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A vida é uma história interminável

Realizar uma reflexão sobre nós próprios pode ser algo desagradável, principalmente quando não queremos atrever-nos a perscrutar as nossas profundezas. Contudo, penso que um breve momento de introspeção (que, na realidade, acaba de se alastrar por duas tardes) não precisa, necessariamente, de constituir uma experiência enfadonha.

Vejamos, por onde começar? Talvez pelo caminho que já percorri, uma estrada repleta de acontecimentos que acabei por classificar de “bons” ou “maus” dependendo da minha vontade na altura. Não posso negar que muitas vezes me deparei com situações que me provocaram grandes aborrecimentos e me fizeram pensar que o mundo era uma miséria. No entanto, ao longo do meu curto período de vida, fui entendendo que tudo o que vivenciava era necessário para mudar a minha mentalidade e moldar a minha identidade que, até hoje, continua em constante mudança. Apesar de ter consciência de tudo isto, é-me ainda impossível não colocar rótulos nas experiências por que passo. Por outro lado, o facto de ter chegado à conclusão de que nem sempre interpretei as situações que me aconteceram da melhor forma já representa uma pequena evolução de personalidade que, no meu entender, deve ser louvada.

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Foquemo-nos no presente. O mais correto será dizer que, de momento, não consigo explicar concretamente quem sou. No fundo, acho que sou uma pessoa como muitas outras, que vagueiam pelo mundo sem um destino, à procura de um propósito. Parece bastante simples, mas na verdade é um processo imensamente vagaroso. E o mais revoltante é a minha impaciência nesta jornada que acaba por a atrapalhar ainda mais.

Sei que se aproximam mudanças estrondosas e, por vezes, duvido se irei gostar delas. Assim, apodera-se de mim uma mistura de emoções lideradas pela confusão. Ter de fazer escolhas, quando nada parece claro na nossa mente, não deveria ser permitido. Não quero ser mal-interpretada. Anseio pela mudança, só não tenho a certeza se a quero de imediato. Vejo ao meu redor um grande número de pessoas que demonstram certeza e segurança nas suas decisões, enquanto eu pareço flutuar à toa, sem ideia de onde aterrar. Talvez a realidade não corresponda a este cenário, no entanto, acho por bem descrever o que perceciono. Tenho a mente repleta de sonhos, ideias e incertezas que se movem num incessante turbilhão e não consigo identificar as intuições que devo seguir. E a aproximação das decisões assusta-me um pouco. Escolher significa eliminar caminhos, temporária ou permanentemente. Enquanto não faço uma escolha, tudo é possível. Por outro lado, essa mentalidade não me serve de muito. Dir-meão: a vida é feita de escolhas. Bem sei, não escolher significa ficar imóvel. Sinceramente, não sei o que é pior. Venha o diabo e escolha. Lá está, até ele tem de escolher.

Quanto ao futuro, este encontra-se encoberto, um verdadeiro mistério por desvendar. Por conseguinte, é-me impossível afirmar quem serei daqui a alguns meses, muito menos daqui a alguns anos. Posso, contudo, fazer uma breve descrição do que espero. Em primeiro lugar, espero continuar a procurar o autoconhecimento e a não temer momentos de introspeção (como este, por exemplo) que me façam observar o mundo e a mim própria de uma outra perspetiva. Espero, também, que durante a minha curta passagem pela Terra possa fazer algo com sentido e não qualquer coisa sem significado que, mais cedo ou mais tarde, ficará perdida no tempo. Espero, ainda, desenvolver a minha

capacidade de comunicação, de forma a expressar-me sem medo ou insegurança. Espero manter sempre uma mente aberta, onde não residam preconceitos ou falsas informações, uma mente livre. E, por fim, espero nunca perder a vontade de viver.

Penso ser pertinente terminar este momento reflexivo por aqui (afinal, não façamos disto um confessionário). Concluo esta pequena análise interior afirmando que a vida é uma história interminável, pelo menos por agora. Neste momento, tenho toda a vida pela frente. E creio que isso seja suficiente.

Ana Sofia

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