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| ESPECIAL 27º ANIVERSÁRIO CONSELHOS DE QUEM REALMENTE SABE |
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NÚMERO 316 MENSAL MAIO 2021
PANDEMIA CARDIOLOGIA DERMATOLOGIA DIABETOLOGIA FARMÁCIA FITNESS GASTRENTEROLOGIA GINECOLOGIA HEMATOLOGIA HORMONOLOGIA
IMUNOLOGIA MEDICINA DA REPRODUÇÃO NEUROLOGIA NUTRIÇÃO OPTOMETRIA PEDIATRIA PNEUMOLOGIA PSICOLOGIA TERAPIAS ALTERNATIVAS
2,80€ PREÇO CONTINENTE
SAÚDE PARA ALÉM DA
20 DÃO AS SUAS OPINIÕES ESPECIALISTAS PORTUGUESES
[SUMÁRIO SAÚDE] CARDIOLOGIA
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Doenças cardiovasculares: a "pandemia" que mais mata
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Doenças cardiovasculares e efeitos da pandemia
CARDIOLOGIA
Siga-nos em www.saudebemestar.com.pt Textos redigidos ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico
NEUROLOGIA
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O AVC não fica em casa …e prevenir é o melhor remédio
14
Enxaqueca: não sofra em silêncio
18
Diabetes para além da pandemia
22
Controlo dos níveis de açúcar e reforço do sistema imunitário
24
Sensibilidade à histamina
28
Selénio e sistema imunitário
30
Doença inflamatória intestinal
34
Doenças crónicas moem... e matam
38
Doenças crónicas: melhore a sua saúde através do exercício físico
44
Cancro de pele
48
Leucemia linfoblástica aguda
NEUROLOGIA DIABETOLOGIA ESPAÇO AMPLIPHAR
CARDIOLOGIA Doenças cardiovasculares: a "pandemia" que mais mata em Portugal
8
HORMONOLOGIA ESPAÇO VIDA SAUDÁVEL GASTRENTEROLOGIA NUTRIÇÃO FITNESS
DERMATOLOGIA HEMATOLOGIA TERAPIAS ALTERNATIVAS
50
Aromaterapia na doença oncológica
54
Patologia respiratória não-covid-19
58
7 doenças que podemos prevenir através das vacinas
62
Farmácias: maior rede nacional de cuidados de saúde
64
Não há cobertura universal de saúde sem saúde da visão
68
Combater a falta de memória
70
Resiliência: mentalidade a fortalecer
74
Contraceção e saúde da mulher
76
Procriação medicamente assistida
78
Quando levar o bebé à urgência?
PNEUMOLOGIA IMUNOLOGIA
IMUNOLOGIA 7 doenças que podemos prevenir através das vacinas
DIABETOLOGIA Diabetes para além da pandemia
18
MEDICINA DA REPRODUÇÃO Procriação medicamente assistida: impacto da pandemia
76
58
FARMÁCIA
OPTOMETRIA
ESPAÇO AMPLIPHAR PSICOLOGIA
As rubricas designadas por ESPAÇO são da exclusiva responsabilidade das empresas, marcas ou autores mencionados. Estatuto editorial em www.saudebemestar.com.pt
O aumento de literacia em Saúde e a promoção da consciencialização dos cidadãos para a tomada de decisões em saúde mais informadas são um desafio de saúde pública em Portugal DR. LUÍS LOURENÇO, presidente da Direção da Secção do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos
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PEDIATRIA
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MEDICINA DA REPRODUÇÃO
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GINECOLOGIA
[SAÚDE OBSERVAÇÃO]
SAÚDE
PARA ALÉM DA PANDEMIA
“S
AÚDE PARA ALÉM DA PANDEMIA” foi o mote para esta edição do 27º aniversário da SAÚDE E BEM-ESTAR. Mais do que perspetivar a evolução do novo coronavírus, interessou-nos tentar traçar um panorama relativamente às doenças não-covid-19, à forma como muitas destas foram e continuam a ser afetadas pela pandemia, e ao modo como se espera que aconteça o tão desejado regresso à normalidade possível. É inquestionável que esta crise sanitária constituiu-se como o evento mais significativo para a Humanidade desde a Segunda Guerra Mundial, não só pelo número de vítimas que está a causar (mais de 3 milhões de vidas ceifadas, até ao momento), mas também pela forma como alterou todo o paradigma da vida em sociedade. Porém, desde as primeiras semanas de pandemia, foi nossa preocupação constante sublinhar a ideia de que as outras doenças não cessaram de existir face à covid-19 e que ignorar este facto seria extremamente nefasto. As duas dezenas de reputados especialistas que colaboraram nesta edição, com as suas opiniões fundamentadas, deixaram patentes preocupações semelhantes. Do adiamento de consultas e exames, com o consequente atraso nos diagnósticos, até à suspensão de tratamentos e cirurgias programadas, um pouco em todas as especialidades, passando pelo simples medo de recorrer ao hospital por receio de ser infetado ou, ainda, o desenvolvimento e/ou agravamento de distúrbios mentais e de comportamento, podíamos apontar numerosos exemplos de impactos nas diversas áreas da saúde pública. Globalmente, a saúde dos portugueses sofreu muito para além da infeção por SARS-CoV-2.
A título de exemplo, vale a pena referir as conclusões de um estudo muito recente promovido pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, envolvendo mais de 900 doentes oncológicos/sobreviventes de cancro e mais de 300 familiares/cuidadores. A nível do acesso aos cuidados de saúde, o estudo revelou que 13% dos doentes tiveram tratamentos oncológicos suspensos por indicação médica; 2 em cada 10 doentes e 1 em cada 10 cuidadores ponderaram suspender, por sua iniciativa, os atos clínicos, por medo de se dirigirem aos hospitais; e, ainda, que 57% dos doentes tiveram receio de serem infetados por outros doentes e profissionais de saúde. No caso dos cuidadores, 75% tiveram receio que o doente de quem cuidam pudesse ser infetado. A nível psicológico, 5 em cada 10 doentes oncológicos apresentou sofrimento emocional significativo durante a pandemia, valor que aumentou nos casos dos doentes que tiveram tratamentos suspensos (6 em cada 10 doentes). Se deixarmos de retirar os devidos ensinamentos, importa agora apontar caminhos para a recuperação da normalidade. E foi também essa a tónica de muitas participações nesta edição de aniversário da SAÚDE E BEM-ESTAR. Conscientes da importância do aumento da literacia em Saúde, continuaremos a contribuir para uma mais perfeita compreensão por parte dos portugueses relativamente à preservação da sua saúde e à opção por hábitos de vida mais saudáveis. Para tal, continuaremos a contar com os nossos inestimáveis colaboradores científicos, que com a sua sabedoria e experiência asseguram o rigor científico dos textos publicados e, em última análise, a elevada credibilidade desta nossa/vossa publicação.
Desde as primeiras semanas de pandemia, foi nossa
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preocupação constante sublinhar a ideia de que as
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outras doenças não cessaram de existir face à covid-19 e que ignorar este facto seria extremamente nefasto
CUIDADORES INFORMAIS NÃO CONHECEM O ESTATUTO Foi no final de 2019 que os cuidadores informais viram finalmente os seus direitos reconhecidos, através da criação de um estatuto que se destina a reforçar a sua proteção. No entanto, mais de um ano depois, cerca de 6 em cada 10 (59,1%) cuidadores informais desconhecem a existência do referido estatuto. E, dos 40% dos inquiridos no estudo realizado pelo Movimento dos Cuidadores Informais que o conhecem, a esmagadora maioria (77,2%) considera-o incompleto.
77% QUEREM VOLTAR AO LOCAL DE TRABALHO Maior vontade em regressar ao local de trabalho, confiança nas vacinas e um maior otimismo sobre novas oportunidades de trabalho são algumas das principais conclusões do primeiro Workmonitor 2021, promovido pela Randstad. Estes resultados contrastam com o que era sentido em 2020, em que havia uma clara preferência em trabalhar remotamente. Agora, 77% dos trabalhadores que estão a trabalhar remotamente em Portugal querem regressar ao local de trabalho.
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[SAÚDE CARDIOLOGIA]
DOENÇAS
CARDIOVASCU É NECESSÁRIO DESENVOLVER CAMPANHAS QUE ESCLAREÇAM A POPULAÇÃO SOBRE A NECESSIDADE DE CONTINUAR A PREVENIR E CONTROLAR AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES, QUE SÃO, NA VERDADE, A “PANDEMIA” QUE MAIS MATA EM PORTUGAL.
Pelo
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PROF. DR. MANUEL OLIVEIRA CARRAGETA
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Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia
A “PANDEMIA” QUE MAIS MATA EM PORTUGAL A
S DOENÇAS CARDIOVASCULARES são a principal causa de morte em Portugal, sendo responsáveis por mais de um terço da mortalidade total. Não podemos ignorar que, antes da pandemia da covid-19, morriam cerca de 100 pessoas por dia, devido a patologia cardiovascular. Neste primeiro ano da pandemia, esse número foi seguramente superior. Uma grande parte do elevado número de óbitos não-covid em excesso foi causada por doenças com elevada letalidade, tais como o enfarte do miocárdio e o AVC, que são parcialmente evitáveis através do controlo dos fatores de risco. Com mais de 11 milhões de consultas e exames adiados, esses cuidados ficaram comprometidos. MEDO DA COVID-19 Num estudo realizado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, metade dos doentes cardíacos não procuraram o médico por terem mais medo da covid-19 do que da sua própria doença cardiovascular. Infelizmente, continua a verificar-se uma baixa procura de apoio médico, pelo que se torna necessário desenvolver campanhas que esclareçam a população sobre a necessidade de continuar a prevenir e controlar as doenças cardiovasculares, que são a “pandemia” que mais mata em Portugal. Nunca é demais insistir que, no caso de se contrair a infeção por SARS-CoV-2, estar o mais saudável e controlado possível, ao nível do aparelho cardiovascular, ajuda a resistir melhor ao vírus. Para agravar a atual situação cardiovascular, é bem conhecido que o SARS-CoV-2 pode causar doença vascular e trombótica, provocada pela resposta imunitária com libertação excessiva de citoquinas inflamatórias. Em consequência, os doentes podem vir a sofrer de enfartes do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais e miocardites, as quais, eventualmente, evoluem para insuficiência cardíaca e podem até causar morte súbita. RISCO ASSOCIADO AO CONFINAMENTO De referir que o confinamento, com a imobilidade e o isolamento associados, condicionou, quase inevitavelmente, o aumento do peso e a perturbação do metabolismo glicémico. Por exemplo, estar sentado, uma atividade de muito baixo custo energético, leva a que as células do nosso organismo se tornem resistentes à insulina, o que causa um aumento dos níveis de glucose no sangue. Permanecer sentado por longos períodos leva também a uma redução acentuada da atividade da lipoproteína lipase, uma enzima que causa a diminuição do colesterol HDL e o aumento do colesterol LDL, sendo este o principal responsável pela doença cardiovascular.
LARES Todas estas alterações explicam o aumento do risco de doença cardiovascular associado ao confinamento. O ELO MAIS FRACO Não esquecer que a idade avançada é o fator de risco mais importante de complicações e de morte devidas à covid-19. Saliente-se que, até agora, 96% das mortes ocorreram em doentes com mais de 60 anos. Como a prevalência da hipertensão arterial (HTA) aumenta com o avançar da idade, é natural que muitos dos doentes com covid19 que evoluíram com complicações sejam hipertensos. Embora a hipertensão arterial vá acelerar o “envelhecimento” do aparelho cardiovascular, não há presentemente evidência que assegure que a HTA seja, indiscutivelmente, um fator de risco independente para complicações e morte associadas à covid-19. Já a doença aterosclerótica e a insuficiência cardíaca têm mecanismos patológicos subjacentes que afetam o sistema imunitário, nomeadamente com ativação inflamatória, que associada ao envelhecimento se traduz no estado de “inflammaging” dos autores anglo-saxónicos. Nestes doentes, o aparelho cardiovascular é o elo mais fraco, pelo que uma infeção viral pode provocar um agravamento da doença cardíaca que leve a um desfecho letal. Por último, queremos chamar a atenção para o perigo da pandemia da covid-19 – em grande parte devido a uma cobertura mediática obsessiva – obscurecer as outras pandemias, mais letais, nomeadamente a cardiovascular, que matou, em média, mais de 35.000 portugueses por ano, na última década.
Metade dos doentes cardíacos não procuraram o médico por terem mais medo da covid-19 do que da sua própria doença cardiovascular
ENFARTE DO MIOCÁRDIO PANDEMIA AGRAVOU O PROBLEMA A
S DOENÇAS CARDIOVASCULARES, em geral, e o enfarte agudo do miocárdio (EAM), em particular são das principais causas de morte em Portugal. Os doentes tendem a reconhecer os sintomas de alerta do EAM e a procurar os cuidados médicos demasiado tarde, comprometendo o seu prognóstico. A pandemia veio agravar, de forma determinante, este problema, devido ao medo da população em ser infetada pelo SARS-CoV-2 nas instituições hospitalares. Neste período, verificou-se uma redução das admissões hospitalares por EAM, um menor recurso ao transporte pelo INEM e um aumento do tempo de atraso até ao tratamento, responsável pelo aumento das taxas de mortalidade e das complicações nesta população de doentes.
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QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS? A manifestação clínica mais frequente do enfarte agudo do miocárdio inclui a dor no peito de intensidade e duração variável, habitualmente descrita como um aperto, constrição ou peso, que em alguns casos pode estender-se para os braços, costas e pescoço, podendo surgir acompanhada de suores, náuseas e vómitos. Existem, no entanto, formas de apresentação menos típicas, como o desmaio ou a falta de ar súbita, mais frequentes em doentes diabéticos, idosos e mulheres.
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O QUE FAZER PERANTE A SUSPEITA DE ENFARTE? Perante a suspeita de um EAM, é crucial ligar imediatamente para o número de emergência médica 112, por dois motivos essenciais: a rapidez no diagnóstico e o transporte em segurança para um hospital com capacidade de tratamento do EAM.
DURANTE A PANDEMIA, VERIFICOU-SE UMA REDUÇÃO DAS ADMISSÕES HOSPITALARES POR ENFARTE E UM AUMENTO DO TEMPO DE ATRASO ATÉ AO TRATAMENTO, RESPONSÁVEL PELO INCREMENTO DA TAXA DE MORTALIDADE E DAS COMPLICAÇÕES POR DOENÇA CARDIOVASCULAR. COMO PREVENIR AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES? Para manter a sua saúde cardiovascular em tempos de pandemia, é fundamental conhecer todos os fatores de risco cardiovascular e empenhar-se no seu controlo rigoroso, tendo como objetivos: 4 Deixar de fumar; 4 Reduzir os níveis de colesterol para os alvos recomendados de acordo com o nível de risco cardiovascular (LDL
Pelo
DR. PEDRO MONTEIRO Cardiologista no Hospital Universitário de Coimbra
inferior a 55 mg/dL) ou redução de, pelo menos, 50% em relação aos níveis basais nos doentes com risco cardiovascular muito elevado (antecedentes de eventos cardiovasculares, diabetes ou doença renal crónica); 4 Controlar os valores de pressão arterial (inferior a 130/80 mmHg); 4 Otimizar o controlo glicémico (açúcar no sangue) no caso dos doentes diabéticos ou pré-diabéticos; 4 Adotar uma dieta saudável (semelhante à Mediterrânica): pobre em gorduras saturadas e açúcares; rica em vegetais, peixe e fruta; redução de sal (<5g/dia); ingestão limitada de álcool - máximo de 20g/dia (2 copos) no homem e 10g/ dia na mulher; abstinência alcoólica em caso de insuficiência cardíaca. 4 Manter um peso saudável (índice de massa corporal entre 20 e 25 Kg/m2) ou reduzir nos casos de excesso de peso ou obesidade; 4 Praticar exercício físico de acordo com a idade, o nível de atividade prévia e as limitações físicas – pelo menos, 150 minutos/semana de exercício aeróbico moderado (30 minutos, 5 dias/semana) ou 75 minutos/semana de exercício aeróbico vigoroso (15 minutos, 5 dia/ semana); 4 Gerir e controlar a ansiedade;
[CARDIOLOGIA SAÚDE] É fundamental a sensibilização para a importância do diagnóstico precoce e do cumprimento rigoroso das estratégias de prevenção cardiovascular 4 Cumprir rigorosamente a medicação prescrita, durante os períodos definidos pelo médico assistente, de forma a evitar a descontinuação ou suspensão prematura. SE TIVER UM ENFARTE, POSSO FICAR COM SEQUELAS? Quando se tem um enfarte, há sempre células cardíacas que morrem e não são substituídas. Em face disso, algumas pessoas, após um enfarte, podem ficar com cansaço e/ou falta de ar, devido a insuficiência cardíaca. Porém, se o doente tomar toda a medicação diariamente e sem falhas, se alterar a sua alimentação e o seu estilo de vida, aumenta a probabilidade de recuperar com poucas ou nenhumas sequelas. Importa reforçar que os doentes que já tiveram um enfarte ou outra manifestação de doença coronária vão ter de fazer
medicação diariamente para o resto da vida, precisamente para evitar novos eventos cardiovasculares. Graças ao avanços contínuos da Medicina, dispomos hoje de novos medicamentos (anticoagulantes em baixa dose) para prevenção de novos episódios de enfarte e outras doenças cardiovasculares, que deverão ser tomados por todos os doentes elegíveis. COLABORAÇÃO DA SOCIEDADE Estes tempos de crise exigem um reforço da educação dos doentes e dos seus cuidadores, do empenho continuado dos profissionais de saúde que deles cuidam, mas também a colaboração da sociedade e dos media na divulgação dos sinais de alerta, sensibilização para a importância do diagnóstico precoce e do cumprimento rigoroso das estratégias de prevenção cardiovascular. Todos juntos podemos ganhar a batalha contra a covid-19 e também contra o enfarte e outras doenças cardiovasculares!
[SAÚDE NEUROLOGIA]
O AVC
não fica em casa
O AVC MANTÉM-SE COMO A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE, INCAPACIDADE E DE ANOS DE VIDA PERDIDOS EM PORTUGAL. POR HORA, TRÊS PORTUGUESES SOFREM UM AVC, DOS QUAIS UM MORRE E UM FICA COM SEQUELAS GRAVES. E A PANDEMIA TROUXE DESAFIOS ADICIONAIS.
… E PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO
N
O ÚLTIMO ANO, a pandemia covid-19 trouxe desafios adicionais à prevenção e tratamento do acidente vascular cerebral (AVC), nomeadamente dificultando o acesso aos cuidados de saúde, levando a atrasos na deteção dos sintomas e limitando, por isso, as possibilidades de tratamento de alguns doentes. Adicionalmente, dificultou o acesso e continuidade dos cuidados de reabilitação dos sobreviventes de AVC.
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CHEGADA TARDIA AOS CENTROS DE TRATAMENTO A principal preocupação dos especialistas, neste período de pandemia, prendeu-se com a chegada tardia dos doentes aos centros de tratamento de AVC, por receio de infeção pelo vírus SARS-CoV-2. De acordo com um inquérito nacional de perceções aplicado pela Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC), em 2020, às Unidades de AVC do País, a afluência de doentes aos Serviços de Urgência e Unidades de AVC foi significativamente afetada, tendo diminuído também o número de doentes tratados com fibrinólise e trombectomia mecânica. Esta tendência tem impacto nas taxas de mortalidade e recuperação funcional dos doentes com AVC.
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VIA VERDE DO AVC Se é verdade que deve ser reforçada junto da população a importância do confinamento, é igualmente fundamental lembrar que o 112 deve ser ativado sempre que for identificado um dos sinais de
alerta de AVC (face descaída, perda de força no braço/perna ou alteração da fala), de modo a permitir que os doentes sejam orientados para a unidade hospitalar que permite realizar tratamento emergente adequado. Assim, os doentes com suspeita de AVC não devem recear recorrer aos Serviços de Urgência, porque os hospitais têm circuitos diferentes para os doentes com e sem sintomas de infeção por SARS-CoV-2, dispondo de uma Via Verde específica para os doentes com AVC. Embora ainda não tenhamos dados concretos do impacto da segunda vaga no
Pela
DRA. MARIANA CARVALHO DIAS Médica neurologista. Membro da Sociedade Portuguesa do AVC
acesso aos cuidados de saúde, é necessário continuar a sensibilizar a população para que o AVC seja visto como uma emergência potencialmente tratável, em que cada minuto conta, independentemente da situação de pandemia que vivemos. Tempo é cérebro! “FAST HEROES 112” Neste âmbito, as crianças têm um papel particularmente importante como veículos de informação no seio familiar e até na eventual deteção de sinais de alerta em familiares. Pela facilidade de aprendizagem que as caracteriza, são um público prioritário de educação para a Saúde. Por este motivo, a SPAVC associou-se recentemente à Campanha internacional “Fast Heroes 112”, que conta com o apoio da Organização Mundial de AVC (WSO). Esta iniciativa tem como objetivo “transformar” as crianças, entre os 5 e os 9 anos, nos super-heróis lá de casa, com potencial para salvar vidas das pessoas que sofrem um AVC, nomeadamente dos avôs e avós. Com a ajuda de atividades lúdicas e interativas, as crianças aprendem a identificar os três sintomas mais comuns do AVC, associando-os imediatamente à necessidade de chamar uma ambulância o mais rapidamente possível, ligando para o número 112. As atividades educativas estão disponíveis, de forma totalmente gratuita, na página: https://pt-pt.fastheroes.com, podendo constituir uma excelente atividade para realizar em conjunto com os mais novos, tanto em casa como no âmbito escolar.
ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO Para além disso, importa lembrar que o AVC não é um acontecimento inevitável. Em 90% dos casos, os AVC estão associados a fatores de risco que podemos controlar e tratar. Por este motivo, é tão importante aprendermos estratégias que nos permitam reduzir o risco e contribuir para o tratamento desta patologia.
Estas estratégias devem ser mantidas, e mesmo reforçadas, em períodos de confinamento: 4 CONTROLO DA PRESSÃO ARTERIAL – A hipertensão arterial está presente em metade dos doentes com AVC e deve ser vigiada regularmente e tratada através de mudanças no estilo de vida, concretamente com a redução do consumo de sal e/ou medicação; 4 PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO – Um terço dos AVC ocorrem em doentes que não praticam atividade física, recomendando-se a sua prática regular (cinco vezes por semana); 4 DIETA SAUDÁVEL E EQUILIBRADA – Cerca de 25% dos AVC estão relacionados com maus hábitos alimentares, devendo ser seguida uma dieta equilibrada, com ingestão de cinco ou mais porções de frutas e vegetais por dia; 4 REDUÇÃO DE COLESTEROL – Deve reduzir-se o consumo de colesterol “mau” (LDL), privilegiando o consumo de gorduras insaturadas e não-hidrogenadas (abacate, nozes e azeite), em vez de saturadas (gordura da carne, pele de aves e fritos); 4 MANTER UM PESO ADEQUADO – Aproximadamente 20% dos AVC estão associados à obesidade, sendo que uma boa forma de perceber se precisa de
emagrecer é dividir a medida da sua cintura pela medida da sua anca. Se o número for maior que 0,9 (homens) e 0,85 (mulheres), o seu peso está a aumentar o risco de AVC e emagrecer será benéfico; 4 CONTROLAR E TRATAR A DIABETES MELLITUS – A diabetes mellitus está associada aos mesmos fatores de risco (hipertensão, sedentarismo e obesidade) e aumenta também o risco de AVC, pelo que deve ser controlada e tratada; 4 NÃO FUMAR E EVITAR O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS – Devem ser evitados hábitos tóxicos, sobretudo o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Nos fumadores, o sucesso da cessação tabágica aumenta nos casos em que é pedida a ajuda de profissionais de saúde; 4 TRATAR A FIBRILHAÇÃO AURICULAR – Existem algumas arritmias cardíacas, como a fibrilhação auricular, que podem aumentar o risco de AVC e que devem ser tratadas quando identificadas. Estas medidas preventivas devem ser aprendidas e aplicadas por todos, pois o AVC não escolhe idade, sexo ou raça para acontecer. Lembrem-se: o AVC não fica em casa! E prevenir é mesmo o melhor remédio.
UMA EM CADA 7 PESSOAS SOFRE DE ENXAQUECA. A DOENÇA ATINGE CERCA DE 15% DA POPULAÇÃO MUNDIAL, OU SEJA, MAIS DE 1,3 MIL MILHÕES DE PESSOAS. NÃO SEJA MAIS UMA A SOFRER EM SILÊNCIO.
ENXAQUECA NÃO SOFRA EM SILÊNCIO
[NEUROLOGIA SAÚDE]
A
ENXAQUECA NÃO É APENAS uma simples dor de cabeça: é uma doença neurológica que provoca uma constelação de sintomas, os quais vão muito além das dores e que têm um impacto muito negativo na qualidade de vida. Esta afeção vai condicionar, de modo significativo, a vida dos que dela sofrem. Quem tem enxaqueca bem sabe como é afetado por esta doença invisível e imprevisível, na qual as crises surgem sem aviso e influenciam todos os aspetos da sua vida - profissional, social e familiar.
Neurologista do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca. Presidente da Sociedade Portuguesa de Cefaleias
provoca uma constelação de sintomas, os quais vão muito além das dores e que têm um impacto muito negativo na qualidade de vida FENÓMENO COMPLEXO A causa da enxaqueca é ainda desconhecida. Tem, no entanto, uma forte predisposição genética, pelo que é frequente que os filhos de pessoas com enxaqueca possam também vir a ter enxaqueca. Existe uma história familiar positiva em cerca de 90% das pessoas. O cérebro das pessoas com enxaqueca parece ser mais sensível a estímulos internos e externos e reage a esses estímulos com o aparecimento de uma crise, através da ativação de uma séria de centros cerebrais e da libertação de neuropéptidos inflamatórios. A crise de enxaqueca é um fenómeno complexo, que tem duração variável, desde poucas horas a 3-4 dias, nem sempre é igual e pode ser constituída por várias fases: 4 FASE PRODRÓMICA, com vários sintomas inespecíficos (cansaço, irritabilidade, bocejo frequente), que anunciam o aproximar da dor. 4 FASE DE AURA, que ocorre em apenas um quarto das pessoas com enxaqueca, em que podem ser experienciadas alterações da visão (como ver luzes brilhantes, linhas em zigzag ou mesmo deixar de
ver em alguma parte do campo visual), alterações da sensibilidade (dormências ou formigueiros em metade do corpo) ou, muito mais raramente, perturbação da linguagem (dificuldade em emitir palavras) ou motoras (perda de força num membro). A aura é transitória: dura, geralmente, entre 20-30 minutos a uma hora, e é completamente reversível. Muitas vezes, precede a dor, mas também pode acompanhá-la. 4 FASE DE DOR, que é a mais constante, ou seja, é aquela que surge em praticamente todas as crises: a dor de cabeça atinge, geralmente, a região frontal ou temporal; é latejante, intensa, agrava com a luz, ruído e movimentos da cabeça; e piora muito com atividade física banal, pelo que, quando mais intensa, obriga a que a pessoa tenha que repousar na cama. 4 FASE DE RESOLUÇÃO. A crise entra, depois, numa fase de resolução, que pode durar mais um dia, na qual os sintomas estão muito atenuados, mas em que se pode sentir fadiga, dificuldade de concentração e mesmo dor desencadeada por esforço físico.
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DRA. ELSA PARREIRA
de cabeça: é uma doença neurológica que
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A enxaqueca não é apenas uma simples dor
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TREMENDO IMPACTO Durante a crise de enxaqueca, apenas 7% das pessoas conseguem manter uma atividade normal; nas restantes, a enxaqueca leva a uma diminuição da produtividade e, em mais de metade, obriga a interromper toda a atividade, pelo menos durante algumas horas, e a ficar isolado no escuro e no silêncio, sem conseguir moverse, à espera que a crise passe. As pessoas com enxaqueca vivem, em média, 10% do seu tempo de vida em crise e ela é responsável, todos os dias, pela perda de 0,7% da capacidade de trabalho de toda a população europeia. Embora possa atingir qualquer grupo etário, a doença é muito mais frequente nas idades mais ativas da nossa vida, entre os 20 e os 40 anos, tendo uma predileção franca pelas mulheres (é três vezes mais frequente na mulher). Geralmente, inicia-se na adolescência e, no caso das raparigas, muitas vezes com a puberdade. De igual modo, após a menopausa, tem tendência a melhorar, embora nem sempre.
[SAÚDE NEUROLOGIA] FATORES DESENCADEANTES As crises de enxaqueca podem surgir a intervalos variáveis de pessoa para pessoa e até na mesma pessoa: podem surgir apenas 3 a 4 vezes ao ano ou até mais de uma vez por semana. Nos casos mais graves, na denominada enxaqueca crónica, a pessoa tem dores de cabeça mais de 15 dias por mês. É a esta forma que se associam maiores custos pessoais, sociais e económicos. Em cerca de metade dos casos, os doentes podem identificar aquilo que desencadeia uma crise, ou seja, aquilo que vai aumentar a probabilidade de ocorrer uma crise: são os chamados fatores desencadeantes. Destacam-se, por serem os mais habituais, o período menstrual nas mulheres, as perturbações do sono, o cansaço e o stress e a exposição a certo tipo de estímulos, como alimentos, odores intensos, calor ambiente, entre outros. PARA REDUZIR A ATIVIDADE DA DOENÇA A enxaqueca é uma patologia sem cura, mas com tratamento eficaz, isto é, adotando uma série de medidas, podemos reduzir significativamente a atividade desta doença, reduzir o número de crises e diminuir, de modo evidente, o impacto negativo que a enxaqueca tem nos seus portadores, melhorando muito a sua qualidade de vida. As medidas que beneficiam quem tem enxaqueca, para além do tratamento farmacológico, são as seguintes: adotar um estilo de vida saudável, ter uma dieta equilibrada e uma hidratação adequada, praticar exercício físico aeróbico, manter os horários das rotinas quotidianas, não beber café em excesso, não fumar, dormir o tempo necessário e evitar o stress e a ansiedade.
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Todas as pessoas que sofrem de enxaqueca devem procurar ajuda junto do seu médico assistente ou de um neurologista, de modo a receberem as respostas terapêuticas adequadas ao seu caso TRATAMENTOS EFICAZES Quanto ao tratamento farmacológico, pode ser agudo/abortivo ou preventivo/ profilático, consoante os casos. Para o tratamento agudo, ou seja, para tratar a crise quando ela surge e para encurtar a sua duração, podem ser utilizados analgésicos comuns (paracetamol) ou anti-inflamatórios. Estes fármacos, se tomados precocemente, são bastante eficazes e devem ser utilizados como primeira linha nas crises não muito intensas. Quando as crises são mais intensas, podem ser usados medicamentos especificamente produzidos para tratamento da enxaqueca, os triptanos, que são bastante eficazes no tratamento agudo da dor e sintomas associados. Quando as crises são muito frequentes, mais do que 3-4 dias por mês, devemos realizar as chamadas terapêuticas preventivas ou profiláticas. Neste tipo de terapêutica, os medicamentos, que devem ser
tomados durante largas semanas ou meses, destinam-se a reduzir a frequência e a intensidade dos episódios de enxaqueca. Existem muitos medicamentos utilizados para a profilaxia da enxaqueca: a maioria são de toma oral diária, mas mais recentemente surgiram medicamentos injetáveis (chamados medicamentos biológicos) de toma mensal ou trimestral. A medicação preventiva é suspensa, após a melhoria, mas não de modo demasiado precoce (mínimo, 6 meses), para evitar recaídas. Na maior parte dos casos, quer o tratamento agudo quer o tratamento preventivo, permitem uma efetiva melhoria da enxaqueca, com redução do sofrimento por ela provocado, pelo que todas as pessoas que sofrem de enxaqueca devem procurar ajuda junto do seu médico assistente ou de um neurologista, de modo a receberem as respostas terapêuticas adequadas ao seu caso.
[SAÚDE DIABETOLOGIA]
A ASSOCIAÇÃO PROTECTORA DOS DIABÉTICOS DE PORTUGAL PROPÔS, RECENTEMENTE, AO GOVERNO PORTUGUÊS QUE CONSIDERE TRÊS DESAFIOS PARA FAZER A DIFERENÇA NO COMBATE À DIABETES PARA ALÉM DA PANDEMIA.
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M 2021, SOB O SIGNO DA PANDEMIA da covid-19, comemoramos 100 anos da descoberta da insulina, um dos primeiros medicamentos “milagre”, e 95 anos do aparecimento do primeiro movimento associativo de cidadãos com diabetes, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP). Estas efemérides levaram a APDP, no passado Dia Mundial da Saúde (7 de abril), a lançar um repto ao Governo sobre saúde e cidadania para além da pandemia. INOVAR PARA SALVAR Nos últimos 100 anos, a investigação científica e o desenvolvimento tecnológico, a par do crescimento económico e de novos modelos sociais, permitiram maior qualidade de vida e o aumento da esperança média de vida. A descoberta da insulina num mundo ainda dominado pelas doenças infecciosas, em que se lutava entre a vida e a morte, introduziu o conceito de doença crónica: uma doença mortal tornou-se uma condição para toda a vida, onde o próprio cidadão era chamado a assumir o seu autotratamento.
Por
DR. JOSÉ MANUEL BOAVIDA Presidente da APDP e
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DR. JOÃO FILIPE RAPOSO
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Diretor Clínico da APDP
DIABETES para além EDUCAR PARA CAPACITAR A inovação só funcionou em diabetes porque, desde cedo, se percebeu que a gestão da doença e os meios a ela associadas tinham de ser centralizadas nas pessoas com diabetes. Para cumprir esse objetivo, definiu-se um novo papel para os profissionais de saúde: o de educadores. Os profissionais têm de ser capazes de usar
recursos adequados aos conhecimentos e capacidades das pessoas, de modo a que elas estejam efetivamente capacitadas para as suas novas funções. O aumento da literacia em saúde de uma população, enquanto objetivo relevante para políticas de saúde, não esgota as responsabilidades dos sistemas de saúde para desenvolverem e reconhecerem o papel fundamental da educação para melhores resultados de saúde, com melhor utilização dos recursos investidos. Este processo de educação é hoje entendido, também, com o envolvimento das pessoas com diabetes – o ensino pelos pares – e com uma cada vez maior participação das associações de doentes, um elo muito mais próximo das necessidades das pessoas e dos recursos da comunidade (assim nasceu a APDP).
Mais de 1 milhão de portugueses, entre os 20 e os 79 anos, têm diabetes, dos quais 56% com diabetes diagnosticada e 44% por diagnosticar
Números da diabetes em Portugal Segundo dados do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes – “Diabetes: Factos e Números”, referente a 2018, a prevalência estimada da diabetes na população adulta portuguesa, entre os 20 e os 79 anos, foi de 13,6%. Isto significa que mais de 1 milhão de portugueses neste grupo etário têm diabetes, dos quais 56% com diabetes diagnosticada e 44% por diagnosticar.
ADEQUAR PARA MELHORAR As doenças crónicas representam hoje o maior consumo de recursos de saúde e são geralmente apontadas como uma das maiores ameaças à sustentabilidade dos sistemas de saúde e ao desenvolvimento económico e social global. Precisamos urgentemente de discutir alternativas aos sistemas atuais. Precisamos de melhor atuação na prevenção da doença, para termos mais recursos para melhor tratar quem já está doente – a inovação custa (e a prevenção também). A organização e os processos de cuidados de saúde têm de estar associados a modelos de financiamento que valorizem os melhores resultados e a eficiência. A avaliação dos resultados deve ser uma constante neste processo que queremos de melhoria. É preciso compreender a enorme complexidade da diabetes e abordá-la de uma forma integrada, reconhecendo a importância da ação sobre os seus determinantes sociais e da reforma do próprio sistema de saúde, transformando-o num sistema resiliente e mais bem equipado para cuidar das pessoas que vivem com doenças crónicas, incluindo a diabetes. No ano em que o tema escolhido pela OMS para assinalar o Dia Mundial da Saúde foi a “Importância dos Trabalhadores de Saúde e Cuidadores”, é igualmente importante que as entidades oficiais e governamentais assumam a implementação de ações sustentadas na experiência e no conhecimento existentes, incluindo o das associações de doentes. Este período de pandemia que vivemos foi e é uma tremenda amostra da importância, quer na morbilidade quer na mortalidade, das doenças crónicas, em geral, e da diabetes, em particular.
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A insulina representou uma das maiores inovações em Medicina, aferida pelo número de vidas salvas até hoje. Além dos medicamentos, a tecnologia, entretanto desenvolvida, permitiu maior controlo da doença e maior capacitação das pessoas na gestão da sua doença. Continuamos a salvar vidas, mas não curamos e esta é uma frustração para as pessoas com diabetes e para os profissionais de saúde.
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[SAÚDE DIABETOLOGIA] TRÊS DESAFIOS NO COMBATE À DIABETES A APDP propôs ao Governo Português que considere três desafios para fazer a diferença no combate à diabetes:
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Reduzir o risco É necessário acabar com a visão simplista de que a diabetes é uma doença provocada pelo estilo de vida da própria pessoa, sem considerar a complexidade da doença, a influência da genética, dos ambientes obesogénicos e o impacto das desigualdades sociais. Temos de desenvolver uma sociedade com um ambiente favorável à saúde e não à doença. Uma abordagem da “saúde em todas as políticas” deve ajudar a projetar comunidades mais saudáveis, através de melhores condições de habitação, emprego, transportes, planeamento urbano, entre outras políticas sociais. As escolas, de todos os níveis de ensino, devem integrar no seu currículo perspetivas práticas de educação para a saúde, incentivar a atividade física e proporcionar oportunidades para um desenvolvimento ativo e saudável. As estratégias de prevenção e diagnóstico precoce devem envolver as organizações de base comunitária, além das unidades de saúde.
TEMPO DE MUDANÇA Este é um tempo de mudança que nos desafia e nos desperta para a necessidade urgente de medidas concretas e eficazes. A resposta a estes desafios será tanto mais eficaz quanto melhor formos capazes de incluir as pessoas com diabetes em todos os níveis dos processos de decisão. É necessário mudar o paradigma da comunicação entre as pessoas com diabetes e o sistema de saúde e aproveitar todo o conhecimento que elas podem introduzir.
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Integrar cuidados É fundamental reforçar os cuidados de proximidade, assegurando a sua agilização, garantindo um médico para cada cidadão, e criando uma forte articulação com as autarquias e o setor social. Devem ser implementados novos modelos de prestação de cuidados, através da criação de unidades integradas e multidisciplinares, a exemplo do trabalho desenvolvido pela APDP, com objetivos centrados em resultados de saúde relevantes para as pessoas e que promovam a autonomia e os cuidados personalizados e centrados na avaliação de necessidades.
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Garantir o acesso aos cuidados de saúde É essencial assegurar o acompanhamento, a vigilância e os cuidados de qualidade das pessoas com diabetes. A aposta na educação terapêutica e no apoio pelos pares deve ser incluída nos serviços de saúde, dada a evidência da sua eficácia para o apoio psicológico, melhoria dos resultados de saúde e bem-estar. O acesso à inovação deve ser garantido com base em modelos de avaliação que incluam as pessoas com diabetes e resultados que, para elas, sejam relevantes. A integração de novas tecnologias e a digitalização da saúde devem ser acompanhadas de estratégias de aumento da literacia em saúde e de mecanismos que assegurem que ninguém fica para trás.
Sobre a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) Fundada em 1926 pelo médico Ernesto Roma, a APDP é a associação de pessoas com diabetes mais antiga do mundo. Com cerca de 15 mil associados, desenvolve a sua atividade na luta contra a diabetes e no apoio às pessoas com esta doença. A APDP tem sido pioneira na prevenção, na educação e no acompanhamento personalizado. Conhecer melhor a doença e explorar novas formas de tratamento são os seus principais objetivos, a par da criação de estruturas capazes de dar resposta aos diversos problemas que envolvem a diabetes. Para continuar a garantir o melhor acompanhamento às pessoas com diabetes, a APDP lançou este ano a campanha de angariação de fundos “A APDP precisa de si!”, com o apresentador João Baião, apelando à doação, sem custos, de 0,5% da consignação do IRS dos portugueses.
[SAÚDE HORMONOLOGIA]
Sensibilidade à histamina A SENSIBILIDADE À HISTAMINA É UMA CONDIÇÃO NÃO RECONHECIDA, MUITAS VEZES, MAS QUE TEM FÁCIL TRATAMENTO. NESTE ARTIGO, VOU EXPLICAR O QUE É A HISTAMINA, COMO SURGE A SENSIBILIDADE E COMO SE TRATA.
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DRA. IVONE MIRPURI Médica Patologista Clínica; Especialista em Medicina Antienvelhecimento, pela World Society of Anti-Aging Medicine; Especialista em Hormonologia, pela International Hormone Society; Certificação em Medicina Antienvelhecimento, pela Nevada University, USA
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MECANISMOS DE CONTROLO Vou explicar só, muito sucintamente, porque razão surgem estes sintomas. Como já referi, a histamina pode ficar acumulada no organismo por aumento da entrada e produção ou por um deficiente mecanismo de degradação. Também a histidina, aminoácido que os alimentos podem conter, pode ser convertida em histamina pelas bactérias intestinais. Há duas enzimas que controlam a destruição da histamina: 4 Histamina N-metiltransferase (HNMT ou HMT); 4 Dioaminoxidase (DAO). A DAO liga-se rapidamente à histamina plasmática e elimina-a na urina. Atua a nível local, portanto. A HMT impede a ligação prolongada da histamina ao seu recetor na célula. Os anti-histamínicos têm uma ação semelhante, ligando-se ao recetor da histamina e impedindo a sua ação. Atuam a nível geral, o que chamamos de sistémico, ao contrário da DAO, mas acabado o seu efeito, os sintomas regressam, pois a HMT não elimina a histamina. Podemos, assim, controlar a sensibilidade à histamina, através da DAO, associando, obviamente, cuidados com a dieta, evitando os alimentos que nos farão ingerir mais histamina.
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REAÇÕES INDESEJÁVEIS A histamina também existe nos alimentos e alguns deles possuem mesmo uma quantidade elevada na sua composição. Para além dos alimentos ricos em histamina, há outros que funcionam como “libertadores de histamina” e que induzem a secreção deste mediador pelas células do organismo. A sensibilidade à histamina refere-se à existência de quantidades aumentadas de histamina no nosso corpo, o que vai levar a efeitos adversos e indesejáveis. A quantidade em excesso ocorre por aumento da produção ou pela inibição da degradação.
Estas reações indesejáveis são, muitas vezes, confundidas com alergias, daí a importância do reconhecimento desta entidade, pois os sinais e sintomas podem ser idênticos, mas todo o estudo do doente é negativo para alergias. Entre os sintomas de excesso de histamina, destacam-se rubor da face e calores por vasodilatação, hipotensão com aumento dos batimentos cardíacos pelo mesmo motivo, urticária, angioedema, rinite com rinorreia, otite média, comichão por aumento da permeabilidade vascular, refluxo gastro esofágico e azia por aumento da secreção gástrica, cefaleia não típica de enxaqueca, sintomas de ansiedade e ataques de pânico ligados ao aumento dos batimentos cardíacos, fadiga e confusão mental, podendo mesmo acontecer o desmaio.
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HISTAMINA É UM MEDIADOR DA INFLAMAÇÃO. É um composto natural que desempenha importantíssimas funções no nosso organismo. A histamina é produzida em células especiais no nosso corpo, quando em presença de um alergénio estranho ou em processos traumáticos. É a substância que vai desencadear todo o processo de reparação do organismo, aumentando a permeabilidade dos capilares, para as células de defesa do sangue e outras proteínas poderem exercer a sua ação contra invasores estranhos nos tecidos afetados. As células especiais responsáveis pela produção de histamina são os mastócitos, os basófilos, as plaquetas, os neurónios e células no nosso intestino. A produção é efetuada em praticamente todo o nosso corpo com especial incidência nas regiões de contacto com o exterior, como na pele e nos tratos respiratório e gástrico. Além de desempenhar um importante papel no sistema imunológico, protegendo-nos das infeções por vírus, bactérias, fungos ou parasitas, a histamina é ainda um importante neurotransmissor, fundamental para o bom funcionamento do cérebro e sistema nervoso central. É também a histamina que sinaliza a libertação de ácido clorídrico no estômago, para que se possa iniciar a digestão das proteínas.
[SAÚDE HORMONOLOGIA]
A diaminoxidase (DAO) é a primeira linha de defesa contra a histamina ingerida ou libertada
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ALIMENTOS RICOS EM HISTAMINA Os alimentos ricos em histamina são, geralmente, alimentos fermentados, que a produzem por atividade microbiana. Eis alguns exemplos: 4 Queijo; 4 Carnes processadas e fermentadas; 4 Vinho, cerveja e vinagre; 4 Extratos de leveduras; 4 Couve fermentada (sauerkraut); 4 Banana, abacate, chocolate, molhos de soja, enlatados. Há alimentos que contêm naturalmente histamina, como o espinafre e a beringela. Outros desenvolvem a histamina no processo de amadurecimento, como o tomate e as cerejas. Há também alimentos que não sabemos como nos fazem libertar histamina, como os morangos, a clara do ovo, álcool e citrinos. Pensamos ser por mecanismo não imunológico. Existem, ainda, substâncias que fazem com que o nosso corpo liberte mais histamina, como os benzoatos e sulfitos (preservativo de alimentos), tartrazina e outros corantes naturais. Estes compostos sabemos que bloqueiam a ação da DAO e da HMT. Mais um motivo para evitar alimentos processados. Lembrar, por fim, que o álcool, antidepressivos, como a fluoxetina e a sertralina, analgésicos, como aspirina e ibuprofen, inibidores H2, como a cimetidina e ranitidina, inibem também a atividade da enzima diaminoxidase.
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PAPEL FUNDAMENTAL DA DAO A diaminoxidase (DAO) é a primeira linha de defesa contra a histamina ingerida
através da dieta ou libertada no intestino. Quando os seus níveis são adequados e a sua atividade é normal, só uma pequena quantidade da histamina extrínseca entrará na circulação. O tratamento passa pela restrição dietética, diminuindo a ingestão de produtos que contenham histamina, e por aumentar a atividade a nível intestinal da DAO, o que requer suplementação. Como não poderia deixar de ser, trabalhando eu em modulação hormonal, tenho de fazer o link desta situação às nossas hormonas. O estradiol, na verdade, tem um atividade inibidora sobre a DAO. Temos de perceber que na menopausa, onde o estradiol está muito diminuído, mas sem qualquer progesterona, as mulheres se encontram em “dominância” estrogénica, situação não desejável à nossa saúde. Daqui que, neste período, muitas mulheres aparecem com “alergias”, sendo que, na maioria das vezes, se trata de uma sensibilidade à histamina, por fraca atividade da DAO, que é estimulada pela progesterona. Todas as pessoas com défice de progesterona estarão em excesso relativo de estradiol, pois este equilíbrio é fundamental, pelo que ter mais este fator em consideração é outro importante motivo para a preocupação do equilíbrio hormonal em todas as fases da vida e sua correção lógica, para que se tratem as causas e não apenas os sinais e sintomas. A compreensão da fisiologia e da fisiopatologia de todas as situações médicas ajudaria ao tratamento mais simples e eficaz da doença.
MEDIDAS gerais Medidas gerais para que os alimentos ricos em histamina não sejam um problema de maior: 4 Eliminação de metais tóxicos Há estudos que referem o frequente aumento de metais pesados (cádmio, mercúrio e chumbo) em pessoas com dietas “gluten free” e que ingerem mais peixe; 4 Bom nível de ácido clorídrico no estômago - A má digestão dos alimentos produz inflamação e aumento de histamina; 4 Fígado saudável - Sem a bílis não fazemos a digestão; 4 Saúde intestinal - Eliminar a disbiose (desequilíbrio da flora) e manter uma flora saudável. Para isto, há que consumir pouco açúcar e eliminar farináceos (mesmo sem glúten) e alimentos industrializados; beber no máximo 150 ml de líquidos às refeições, que devem ser água ou chá sem teína; não misturar muitos alimentos; aumentar o consumo de vegetais; evitar antibióticos e antiácidos; e fazer uso de probióticos e simbióticos. 4 Eliminar agentes patogénicos - É importante saber que a utilização de inibidores das bombas de protões e a síndroma do intestino irritável estão altamente relacionados com a síndroma do supercrescimento bacteriano (SIBO). Temos de eliminar os agentes causais, repor nutrientes e utilizar probióticos e simbióticos. Nunca utilizar estes em situações agudas: procurar primeiro a eliminação dos agentes causadores. Atenção ao Helicobacter pylori.
SELÉNIO O reforço que o seu sistema imunitário precisa A DEFICIÊNCIA DE SELÉNIO, UM MINERAL ESSENCIAL AO ORGANISMO, DEIXA O SISTEMA IMUNITÁRIO DEBILITADO. MAS OS PRIMEIROS MANIFESTAM-SE NAS UNHAS E TAMBÉM NO CABELO.
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NHAS QUEBRADIÇAS, cabelo enfraquecido e sistema imunitário fragilizado têm alguma ligação? Segundo a ciência, sim. A falta de selénio, um mineral essencial ao nosso organismo, deixa as unhas e o cabelo enfraquecidos e o sistema imunitário debilitado, sendo os sintomas nas unhas e cabelo os primeiros a manifestar-se. Este mineral, que o nosso corpo não fabrica e que obtemos através dos alimentos, é importante para um bom desempenho do sistema imunitário e também para o bom funcionamento da tiroide. Desempenha, ainda, um papel importante na ajuda à prevenção de problemas cardiovasculares, reumatismo, infertilidade e alguns tipos de cancro. O selénio faz parte da estrutura de 25 selenoproteínas, moléculas vitais para o nosso organismo que desempenham diferentes funções a nível da defesa antioxidante, resposta imunitária, função da tiroide e fertilidade.
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FONTES DE SELÉNIO Este mineral pode ser encontrado no solo e é absorvido pelas plantas, forma através da qual é introduzido na cadeia alimentar. Os alimentos mais ricos em selénio são: trigo, castanha-do-brasil, marisco e vísceras.
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Um estudo recente, conduzido por Catarina Galinha, investigadora do Instituto Superior Técnico de Lisboa, concluiu que o trigo produzido em solo português é pobre em selénio, uma vez que o território agrícola em Portugal contém baixo teor de selénio. Consequentemente, vegetais e frutos cultivados em solo nacional vão conter também baixo teor deste mineral. O QUE FAZER? Não existindo ainda legislação nacional no sentido de impor a utilização de fertilizantes enriquecidos com selénio, como acontece na Finlândia, poderá ser necessário, a par de uma dieta variada que inclua alimentos ricos neste mineral, recorrer à toma de um suplemento alimentar à base de levedura de selénio orgânico. Este deve garantir uma ingestão adequada de acordo com a mais recente investigação científica na área da medicina preventiva (100 microgramas/dia) e, para promover uma defesa antioxidante, ser suplementado juntamente com zinco. Um suplemento de selénio que contenha também zinco terá o benefício adicional de contribuir para uma melhoria da pele, uma vez que o zinco favorece os mecanismos de reparação dos tecidos envolvidos na formação de pele nova e na cicatrização de feridas.
[VIDA SAUDÁVEL ESPAÇO] SINAIS DE DÉFICE DE SELÉNIO 4 Queda de cabelo e fragilidade das unhas; 4 Metabolismo lento (hipotiroidismo); 4 Imunidade comprometida; 4 Infertilidade.
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Há cada vez mais pessoas a tomar suplementos de selénio, como forma de prevenção dos problemas que a sua insuficiência pode trazer
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Doença inflamatória INTESTINAL QUALIDADE DE VIDA É POSSÍVEL
APESAR DE CRÓNICA, A DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NÃO TEM DE SER VIVIDA COM PESSIMISMO E COMO UMA FATALIDADE, MAS SIM COM QUALIDADE DE VIDA. COM A TERAPÊUTICA ADEQUADA, UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, EXERCÍCIO FÍSICO E INFORMAÇÃO, ACREDITO QUE É POSSÍVEL “SER FELIZ COM DII!”
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DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL (DII) é uma doença que, tal como o seu nome indica, se caracteriza por um processo inflamatório que atinge a parede intestinal. Agrupa no seu interior duas entidades com pontos comuns e aspetos divergentes: a colite ulcerosa e a doença de Crohn. Na primeira, a colite ulcerosa, o processo inflamatório encontra-se localizado no intestino grosso, atingindo o reto e parte variável do cólon. A segunda, a doença de Crohn, embora podendo atingir qualquer segmento do tubo digestivo, encontra-se mais frequentemente localizada na porção mais distal do intestino delgado (íleo) e cólon adjacente.
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AUMENTO NA INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA A doença inflamatória intestinal inclui-se nas denominadas doenças imunomediadas, um grupo de patologias que pode atingir diversos órgãos e sistemas do nosso corpo e nas quais se encontra
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Membro da Direção do GEDII – Grupo de Estudo da Doença Inflamatória Intestinal e da Comissão Científica da APDI – Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino, Colite Ulcerosa, Doença de Crohn
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DR. FRANCISCO PORTELA
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NOVAS ARMAS TERAPÊUTICAS Felizmente, este aumento na incidência e prevalência tem sido acompanhado, sobretudo nas últimas duas décadas, pelo aparecimento de novas armas terapêuticas, que têm permitido controlar a doença e devolver qualidade de vida à grande maioria das pessoas diagnosticadas com colite ulcerosa e doença de Crohn. Apesar da investigação levada a cabo não ter conseguido determinar a causa precisa destas doenças, permitiu, ainda assim, avanços significativos no conhecimento das vias inflamatórias determinantes para a sua génese e manutenção. Este conhecimento, aliado à tecnologia que permite produzir anticorpos em escala industrial, esteve na base do desenvolvimento de medicamentos capazes de bloquear o processo inflamatório em vários pontos considerados determinantes.
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um processo inflamatório, sem causa aparente, e que, de algum modo, parece dirigido contra o próprio organismo. Este grupo de doenças tem registado, nos últimos anos, um aumento na incidência (número de novos casos) e prevalência (total de pessoas atingidas), que no caso da DII deverá atingir cerca de 30.000 portugueses. Este aumento, registado durante as últimas décadas do século XX nas áreas de maior incidência (Norte da Europa, EUA, Canadá), atinge atualmente zonas tradicionalmente de menor incidência, tornando-a num problema global. Apesar de não haver uma explicação definitiva para este fenómeno, é facilmente reconhecível o paralelismo entre a generalização de um estilo de vida “ocidental”, caracterizado, entre outros, por novos hábitos alimentares, mas também por melhores padrões de higiene e o crescimento nos índices de incidência destas patologias.
[SAÚDE GASTRENTEROLOGIA]
Uma abordagem moderna da DII deve basear-se em centros de referência, dispondo de equipas multidisciplinares
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Esta classe de fármacos é, muitas vezes, agrupada sob a designação de “terapêutica biológica” e foi iniciada, na DII, com o lançamento do infliximab em 1998/99. Após o infliximab, seguiram-se outros fármacos com mecanismo de ação similar (adalimumab e golimumab) e alternativo (vedolizumab e ustecinumab). A estes é provável que se juntem outros medicamentos biológicos e uma nova classe denominada “pequenas moléculas”, das quais o primeiro exemplo, tofacitinib, foi recentemente aprovado para o tratamento da colite ulcerosa.
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ABORDAGEM MODERNA Este desenvolvimento vertiginoso de novos fármacos não deve, no entanto, fazer-nos pensar que o mais recente é sempre o mais adequado e que a terapêutica da doença inflamatória intestinal se esgota ou limita à prescrição de novas moléculas. Uma abordagem moderna da doença inflamatória intestinal deve basear-se em centros de referência, dispondo de equipas multidisciplinares, englobando gastrenterologistas, cirurgiões e outros profissionais de saúde, e deve considerar o doente nas suas múltiplas vertentes, dando também atenção, entre outros, a aspetos nutricionais e psicológicos. Muitas vezes, irá acontecer que o que o doente mais precisa e o que mais rápida e eficientemente lhe restituirá a tão almejada qualidade de vida é uma intervenção cirúrgica ou, apesar de a doença estar em remissão, persistem dúvidas e incertezas cuja resolução não depende de mais medicamentos com poder anti-inflamatório. O seu seguimento em centros de referência assegurará que a assistência é prestada por médicos e outros profissionais com experiência em doença inflamatória intestinal, que em cada momento irão sugerir a estratégia terapêutica mais adequada, utilizando os fármacos mais modernos, logo que eles se tornem indispensáveis, mas também evitando expor o doente a possíveis efeitos secundários, sempre que tal seja desnecessário.
APDI: a ajuda certa no momento certo A APDI - Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino, Colite Ulcerosa, Doença de Crohn é uma associação de doentes, com 26 anos de existência, sem fins lucrativos e reconhecida como IPSS. Visa apoiar e possibilitar a partilha de experiências aos portadores de uma DII, seus familiares e amigos, bem como melhorar o conhecimento da população em geral sobre esta problemática. A nossa missão é formar e informar para a gestão diária de uma patologia que, apesar de crónica, não tem de ser vivida com pessimismo e como uma fatalidade, mas sim com qualidade de vida. Com a componente terapêutica adequada, uma alimentação saudável, exercício físico e informação, acreditamos que é possível “Ser Feliz com DII!” O nosso apoio personalizado é prestado por telefone e por e-mail a todas as pessoas que vivem com doença inflamatória do intestino ou que tenham interesse em saber mais sobre a doença de Crohn ou a colite ulcerosa. Proporcionamos também aos nossos associados consultas de apoio psicológico e consultas de apoio nutricional, para além de diversa informação sobre a patologia, revista por médicos especializados na doença, que se encontram disponíveis no nosso site em www.apdi.org.pt . Temos ainda um canal de difusão de informação e literacia em saúde no YouTube, com publicações mensais de vídeos com profissionais de saúde, em https://www.youtube.com/ canalapdi Redes sociais: https://www.facebook.com/apdi.portugal https://www.instagram.com/apdii Venha conhecer-nos. Estamos cá para o apoiar.
[SAÚDE NUTRIÇÃO]
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DOENÇAS CRÓNICAS AS DOENÇAS CRÓNICAS MOEM E MATAM E TÊM DE DEIXAR DE SER “EMPURRADAS COM A BARRIGA”, COMO UM PROBLEMA QUE PODE ESPERAR. É NECESSÁRIO INVESTIR AGORA, PARA QUE POSSAMOS COLHER OS FRUTOS NO FUTURO.
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AIS DE UM ANO PASSADO desde que a pandemia de covid-19 veio alterar por completo as nossas vidas. A perceção que temos é que o tempo foi dividido em três eras distintas: antes, durante e (o tão esperado) após a covid-19. E este facto é transversal a todos os parâmetros da nossa existência. Neste contexto, focar-nos-emos na problemática da alimentação e das doenças que advém da malnutrição.
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ANTES DA PANDEMIA No período pré-covid, a população portuguesa já não podia ser considerada das mais saudáveis, muito pelo contrário. Os portugueses, dos mais jovens aos mais idosos, apresentavam tendências preocupantes ao nível da alimentação, como, por exemplo, o consumo exagerado de carne, em contraposição com o baixo consumo de hortofrutícolas e leguminosas. Já a prática de exercício físico era reduzida e a prevalência de doenças crónicas de alarmar. A hipertensão afetava cerca de 40% da população; a diabetes cerca de 10%; e a obesidade atingia mais de 20% da população portuguesa. Um retrato preocupante que resulta no facto de Portugal ser dos países europeus em que, apesar da elevada esperança de vida, se vive mais tempo doente e isto muito graças aos maus hábitos alimentares. Por outro lado, e apesar da dieta mediterrânica ser considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO e comprovada como uma opção alimentar saudável, parece não estar em voga, com somente 18% dos portugueses a terem uma adesão elevada.
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INSEGURANÇA ALIMENTAR E INAÇÃO POLÍTICA Acresce o facto de sabermos que a população não sofre destas problemáticas por igual. Não é por acaso que os mais desfavorecidos são os mais atingidos pela prevalência de doenças crónicas, consequência das dificuldades em compreender a informação disponível ao nível das opções mais saudáveis e das dificuldades financeiras em adquirir alimentos para uma alimentação adequada, a conhecida insegurança alimentar.
e matam Apesar disso, o que vemos é que parece não haver uma estratégia de combate à incompreensão no que toca aos hábitos alimentares que devem ser privilegiados ou evitados. É gritante o impacto que uma alimentação equilibrada tem na vida de uma pessoa, desde a sua infância até à sua idade adulta (incluindo a idade geriátrica) e o peso deste fator na incidência de doenças crónicas na população. No entanto, existe inação por parte da classe política, que deveria encarregar-se de delinear uma estratégia concertada e em várias frentes – desde uma estratégia para a alimentação escolar, a campanhas na comunidade, à legislação, à melhoria do acesso da população às consultas de Nutrição, entre tantas outras –, de modo a que, por um lado, vivêssemos mais anos e mais anos com qualidade de vida e saudáveis e, por outro, a nível financeiro, para que a nossa economia fosse poupada ao nível de dispendiosos tratamentos para este tipo de doenças. Convém, aliás, recordar que, em Portugal, por cada €100 gastos em saúde, apenas entre €1 e €2 são alocados à prevenção.
DURANTE A PANDEMIA Pois bem, aquilo a que assistimos com a chegada desta nova pandemia era, na verdade expectável, quando consideramos os números de doentes crónicos na sociedade portuguesa – como o caso dos doentes com obesidade – ou os resultados do diagnóstico do primeiro confinamento geral no nosso país no que diz respeito aos comportamentos alimentares e de atividade física em contexto de contenção social, para combate à pandemia da covid-19 (o estudo REACT COVID da Direção Geral da Saúde). Na verdade, o sedentarismo, os erros alimentares e a insegurança alimentar não eram conceitos novos, mas antes realidades que se viram exacerbadas com a chegada desta pandemia. Pandemia, aliás, que
veio, ainda, pressionar o Serviço Nacional de Saúde e deixar em suspenso tantas consultas de acompanhamento de doentes já diagnosticados, bem como atrasar diagnósticos. A pandemia veio, já se sabe, impactar a vida de todos nós de diversas formas, mas foram, de novo, os mais desfavorecidos aqueles que mais sofreram as consequências. O CASO DOS DOENTES COM OBESIDADE Olhemos para o caso dos doentes com obesidade – cujo grupo, como já analisámos, é maioritariamente composto por pessoas com mais baixa escolaridade ou reduzidas possibilidades financeiras. Como sabemos, foi este um dos grupos que
Portugal é dos países europeus em que, apesar da elevada esperança de vida, se vive mais tempo doente e isto muito graças aos maus hábitos alimentares
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PROFª DRA. ALEXANDRA BENTO Bastonária da Ordem dos Nutricionistas
[SAÚDE NUTRIÇÃO] É hora de promover a saúde dos portugueses sem exceção, com medidas claras e com impacto terreno, que transformem a alimentação adequada e sustentável na regra e não na exceção
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sofreram consequências mais graves de infeção por covid-19, tendo a obesidade sido sinalizada como fator de risco para o novo coronavírus. Não se trata de um acaso e não se pode dizer que tenha sido uma grande surpresa. Os doentes crónicos estão (e sempre estiveram) mais debilitados no que toca ao combate a outras doenças e, para além disso, dado o contexto social, são aqueles que menos possibilidades têm no acesso a hábitos mais saudáveis, bem como a especialistas da área da saúde que pudessem aconselhar, os nutricionistas, para prevenir a escalada do quadro de saúde até ao diagnóstico. Ressalva-se que a educação para a alimentação saudável e para escolhas informadas deve iniciar-se desde cedo, nas escolas, tal como há uns anos se desenvolveu a campanha da reciclagem. Hoje em dia, os jovens adultos sabem reciclar e é impensável não o fazerem. Dá para imaginar, portanto, as consequências positivas que poderíamos agora contar se existissem
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nutricionistas nas escolas e se a alimentação estivesse na agenda dos nossos governantes. NECESSIDADE URGENTE Recorde-se que existem atualmente apenas dois nutricionistas em todo o Ministério da Educação e que, apesar da previsão de contratação de outros 15 profissionais no Orçamento de Estado de 2020, esta medida ainda não saiu do papel. De facto, não existindo uma verdadeira estratégia governamental para a promoção da alimentação saudável e não havendo nutricionistas ao acesso de todos, o cuidado com a alimentação e a manutenção de um estilo de vida saudável parece permanecer ao alcance de uma minoria que só por si já estava um patamar à frente do resto da população (basta considerarmos o seu nível de escolaridade). Para além dos números mais do que insuficientes nas escolas, também nos cuidados de saúde primários o cenário não é muito mais animador, tendo a Ordem
dos Nutricionistas vindo a alertar para a necessidade urgente de contratar, pelo menos, 800 nutricionistas (havendo atualmente pouco mais de 100) para os centros de saúde e de outros 150 nutricionistas para os hospitais (onde se contabilizam atualmente cerca de 300). ENCARAR O FUTURO É assim que, de olhos postos no que há de vir, chegamos à parte final desta análise. Após dissecarmos o passado e o presente, está na hora de encararmos o futuro. É hora de promover a saúde dos portugueses sem exceção, com medidas claras e com impacto sentido no terreno, que transformem a alimentação adequada e sustentável na regra e não na exceção. Apostemos, portanto, na contratação de nutricionistas, colocando os cuidados nutricionais ao alcance de toda e qualquer pessoa. Avancemos no sentido de prosseguir o trabalho já iniciado no âmbito da legislação (relativos ao teor de sal e açúcar em alguns alimentos) e a promoção a larga escala da dieta mediterrânica, através do ensino para a alimentação, a iniciar-se, já, nas escolas. As doenças crónicas moem e matam e têm de deixar de ser “empurradas com a barriga”, como um problema que pode esperar, na iminência do tratamento a doenças urgentes. Vamos investir agora, para que possamos colher os frutos da prevenção no futuro!
[SAÚDE FITNESS]
DOENÇAS CRÓNICAS
MELHORE A SUA SAÚDE ATRAVÉS DO EXERCÍCIO FÍSICO SABIA QUE A FALTA DE EXERCÍCIO FÍSICO É A MAIOR CAUSA DE DOENÇAS CRÓNICAS? DA ARTRITE À HIPERTENSÃO ARTERIAL, SÃO INÚMERAS AS DOENÇAS CRÓNICAS QUE PODEM SER EVITADAS ATRAVÉS DA PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIO FÍSICO. SAIBA COMO, NESTE ARTIGO!
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E EXISTISSE UM ABC DAS DOENÇAS CRÓNICAS, a artrite, a asma, o cancro (alguns tipos), a demência, a diabetes, as doenças cardíacas, as dores de costas e a hipertensão arterial iriam, certamente, estar presentes. Estas são algumas das doenças crónicas que, de forma simples, abordamos neste artigo e esclarecemos como é que o exercício físico pode ajudar na sua prevenção e, consequentemente, na promoção de uma melhor qualidade de vida.
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O QUE SÃO DOENÇAS CRÓNICAS? São doenças que se desenvolvem lentamente, mas de duração prolongada ou permanente. Podem ser silenciosas ou sintomáticas, apresentam um elevado risco para a saúde e comprometem a qualidade de vida. Existem inúmeras doenças crónicas, como as doenças cardiovasculares, as doenças respiratórias (bronquite, asma, rinite), hipertensão arterial, o cancro e as doenças metabólicas (obesidade, diabetes, dislipidemia), entre outras. QUAIS AS CAUSAS? As causas são multifatoriais e fortemente associadas a condições de saúde, como a obesidade, e também a um estilo de vida sedentário. A inatividade física é a principal causa de mais de três dezenas de doenças, entre elas, as crónicas.
Pela
PROF.ª ANA ANDRADE Doutoranda em Atividade Física e Saúde, pela Universidade Lusófona de Lisboa (ULHT). Mestre em Exercício e Bem-Estar, ULHT Lisboa. Personal Trainer e Group Trainer no Holmes Place Parque das Nações 39 >
A prática regular de exercício físico poderá trazer benefícios importantes para a sua saúde e qualidade de vida; no entanto, é importante falar com um profissional de saúde, antes de iniciar a prática
[SAÚDE FITNESS]
Datas importantes em maio 5 – Dia Mundial da Asma 17 – Dia Mundial da Hipertensão 22 – Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade 26 – Dia Mundial da Esclerose Múltipla 31 – Dia Mundial Sem Tabaco
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QUAIS OS EXERCÍCIOS MAIS INDICADOS? O fisiologista do exercício irá recomendar exercícios específicos para diminuir a dor ou aumentar a força, de acordo com a sua patologia e condição física atual. Em alguns casos, poderá ser necessário consultar um fisioterapeuta, antes de começar a prática. No caso da asma induzida pelo exercício, certifique-se que mantém um inalador à mão durante a prática. Se tem dores nas costas, em especial na zona lombar (fim das costas), poderá realizar atividades aeróbicas de baixo impacto, como caminhar ou nadar. Poderá também reforçar com treino de musculação no ginásio, com máquinas de cabos, e treino com superfícies instáveis (bosu). As aulas de Pilates e Yôga também poderão ser benéficas. Estas atividades não prejudicam nem causam desconforto nas costas e até
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ajudam a reforçar a musculatura, corrigindo a postura. Se tem artrite, o exercício mais adequado para si dependerá do tipo de artrite, do grau de evolução e das articulações envolvidas. Trabalhe com o seu fisiologista do exercício, fisioterapeuta e médico, de forma a criar um plano de exercícios que lhe dê o máximo de benefícios com o mínimo de agravamento para as articulações. COM QUE FREQUÊNCIA E A QUE INTENSIDADE ME POSSO EXERCITAR? O ideal é acumular cerca de 30 minutos de atividade física por dia, pelo menos, cinco dias por semana, numa intensidade moderada. É fundamental complementar com treino de força (reforço muscular) no ginásio, pelo menos, duas vezes por semana. Se não conseguir ser regular, faça
o máximo que puder. Mesmo uma hora de exercício por semana pode trazer benefícios para a saúde. Lembre-se de realizar os exercícios sempre de acordo com a sua preferência e tolerância de intensidade. QUAIS AS PREOCUPAÇÕES INICIAIS QUE DEVEREI TER? Irá depender da(s) sua(s) patologia(s) e condição física atual. Na orientação inicial, será questionado sobre o seu historial desportivo e anamnese, que fará com que o fisiologista do exercício prescreva o melhor plano de treino, respeitando as suas características individuais. Se tem diabetes, por exemplo, lembre-se de que o exercício reduz o açúcar no sangue. É muito importante verificar o nível de açúcar no sangue (glicémia) antes de qualquer sessão. E ter algo para comer durante e após a sessão.
Se tem artrite, considere tomar um banho quente antes de treinar, uma vez que o calor poderá ajudar a relaxar, não só as articulações como os músculos, e aliviar qualquer dor que possa sentir antes de começar. No caso da hipertensão, deverá evitar exercícios com os braços acima da zona da cabeça e trabalho isométrico (pranchas frontais). QUE DESCONFORTO DEVO ESPERAR? Para cada doença crónica há desconfortos associados. Dores articulares e musculares são comuns nas primeiras sessões
de treino. Contudo, após 24 a 48 horas, a tendência é para minimizarem e, com a prática regular de exercício, desaparecem por completo. Questione que tipo ou grau de dor pode ser normal e o que pode ser sinal de grande desconforto. Se tiver uma doença cardíaca, por exemplo, os sinais ou sintomas para parar de praticar o exercício incluem tonturas, falta de ar invulgar, dor no peito ou batimento cardíaco irregular. COMO COMEÇAR? Para ajudá-lo a cumprir a sua rotina,
considere iniciar a prática de um programa de treino com um amigo. De certeza que conhece alguém que precise de se exercitar, quer tenha ou não alguma doença crónica. Para se manter motivado, escolha atividades com que se identifique, que sejam divertidas e promovam prazer. Estabeleça metas realistas e celebre sempre cada progresso. Compartilhe todas as dúvidas que possa ter sobre o programa de treino com a equipa que o acompanha, em especial, o seu fisiologista, fisioterapeuta e médico. Uma longa caminhada começa com um pequeno passo!
INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO 4ARTRITE – O exercício físico poderá reduzir a dor e contribuir para a manutenção da força muscular nas articulações afetadas, diminuindo a rigidez articular.
4DIABETES – O exercício físico regular pode ajudar a reduzir o nível de insulina no sangue. Ajuda também na gestão de peso e a aumentar os níveis de energia.
4ASMA – O exercício físico pode ajudar a minimizar a frequência e a gravidade das crises asmáticas.
4DOENÇAS CARDÍACAS – O exercício físico regular pode ajudar a melhorar a saúde do coração. Inúmeros estudos evidenciam que o treino intervalado pode ser bem tolerado em doentes cardiovasculares e pode produzir benefícios significativos.
4CANCRO – O exercício físico pode melhorar a qualidade de vida das pessoas que já tiveram cancro e também melhorar a sua condição física. Pode ajudar a diminuir o risco de morte por cancro da mama, cancro colorretal e da próstata. 4DEMÊNCIA – O exercício físico pode melhorar a cognição em pessoas com demência (Alzheimer ou Parkinson). Pessoas que se exercitam com regularidade correm menos risco de demência e deficiência cognitiva.
4DORES DE COSTAS – Atividades aeróbicas regulares de baixo impacto podem aumentar a força e a resistência da musculatura da região das costas. Os exercícios para os músculos abdominais, lombares e dorsais (core) podem ajudar a reduzir os sintomas, fortalecendo os músculos em volta da coluna.
4HIPERTENSÃO ARTERIAL – Conhecida popularmente como “tensão alta”, é caracterizada pelo aumento anormal e de longa duração da pressão que o sangue faz ao circular pelas artérias. Exercícios que incluam caminhar, dançar, nadar, correr e andar de bicicleta devem ser realizados, pelo menos, três vezes por semana, bem como um treino de força (ginásio) com o apoio de máquinas, duas vezes por semana.
Fotografia: MIGUEL MOURA
[SAÚDE ESTANTE]
As Delícias de Ella Rápido & Fácil Autora: Ella Mills Woodward
Autores: Alex Lewin e Raquel Guajardo
Editora: Lua de Papel
Editora: Nascente
Ella é o rosto mais conhecido da nova cozinha vegetariana. O que vai encontrar neste livro são mais de 100 deliciosas receitas da autora, todas à base de vegetais, mas com uma novidade: para além dos pequenos-almoços (até tem panquecas!), das pastas, molhos, cremes para barrar e snacks, há dois capítulos de refeições rápidas: 10 e 20 minutos apenas. Mas como muitas pessoas não têm sequer esse tempo disponível, Ella oferece um capítulo inteiro onde mostra como confecionar refeições para a semana toda.
A Bússola da Alimentação
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Os alimentos e as bebidas fermentadas ajudam a melhorar a digestão, permitem-nos assimilar melhor as vitaminas e os minerais e fortalecem o sistema imunitário. Além disso, são saborosos! Pense na kombucha, no verdadeiro ginger ale ou na sidra. Pode comprar alguns deles numa loja, mas uma confeção caseira é simples, económica e melhor para si. Este livro mostra-lhe como. Dizer “saúde!” nunca soube tão bem.
Nutrição na Fibrose Quística
Autor: Bas Kast
Autoras: Inês Asseiceira, Joana Roque e Margarida Ferro
Editora: Nascente
Editora: ANFQ
É uma pergunta simples cuja resposta, atualmente, se tornou muito complexa. E se eu experimentasse a dieta paleo? Ou a dieta low carb? Ou a low fat? Ou, talvez, a dieta keto ou uma dieta sem glúten? Muito do que achamos ser uma alimentação saudável poderá estar, na verdade, a fazer-nos mal. Bas Kast explica como sair deste caos provocado pela batalha das dietas, ao colocar de lado as tendências da moda e as ideologias muitas vezes contraditórias.
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Kumbucha, Kéfir e Outras Bebidas Fermentadas
Manter ou ganhar peso de forma saudável é mais um desafio que os doentes com fibrose quística têm de vencer. E como a alimentação é fundamental para o seu bem-estar, a Associação Nacional de Fibrose Quística (ANFQ) apresenta um livro que dá resposta a questões e dúvidas sobre as necessidades alimentares destes doentes, superiores às da população em geral, devido à maior dificuldade na absorção dos nutrientes. E-book gratuito no site da ANFQ.
Cérebro e Alimentação
O Poder Curativo do Nervo Vago
Autora: Dra. Uma Naidoo
Autor: Stanley Rosenberg
Editora: Nascente
Editora: Nascente
Precisa de estar sozinho todos os dias, nem que seja alguns minutos? O barulho e a confusão afligem-no? Se sim, há fortes probabilidades de ser uma Pessoa Altamente Sensível (PAS). Estima-se que entre 15 a 20% das pessoas partilham este traço de personalidade, “descoberto” há 25 anos, pela Dra. Elaine Aron. Uma vez feito o diagnóstico, as PAS encontrarão aqui conselhos práticos para enfrentar a agitação e ansiedade.
Autora: Bárbara Ramos Dias Editora: Manuscrito Neste guia inovador, a autora ensina a identificar o tipo de personalidade do seu filho segundo o eneagrama, um teste que une a matemática à psicologia. Será ele do tipo romântico ou do género competitivo? Talvez seja um entusiasta, um observador, um perfeccionista ou um confrontador. Para cada perfil vai encontrar dicas práticas para melhor lidar com o seu filho. Esta ferramenta ensina-o a valorizar os talentos e a desdramatizar os “defeitos”, conseguindo assim um maior equilíbrio e felicidade familiar, com menos conflitos e discussões.
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Autora: Dra. Elaine Aron Editora: Lua de Papel
Guia de Cabeceira para Pais Desesperados
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Pessoas Altamente Sensíveis
Um guia prático para compreender o eixo nervoso cérebro-intestino enquanto chave do bem-estar. O autor explora o papel crucial que o nervo vago desempenha na determinação da saúde, e explica que uma miríade de sintomas comuns — da ansiedade e depressão às enxaquecas e dores nas costas — indica um deficiente funcionamento do referido nervo. Através de uma série de exercícios fáceis, este livro mostra como podemos regular o nervo vago para induzir o relaxamento profundo, melhorar o sono e recuperar de lesões e traumas.
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A complexa relação entre o intestino e o cérebro, que constitui a base deste livro, demonstra a reciprocidade entre a alimentação e a saúde mental — más escolhas alimentares levam a um aumento de doenças mentais, e as doenças mentais levam a más escolhas alimentares. Em cada capítulo, encontrará estudos que promovem especificamente o consumo ou a restrição de alimentos para doenças que vão desde a depressão e a ansiedade, até à esquizofrenia e à doença bipolar, passando pelas insónias ou a fadiga.
Cancro de PELE
[SAÚDE DERMATOLOGIA]
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STE É O 22º ANO CONSECUTIVO em que se organiza, a nível europeu, o Dia do Euromelanoma, Dia dos Cancros da Pele. Decorre no mês de maio, em todos os países, ajustando, ano a ano, a data precisa em função de eventos locais. Em Portugal, a responsabilidade da organização deste dia é da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) e da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), em colaboração com Serviços de Dermatologia públicos e privados. Este ano, não existirão os habituais rastreios presenciais, atendendo ao tempo de distanciamento social que estamos a passar, seguindo as orientações da DGS. Pretende-se, sim, dar prioridade aos doentes de risco e, em particular, aos doentes com suspeita de cancros da pele.
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PROTEÇÃO E VIGILÂNCIA Agora que se aproxima a época estival, aproveito para divulgar recomendações para uma adequada proteção solar em período de pandemia por covid-19. O período de confinamento social e o aproximar do verão, que se espera ainda condicionado pelas medidas de proteção recomendadas pela Direção Geral de Saúde, tornam importante relembrar os cuidados a ter com a exposição solar, desta feita, adaptados à realidade covid-19. O confinamento social pode significar, para algumas pessoas, menor exposição solar. Outras, pelo contrário, estão a passar mais tempo do que o habitual em varandas e jardins ou a praticar exercício físico no exterior. Desde o início do confinamento social, o índice UV, que mede a intensidade da radiação ultravioleta emitida pelo Sol e a sua capacidade para causar queimaduras solares, alcançou repetidamente níveis elevados, para os quais é recomendada especial atenção com a proteção solar. Por estes motivos, é aconselhado a todas as pessoas permanecerem vigilantes em relação à proteção e ao autoexame de lesões suspeitas na pele.
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DÉFICE DE VITAMINA D Pequenos períodos de exposição solar que resultam das atividades diárias habituais, como uma curta caminhada ao Sol, permitirão à maioria das pessoas manter níveis aceitáveis de vitamina D, especialmente durante a primavera e o verão. Para aqueles que se isolaram devido à covid-19, principalmente sem acesso a um jardim ou varanda, sugere-se que consultem o seu médico assistente.
O PERÍODO DE CONFINAMENTO SOCIAL E O APROXIMAR DO VERÃO, QUE SE ESPERA AINDA CONDICIONADO PELAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO RECOMENDADAS PELA DGS, TORNAM IMPORTANTE RELEMBRAR OS CUIDADOS A TER COM A EXPOSIÇÃO SOLAR, DESTA FEITA, ADAPTADOS À REALIDADE COVID-19.
PROTEÇÃO SOLAR E DIAGNÓSTICO PRECOCE EM PERÍODO DE PANDEMIA
4 A exposição solar, por mais intensa que seja, não previne o contágio por covid-19 nem é tratamento em caso de infeção. 4 A radiação UV não deve ser usada para desinfetar as mãos, sob risco de provocar irritação da pele.
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Dermatologista no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade. Coordenador da Unidade de Cancro da Pele da CUF Oncologia. Presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo
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DR. JOÃO MAIA SILVA
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DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CANCRO CUTÂNEO O cancro da pele pode ser dividido em três categorias: carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma maligno. As estimativas indicam que, por ano, surgem 12.000 novos casos de cancro da pele em Portugal, mil dos quais melanomas, que provocam cerca de 250 mortos anualmente. Este período é um bom momento para efetuar o autoexame dos sinais, assim como a vigilância dos sinais das pessoas do nosso agregado familiar. A Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo recomenda que se examine a pele da cabeça aos pés, todos os meses. Basta usar uma luz brilhante, um espelho de corpo inteiro, um espelho de mão, duas cadeiras ou bancos e um secador de cabelo.
MITOS recentes que interessa clarificar
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Enquanto médico especialista em cancro de pele, recomendo que não se adotem comportamentos de risco com implicações no aumento da incidência de tipo de cancro. Em caso de défice de vitamina D, deve efetuar suplementação oral sob orientação do seu médico assistente, para manter os ossos e os músculos saudáveis. Em especial, os níveis de vitamina D não devem ser argumento para a utilização de solários. É reconhecido pela OMS que a utilização de solários, mesmo que de forma ocasional, está associado ao aumento da mortalidade por cancro da pele.
[SAÚDE DERMATOLOGIA] Procure algo de novo, diferente ou incomum, na sua pele: um sinal que não existia ou que tenha começado a crescer; um sinal que se tenha modificado ou que seja diferente de todos os outros; uma ferida que não cicatriza. Tire fotos no seu telefone de algo novo e monitorize a respetiva evolução no tempo. Em caso de suspeita, deve consultar o seu médico assistente ou um dermatologista, que pode examiná-lo e dar as melhores recomendações. Não deve desvalorizar nenhum destes sinais de alerta. Não deve negar a sua existência. Também não deve deixar de procurar ajuda devido à pandemia. As Unidades de Saúde estão a criar condições para receber em segurança os doentes não-covid, pelo que não deve adiar a sua consulta. Em caso de cancro da pele, no futuro próximo, a lesão estará maior e será mais difícil de tratar. O atraso no tratamento do cancro cutâneo pode fazer a diferença entre a cura e a morte. Para mais informações, pode consultar www.apcancrocutaneo.pt.
Proteção MESMO EM CASA
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Agora que passamos mais tempo em ambientes fechados, é normal procurar locais da casa que recebem mais luz natural, junto a janelas. No entanto, é importante ter cuidado enquanto delas desfrutamos. Está demonstrado que os raios UVA atravessam o vidro, contribuindo para o aparecimento de sinais de envelhecimento prematuro, como manchas escuras e rugas, e para o cancro da pele. Recomenda-se o uso diário de protetor solar com um FPS de, pelo menos, 15 ou mais, em especial se trabalhar ao lado de uma janela de grande exposição solar. Pode ainda proteger-se colocando uma proteção na janela durante o horário de pico do sol (das 11h às 16h) ou instalando uma película com proteção UV.
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DICAS para uma CORRETA PROTEÇÃO SOLAR 4 Devemos evitar a exposição solar, na medida do possível, entre as 11h e as 16h. Se estamos expostos, devemos proteger-nos. 4 Na primeira linha de proteção solar temos a procura da sombra e utilização de roupas de proteção. 4 As roupas de proteção incluem o chapéu de abas largas e os óculos de sol (certifique-se que fornecem 100% de proteção UV) e, sempre que possível, mangas e calças mais compridas. 4 Aplique uma camada generosa de protetor solar 20 minutos antes de sair e novamente quando sair. Desta forma, procura-se garantir que está a aplicar uma quantidade suficiente. A segunda camada de protetor solar também ajuda a cobrir as áreas da pele que, de forma inadvertida, não receberam protetor solar na primeira aplicação. 4 Deve aplicar o protetor solar antes de colocar a máscara facial, sob risco de deixar áreas da face desprotegidas. 4 Deve reaplicar protetor solar regularmente, pelo menos, a cada duas horas. Deve manter este cuidado mesmo estando a usar máscara. 4 Utilize um protetor solar adaptado à sua pele, em especial se tiver alguma condição que possa agravar ou que esteja associada a intolerância a alguns tipos de cremes. Este cuidado ainda se torna mais importante em período de utilização de máscara facial. 4 Recomendamos, no mínimo, um SPF 30, com boa proteção UVA. 4 As viseiras não protegem da radiação ultravioleta. Como a radiação ultravioleta atravessa as viseiras, mesmo que as esteja a usar, deve manter sempre os cuidados anteriormente descritos. 4 Se estiver a praticar exercício ou a suar enquanto trabalha, deverá reaplicar o protetor solar com maior frequência, pois é fácil remover ou limpar o protetor solar nessas circunstâncias. 4 Se não estiver a usar um chapéu de abas largas, não se deve esquecer de aplicar protetor solar em áreas como orelhas, nuca e em áreas de calvície. Estas áreas, muitas vezes descuradas, são uma localização frequente do cancro da pele.
[SAÚDE HEMATOLOGIA]
LEUCEMIA
linfoblástica aguda RUMO A UM FUTURO MAIS AUSPICIOSO É ATRAVÉS DA JUNÇÃO DE PEQUENÍSSIMOS FRAGMENTOS DE CONHECIMENTO, GERADOS EM MÚLTIPLOS CENTROS DE INVESTIGAÇÃO POR TODO O MUNDO, QUE SE CONSEGUE, COM PASSOS LENTOS MAS FIRMES, CAMINHAR RUMO A UM FUTURO MAIS AUSPICIOSO PARA OS DOENTES COM LEUCEMIAS AGUDAS, NO GERAL, E LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA, EM PARTICULAR.
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UANDO SE FALA DE LEUCEMIA, a maior parte das pessoas assusta-se e automaticamente associa a palavra a um tipo de cancro do sangue, raro e extremamente agressivo. No entanto, há que saber contextualizar a doença. Ou melhor, há que saber contextualizar as doenças, uma vez que leucemia – que, literalmente, significa “excesso de leucócitos no sangue” – engloba um grupo muito heterogéneo de patologias, umas crónicas e outras agudas.
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DR. LUÍS PEDRO MONTEIRO
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Interno de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC). Investigador no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM-JLA)
LEUCEMIAS CRÓNICAS As leucemias crónicas – leucemia linfocítica crónica e leucemia mieloide crónica –, como a própria designação indica, são doenças que necessitam de ser tratadas ao longo do tempo e, tendencialmente, não são curáveis. Os doentes serão tratados, episodicamente ou de forma contínua, ao longo das suas vidas, sempre na procura da obtenção da melhor resposta clínica possível, que ocorre quando as células tumorais deixam de ser detetáveis pelas ferramentas laboratoriais de que dispomos, entrando na chamada fase de remissão. De uma forma simplista, podemos dizer que o caráter menos agressivo e urgente desta família de leucemias advém do facto de, na sua origem, estarem glóbulos brancos mais envelhecidos e com uma capacidade de proliferação mais reduzida, dando tempo, ao clínico, para chegar ao diagnóstico e se iniciar o tratamento. LEUCEMIAS AGUDAS Já quando se fala de leucemias agudas, no geral, e de leucemia linfoblástica aguda (LLA), em particular, está-se a falar de um cancro produzido a partir de um linfoblasto, uma célula parecida a um linfócito jovem, que em condições normais é responsável pela defesa contra vírus e bactérias, mas que aqui adquiriu perigosas mutações que o alteraram. Este linfoblasto, não só prolifera a uma velocidade muito mais elevada do que as células sanguíneas normais, como também é capaz de sobreviver para lá do que seria expectável, fugindo
aos mecanismos reguladores do próprio organismo. Normalmente, o diagnóstico de qualquer leucemia aguda é feito de forma célere, visto que o período desde o aparecimento dos primeiros linfoblastos até à manifestação clínica tende a ser de dias a poucas semanas. Como na origem do tumor está um crescimento desmesurado de células malignas, na medula óssea, esta “fábrica” do sangue fica impedida de produzir as células normais. Os doentes apresentam sintomas muito inespecíficos, como cansaço inexplicável, hematomas espontâneos e hemorragias e/ou infeções de difícil resolução, mesmo quando medicadas com antibióticos ou antivirais, tudo porque o organismo deixa de ser capaz de produzir glóbulos vermelhos, plaquetas e glóbulos brancos funcionantes, respetivamente. Uma análise ao sangue pode ser altamente sugestiva de leucemia aguda, mas só olhando para o sangue medular, através da realização de uma aspiração de medula óssea, poder-se-á confirmar a suspeita. IMPACTO NÃO DEVE SER MENOSPREZADO E apesar da LLA ser uma doença rara, que afeta menos de 5 em cada 100 mil indivíduos, o profundo impacto deste cancro na sociedade não deve ser menosprezado. Não só falamos de uma doença extraordinariamente agressiva, com necessidade de tratamentos complexos e bastante tóxicos, onde na maioria das vezes não conseguimos encontrar uma causa para a
Apesar da LLA ser uma doença rara, que afeta menos de 5 em cada 100 mil indivíduos, o profundo impacto deste cancro na
IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E face às ainda elevadas mortalidade e morbilidade que esta doença acarreta em adultos e crianças, respetivamente, deve ser realçada a importância da investigação científica para catalogar pormenorizadamente as LLA que podem beneficiar de um ou de outro tratamento mais personalizado. Foi nesse âmbito, de resto, que a 1ª Edição da Bolsa de Iniciação à Investigação em LLA foi atribuída ao laboratório do Professor João Barata (Instituto de Medi-
cina Molecular João Lobo Antunes), financiando um projeto que procura correlacionar um subgrupo de LLA, cuja viabilidade depende de uma molécula inflamatória específica, a interleucina-7 (IL-7), com uma maior eficiência dos blastos na utilização de gorduras para a sua sobrevivência. Caso se dê como provada esta hipótese, a identificação de doentes com LLA dependentes de IL-7 pode sugerir a utilização de medicamentos antilipidémicos, como as estatinas, em associação aos tratamentos já praticados na rotina para esta doença, melhorando a sobrevivência dos doentes. É com a integração deste fragmento de conhecimento com outros pequeníssimos fragmentos de conhecimento, gerados em múltiplos centros de investigação e hospitais por todo o mundo, que se consegue, com passos lentos mas firmes, caminhar rumo a um futuro mais auspicioso para os doentes com LLA, para os seus cuidadores e para os seus familiares.
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superior ao encontrado para a população mais velha. No entanto, há riscos inerentes à toxicidade destas terapêuticas, como um aumento do risco de segundos cancros ao longo da vida ou um envelhecimento precoce das capacidades pulmonar e cardíaca, décadas após o tratamento.
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sua origem, como falamos também de uma doença cujo pico de incidência ocorre em população jovem, sendo, de resto, responsável por 25% de todos os cancros abaixo dos 15 anos de idade. Há que salientar, no entanto, que como acontece em outras doenças oncológicas, o termo LLA engloba um vasto conjunto de subcategorias de doença, que podem variar na agressividade, no prognóstico e, por fim, na estratégia terapêutica a utilizar. É notório que, do ponto de vista clínico e biológico, uma LLA num bebé ou uma LLA num adulto são doenças substancialmente diferentes, com desfechos potencialmente distintos. Não só o número de mutações de um linfoblasto numa LLA pediátrica é menor do que no adulto, como a resiliência do organismo de uma criança face à quimioterapia é maior do que o organismo de um adulto. Assim, com o tratamento certo, a probabilidade de cura de uma criança com LLA ronda os 90%, valor esse muito
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sociedade não deve ser menosprezado
AROMATERAPIA na DOENÇA ONCOLÓGICA DESMISTIFICAR E APOIAR TENDO A DOENÇA ONCOLÓGICA UMA PREVALÊNCIA ELEVADÍSSIMA EM PORTUGAL, É URGENTE DIVULGAR COMO ATRAVÉS DA AROMATERAPIA E DOS ÓLEOS ESSENCIAIS O DOENTE ONCOLÓGICO CONSEGUE ENCONTRAR ALGUM CONFORTO, NOTAR ALGUMAS MELHORIAS E SENTIR-SE COM MAIS ENERGIA.
Por
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LILIANA SANTOS
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Psicopedagoga clínica, maitre-aromaterapeuta certificada em França e formadora. Fundadora do Instituto Português de Aromaterapia e parte integrante do Núcleo de Aromaterapia em Oncologia.
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STIGMA, PESO, DOR, sofrimento, desespero, angústia e medo são os sentimentos que imperam, quando pensamos num diagnóstico como o do cancro, um diagnóstico que é recebido como que uma bomba que devasta tudo à sua volta. Felizmente, cada vez mais, esta comunicação é feita de forma exímia pelos médicos. A comunicação (verbal e não verbal), o apoio psicológico, os próprios tratamentos e o número crescente de sobreviventes aumentam ano após ano. Hoje, venho falar do caminho que estes doentes percorrem, um caminho que não tem de ser penoso nem tem de ter um desfecho trágico. Pelo contrário, “quem renasce das cinzas”, parafraseando Amélia, de quem vos vou falar mais à frente, renasce com mais força, mais energia, mas sobretudo com mais filtro, uma capacidade de filtrar aquilo que vale a pena daquilo que pouco importa e nada acrescenta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, registaram-se, em todo o mundo, 18 milhões de novos casos de cancro, sendo 23,4% na Europa e cerca de 58 mil em Portugal. Números impressionantes e que, dado o nosso estilo de vida, tendem a aumentar. MELHOR FORMA DE PREVENÇÃO É O CONHECIMENTO Uma parte significativa dos cancros tem um processo muito longo desde que se começam a formar até serem detetados. A juntar a este facto acresce que muitas pes-
[TERAPIAS ALTERNATIVAS SAÚDE]
essenciais, o doente oncológico consegue encontrar algum conforto, notar algumas melhorias e sentir-se com mais energia
PEQUENOS FRASCOS, GRANDES EFEITOS A face mais visível da aromaterapia, porém, não a única, são os óleos essenciais (OE). Pequenos frascos constituídos por um composto químico natural e biológico, produzido pelas plantas que o utilizam na sua autodefesa. Os OE podem ser extraídos de pétalas, raízes, resinas e de cascas de
frutos e são de uma minúcia e cuidados incríveis. A sua utilização carece de formação e/ou de apoio especializado, sempre. ÓLEOS VEGETAIS Mas, tal como referi, a Aromaterapia não são só óleos essenciais. Os óleos vegetais (OV) são indispensáveis para realizar uma utilização segura dos óleos essenciais. Os OV, não só diluem os óleos essenciais, como potenciam o efeito dos mesmos, visto que também eles possuem propriedades terapêuticas. HIDROLATOS O hidrolato, muitas vezes também designado de água floral, consiste na água condensada que resulta do processo de extração de um óleo essencial. O hidrolato
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extraídos da natureza, potenciando efeitos terapêuticos, físicos e emocionais. À luz desta terapia, o indivíduo é encarado como um todo, ou seja, a doença é encarada como um distúrbio energético, que deve ser analisado na sua plenitude, deve ser tratada a causa da doença, a sua origem, e não apenas os sintomas que dela advém.
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AROMATERAPIA: UMA TERAPIA HOLÍSTICA A Aromaterapia, de uma forma sintética, é uma terapia milenar que utiliza óleos vegetais, hidrolatos e óleos essenciais
Através da Aromaterapia e dos óleos
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soas não estão atentas ou desconhecem os sintomas, uma terrível dupla que atrasa a deteção precoce, que é precisamente a chave para um prognóstico o mais positivo possível. O objetivo da deteção precoce é diminuir a incidência da doença, evitando a sua propagação e metastização, mas para isso é imprescindível: 4 Educação e conhecimento – Neste campo, a Medicina Geral e Familiar tem a enorme responsabilidade de informar e educar as pessoas a estarem atentas ao seu corpo, a mudanças, a alterações de peso, a observarem-se, a tocarem-se. Quanto mais informação e educação, maior será o controlo sobre a nossa própria saúde. 4 Rastreios – Estar atento aos rastreios que fazem sentido para a sua faixa etária e não hesitar em fazê-los. Sem medos!
[SAÚDE
TERAPIAS ALTERNATIVAS]
também ele apresenta propriedades terapêuticas, uma vez que nele ficam retidas as partículas do óleo essencial.
NÚCLEO DE AROMATERAPIA EM ONCOLOGIA
UMA TERAPIA COMPLEMENTAR Agora que já conhece um pouco mais desta terapia complementar, quero falarlhe do que ela pode fazer pelo bem-estar dos doentes oncológicos. Nunca será demais salientar que, quer no caso dos doentes oncológicos, quer no caso de qualquer outra patologia, a Aromaterapia deve sempre caminhar de braço dado com a medicina convencional. No caso concreto das doenças oncológicas, toda a abordagem da medicina convencional deve ser seguida à risca, sendo essa a condição base que, nos meus cursos de Aromaterapia, passo sempre aos meus alunos!
Conscientes da importância de apoiar estes doentes e transmitir-lhes que esta terapia é segura e eficaz, nasceu o mais recente projeto do Instituto Português de Aromaterapia, do qual sou orgulhosamente fundadora: o Núcleo de Aromaterapia em Oncologia – cuja missão é ajudar os doentes oncológicos a superar e a minorar os efeitos secundários dos tratamentos, bem como trazer bem-estar físico e emocional a esta fase tão difícil. E como a doença oncológica não começa e termina no paciente, mas prolonga-se por toda a família, é também nossa missão prestar todo o apoio à família que, como todos sabemos, vive também momentos difíceis, de desgaste emocional e físico. O Núcleo, apesar de ainda gatinhar, já começou a trabalhar para conseguir alcançar o objetivo a que se propôs: ajudar. Neste sentido, desenvolvemos um e-book gratuito com 13 práticas naturais para ajudar o doente oncológico. Este e-book está disponível no site do Instituto Português de Aromaterapia e pode ser descarregado gratuitamente.
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E SE PUDESSE ALIVIAR A DOR COM ÓLEOS ESSENCIAIS? Já lhe aconteceu fazer um bolo e lembrar-se de pessoas que lhe são queridas? Imagino que sim, o olfato é um poderoso sentido que consegue fazer-nos viajar no tempo e até visitar pessoas e lugares. Mas não fica por aqui: através do olfato, podemos beneficiar de efeitos terapêuticos altamente benéficos e comprovados. Tendo a doença oncológica uma prevalência elevadíssima em Portugal, é urgente divulgar como através da Aromaterapia e dos óleos essenciais o doente oncológico consegue encontrar algum conforto, notar algumas melhorias e sentir-se com mais energia.
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RENASCER DAS CINZAS No início deste artigo falei-lhe na Amélia, recorda-se? Conheci a Amélia numa fase particularmente difícil da sua vida – a luta contra o malfadado cancro da mama. Uma vida agitada, dois filhos, viagens de trabalho resultaram num “tenho de ir ver o que se passa’’, “tenho mesmo de marcar’’ e o tempo passou. Apesar de sentir um alto na mama, a Amélia ignorou, deixou para depois. Errou, errou muito e a “bomba devastadora” de que falei acabou por explodir na sua casa: um cancro da mama. Seguiu-se uma cirurgia e dezenas de tratamentos de quimio e radioterapia. E foi aí que, por conselho de uma das enfermeiras da unidade de tratamentos oncológicos, a Amélia, em boa hora, se cruzou comigo. As náuseas, a dor generalizada, o cansaço, as queimaduras e o desgaste físico e emocional eram as principais queixas de Amélia e onde era urgente intervir. Claro que, em casos destes, inevitavelmente avalio também a questão emocional. É prati-
camente impossível não tratar das dores da alma em casos de doença oncológica. Tal como mencionado no e-book, utilizei alguns óleos essenciais e óleos vegetais para minorar estes efeitos e para dar um “empurrão” à vitalidade da Amélia. Semana após semana, chegava-me cada vez mais sorridente, cada vez mais determinada, cada vez mais enérgica. Já passaram cerca de três anos e ainda hoje recordo as palavras da Amélia quando
terminámos as consultas de aconselhamento: ‘’Liliana, renasci das cinzas”. Está tudo dito. Obrigada, Amélia, por me teres ensinado tanto. Para terminar, quero deixar uma mensagem de esperança a todos os doentes oncológicos. Existem muitas “Amélias”. Felizmente, já me cruzei e ajudei muitas a ultrapassar este caminho que não tem de ser (ainda mais) penoso. A Aromaterapia pode ajudar!
[SAÚDE PNEUMOLOGIA]
Patologia res GRANDE PARTE DAS PATOLOGIAS RESPIRATÓRIAS BENEFICIA DA PREVENÇÃO E DO DIAGNÓSTICO PRECOCE OU RASTREIO. NESTE AMBIENTE EM QUE “O QUE NÃO É COVID IMPORTA MENOS”, É NATURAL QUE ALGUMA PREVENÇÃO TENHA FICADO POR FAZER.
A
Pelo
PROF. JOSÉ ALVES Pneumologista e presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão
COVID-19 ATINGIU-NOS de forma inesperada em todos os setores, dentro e fora da Medicina. Parece que vivemos um filme de ficção científica de mau gosto. Mais uma vez, como em tantas outras, a realidade ultrapassou a ficção! Como sempre, também, há setores mais atingidos e a Pneumologia é um deles, porque os seus profissionais viram-se obrigados a dividir o seu tempo de trabalho entre patologia covid e patologia não-covid. Sem aumento de recursos, viram-se obrigados a respostas adicionais nos seus serviços, nas suas consultas externas, nos locais específicos de tratamento covid dentro e fora das UCI.
É natural que alguma coisa tenha ficado para trás, nada que seja – ou possa vir a ser – grave. Não é esse o ADN dos nossos clínicos, tenho a certeza. Mas sim, poderá ter ficado para segundo plano a prevenção. Grande parte das patologias respiratórias beneficia da prevenção e do diagnóstico precoce ou rastreio. Neste ambiente em que “o que não é covid importa menos”, com este sentimento generalizado de que “em tempo de guerra não se limpam armas”, é natural que algumas contas tenham ficado por fazer, mas nenhum doente terá ficado, tenho a certeza, por ver, estudar e tratar convenientemente.
piratória não-covid-19 SITUAÇÃO ATUAL
TABACO O hábito tabágico provoca uma série de patologias respiratórias. É responsável por 90% das doenças pulmonares obstrutiva crónicas (DPOC), aumenta 25 vezes o risco de cancro do pulmão, aumenta o risco de pneumonias, agrava o enfisema e a asma. Aumenta a percentagem de hemoglobina ligada ao monóxido de carbono (CO) que chega a 12 a 15% nos fumadores de um maço por dia. Enfim, o tabaco é o inimigo público número um dos doentes respiratórios. Penso que, durante este ano, se terá descuidado a guarda relativamente a esta luta em particular. Falou-se menos do tabaco e dos seus malefícios. Vimos nos media que fumar aumentava o risco de transmissão do SARS-CoV2, sendo esse o ponto mais importante, como se não houvesse DPOC, como se não houvesse cancro do pulmão. É fundamental voltar a pensar nesta questão com o cuidado que ela merece. Deixar de fumar é o ato isolado que melhor se relaciona com o aumento e qualidade de vida dos doentes respiratórios e dos doentes que podem vir a ser respiratórios. A evicção tabágica é uma luta que não podemos descurar, nunca.
Estas são as más notícias. As boas são que, sendo prevenível, o seu diagnóstico nas fases iniciais pode alterar completamente o quadro clínico, controlando os seus efeitos, quer a nível individual, quer a nível de saúde pública. Como se faz este diagnóstico precoce? Com um exame fácil, que não necessita de preparação especial, não carece de tempo de recobro e não precisa de anestesia: a
espirometria. Este exame pode ser a pedra chave na modificação da história natural da DPOC. Paralelamente a deixar de fumar. Se for fumador(a), deve parar, claro! Mas deve também pedir à(o) sua (seu) médica(o) assistente uma espirometria. Ficará, assim, consciente do risco de ter ou vir a ter esta patologia e, nessa medida, mais capaz e motivado para inverter a situação. Se fuma, faça uma espirometria.
Deixar de fumar é o ato isolado que melhor se relaciona com o aumento e qualidade de vida dos doentes respiratórios e dos doentes que podem vir a ser respiratórios; a evicção tabágica é uma luta que não podemos descurar, nunca
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Esta doença é responsável por um grande número de internamentos, gastos com saúde, perda de anos ativos e mortes precoces. Vimos que é provocada pelo tabaco e pode, por isso, ser prevenida. É uma patologia progressiva, incapacitante, mortal, mas prevenível. Sem controlo, leva à insuficiência respiratória, incapacidade de oxigenação conveniente do sangue, com necessidade de suplementação de oxigénio.
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DPOC
[SAÚDE PNEUMOLOGIA] Não podemos ceder à pressão da covid e deixar para depois; pelo contrário,
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é nossa obrigação forçar os diagnósticos tão cedo quanto possível
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ASMA
CANCRO DO PULMÃO
OUTRAS PATOLOGIAS
A asma, tendo uma taxa de mortalidade relativamente baixa, é uma doença que causa muitos problemas pela sua clínica e forma de apresentação. Caracteristicamente, as crises são mais frequentes durante a noite, impedindo o descanso e o inutilizando o dia de trabalho seguinte ou a escola. Nesta patologia, devemos identificar o fator desencadeante dos sintomas. Pode ser alergia a epitélios de animais de estimação, gatos ou cães, pode ser a ácaros, a pólenes ou pode ser a alimentos. Podem ser alterações emocionais que estão na génese das crises. A identificação do fator desencadeante é muito importante, porque a sua evicção leva ao desaparecimento das crises. Não da doença, mas da sua manifestação. Atualmente, existem terapêuticas muito seguras. Com o seu uso assertivo e continuado, a asma passou a ser muito bem tolerada pelos asmáticos. Ainda assim, é necessário fazer a medicação preventivamente, conhecer o aparelho usado para a inalação e prevenir os contactos desencadeantes. O apoio médico é fundamental para prevenir a escalada em gravidade, que pode ter consequências graves.
As doenças oncológicas são uma grande causa de morte e de morbilidade. O cancro do pulmão é particularmente letal pelas suas características clínicas, pela sua localização e pela dificuldade no seu tratamento. Mais uma vez, a prevenção e o diagnóstico precoce são a chave da abordagem. O cancro do pulmão não tem queixas específicas e, muitas vezes, os primeiros sintomas aparecem só em fases tardias. Como podemos defender-nos desta doença? Pensando nela, particularmente se formos fumadores. Queixas recorrentes e persistentes, como tosse seca, expetoração crónica com sangue ou sem ele, aparecimento de chiadeira localizada, são alguns dos sinais de alarme. Na sua presença, devemos procurar ajuda clínica. O diagnóstico é necessário e quanto mais rápido melhor. Não podemos ceder à pressão da covid e deixar para depois. Pelo contrário, é nossa obrigação forçar o diagnóstico tão cedo quanto possível. O diagnóstico em estádios iniciais permite a cirurgia e a cura. Os estádios mais avançados têm vindo a responder a novas terapêuticas, mais capazes e eficientes, sendo a esperança de vida destes doentes muito melhor do que era até há pouco tempo, mas quanto mais cedo se fizer o diagnóstico melhor!
Claro que, ao falarmos particularmente destes temas, pela sua frequência, gravidade ou importância, não esgotamos a multiplicidade de outras patologias respiratórias, as quais, na sua totalidade, foram a causa de morte de 13.305 pessoas em 2018 (11,7%). Devemos relembrar as pneumonias, a gripe, as fibroses, a tuberculose e tantas outras patologias que não podem ser esquecidas pela sua incomodidade e perigosidade, para depois voltarmos à DPOC e ao cancro do pulmão. No primeiro caso (DPOC), para a referenciar como uma das principais causas de morte em doenças evitáveis, 2,5%, ou seja, cerca de 3000 por ano. Este número multiplica-se depois por 4: só 1/4 dos doentes com DPOC morrem com esse diagnóstico; os outros morrem por pneumonia, cancro ou doenças cardíacas, diagnósticos ligados também ao hábito tabágico. No segundo caso (cancro do pulmão), para relembrar que é uma das primeiras causas de morte oncológica. Assim, a evicção tabágica – denominador comum – deverá continuar a ser um dos nossos primeiros objetivos enquanto agentes de saúde, a complementar com as espirometrias sempre que possível. Numa palavra: não fume, faça uma espirometria. Afinal, são cinco!
7 DOENÇAS [SAÚDE IMUNOLOGIA]
QUE PODEMOS PREVENIR ATRAVÉS DAS SÃO MÚLTIPLAS AS DOENÇAS PREVENÍVEIS ATRAVÉS DE VACINAÇÃO, DO INÍCIO AO FIM DA VIDA. DESTACO SETE E RELEMBRO QUE A APOSTA NA PREVENÇÃO SERÁ SEMPRE PREFERÍVEL AOS CUSTOS DA CURA.
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REALIDADE MOSTRA-NOS a importância cada vez maior de investir na prevenção de doenças graves. A vacinação deve ser uma prioridade em todas as faixas etárias e devemos cumpri-la sempre, seja através do Programa Nacional de Vacinação (PNV) ou através das recomendações extra-plano, aconselhadas pelos médicos assistentes. Há pouco mais de um ano, no início da pandemia, a Direção Geral da Saúde (DGS) reforçou a importância da vacinação e do cumprimento de cada um dos nossos planos de imunização. Reforçou, em particular, o primeiro ano de vida, perí-
odo em que as crianças são imunizadas contra doenças graves e potencialmente fatais, patologias que, felizmente, podemos prevenir através de vacinação. Reforço, também, o caso dos mais idosos, a quem devemos especial atenção. Com o passar dos anos, chega também o enfraquecimento do nosso sistema imunitário. Devemos estar preparados e prevenir o que nos é possível. São múltiplas as doenças preveníveis através de vacinação, do início ao fim da vida. Destaco sete e relembro que a aposta na prevenção será sempre preferível aos custos da cura.
VACINAS SARAMPO
Infeção provocada por um vírus, o sarampo tem como sintomas mais comuns febre e mal-estar, tosse, conjuntivite, corrimento nasal e manchas vermelhas dispersas na pele. Pode ser transmitido por contacto direto com gotículas infecciosas ou por propagação no ar (em casos de tosse ou espirros, por exemplo). Apesar de ser benigna na maioria dos casos, a infeção pode revelar-se grave, deixar sequelas neurológicas ou mesmo levar à morte. O nosso Programa Nacional de Vacinação inclui a vacina para o sarampo para crianças e adultos que ainda não tenham sido imunizados.
MENINGITE Embora rara, a meningite é uma infeção grave e potencialmente fatal, e por isso deve ser outra das nossas prioridades. Pode ser contraída em qualquer idade, mas as crianças pequenas e os adolescentes fazem parte dos grupos de risco. São conhecidos seis serogrupos (A, B, C, W, X e Y) da meningite meningocócica – a forma mais grave e mais comum da doença. Podem ser transmitidos por via aérea, por proximidade física, nas gotículas presentes nas secreções respiratórias, na tosse, nos espirros ou nos beijos.
Febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vómitos, irritabilidade, confusão mental, estado de cansaço extremo, agitação psicomotora, rigidez da nuca, erupções da pele e choro agudo são os sintomas mais comuns desta doença, que apresenta uma mortalidade de 10%. Na sua forma mais grave, pode levar à morte nas primeiras 24 a 48 horas. Apesar de ser uma doença rara, temos assistido ao crescimento de casos do grupo B um pouco por toda a Europa. Devemos também estar atentos ao crescimento discreto, mas rápido, do grupo W. Em Portugal, são múltiplas as vacinas disponíveis para prevenir os diferentes serogrupos, seja em PNV ou extra-Plano Vacinal.
RUBÉOLA A vacina contra a rubéola está em PNV. A rubéola é uma infeção viral contagiosa que pode ter consequências devastadoras, sobretudo durante a gravidez. Uma grávida infetada durante as primeiras 16 semanas tem uma enorme probabilidade de passar essa infeção ao feto. Essa infeção pode causar abortos espontâneos, nados-mortos ou nascimentos com deficiências congénitas graves.
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DR. RUI COSTA Especialista de Medicina Geral e Familiar. Coordenador do GRESP - Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF
A vacinação deve ser uma prioridade em todas as faixas etárias e devemos cumpri-la sempre, seja através do Programa Nacional de Vacinação, seja através das recomendações extra-plano
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[SAÚDE IMUNOLOGIA] Entre os sintomas mais comuns da rubéola encontramos erupções rosa pálido, lisas e regulares, de distribuição rápida na pele, acompanhadas de gânglios palpáveis e dolorosos na zona posterior do pescoço e nuca. Sinais como febre baixa, dor de cabeça, mal-estar, conjuntivite ligeira, inflamação e corrimento nasal, dor articular, falta de apetite, dor a engolir e tosse são sintomas complementares desta doença, que se transmite, sobretudo, por contacto direto com uma pessoa infetada ou pelo contacto com secreções nasofaríngeas por dispersão de gotículas. Por todas as razões enunciadas, a aposta na prevenção é fundamental.
A vacinação antipneumocócica é a forma mais eficaz de prevenir a pneumonia e está em PNV para todas as crianças nascidas a partir de 2015, bem como para alguns grupos de risco. Está recomendada pela DGS a todos os adultos que sofram de algumas doenças crónicas ou que, por alguma razão, tenham um sistema imunitário mais fragilizado.
Nunca como agora se falou tanto de uma vacina e dos benefícios que pode ter na prevenção e na travagem dos efeitos devastadores de uma infeção
sobretudo se envolver o testículo e ou o sistema nervoso central, pode causar orquite, meningite e encefalite. O aparecimento da vacina levou à redução drástica do número de casos. Em Portugal, está no Programa Nacional de Vacinação.
HPV A vacina contra infeções por HPV (vírus do papiloma humano) faz parte do PNV e está recomendada para administração a partir dos 10 anos de idade. Responsável por um elevado número de infeções que, na maioria das vezes, não apresentam sintomas e são de regressão espontânea, a infeção por HPV é uma das infeções de transmissão sexual mais comuns a nível mundial. A maioria dos infetados não têm sintomas nem sinais óbvios. Por vezes, dá-se a presença de verrugas, mas são pouco percetíveis, seja pela sua localização ou pela dimensão que apresentam. Transmitidas, maioritariamente, por via sexual, as infeções por HPV podem originar vários tipos de cancro, como o cancro do colo do útero, o cancro vaginal, anal ou da vulva, o cancro orofaríngeo ou o cancro peniano. Razões mais que suficientes para a inclusão da vacina no PNV, ainda mais em tão tenra idade.
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COVID-19
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PNEUMONIA
PAPEIRA
Inflamação dos pulmões, geralmente causada por infeção, a pneumonia pode ser causada por diferentes agentes infecciosos, como vírus, bactérias e fungos. Pode transmitir-se por contacto direto com as secreções respiratórias de um doente ou mesmo de um portador saudável. A bactéria pneumococo é apontada como a causa mais frequente e, felizmente, a infeção pode ser prevenida através de vacinação. Os sintomas mais comuns da pneumonia incluem tosse com expetoração, febre, calafrios, falta de ar, dor no peito quando se inspira fundo, vómitos, perda de apetite e dores no corpo.
A papeira ou parotidite tem causa viral e aguda. Transmite-se entre pessoas ou pelo contacto com objetos e superfícies contaminadas. A sua manifestação mais comum é o inchaço de uma ou de ambas as parótidas, abaixo dos ouvidos. Os sintomas iniciais de uma papeira caracterizamse por dor de cabeça, perda de apetite, mal-estar e febre. Quando atinge as glândulas salivares, a febre aumenta para temperaturas elevadas, e pode persistir entre 24 a 72 horas. Apenas um terço dos doentes apresentam sintomas respiratórios moderados. Se a infeção passar para outros órgãos,
A atualidade fala por si. Nunca como agora se falou tanto de uma vacina e dos benefícios que pode ter na prevenção e na travagem dos efeitos devastadores de uma infeção. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a grande maioria dos doentes com covid-19 apresentam sintomas, tais como, febre, tosse seca, falta de ar ou dificuldade respiratória, dor de garganta, diarreia, fadiga, arrepios, mialgias ou dores musculares, e perda de paladar ou de olfato. O processo de vacinação contra a covid-19 está em curso, não só em Portugal, como no resto do mundo.
VACINE-SE! Dei sete exemplos, mas poderia dar muitos mais. Todos são doenças que podemos (e devemos) prevenir ao longo da vida. Por nós, pelos nossos e pela comunidade em que estamos inseridos. A par destas vacinas, encontramos outras de igual importância. Estão recomendadas, dentro e fora do Programa Nacional de Vacinação. Vacine-se pela sua rica saúde!
[SAÚDE FARMÁCIA]
Farmácias MAIOR REDE NACIONAL DE CUIDADOS DE SAÚDE
OS ÚLTIMOS ANOS REVELARAM, COM MAIOR NITIDEZ, QUE O PAPEL DAS FARMÁCIAS VAI MUITO ALÉM DA DISPENSA DO MEDICAMENTO E DO ACONSELHAMENTO.
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ESDE SEMPRE, O FARMACÊUTICO É o profissional de saúde de primeira linha, a quem a população mais recorre, nas mais variadas situações, desde o aconselhamento sobre terapêutica, dúvidas sobre os medicamentos e situações comuns. Esta situação verifica-se por inúmeros fatores, que são comuns à maior rede nacional de cuidados de saúde: confiança, proximidade, qualificação e acessibilidade. E, claro, a distribuição abrangente da rede de farmácias por todo o território nacional. A disponibilização de serviços como a determinação da pressão arterial, colesterol, glicemia, triglicerídeos, entre outros, fazem parte da oferta básica de serviços das farmácias, em Portugal. ALARGAMENTO DA OFERTA DE SERVIÇOS Facilidade de acesso, qualificação, rapidez nos resultados e aconselhamento diferenciado resultam na pertinente utilidade e leque de vantagens para a saúde da população e, consequentemente, para o Sistema de Saúde em Portugal.
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DRA. ANABELA MADEIRA
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Farmacêutica. Administradora da Go Far
São bons exemplos o envolvimento das farmácias na administração de vacinas, a realização de testes rápidos para HIV e hepatite, a dispensa de medicamentos hospitalares antirretrovíricos, as campanhas de deteção precoce, a implementação de programas de adesão à terapêutica, entre outros. INTERVENÇÃO ESSENCIAL A administração de vacinas e a administração de injetáveis, iniciada há mais de uma década, compõem a oferta diversificada de serviços prestados na farmácia. Vivemos recentemente, em plena pandemia, a época de vacinação contra a gripe, onde a participação dos farmacêuticos permitiu acelerar o processo de vacinação e garantir a imunização dos portugueses. A campanha contou com a participação de mais de 2000 Farmácias e profissionais devidamente habilitados para o efeito. Em Portugal, assiste-se ao envelhecimento da população e, consequentemente, ao aumento da prevalência de doença crónica (diabetes, hipertensão, dislipidemia, asma, entre outras) e de doentes polimedicados, com risco acrescido de problemas relacionados com a medicação, pelo que a intervenção da farmácia através de programas de gestão da doença, assentes em protocolos, é essencial para a otimização da terapêutica do doente, promoção do uso seguro e efetivo dos medicamentos, redução das complicações e melhoria dos resultados em saúde.
ção precoce da diabetes, no concelho de Gondomar. Nesta intervenção, cada uma das pessoas avaliadas obteve informação específica sobre o seu risco individual de diabetes e sobre as necessidades e comportamentos a adotar relativamente à prevenção da diabetes. Nos casos em que o risco era “alto” ou “muito alto”, foi efetuada uma medição da hemoglobina glicosilada (HbA1c) e, se necessário, referenciação ao médico assistente Médis. Os números da campanha falaram por si: 909 participantes, maioritariamente mulheres (70%), e cerca de metade dos participantes com risco elevado ou muito elevado de desenvolver diabetes. Neste tipo de iniciativas, a articulação entre profissionais de saúde (farmacêutico e médico) é fundamental para uma correta intervenção junto da população, reforçando mensagens adequadas e promovendo a interação efetiva entre as diferentes unidades de cuidados de saúde. SENSIBILIZAÇÃO PARA O CANCRO COLORRETAL Já este ano, e também no âmbito de uma parceria entre as Farmácias Portuguesas e o Grupo Ageas Portugal/Médis, desenvolvemos uma campanha nacional para a sensibilização para o cancro colorretal. Aderiram cerca de 300 farmácias e convidámos cerca de 4000 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 74 anos, para fazer a pesquisa de sangue
A complementar a literacia em saúde, a determinação de parâmetros e a gestão da doença, destacam-se as iniciativas de sensibilização
DETEÇÃO PRECOCE DA DIABETES No âmbito de uma parceria entre a Associação Nacional das Farmácias (ANF) e o Grupo Ageas Portugal/Médis, as farmácias dinamizaram, no verão de 2019, uma campanha de sensibilização para a dete-
oculto nas fezes. A campanha de sensibilização para o cancro colorretal decorreu de 15 de março a 14 de abril e teve como objetivos a deteção precoce do cancro colorretal e a sensibilização para fatores de risco, o diagnóstico e o tratamento. A prestação de serviços na farmácia e a colaboração interprofissional contribuem para a satisfação das necessidades dos clientes, melhoria da experiência dos utilizadores do SNS ou outros sistemas e a sustentabilidade do sistema de saúde.
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A complementar a literacia em saúde, a determinação de parâmetros e a gestão da doença, destacam-se as iniciativas de sensibilização da população para a deteção precoce.
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da população para a deteção precoce
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A publicação das Portarias n.º 1429/2007, de 2 de novembro, e n.º 97/2018, publicada no dia 9 de abril em Diário da República, veio permitir alargar o leque de serviços de saúde e de bemestar prestados pelas farmácias, bem como a possibilidade de intervir em novas áreas e promover a prestação de serviços realizados por outros profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiro, nutricionista, entre outros. Assim, nas últimas décadas, assistimos a um alargamento da oferta de serviços de saúde e bem-estar prestados pelas farmácias, assente na criação de valor e nas necessidades da população, e que abrangem áreas como: promoção da saúde, prevenção da doença, deteção precoce e monitorização da terapêutica.
[SAÚDE OPTOMETRIA]
NÃO HÁ COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE
SEM SAÚDE DA VISÃO A SAÚDE DA VISÃO É UMA COMPONENTE ESSENCIAL DA COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE. DEVE SER INCLUÍDA NO PLANEAMENTO, DEFINIÇÃO DE RECURSOS E PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE. A COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE NÃO É UNIVERSAL SEM CUIDADOS PARA A SAÚDE DA VISÃO ACESSÍVEIS, DE QUALIDADE E EQUITATIVOS.
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INEXISTÊNCIA DE CUIDADOS primários para a saúde da visão no Serviço Nacional de Saúde (SNS), as gigantescas e perversas listas de espera para consulta hospitalar da especialidade de Oftalmologia no SNS, uma força de trabalho mal planeada com exclusão dos optometristas, práticas ultrapassadas e uma total ausência de estratégia, planeamento ou concertação, constituíam já uma receita para o desastre no ano de 2018, quando se formou uma Comissão para elaboração de uma Estratégia Nacional para a Saúde da Visão. Basta pensar nos 163.569 portugueses que sofrem de deficiência visual e cegueira legal e irreversível, sendo a maior causa de deficiência em Portugal entre os recenseados no ano de 2001. Ou, tal como ilustrado pelo Inquérito Nacional de Saúde de 2014, uma em cada duas pessoas maiores de 65 anos descreve dificuldades em ver, mesmo usando óculos. Esta é uma realidade muito dura e, lamenta-se dizer, de fim de linha para tantos portugueses.
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DR. RAÚL ALBERTO DE SOUSA Lic. Physics-Optics, Esp. Optom., MSc. Adv. Optom. Presidente da Direção da APLO - Associação de Profissionais Licenciados de Optometria
CAUSAS EVITÁVEIS O que mais impressiona neste retrato de 2014 é o facto de nove em cada 10 casos de deficiência visual ou cegueira se dever a causas evitáveis. Entre estas causas, o erro refrativo é a mais relevante, sendo que mais de metade dos casos referem-se a deficiência visual e catarata e um em cada 10 no caso da cegueira. Acrescem outras causas de deficiência visual e cegueira evitável, tal como a ambliopia, a retinopatia diabética, o glaucoma e a degeneração macular relacionada com a idade. A luta contra a deficiência visual e cegueira evitável foi, e continuará a ser, uma batalha perdida pelo SNS, caso uma verdadeira estratégia não seja adotada. A estrutura centralizada, com vários estrangulamentos e barreiras de acesso, expõe este tipo de cuidados ao impacto direto e profundo da suspensão de atividade assistencial e suas consequências.
Os cuidados relacionados com erros refrativos devem ser resolvidos ao nível dos cuidados de saúde primários por optometristas, segundo
EPIDEMIA DA MIOPIA Concorre para ampliar esta catástrofe a maior incidência e progressão da miopia associada à maior utilização de dispositivos eletrónicos e menor exposição à luz
solar, bem como na atividade letiva e profissional remota, durante o confinamento. Esta realidade é descrita pela OMS e Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira como a epidemia da miopia, afetando oito em cada 10 asiáticos e três em cada 10 europeus. Por comparação, recorrendo à inspiração do SNS que foi e é o National Health Service do Reino Unido, a existência de cuidados primários para a saúde da visão por optometristas, apoiados por teleassistência pela Oftalmologia Hospitalar, atravessou a pandemia sem qualquer limitação e com normalidade na atividade assistencial na prestação de cuidados de saúde primários e de urgência ao nível da saúde da visão.
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À suspensão da atividade assistencial acresce o receio de contágio associado a um percurso de cuidados centralizados num centro hospitalar, quando mais de metade dos cuidados estão relacionados com erros refrativos e devem ser resolvidos ao nível dos cuidados de saúde primários por optometristas, segundo as mais recentes recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), descritas no seu compêndio para as intervenções em saúde, com melhor relação benefício-custo.
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as mais recentes recomendações da OMS
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EXACERBADAS AS DESIGUALDADES No Relatório Anual sobre os Direitos Humanos da Amnistia Internacional, conclui-se que, durante a pandemia, ocorreram falhas no direito à saúde e foram exacerbadas as desigualdades no acesso à saúde em Portugal. Conclusões que se revestem de uma importância fundamental no que diz respeito a cuidados de já tão difícil acesso e tardiamente prestados, como são os cuidados para a saúde da visão em Portugal. Uma análise publicada pelo Health Initiative da Universidade Nova de Lisboa, em Janeiro de 2019, aponta para cinco estrangulamentos na base da situação prépandémica: limitada cobertura de médicos de família; insuficiente aposta na deteção precoce; forte restrição do acesso a consulta de especialidade de Oftalmologia; falta de capacidade económica para adquirir dispositivos médicos de compensação oftálmica, vulgo lentes e armações, por parte das populações com menor rendimento; e deterioração dos tempos de espera para cirurgia e variabilidade regional.
[SAÚDE OPTOMETRIA] NECESSIDADE CRESCENTE Os desafios não se resumem a uma atividade assistencial pré-pandémica insuficiente, nem às limitações e consequências da pandemia por SARS-CoV-2. O envelhecimento e crescimento populacional, assim como o aumento da esperança média de vida, que se sabe conduzir a uma mudança no peso total da doença, orienta-se para um aumento das doenças não transmissíveis e deficiências, como as do sistema visual, tal como foi recentemente identificado em vários artigos publicados na The Lancet Global Health. Quase todas as pessoas terão problemas de visão ou problemas oculares durante a vida e necessitam de cuidados para a saúde da visão de forma periódica e num contínuo temporal. É necessário ação urgente para atender à necessidade crescente dos cuidados para a saúde da visão.
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SNS SOFRE DE CEGUEIRA SELETIVA Os cuidados para a saúde da visão prestados pelo SNS estão, certamente, entre os cuidados de saúde mais afetados pela pandemia. A impreparação do SNS, combinado com décadas de práticas ultrapassadas, soluções ineficazes, desconsideração pelas recomendações internacionais e melhor evidência, será medida pelo número de deficientes visuais e cegos que poderiam ter sido evitados. Enquanto a inércia governamental permitir, os interesses corporativos irão persistir na oposição às recomendações e à melhor evidência científica, sobrepondo-se ao superior interesse da saúde pública e individual de todos os portugueses. No que respeita aos cuidados para a saúde da visão, este é um SNS que sofre de cegueira seletiva às soluções existentes e nega o desenvolvimento do potencial das crianças, a produtividade aos adultos e a qualidade de vida aos mais idosos.
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NECESSÁRIA AÇÃO INTERSETORIAL COORDENADA A saúde da visão é uma componente essencial da cobertura universal de saúde; deve ser incluída no planeamento, definição de recursos e prestação de cuidados de saúde. A cobertura universal de saúde não é universal sem cuidados para a saúde da visão acessíveis, de qualidade e equitativos. Em linha com o relatório mundial da OMS sobre a visão, exorta-se todos os países, incluindo Portugal, a considerarem os cuidados para a saúde da visão como essenciais dentro da cobertura universal de saúde.
Mais de 90% da deficiência visual e da cegueira é evitável, desde que assim o queira o Serviço Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde Para assegurar cuidados de saúde abrangentes, incluindo promoção, prevenção, tratamento e reabilitação, os cuidados para a saúde da visão devem ser incluídos nos planos estratégicos nacionais de saúde e nas políticas de desenvolvimento, estruturas de financiamento da saúde e planeamento da força de trabalho em saúde. É necessária uma ação intersetorial coordenada, para melhorar de forma sistemática e definitivamente a saúde da visão da população, assim como em iniciativas
de envelhecimento saudável e literacia para a saúde da visão, nas escolas e locais de trabalho. A integração dos cuidados para a saúde da visão com vários componentes relevantes da prestação de cuidados de saúde, e em todos os níveis do sistema de saúde, é de importância central. Mais de 90% da deficiência visual e da cegueira é evitável, desde que assim o queira o Serviço Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde.
[ESPAÇO AMPLIPHAR ]
Como combater a falta de
concentração e memória? A
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saúde mental e o impacto psicológico da quarentena são dos assuntos com mais relevo nesta pandemia. Observam-se cada vez mais casos de depressão, ansiedade, tristeza, apatia e até agressividade. A impossibilidade de manutenção da rotina habitual e a implementação de restrições sociais são causadoras de alterações do sono, aumento dos níveis de stress e alteração da atenção e da concentração.
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MAXIMIZAR AS CAPACIDADES CEREBRAIS Todos nós gostaríamos de ter uma concentração absoluta e memória infinita que armazenasse toda a informação. Uma alimentação saudável e equilibrada e atividade física regular têm influência positiva sobre a memória. O cérebro exige um grande suporte energético e metabólico. É essencial garantir um aporte adequado dos nutrientes essenciais, para maximizar as capacidades de aprendizagem, compreensão, atenção, criatividade e memória, bem como para aliviar as alterações de humor e stress.
O CÉREBRO EXIGE UM GRANDE SUPORTE ENERGÉTICO E METABÓLICO. É ESSENCIAL GARANTIR UM APORTE ADEQUADO DOS NUTRIENTES ESSENCIAIS, PARA MAXIMIZAR AS CAPACIDADES CEREBRAIS, BEM COMO ALIVIAR AS ALTERAÇÕES DE HUMOR E STRESS.
QUAIS SÃO OS NUTRIENTES MAIS IMPORTANTES PARA A FUNÇÃO CEREBRAL? Nutrientes como ómega 3 e DHA, ginkgo biloba, ginseng, guaraná e vitaminas do grupo B são considerados muito importantes para a função cerebral, memória e concentração. Os ácidos gordos ómega 3 são considerados ácidos gordos essenciais, uma vez que, embora sejam indispensáveis para várias funções do organismo, não são por ele sintetizados. O DHA é um dos principais componentes do cérebro, da retina e das membranas celulares. As vitaminas do complexo B contribuem para uma normal função psicológica, para o funcionamento do sistema nervoso e para a redução do cansaço e da fadiga. O ginkgo biloba promove o aumento do fluxo sanguíneo, favorecendo a irrigação do cérebro, o que explica os seus efeitos na memória e faculdades mentais.
Devido à pandemia, observam-se cada vez mais casos de depressão, ansiedade, tristeza, apatia e até agressividade
FUNÇÃO CEREBRAL
memória / concentração Disponível em Farmácias e Espaços de Saúde Suplemento alimentar. Os suplementos alimentares não devem ser utilizados como substitutos de um regime alimentar variado e de um modo de vida saudável.
www.winfitmc.pt
[SAÚDE PSICOLOGIA]
Resiliência UMA MENTALIDADE A FORTALECER A
RESILIÊNCIA É a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se face a mudanças e adversidades e, sobretudo, conseguir superar obstáculos. Exemplos disso podem ser uma ameaça diária, um evento traumático ou, em situação mais complexa, uma tragédia. O indivíduo consegue encontrar algum tipo de solução para fazer face e superar uma adversidade com que se depara e ainda, reagir adequadamente ao stress e à pressão inerentes à situação. UMA QUALIDADE ACESSÍVEL A CADA UM DE NÓS Este tem sido um ano de grande adversidade, com desafios constantes, stress e ansiedade no pico e até eventos traumáticos, tais como a separação relativamente àqueles que amamos, perda de entes que-
ESTA PANDEMIA CONSEGUIU REFORÇAR A MINHA PERCEÇÃO DE QUE SOMOS, SEM MARGEM PARA DÚVIDAS, RESISTENTES E QUE É EXTREMAMENTE IMPORTANTE O TRABALHO NO SENTIDO DE PROMOVER UMA MENTALIDADE RESILIENTE.
ridos, perda de emprego e dificuldades financeiras, enfim, perda da vida “normal” tal como a conhecíamos. Apesar de tudo isto, conseguimo-nos adaptar, enfrentando as circunstâncias e situações que antes disso pareciam impossíveis de superar. A resiliência não é algo mágico e extraordinário que nos resolve todos os problemas. Não! A resiliência é uma
qualidade que está acessível a cada um de nós, mas que necessita de ser desenvolvida e fortalecida. Uma vez construída, ajuda-nos a superar os desafios diários! Por exemplo, a mentalidade que adotamos e a reflexão que fazemos sobre o que podemos aprender com uma dada situação complexa pode ajudar-nos a enfrentá-la de maneira mais eficaz.
Pela
DRA. TÂNIA DANIELA CARVALHO Psicóloga Clínica
4 Quais as atividades significativas que
É muito importante nutrir os relacionamentos significativos (com amigos e familiares) e fortalecer as suas conexões. Quando se encontra a passar por um período difícil na sua vida, é importante que não se afaste das pessoas e até, se se sentir confortável, pode aceitar a ajuda que lhe oferecem e o apoio que lhe dão. Sentir-se-á mais apoiado, mais “preenchido” emocionalmente, menos sozinho e, sobretudo, melhor consigo próprio.
possam ser importantes e benéficas implementar para si no momento atual? 4 Procurar o contacto com um amigo que já não fala desde a infância; 4 Descansar mais; 4 Fazer uma atividade que sempre pensou em fazer, mas para a qual nunca teve tempo; 4 Apreciar um pouco mais a natureza e, agora, o despertar da primavera.
2.
Concentre-se no que pode nutrir e fortalecer e não no que precisa de mudar Neste momento, muitas pessoas sentem-se cansadas, exaustas, sem energia, ansiosas e com um sentimento de incerteza constante. A ideia de focar na mudança parece, para muitos, mais uma ideia para a qual já não têm energia. Em vez disso, parece mais sensato e útil neste momento adotarmos uma abordagem que pode ser focar-se no que pretende fortalecer. Por exemplo:
3.
Mantenha-se flexível
Padrões rígidos e inflexíveis são barreiras à nossa adaptação aos desafios diários e, sobretudo, a novas realidades. Para uma mentalidade resiliente, é necessário largarmos esta rigidez para, aos poucos, passarmos a adotar uma mentalidade mais flexível e adaptativa. É importante afastarmos a ideia de que o momento presente será sempre condicionado por situações passadas e pelas nossas expectativas de como achamos que deveria ser. Nenhuma experiência é igual a outra, portanto,
4.
Maior clareza de valores
Esta pandemia é o momento para considerar, reavaliar e esclarecer os seus valores. Ficar em casa por longos períodos de tempo é uma oportunidade para refletir se não será importante ir mais devagar e abrandar o ritmo frenético que tinha – não ter de ir apressadamente para o local de trabalho, não ter de correr para apanhar o transporte público ou até viajar menos – ou passar mais tempo com a família – começarem a comer juntos com mais frequência. Outro aspeto que poderá considerar será passar a apreciar mais a natureza e as suas maravilhas. A natureza tem um poder reconfortante e revigorante, que lhe trará profundo bem-estar. Faça uma reflexão sobre o que esta pandemia o ajudou a reconhecer, quais as coisas mais importantes para si e sem as quais não consegue viver. Pense também sobre aquelas coisas que talvez não queira mudar, mesmo após a pandemia terminar.
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tende nutrir?
Mantenha-se conectado
nenhuma decisão deverá ser igual a outra que tomou no passado. Permita-se alargar os seus horizontes.
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1.
4 Como fortalecer-se a si mesmo? 4 Quais as relações e as pessoas que pre-
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Como podemos fortalecer uma mentalidade resiliente?
[SAÚDE PSICOLOGIA]
5.
escobrindo os seus D recursos internos
Se antes de iniciar esta pandemia, alguém lhe tivesse dito como seriam os próximos 12 meses ou mais, certamente teria pensado: “não vou conseguir lidar com isto”, “não sei como vou aguentar” ou “isto vai ser horrível e impossível de lidar”. Neste momento, que já passou por grande parte dessa situação, se refletir bem, consegue perceber que já aprendeu algumas coisas sobre o que o ajudou a enfrentar tal experiência. Contudo, é extremamente importante ter momentos de reflexão onde possa extrair aprendizagens das situações com que se vai deparando. Os seus recursos internos existem – e são mais do que muitos – para o ajudar. Conheça-os e coloque-os em prática sempre que necessitar. Aproveite-os, porque são seus, são valiosos e não necessita de despender dinheiro para os usar. Eles podem ajudá-lo a encontrar a calma quando se encontra dominado por um forte medo, a encontrar um caminho para manter o foco no presente e abstrair-se de pensamentos intrusivos ou a manter-se sereno e relaxado quando precisa de abrandar da azáfama do dia a dia. Encorajo-o a descobrir toda a sua força interior, coragem e adaptabilidade às quais não sabe que tem acesso. Deixo-lhe algumas perguntas, para que faça uma breve reflexão: 4 O que fez que o ajudou a enfrentar esses desafios decorrentes da pandemia? 4 O que fez que o fizesse sentir bem? 4 Que medidas tomou para promover o seu bemestar? 4 O que aprendeu sobre si mesmo, sobre a sua força e coragem? 4 Que estratégias e competências usou para ultrapassar os momentos mais difíceis da sua vida? Reflita também sobre o que ainda pode aprender.
6.
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Maior compaixão
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Mesmo com tudo o que o mundo passou, as perdas de várias pessoas, a luta constante dos profissionais de saúde, o desejo de ajudar os outros e as demonstrações de solidariedade e compaixão têm sido enormes. As ações de apoio e homenagem aos profissionais de saúde, a ajuda a vizinhos e a pessoas carenciadas, a organização de apoio comunitário pelo mundo são alguns exemplos daquilo que de melhor temos feito. Este tempo de desafio e adversidade ativou o nosso cuidado inato, bondade, humanidade e compaixão. Para ter em consideração: 4 De que forma abriu o seu coração durante esta pandemia? 4 Tocando na sua capacidade de cuidado, bondade e compaixão, o que isso despoletou em si? 4 Teve algum gesto de cuidado e bondade com alguém? 4 Permitiu-se ter um ato de generosidade e compaixão para com alguém próximo ou que precisasse de ajuda? Não se esqueça que pequenos gestos criam grandes momentos.
DESENVOLVEMOS MAIS A NOSSA RESILIÊNCIA QUANDO... 4 Estamos atentos ao nosso corpo e à nossa saúde psicológica, emocional e física; 4 Respeitamos o descanso e as horas de sono; 4 Praticamos uma alimentação equilibrada e diversificada; 4 Mantemos práticas de atividade física regular; 4 Praticamos atividades meditativas e de bem-estar mental; 4 Gostamos de nós, valorizamo-nos e orgulhamo-nos daquilo que somos; 4 Conectamo-nos com pessoas significativas; 4 Procuramos sair da nossa zona de conforto e crescer enquanto pessoa; 4 Não temos medo de errar porque sabemos que errar faz parte da condição humana e estamos abertos a aprender com os nossos próprios erros; 4 Vivemos em busca de novas experiências e objetivos realistas; 4 Focamo-nos no que podemos controlar, ao invés daquilo que não temos controlo; 4 Escutamos o que o nosso corpo e mente nos diz e damos significado às nossas emoções e sentimentos; 4 Conseguimos falar sobre as nossas preocupações e/ou medos; 4 Aceitamos procurar ajuda profissional, sempre que sentimos necessidade; 4 Propomo-nos a alcançar o nosso bem-estar e felicidade plena.
A resiliência é uma qualidade que está acessível a cada um de nós, mas que necessita de ser desenvolvida e fortalecida; uma vez construída, ajuda-nos a superar os desafios diários
Contraceção [SAÚDE GINECOLOGIA]
e saúde da mulher NECESSIDADE DE MAIS E MELHOR INFORMAÇÃO
A IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS CONTRACETIVOS ULTRAPASSA A POSSIBILIDADE DE PLANEAR AS GRAVIDEZES. MUITOS DOS MÉTODOS, SENÃO TODOS, TÊM BENEFÍCIOS ASSOCIADOS, TÃO OU MAIS IMPORTANTES DO QUE A CONTRACEÇÃO. É FUNDAMENTAL MAIS E MELHOR INFORMAÇÃO, PARA QUE CADA VEZ MAIS MULHERES SAIBAM O QUE TÊM AO SEU DISPOR.
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UANDO PENSAMOS EM SAÚDE no feminino, a relação com a Ginecologia-Obstetrícia é quase imediata. Aliás, não raras vezes, as consultas de planeamento familiar e de vigilância materno-fetal agrupam-se em serviços de “saúde da mulher” ou termos análogos. Ao invés de ser redutora, esta associação é reveladora da importância que o planeamento familiar, contraceção e gestão de menstruações têm na vida da mulher, da família e, conseguimos reconhecê-lo, da sociedade.
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DOS PROBLEMAS DO SUBDESENVOLVIMENTO... Os países mais pobres e menos desenvolvidos são, paralelamente, os que apresentam maiores taxas de natalidade, o que infelizmente, em vez de ser positivo, traduz um conjunto de problema específicos das famílias e gerais da sociedade: famílias com escassez de recursos veem as suas necessidades multiplicadas pelo número de filhos; mulheres com condições de saúde subótimas veem os seus corpos sobreconsumidos por gravidezes sem espaçamento adequado entre elas e partos pouco seguros que as colocam em risco de vida.
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...À DIVERSIDADE DE MÉTODOS Em Portugal, estamos felizmente num país que proporciona todos os métodos
contracetivos que a mulher ou o casal deseje. De distribuição gratuita nos centros de saúde, desde os mais conhecidos, como a pílula e o preservativo, até métodos de longa duração, como o implante subcutâneo, o SIU (sistema intrauterino hormonal) ou o DIU (dispositivo intrauterino de cobre), passando por métodos definitivos, como a laqueação de trompas, existe uma diversidade de métodos para a diversidade de mulheres que deles precisam.
Pela
DRA. DIANA MARTINS Médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia. Assistente Hospitalar do Hospital Beatriz Ângelo Loures
Infelizmente, mesmo em condições teóricas de saúde gratuita e universal, o acesso aos métodos não é igual em todos os grupos sociais do nosso país e a maior barreira é, muitas vezes, o desconhecimento. É urgente e mandatório ensinar, informar e divulgar, para que cada vez mais mulheres saibam o que têm ao seu dispor e onde. BENEFÍCIOS ASSOCIADOS A importância dos métodos contracetivos ultrapassa a possibilidade de planear as gravidezes. Muitos dos métodos, senão todos, têm benefícios associados, tão ou mais importantes do que a contraceção, sendo por vezes o benefício “secundário” que nos leva a prescrevê-los. Por exemplo: 4 As clássicas “dores menstruais” (dismenorreia), durante tanto tempo consideradas normais, começam agora a enfrentar mulheres que não consideram nada normal terem dores incapacitantes, todos os meses e durante a maior parte da sua vida fértil, e que, por isso, estão dispostas a enfrentá-las. A pílula ou, em casos específicos, os SIU, que permitem não ter menstruação, podem ser a solução para um problema que, de outra forma, conduziria a sofrimento e absentismo laboral; 4 A típica “anemia porque menstrua muito” é outro problema grave que pode ser tratado por medicação contracetiva.
4 Problemas de pele – não apenas o “cabelo mais oleoso” ou três simples borbulhas, mas o acne grave com risco infeccioso – podem encontrar um adjuvante de tratamento no uso de uma pílula em associação a terapêutica mais potente. Ou permitir o uso de terapêuticas teratogénicas, sem o risco de uma gravidez indevida. ESPAÇO PARA EVOLUIR Toda esta conversa serve para mostrar que a contraceção, apesar de ser um problema ancestral, é um assunto atual; que os métodos disponíveis são vários e podem adaptar-se a diferentes necessidades; e que a sua utilidade vai além da contraceção da mulher. Ainda há muito espaço para evoluir. Há, por exemplo, um grupo crescente de mulheres que procura métodos não hormonais de contraceção, não havendo nesse capítulo muita oferta, nem sequer adaptável a grande parte de quem a pretende – apenas o preservativo, o DIU de cobre ou a laqueação tubária. No entanto, os métodos hormonais disponíveis são maioritariamente seguros e muito eficazes, tendo cada vez menos contraindicações absolutas, ou seja, deixando de fora cada vez menos mulheres para quem não tínhamos outra solução além de métodos cirúrgicos definitivos.
Infelizmente, o acesso aos métodos contracetivos não é igual em todos os grupos sociais do nosso país e a maior barreira é, muitas vezes, o desconhecimento
FALANDO DA MENSTRUAÇÃO Uma nota para o assunto “menstruação”. O período é, de facto, um evento natural que ocorre de forma sensivelmente mensal durante a vida da mulher, desde a menarca (primeira menstruação) até à menopausa, excetuando, claro, os períodos de gravidez e pósparto/amamentação. Sendo um evento natural, seria expectável que fosse bem tolerado pela mulher e não fosse necessário “tratá-lo”, “diminuí-lo” ou “evitá-lo”. E se, de facto, há mulheres cujo corpo se adapta de forma adequada à menstruação “natural”, outras há para quem a menstruação se associa a palavras como “dor”, “tortura”, “hemorragia abundante”, “não poder sair de casa”, “não poder competir em torneios desportivos”, “evitar eventos sociais”... É nestas situações que convido sempre quem me ouve ou lê a ver a contraceção como mais um aliado: com risco conhecidos e reconhecidamente baixos, temos armas que nos permitem controlar, diminuir e até impedir totalmente a menstruação, sem que isso se traduza em problemas de saúde ou de fertilidade posteriores. Por fim, é também uma solução ecológica: as questões ambientais incomodam cada vez mais mulheres, as quais querem diminuir a pegada ambiental provocada pelos produtos descartáveis. A par de novas soluções, como pensos reutilizáveis, copos e discos menstruais, a contraceção pode ser a resposta para evitar precisar deles. Os métodos contracetivos podem ser a solução para a mulher controlar melhor a sua vida em todas as vertentes, indo muito além do planeamento familiar.
[SAÚDE MEDICINA DA REPRODUÇÃO]
Procriação medicamente assistida IMPACTO DA PANDEMIA NO PRESENTE ARTIGO, ABORDAREMOS O IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NA PROCRIAÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA, BEM COMO AS ESTRATÉGIAS PARA UMA ABORDAGEM INDIVIDUALIZADA NA RETOMA DOS TRATAMENTOS.
O
ANO DE 2020 acordou com um contexto de saúde pública que poucos imaginavam vir a ter o impacto sanitário, económico e social que hoje se lhe reconhece. A pandemia da covid-19, doença provocada pelo SARS-CoV-2, afetou o Planeta com tal magnitude que levou muitos governos a decretar o literal “encerramento” dos respetivos países. Se estas medidas foram importantes para conter a disseminação da pandemia, não é menos verdade que tiveram um efeito devastador sobre os diferentes setores da atividade. A área da saúde foi particularmente afetada, uma vez que, para além de ter mobilizado todos os seus recursos para o combate à pandemia, teve de suspender muita da sua atividade programada, nomeadamente de consultas, exames, tratamentos e cirurgias.
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SUSPENSÃO DA PMA A Medicina da Reprodução, como seria de esperar, não foi exceção à opção de suspender a atividade clínica programada, nomeadamente os tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA). No dia 2 de março de 2020, foi identificado o primeiro caso em Portugal e, duas semanas depois, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR) emitiu um comunicado com um conjunto de recomendações dirigidas aos Centros Nacionais de PMA. As recomendações foram especificamente quatro: 1) Não iniciar qualquer tratamento de fertilidade, com ou sem recurso a técnicas de PMA (exceção para a criopreservação de gâmetas em contexto de doença oncológica, cujo caráter pode ser inadiável); 2) Concluir todos os ciclos de FIV/ICSI já iniciados que estivessem na sua fase final de tratamento; 3) Diferir as transferências de embriões; 4) Cancelar todos os outros tratamentos de fertilidade já iniciados, envolvendo ou não o recurso a técnicas de PMA. Na base dessas recomendações estiveram duas preocupações. Por um lado, a escassa informação sobre o impacto da infeção pelo SARS-CoV-2 sobre os embriões e gâmetas, bem como sobre a grávida e o feto. Por outro, e não menos importante, a necessidade de cumprimento do distanciamento social, solicitado pelas entidades oficiais, com o objetivo de diminuir o número de novos casos e, por consequência, evitar que o SNS pudesse entrar em colapso.
Nessa mesma altura, recomendações semelhantes foram emitidas a nível nacional pelo CNPMA e pela Ordem dos Médicos. Os Centros de PMA acabaram por suspender quase na totalidade a sua atividade, exceção feita para a preservação da fertilidade em pacientes de ambos os géneros, com doença oncológica ou com patologias que implicassem a utilização de quimioterápicos. INFLUÊNCIA NA REPRODUÇÃO HUMANA Tratando-se de um novo vírus, era inevitável ter mais dúvidas do que certezas. No entanto, foi possível acumular alguma evidência científica de modo a construir uma ideia mais consistente sobre a fisiopatologia da infeção.
Pelo
PROF. DR. PEDRO XAVIER Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução
IMPACTO NA PMA No dia 23 de abril de 2020, na sequência de uma então evolução relativamente favorável da pandemia em Portugal e da informação científica acumulada que apontava para riscos reduzidos para a PMA, a SPMR emitiu um novo comunicado a recomendar a retoma progressiva da atividade pelos Centros Nacionais, com a adoção dos respetivos planos de contingência. Infelizmente, o impacto da paragem da atividade e a retoma gradual da mesma levou a que, no final do ano de 2020, as já longas listas de espera dos Centros públicos para tratamentos de PMA (cerca de 10 a 12 meses antes da pandemia) tivessem sofrido um agravamento generalizado. Para além disso, entre março e dezembro de 2020, as doações no Banco Público de Gâmetas foram quase inexistentes. Neste contexto, a SPMR tem manifestado a sua preocupação com o adiamento dos tratamentos de PMA, sobretudo nas doentes de pior prognóstico, com idades mais avançadas e ou com baixa reserva ovárica. Este grupo de doentes, que pode representar cerca de 30% a 40% do total, tende a ter um declínio muito rápido da sua fertilidade e serão as que merecerão uma atenção especial na programação dos tratamentos.
Também as entidades que tutelam a saúde em Portugal têm que olhar definitivamente para a dificuldade de acesso dos pacientes aos tratamentos de PMA como um problema sério, que foi agravado pela pandemia, mas que já existia antes dela. ESTRATÉGIAS PARA A RETOMA DA ATIVIDADE Os Centros de PMA foram confrontados com diferentes desafios. Por um lado, tiveram a necessidade de implementar medidas de segurança dentro das suas instalações, que permitissem diminuir o risco de contaminações, tanto das suas equipas de profissionais como dos seus pacientes. Por outro, e não menos desafiante, foi a escolha da melhor estratégia para realizar os tratamentos com o nível de segurança e confiança que sempre os caracterizou. A identificação dos pacientes infetados, nomeadamente dos assintomáticos, tem sido um dos maiores quebra-cabeças. Não parece oferecer dúvida que a utilização
do questionário epidemiológico ao longo de todo o tratamento é de grande utilidade para detetar os casos suspeitos, reforçada pela realização de testes PCR aos pacientes submetidos a procedimentos mais invasivos. A experiência generalizada tem sido a de um alto nível de segurança na atividade em PMA, traduzida num baixo número de infeções dos profissionais ou dos pacientes em tratamento. Para além disso, parece muito improvável a possibilidade de contaminação dos gâmetas ou embriões em laboratórios de PMA, atendendo ao rigor das normas de atuação e vigilância já aplicada para outros agentes infecciosos. É, por isso, importante reforçar a confiança relativamente à segurança dos tratamentos de PMA efetuados em tempos de pandemia, nunca esquecendo que a infertilidade é uma doença cujo prognóstico é negativamente afetado pela idade, motivo pelo qual o adiamento dos tratamentos vai inevitavelmente agravar esse prognóstico.
É importante reforçar a confiança relativamente à segurança dos tratamentos de PMA efetuados em tempos de pandemia
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O SARS-CoV-2 necessita da presença de um recetor específico para poder entrar nas células. Trata-se do recetor ACE2, com uma forte expressão no epitélio alveolar e no endotélio arterial e venoso. Também foi identificado em ovócitos e espermatozoides humanos; no entanto, subsistem algumas incertezas quanto ao verdadeiro impacto desta infeção na fertilidade a longo-prazo ou à possibilidade de transmissão do vírus por via sexual. O nível de conhecimento atual relativamente à expressão do recetor ACE2 em embriões humanos é ainda incerto, embora a experiência mostre ser muito improvável a contaminação dos embriões humanos nos laboratórios de PMA. Relativamente à transmissão mãe-feto durante a gravidez, embora rara, já foi documentada em vários casos, quase sempre com uma evolução favorável dos recém-nascidos. No que diz respeito à suscetibilidade das grávidas à covid-19, atendendo à imunossupressão fisiológica da gravidez, é de considerar que possam merecer um cuidado especial. Os dados internacionais têm revelado a possibilidade de doença mais grave e maior taxa de complicações obstétricas, nomeadamente de parto pré-termo.
[SAÚDE PEDIATRIA]
Quando levar o bebé à urgência hospitalar? ESTA É UMA QUESTÃO CUJA RESPOSTA NÃO CONSEGUE SER 100% SEGURA. NÃO É MEU PAPEL DIZER-VOS PARA NÃO IREM À URGÊNCIA HOSPITALAR COM O VOSSO BEBÉ! É MEU PAPEL ELUCIDAR-VOS PARA OS PRINCIPAIS SINAIS DE ALARME QUE NÃO DEVEM SER DESCURADOS E CUJA ATUAÇÃO SE DEVE BASEAR NA IDA À URGÊNCIA PEDIÁTRICA.
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ENFª ANDREIA AMARAL
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Enfermeira pediátrica. Mentora do projeto SOSMAMÃ www.sosmama.pt
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ESMO NA AUSÊNCIA de qualquer um dos sinais de alarme, o principal cuidador do bebé pode considerar que algo não está bem e isso, por si só, pode ser suficiente para pedir ajuda. Basta que tomemos consciência da individualidade de cada ser humano e, como tal, das particularidades que cada bebé e família terão. Por exemplo, enquanto o meu bebé pode lidar muito bem com o aumento da temperatura corporal, outros bebés podem ficar mais prostrados e despertar nos pais uma preocupação ainda maior. É importante tomarmos consciência que ninguém conhece melhor o seu bebé do que os principais cuidadores, que habitualmente são os pais (mas também podem não ser, pois vivemos nos dias de hoje com menos tempo livre, enquanto pais, o que acaba por se refletir na necessidade do apoio dos avós em tantas famílias). Desta forma, assumir que somente perante determinados fatores devemos levar o bebé à urgência hospitalar é, no meu ponto de vista, incorreto. CONFIAR NO INSTINTO Enquanto pai e mãe, temos a capacidade de perceber quando algo no nosso filho não está bem. E isso deve fazernos confiar também no nosso instinto. Claramente que na maioria dos casos, a ida à urgência hospitalar podia ser protelada: dados de 2019, relatados pelo perito da Organização Mundial de Saúde Nelson Olim, referem que 40% dos atendimentos nas urgências dos hospitais públicos do nosso país, no ano de 2018, foram consideradas pouco ou não urgentes.
Apercebendo-nos que o bebé não está no seu estado normal e não conseguindo atribuir um motivo, é perfeitamente aceitável, pelo menos, o contacto com a Saúde 24 ou a ida ao Centro de Saúde da área de residência Ainda assim, apercebendo-nos que o bebé não está no seu estado normal e não conseguindo atribuir um motivo, é perfeitamente aceitável, pelo menos, o contacto com a Saúde 24 ou a ida ao Centro de Saúde da área de residência. Gosto de explicar aos pais que o contacto com a linha 112 deve ser guardado para os casos de emergência, aqueles que comprometem a vida do bebé/criança. E que, em caso de necessidade, se ligarem à Saúde 24 é feito igualmente o seguimento para a linha 112. SINAIS DE ALARME Então, que sinais no bebé/criança devem despertar nos pais atenção imediata e ida à urgência hospitalar? 4 Febre em bebés com idade inferior a 3 meses – Não é expetável o bebé até aos 3 meses desenvolver febre, o que, nesta faixa etária, está relacionado, na maior parte dos casos, com infeção bacteriana (tratável com antibiótico); 4 Febre com 3 a 5 dias de evolução, no bebé acima dos 3 meses; 4 Sonolência excessiva (fora do horário habitual das sestas); 4 Total ausência de apetite por 2 a 3 refeições seguidas (incluindo recusa de líquidos); 4 Palidez acentuada da pele, com olheiras marcadas e língua branca; 4 Respiração muito rápida e irregular; 4 Lábios e/ou unhas roxas; 4 Vómitos repetidos com intolerância alimentar ou de líquidos, mesmo após período de pausa alimentar recomendado; 4 Vómitos com presença de sangue; 4 Diarreia intensa com intolerância alimentar ou de líquidos, mesmo após período de pausa alimentar recomendado; 4 Diarreia ou fezes com sangue; 4 Urina alaranjada/acastanhada com cheiro intenso; 4 Irritabilidade mantida, sem consolabilidade com mimo materno (ou de pessoa de referência) e/ou com gemido associado; 4 Tremores descoordenados, intensos e prolongados. Apesar de ser um tema sensível, é notório que as famílias de bebés e crianças pequenas precisam de tranquilização a este nível. Saberem as redes de apoio que têm à disposição na sociedade e os contactos que podem fazer em caso de necessidade é fundamental para manter a tranquilização necessária nestes momentos mais difíceis.
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Santen lança Puralid Lipogel
Vinoperfect
O sérum antimanchas reinventa-se Na sua procura constante de melhoria das fórmulas, Mathilde Thomas e as suas equipas desenvolveram novos cuidados antimanchas ainda mais eficazes, mais clean e naturais. Assim, a Caudalie apresenta a sua nova gama antimanchas Vinoprefect. O sérum de culto reinventa-se graças a um novo emulsionante biomimético que revoluciona a clean beauty. Este novo emulsionante bio-inspirado mimetiza a organização em camadas da estrutura da pele. Uma semelhança que favorece a penetração da Viniferina, otimizando a sua ação sobre as manchas com ainda maior eficácia.
MAIO 2021
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A Santen acaba de aumentar em Portugal o seu portefólio de produtos para olho seco com o lançamento de Puralid Lipogel. É um produto oftálmico com uma composição única de ingredientes para suavizar e limpar as pálpebras e a região periocular durante processos inflamatórios, como blefarite ou blefaroconjuntivite. Puralid Lipogel está formulado com lipossomas, o que lhe confere uma agradável textura de fácil aplicação, bem como ser o veículo dos restantes ingredientes, como óleo da árvore de chá, vitamina A, goma xantana, ácido ferúlico, vitamina E TPGS e alfa bisabolol, com múltiplas propriedades para aliviar os sintomas da blefarite.
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Novo aliado na perda de peso
Novidades NIVEA Cellular
A Biocodex acaba de lançar Symbiosys Satylia, um suplemento alimentar que combina a estirpe probiótica única Hafnia alvei HA4597 com os minerais essenciais zinco e crómio. Este suplemento é o resultado de 15 anos de investigação no campo do equilíbrio metabólico. Estudos demonstram que há uma relação entre algumas bactérias do intestino e o peso. Quanto maior o nosso IMC, menos enterobactérias são detetadas. As enterobactérias da estirpe Hafnia alvei HA4597 produzem uma proteína – a ClpB – que atua no controlo do apetite, suprimindo a fome e, em simultâneo, gerando uma saciedade precoce.
Desenvolvida para reavivar a beleza que temos dentro de nós, a gama NIVEA Cellular + Elasticidade & Anti-Gravidade apresenta uma fórmula que estimula a pele a produzir o seu próprio ácido hialurónico, colagénio e elastina, proporcionando uma aparência mais jovem e com maior elasticidade. A gama conta com dois novos produtos: NIVEA Cellular Máscara de Tecido Criogénica AntiIdade e Ampolas Efeito Lifting NIVEA Cellular Elasticidade & Antigravidade.
Bella Aurora apresenta K_alma Quando padecemos de stress de forma continuada, o nosso corpo liberta histamina, que está relacionada com a resposta alérgica. Gera-se igualmente uma maior produção de adrenalina e cortisol, que produzem desajustes hormonais e debilitam o sistema imunológico da pele. A solução? Bella Aurora apresenta a linha K_alma com Anti-Stress Bio Complex, um extrato botânico utilizado na tradição milenar Ayurveda com propriedades adaptógeneas. A linha K_alma reduz a produção de cortisol; liberta betaendorfinas para proporcionar bem estar e conforto; ajuda o corpo a adaptar-se a condições de stress interno e externo; hidrata a pele; melhora a luminosidade (+57% em 28 dias); e corrige o tom e melhora a textura da pele (+99% em 28 dias).
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Nova imagem Sensodyne Sob o mote “A vida é demasiado curta para viver com sensibilidade dentária”, Sensodyne apresenta em 2021 um rebranding a vários níveis, assente numa nova imagem, numa nova forma de abordar o consumidor e num novo packaging que acompanha a mudança e assinala o compromisso. A par desta maior proximidade, é ainda lançada uma nova referência: Sensodyne Herbal, uma tendência que ilustra a preferência crescente da população por ingredientes naturais.
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Purificadores de ar AEG Sabia que desde o início da pandemia a venda de purificadores de ar aumentou 53%? E quem não gostaria de limpar o ar da sua casa de forma eficiente, mesmo em divisões de maiores dimensões, desfrutar de ar limpo em qualquer divisão da casa ou ajustar o nível de filtragem de acordo com as suas necessidades? Com a AEG não tem de escolher entre desempenho e design, pois a marca oferece uma gama de purificadores de ar, composta por cinco modelos, que se adequam na perfeição às necessidades de cada casa.
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[SAÚDE DIVULGAÇÃO] Rotina Maskne para acabar com os efeitos indesejados do uso da máscara Usar máscara é obrigatório, porém o seu uso diário pode gerar efeitos indesejáveis: asfixia, pele cansada, pequenas borbulhas, irritações. Para proteger a pele contra esses efeitos indesejados, a Thalgo criou uma Rotina “MASKNE” que deverá ser realizada em quatro etapas: 1. Limpar a pele com Pain Aux Algues (Sabonete de Algas). Este sabonete suave, purifica e remineraliza a pele em profundidade. 2. Esfoliar com o Freshness Scrub, esfoliante com pó de diatomáceas e casca de amêndoa. Este gel esfolia, energiza e suaviza a pele. 3. Corrigir com a Máscara Clarté Absolue com argila branca, que purifica, remineraliza e clarifica a tez.
4. Cuidar com o Corretor de Imperfeições, com um duo de Algas Purificantes, num gesto localizado para purificar e reduzir visivelmente as imperfeições.
Drª Luísa Carvalho (Especialista de Medicina Geral e Familiar)
COLABORADORES/CONSULTORES: Dr. A. Coimbra
Suplemento alimentar desenvolvido pela Thalgo e destinado a pessoas que desejem obter um ventre liso. Contém um extrato de Ascophyllum nodosum, responsável pela eliminação de depósitos de gordura, e um extrato de aveia, que regula as funções intestinais. Contém ainda selénio, vitamina D e zinco. Este último mineral contribui para o normal metabolismo dos hidratos de carbono e contribui para o normal metabolismo dos ácidos gordos.
Inovação exclusiva de adelgaçamento, Activ Minceur Capteur, da Thalgo, associa o Nopal Neopuntia®, que absorve as gorduras e açucares alimentares, para que estes não sejam absorvidos nem armazenados, a um extrato da microalga Clorela. Este suplemento alimentar destina-se a pessoas que procuram um acompanhamento reforçado na perda de peso ou aquando de desvios alimentares.
MAIO 2021
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Queima ativa de gorduras
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Francisco Duarte
REVISÃO CIENTÍFICA:
Coach Ventre & Taille Para um ventre liso
Activ Minceur Capteur Capta gorduras e açúcares
DIRETOR:
Activ Minceur Brûleur é um suplemento alimentar da Thalgo concebido para atuar no metabolismo dos lípidos e ajudar a combater o excesso de peso. Contém extrato de guaraná Paullinia cupana e extrato de alga Fucus, além de iodo e a vitamina B6, que contribuem para o bom funcionamento do metabolismo produtor de energia, e zinco, que contribui para o normal metabolismo dos hidratos de carbono. Contém cafeína, não sendo, por isso, recomendado a crianças nem grávidas.
de Carvalho (Dent.);Dr. Alexandre Fernandes (Nutrição); Drª Ana Maria Cordeiro (Radiodiag.); Prof. Antero da Palma Carlos (Alergo.); Dr. António Manuel Marques (Socio.); Dr. António Meyrelles do Souto (Ortop.); Dr. Artur Aguilar (Oftalm.); Dr. Artur P. Galvão (Psiq.); Dr. Baptista Fernandes (Cirur. Estét.); Dr. C. Canas Ferreira (Otorrino.); Dr. César Ramos (Imuno./Alergo.); Drª Cláudia Madeira Pereira (Psicologia Clínica); Dr. Duarte Vilar (Socio.); Dr. E. Melo Rocha (Alergo./Pediat.); Dr. Fernando Lacerda Nobre (Clín. Geral); Prof. Francisco J. Antunes (Venér./SIDA); Prof. Francisco Reich de Almeida (Oftal. Infant.); Drª Isabel do Carmo (Endocri.); Dr. J. Seixas Martins (Cirur. Plást.); Dr. João de Matos Silva (Homeop.); Dr. Joaquim Margalho Carrilho (Ass. Port. Medi. Adicção); Dr. José Pacheco (Sexo); Prof. L. Menezes Falcão (Cardio.); Dr. Libério Bonifácio Ribeiro (Pediat./ Alergo.); Prof. Lincoln Justo da Silva (Pediat.); Dr. Luís Mendes Graça (Obstet.); Dr. Manuel Costa Guerreiro (Psiq.-Assoc. Defesa Saúde Mental); Dr. Manuel Neves e Castro (Gineco.); Drª Margarida Cordo (Psico-Socio.); Drª Maria Antónia Frasquilho (Psiq. Med. Trabalho); Dr. Mário Andrea (Otorrino.); Nazaré Nunes (Estét.); Drª Paula Martinho da Silva (Adv.-Ética); Dr. Paulo Guimarães (Urolog.); Dr. Pedro Levy (Psiq.); Associação de Planeamento para a Família. E-MAIL:
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