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6. CRÍTICA TEXTUAL

EXEGESE BÍBLICA

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CRÍTICA TEXTUAL

A crítica textual é o segundo passo da exegese. Sua tarefa consiste em reconstituir com maior exatidão possível o texto bíblico que poderá servir de base para a tradução e pesquisa posterior. Pode-se atribuir à crítica textual dupla finalidade: restaurar o texto danificado para chegar mais próximo da intenção do autor, e determinar a história da transmissão e do desenvolvimento do texto escrito de que temos várias formas hoje.

O texto do Antigo Testamento conheceu longa história evolutiva. Aquele que se tornou o texto “oficial” pelos fins do século I de nossa era é o “texto massorético”, fruto do trabalho dos massoretas e de seus antepassados. O termo “massorá”- “tradição”, em seu sentido amplo refere-se ao texto da Bíblia Hebraica, desenvolvido e padronizado pelos massoretas, os quais adotaram o texto de sinais vocálicos, acentos e notas relacionados a detalhes textuais. O texto bíblico hebraico, desempenhado por estes estudiosos é denominado pelos eruditos de “Texto Masssorético” (TM). Em sentido estrito, o termo Massorá refere-se ao conjunto de notas escrito nas laterais e nas margens superior e inferior do texto bíblico, nos códices massoréticos medievais e nas modernas edições críticas da Bíblia Hebraica.

A necessidade da crítica textual decorre do fato que o Novo Testamento foi escrito em grego e em manuscritos cujos originais desapareceram devido às constantes perseguições que a Igreja do Senhor sofreu. Entretanto, inúmeras cópias foram sucessivamente copiadas no decorrer dos séculos, de modo que chegaram até nossos dias milhares dessas cópias. Comparando essas cópias entre si, constata-se que o texto produzido nem sempre é igual. São exatamente essas diferenças existentes entre essas várias cópias que perfazem o objeto de estudo da crítica textual.

EXEGESE BÍBLICA

A árdua tarefa desta disciplina consiste em constatar as diferenças entre os diversos manuscritos que contém cópias do texto em análise e avaliar qual das variantes poderia corresponder com maior probabilidade ao texto originalmente escrito pelo autor bíblico. Os estudantes devem possuir conhecimentos básicos sobre história do texto do Novo Testamento e o valor de suas principais testemunhas. Devem ter a capacidade de utilizar tecnicamente o aparato crítico da 27ª edição do Novum Testamentum Graece de Nestle-Aland e saber aplicar as regras fundamentais das decisões da crítica textual.

Para a realização da crítica textual é necessário inicialmente, ter alguma informação básica sobre os tipos de manuscritos e suas devidas variantes. Boa parte dessas informações pode ser encontrada nas introduções e nos apêndices apresentados em alemão e inglês do Novum Testamentum Graece de Nestle-Aland, e em inglês no The Greek New Testament, bem como nos manuais de crítica textual.

A edição do The Greek New Testament publicado EM 1881/1882 pelos ingleses B.F.Westcott (1825-1901) e F.J.Hort (1828-1872), que se destaca pela reconstrução confiável do texto grego e por critérios metodológicos convincentes. Para a crítica textual do Novo Testamento, são importantes as distinções que Westcott-Hort estabeleceram ao investigar o parentesco entre os diferentes documentos. De acordo com seus estudos, eles concluíram que há quatro tipos principais de texto do Novo Testamento:

a) O texto ocidental (representante principal: Codex Bezae D 05); b) O texto alexandrino (representantes principais: Codex Ephraemi C 04 e

Codex Regius L 019); c) O texto neutro (representantes principais: Codex Sinaiticus a 01 e Codex

Vaticanus B 03); d) O texto sírio (representante principal: Codex Alexandrinus A 02).

O textus receptus moderno foi elaborado por Eberhard Nestle (1851-1913) com seu Novum Testamentum Graece, publicado em 1898 por incumbência da

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sociedade bíblica de Württemberg. Nestle tomou com base para sua obra as três grades edições científicas do século XIX, a saber: Tischendorf (T), Westcott-Hort (H) e inicialmente R.E. Weymouth, em cujo lugar inseriu desde a 3ª edição (1901) a publicação de B. Weib (W). Em seu apparatus criticus, Nestle não apenas levou em conta as variantes entre H, T e W, mas também num segundo aparato, variantes de outros manuscritos do Novo Testamento. A análise dos manuscritos originais foi constantemente ampliada por seu filho, Erwin Nestle (1883-1972), e por Kurt Aland (1915-1994), co-editor desde a 21ª edição de 1952, no que se revelaram de suma importância papiros de descobertas recente.

Até a 25ª edição de 1963, Nestle-Aland também pressupôs tipos textuais representados por famílias de manuscritos, entre os quais se distinguem até a atualidade quatro formas principais do texto do Novo Testamento.

6.1 O TEXTO NEUTRO (OU ALEXANDRINO, RESPECTIVAMENTE HESIQUIANO)

Esse tipo textual representado, sobretudo pelos manuscritos maiúsculos a 01, A 02, B 03, C 04, (A e C, porém não abarcam os evangelhos) e relevantes papiros (por exemplo P66, P75 para os evangelhos, P46 para as cartas de Paulo), é designado de “neutro” porque Westcott-Hort o consideravam texto não-revisado. Foi chamado de “alexandrino”, porque também é apresentado pelos pais alexandrinos Clemente, Orígenes, Dionísio e Cirilo de Alexandria. Por meio de W. Bousset foi introduzida a designação de texto “hesequiano”, porque relacionou com esse tipo textual o bispo Hesíquio de Alexandria, mencionado por Jerônimo. Por influencia do texto Koiné, o texto alexandrino desenvolveu-se durante os séculos para formar o texto egípcio.

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Segundo os tipos de manuscritos

TESTEMUNHAS

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Papiros: P1, P3, P6, P8 (parcial) , P10, P11, P13, P14, P15, P16, P18 , P20, P23, P26, P27, P28, P31, P32 ,

P33, P34, P35 (parcial), P36 (parcial) , P39, P40, P43, P44, P45 (parcial) , P46, P47, P49, P50, P51 (parcial) , P52, P54, P55, P56, P57, P58, P59 , P60, P61, P62, P65, P67, P71, P72 , P74, P75 .

Unciais: a, A (com exceção dos evangelhos), B, (C) H, I, L, T, W, Z, ), e Q.

Cursivos: 33, 579, 892, 1241, 3052 e 2344.

Versões: co, it (parcial) e sy (parcial).1

Pais da Igreja: Atanásio, Orígenes, Hesíquio, Cirilo de Alexandria, Cosmos Indicopleustes (parcial). Proto-alexandrinos: P45(em Atos), P45, P66, P75, a, B, cosa (parcial), Clemente de Alexandria, Orígenes (parcial), Dionísio e Cirilo de Alexandria e a maior parte dos fragmentos em papiros que contêm as epístolas paulinas.

Alexandrinos posteriores: Evangelhos: (C), L, T, W (em Lucas 1.1-8.12 e João), (X), Z, ) (em Marcos), X, Q (em Marcos; parcialmente em Lucas e João), 33, 579, 892, 1241 e copbo .

Atos: P50, A, (C), Q, 33, 81, 104 e 326.

Epístolas Paulinas: A, (C), H, I, Q, 33, 81, 104, 326 3 1739.

Epístolas Católicas: P20, P23, A, (C), Q, 33, 81, 104, 326, 1739.

Apocalipse: A, (C), 1006, 1611, 1854, 2053, 2344 e em P47 e a com qualidade inferior.

6.2 TEXTO OCIDENTAL

Como já sugere o nome, esse tipo textual está documentado principalmente na região ocidental do Mediterrâneo. Pode-se classificá-lo como o tipo de texto mais “liberal”. Seus ancestrais e formas colaterais deixaram vestígios até o século III e IV, sendo atestado pelos códices D, W (para Marcos 1.1-5), P38, P48, pelas antigas versões latinas e pelos autores eclesiásticos latinos. Quando comparado com os demais, caracteriza-se pelo emprego de muitas paráfrases (sobretudo na versão D), por acréscimos em forma de esclarecimentos, pela harmonização entre os textos si-

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nóticos, mas também por omissões. Em D, o texto dos Atos resulta quase 10% mais longo que nos outros manuscritos. É denominado de “ocidental” por encontrar-se fortemente presente nos códices latinos e nos pais ocidentais da Igreja.

Segundo os tipos de manuscritos

TESTEMUNHAS

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Papiros: P5, P8 (parcial), P19, P25, P27, P29, P35 (parcial), P36 (parcial), P38, P41, P48 .

Unciais: D, W (nos evangelhos), E, F e G nas epístolas.

Versões: it, sy (parcial) e etiópica.

Pais da Igreja: O grupo inteiro dos pais latinos/ocidentais, e os pais sírios até cerca de 450 d.C.; também alguns pais gregos, pelo menos em parte, como Irineu, Taciano, Clemente de Alexandria, Eusébio, Orígenes (parcial), Marcião, Hipólito, Tertuliano, Cipriano, Ambrósio, Agostinho, Jerônimo e Pelágio. Evangelhos: D, W (em Marcos 1.1 – 5.30), 0171, a versão latina antiga, sys e syc (parcial), os primeiros pais latinos e o Diatessaron de Taciano.

Atos: P29, P38, P48, D, E, 383, 614, 1739, syhmg, sypms, copg67, primeiros pais latinos, Efraim.

6.3 TEXTO DE CESARÉIA

Epístolas: D, F, G, pais gregos até o fim do século III, manuscritos da versão latina antiga, primeiros pais latinos, pais sírios até cerca de 450 d.C.

A designação texto de Cesaréia explica-se a partir da suposição de B. H. Streeter de que Orígenes teria utilizado esse texto após sua mudança de Alexandria para Cesaréia, e de que ali também surgiu essa forma. Em termos de qualidade, situa-se entre o ocidental e o alexandrino. Na pesquisa há controvérsia quanto à existência deste tipo de texto fora de Marcos 5.31-16.20 e também quanto aos manuscritos específicos que o representam.

EXEGESE BÍBLICA

Segundo os tipos de manuscritos

TESTEMUNHAS

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Papiros: P37, P45 (parcial)

Unciais: Y, W (em Marcos 5.31-16.20), O.

Cursivos: família 1 (ƒ1), família 13 (ƒ13).

Versões: geórgica, armênia e alguns manuscritos da sy. A maior evidência para este tipo de texto é encontrada no Evangelho de Marcos.

6.4 TEXTO BIZANTINO OU KOINÉ

O tipo textual bizantino, ao qual pertencem quase todos os manuscritos a partir do século VI e VII, é bastante unitário e apresenta homogeneização literária, elegância nas expressões, modificações estilísticas. É o resultado de um processo de recensão efetuada pelo presbítero Luciano em Antioquia, falecido em princípios do século IV, concluído em Bizâncio, onde se difundiu por todo império. É o texto representado pela maioria dos unciais posteriores e pela grande maioria dos minúsculos. Caracteriza-se principalmente, pela harmonização de passagens entre os evangelhos e pelo polimento da linguagem. Os principais manuscritos deste tipo são A (evangelhos), E, F, G, H, K, entre outros.

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TESTEMUNHAS

Segundo os tipos de manuscritos Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Papiros: P42, P68

Unciais: a maioria editada após o século V.

Cursivos: a maioria.

Versões: eslavônica e peshita. Evangelhos: A, E, F, G, H, K, P, S, V, W, (em Mateus e Lucas 8.13-24.53), P, Q (em Lucas e João), W e a maioria dos minúsculos.

Atos: H, L, P, 049 e a maioria dos minúsculos.

Epístolas: L, 049 e a maioria dos minúsculos.

Apocalipse: 046, 051, 052 e a maioria dos minúsculos.

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