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Inflamação
by RUMINANTES
SAÚDE E BEM-ESTAR| VACAS LEITEIRAS INFLAMAÇÃO: PRENDER O LADRÃO DE LEITE OCULTO UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO BEM SUCEDIDO É ESSENCIAL PARA UMA LACTAÇÃO DE SUCESSO. A REDUÇÃO DA INFLAMAÇÃO NOS 30 DIAS ANTES E APÓS O PARTO PODE TER UM PAPEL IMPORTANTE NA MELHORIA DA PERFORMANCE DURANTE A LACTAÇÃO E DURANTE TODA A VIDA PRODUTIVA. HUW MCCONOCHIE, DA ZINPRO CORPORATION, DESTACOU AS ÁREAS CHAVE NAS QUAIS SE DEVE FOCAR A GESTÃO PARA REDUZIR O RISCO DE INFLAMAÇÃO EXCESSIVA DURANTE O PERÍODO DE TRANSIÇÃO.
Adaptado por Inês Ajuda, Médica Veterinária | Fotos Zinpro
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HUW MCCONOCHIE Research Nutritionist Europe, Southern Africa, MENA and Russia, Zinpro Corporation HMcConochie@Zinpro.com E m primeiro lugar é importante perceber por que motivo a inflamação excessiva é um problema. Níveis normais de inflamação são a resposta do organismo a uma lesão, acionando o sistema imunitário para sarar os tecidos e prevenir infeções. Todas as respostas imunitárias requerem glucose, que é crucial para todas as funções orgânicas da vaca leiteira. Qualquer inflamação, independentemente da sua magnitude, causará um desvio da glucose que seria utilizada para produzir leite, uma vez que o organismo da vaca leiteira irá privilegiar a utilização da glucose para a recuperação em vez de para a produção. Quanto maior a magnitude da inflamação, mais a produção será afetada. A vaca leiteira responde a um balanço energético negativo no fornecimento de energia, com a mobilização de reservas corporais. Um balanço energético negativo excessivo está associado a uma resposta imunitária aumentada, levando ainda a um maior desvio da glucose que de outra maneira estaria destinada à produção de leite. Embora um baixo nível de inflamação seja uma parte normal e aceitável do período de transição, a inflamação em excesso é um problema que pode comprometer o sucesso desse mesmo período. A chave é manter a incidência de inflamação o mais baixa
Vários estudos têm vindo a demonstrar que o nível de claudicação do rebanho aumenta durante o período de transição, muito provavelmente ligado a períodos de descanso inadequados.
possível. Este artigo irá debruçar-se sobre as várias áreas em que uma gestão proativa pode desempenhar um papel importante: design do edifício, gestão de stress no reagrupamento, gestão do stress de calor, gestão da saúde do rebanho e alimentação e abeberamento. DESIGN DO EDIFÍCIO O comforto da vaca no periodo de transição passa por três elementos chave: espaço, cama confortável e um edíficio adequado ao periodo de transição. O sucesso do período de transição é muito influenciado pelo design do edifício utilizado durante este período (edifício de transição), uma vez que influenciará todas as vacas que por ali passarão. O ESPAÇO O espaço deve ser grande o suficiente e desenhado para poder acomodar a altura do pico de partos, assegurando assim que nunca fique sobrelotado. O edifício de transição deve ter espaço suficiente para que, durante os picos de partos, o espaço na manjedoura e o espaço para deitar não tenham que ser reduzidos, bem como a duração da estadia das vacas neste edifício. Adicionalmente, é igualmente importante ter em conta uma eventual expansão da exploração. Tem que existir espaço suficiente para que todas as vacas se possam deitar confortavelmente: pelo menos um cubículo por vaca, ou pelo menos 10 m 2 por vaca quando são utilizados parques. Caso o edifício de transição não tenha o espaço necessário, haverá alturas em que os requisitos básicos da vaca em período de
transição serão comprometidos, levando a um aumento de insucessos no período de transição devido à baixa ingestão de matéria seca (DMI), sobrelotação e stress. Em parques de camas de palha é importante providenciar pelo menos 1m 2 /1000kg de 305 dias de produção de leite. CAMA COMFORTÁVEL Assegurar que as vacas têm um descanso adequado é essencial. Uma duração e qualidade adequadas de descanso reduzem o risco de inflamação excessiva e de claudicação, e promovem a ruminação e consequentemente a produção de saliva. Em contrapartida, a privação de um descanso adequado durante o período de transição leva à circulação excessiva de hormonas de stress. Este fenómeno leva a um aumento da mobilização de gordura e a um risco aumentado de inflamação. Vários estudos têm vindo a demonstrar que o nível de claudicação do rebanho aumenta durante o período de transição, muito provavelmente ligado a períodos de descanso inadequados. A saúde das unhas está particularmente vulnerável no período de transição, devido ao típico relaxamento dos músculos pélvicos e tendões na preparação para o parto, que também leva a um relaxamento dos músculos e tendões responsáveis pela suspensão da falange distal dentro da cápsula da unha. Adicionalmente, longos períodos em pé podem comprometer a circulação de sangue para os membros, predispondo a inflamação. Incorporar o Zinpro Performance Minerals® é uma estratégia nutricional que pode ajudar a prevenir claudicação, melhorando a saúde das unhas e reduzindo o número de lesões. Quando a vaca está deitada, a ruminação e a produção de saliva são aumentadas. Nas vacas recém-paridas, a oportunidade de descansar num cubículo confortável ajuda a reduzir o risco de acidose e inflamação (vacas recém-paridas não devem estar mais do que 3 horas por dia longe das suas camas). Adicionalmente, a circulação sanguínea é também melhorada quando a vaca está deitada. No casos do uso de cubículos, o design influencia o tempo que a vaca passa deitada – quanto mais comfortável, mais tempo a vaca passará deitada nele (ver caixa abaixo) …
Características a ter em conta para melhorar o conforto de um cubículo • O design da base do cubículo e das suas divisões tem um impacto na facilidade que a vaca tem em deitar-se e levantar-se. O nível de dificuldade destas duas ações influencia o tempo que a vaca passa deitada, e pode aumentar o risco de claudicação. • Os cubículos devem ser desenhados de acordo com o peso das vacas. • É importante escolher um design que promova o correto posicionamento da vaca, e sem obstáculos na zona onde a vaca dá o impulso com a cabeça quando se levanta, e se inclina quando se deita. • Para as camas, os melhores materiais para promover maiores período de descanso são a areia e composto. A profundidade do material também é importante, devendo a cama ter pelo menos 10 cm de profundidade.
…DESIGN ADEQUADO DO PARQUE Adicionalmente o design do edifício deve incluir: • Acesso a pedilúvios, afim de reduzir a incidência de claudicação. • Elevado nível de conforto dos cubículos (tamanho ajustado a vacas prenhas) • Acesso adequado a água (10cm/vaca) • Ventilação eficiente e mecanismos de controlo de temperatura • Máximo de duas filas de cubículos GESTÃO DE STRESS NO REAGRUPAMENTO Depois de ter a certeza que os edifícios estão desenhados corretamente para prevenir uma inflamação excessiva, devemos concentrarnos na gestão das vacas durante o período de transição. Dois dos principais objetivos do período de transição são manter a ingestão de matéria seca (DMI) e reduzir o stress. Ambos podem ser afetados se o grupo onde as vacas estão inseridas se alterar. Reagrupar vacas leva a uma destabilização da dinâmica do grupo, levando a que as hierarquias tenham que ser restabelecidas. A introdução de novas vacas num parque, independentemente do seu número, leva a um restabelecimento da hierarquia que pode levar entre 2 a 3 dias. Quanto mais próxima do parto for esta mudança no grupo, maior será o efeito negativo na DMI e no stress. Reduzir a frequência da introdução de vacas num novo grupo reduz a tensão social no rebanho. O sistema perfeito deve ter quatro parques de camas de palha, cada um grande o suficiente para acomodar uma semana de partos num sistema “all-in all-out”. Cada grupo permanece inalterável durante os 21 dias que antecedem o parto, e as vacas também parem nesse mesmo parque. Os movimentos de uma só vaca devem ser evitados afim de reduzir a disrupção social. Mudar 3 a 5 vacas de cada vez reduz o stress. As vacas devem também ser mantidas no mesmo grupo entre os 17 e os 2 dias que antecedem o parto. Em explorações mais pequenas, nas quais não é possível operar num regime “all-in all-out”, as vacas devem ser secas semanalmente e mudadas de grupo uma vez por semana. Se possível, as novilhas devem estar num grupo separado.
ALIMENTAÇÃO E ABEBERAMENTO Providenciar espaço suficiente na manjedoura e cornadies individuais, minimiza o stress dentro de um grupo. Há que também evitar a sobrelotação dos parques, bem como becos sem saída nos parques com cubículos, e assegurar que diferentes grupos de vacas se conseguem ver. A obtenção de uma adequada ingestão de matéria seca ajuda a reduzir a quantidade e duração da perda de condição corporal. Uma inflamação excessiva mobiliza a energia, prejudicando a produção e fertilidade, enquanto aumenta os riscos relacionados com o período de transição. Uma ingestão ótima no período de transição só pode ocorrer através de uma boa gestão da alimentação, especialmente através do fornecimento de espaço suficiente à manjedoura, permitindo às vacas comer quando e como elas quiserem. Vários estudos demonstraram que cada vez que a média diária de tempo de ingestão de alimento diminui 10 minutos, o risco de acetose subclínica duplica. O risco de metrite grave triplica por cada quilograma diário de matéria seca ingerido a menos. Para reduzir a inflamação excessiva, há que evitar a sobrelotação da manjedoura. Se a manjedoura não tiver cornadies, um mínimo de 75 cm deve ser fornecido por vaca. As vacas não devem ser iniciadas numa manjedoura com cornadies durante o período de transição e as novilhas devem ser agrupadas separadamente. Deve também assegurar-se que as barras do comedouro estão 1,2 a 1,3 metros acima do nível do chão e 23 a 30 cm afastadas da parede onde as vacas comem. O fundo da manjedoura deve ser liso e a comida deve ser empurrada regularmente. Garanta água potável limpa e abundante, mantendo os bebedouros com uma pressão de reabastecimento adequada. Por fim, é essencial uma estratégia eficaz de alimentação de minerais para controlar a inflamação e ajudar a garantir uma transição suave. Foi provado que o Zinpro Performance Minerals aumenta a integridade intestinal e reduz a claudicação, além de estar associado a menos problemas no período de transição. Como consequência, uma maior eficiência alimentar e produção de leite, menor contagem de células somáticas e melhor reprodução podem ser alcançadas quando as vacas em período de transição são suplementadas com minerais de desempenho como o Availa®Mins, influenciando positivamente os lucros da exploração. GESTÃO DE SAÚDE DO EFETIVO Existem várias patologias que levam ao aumento da inflamação causada pela metrite, a mastite, a acidose ruminal subaguda (SARA) ou uma mobilização excessiva de tecidos. Todas estas patologias aumentam o risco de claudicação e a própria claudicação também aumenta o risco de inflamação excessiva. A claudicação tem um impacto negativo na ingestão de alimento e no tempo que as vacas descansam. Vacas claudicantes consomem menos matéria seca, o que leva a uma perda excessiva de peso no início da lactação e a uma maior incidência de doenças no período de transição. A deficiência energética, devido a uma ingestão de matéria seca sub-ótima, leva a um aumento da mobilização de gordura corporal. Esta mobilização está associada a uma inflamação aumentada que remove energia destinada à produção de leite. Para reduzir a incidência de claudicações, o objetivo deve ser de não ter qualquer vaca coxa no parque de transição. Tal como referido já neste documento, a prevenção é essencial, daí que o acesso regular dos animais a um pedilúvio seja indispensável, caso haja presença de lesões infeciosas no parque das vacas secas. É também importante aparar todas as unhas de vacas secas e das novilhas, 6 a 9 semanas antes do parto.
GESTÃO DO STRESS TÉRMICO As vacas no período de transição são muito suscetíveis ao stress térmico. Uma combinação de temperatura e humidade elevadas, medida como o Índice de Temperatura e Humidade (THI), pode ter um impacto significativo no desempenho, daí que a gestão se deva concentrar na redução do problema. A maioria das vacas secas é alimentada com uma dieta rica em fibras, que produz muito calor durante a ruminação e digestão, contribuindo para o problema. Nove estudos mostraram um aumento de rendimento médio de 2,5 kg/dia nas vacas cuja temperatura corporal foi reduzida durante o período de transição comparativamente às que não foram. O stress térmico é igualmente uma causa de inflamação. Para as vacas que foram recém- -paridas, a inflamação associada ao stress térmico é devida a alterações na integridade intestinal e acidose. Vacas afetadas pelo stress térmico permanecerão em pé por mais tempo, baixarão a frequência de ruminação e irão ser mais criteriosas a separar as fibras. Acabam por comer menos e, havendo menor quantidade de alimento no rúmen e baixo pH ruminal, correm maior risco de acidose. Estão em maior risco de desenvolver lesões nas unhas devido à inflamação e à redução do tempo que estão deitadas, enquanto a inflamação pode afetar a qualidade dos óvulos e resultar num desempenho reprodutivo reduzido. Para reduzir o risco de stress por calor nas vacas em período de transição, é necessário arrefecer as vacas assim que o THI atingir 68. É um valor mais baixo do que o frequentemente citado, mas as vacas em período de transição geralmente usam dietas ricas em fibras que produzem muito calor. Forneça muita sombra e garanta uma velocidade do ar de arrefecimento de 8 a 10 km/hora.
As consequências de uma inflamação excessiva são doenças durante o período de transição, baixo desempenho reprodutivo e produção reduzida de leite. O planeamento cuidadoso das instalações no período de transição, uma ótima gestão pré e pós-parto e uma atenção cuidadosa aos detalhes, incluindo a suplementação de minerais, ajudarão a garantir a eficácia do período de transição das vacas e providenciar um periodo com menos problemas.