SEITAS ESPÍRITAS - MÓDULO BERILO - SBL

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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1. ESCRAVOS, ÍNDIOS E NEGROS 2. AS ORIGENS DO CANDOMBLÉ, UMBANDA E QUIMBANDA 3. ESPIRITISMO KARDECISTA 4. ESPIRITISMO NO BRASIL 5. DOUTRINA ESPÍRITA

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AVALIAÇÃO REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Quem tiver olhos para ver e ouvidos para ouvir, já terá notado a presença, entre nós, cada dia mais alarmante de Terreiros, Tendas, Cabanas, Centros, Casas, Templos, Igrejas, Núcleos, Sociedades, Irmandades, todos qualificados geralmente com o adjetivo de umbandistas ou espíritas. São milhares no Rio, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, na Bahia, por todo território brasileiro. Já se tornou comum entre nós as Lojas de Umbanda. Nessas lojas podem-se comprar ervas mágicas, incenso, amuletos, colares de dentes de porco, encantamentos, livros sobre macumba, partes de corpos de bonecas para uso em feitiços e como meio de se determinar o futuro. As imagens da Virgem Maria, de Jesus, e do diabo com chifres, são colocados lado a lado com outras imagens. Desde já queremos deixar bem definido a diferença entre o aspecto cultural e o aspecto religioso. Por cultura entende-se geralmente como “o conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade”.1 Por religião compreendemos “o conjunto de relações morais que unem o homem com Deus, incluindo seus deveres e virtudes com que o homem se sujeita a Deus e direciona sua vida para com Ele”. Sendo assim a religião não se identifica com a cultura e ambas podem coexistir pacificamente com os mais diversos usos e costumes meramente culturais. Assim a Igreja de Cristo, que é um movimento exclusivamente religioso e não cultural, não se identifica com nenhuma cultura, nem se opõe a elas, mas coexiste com as mais variadas formas culturais, reconhecendo e deixando o que nelas não se opõe à natureza ou às positivas disposições de Deus. O cristão, por conseguinte, não precisa adotar um determinado tipo de cultura: suas mais íntimas convicções cristãs podem coexistir perfeitamente com os mais variados elementos culturais sadios. Assim temos o cristão americano, o cristão paquistanês, chinês, angolano, etc. 1. Novo Dicionário Aurélio. Verbete cultura. Positivo Informática, 2004.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS A arte culinária, a língua, a poesia, o canto, a dança, a organização social e política, etc., somente interessam à Igreja na medida em que o seu ensino, sua interpretação ou aplicação revestem-se de caráter moral e, por isso, religioso. Se a Umbanda fosse um movimento puramente cultural ou étnico com a exclusiva finalidade de conservar ou de reintroduzir tradições, usos e costumes africanos, ameríndios ou outro qualquer de caráter folclórico não seria necessário escrever sobre ela. Fazemos questão de acentuar e declarar: Não somos anti-africanos! Como não somos contra nenhuma cultura sadia, de qualquer nação ou raça que ela pertença. Mas, na realidade a Umbanda se apresenta primeiramente como movimento religioso, e faz questão de ser religião. Os elementos culturais que ela apresenta são impregnados de idéias nitidamente religiosa.

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ESCRAVOS, ÍNDIOS E NEGROS Desde o século XV que os portugueses compravam escravos na África para levá-los para as colônias de Açores e Madeira, ilhas no Oceano Atlântico onde já se produzia açúcar. Quando Cabral chegou à costa da Bahia, havia milhões de índios no Brasil. Os índios que moravam no litoral, os portugueses os chamavam de tupis e de tapuias os que viviam no interior. Do início da colonização do Brasil, os portugueses preferiram escravizar os índios. O dominador impôs à força sua língua, seus costumes, sua religião. Os índios foram obrigados a trabalhar como animais. Despojados de tudo, humilhados e ofendidos até o fundo da alma, foram dizimados. E foi assim por um século. Mas a partir do século XVII, os portugueses passaram a usar mais escravos africanos do que indígenas. O motivo dessa mudança foi o fato de que muitos índios morreram em decorrência das doenças que os europeus trouxeram da Europa (varíola, sarampo, gripe) e também porque foram escravizados, obrigados a trabalhar até não agüentar mais. Já no século XVI, os portugueses detinham o monopólio do tráfico de escravos. Naquele momento, era praticamente o único povo europeu a conseguir cativos na África. Eles obtinham os escravos na faixa que ia da costa do Senegal, passando por Guiné-Bissau, Guiné até Serra Leoa. Essa parte da África ao norte da linha do Equador era conhecida como a formosa Guiné. De lá é que vieram os povos mandigas, nagôs, bantos e outros. No século XVII, os escravos que chegaram ao Brasil vieram principalmente do Congo e de Angola. No século XVIII, os escravos que vieram para o Brasil eram 11

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS originários da Costa do Ouro (ou da Mina), mais ou menos onde hoje estão Gana e Togo, Benin e Nigéria. Especialmente a Bahia recebeu escravos que vinham do Benin. No século XIX, a tendência era trazer os escravos para o Brasil diretamente das colônias portuguesas em Angola e Moçambique.

O fim da escravatura começou quando, em 4 de Setembro de 1850, o parlamento aprovou a Lei Euzébio de Queiroz que encerrou de vez o tráfico da África para o Brasil. Entretanto somente em 1888, com a Lei Áurea, o cativeiro foi suspenso. O Brasil ostenta o triste título de ter sido o último país do Continente a acabar com o escravismo. No mapa baixo encontram-se as principais rotas de abastecimento de escravos para o porto do Rio de Janeiro entre 1750 e 1830. Repare a variedade de origens.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS 1.1 SINCRETISMO RELIGIOSO

Os africanos que vieram para o Brasil pertenciam às diversas nações. Cada nação dessas tinha sua própria crença religiosa. Os estudiosos costumam dividir os negros vindos para o Brasil em dois grandes grupos: sudaneses e bantos. Os primeiros saíram do Dahomey, da Nigéria e do Sudão, predominando os yorubas ou nagôs e os gêges, e foram colocados nos mercados de escravos da Bahia e Sergipe. Os bantos vieram do Congo, de Angola, de Moçambique e foram levados para os mercados de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, São Luiz do Maranhão e Pará e também para o da Bahia. A cultura sudanesa era superior a dos bantos e influiu profundamente sobre as outras. Nunca tivemos, no Brasil, culturas africanas em estado de pureza. Desde o início, elas apresentaram-se bastante misturadas, não apenas entre si, mas também com culturas não africanas, como os índios e com estrangeiros, influenciando e sendo influenciados psicológica e socialmente. Aos poucos, as crenças religiosas dos escravos foram se misturando umas as outras e se adaptando ao Brasil. No final predominou o chamado culto nagô.2 Repare que o culto nagô é uma forma tipicamente brasileira, ou seja, ele é resultado da mistura de várias culturas africanas com a cultura colonial. Para a religião dos yorubas ou nagôs, existe uma divindade suprema no Universo, que gerou todas as coisas, chamada de Olorum (ou Olorung). Olorum só pode entrar em contato com os homens mediante divindades inferiores ou secundárias, chamadas orixás pelos nagôs e vodús pelos gêges. Esta divindade, não era objeto de culto direto, para se obter seu “favor”, somente por intermédio dos orixás que são os intermediários entre Olorum e os homens. Os orixás em ordem de importância cultural são: 1) Obatalá ou Orixalá (“o grande orixá”, o maior de todos) ou simplesmente Oxalá, como se diz no Brasil. Simboliza as energias produtivas da natureza e tem por isso, um caráter bissexual. É representado por meio de conchas, limo 2. No Brasil, deram o nome de nagôs ao grupo de africanos que vieram de uma região onde hoje está a Nigéria, e que falavam o idioma yoruba.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS verde, dentro de um círculo de chumbo. Seus enfeites são brancos e o dia do culto, no Brasil é sexta-feira. Sacrificam-lhe cabras e pombos. 2) Xangô é outro orixá muito poderoso. Personifica a força dos raios. Seu fetiche é a “pedra do raio” ou o meteorito que é cultuado em meio de contas brancas e vermelhas principalmente nas quartas-feiras. Oferecem-lhe como sacrifícios o galo e o carneiro.3 3) Exu (nagô) representa as potências contrárias ao homem. Não se faz nenhum trabalho sem antes fazer o despacho de Exu, caso contrário ele atrapalha tudo. Seu fetiche é uma massa de barro com uma cabeça onde os olhos e a boca são representados por conchas incrustadas ou fragmentos de ferro. Pertencem-lhe os primeiros dias das festas e as segundas-feiras. Na África exigia sacrifícios humanos. No Brasil contenta-se com o bode, o galo e o cão. 4) Ogun é o orixá das lutas e das guerras. Seu fetiche é um fragmento de ferro e carrega consigo apetrechos bélicos (espada, foice, pá, enxada, etc.). O galo e o carneiro são seus alimentos preferidos. 5) Yemanjá é o orixá das águas. Tem como fetiche uma pedra marinha. Também yansan saiu da água e é o orixá dos ventos e das tempestades e mulher de Xangô. 6) Oxossi é o deus dos caçadores, representado por um arco atravessado de flecha. Festejam-no às quintas-feiras. 7) Xapanan ou Omolu é o orixá da varíola. Gosta de galo e do bode, mas aceita também milho com azeite de dendê. Não pode ser festejado no terreiro com outros orixás, tendo seu altar isolado numa cabana. 3. A palavra francesa fétiche vem do português feitiço (e ambas do latim factitius: coisa feita). De modo geral o fetiche é um objeto material (árvore, monte, mar, fragmentos de madeira, seixos, conchas, etc.) preparado em cerimônia especial simbolizando uma divindade.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS No livro O Folclore Negro do Brasil, Artur Ramos, resume assim o mito africano da origem dos deuses: “Pode-se dizer que é com o casamento de Obatalá (ou Oxalá), o céu, com Odudua, a Terra, que se iniciam as peripécias místicas dos deuses africanos da Costa dos Escravos. Destes consórcios nasceram Aganju, a terra, e Yemanjá, a água. Como nas velhas mitologias, aqui também, terra e água se unem, Yemanjá desposa o seu irmão Aganju e tem um filho, Orungan. Orungan, o Édipo africano, representante de um motivo universal, apaixonou-se por sua mãe, que procura fugir-lhe aos ímpetos arrebatados. Mas Orungan não pode renunciar àquela paixão incoercível. Aproveita-se, certo dia, da ausência de Aganju, o pai e decide-se a violentar Yemanjá. Esta foge e põe-se a correr, perseguida por Orungan. Lá este quase a alcança - quando Yemanjá cai ao chão, de costas. E morre. Então começa o seu corpo a dilatar-se e dos enormes seios brotam duas correntes d’água que se reúnem adiante até formar um grande lago. E do ventre desmesurado, que se rompe, nascem os seguintes deuses: Dada, deus dos vegetais; Xangô, deus do trovão; Ogun, deus do ferro e da guerra; Olokun, deus do mar; Oloxá, deusa dos lagos; Oyá, deusa do rio Niger; Oxun, deusa do rio Oxun; Oba, deusa do rio Oba; Orixá Okô, deusa da agricultura; Oxossi, deus dos caçadores; Oké, deus dos montes; Ajê Xalunga, deus da riqueza; Xapanan, deus da varíola; Orun, o sol; Oxu, a lua”.4 No culto, gegê-nagôs dos sudaneses, os terreiros são considerados templos. No Brasil, eles eram escondidos nas matas, escondidos em zonas de difícil acesso. Na África seus templos são em lugares públicos e abertos. No terreiro são preparados os fetiches, iniciadas as filhas-de-santo, celebrados os cultos comuns e as grandes festas. Os sacerdotes yorubanos (ou nagôs) chamam-se babalaôs, ou ababaloalôs, ou babalorixás. Além deles também existem as mães-de-santo, a yalorixá, coisa que na África é proibido. O culto dos bantos devido a possuir uma cultura inferior, sofreu forte influência dos cultos gegê-nagôs dos sudaneses. A divindade principal dos bantos era Zambi, na Angola, e Zambi Ampungo no Congo. O grão-sacerdote dos cultos bantos chamava-se Quimbanda (ou Ki-mbanda) – médico, adivinho e feiticeiro. Do mesmo 4. Citado por KLOPPENBURG, B. A Umbanda no Brasil. São Paulo: Editora Vozes, 1961, p.13.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS radical mbanda vem também a palavra Umbanda, que pode significar o feiticeiro ou sacerdote ou também o local do rito. O lugar do culto banto, como também o é para os sudaneses, é conhecido por terreiro, entretanto muito mais simples que o dos sudaneses. O que distingue o culto banto dos nagôs é o culto aos antepassados. Os babalorixás sudaneses entram em transe e incorporam os orixás; mas os sacerdotes bantos são tomados de espíritos familiares ou de antepassados. São os “pretos velhos”, guias espirituais, que dirigem as cerimônias.

Foto de um navio Negreiro do Brasil. Repare nos canhões. Além do tráfico, o navio poderia praticar a pirataria.

1.2 QUEM SÃO OS ORIXÁS

De acordo com o Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros de Olga Cacciatore, os orixás são divindades intermediárias entre Olorum (o deus supremo) e os homens. Na África eram cerca de 600 − para o Brasil vieram talvez uns 50, que estão reduzidos a 16 no Candomblé, dos quais só 8 passaram para Umbanda. Muitos deles são antigos reis, rainhas ou heróis divinizados, os quais representam as vibrações das forças elementares da natureza − raios, trovões, tempestades, água; atividades econômicas, como caça e agricultura; e ainda os grandes ceifadores de vidas, as doenças epidêmicas, como a varíola, etc. 16

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS 1.3 OS ORIXÁS E O SINCRETISMO

Segundo o Dicionário Aurélio, sincretismo é a “amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas” ou “fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um só elemento, continuando perceptíveis alguns sinais originários”. Assim, o sincretismo religioso existente entre os escravos, terá um aspecto significante nos cultos afros. O fetichismo africano sofreu influência do espiritismo, das religiões indígenas e, sobretudo do catolicismo. O africano trouxe de sua terra as suas crenças e, aqui no Brasil foram obrigadas a aceitar outra religião, o catolicismo. Externamente aceitavam a “nova religião” imposta pelos seus senhores, mas intimamente continuavam com suas crenças e práticas. Ele incorporou o catolicismo ao seu sistema mítico-religioso, transformando-se assim, o fetichismo numa vasta religião politeísta, onde os orixás foram amalgamados com os santos da nova religião que lhe foi imposta. Muitos dos orixás nos cultos afros encontrarão no catolicismo um santo “correspondente”, por exemplo: Exu – diabo Iemanjá - Nossa Senhora Ogum - São Jorge Iansã - Santa Bárbara Iemanjá - Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Oxóssi - São Sebastião Oxalá - Jesus Cristo - Senhor do Bonfim Omulú - São Lázaro Ossain - São Benedito Oxumaré - São Bartolomeu Xangô - São Jerônimo

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Também presentes nos cultos afro-brasileiros estão espíritos que representam diversos tipos de humanos falecidos, tais como: caboclos (índios), pretos velhos (escravos), crianças, marinheiros, boiadeiros, ciganos, etc.

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AS ORIGENS DO CANDOMBLÉ, UMBANDA E QUIMBANDA 2.1 CANDOMBLÉ

Candomblé é uma dança religiosa, através da qual as pessoas homenageiam seus orixás. É literalmente o culto dos orixás. A presença do orixá é necessária tanto na Umbanda como no Candomblé. Os nagôs, grupo de africanos oriundos da Nigéria deram origem ao Candomblé, que é muito diferente da Macumba, do Maracatu, da Quimbanda e da Umbanda. Esta última é uma forma de culto afro inteiramente brasileiro. Segundo Tácito da Gama Leite Filho a palavra Umbanda origina-se de “Kandombile (culto e oração)”, mas também pode referir-se “às danças dos escravos nas fazendas ao som de atabaques”.5 No candomblé o cerimonial é diferente dos demais cultos afros. Os segredos são passados de geração em geração, através da família. Assim, palavras, músicas e certos aspectos dos rituais foram conservados. A ritualística se divide em duas partes: os preparativos para o culto, em que se iniciam até dois dias antes, sendo um ritual secreto, e as cerimônias do culto. Tudo é bem organizado, cada grupo tem seu líder que coordena os trabalhos, orientando e cuidando para que tudo transcorra de maneira satisfatória. Geralmente uma festa de Candomblé começa com a matança de animais, em meio aos cânticos e danças sagradas. O sangue dos animais é aspergido sobre as pedras dos orixás secretamente. Qualquer cerimônia é aberta com cânticos rituais 5. LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas Mágico-Religiosas. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994, p. 51.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS a Exu. Qualquer oferenda precisa ser precedida das oferendas a Exu. Nessas festas, os orixás baixam obrigatoriamente, primeiro no pai-de-santo ou mãe-de-santo; depois nos demais filhos ou filhas-de-santo. Quando o orixá se incorpora, cumprimentam-se com o abraço umbandístico – ombro direito/esquerdo, em seguido é cantado os pontos para a entidade do dia. Aqui se faz necessário um esclarecimento importantíssimo. Nos terreiros de Umbanda não é comum baixarem ou incorporarem os Orixás. Quem incorpora são as entidades consideradas inferiores aos Orixás: pretos velhos, caboclos, crianças e exus. O orixá só baixa quando é previamente invocado. 2.2 UMBANDA

A palavra Umbanda é de origem africana e designava originariamente o grão-sacerdote do culto banto ou também o evocador dos espíritos ou o feiticeiro. Apresenta-se como um sincretismo exótico de práticas fetichistas e ritos católicos, deuses africanos e santos católicos, doutrinas kardecistas e ensinamentos cristãos. Se a Umbanda fosse um movimento puramente cultural ou étnico, com a exclusiva finalidade de conservar ou mesmo reintroduzir tradições, usos ou costumes africanos, ameríndios ou outros quaisquer de caráter folclórico arreligiosos, mas permanecendo nos limites da moral natural, ela não seria um problema da Igreja, mas do Ministério da Educação e Cultura. Entretanto, a Umbanda se apresenta primariamente como um movimento religioso. Os elementos culturais que ela apresenta ou fomenta, são todos eles impregnados de idéias nitidamente religiosa e estão em função quase exclusiva destas idéias. O que pode coexistir pacificamente em um só indivíduo é a cultura e religião, porém, é impossível a união harmoniosa de duas ou mais religiões distintas num mesmo ser racional e pensante. O sincretismo religioso é um absurdo filosófico e só pode ser defendido por quem desconhece os elementos essenciais da religião. Pode ser possível ser ao mesmo tempo cristão e japonês, não é, todavia, admissível ser ao mesmo tempo cristão e budista. Pode alguém ser cristão e árabe, mas não cris20

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS tão e muçulmano. Isso porque sua doutrina sobre Deus é panteísta, e como tal contesta e deve contestar toda uma longa série de verdades cristãs: Nega a Trindade; nega a existência de um Deus pessoal e distinto do mundo; nega a doutrina cristã a respeito da origem e da criação do Universo; nega a criação da lama humana; nega a divindade de Jesus Cristo, etc. Em sua doutrina sobre o homem, a Umbanda endossa a doutrina espírita kardecista da reencarnação, contestando mais outra seqüência de verdades claramente ensinadas por Cristo. Nega a redenção pela paixão e morte de Cristo; nega a graça de Deus e toda a doutrina cristã do sobrenatural; nega a unicidade da vida terrestre; nega o juízo particular e o final depois da morte; nega a existência do inferno, etc. A Umbanda identifica-se substancialmente com o Espiritismo, pois praticam evocação dos espíritos (necromancia), tentam colocar os espíritos direta e sensivelmente ao serviço do homem (magia) e aceitam a teoria da reencarnação. 2.3 QUIMBANDA

Quando da chegada dos escravos no Brasil, todos conheciam a palavra Umbanda e principalmente Quimbanda -muito mais usada- corrente entre eles para designar os “sacerdotes do fetiche”. 6 Com o passar do tempo, Quimbanda se tornou uma variante da Umbanda. Assim, a Quimbanda ficou sendo conhecida como a imagem invertida da Umbanda. Tudo que se passa no reino da Umbanda, que se intitula magia branca (a do bem), tem o seu equivalente na Quimbanda, que é denominada de magia negra (a do mal). Segundo Tácito da Gama Leite Filho “não há razão para desvincular a Quimbanda da Umbanda, a não ser o interesse das umbandistas de oferecerem ao povo uma imagem positiva da sua religião, como praticando apenas o bem”.7 Umbanda e Quimbanda vivem entrelaçadas. 6. Quando, no século XV, os portugueses se encontraram com os nativos africanos, verificaram que eles veneravam uns objetos fora do comum, de formas humanas uns, outros simples enfeites trazidos no peito, nos pulsos, por todo o corpo, e deram o nome a estes objetos de “feitiço”. Hoje a palavra “fetiche” designa um objeto animado ou inanimado, feito pelo homem (feiticeiro) ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto. 7. LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas Mágico-Religiosas. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994, p. 62.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Sendo a Umbanda mais conhecida do que a Quimbanda seria de se presumir que esta fosse originária daquela. Mas, é exatamente ao contrário. A Quimbanda precede a Umbanda.

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ESPIRITISMO KARDECISTA 3.1 HISTÓRICO

No ano de 1925, em Paris, na França foi aprovado no Congresso Internacional de Espiritismo a construção de um monumento comemorativo, na cidade de Hydesville, Estados Unidos, para solenizar as primeiras manifestações espíritas, que ocorreram no dia 31 de março de 1848, nas pessoas das irmãs Margarete e Kate Fox. O monumento recebeu depois as seguintes inscrições: “Erigido a 4 de dezembro de 1927 pelos espiritistas de todo o mundo, em comemoração da revelação do espiritismo moderno em Hydesville, Nova Iorque, a 31 de março de 1848, em homenagem à mediunidade, base de todas as demonstrações sobre que se apóia o espiritismo. A morte não existe. Não há mortos”.8 Para recordar as irmãs Fox, gravaram numa lápide de mármore as seguintes palavras: “Aqui nasceu o movimento espiritista moderno. Neste lugar estava, em Hydesville, a casa de habitação das irmãs Fox, cuja comunicação mediúnica com o mundo dos espíritos foi estabelecida a 31 de março de 1848. A morte não existe. Não há mortos. Esta lápide foi colocada por Mme. Cadwallader”.9 Todo este acontecimento foi registrado na revista La Revue Spirite de novembro de 1928, p. 511512, sob o título de “Um grande acontecimento na história do espiritismo”. Com essas afirmações concluímos que as irmãs Fox foram as primeiras a entrarem em comunicação mediúnica com o mundo dos espíritos e que a partir dessa manifestação surge o movimento espírita moderno. 8. KLOPPENBURG, Boaventura. Espiritismo - Orientação para os Católicos. São Paulo: Editora Loyola, 1986, p. 13. 9. Mesmo livro citado, p. 13.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS 3.2 O MODERNO ESPIRITISMO

Em 1848 houve um recrudescimento do espiritismo na cidade de Hydesville, Estado de Nova Iorque, Estados Unidos da América. Uma família de sobrenome Fox alugara uma casa tida como assombrada na região. Nessa casa a família Fox se estabeleceu. Habitavam na casa Dr. João Fox, sua esposa Margarida, e suas duas filhas, Margarete cujo apelido familiar era Maggie, e Catarina, apelidada Katie. O casal Fox tinha dois filhos que moravam fora da casa paterna: David e Ana Leah (ou Lia), que era mais velha do que Maggie. Era um lugar muito pobre de casas e de humilde aspecto, geralmente construídas de madeira. Seus pais eram Metodistas. Tudo transcorria bem até meados de março de 1848, quando começaram a ouvir golpes nas portas e objetos se moviam de um lugar para outro em determinadas ocasiões; isto assustava as crianças. Às vezes a vibração era tanta que as camas tremiam. Nessa data, Margarete tinha 15 anos e kate 12. Finalmente na noite de 21 de março de 1848, a jovem Kate desafiou o poder invisível e repetia o barulho como estalar de dedos. O desafio foi aceito a cada estalar de dedos que era repetido, o que surpreendeu toda a família. Desta maneira foram informadas que o tal espírito era a alma de Carlos Ryan assassinado naquela casa e que fora enterrado na dispensa. A notícia de que era possível falar com os mortos através de seu espírito logo se espalhou e a casa da família Fox começou a ser freqüentada pelos vizinhos, que ali iam passar noites em consulta ao espírito. Dessa forma, se estabeleceu contato com o mundo invisível e a notícia correu se alastrando por outras partes. 3.3 OUTROS CONTINENTES

A partir de 1850 os “espíritos” indicaram uma nova maneira de se comunicar: bastava simplesmente que se colocassem ao redor de uma mesa, em cima da qual se poriam as mãos. Levantando um dos seus pés, a mesa daria (enquanto se recitava o alfabeto) uma pancada toda vez que fosse proferida a letra que servisse ao espírito para formar a palavra. 24

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Assim, pela primeira vez, em 1850 as mesas começaram a girar e a dançar nos Estados Unidos. Em pouco tempo as mesas girantes tomaram conta dos Estados Unidos, Canadá e do México. Em 1852 chegou à Escócia por intermédio de alguns médiuns americanos que ali chegara. Dali passou para Londres e conquistou a Inglaterra. Depois as mesas iniciaram o seu giro pelas cidades alemãs de Bremen, Viena, Berlim e Breslau. Em 1853 atravessou o Reno, invadiu Estrasburgo e entrou na França. Mesas, chapéus, pratos, bacias, cestas, tudo começou a locomover-se sob a proteção das mãos. Kloppenburg diz que “no Brasil as mesas começaram a dançar em 1853. O Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, foi o primeiro a publicar pela primeira vez sobre as mesas girantes da Europa e dos Estados Unidos, em sua edição de 14 de junho de 1853”. 10 3.4 ALLAN KARDEC E A CODIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO

A França logo se tornaria a pátria do ensino espírita. Ali surgiu o doutrinador do espiritismo, sobre cujos escritos se fundamentariam quase todos os espíritas do mundo. No dia 3 de outubro de 1804, nascia aquele que mais tarde seria o codificador do espiritismo moderno. Denizard Hippolyte Léon Rivail nasceu às 7 horas da noite, filho de Jean Baptiste Antoine Rivail, magistrado, juiz, e Jeanne Duhamel, sua esposa, moradores de Lyon. Seus primeiros estudos foram feitos em sua terra natal e inteirou a sua bagagem escolar, na cidade de Yverdun (Suíça), onde estudou sob a direção do famoso mestre Pestalozzi, de quem recebeu grande influência. Inúmeras vezes, quando Pestalozzi era solicitado pelos governos, para criar Institutos como o de Yvernun, confiava a Denizard Rivail o trabalho de substituí-lo na direção da escola. Bacharelou-se em Letras e Ciências e doutorou-se em Medicina, após completar todos os estudos médicos e defender brilhantemente sua tese. Conhecia perfeitamente e 10. KLOPPENBURG, Boaventura. O Espiritismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1960, p. 12.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS falava corretamente o alemão, o inglês, o italiano, o espanhol; tinha conhecimentos também do holandês e com facilidade podia expressar-se nesta língua. Com apenas 19 anos de idade, Denizard Rivail demonstrava grande interesse pelo magnetismo animal, um movimento da época chamado também de mesmerismo, porque fora criado pelo médico alemão Francisco Antônio Mesmer (17331815), que morava em Paris desde 1778. No ano de 1853 quando as mesas girantes e dançantes, vindas dos Estados Unidos invadiram a Europa, os adeptos do mesmerismo ou magnetistas de Paris, logo quiseram explicar com suas teorias magnéticas este curioso fenômeno. Em 1854 foi o ano em que pela primeira vez Rivail, ouviu falar nas mesas girantes, por intermédio do Sr. Fortier, magnetizador, com quem estabelecera relações, em virtude de seus estudos sobre o magnetismo. No ano seguinte, no começo de 1855, encontrou o Sr Carlotti, amigo de há vinte e cinco anos, que tornou a lhe falar desses fenômenos por cerca de uma hora com muito entusiasmo, o que, o fez despertar novas idéias. No fim da conversa disse-lhe: “Um dia serás um dos nossos. Respondeu-lhe: Não digo que não. Veremos mais tarde”.11 Em maio de 1855, Rivail foi à casa da Sra. Roger, encontrando com o Sr. Fortier seu magnetizador. Estavam presentes ali o Sr. Pâtier e a Sra. Plannemaison que lhe falaram desses fenômenos no mesmo sentido que usara o Sr. Carlotti. Rivail foi convidado a assistir às experiências que se realizavam na casa da Sra. Plannemaison, à rua Grande-Bateliére nº 18. O encontro foi assentado para terça-feira às 8 horas da noite. Foi ali que pela primeira vez que Rivail presenciou o fenômeno das mesas girantes, que pulavam e corriam, em condições tais que não houve mais dúvida nele. 12 Uma noite, através de um médium, seu “espírito protetor, deu-lhe uma comunicação toda pessoal, em que lhe dizia, de permeio a outras coisas, tê-lo conhecido em uma existência anterior, quando ao tempo dos Druidas, ambos viviam nas Gálias. Ele usava então o nome de Allan Kardec”. 13 11. KARDEC, Allan. Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 4. 12. Mesmo livro citado, p. 5. 13. Mesmo livro citado, p. 6.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Faleceu aos 65 anos de idade no dia 31 de março de 1869, sucumbido pela ruptura de um aneurisma. No seu túmulo em Paris foi colocado o seguinte epitáfio: “Nascer, morrer; renascer e progredir sempre. Esta é a lei”. A senhora Rivail contava com 74 anos quando seu esposo morreu. Sobreviveu até 1883, quando em 21 de janeiro, faleceu, com a idade de 89 anos sem deixar herdeiros diretos. 3.5 OBRAS PUBLICADAS

Rivail participava assiduamente das reuniões espíritas. Em cada sessão, ele levava perguntas pré-formuladas para que os espíritos lhe respondessem. Foi assim que decidiu reunir todas as informações que tinha sobre o espiritismo e a agrupou em uma série de leis, que os espíritos haviam lhe revelado, publicando no dia 18 de abril de 1857 uma obra com o nome de: Le Livre des Espirits (O Livro dos Espíritos). Este livro alcançou grande repercussão, esgotando rapidamente. Allan reeditou-o no ano seguinte, publicando conjuntamente, um periódico denominado Revue Spirite (Revista Espírita), o primeiro órgão espírita da França. Em primeiro de abril de 1858 fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Em 1859, publica “O que é o Espiritismo”. Editou o Livro dos Médiuns, que surgiu na primeira quinzena de janeiro de 1861, considerado como a obra mais importante sobre a prática do Espiritismo experimental. Em 1862 publicou uma Refutação de Críticas contra o Espiritismo, em abril de 1864, o Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo, que mais tarde foi alterado por o Evangelho Segundo o Espiritismo, com explicações das parábolas de Jesus, aplicação e concordância da mesma com o Espiritismo. Kardec interpreta os sermões e as parábolas de Jesus, interpretando de maneira que concorde com seus ensinos e com as crenças espíritas e animistas que sempre existiram. Em primeiro de agosto de 1865 lançou nova obra com o título de O céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, em janeiro de 1868, a Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, com a qual completa a codificação da doutrina espírita.

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ESPIRITISMO NO BRASIL 4.1 HISTÓRICO

No Brasil, o fenômeno das mesas dançantes se iniciou em 1853. Em suas investigações, Kloppenburg nos informa que “O Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, foi o primeiro a publicar pela primeira vez sobre as mesas girantes da Europa e dos Estados Unidos, em sua edição de 14 de junho de 1853”. 14 Duas semanas depois, no dia 30 de junho, o mesmo jornal informa sob o título de A Rotação Elétrica, os fenômenos que empolgavam Paris, depois de terem feito sucesso nos Estados Unidos, México, Londres, Viena e Berlim. No dia 2 de julho de 1853, o Diário de Pernambuco, editado no Recife informava seus leitores que, em Paris grande era a curiosidade da sociedade parisiense, que todos ficavam silêncio em torno das mesas esperando algum movimento.15 O jornal Cearense, de Fortaleza, na edição de 3 de julho de 1853, informava aos seus leitores sobre o modo como fazer girar as mesas. Este mesmo jornal, na edição de 19 de maio de 1854, informava sobre a evocação de almas por meio das mesas girantes, concluindo que “A evocação se faz por intermédio de um iluminado, a quem se dá o nome de médium”. 16 A primeira sessão espírita realizada no Brasil ocorreu em Salvador, Bahia, no dia 17 de setembro de 1865, sob a direção de Luís Olímpio Teles de Menezes. Neste mesmo ano, Teles de Menezes fundou na Bahia o primeiro Centro Espírita, denominado: Grupo Familiar do Espiritismo, que terá vida efêmera. Em 28 de novembro de 1873 membros do extinto Grupo Familiar do Espiritismo, fundando-se a Associação Espírita Brasileira. No ano seguinte, alguns sócios da 14. KLOPPENBURG, Boaventura. O Espiritismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1960, p. 12. 15. Mesmo livro citado, p. 13. 16. Mesmo livro citado, p. 14.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Associação fizeram surgir, sempre na Bahia, o Grupo Santa Teresa de Jesus. Foi assim que o espiritismo no Brasil conquistou adeptos, passando da mesa rodante para a mesa falante; da mesa inteligente à relação com os mortos; da comunicação com os mortos a novas revelações; destas revelações a uma nova religião, com doutrinas e práticas opostas ao Evangelho de Jesus Cristo.

4.2 DIVISÕES DO ESPIRITISMO NO BRASIL

Entre nós há três grupos de espíritas bem separados: a) O Espiritismo Kardecista; b) O Espiritismo Racionalista; c) O Espiritismo Umbandista. Espiritismo Kardecista- Que pode ser chamado de espiritismo ortodoxo. Aquele que está filiado à Federação Espírita Brasileira e para quem Allan Kardec é considerado o mestre divino. É o mais tradicional e o melhor organizado sendo o maior grupo. No livro Obras Póstumas, Allan Kardec relatou sua profunda inquietação em relação à unidade do espiritismo. Espiritismo Racionalista do Redentor- Surgiu em 1910, com o Luis de Mattos com o nome de Espiritismo Racional e Científico (Cristão), que tem sua sede principal no Rio de Janeiro. Ultimamente trocaram o nome para Racionalismo Cristão. Entre seus adeptos é chamado de Redentoristas, por causa do nome Redentor dado aos centros filiados. Sua maior especialidade é a cura e o fornecimento de prescrições médicas astrais. Possui templos suntuosos em várias regiões de São Paulo. Espiritismo Umbandista- Não tem uma data certa para sua aparição, no Brasil. Seita afro-brasileira que é divulgada mais como folclore do que como religião, embora advogue esta última condição. Formada pelo sincretismo de cultos afros, ameríndios e catolicismo europeu trazido pêlos portu29

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS gueses. Declara-se com o objetivo de desfazer os males invocados pela Quimbanda através de Exus. Evoca, diferenciado do Espiritismo Kardecista, os Orixás, seres elementares da natureza, mas evoca também os espíritos dos pretos velhos; e caboclos, que são segundo eles, os espíritos dos índios falecidos. Existem muitas outras organizações que não são diretamente espiritistas, mas que em suas práticas e doutrinas muito se aproximam do Espiritismo: 1. A Legião da Boa Vontade- Embora não estando filiada à Federação Espírita do Brasil, aceita a idéia de Alziro Zarur. Segundo o qual ele era a reencarnação de Allan Kardec. Não crê que Cristo tivesse corpo real e humano, seguindo a linha de pensamento de João Batista Roustaing. 2. Cultura Racional- Fundada por Manoel Jacintho Coelho em 1935 no Rio de Janeiro (Meyer), mais divulgada a partir de 1970 quando alcançou fama nacional. Aceita a metempsicose (retorno do espírito do falecido a seres inferiores). 3. Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento- Fundado em 1909, por Antônio Olívio Rodrigues. Possuem espalhados pelo Brasil milhares de tattwas ou centros. Aceita a doutrina reencarnacionista. 4. Ordem Rosacruz- Com suas várias organizações como: AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis). A fraternidade segue uma tradição mística egípcia. Alega ser originária do reinado de Amenhotep IV, imperador egípcio no ano de 1353 a.C., mais conhecidos como Akhenaton. A fraternidade Rosa-cruz de Max Heindel, a FRC (Fraternidade Rosae Crucis) de Clymer. A FRA (Fraternitas Rosacruciana Antíqua) de Krummheller ou a Igreja Gnóstica e a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz (Igreja Expectante do Sr. Léo Alvarez Costet de Mascheville).17 5. Teosofia- Fundada pela madame Helena Petrovna Blavatsky e Henry Steel ­Olcott, 17. Ver no volume 3, seitas secretas.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS em Adyar, Índia. No Brasil, são duas as Sociedades Teosóficas: a Sociedade Teosófica no Brasil (sede em São Paulo) e que é a Secção Nacional da Sociedade Teosófica Mundial; e a Sociedade Teosófica Brasileira (sede em São Lourenço, Minas Gerais). Ambas têm suas lojas ou Ramas espalhadas pelo Brasil. Por fim, poderíamos agrupar ainda as seitas orientais como Seicho-No-Iê, Igreja Messiânica Mundial, Arte Mahikari, Perfect Liberty; e também as seitas orientais provindas do hinduísmo, como movimento Hare Krishna, Meditação Transcendental, entre outras, todas adeptas do reencarnacionismo.

4.3 CAUSAS DA DIFUSÃO ESPIRITA NO BRASIL

Entre todas as nações do mundo, destaca-se o Brasil, internacionalmente conhecido como sendo o maior país espírita do Planeta. Para os espíritas é o Brasil o “Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho”.18 Não se pode contestar a presença do espiritismo no Brasil. Veremos agora os fatores que causaram, facilitaram ou permitiram a penetração das doutrinas reencarnacionistas e das práticas espíritas no Brasil: 1. A facilidade de abrir centros- Com a liberdade religiosa, cada um pode por

sua vontade abrir um centro ou formar novos grupos. Não há regulamentação e nem prescrição. O centro pode viver inteiramente independente e à vontade, e sem nenhuma orientação da Federação Espírita. 2. Liberdade de culto- A Constituição de 25 de março de 1824 previa, em seu

artigo 5º, que a “religião Católica Apostólica Romana continuará ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de Templo”. Dessa forma, a primeira Constituição brasileira era confessional e, apesar 18. Título dado a um livro psicografado por Francisco Cândido Xavier e “ditado pelo Espírito de Humberto Campos”.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS da consagração da liberdade de crença religiosa, não assegurava a liberdade de culto público, somente permitindo a religião Católica. Com o advento da primeira Constituição da República, o Brasil passou a ser um Estado laico e a consagrar ampla liberdade de crença e culto religioso. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso VI, consagra que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias”. Vale ressaltar, que o direito constitucional consagrado da liberdade de consciência e exercício pleno da prática religiosa só pode sofrer restrição do Poder Público, caso os cultos, pregações ou cânticos contrariem a ordem, o sossego e a tranqüilidade pública. Caso seja demonstrado, que a prática religiosa dos adeptos, pelo exagero de gritos e depredações no interior do templo (que não obteve para sua localização, autorização do Poder Público) vem perturbando o repouso e o bem-estar da coletividade, lícito é ao Município proibir tal prática em zona residencial da cidade.19 É por isso que os espíritas fazem questão de considerar o espiritismo como religião. 3. Você é um médium - precisa desenvolver-se- São as palavras dos espíritas quando se deparam com algumas pessoas com problemas ligados à insônia, tristeza, perturbação, arrepios e por aí diante. Logo a idéia do espírita é que essa pessoa está sob a pressão de espíritos opressores precisa desenvolver a mediunidade num Centro Espírita. E lá se vai o indivíduo cheio de esperança de ver-se livre desses incômodos inexplicáveis. Envolvendo-se com o Espiritismo, vem em seguida o temor de sair, julgando que as conseqüências serão fatais. 4. A grande saudade dos mortos- Essa saudade é habilmente explorada pelo espiritismo. 5. A ignorância religiosa do povo brasileiro- A ignorância religiosa do povo brasileiro favorece o avanço do espiritismo. Aos menos favorecidos dizem que o espiritismo é caridade, aos ignorantes apresentam-no como religião, aos intelectuais querem pintá-lo como Filosofia e Ciência. Prometem resolver e elucidar todos os problemas “cientificamente”. 19. Assim já decidiu o Tribunal de Justiça do Paraná em sua 1ª Câmara Civil.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS 6. Nomes retumbantes- Os nomes de eruditos, poetas e mesmo de apóstolos são

explorados com impudência. Olavo Bilac, Rui Barbosa, o apóstolo Paulo e todos os demais se tornam espíritas (depois da morte). 7. Fachada Cristã- O povo em geral é ignorante em se tratando de religião, mas

quer ser de Cristo. Basta, pois, apresentar a face de Cristo, para ter um mundo de seguidores. Por mais errônea e anticristã que seja uma doutrina, se for apresentada como “cristã”, terá adeptos. Esse é o motivo pelo qual temos no Brasil o “Espiritismo Cristão”. Repetem e propagam que o “Espiritismo e o Cristianismo ensinam a mesma coisa”, que “o Espiritismo é o mais puro e legítimo Cristianismo”. Dizem-se crentes, mas não aceitam a fé; timbram de cristãos, mas rejeitam o batismo; usam a Bíblia e atacam verdades bíblicas; admiram a Cristo e afirmam que ele não é Deus. 8. A curiosidade- É a mãe das ciências e, como tal, boa, mas pode ser desregrada

e levar à desgraça. Mas é uma inclinação natural, indiscutivelmente favorável ao Espiritismo, com seus fenômenos. 9. Religião mais cômoda- O homem por inclinação e natureza necessita duma

“religião”. O cristianismo é rígido e inflexível em seus princípios morais, exige sujeição e obediência nas questões essenciais e oferece uma sombria perspectiva de condenação depois da morte. O Espiritismo é mais liberal, não tem princípios sólidos e obrigatórios, nega o inferno e apresenta a oportunidade de novas encarnações. É, pois, uma religião menos exigente, mais fácil e mais cômoda.

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DOUTRINA ESPÍRITA 5.1 A VERDADEIRA RELIGIÃO

O Espiritismo reivindica ser uma religião. Afirma ser a “verdadeira religião”, superior a todas as outras, ainda que alguns de seus adeptos aleguem ser o Espiritismo apenas filosofia ou ciência. Vejamos algumas declarações do codificador do Espiritismo Allan Kardec: “O Espiritismo foi chamado a desempenhar um papel imenso na Terra. Reformará a legislação tantas vezes contrária às Leis divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo, que nas mãos dos clérigos se transformou em comércio e tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai direto a Deus, sem se deter às abas de uma sotaina ou nos degraus de um altar”.20 E ainda foi-lhe informado que “Aproxima-se a hora em que terás que declarar abertamente o que é o Espiritismo e mostrar a todos onde está a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. A hora em que, à face do Céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana”.21 Em outro de seus livros, escreveu que “aproxima-se a hora em que deverás apresentar o Espiritismo tal como é, demonstrando abertamente onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo, aproxima-se a hora em que, diante dos Céus e da Terra, terás de proclamar o Espiritismo como única tradição verdadeiramente cristã, única instituição de caracteres 20. KARDEC, Allan. Obras Póstumas – Obra Completa. São Paulo: Editora: Opus, p. 1175. 21. Mesmo Livro citado, p. 1178.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS autenticamente espirituais e humanos”.22 O Espiritismo alega ser a verdadeira religião do Cristo como foi revelado a Allan Kardec pelos espíritos. O cristianismo tem seus fundamentos históricos e doutrinários baseados na Bíblia. Qualquer movimento religioso que alegue ser cristãos deve ter seus ensinos confrontados com a Palavra de Deus para se verificar a veracidade dos mesmos e se, de fato podem ser chamados cristãos. 5.2 ESPIRITISMO E A BÍBLIA

É doutrina da Igreja que os Livros da Sagrada Escritura, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo e, portanto, têm a Deus por Autor. É uma das verdades fundamentais do cristianismo. Em todos os séculos, apesar de outras divergências entre os cristãos, todos sempre concordaram neste ponto básico. Verdade é que os espíritas citam também alguns textos da Bíblia. Mas é apenas como tática de propaganda entre os cristãos. Querem com isso produzir a impressão de que também respeitam a Bíblia e a tem em igual conta. Allan Kardec arroga ao Espiritismo a condição de ser a terceira revelação de Deus, que veio completar a revelação inicial dada a Moisés com o Antigo Testamento, complementada por Jesus com o Novo Testamento e concluída pelos espíritos. Declarou que: “Aproxima-se a hora em que deverás apresentar o Espiritismo tal como é, demonstrando abertamente onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo”.23 “A Lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Testamento a tem no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem mas pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma legião inumerável de intermediários”.24 Allan Kardec afirmou ainda no livro Evangelho Segundo o Espiritismo que “O 22. KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 519. 23. KARDEC, Allan. Obras Póstumas - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 1178. 24. KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 534.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa”. 25 Se o Espiritismo ensina as mesmas doutrinas que o Cristianismo, é de se esperar que os seus ensinamentos concordem com as palavras de Jesus e dos apóstolos. Assim sendo, resta-nos averiguarmos os fatos. Vejamos o que Kardec diz a respeito da Bíblia: “A Bíblia contém evidentemente fatos que a razão, desenvolvida pela ciência, não pode hoje aceitar, e outros que parecem singulares e que repugnam, por se ligarem a costumes que não são mais os nossos. A ciência levando as suas investigações desde as entranhas da Terra até as profundezas do céu demonstrou, portanto inquestionavelmente os erros da Gênese mosaica, tomada ao pé da letra, e a impossibilidade material de que as coisas se passassem conforme o modo pelo qual estão aí textualmente narradas, dando por essa forma profundo golpe nas crenças seculares”.26 Outro líder espírita, Léon Dennis, já é mais explícito. Declarou simplesmente que: “... não poderia a Bíblia ser considerada a palavra de Deus, nem uma revelação sobrenatural. O que se deve nela ver é uma compilação de narrativas históricas ou legendárias, de ensinamentos sublimes, de par com pormenores às vezes triviais”. 27 Com essas declarações do próprio codificador do Espiritismo a respeito da Bíblia, verifica-se que o Espiritismo ensina o oposto do Cristianismo. A própria Bíblia esclarece que ela não é simplesmente uma literatura inspiradora como os livros de Shakespeare, Milton, Homero ou um registro falível das palavras de Deus, mas que é a infalível Palavra de Deus (2 Timóteo 3.16; 2 Pedro 1.21). A palavra “inspirada”, no grego “theopneustos”, usada em 2 Timóteo 3.16, significa “Deus soprou”. Assim sendo, as Escrituras é soprada por Deus. Pedro falou que “a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21). Isto confirma que os escritores foram movidos por Deus para escrever aquilo que ele queria, 25. Mesmo livro citado, p. 530. 26. KARDEC, Allan. A Gênese - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 911. 81. DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB. 7 º ed., 1978, p. 267.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS portanto se Deus inspirou os escritos, concluímos certamente que são perfeitos e infalíveis. 5.3 DEUS

A doutrina espírita acerca de Deus é ambígua, ora assumindo aspectos deístas, ora aspectos panteístas, ora confundindo-se com o cristianismo histórico. No Livro dos Espíritos, Allan Kardec responde à pergunta sobre o “que é Deus” com a seguinte assertiva: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.28 A fim de explicar a existência de Deus, ele se vale da argumentação clássica deísta, de que “não há efeito sem causa”. Apela também para o “sentimento intuitivo que todos os homens carregam em si mesmos da existência de Deus”.29 De acordo com a concepção deísta, Deus teria criado o Universo e depois se retirado dele, deixando-o entregue à ação das leis físicas que, desde então, o governam, como se o Universo fosse um grande relógio. Deus seria, portanto, a causa primária do Universo, porém não está imanente nele; qualquer contato com a divindade é impossível. Por outro lado o próprio Kardec afirma que “Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom”.30 Este conceito que Kardec declara acerca de Deus, corrobora com o que o Cristianismo afirma em relação a alguns atributos de Deus. Porém o fato de uma determinada religião ou seita ter pontos em comum com o Cristianismo bíblico não é suficiente para que lhe seja conferido o título de cristã. 5.4 A CRISTOLOGIA NO ESPIRITISMO

Allan Kardec deixou um estudo sobre a natureza de Cristo no livro, Obras Póstumas, que nos ajudará a entender seu pensamento sobre Jesus. Ao interpretar o texto que escreveu o apóstolo João “no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com 28. KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos - Obras Completas. São Paulo: Editora Opus, p. 50. 29. Mesmo Livro citado, p. 51. 84. KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos - Obras Completas. São Paulo: Editora Opus, p. 52.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Deus, e o Verbo era Deus”, ele diz que “primeiramente é preciso notar que as palavras citadas acima são de João e não de Jesus. Admitindo-se que não tenham sido alteradas, não exprimem na realidade, senão uma opinião pessoal, uma indução que deixa transparecer o misticismo habitual, contrário às reiteradas afirmações do próprio Jesus”.31 Para os espíritas, Jesus não passa de um modelo ideal da perfeição moral; alguém em quem Deus depositou a sabedoria Divina e o mestre por excelência no ensinamento da Lei de Deus. Por sua bondade e pureza, Jesus teria recebido o Espírito do próprio Deus, não sendo o próprio Deus como Kardec deixou escrito: “Se Jesus ao morrer, entrega sua alma nas mãos de Deus, é que ele tinha uma alma distinta da de Deus, subordinada a Deus e, portanto, ele não era Deus”.32 Mário Cavalcanti de Mello escreveu que “em face de tantas, provas, J. Cristo, a quem os espíritas veneram, não é Deus, não é a segunda pessoa da SS. Trindade”.33 Ao contrário do espiritismo, professam todos os cristãos que Jesus Cristo é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. A divindade de Jesus é fundamental para a fé cristã. Jesus afirmou repetidas vezes a sua natureza divina, tendo sido confirmada pelos apóstolos e demais evangelistas do Novo Testamento. Várias vezes lemos em seu Evangelho, que os judeus estavam dispostos a matar Jesus (João 5.18; 10.30-33) e principalmente João 8.58-59 (comparado com Êxodo 3.14), quando Jesus se identificou como sendo o Eu Sou desta última passagem.34 5.5 TRINDADE

Quanto à existência do Pai, do Filho e do Espírito Santo – três Pessoas distintas em uma unidade – uma das doutrinas fundamentais do cristianismo bíblico e histórico que o distingue de todas as demais religiões e da maioria das seitas. Léon Denis, o filósofo do espiritismo assim atacou essa doutrina: “Examinemos os principais dogmas e mistérios, cujo conjunto constitui o ensino das Igrejas cristãs. 31. KARDEC, Allan. Obras Póstumas - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 1152. 32. KARDEC, Allan. Obras Póstumas - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 1146. 33. Ver volume 3, do Curso de Teologia Básico, o capítulo sobre a Divindade de Jesus. 88.Ver volume 3, do Curso de Teologia Básico, o capítulo sobre a Divindade de Jesus.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS Encontramos a sua exposição em todos os catecismos ortodoxos. Começa com essa estranha concepção do Ser divino, que se resolve no mistério da Trindade, um só Deus em três Pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Essa concepção tributária tão obscura, incompreensível...”. 35 A doutrina da Trindade sempre enfrentou dificuldades e, portanto, não é de se admirar que a Igreja, em seus esforços para formulá-la, tenha sido repetidamente tentada a racionalizá-la sofrendo com isso ataques dos mais diversos. A maioria dos comentadores bíblicos das Escrituras que possuímos em mãos (excluindo a literatura herética), a qual temos a oportunidade de manusear que discorreram sobre a Trindade, que é Deus, expuseram sua doutrina conforme as Escrituras nestes termos: “o Pai, o Filho e o Espírito Santo perfazem a unidade divina pela inseparável igualdade de uma única e mesma substância. Não são, portanto três deuses, mas um só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Filho não é o que é o Pai. O Filho foi gerado pelo Pai, e assim, o Pai não é o que o Filho é. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho”. 36 5.6 A REDENÇÃO

Ao escrever aos efésios, o apóstolo Paulo explicava que “é pelo sangue de Jesus Cristo que temos a redenção, a remissão dos pecados, segundo a riqueza de sua graça que ele derramou profundamente sobre nós” (Efésios 1.7). Nossa redenção pela paixão, morte e ressurreição de Jesus é outra verdade fundamental da fé cristã. Nisso consiste a “boa nova” ou o “evangelho”. Segundo Allan Kardec, cada um deve ser seu próprio redentor através do sistema de reencarnações. Daí esta doutrina: “toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não o for em uma existência sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que resgata seu débito numa existência não terá necessidade de pagar segunda 35. DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB. 7 º ed., 1978, p. 72. 36. Ver volume 2, do Curso de Teologia Básico, o capítulo sobre a Trindade, p.18.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS vez”.37 Por isso no espiritismo a soteriologia (doutrina da salvação do homem) é deslocada da cristologia para a antropologia. Léon Denis o enuncia quando escreve: “Não, a missão do Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal”. 38 Na doutrina espírita, a graça é coisa que não existe porque seria uma injustiça, mas não para os que aceitam as Escrituras como revelação de Deus. Paulo afirma que a nossa redenção é feita por Cristo (1 Timóteo 1.15) e que seu sangue nos purifica do pecado (Hebreus 7.25; Efésios 1.7).

37. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 728. 38. DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB. 7 º ed., 1978, p. 85.

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS AVALIAÇÃO DE SEITAS ESPÍRITAS E AFROS

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1. Os estudiosos costumam dividir os negros vindos para o Brasil em dois grandes grupos, quais? 2. De onde vieram os sudaneses e os bantos? 3. Para a religião dos yorubas ou nagôs, existe uma divindade suprema no Universo, qual é o seu nome? 4. Como são chamadas as divindades inferiores ou secundárias para os yorubas? 5. No culto gegê-nagôs dos sudaneses como são chamados os terreiros? 6. Como são chamados os sacerdotes yorubanos? 7. De acordo com o Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros de Olga Cacciatore, quem são os orixás? 8. O que significa a palavra “sincretismo”? 9. O que é o Candomblé? 10. Como se divide a ritualística no Candomblé? 11. A Umbanda nega várias doutrinas ensinadas por Cristo, quais são elas? 12. O que significa a palavra Quimbanda? 13. Com o passar do tempo como ficou conhecida a Quimbanda? 14. Quando as mesas começaram a girar e a dançar nos Estados Unidos? 15. Quando as mesas começaram a girar e a dançar no Brasil? 16. Em que ano foi que pela primeira vez Rivail ouviu falar nas mesas girantes? 17. Qual foi a mensagem que Rivail recebeu através de um médium? 18. Como Rivail passou a se chamar? 19. A primeira sessão espírita realizada no Brasil ocorreu onde e quando? 20. Como está dividido o Espiritismo no Brasil?

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SEITAS ESPÍRITAS E AFROS 21. Quais são as outras organizações que em suas práticas e doutrinas se aproximam do Espiritismo? 22. Cite 3 causas da difusão espírita no Brasil: 23. O Espiritismo reivindica ser uma religião? 24. O que Kardec diz a respeito da Bíblia? 25. Explique a doutrina da redenção no espiritismo?

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REFERÊNCIAS CACCIATORE, Olga Gudolle. Dicionário de culto afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB. 7 º ed., 1978 KARDEC, Allan. Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus. KLOPPENBURG, Boaventura. A Umbanda no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1961. ________. O Espiritismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1960. ________. Espiritismo – Orientação para os Católicos. 6ª ed. São Paulo: Loyola, 1997. LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas Mágico-Religiosas. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994. Novo Dicionário Aurélio. Positivo Informática, 2004. SILVA, Milton Vieira da. Conhecendo os cultos Afros. Curitiba: A.D. Santos, 1999.

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