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Produção leiteira irlandesa

ESTABELECER METAS PARA A PRODUÇÃO PRODUÇÃO LEITEIRA IRLANDESA UMA EMPRESA DE PRODUÇÃO LEITEIRA RESILIENTE SERÁ, MUITO PROVAVELMENTE, MAIS SUSTENTÁVEL EM QUALQUER SITUAÇÃO DO MERCADO – SOBREVIVERÁ QUANDO O PREÇO DO LEITE DESCER E SERÁ ALTAMENTE RENTÁVEL QUANDO O PREÇO DO LEITE SUBIR.

Baseado no artigo Setting targets for the Irish dairy industry. Laurence Shalloo e Liam Hanrahan. Publicado em 2020 por Animal Production Science 60, 159–163 https://doi.org/10.1071/AN18531 Adaptado e traduzido por George Stilwell | Foto 123 RTF

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Otermo resiliente quer dizer recuperar, responder, reagir, reabilitar ou aguentar desafios internos ou externos que afetem a produção e o funcionamento da estrutura produtiva. Na situação irlandesa, o objetivo principal das explorações leiteiras, deve ser o de aumentar a produção através da utilização de pastagem e converter essa mais-valia em sólidos totais (quilos de proteína e gordura), com o menor custo possível. Aumentar a eficiência do trabalho, adoptar continuamente novas tecnologias e, se possível, subcontratar quem faça a recria, irá reduzir a necessidade de admitir pessoal extra e por isso terá um impacto significativo nos custos. Em suma, as explorações leiteiras deverão focar-se em produzir a baixo custo, em assegurar mão-de-obra de qualidade, em constantemente abraçar novas tecnologias e em priorizar os investimentos que as tornem mais resilientes. Há um enorme potencial para aumentar o rendimento a nível da exploração apenas focando-se na melhoria do uso dos pastos e na seleção da vaca ideal para este sistema de produção: com capacidade de produção de leite, com uma elevada concentração de sólidos totais, robusta, necessitando de um baixo consumo para manutenção e que apresente uma elevada fertilidade. O objetivo na Irlanda, neste momento, é o de criar condições (físicas e financeiras) para conseguir um lucro de €2.500 por hectare, com o preço do leite fixado em €0,29/l. Este artigo apresenta alguns dos componentes necessários para atingir essa meta ambiciosa. O propósito final da exploração deve ser maximizar o rendimento de todos os elementos que compõem a sua plataforma produtiva, ao mesmo tempo assegurando-se que existem o menor número possível de animais não-produtivos e que toda a estrutura opere no máximo do seu potencial. Isto geralmente implica uma atenção redobrada nos pequenos detalhes do dia-a-dia. O que pode parecer desprezível em certas alturas, pode vir a mostrar-se crucial quando a exploração tiver de enfrentar súbitas descidas no preço do leite. Ser resiliente significa estar preparado e ser eficiente até ao mais pequeno pormenor. Os objetivos aqui apresentados para a realidade irlandesa, resultam de uma análise usando o Moorepark Dairy Systems Model (MDSM) (Shalloo et al. 2004) e as médias

nacionais no período 2014–2016 (NFS 2016) tendo por base o preço de € 0,29 por litro de leite com 3,3% de proteína e 3,6% de gordura. Todos os outros elementos (infraestruturas, mão de obra, efetivo animal) foram considerados ao preço corrente na Irlanda nos anos de 2014 a 2016. A tabela 1 apresenta algumas das performances necessárias para atingir a tal meta de rendimento de €2.500 por hectare. Como é notório, todos os melhoramentos resultam de mudanças que se podem fazer no interior da exploração, apesar de poderem existir, em certas circunstâncias, alguns constrangimentos físicos difíceis de alterar (por exemplo, tipo de solo, condições climatéricas). No entanto, é evidente que existe um enorme espaço para alterações em parâmetros chave. O intuito deverá ser a seleção e o investimento nas áreas consideradas prioritárias para manter a exploração do caminho certo, sem grandes preocupações com a distância que ainda faltará percorrer. Assim, é imperativo que os produtores se continuem a lembrar que existe um enorme potencial para melhorias e para aumentar o rendimento, por exemplo, através do investimento em tecnologias básicas. Esse investimento deve ser prioritário quando o preço do leite está mais alto, para que se possa colher os dividendos quando o preço baixar. A tabela 2 mostra como se pode beneficiar com a aplicação e melhoramento no uso de diversas tecnologias e intervenções. Esta não é uma listagem exaustiva, mas pretende apenas dar o exemplo do que se consegue alcançar. Por exemplo, se uma exploração com 35,6 hectares, ao longo de 5 anos, aumentar a utilização de pastagem em 3 toneladas MS/ ha, a concentração de gordura de 4,05% para 4,25%, a concentração de proteína de 3,45% para 3,65% e reduzir a taxa de reposição de 23% para 20% e adiantar em 1 semana a data média dos partos, conseguirá um aumento de rendimento líquido total de €27.353, o lucro por kg de sólidos totais de €0,71 e aumentar o lucro por hectare em mais de €768. Apesar do que se escreveu, na verdade é possível ter elevados índices de performance numa exploração sem conseguir atingir a meta dos €2.500/ha. Se não se está a conseguir atingir essa meta, quer dizer que se é um mau produtor ou que ainda há muito para mudar ou para investir? Não necessariamente. Para responder a essa pergunta temos de levar em conta a imensa variedade de fatores que rodeia a estrutura de uma exploração leiteira. Por exemplo, muitos produtores não são donos da terra e, por isso, tiveram de investir menos no negócio no início, mas têm maiores custos com rendas, juros, etc. Por isso, estes cálculos podem não adaptar-se à situação de todos, mas servem para alertar para algumas necessidades e, principalmente, para uma forma diferente de se pensar a produção nestes sistemas. Em conclusão, os produtores devem concentrar os esforços e os investimentos na garantia de uma maior resiliência no futuro. Isto passa por aumentar e melhorar a produção de erva e por adaptar a dimensão do efetivo ao que se consegue realmente produzir na exploração. Há ainda muito espaço para introduzir e para melhorar o uso das tecnologias, nas mais diversas áreas da produção de leite. Finalmente, quando se avaliar o progresso, e também o caminho ainda a percorrer, convém não se focar numa só medida, mas tentar perspetivar a produção como um todo, de forma a poder evoluir de uma maneira sustentável em todos os componentes que garantam a resiliência da exploração nos tempos melhores e piores.

TABELA 1 PARÂMETROS NECESSÁRIOS PARA ATINGIR O OBJETIVO DE RENDIMENTO, COMPARANDO COM A MÉDIA NACIONAL IRLANDESA (2014-2016)

Parâmetro Produção de leite (kg MS/vaca) Produção de leite (kg/vaca) Proteína (%) Gordura (%) Produção leiteira (kg/ha) Sólidos totais (kg/ha) Intervalo entre partos (dias) Data de parto (média) Partos primeiras 6 semanas (%) Taxa de substituição (%) Trabalho (hora/vaca) Encabeçamento (CN/ha) Concentrado (kg/vaca) Uso de pasto (t/ha) Média Irlanda 405 5409 3,45 4,06 11 090 825 394 6 março 58 23 30 2,05 933 8,0 Alvo 475 5800 3,70 4,50 16 820 1380 365 14 fevereiro 90 18 16 2,90 450 13,1

TABELA 2 CÁLCULO DO RETORNO FINANCEIRO DE DIVERSAS MELHORIAS COLOCADAS EM PRÁTICA NAS EXPLORAÇÕES DA IRLANDA

Parâmetro Unidade

Aumento da concentração de gordura Aumento da concentração de proteína Aumento do volume de leite a partir de pastagem Aumento da utilização do pasto Redução taxa de substituição Redução intervalo de partos 0,1

0,1

100 l

100 kg MS/ha 1% 1 dia Retorno financeiro Exploração (€) 1195

2530

2027

484 1218 247 Por kg ST (€) 0,03

0,09

0,06

0,01 0,035 0,009

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