Revista Sarau Subúrbio ano o2 # 12

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EXPEDIENTE Edição: Ano 01 - Nº 12 - Março de 2019 Periodicidade da publicação: mensal Idioma: Português (Brasil) Editores: Marco Trindade e Marcelo Bizar Conselho editorial: Marcelo Bizar, Marco Trindade, Silvio Silva, Sônia Elã, Kátia Botelho Secretária-geral: Sônia Elã Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais). Diagramação: Marcelo Bizar Capa: Concepção: Marcelo Bizar e Marco Trindade; Arte e Grafismo: Marcelo Bizar Imagens: todas as imagens não creditadas foram retiradas da Internet, tendo optado o Conselho Editorial da revista por não identificar seus autores quando desconhecidos. Contato: sarausuburbio@gmail.com, https://sarausuburbio.wixsite.com/revista. Distribuição: A distribuição da Revista Sarau Subúrbio é online. Encontra-se em diversas plataformas da Internet. Em seu sítio: https://sarausuburbio.wixsite.com/revista, e também: ISSUU, Calaméo e alguns blogs: Sapoblogs, Recanto das Letras e Bloger. Notas importantes: A Revista Sarau Subúrbio é uma publicação totalmente gratuita, sem fins lucrativos. Não contamos com patrocínio de qualquer natureza. Nosso objetivo, em linhas gerais, é servir de instrumento para que os artistas que não possuem espaço de divulgação nas mídias tradicionais possam apresentar seus trabalhos, nas mais variadas formas, seja na literatura, na música, no cinema, no teatro ou quaisquer outras vertentes artísticas, sempre de forma livre e independente. Todos os direitos autorais estão reservados aos respectivos escritores que cederam seus textos apenas para divulgação através da Revista Sarau Subúrbio de forma gratuita, bem como a responsabilidade pelo conteúdo de cada texto é exclusiva de seus autores e tal conteúdo não reflete necessariamente a opinião da revista.


EDITORIAL Dedicamos esta edição da nossa Revista a todas as mulheres do mundo, em especial às brasileiras, às suburbanas, as nossas companheiras de vida, e sem dúvida a todas as escritoras que contribuem para a manutenção desta Revista. Este ano, no mês em que se celebra o Dia Internacional das Mulheres, festejamos também a nossa grande festa “popular”, e coincidência ou não, foi o carnaval das mulheres, protagonistas, desabusadas, tirando sarro com geral, dando os seus recados, brincando, amando, contestando, usando a irreverência de suas fantasias e de suas falas, para fazerem história num momento tão dramático que vive nosso país. Para exaltar o carnaval Feminino e Suburbano, evocamos a nossa grande compositora Dona Ivone Lara − primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba − como símbolo de pioneirismo, resistência negra e grande talento, um dos maiores na História da nossa Música Popular. Fiquem com a poesia de Dona Ivone Lara, que em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau, compôs para o GRES Império Serrano desfilar no carnaval de 1965, um dos mais belos sambas-enredo de todos os tempos: O S C i n c o Ba i l e s d a H i s t ó r i a d o R i o (Bacalhau / Ivone Lara / Silas De Oliveira) Carnaval, doce ilusão Dê-me um pouco de magia De perfume e fantasia E também de sedução Quero sentir nas asas do infinito Minha imaginação Eu e meu amigo Orfeu Sedentos de orgia e desvario Cantaremos em sonho Os cinco bailes da história do Rio Quando a cidade completava Vinte anos de existência O nosso povo dançou Em seguida era promovida a capital

A corte festejou Iluminado estava o salão Na noite da coroação Ali no esplendor da alegria A burguesia fez sua aclamação Vibrando de emoção O luxo, a riqueza imperou com imponência A beleza fez presença Comemorando a Independência

Ao erguer a minha taça Com euforia Brindei aquela linda valsa Já no amanhecer do dia A suntuosidade me acenava E alegremente sorria Algo acontecia Era o fim da monarquia Lá rá rá lá rá rá rá rá


SUMÁRIO 0203040507080911131517202223262931323336384143-

EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO TUQUINHA BATISTA - UMA ALMA SUBURBANA ETERNA RAINHA O CARNAVAL O SAMBA NÃO TEM FRONTEIRAS SÃO APENAS QUATRO DIAS, SR. BISPO O TEMPO E O SAMBA... MIREM-SE NO EXEMPLO DESSAS MULHERES... DEZ, NOTA DEZ ÁGUA SANTA MICROCONTOS DOS MACROCOSMOS - CARNAVAL BRASILEIRO HISTÓRIA DO CHORO I - CHORO, BRASILEIRO E SUBURBANO SIMETRIA I - UMA BELEZA DO CARNAVAL SUBURBANO PAULIN E A LATA DE SARDINHA POEMAS GLOBURBANOS OUTONO EU!... POETA? BLOCO DAS "PIRANHAS DE MADUREIRA" (ORIGINAL) TEMPOSIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS - IRAJÁ: TY A JÁ JORNAL DOS SPORTS E AS MUDANÇAS (1972-1980) BLOG DO TIZIU


TUQUINHA BATISTA – UMA ALMA SUBURBANA

Nesse mês de março, que é marcado pelo Dia Internacional da Mulher, escolhi escrever sobre uma mulher: Tuquinha Batista. É bem verdade que se trata de uma personagem fictícia, saída da fértil imaginação do escritor Aníbal Machado, mas que poderia sem dúvida, existir na vida real. Tuquinha Batista, ou T.B., era uma mulher suburbana, pobre e que tinha um imenso orgulho do seu lugar de origem, ao contrário da irmã, que foi seduzida pelos encantos da Zona Sul. Esse é justamente o primeiro aspecto interessante que eu vejo em Tuquinha: sua identidade está no subúrbio, onde é conhecida e orgulha-se disso. Em contraste, a irmã Mundinha, batizada Raimunda, agora é Betsy “com ipicilone”. Para Tuquinha, isso tudo era culpa da transformação que a Zona Sul operava nas pessoas, por isso sempre repetia: “pra Zona Sul eu não vou”. O que Betsy havia experimentado pode ser visto como um processo de desagregação e dispersão de sua identidade original. O conto “Monólogo de Tuquinha Batista” é dividido em dois longuíssimos períodos, nos quais não há nenhum tipo de pontuação, dando ao texto um aspecto bem dinâmico. Além disso, foi escrito e publicado entre os anos de 1940 e 1950, quando o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro, experimentava um processo de modernização ao tornar-se um país periférico dentro do mundo capitalista. O American Way of Life invadia o Brasil. Mas esse não era o ideal de Tuquinha Batista. O que ela gostava era da batucado no morro, do Carnaval, do barulho dos trens. Ela também sabia que muitas vezes a mulher, especialmente a mulher do subúrbio, era vista como um mero objeto que passava de "mão em mão” entre os homens da Zona Sul. A própria Tuquinha teve que defender-se com um tapa da “mão boba” de um pretenso aliciador de moças suburbanas. Não posso deixar de pensar em como, décadas depois, as mulheres, independente da classe social, ainda são vistas como “coisas” e seus corpos como se fossem públicos, onde qualquer homem pode “passar a mão”. Infelizmente isso, longe de ser produto da ficção, ainda é uma realidade. Mas Tuquinha é sonhadora e quer ser rainha do Carnaval. Para isso investe suas poucas economias no vestido e nos adereços para fazer bonito no desfile. Ela ama o Carnaval, como tantas moças suburbanas, é admirada pelos rapazes que a chamaram para dar o primeiro chute em uma partida de futebol, e quer encontrar um noivo. O subúrbio de


Tuquinha Batista é um subúrbio de sonho, lugar onde ela tem as suas raízes e de onde não quer sair. Enquanto Raimunda foi para a Zona Sul e virou Betsy, Tuquinha continua sendo Tuquinha, e apesar de se sentir tentada a deslocar-se para o outro lado da cidade, prefere ficar no seu amado subúrbio. Quantos de nós podemos nos identificar com Tuquinha Batista, que não abandonou as suas raízes suburbanas e que profere quase que um manifesto de amor ao subúrbio. Quantas de nós mulheres, suburbanas ou não, não aceitamos sermos vistas como objetos e combatemos isso de frente? É por isso que como eu escrevi no início do texto, Tuquinha Batista poderia sim existir na vida real e, de certa forma, ela existe.

ANA CRISTINA DE PAULA

Fontes de Consulta: DIOGO, Sarah Maria Forte; SCARPELLI, Marli Fantini. Do sonho ao chão: análise das narrativas “Monólogo de Tuquinha Batista” e “O telegrama de Ataxerxes” de Aníbal Machado. Revista Recorte – Revista eletrônica do Programa de Mestrado em Letras – Unincor, v.8 n.2, 2011. Disponível em: http://periodicos.unincor.br/index.php/recorte/article/view/324 MACHADO, Anibal M. Monólogo de Tuquinha Batista. In: A morte da Porta-Estandarte, Tati, A Garota & Outras Histórias. 11ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982, p.92-97.


ETERNA RAINHA O Samba é lindo e não tem complicação! O Samba é livre pra não haver confusão. Samba é sorriso! Samba transmite a paz! Samba é pura emoção! E arrebata o coração!!! Amor vem comigo pro Samba Não precisa de muito Só precisa sorrir e cantar. Amor vem pra ver como e lindo A alegria de todos Vem curtir e sambar... Mostra que você é capaz Abra os braços pro Samba Todos vão te aplaudir. Na quadra todos querem te ver. E a Rainha do Samba Sempre será você!!! Amor veste as cores da Escola Põe um brilho nos olhos Só prá descontrair e encantar. Amor você é minha estrela Minha inspiração É ver você desfilar. Deixa todos de boca aberta E vem prá passarela Fazer o povo sonhar... Canta pra todo mundo saber Que a Rainha do Samba Sempre será você!!! JUNIOR DA PRATA POETA E COMPOSITOR


O CARNAVAL

Chegou o Carnaval Linda festa, herança popular Ecoa no ar sentimentos e pura fantasia Vem para alegrar esse povo rico de esperança E no olhar o brilho que seduz, na face um sorriso de luz E no coração que pulsa de amor Transborda de emoção e expulsa a dor. Mas o Carnaval é muito mais que isso No ritmo do samba traz feitiço De paixão, também é rico de amizades Na passarela de sinceridades, Desfila num mar de harmonia E sob a direção da escola união Carrega um caldeirão de felicidade. As cores da aquarela enfeitam as ruas do meu Rio A velha guarda abraça a mocidade Em meio a multidão e muita vibração O Carnaval toma conta da cidade. ELAINE MORGADO


O SAMBA NAO TEM FRONTEIRAS

Pois é, acabou o carnaval de 2019 e ao longo do ano foram muitas dificuldades enfrentadas pelas escolas de samba do Rio de Janeiro em todas as séries. O prefeito eleito e apoiado pelos próprios sambistas, novamente deu as costas para eles. É bem verdade que a Liesa perdeu apoios importantes como o dos supermercados Guanabara e da Uber, mas o Prefeito Marcello Crivella procurou dificultar o máximo as agremiações. Primeiro reduzindo as verbas da subvenção mais uma vez. As escolas do grupo especial em 2017 receberam o valor de dois milhões de reais cada. No ano de 2018 já com o orçamento de sua gestão tiveram a redução para um milhão de reais. Para o carnaval de 2019 ele teve a cara de pau de reduzir mais ainda, dando somente 500 mil reais para cada agremiação do grupo especial e essa redução se estendeu aos demais grupos de escolas de samba e blocos de enredo. No ano, o risco de se repetir a ausência dos ensaios técnicos era evidente. Não fosse a intervenção do Estado que através da lei do ICMS de incentivo a cultura deu condições para que a Light e a CEDAE patrocinasse as escolas. Só a Light patrocinou 14 milhões para as escolas do grupo especial, então elas puderam realizar os ensaios técnicos e concluir seus carnavais. Já as escolas dos outros grupos não tiveram a mesma sorte, pois além de terem também suas verbas reduzidas só as receberam em cima do carnaval dificultando seu cronograma de realização das etapas referentes a seus carnavais.


Mas, com tudo isso as escolas de samba se superaram e os desfiles foram um sucesso. Na intendente Magalhães, onde desfilam os grupos D,C e B, o povão se deliciando com a originalidade e a beleza das escolas de lá, que se não tem luxo, esbanjaram na criatividade onde foram campeãs União de Jacarepaguá, império da Uva e Acadêmicos de Vigário Geral respectivamente. No Sambódromo no grupo A deu Estácio de Sá que volta ao grupo especial no ano vindouro.. No grupo principal brilhou a Mangueira com um excelente desfile inspirado no Enredo, “Historia para ninar gente grande” com um samba de rara beleza, narrativo e inteligível em cuja parceria tem Danilo Firmino, um dos colunistas da Revista Sarau Subúrbio. No mais salve as mulheres sem elas o que seria do samba?

ONESIO MEIRELLES


SÃO APENAS QUATRO DIAS, SR. BISPO Eu quero sim pular carnaval, brincar carnaval, eu quero folia, quero poesia, quero confete, quero serpentina. Quero a colombina tirando onda com o Arlequim, quero cantar "um pierrot apaixonado", quero ouvir a malandragem de Roberto Martins, quero ressuscitar a Praça XI, eu quero dar um rolé no Rabugento, e no Loucura Suburbana. Quero um disco de vinil tocando Samba, quero a volta do banho de mar à fantasia, quero marchinha, quero o bloco do eu sozinho, quero ver um amor de carnaval sem certidão registrada em cartório e voto de castidade. Eu quero um carnaval sem ambev, sem celebridade, sem valor agregado... eu quero é liberdade!!! Quero lançar perfume no cangote da menina, quero Chiquinha Gonzaga me dando um beijo no rosto. Eu quero ver o Rio em preto e branco, sem maquiagem, sem photoshop.


Quero sentir o cheiro das doenças venéreas que vem do Mangue. Eu quero o samba-amaxixado, a saliência do Lundu. Eu quero a profanação do sagrado, eu quero a umbigada. Eu quero sair mascarado pelas ruas de Pilares desacatando geral. Quero andar vestido de Clóvis da Abolição até Bento Ribeiro, batendo forte com a bexiga no chão, depois de sobreviver à Praça Avaí e à Praça Manet. Quero bagunçar o coreto do Sussuca em Paquetá. Eu quero ouvir um samba no carnaval, eu preciso ouvir um samba no carnaval, me deixem ouvir um samba no carnaval. Eu quero vagar por Madureira, entre Império e Portela feito uma alma penada, eu quero ser um pecador desregrado, quero subverter a razão, são apenas quatro dias, SR.BISPO, pro resto do ano eu volto ao normal.

MARCO TRINDADE


O TEMPO E O SAMBA...

Tempo de amar Viver e ser feliz Não há mais tempo Para intrigas desavenças E Mal querer Se tenho tempo Vou escrever, ler Andar na praia Sobreviver Fazer alguma coisa Acontecer. Pois é tempo de ser solidário De ser amigo, dar aquele abraço Sem pensar no que vai receber Ser humano de verdade Independente da idade Pois estar na sociedade Pois estar na sociedade É cada dia morrer Pelas Desumanidades. Isto está no pensamento E com muito sentimento


Quero ser aquela que sempre Tem bom argumento, Pois a pessoa é o objetivo Do auto-cuidado para escapar Do sofrimento e com muita Propriedade o Samba tem o Poder de curar,quando estamos Preparados par dialogar e estudar suas propriedades transformadoras que potencializam as energias positivas do ser Que vão interferir na sociedade Pois é, tempo é este florescer

MÁRCIA LOPES


MIREM-SE NO EXEMPLO DESSAS MULHERES...¹ Que não acordam, pulam da cama. Que coam café, requentam o pão, passam uniformes escolares, aventais e camisas. Mirem-se no exemplo dessas mulheres que terminam o almoço às seis da manhã, embrulham marmitas, beijam os filhos e trinta minutos depois se espremem em ônibus e trens para, em passos apressados, subirem pelo elevador de serviço. Mirem-se no exemplo dessas mulheres que atendem com um sorriso atrás de balcões, que vendem sanduíches, balas e doam esperança em calçadas, passarelas e estações. Mulheres que costuram tecidos com as linhas da vida, que vendem verduras, transportam apressados, acalmam estressados, cuidam de dores de enfermos e consolam choros abafados. Mirem-se no exemplo dessas mulheres que estudam e ensinam, que corrigem e incentivam. Mulheres que servem pratos, bandejas, xícaras, que manuseiam conchas e colheres cheias de porções que sustentam corpos e almas, ainda tenras promessas uniformizadas de futuro. Mirem-se no exemplo dessas mulheres que são mãos, braços e suor. Que arrancam raízes, debulham grãos, retiram água de poços. Mulheres que encardem faces e sorrisos de carvão, que são barro que preenche paredes de casebres em veredas sem fim. São mulheres que sulcam a terra, semeiam, germinam, florescem e desabrocham. Resistem de pé sob Sol ou chuva nos cerrados, pampas, caatingas, igarapés, florestas e cidades. Mirem-se no exemplo dessas mulheres que empunham faixas e cartazes, sobem o tom e preenchem praças, ruas e avenidas, exigindo respeito e igualdade, “pero sin perder la ternura” e, forjadas na lida diária, não tem tempo de olhar para trás. Foram sim Dandaras, Marias, Mahins, Teresas e Marielles². Mas, são também Carolinas, Conceições, Rosarias, Fátimas, Anas, Mônicas, Lúcias, Josefas, Franciscas, Antônias e muitas outras. Todas fortes, sensíveis, criativas, inteligentes, rochas, pétalas, lobas, lágrimas, sorrisos e encantos. São mães que nutrem as crias, aplacando a fome e garantindo a vida.


Mirem-se no exemplo dessas mulheres de lenço na cabeça, vassouras e calos nas mãos. São faxineiras, artistas, estudantes, professoras, legisladoras, executivas e presidentas. São também camponesas, cientistas, amigas, solidárias, conhecidas, anônimas, diversas e únicas. Todas feitas do mesmo amálgama da resistência, que devem estar onde quiserem estar e onde merecem estar. Mirem-se no exemplo dessas mulheres que não são de Atenas e nem vivem para os seus maridos!

SILVIO SILVA

1- Música: Mulheres de Atenas. BUARQUE DE HOLLANDA, Francisco e BOAL, Augusto, 1976. 2- Música: Histórias Para Ninar Gente Grande, samba Enredo da Estação Primeira de Mangueira. Firmino, DANILO, Mamá, BOLA, Márcio, OLIVEIRA, Ronie , MIRANDA, Tomaz. 2019.


DEZ, NOTA DEZ! O intelectual destruidor das evidências e das universalidades era um dos sonhos de Foucault. Para o mestre francês este super intelectual localizaria e indicaria quais seriam os pontos fracos, as brechas, as linhas de força nas inércias e coações do nosso presente e que, exatamente por estar tão atento ao presente, se deslocaria sem cessar, não sabendo onde chegaria ou o que pensaria futuramente. Um sonho genuíno, inesperado e até certo ponto utópico? Geralmente o que vemos são os intelectuais formatarem verdades incontestáveis e, quando finalmente encontram as brechas e os pontos fracos do que parecia ser uma evidência universalmente aceita o fazem na medida em que apresentam a nova evidência universal, correndo atrás de um novo rabo, como faziam os intelectuais desmascarados. - Já imaginou algo que fosse barato, útil e pudesse ser usado com eficácia nas escolas, hospitais e demais instituições e pudesse nos dar proteção por meio da disciplina!? Uau, seria algo muito interessante. Lá vem o Bentinho com mais uma de suas ideias. Ele colocou na cabeça que será em breve um empresário rico e bem-sucedido. O problema é que agora o papo dele só gira em torno do mesmo assunto. - Jejê, muda o disco desta vitrola! Só fala em empreender, empreender, empreender. Acabou resmungando o Michel, amigo de bar de longa data aqui no Encantado. - Seu Maurício, traz uma gelada pra esses dois. Quem sabe não acalmam os ânimos!? Aliás, faz melhor, traz duas e uma deixa cair na minha mesa. É por minha conta, amigos. Eu acabei pagando uma cerveja pros dois e pedindo mais uma. E acabei pedindo ainda o famoso "frango às passarinhas", como o Maurício chamava o acepipe que pelos botecos do subúrbio carioca é conhecido por outro nome, bem parecido. Mas a gente perdoava o Maurício, sabíamos que era "só de sacanagem" (a deixa do dono do bar, um argentino carioca) que ele fazia isso.


Eu, Jeremias Bento e o Michel viemos ao boteco do Maurício pra assistirmos à apuração das notas que receberam as escolas de samba do grupo especial carioca e sabermos quem será a campeã. - Este ano não tem pra ninguém, vai dar Portela na cabeça. - E por que você acha que a Portela ganha, Bentinho? Perguntou o Maurício. - A Portela sabe empreender melhor seu carnaval. Com certeza vence que sabe empreender. - Mas não é possível! Para com esse papo de empreender, empreender, empreender. Já encheu o saco! Disse o Michel acompanhado da risada do Bentinho, que só queria mesmo era brincar com ele. Não sei muito bem o motivo mas uma frase do Foucault me veio à mente: "Édipo não se cegou por culpa, mas por excesso de informação." Talvez tenha sido por causa do Michel e seu empreendedorismo. - Meu amigo Bentinho, o que você está querendo empreender já existe, meu querido. Foi inventado por um xará seu inclusive e se chama panóptico. - Lá vem você com coisa da Venezuela, Jonas! Para com isso, garoto! - Que Venezuela que nada, Maurício. Não tem nada a ver com panamericanismo. É panóptico. - Antes de explicar o que é esse tal de "panótico" aí, quem é esse meu xará? - O camarada que teve a ideia do panóptico foi um inglês: Jeremy Bentham. Não deixa de ser seu xará não é Jereminas Bento!? Acho que seu pai te deu o nome em homenagem, sabendo que seu pai era historiador, tenho quase certeza. Depois confirma com ele. - E o pan-alguma-coisa aí!? Do que se trata? Maurício perguntou enquanto enxugava uns copos. - Seria uma penitenciária bastante eficaz onde um único vigilante teria condição de observar todos os prisioneiros mas estes não saberiam se estavam ou não sendo observados. O medo e receio de estarem sob vigilância deixariam os presos mais obedientes.


- Um só vigia não tem como olhar para todos os lados ao mesmo tempo. É furada isso. - Tudo bem, Michel. Um vigilante parece exagerado, mas num panóptico se usariam poucos vigilantes para tomar conta de uma penitenciária inteira. Basta que a prisão tenha um formato circular e o vigia esteja no centro. Com pouquíssimos movimentos ele pode observar tudo ao seu redor. E se estiver no alto então, numa torre ou estrutura circular, nada lhe escapará. Teoricamente parece bom, mas não é prático e custa caro. - Nesta área, como empreendedor eu investiria em tornozeleiras eletrônicas. - Empreendedor, empreender, empreender... que saco! - Neste caso você concordaria então com o Deleuze, Bentinho. - Se você tá dizendo, Jonas! O que esse camarada disse? - Ele disse que na atualidade as sociedades são sociedades de controles, e que agora a obediência e disciplina não funcionam mais pelo confinamento, mas pelo controle contínuo e comunicação instantânea. - Isso é verdadeiro. Só de sacanagem eu aposto que todo mundo aqui tem conta no Facebook. - Maurício, eu não tenho conta nesta chatice, não. - É mesmo Michel, e zap? Aposto que tem zap? - Zap todo mundo tem. É pra se comunicar. Minha esposa me forçou a instalar no meu celular. E vamos calar a boca que a apuração já vai começar e eu quero ver a minha Mangueira ganhar. Maurício, sai ou não sai o "passarinhas"? - Dez, nota dez! J O N A S H É BR I O SOCIÓLOGO DE BOTECO


ÁGUA SANTA

Um escravo recém alforriado de nome Domingos Camões descobriu a segunda fonte hidromineral do Estado do Rio de Janeiro. Tal fato ocorreu no ano de 1888. Um bairro do subúrbio carioca, devido à sua descoberta, foi batizado de Água Santa. A partir do ano de 1909 que ex-escravo iniciou o engarrafamento da água da fonte por ele descoberta. Embalagens de vinho com capacidade para cinco litros foram utilizadas na forma artesanal do engarrafamento. As garrafas eram entregues nas portas dos moradores da região, levadas nos lombos de burros. Na região da então capital brasileira a água de Domingos era conhecida como "água santa" e acabou depois designando o próprio nome do bairro: Água Santa. A empresa Águas Santa Cruz surgiu no ano de 1914, mantendo-se até os nosso dias, e permanece com o nome da fonte. A maior característica do bairro de Água Santa é ser residencial. Como limites ao bairro temos: Jacarepaguá, Freguesia, Piedade, Encantado, Engenho de Dentro e a Serra dos Pretos Forros.


Há informações de que no passado havia um quilombo na região do bairro de Água Santa, por isso a encosta do bairro recebeu o nome de Serra dos Pretos Forros. A Serra dos Pretos Forros é uma ramificação da vertente norte do Maciço da Tijuca e serve como divisor dos bairros dos subúrbios da Central e Jacarepaguá. Os escravos livres (forros, alforriados) se instalaram na região gerando uma fazenda conhecida como roça dos pretos forros. Inaugurada em 1997, a Linha Amarela atravessa o bairro. O presídio Ari Franco fica localizado no bairro de Água Santa. Importante para o bairro é a festa de Santo Antônio, na igreja que homenageia o santo católico, ocorrendo no mês de junho. Em junho do ano de dois mil foi criado pela Lei nº 3.035/2000 o Parque Ecológico da Água Santa na área da Pedreira de Santa Luzia. Infelizmente o parque ecológico só consta do papel da citada lei. Para conhecermos um pouco mais da Serra dos Pretos Forros e também do bairro de Água Santa (Morro da Covanca) sugerimos uma visita ao blog rmmtrilhas.blogspot.com: (http://rmmtrilhas.blogspot.com/2014/07/morro-dacovanca-o-comeco-de-tudo.html). Quando vemos as fotos encontradas no citado blog vemos o quanto seria interessante fazermos passeios pela região e que ele mereceria um estudo mais detalhado quanto a sua importância histórica, biológica e paisagística. MALKIA USIKU


MICROCONTOS DOS MACROCOSMOS CARNAVAL BRASILEIRO Será que vocês vão gostar? Sou usuário novo em redes sociais. Acabei fazendo uma conta, como meu sobrinho diz, mas sempre que quero colocar algo fico pedindo a ele. Enrolo-me demais com isso ainda. Aconteceu que depois de mais de seis horas assistindo, em todos os canais de televisão, aos carnavais pelo Brasil a fora (coisa de aposentado), confesso que uma ideia ficou ecoando aqui dentro da minha mente velha e cansada, e gostaria de compartilhá-la:

"No carnaval brasileiro é q u a n d o n o s v e mo s sem fantasias" – Antero Catan, carnaval de 2019 Mas, meu sobrinho não voltou pro rio depois do carnaval e tive que guardar a frase até agora. Ainda deve estar sem fantasia. ANTERO CATAN


HISTÓRIA DO CHORO I CHORO, BRASILEIRO E SUBURBANO

Choro, um gênero musical brasileiro. Só que não de qualquer dos brasis que habitam nosso país. O choro é carioca de nascimento e bairrista, sim, o choro é suburbano. Popular e carinhosamente conhecido por chorinho, o ritmo suburbano de coração tem sua origem na forma de tocar os ritmos que foram trazidos ao Brasil e não em um novo ritmo. O choro é nossa primeira música suburbana (os autores costumam dizer urbana, entretanto o choro não teve sua origem e desenvolvimento nos centros urbanos e sim nos subúrbios cariocas). Um gênero musical, instrumental e popular surgido no Rio de Janeiro em meados do século XIX. Há muitas discussões quanto à sua História. Acreditamos que talvez isso ocorra por falta de mais pesquisas sobre o gênero brasileiro tão importante. O que nos parece um paradoxo devido à importância e reconhecimentos mundiais quanto ao gênero musical. Há unanimidade em reconhecer que o choro começa com a forma sincopada dos músicos suburbanos cariocas de interpretar as músicas instrumentais estrangeiras que estavam em voga no Brasil lá pelos idos dos anos 1870, e que nos eram impostas pela elite dominante da época. Aqui no Brasil o que se tocava, ouvia e se gostava mesmo eram dos ritmos aqui criados com características africanas, que já se enraizavam em nossas festas e comemorações.


Ritmos tais como valsa, polca, habanera, mazurca, marcha, schottisch, eram trazidos da Europa. Mas, quando aqui chegavam se encontravam com os ritmos e danças africanos, que já estavam se enraizando. Os ritmos vindos do estrangeiro ao se encontrarem com os lundus, umbigadas e batuques, ganharam novos e inusitados contornos, principalmente em relação ao jeito sincopado de se tocar. O choro acabou tendo sua origem através desta característica que era exceção à regra, o uso intenso de síncopes. Alguns se perguntariam: o que é este jeito de tocar sincopado? Vamos falar um pouco então de teoria musical. Os ritmos podem ser marcados. Todos fazemos intuitivamente isto seja através de palmas, batidas dos pés, batidas em algum objeto. É o que chamamos de pulsação da música. Toda pulsação tem o tempo forte e seu tempo fraco. O tempo forte é o do som da palma e o tempo fraco o tempo em que as mãos estão separadas. As melodias dos ritmos de origem europeu costumam começar ou acabar nos tempos fortes, só que os ritmos trazidos pelos africanos tinham a característica de começar e terminar frases melódicas nos ritmos fracos, acentuando-os, fazendo com que se deslocassem as partes fortes da melodia para as partes que seriam fracas. Este fenêmeno de deslocamento se chama em música de síncope. Elas criam inusitadas pulsações nas melodias e na música europeia eram usadas com extremo cuidado, uma exceção que era evitada. Tocar sincopadamente é tornar esta quase proibição (a síncope) numa regra. Tocar de forma sincopada é subverter a lógica da música européia na questão rítmica. Outra característica importante do choro é a improvisação. As músicas ao serem tocadas pelos músicos populares brasileiros perdiam sua caracterísitca originária. As novas feições que adquiriam eram frutos de improvisações ritmicas, melódicas e harmônicas criativas desenvolvidas pelos músicos que seriam conhecidos como chorões. Assim, as músicas tomavam jeito brasileiro. Apesar de alguns acharem que improvisação em música é sinônimo de Jazz, não é a verdade. Um músico do choro, um chorão, tinha como condição básica de sua interpretação e desenvolvimento musical a improvisação. Tais improvisações demandavam dos chorões um bom conhecimento técnico do seu instrumento e certa dose de virtuosismo.


Muito comuns eram as modulações imprevistas que eram improvisadas durante a interpretação dos choros. Modulação, em música, é o fenômeno de mudar o tom da música durante sua execução. Esta mudança do tom os músicos chamam de modulação. Para um músico uma modulação muitas das vezes traz um grau de dificuldade, imagina então modulações imprevistas, que eram as realizadas pelos chorões e elas eram imprevistas pois o novo tom não era o que se esperava ocorrer (modulação para um tom vizinho, outro conceito da nossa música tonal ocidental). O costume era modular para tons distantes, o que ocasionavam imprevistos e dificultava sobremaneira a execução das músicas. Eram feitas com o propósito de desafio, servindo também para checar se os iniciantes na roda de choro eram "espertos" ou, muitas vezes, como forma de diversão mesmo. Muitos músicos não se arriscavam na empreitada. A roda de choro também era improvisada. Não se sabia quem poderia chegar para compô-la e nem o tamanho que teria. Era grande a variedade de composições que se improvisavam. Notamos assim quanto improviso tinha o choro. Improvisados eram o ritmo (pelo confronto dos ritmos europeus com os africanos), a harmonia (com as modulações inesperadas e desafiadoras), a melodia (elas eram tocadas sem a leitura de partituras, que eram caras e poucos sabiam lêlas, fazendo-os improvisar de acordo com o que lembravam e ainda as carregavam de síncopes, tornando-as muito diferentes do original), a formação do conjunto e o lugar onde tocavam. Então, não sabemos o motivo quando alguém fala que improviso no choro é misturar Choro com Jazz. Estávamos nos primeiros anos da independência do país, e exatamente na época em que o Brasil começa a se transformar num país independente de Portugal, formando sua identidade própria e peculiar, ou buscando entender tais características, que surge o choro. O choro é então o primeiro gênero musical instrumental suburbano brasileiro. E tem muita História sobre o choro a ser contada nos nossos encontros mensais. Deixamos abaixo a ligação pra escutarmos o chorinho que ouvia enquanto escrevia estas páginas. Até o próximo encontro. Abraços. MARCELO BIZAR MÚSICO E ESCRITOR


SIMETRIA I UMA BELEZA DO CARNAVAL SUBURBANO A Matemática explicaria o conceito de beleza? Talvez seja uma ideia radical mas não é nem um pouco recente e muita gente já pensou assim, do filósofo grego Platão até a modelo tcheca Paulina Porizkova. Até onde se sabe, Platão foi o primeiro filósofo a pensar sobre a relação entre beleza e Matemática. O filósofo acreditava que o belo seria tudo em que as partes se agrupam de um modo coerente compondo a harmonia do todo. Partes, todo, coerente são conceitos matemáticos conhecidos como elementos, conjunto, lei de pertinência, daí a visão matemática do belo. Aristóteles, outro filósofo grego, sintetizou o que Platão queria dizer por meio de uma ideia resumida na palavra simetria. Simetria é uma palavra rica. Pode ser compreendida restritivamente como uma característica que consiste em que os lados opostos de um objeto (figura, pessoa, animal, flor etc) dividida por um eixo central são exatamente. Num sentido mais amplo, simetria tem como características o equilíbrio e a proporção entre as partes de algo. Assim, quando a modelo tcheca diz que sua beleza tem uma explicação simples: "Tudo é uma questão de quantos milímetros existem entre os dois olhos e entre a ponta do nariz e o queixo.", ela está se referindo à ideia matemática da simetria. A beleza então é uma expressão numérica? Sim e não. A natureza nos ajuda a entender a resposta positiva à pergunta. Ao observarmos a natureza vemos a simetria espalhada em tudo que é parte. Observe o quadro abaixo. Beleza e simetria poderia ser seu nome.


O filósofo romano Plotino acreditava que algo realmente belo não pode ser belo tão somente em sua aparência geral e a harmonia (simetria em sentido amplo) tem que estar também nos detalhes. E não é só na natureza. Nas artes vemos o padrão simétrico ser quase que uma regra. Ele está presente até onde não o enxergamos. Nas palavras do matemático Hermann Weyl: "“...raramente a assimetria é mera ausência de simetria. Mesmos nos desenhos assimétricos pode-se sentir a simetria como norma da qual se desvia sob a força de caráter não formal". A simetria está por toda parte na natureza e no mundo da cultura: das moléculas de DNA, passando pelo corpo humano, indo até aos desenhos das galáxias, lá está a simetria. Da bandeirinha da Festa de São João às fantasias das escolas de samba, lá está a simetria. Há muita simetria no carnaval: nas fantasias, nos carros alegóricos, nos estandartes e até mesmo onde pode parecer reinar o caos, a simetria está presente. Observemos as imagens abaixo:

Físicos estudam a simetria também. E muitos experimentos tem indicado que há uma simetria fundamental na Natureza. As partículas subatômicas, que são expressões mais básicas da natureza física (são menores que o átomo e o constituem) exibem uma simetria chamada de CPT (carga, paridade e tempo). A simetria CPT pode ser entendida da seguinte forma: as interações observadas entre as partículas, mesmo depois que elas passam por três transformações que são: 1. inversão de suas cargas entre negativo ou positivo (C); 2. suas coordenadas no espaço, a paridade, para cima ou para baixo (P); 3. a reversão do tempo que consiste em que as leis físicas não são afetadas por avançar ou retroceder no tempo (T), as interações físicas entre as partículas não se alteram.


A simetria está presente em muita coisa da cultura suburbana. Afinal, quem não gosta de beleza. As imagens abaixo não nos deixam mentir:

O assunto é rico e complexo. Nosso espaço é limitado. Voltaremos a falar mais sobre o assunto simetria, simetria suburbana, beleza e matemática. São assuntos inesgotáveis e que muitas vezes precisam ser confrontados por diferentes e até antagônicos lados, afinal de contas, como já disse o poeta asturiano Ramón de Campoamor y Campoosorio: "A beleza está nos olhos de quem a vê", e possivelmente quem vê a beleza a enxerga numa simetria pessoal e relativa, ainda que ela seja assimétrica na visão de outras pessoas.

HERALD COSTA


PAULIN E A LATA DE SARDINHA O pobre não é bonzinho por ser pobre. É um ser humano normal: precisa fazer escolhas morais o tempo inteiro, assim como o rico ou um sujeito de classe média. Entretanto, uma coisa é inegável: quanto mais pobre você é, mais é posto à prova de dilemas morais. Fazer um gato de luz ou dormir no calor? Pular a roleta ou ficar sem embarcar? Falsificar a carteirinha ou pagar uma fortuna pelo cinema? Devolver a carteira encontrada ou pagar as dívidas? Arrumar um contato na UPA pra passar na frente ou perecer na fila? Nesta semana, houve mais um desses embates éticos. Dessa vez, nos trens da SuperVia. Quase 1 kg de sardinha em lata vendido a 5 reais. Quem vai querer, moço? Mais alguém? É pra acabar, é a sardinha em lata diretamente de São Gonçalo! Erraram o santo aí. Na verdade, essa sardinha em lata havia saído de São Gonçalo, mas já pertencia ao estado de São Paulo. Já pertencia aos estômagos dos alunos da rede pública paulista. Só que no meio do caminho, havia um roubo de carga. Havia um roubo de carga no meio do caminho. Da Avenida Brasil a sardinha em lata fez um tour na zona norte até, enfim, chegar ao ramal Belford Roxo. E aí chegamos ao tal dilema ético. Imaginemos Paulin, 45 anos, estômago roncando. Trabalhou numa obra o dia todo, comeu uma comida meio azeda e, agora, a oferta da sardinha em lata está ao seu lado. O Paulin não quer saber o porquê de a sardinha em lata estar quase de graça. Ele só pensa no patê com maionese que vai fazer pra passar no pão e comer com cerveja, na única folga da semana.


Se Paulin fosse rico não passaria por esse dilema. Se passasse, poderia refletir acerca das mazelas sociais, da segurança pública e da grave questão de saúde em oferecer produtos cheios de conservantes às crianças. Mas Paulin só pensava na sardinha em lata. – Por que diabos Paulin só consegue pensar em sardinha em lata? – você pergunta. Não é apenas a fome. É ele próprio. Paulin, 45 anos, estômago roncando, num trem da SuperVia do ramal de Belford Roxo, viajando que nem… sardinha em lata.


POEMAS GLOBURBANOS:

C a ra v e l a s Angola Brasil São Tomé e Príncipe Guiné Bissau Timor Leste Moçambique Cabo verde Porto Gal. ................................................................................................................................... Aparecer para parecer. aparecer para parecer ser. só você vê parecer ser o que se vê. não parecer mentira aparecer imagem parecer verdade. ..................................................................................................................................... a mo Caroço de manga até o final A carne doce na boca, tem perfume de pôr do sol Pedaços de céu, na boca Pedaços de rosa, no céu Pedaços da manga, nos lábios Pedaços de outono espalhados pela cama, quintal.

RODOLFO CARUSO


OUTONO Caem as folhas Reflito sobre minhas falhas Sentado no banco da praça Olho para o coreto calado Penso na minha vida Nada intrépida Sob a tépida luz do sol Pauso a impensada rotina Absorto, perdido em minha introspecção Repentinamente Desperta-me a algazarra De uma revoada de maritacas Distraem-me um pouco Da leve tristeza que me ataca DOUGLAS ADADE


EU!... POETA? Estou esforçando-me para ser um poeta; daqueles de verve bem apurada e seleta, pleno das palavras de expressão discreta para dosar e ministrar a solução correta: gotas em versos que ao espírito acalma. A mim não incomodarão apupos ou palmas pois na minha pretensão só almejo acalentar almas. Afastá-las de más, se lás há, lembranças e traumas, e, quem sabe, livrá-las dos cabeludos pesadelos que nos fazem arrancar fios de cabelos. Lutarei pra ser, da excelência, um refinado modelo e não economizarei as reservas do meu cerebelo. Inclusive escreverei de maneira perdulária, em negrito, pra deixar, explicitamente bem claro, o grito que desesperadamente ecoa deste peito aflito. Conviver, sem reclamar, com o meu conflito, sem esboçar o menor traço do interno suplício, será um prazeroso bônus do que faço de ofício: viver tranquilo com um pé na beira do precipício e o outro na soleira da porta de entrada do hospício. Mas se na minha cruzada poética eu tiver a sorte de seguir equilibrado no traçado da linha de corte, e nem em um ou outro tiver que fazer aporte, até os badalos derradeiros da hora da morte, será que terei sido feliz no meu intento? Não sei responder tal questionamento a contento! Mas uma coisa garanto: porei em tudo o que tento a leveza do sonho que na densa realidade sustento, e irei muito além dos limites da disposição para assegurar, no meu cotidiano, a minha posição.


Não sou inflexível, abraço, com agrado, nova proposição e elaboro, de bom alvitre, argumentos para composição. Reverente faço vênia, entretanto, sem permanecer contrito, evito e fujo do enfadonho e desnecessário atrito, pois conheço, muito bem, as cercanias do meu distrito. Sob o meu aconchegante tapete não acumulo detrito, sou por demais elegante e primo fazer tudo por inteiro. Curto o improviso, mesmo tendo que seguir um roteiro, e, embora seja um eterno escravo do ponteiro, do jugo da pontualidade evito ser o porteiro. Deixo, muitas vezes, o fluxo da terra ditar o meu prumo, e a carícia do sopro do vento equilibrar o meu rumo. Nestas fugazes ocasiões se não tenho tempo, arrumo, pois pra fazer o que aspiro, renitente me desarrumo, sei que mais à frente, reverente, encontrarei o equilíbrio. Então, espírito renovado, exultante e eivado de brio, ignoro solenemente tudo que possa parecer sombrio, que possa me fazer obtuso e trazer desequilíbrio, e, seguro do que posso e não posso, sigo adiante resoluto dando vazão aos meus devaneios delirantes. Sou assim, como sou, desde muito antes, sempre senhor dos mais tímidos rompantes e nem sempre zeloso amo de contidos espasmos. Reações que não espantam e já não deixam pasmos nem àqueles que alimentam o marasmo. Na retórica, não sou useiro e vezeiro de sarcasmos, mas não posso negar: adoro faiscar uma fina ironia, provocar interferências no transcurso de sintonias no intuito de gerar renovadas formas de sinfonias, num circuito onde, acima de tudo, busco a harmonia. Na minha pauta consenso é sempre a clave de ordem. Além de se ter ouvidos pra àqueles que concordem é primordial saber escutar àqueles que discordem, pois não existe progresso onde se reina a desordem por intolerância ao que se coloca oposto.


Pra ouvir e entender é preciso estar sempre a posto, na vigília, com um espírito desarmado e bem disposto, principalmente se nos for avesso o que é proposto. Usar, sem parcimônia, o bom senso e o discernimento dará credibilidade e sabedoria ao replicado argumento. E se as proposições, em questão, tiverem aglutinamento, estará estabelecido, de certa forma, um novo momento, e até surgir novo embate, navegarei em águas plácidas, bem longe e distante de tormentos e marés ácidas, mas ciente: para o mar as embarcações são flácidas. Daí, num vôo junto a uma revoada de aves psitácidas, eu rasgarei o espaço, pois o céu não é limite, aliás, ainda está para nascer quem ao infinito delimite. Mas, sinceramente: não quero que ninguém me imite, só peço um mínimo de atenção ao que este ser transmite. KAJU FILHO


BLOCO DAS “PIRANHAS DE MADUREIRA” (ORIGINAL) Após o golpe militar de 1964 que instaurou a ditadura em nosso país, no carnaval seguinte (1965) nos mostrou as consequências do autoritarismo, cuja censura atingiu também as manifestações populares carnavalescas, pois estavam proibidas fantasias que abordassem temas ofensivos à moral, à religião, à política e, lógico, aos militares. Assim o folião se viu impedido de exercer a sua criatividade através da sátira tão característica do carnaval carioca. Nas ruas postavam-se grupos de soldados vigiando as manifestações e prontos para a ação. Como exemplo cito um episódio, quando alguns foliões foram presos por exibirem fantasias de soldados, com revólveres de brinquedo e penico à cabeça, imitando capacete. Por causa disso os blocos passaram a usar fantasias “comportadas” e “corretas” para a “moral e os bons costumes” (como se isso fosse possível cumprir no carnaval). É justamente nessa época que as brincadeiras saem das ruas e vão para os clubes, em bailes exclusivos para os sócios e seus dependentes e outros pagantes, quando os foliões e grupos de foliões recebiam prêmios por suas apresentações. Em Madureira, alguns rapazes impedidos de brincar “à vontade” nas ruas, como era tradição, na segunda-feira de carnaval do ano de 1966, se reuniram na garagem do prédio onde residiam para beber (esquina da Firmino Fragoso com Estrada do Portela), coisa rara entre os rapazes daqueles tempos. Entre eles estava Magrão, o autor desta crônica (Lula Dias), mais o jogador de futebol ainda no Bonsucesso, Moisés, os irmãos Zé Paulo e Altamiro e ainda outros dois cujos nomes não são recordados agora. Foram consumidas duas garrafas de vermute, até que os rapazes foram surpreendidos, bêbados, pela irmã de um deles que se apressou em avisar aos pais sobre o ocorrido. O escândalo se instaurou no prédio, com ameaças de punições e castigos. Foi então que a mãe de um dos meninos teve a brilhante ideia para dar uma correção original: todos deveriam ser vestidos de mulher e soltos na rua. Mas tal pena não surtiu o efeito envergonhador desejado, pois a rapaziada, já bem calibrada e descontraída, formou um pequeno bloco improvisado e saiu pelas ruas de Madureira cantando a marchinha, sucesso daquele ano, “O que é que eu vou dizer em casa”, gravada pelo grupo “Quatro Azes e um Coringa”. Por cada botequim que o grupo passava era premiado com um gole de bebida alcoólica doada pelos mais velhos, em gozação. Eis que, de súbito, surgiu o camburão da Invernada de Olaria, famosa e temida polícia, conhecida pela violência e arbítrio. Embora menores, os rapazes foram abordados, colocados à parede e revistados. A intervenção de vários adultos vizinhos e conhecidos amainou a gana dos policiais que resolveram deixá-los seguir. Mas antes disso, um dos policiais, em tom de brincadeira, argumentou:


“Nós os abordamos porque eles parecem piranhas” (expressão de conotação ofensiva na época, quase um palavrão). Por causa disso a gozação se multiplicou. O grupo continuou na folia, agora seguido pelas crianças que, em deboche, xingavamnos de “Piranhas! Piranhas!”. Logo no dia seguinte, terça-feira de carnaval, a rapaziada pretendeu sair novamente, devido ao sucesso do dia anterior, mas não havia cara-de-pau para se travestir de mulher. O jeito foi tomar outro porre e lá se foi o bloco, agora voluntária e conscientemente, pelas ruas, desta feita sendo recebidos com alegria pelos moradores aos gritos de “Lá vêm as piranhas! Olha lá as piranhas!”. Assim, de uma brincadeira nasceu mais uma manifestação carnavalesca espontânea e divertida do carnaval carioca, até hoje conhecido como “Bloco das Piranhas” de Madureira, no Rio de Janeiro. No carnaval de 1967 o bloco já contava com mais de uma dúzia de componentes. Em 1968 saiu com mais ou menos trinta pessoas. Em 1969 já havia faixa à frente do clube Imperial (na estrada do Portela) convocando rapazes a aderirem às Piranhas que neste ano saiu com mais de cinqüenta foliões, entre fantasiadas e autênticas piranhas. Daí para frente surgiram no desfile vários outros jogadores e celebridades da época e com o inchaço do evento e a luxuosa adesão de travestis, personagens bem típicos e divertidos do nosso carnaval, o bloco virou uma grande atração. Depois o jogador Moisés, junto com outro jogador Dé, exBangu e nesse tempo no Vasco, com demais jogadores, levaram o bloco para a Barra da Tijuca, onde em meado dos anos 1980 o reencontrei, já técnico do Bangu, treinando com jogadores e ainda organizando, mesmo precariamente, o bloco. Eis então o depoimento de um autêntico fundador do Bloco das Piranhas de Madureira. LULA DIAS


TEMPOSIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS – IRAJÁ: TY A JÁ

Cheguentrei no bairro em Acari e andandum pouco pelas ruas estreitas chegueiao Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo (GRANES QUILOMBO). Cheguestando no lugar vi que, logo na entrada, podíamos ler “O sambista não precisa ser membro da academia, ao ser natural em sua poesia, o povo lhe faz imortal”, versos do Mestresambista Candeia, filósofo de afroculturaprátiquemvida. Escola de samba é a Quilombo e fundadafoi por alguns sambistas cariocas mais ligados à ancestralidadartística diásporafricasbrasileiras. Se não me falhe o sabermemória, lembrosei que doi pelo próprio Candeia e seus amigos (também Mestresambistas) Nei Lopes, Wilson Moreira e o Mestre Darcy do Jongo (todos filósofos de afroculturaprátiquemvida), no dia 8 de dezembro do ano de 1975. O grande diferencial deste grêmio recreativo, também sambescola, em sua fundação e continuidade era/é sua intencemoção de preservar os valores originais da cultura e arte negras (relativas à ancestralidadartística das diásporafricasbrasileiras) e os valores originais do sambidentidadebrasileira, que estariam se perdendo principalmente pela mercantilização do carnaval carioca – Escola-S/A – que excluíam o povo das comunidades. Paradoxalmente pois foram eles quem criaram as sabescolas-de- sambidentidadebrasileira, as desenvolveram e fazem acontecê-las no carnaval. Tudisto em nomepelopara o lucro capetofinanceiro, o Capetalismo do Ancião-de-profecias-dirigidas o Profeta Gentileza-geraGentileza.


Lembrotambém de ter assistido ao documentário que conta um pouco da História da Quilombo: “EU SOU POVO”, no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=NlVJTcOyXbI. Atividadesplenasmil continuam na Quilombo até hojemdia. A sabescola nunca interrompeu suas atividades. Também não desfilava… hoje não-sei-mais-que-isso. Sei que os trabalhos socioculturaisdeindentidadesambísticafrodiaspórica continuam em pleno-vapor na Comuna-identidade, ou Comunidentidade, ou Comunidade, dependendo do contexto-de-hora. E eis que à minha mente-metade chegou pleno e bumbístico o o manifesto de fundação da GRANES QUILOMBO: “Estou chegando, venho com fé. Respeito mitos e tradições. Busco a liberdade, não admito moldes! As forças contrárias são muitas, não faz mal. Meus pés estão no chão, tenho certeza da vitória. Minhas portas são abertas, entre com cuidado. Aqui todos podem colaborar, ninguém pode imperar. Teorias deixo de lado, Dou vazão à riqueza de um modo ideal. A sabedoria é o meu sustentáculo, o amor é o meu princípio, a imaginação é minha bandeira. Não sou radical, pretendo apenas salvaguardar o que resta de uma cultura. Gritei bem alto explicando a um sistema que cala vozes importantes e permite que outras totalmente alheias falem quando bem entenderem. Sou franco atirador! Não almejo glórias, faço questão de não virar academia, tão pouco palácio. Não atribua o meu nome ao tão desgastado sufixo, nada de forjadas e mal feitas especulações literárias. Deixo os complexos temas às observações dos verdadeiros intelectuais. Eu sou o povo... basta de complicações, extraio o belo das coisas simples que me seduzem. Quero sair pelas ruas do subúrbio com minhas baianas rendadas, sambando sem parar. Com minha comissão de frente digna de respeito, intimamente ligados as minhas origens. Artistas plásticos, figurinistas, coreógrafos, departamentos culturais, profissionais, não me incomodem, por favor. Sintetizo um mundo mágico. Estou chegando...”


Continuei andando pelo bairro de Acari. Onde viveu um tempo o Oitavo Alquimista, Hanan Negev. Tentaventendersaber o que fui fazer ali na localidade de Acari. Fiquei andando e andando por ruas e ruas e não conseguia concatenar a minha finalidadali. Fui metadementalmentelendo o manifesto, metadecantando alguns sambas e jongos dos Mestresmbistas fundadores da Quilombo e abrindo minhas portaspercepções para o que viesse. Até que me deparei com uma pichação num dos muros da comunidade. A pichação dizia no idioma tcheco:

TY A JÁ J S M E J E DE N TY A JÁ N A J DE M E INKUBAČNÍ DUŠE - UZUZAP

VOCÊ E EU S OM OS U M VOCÊ E EU ENCONTRAREMOS AS ALMAS ÍNCUBAS - UZUZAP O murondestava a pichação de repente abriu-se. Um portal-de-murospichados-mento-abracadábrico era o murondestavapichação e ao verter para a última-flor-do-Lácio a pichação que estava em Tcheco, ao ssuussurráállaa de-mimpra-mim-mesmo dirigi ao Universo o abracadabrismo e o portalemuro se abriu. Entrei nele. Sem receios. PAZUZU SILVA


JORNAL DOS SPORTS E AS MUDANÇAS (1972-1980) Retomando a discussão em torno da importância do Jornal dos Sports para a cidade do Rio de Janeiro e, naturalmente, para o subúrbio carioca, procuro destacar nos próximos parágrafos deste curto texto a fase que compreende de 1972 a 1980. Momento esse em que o periódico esteve sob a direção de Cacilda Fernandes de Souza.

Mário Júlio Rodrigues morreu em 1972, de uma série de complicações relacionadas ao alcoolismo. Para surpresa de seu filho Mário Rodrigues Neto (filho do jornalista e de sua primeira mulher, Dalila), o testamento deixava a direção do jornal para sua segunda mulher, Cacilda Fernandes de Souza. No comando do Jornal dos Sports, Cacilda Fernandes afastou boa parte dos antigos colaboradores. A chefia da redação passava para as mãos do coronel Geraldo Magalhães. Com a mudança da linha editorial, que abandonava o apoio aos jovens, muitos jornalistas passaram para outras publicações, como a revista Placar. A nova proprietária foi responsável também pelo lançamento de um suplemento dedicado a assuntos espíritas, o Mundo Azul. Não chegou a uma década a direção de Cacilda Fernandes, o cor-de-rosa afastou-se definitivamente de seus principais objetivos e serviu-se de palanque a políticos oportunistas e colunistas mal-intencionados.


Em 1980, ano da morte de Nelson Rodrigues, o jornal passou por sérias dificuldades financeiras e acabou sendo vendido à família Velloso, que detinha também o controle de redes de supermercados e drogarias, entre outros negócios. Climério Pereira Velloso comandava o jornal, auxiliado pelos parentes Waldemar Pereira Velloso e Venâncio Pereira Velloso. O jornal dava amplo destaque ao deputado estadual Napoleão Velloso (PMDB), também membro da família. O espaço destinado à educação se mantinha, porém dando destaque a temas como o vestibular e outros concursos. Entre os colaboradores deste período, o destaque é o radialista Washington Rodrigues, criador da coluna Geraldinos e Arquibaldos. O título foi uma referência aos apelidos que ele mesmo havia criado para os torcedores que frequentavam, respectivamente, os setores da Geral (hoje extinta) e da Arquibancada do Maracanã. Ainda nessa época, foi criado o suplemento "Domingo é dia de Surf", o primeiro veículo semanal do Brasil dirigido às modalidades de Surf como o Surf de Peito, (o conhecido "Jacaré"), Bodyboard e Surf. O suplemento era coordenado por Mauricio de Souza Coelho Neto, na época Diretor Geral da ASPERJ (Associação de Surf de Peito do Rio de Janeiro) que tinha como principal colaborador Carlos Louro, vindo da revista Fluir. Chegaram a realizar cobertura de eventos internacionais na Austrália, Califórnia, Havaí, Fernando de Noronha, Polinésia Francesa e Ilha da Páscoa. Este suplemento foi na época considerado o maior incentivador do Brasil da modalidade Surf de Peito. Neste período, o colunista José Inácio Werneck também exerceu a função de ombudsman, realizando a crítica interna de cada edição. Nesta etapa de sua vida, o jornal teve como editor geral Duarte Gralheiro, Carlos Macedo, Sérgio Sá Leitão e Washington Rope. No fim dos anos 90, o Jornal dos Sports pela primeira vez na sua história teve que enfrentar outro jornal esportivo no Rio de Janeiro. A fundação do Lance!, em 1997, levou a tentativas de modernização, com a adoção de cores na primeira página. Contudo, a queda nas vendas e as dificuldades financeiras levaram os Velloso a vender o jornal, em 2000.

LEONARDO BRUNO


Alô, amigos da Revista Sarau Subúrbio! Vamos lançar dois talentos no nosso espaço, o Blog do Tiziu. Um destes talentos é a artista Sarah Ramos, uma menina que promete nas artes. Ele canta, escreve, toca teclado, fotografa... e estou sabendo que em breve vai lançar um Canal no Youtube onde mostrará todo seu talento! Então, apresentamos Sarah Ramos, diretamente de Nova Iguaçu e no alto dos seus 15 anos! As fotografias que seguem são desta artista promissora! As tirinhas são de um tal de Tiziu... Ah! Tá! Sou eu mesmo... o passarinho que voz fala!


TIRINHAS DO TIZIU Astrôncio é o típico pobre de direita...

Estive conversando com o Jonas Hébrio

Ficou todo feliz pois tinha candidato que o protegeria, cidadão de bem...

Ficamos discutindo de onde virá a solução...

Despois das eleições soube o quanto foi mané... só não admite!

Consenso só tivemos em dar as costas pra esse atual "Desgoverno"

... e que temos que partir pro ataque!


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