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4.1 A importância da gestão de recursos para as organizações sociais
Gestão de recursos para a organização social
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A existência de uma organização social requer um conjunto de recursos (humanos, materiais ou financeiros) para que possa prosseguir a sua missão. Os recursos podem ser entendidos como os meios (ou fatores de produção) que uma organização social dispõe ou tem acesso numa base semipermanente, para o desenvolvimento da sua atividade organizacional.
Os recursos são, portanto, os inputs do processo de intervenção de uma organização social, que esta irá utilizar para viabilizar a execução das suas atividades e permitir a disponibilização dos produtos e/ou serviços à sociedade. Os recursos constituem um meio para que as organizações possam aproveitar uma oportunidade social e, por consequência, possam alcançar de uma forma eficiente os seus propósitos (figura 4.1). A gestão cuidadosa e eficaz dos recursos revela-se, por esse motivo, fundamental para que as organizações sejam bem-sucedidas.
Figura 4.1- A importância da gestão de recursos para as organizações sociais
Criação de valor social
Recursos
Atividades organizacionais Proposta social produtos e/ou serviços
Fonte: elaboração própria
Os recursos podem assumir diferentes configurações como, por exemplo, serem tangíveis ou intangíveis. Os recursos tangíveis, como o próprio nome indica, podem assumir uma forma física ou material . Os recursos intangíveis, pela sua própria natureza, não são observáveis, sendo difíceis de quantificar ou de converter em meios monetários . Na sua maioria, são desenvolvidos dentro das próprias organizações através de complexos processos sociais e organizacionais.
Incluem, a título de exemplo, elementos como valores, inovação e criatividade, recursos intelectuais, direitos de propriedade, contratos, reputação da organização, segredos comerciais, conhecimento ou cultura organizacional.
Os recursos podem ser agrupados em diferentes tipologias:
Recursos de capital físico/recursos materiais incluem, por exemplo, terrenos, instalações, infraestruturas e equipamentos de uma organização, matérias-primas ou mercadorias, sendo adquiridos com o intuito de permanecerem durante um período de tempo significativo na organização ou para serem transformados ou comercializados;
Recursos humanos dizem respeito às pessoas que colaboram na organização, seja a título remunerado ou na condição de voluntário, e que irão desenvolver as diferentes atividades na organização. Incluem os conhecimentos e habilidades, experiência, esforço, bom senso, contactos e reputação dos colaboradores da organização, bem como as equipas de trabalho. São especialmente importantes para as organizações sociais, uma vez que estas são geralmente caracterizadas como mão de obra intensiva;
Recursos de propriedade intelectual incluem o software (programas informáticos de desenho, programas de proteção contra vírus, etc.), a marca/logótipo associada ao projeto/organização que deve ser registada, o nome do domínio, entre outros. Podem ser protegidos os processos de negócio, o conhecimento (knowhow), a informação dos clientes e os fluxos de produção;
Recursos financeiros – são necessários à realização do investimento para lançamento e desenvolvimento da iniciativa social. Incluem o capital inicial (no momento da constituição da organização social) e os recursos financeiros que serão depois mobilizados através de estratégias de geração de rendimento ou outras fontes de financiamento, para viabilizar as atividades operacionais da organização social e as suas atividades de expansão. É através dos recursos financeiros que as organizações sociais conseguem o poder de compra para a aquisição de outras tipologias de recursos;
Imagem da organização – a construção da imagem desejada da organização integra elementos como a marca, logótipo, design ou assinatura que, através de um nome, um termo, um sinal, um desenho, ou uma combinação destes, permitirá identificar os bens ou serviços de uma organização, diferenciando-a das outras organizações sociais com que interage;
Reputação traduz a perceção agregada que num determinado momento do tempo os stakeholders, internos ou externos, têm sobre a organização social. Trata-se, portanto, de uma representação cognitiva que depende da perceção, positiva ou negativa, que os stakeholders têm sobre a organização social. É construída com base em perceções do comportamento atual e passado da organização social, não sendo diretamente controlável e determinada por esta . A reputação representa
igualmente um elemento-chave para a construção da legitimidade da organização, que poderá persuadir e justificar o apoio dos indivíduos à iniciativa e reforçar a capacidade de construção de redes e alianças. Para além disso, para o público em geral, a reputação é um sinal informativo, que funciona como mecanismo de garantia e de compromisso por parte da organização.
4.2 Mapeamento dos recursos necessários
Para que a estratégia de intervenção possa ser levada a cabo, importará, por isso, proceder a um levantamento dos diferentes tipos de recursos necessários para o desenvolvimento da iniciativa social .
O quadro 4.1 poderá auxiliar o processo de exploração das necessidades ao nível dos diferentes recursos . Esta inventariação de recursos poderá ser feita avaliando os recursos necessários para a produção de cada um dos produtos/serviços da organização social em concreto, ou de uma forma transversal, considerando a organização social no seu todo.
Quadro 4.1 – Mapeamento dos recursos necessários
Específicos ao produto/serviço A
Específicos ao produto/serviço B
Específicos ao produto/serviço C
Recursos materiais Recursos humanos Recursos tecnológicos Recursos de propriedade intelectual Recursos financeiros Necessários à organização no seu todo
Fonte: elaboração própria
Os recursos tangíveis, como anteriormente referido, possuem uma forma física, são transacionáveis e, como tal, poderão ser adquiridos pela organização no mercado. Os recursos intangíveis, de modo diferente, dificilmente poderão ser adquiridos/transacionáveis, sendo construídos pela própria organização no decorrer do seu tempo de existência.
A capacidade de mobilização de recursos por parte das organizações sociais poderá ser especialmente difícil, tendo em conta que a baixa capacidade de apropriação de valor resulta num contexto de relativa insuficiência de recursos. Importará, por isso, a utilização de abordagens inovadoras e criativas para a angariação e gestão dos recursos, que envolvam o desenvolvimento de novas formas de angariação de recursos, a atração de recursos não-tradicionais, a combinação de recursos de um modo novo ou o uso de recursos que se encontravam subaproveitados, seja pela organização ou por outras entidades que falharam no seu reconhecimento.
Estas abordagens à gestão de recursos visam possibilitar o desenvolvimento de soluções robustas, mesmo em ambientes restritivos, e que permitam o
desenvolvimento de produtos e serviços que de uma forma convencional não seria possível desenvolver. Para além disso, a criatividade na conjugação e aplicação de recursos permitirão gerar valor com o uso de recursos de baixo custo, possibilitando a prossecução da missão da organização social com iguais níveis de eficácia.
Neste contexto, fará ainda sentido explorar os recursos, tangíveis e intangíveis, que possam existir na comunidade e que a organização social poderá aproveitar em seu benefício. O quadro 4.2 possibilita a identificação de recursos existentes na comunidade e de que a organização social poderá, de alguma forma, fazer uso. Pretende-se, assim, compreender de que forma será possível estabelecer ligações entre os recursos endógenos da comunidade/ território e as oportunidades de intervenção social .
Quadro 4.2 – Mapeamento dos recursos existentes na comunidade
Capital cultural Capital natural Capital humano Capital social
(por exemplo: tradições, preferências, língua) (por exemplo: biodiversidade, solo, água, etc) (por exemplo: formação, competências) (por exemplo: liderança, rede de contactos, relações de confiança)
Capital político
(por exemplo: poder político, vozes, leis) Capital construído (infraestruturas)
(por exemplo: serviços de utilidade pública, estradas, sistemas de saúde) Capital financeiro
(por exemplo: rendimento, riqueza, investimento)
Fonte: adaptado de Chahine (2016)
4.4 Estratégias para avaliação, mobilização e manutenção dos recursos
Considerados individualmente, os recursos não conferem vantagens competitivas, pois só quando são combinados entre si geram capacidades organizacionais. Importa, por isso, distinguir recursos de capacidades.