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Quero ser para sempre apenas um “miúdo”
Nem sempre é fácil escrevermos sobre nós próprios. O outro, amigo ou familiar com quem convivemos e partilhamos o nosso dia a dia, as nossas frustrações, as nossas emoções, alegrias e tristezas, é capaz de nos retratar e definir de uma forma mais imparcial e objetiva. Mas, numa outra perspetiva, o que é difícil para nós, também poderá tornar-se um desafio e, por vezes, é importante pararmos um pouco para refletirmos sobre o nosso percurso quer a nível pessoal, quer a nível académico.
Em relação ao meu passado, penso que pode ser caracterizado como “normal”. Fui o típico rapaz amante do desporto, bem-disposto, ansioso por ser adulto, mas frustrado quando alguém dizia que estava na hora de terminar a brincadeira. A
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minha infância foi de altos e baixos, contudo, as alegrias superaram as tristezas, embora houvessem momentos de grande angústia. A morte do meu avô materno marcou-me profundamente e foi difícil lidar com a perda. Embora o episódio tenha acontecido no passado, ainda hoje me perturba, apesar de a mentalidade ser diferente e também ser diferente a forma como, atualmente, encaro as situações.
A pessoa que sou hoje não difere muito daquela que fui outrora. Sigo com os mesmos gostos e feitios, mas marcado por dúvidas que fui criando à medida que fui crescendo e formando a minha personalidade. Crenças, ideologias e comportamentos são hoje fatores que ocupam a minha mente, ficando
profundamente indignado por não chegar a uma conclusão esclarecedora. Para além destas questões que invadem a minha mente, há uma outra que me causa bastante apreensão e que se traduz pela seguinte frase: “O que serei daqui para a frente?” Embora esteja a terminar um ciclo de estudos deveras importante, ainda não encontrei o meu rumo, não sei exatamente qual o caminho a seguir, o que me faz pensar se a culpa reside em mim porque não estudei o que devia, ou se ainda não experienciei o suficiente para o encontrar.
Quando era apenas uma criança, nunca imaginei estar aqui e agora a expor as minhas incertezas e preocupações. Pensava que tudo ia ser simples e que nunca iria ter os problemas que os “outros” tinham, por viver num ambiente acolhedor, onde era tudo fácil e alcançável. Fui crescendo e percebendo que hoje em dia faço parte dos “outros”.
Estou cansado de crescer, de relembrar o mundo paradisíaco da minha infância e de passar para a vida “adulta” cheio de dúvidas, de problemas e de situações revoltantes. Já não penso nas brincadeiras que vou ter amanhã, mas sim nas soluções para os problemas que vão surgir no dia seguinte. Quero ser para sempre apenas um “miúdo”.
Sinto que ainda sou demasiado jovem para encher os pensamentos com este tipo de problemas, no entanto, se já os sinto aqui tão perto, com 18 anos, nem quero imaginar o que vou sentir quando for mais velho. A passagem do tempo assusta-me, e, tal como Fernando Pessoa, prefiro não crescer “Mais vale ser criança que querer compreender o mundo.”.
Apesar destas inquietações e de me sentir, por vezes, um barco à deriva, tenho a certeza de que irei ser uma referência para todos aqueles que se cruzarem comigo no meu caminho. Para que isso aconteça, terei que resolver todas as questões que ocupam a minha mente e que têm influência no meu estado de espírito.
Espero um dia participar na iniciativa “Vidas com Sentido” levada a cabo pelo colégio já que foi ele que me ensinou e me preparou para enfrentar a vida e os seus múltiplos desafios. Mais tarde, quero ser um exemplo vivo para os alunos
do Colégio Internato Claret e dar-lhes o meu testemunho sobre o contributo desta escola para a minha forma de ser, de estar e de fazer.
Tiago Bóia