõem ao doente

— Se alguém conferir, vai ver que estão todos pintados

uma expressão sofrida.

— explica Enilda.

Para atenuar a palidez da pele, aplica blush. Tira o

Ela se afasta um passo. Satisfeita, aprecia o resultado:

excesso da cobertura rosada com as mãos. Como tem

— Mudou? Total. Parece que está dormindo.

prática com cabelos, vai além das obrigações para 18

as quais é contratada: ajeita os fios grisalhos com um

Fonte: Jornal Zero Hora


LUTO |

Yoná Magalhães

Morreu no Rio de janeiro, na terça-feira do dia

20 de outubro, a atriz Yoná Magalhães, aos 80 anos. Yoná estava internada, desde o dia 18 de setembro, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul do Rio. Em nota, o hospital informou que, no dia em que deu entrada na unidade, a atriz foi submetida a uma cirurgia para corrigir uma insuficiência cardíaca.

Atriz de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964),

Yoná Magalhães entrou para a vida artística para ajudar a família quando o pai ficou desempregado. “Eu tinha que ajudar de alguma maneira, não sabia muito como, queria continuar os meus estudos. Gostava de brincar de teatro, essas coisas que todo mundo faz. Então eu digo: ‘Quem sabe não é por aí, né?’ Fui fazendo pequenas pontas, pequenos papéis, isso em meados da década de 1950, até que consegui um contrato com a Rádio Tupi”, afirmou a atriz em entrevista ao Memória Globo em 2000.

Ao longo de mais de 60 anos de carreira,

trabalhou

em

novelas

como

“Saramandaia”

(1966),”Roque Santeiro” (1985), “Tieta” (1989), “Meu bem, meu mal” (1990) e “A próxima vítima”(1995). Sua última novela foi “Sangue bom” (2013).

Além das novelas, Yoná esteve nas minisséries

“Grande sertão: Veredas” (1985), adaptação para a TV do clássico romance homônimo escrito por Guimarães Rosa, “Engraçadinha... Seus amores e seus pecados” (1995) e “Um só coração” (2004). Fez ainda os seriados “Carga pesada” (2005) e “Tapas & Beijos” (2011), atuou em episódios do “Você decide” e “A vida como ela é” e nos humorísticos “Zorra total” e “Sob nova direção”. Fonte: G1Rio


CAPA |

nº 48| Ano VIIII |ma i |j un 2015

DICAS PARA TER UMA

20

DE LUTO PELO

mundo

A cada dia que passa, mais tragédias são anunciadas em jornais, e a esperança pelo mundo melhor, vai se esvaindo de nossas mãos


Mariana, quinta-feira, dia 05 de

Novembro de 2015. Duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco se rompem, causando uma enxurrada de lama que inunda várias casas do distrito de Bento Rodrigues, na Região Central de Minas Gerais. Pelo menos sete pessoas morreram, e 18 ainda estão desaparecidas. Um cidadão de Governador Valadares deu o seguinte depoimento: “Infelizmente, o Brasil ainda não sabe o que está acontecendo aqui em Minas Gerais. Os veículos de ‘desinformação’, para amenizar a tragédia, continuam omitindo fatos e números importante. São centenas de milhares de pessoas afetadas pelo fato. Toda a economia dos municípios está comprometida. As escolas suspenderam as aulas, a agricultura está comprometida porque não tem chuva, o comercio já quase parou, pois não tem água, nem para os banheiros; bares e restaurantes estão adotando material descartável para servir, mas não existem panelas descartáveis e essas precisam ser lavadas. A construção civil também foi afetada; não há água para o banho das pessoas. Hospitais e asilos, presídios e serviços essenciais estão sendo abastecidos por

para se abastecer de água, o que está onerando os cofres públicos com o alto consumo de combustível - isso quando conseguem passar pelas estradas bloqueadas pela manifestação de caminhoneiros. Todos - eu disse todos - os peixes morreram envenenados, e já se pode sentir o ‘cheiro’ a quilômetros de distância. Esse é o quadro que o Brasil precisa conhecer.”

nº 51| Ano VIIII nov |dez 2015

caminhões pipa, que precisam ir a outros municípios

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CAPA |

Paris, sexta-feira, dia 13 de Novembro

de 2015. Uma série de atentados, possivelmente coordenados, atingiu a capital francesa nesta noite. De acordo com o Ministério do Interior, foram mais de 120 mortes confirmadas. Todos os ataques foram em locais de grande concentração de pessoas: bares, restaurantes, casas de show e o estádio nacional Stade de France. A polícia francesa invadiu a casa de espetáculos Bataclan, onde matou três terroristas e encontrou ao menos cem mortos. No local estava acontecendo a apresentação da banda Eagles of the Death Metal.

Autoridades pediram que os cidadãos de Paris

permanecessem, em suas casas durante a madrugada deste sábado (14). Zonas de segurança foram instaladas e várias equipes de socorro mobilizadas. Para analistas, esses ataques terroristas podem ser retaliação de extremistas islâmicos contra os bombardeios franceses história da França.

na Síria.

Vários governantes de outros países já se

manifestaram sobre o atentado. “Estamos chocados com esta nova manifestação de loucura, de violência terrorista e de ódio, a qual condenamos da forma mais radical, juntamente com o papa e todos aqueles que amam a paz”, disse Federico Lombardi, chefe da Sala

nº 51| Ano VIIII nov |dez 2015

de Imprensa da Santa Sé, citado pelo norte-americano Washington Post. “Rezamos pelas vítimas e pelos feridos, e por todos os franceses. Este é um ataque à paz de toda a humanidade e exige uma resposta decisiva e apoiada por todos nós.”

Daqui a poucos dias, líderes das principais

nações do mundo estarão reunidos em Paris para discutir o que fazer em relação às mudanças climáticas. As reuniões serão realizadas ainda sob a sombra dos atentados que já ficaram registrados como os piores da

Os ataques em Paris geraram uma campanha

na internet com várias pessoas colocando a bandeira da França como pano de fundo de seus perfis no Facebook, e levou uma parte da rede a criticar essa ação, pela falta de interesse no desastre em Mariana e uma “preferência” da mídia em expor os ataques no estrangeiro, mas não cobrirem devidamente o sofrimento de populações locais. Podemos, obviamente, desvendar a lógica que existe por trás disso. A França, ex-potência colonial e mundial, um dos países mais ricos e poderosos do mundo, nação que inspira o mundo pela sua história, sua cultura, país europeu sendo um dos berços de nossa sociedade e um dos centros do mundo, provavelmente receberá mais atenção midiática do que um acontecimento interno de má administração e negligência em um país periférico, ex-potência ascendente, nação sul-americana em crise econômica

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DEmundo LUTO PELO

e política, que possui uma cultura que preza mais pela

desastre natural e o desastre humano são exemplos do

exaltação do estrangeiro do que por sua própria, o que

descaso que se tem pela vida das pessoas.

muitos chamam de“síndrome de vira-lata”. Não podemos

deixar de mencionar o descaso da grande mídia com o

que segurava resíduos tóxicos e a punição baixíssima

que acontece diariamente em diversos países na África,

para o ocorrido mostra que as empresas envolvidas

o que acontece com a própria Síria e outras populações

não estavam muito interessadas nas consequências

de países da região do Oriente Médio, não inspirando

de que poderia ocorrer o desastre que foi noticiado, e

nenhum tipo de ação coletiva na internet. Isso sem falar

governo não quer ter uma parte de seu financiamento

na possível relação que a mídia possui com as empresas

comprometido caso decida por uma punição mais

envolvidas na administração da barragem, mineradoras

rigorosa. O autodenominado Estado Islâmico, em

com grande poder econômico e grande financiadoras

suas ações extremistas, por defender uma visão que é

de campanhas eleitorais, a quem os R$250 milhões em

criticada e negada dentro do próprio Islã, não se importa

multa pelo desastre ambiental não supera o montante

com a vida das pessoas a quem eles atacam, nem a

de doações para campanhas políticas na última eleição.

vida das pessoas às quais as reverberações de seus

Infelizmente, parece que nos dois cenários

ataques irão atingir. Governos eurocéticos e de direita

narrados neste texto, o que menos se levou em

já levantaram voz de que irão endurecer as políticas de

consideração foi a vida humana. Independente de se foi

acolhimento de asilados. Ao mesmo tempo, o grupo

em Mariana, no coração de nossa pátria ou em Paris, o

terrorista se aproveita de uma busca desesperada das

nº 51| Ano VIIII nov |dez 2015

A negligência na conservação de uma barragem

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CAPA |

famílias que fogem do conflito por paz e uma nova chance de seguirem com suas vidas para infiltrar seus militantes entre aqueles que pedem asilo e levam à sociedade europeia a temer os refugiados e é possível que uma onda contra a aceitação do pedido de refúgio torne este cenário que já era complexo ainda mais difícil de harmonizar.

Cabe a nós, portanto, fazer uma reflexão interna sobre tudo o que está acontecendo no mundo, e com o

nº nº 51| 51| Ano Ano VVIIII IIII |nov nov | |dez dez 2015

mundo. Como podemos ajudar e nunca, nunca abaixar a cabeça e aceitar qualquer situação sem lutar. Devemos

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expor nossas opiniões e desejos, sempre respeitando o próximo, e questionar a tudo e a todos. Mas, por agora, nos resta o Luto atual, tanto por Mariana, quando por Paris, pelos países no Oriente Médio, na África e à todos aqueles que sofrem diariamente.

mundo

ESTAMOS DE LUTO PELO


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nยบ 51| Ano VIIII |nov|d ez 2015


DECOLE | Itacaré

Itacaré

nº 51| Ano V IIII |nov | dez 2015

O paraíso é aqui!!!

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DECOLE | Itacaré

Itacaré possui uma paisagem encantadora,

formada por uma seqüência de praias, cuja natureza ainda está praticamente intocada pelo homem, com morros cobertos por florestas e muitos coqueiros. É a primeira praia da “Costa do Cacau”, no litoral baiano, ao sul de Salvador.

Situada entre o mar e a Mata Atlântica, Itacaré

é a opção ideal para quem gosta de praia aliada à vida noturna com bastante agitação, pois sempre há shows e festas, além dos bares e boates que funcionam o ano todo. As praias de Itacaré atraem muitos surfistas, em

função das ondas fortes, consideradas as melhores da Bahia, e das águas quentes o ano inteiro. Para manter tudo no seu devido lugar, a cidade não abre mão das trilhas, única maneira de chegar aos cenários mais encantadores, como Prainha e Havaizinho. Caiaques, canoas, bicicletas e jipes também são bem vindos e

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substituem os pés na hora de praticar esportes ou aventurar-se em meio às paisagens espetaculares.

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A vila acolhedora parece que está em um clima

de festa permanente. Os bares do Centro e da Pituba são os pontos de encontro em Itacaré. As festas acontecem nas areias até o dia clarear, especialmente ao ritmo de forró e reggae.

O por-do-sol em Itacaré é um espetáculo a

parte. O melhor lugar para apreciá-lo é a Ponta do Xaréu, no canto esquerdo da Praia da Concha, em que o colorido dos barcos dos pescadores se mistura com Itacaré também é um ótimo destino para os

a imagem do sol mergulhando no mar. Após o cair do

adeptos do ecoturismo e os praticantes de esportes

sol, outra atração do local são as rodas de capoeira

radicais. Há uma Área de Preservação Ambiental, por

comandadas pelos nativos.

onde é possível fazer rafting, moutain bike, arvorismo, trilhas e rapel – ou simplesmente curtir a exuberância da Mata Atlântica com seus rios e cachoeiras.

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São 14 praias principais em Itacaré, cada qual

com características bem particulares. As próximas à cidade possuem boa infra-estrutura turística, com restaurantes e pousadas. Já as mais distantes são quase desertas, sendo acessíveis apenas por trilhas.

Antigo refúgio de coronéis do cacau, a

vila de Itacaré conserva a arquitetura do passado. Muitos casarões foram reformados e agora abrigam restaurantes, bares, cafés, boates e lojas.

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Fonte: itacare.ws


ESSÊNCIA DO SABOR |

Tender com Laranja

mais 3 minutos na potência alta. 4.O que sobrar pode ser guardado na geladeira e ser consumido em lanches frios. 5.Sugestão: Se for festa, pode-se enfeitar as fatias em uma travessa com frutas variadas naturais ou em calda.

Ingredientes •1 unidade(s) de tender bolinha fatiado(s) •1/2 litro(s) de vinho branco •3 unidade(s) de laranja

•1 tablete(s) de caldo de legumes

Como fazer 1.Faça um caldo com todos os ingredientes, batendo-os no liquidificador. 2.Arrume as fatias de tender numa travessa refratária,

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•2 colher(es) (sopa) de mel

acrescente o caldo e cubra com filme-plástico. 3.Leve ao microondas por 10 minutos na potência média e 29


Mundo Funerário

Evento SINDINEF

O SINDINEF realizou no dia 23/10/2015

o Workshop “Conhecendo a nova resolução da Secretaria de Estado de Saúde”, que regulamenta os estabelecimentos que prestam serviços funerários / congêneres em Minas Gerais, ao prazo para regularização das empresas e apresentação da nova diretoria do SINDINEF. ABERTURA As 14:00 o presidente no SINDINEF, Sr. Daniel Pereirinha conduziu a abertura do evento, introduzindo os assuntos que seriam explanados e apresentou a nova diretoria (triênio 2015-2018): Presidente

-

Daniel

Pereirinha

Preparus

Vice-Presidente - Roberto Márcio – Funerária Pax de Minas - Belo Horizonte; Secretário - Haroldo Felício – Funerária Renascer - Belo Horizonte; Tesoureiro - José Afonso – Funerária Bom Jesus - Belo Horizonte; Conselheira Fiscal - Valéria Aparecida M. da Cunha - Funerária Pirâmide – Uberlândia; Conselheira Fiscal - Vivianne Brasil - Funerária Metropax nº 51| Ano V IIII |nov | dez 2015

- Mondial: A Modial, empresa fundada em 1996 é uma empresa

Somatoconservação - Belo Horizonte;

– Belo Horizonte; Conselheira Fiscal - José Dornelas de Abreu – Assistencial em Vida – Manhuaçu; Suplente do Conselho - Marcelo Silvestre Dayrell – Funerária Curvelana – Curvelo; Suplente do Conselho - Luiz Antônio Rodrigues – Plano Sim – Carmo do Rio Claro. PARCEIROS Como parte do novo trabalho realizado, o SINDINEF

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benefícios aos associados:

agregou alguns novos parceiros que trouxeram grandes

que garante ino-vações, oferecendo a seus clientes os melhores produtos do setor fune-rário. A Modial vem oferecer descontos exclusivos aos associados do SINDINEF. Fone: 11 2440-8004 / E-mail: modial@modial.com.br - Godoy Santos: A Godoy Santos é uma empresa referência no setor funerário na venda de urnas, trazendo sempre inovações que visam a melhoria do produto oferecido. A Godoy Santos vem oferecer descontos exclusivos aos associados do SINDINEF. Fone: (14) 3652-9999 / E-mail: vendas@godoysantos. com.br - Mapfre: No Brasil desde 1992, o Grupo MAPFRE se destaca como uma das mais importantes empresas concorrentes do mercado segurador nacional.


Mundo Funerário A Mapfre oferece auxilio quanto ao seguro das empresas do setor, inclusive segurando-as quanto a sua carteira de clientes, com benefícios exclusivos aos associados do SINDINEF Contato: Moacir Neto / Fone: 011 2663-5122 / 011 2663-

Dra. Clarissa Duarte Fone: 31 3261-3006 / 31 3261-2229 Cel: 31 9976-3753 clarissaccd@bol.com.br COFFE NETWORKING

5192 E-mail: mneto@mapfre.com.br - Grande Minas: A Grande Minas, concessionária que faz parte do Grupo GNC, é uma das responsáveis pelo maior volume de vendas de veículos Chevrolet em Minas Gerais. A Grande Minas oferece atendimento diferenciado e descontos exclusivos aso associados do SINDINEF Contato: Fabiano / Fone: 3507-7354 E-mail: fabianomarques@grandeminas.com.br

Ao término da palestra tivemos um Coffee que possibilitou um momento de Networking para troca de informações entre os presentes, onde os mesmos interagiram e tiraram suas dúvidas com os parceiros. AGRADECIMENTOS “O SINDINEF vem agradecer a todos que participaram do nosso Workshop e ajudaram a abrilhantar o nosso evento. Em especial agradecemos a todos os associados, relembramos mais uma vez que o SINDINEF

RESOLUÇÃO 4798 A Doutora Clarissa Duarte, conduziu a palestra so-bre a Resolução da Secretaria de Estado de Saúde que regulamenta os estabelecimentos que prestam serviços funerários / congêneres em Minas Gerais, de maneira magnifica, todos os presentes tiveram a oportunidade de tirar as suas dúvidas e toda a parte jurídica foi muito bem explicada pela palestrante. Contato:

vocês, trabalhamos sempre em prol do crescimento das empresas e do setor funerário. Obrigado aos parceiros, que tornaram este momento possível, contamos com vocês para que esta parceria seja muito longa e duradora de maneira que possamos colher os frutos futuramente juntos.

nº 51| Ano VIIII |nov|d ez 2015

tem como principal objetivo atender as demandas de

Esperamos encontra-los em breve para darmos continuidade neste projeto, com muito trabalho e dedicação.” 31


MILISTÓRIAS | GOBBO

nº 51| Ano V IIII |nov | dez 2015

A Mão da Bruxa 1°. Parte

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— Então, doutor Gervásio, vejo que está bem instalado.

boatos e fofocas.

Conseguiu uma ótima casa. — O comentário era do prefeito

—Olha, doutor (insistiam em chamá-lo assim, apesar de

de Piquimirim, ao visitar o recém chegado coletor estadual

seus protestos), fala pra sua senhora tomar cuidado com a

á pequena cidade, que administrava com dificuldade.

bruxa da pedreira. — Mariano, um funcionário da coletoria

— Dá para a gente viver até o nenê nascer. Mas não precisa

natural da cidade lhe falou em voz baixa.

me chamar de doutor, não. Apenas Gervásio.

—Bruxa?

Gervásio Cintra chegara a Piquimirim para assumir

—É. Uma velhinha que mora num lugar ermo, onde havia

a coletoria estadual, de recente criação, com a esposa

uma pedreira. Vive esmolando pela cidade. Dizem que

Miriam, grávida de seis meses. Alugara uma casa pequena,

ela se transforma em gata preta e arranha as crianças

bastante apenas para ele a e mulher, bem localizada,

de noite, sem que a mãe e o pai percebam. Prefere as

defronte à praça principal. Da rua sem calçamento subia a

crianças novinhas, as nenezinhas. Só menininhas. Diz que

poeira, agitada por um redemoinho, na tarde quente.

as crianças arranhadas viram bruxas também.

—Vão ter de acostumar com as dificuldades do lugar. A

—Ora, ora, isto é história inventada...

cidade é pequena, não tenho muitos recursos e o povo é

—Que corre por aí. — Completou Mariano. — Cuidado

pobre. Mas, quem sabe, agora com sua repartição instalada,

nunca é demais. E a prova é que tem muita menininha de

o governo do estado olha mais pra nossa Pequimirim. — A

olho gateado na cidade, é só reparar.

conversa do prefeito foi se estendendo, enquanto a tarde

ia declinando, as sombras se alongando e a temperatura

saber mais da bruxa da pedreira. O assunto era evitado,

amenizando.

poucos continuavam a conversa quando se falava na velha

da pedreira. Recorreu ao Mariano, que, parecia saber tudo

À medida que foi se adaptando à nova vida,

Gervásio, incrédulo porém curioso, procurou

Gervásio se enfronhava com os costumes da cidadezinha

sobre a bruxa.

e ia conhecendo sua gente, sua história, os diz-que-disse,

—A pedreira foi abandonada há muitos anos, e lá só


existe uma macega alta, que esconde a maloca da velha.

Ninguém sabe de onde ela veio. Mas depois que apareceu

as meninas de olhos verdes e amendoados. Era hora do

por aqui, mendigando comida e roupa, começou acontecer

recreio e as crianças brincavam no patê interno da escola.

a aparição da gata preta que arranha as nenezinhas.

Num dado momento, houve um desentendimento entre

—Então já em muitas bruxinhas por aí... — Disse Gervásio,

algumas meninas, no canto do pátio, e uma delas se jogou

gracejando.

em cima de outra, como se fosse realmente uma felina. As

—O doutor não brinque com as coisas sérias. Mas que tem

mãos em garra arranharam os braços e, numa agilidade

muitas meninas com os olhos gateados, lá isso tem. É só

incrível, mordeu o pescoço da outra criança.

observar.

—E como ela consegue arranhar as crianças, sem que

nem a respeito de sua curiosidade, que o levara até a

ninguém perceba?

escola onde assistira a briga. Miriam estava nos últimos

—Ninguém sabe. É bruxaria das fortes.

meses de gravidez e o marido sabia que tal assunto só iria

preocupá-la.

Gervásio nada falou com a esposa sobre a lenda

contava sua versão da velhinha que virava gata preta

e arranhava as crianças recém-nascidas, Gervásio foi

impressionaram a ponto de desejar visitar o covil da bruxa.

perguntando. Nada contou a Miriam, pois isto só serviria

—Vamos ver quem é esta bruxa, disse a Mariano,

para impressioná-la, inutilmente.

convidando-o para uma visita à velha Bichana da pedreira.

—É a Velha Bichana, disse a diretora da escola, dona

Foram. E viram.

Luciana, numa tarde, na repartição. — Eu já estive lá,

alguns anos atrás, na tentativa de tirá-la daquele lugar, mas

rústico, perto do simples telheiro sem paredes, que lhe

ela não quis. Vive numa cabana miserável, remanescente

servia de morada. Coçava ou penteava a cabeleira branca,

das instalações da pedreira, desativada há não sei quanto

que lhe chegava até a cintura. Pelo menos meia dúzia de

anos. Eu também não acreditava nesta história. Mas existe,

gatos a rodeava e um estava sentado em cima do telheiro.

sim, muitas meninas aqui, de diversas idades, que têm

—Vamos conversar com ela?

olhos verdes e amendoados, sem nenhuma explicação,

—Melhor não, doutor Gervásio. Aqueles gatos são

pois os pais são, na maioria, morenos ou negros.

selvagens e podem e atacar a gente.

—E são crianças normais? — Indaga Gervásio.

—Bem, mais ou menos. Mas já notei um temperamento

ali, mexendo nos cabelos com os dedos finos, sem se dar

agressivo nessas crianças. Arreganham os dentes quando

conta ou fingindo que não via os dois homens atrás dos

estão zangadas, e quando brigam, avançam com as mãos

arbustos.

como se fossem garras... os dedos abertos e as unhas arranhando as outras crianças.

Entretanto, as informações que recolhera o

A velha estava sentada ao sol da tarde, num banco

Ficaram só na observação. A velha permaneceu

ANTONIO GOBBO Belo Horizonte, 3 de fevereiro de 2010

—Estou impressionado, disse Gervásio, mais intrigado.

Conto # 589 da série Milistórias –

— Será que posso visitar a escola e ver algumas dessas

Os contos da Série Milistórias São arquivados na

meninas?

nº 51| Ano VIIII |nov|d ez 2015

Sem querer, e dada a convicção com que Mariano

Fez a visita. A diretora foi mostrando, discretamente,

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro 33


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