SANTA
#03
art magazine
Alex Lima Cai Guo-Qiang Claudio Edinger Fayga Ostrower Geração 0 Marepe Marina Marchetti Otavio Shipper Patricia Thompson Thiago Barros
Loretta Lux
cerebelo
6 <:CI>A 86G>D86 G? 6AB68wC G? 6AB:>96 96A: HE 6B6G:ADC:<GD G? 6BE6GD +% E: 6C>I6 H8=L6GIO G? 6GI: *, HE 6GI: :B 9D7GD G? 6I=:C6 G? 76Gâ 8GJO HE 7:G:C>8: 6GK6C> HE 7:G<6B>C HE 7DAH6 9: 6GI: 9: EDGID 6A:<G: GH 86GB>C=6 B68:9D B< 86H6 IG>ÙC<JAD HE 8:AB6 6A7JFJ:GFJ: B< 8=DFJ: 8JAIJG6A HE 96C <6A:G>6 HE 98DC8:EI HE 9:8D HE 9GDEO HE :9J6G9D = ;:GC6C9:H HE :A BJH:D 8DAãB7>6 :BB6 I=DB6H HE :HE6vD :A>6C6 7:C8=>BDA G? ;6HH HE ;:GC6C9D EG69>AA6 :HE6C=6 ;DGI:H K>A6v6 HE <67>C:I: 9: 6GI: G6FJ:A 6GC6J9 HE <6A:G>6 9: 767:A HE <6A:G>6 :HI6vÀD HE <8 :HIJ9>D 9: 6GI: 6G<:CI>C6 <JHI6KD G:7:AAD 6GI: G? =#6#E# <6A:G>6 G? =>A96 6G6å?D HE =DGG68= BDN¿ :HE6C=6 >CHI>IJID BDG:>G6 H6AA:H HE >E6C:B6 G? >H67:A 6C8=DG:C6 6G<:CI>C6 ?:6C 7D<=>8> G? ?D6C <J6>I6 :HE6C=6 A6JG6 B6GH>6? G? A:B: HE A:BDH 9: HÛ B< AJ8>6C6 7G>ID HE AJ>H6 HIG>C6 HE B6CD:A B68:9D B< BÛG8>6 76GGDOD 9D 6B6G6A G? B6G>6C6 BDJG6 E: B6G>A>6 G6OJ@ HE BÛG>D H:FJ:>G6 EDGIJ<6A B:G8:9:H K>:<6H G? B:O6C>CD HE B>AA6C HE BãC>86 ;>A<J:>G6H HE BJG>AD 86HIGD B< C6G6 GD:HA:G HE CDK:B7GD G? E6JAD 96GOw 76 E6JAD @J8ONCH@> HE E>C6@DI=:@: 8JAIJG6A G?$HE EDA>CwH>6 HE EDCI:H HE EGD?:8ID$H HE EGD<:II> G? G=NH B:C9:H B< G>86G9D 86B6G<D HE GDC>: B:HFJ>I6 G? H:G<>D 86G>7w HE H>AK>6 8>CIG6 7DM ) G? HN8DBDG: 6GI ;G6Cv6 HI:>C:G HE HJG JGJ<J6> I:BED G? I:G:H6 6C8=DG:C6 6G<:CI>C6 I=DB6H 8D=C HE K>G<>A>D HE K6AJ DG>6 HE K:GB:A=D HE M6K>:G ;>DA :HE6C=6
he"VgiZ$ '%%. & )"&, B6> ;:>G6 >CI:GC68>DC6A 9: 6GI: 9: HÀD E6JAD E6GFJ: 9D >7>G6EJ:G6 E6K>A=ÀD 7>:C6A LLL#HE"6GI:#8DB
E6IGD8>C69DG:H B6HI:GH
76
6ED>D
77
Felipe Cama, Gobbis x Elaine, 2008 - Fotografia, impressão lenticular (detalhe)
TORNE-SE UM COLECIONADOR DE ARTE CONTEMPORÂNEA Associe-se ao Clube de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo e adquira obras inéditas de artistas que trabalham ou experimentam este meio. Ao se associar você recebe, a cada ano, cinco trabalhos concebidos especialmente para o MAM por artistas selecionados pela curadoria.
INFORMAÇÕES:
Tel: 11 5085-1406 clubedafotografia@mam.org.br www.mam.org.br
78
EDIÇÃO 2009: Adriana Varejão Felipe Cama João Castilho Rosângela Rennó Tony Camargo
79
Direção de arte | Sergio Mauricio Foto | Isabel Garcia Stylist | Ciro Midena Beleza | Erica Monteiro
EXPEDIENTE # 2 novembro de 2008
EDITOR
Sergio Mauricio sergiomauricio@utopos.com.br
DESIGN E ARTE
Sergio Mauricio Bady Cartier badycartier@utopos.com.br
ASSITENTE DE EDIÇÃO
Andrea Carvalho Stark santaeditorial@gmail.com
CONSULTORIA EDITORIAL
André Luiz Barros Danielle Corpas Nelson Ricardo Martins COMERCIAL
Rogério Randolph santacomercial@gmail.com
CONSULTORIA DE MÍDIA
Antonio Jorge A. Pinheiro midia1@midia1.com.br
PROJETO GRÁFICO
Utópos www.utopos.com.br
COLABORAÇÃO EM PRODUÇÃO
Julia Dias Leite COLABORADORES
Alécio de Andrade Ana Holck Cauê Alves Cildo Meireles Felipe Barbosa Felipe Hellmeister Gabriel Mendes Isabel Garcia Joana Estelita Jorge Guinle Luis Brunello Luiz Zerbini Marinho Mark Bresson Rosana Ricaldi Vicente de Mello Vik Muniz Xico Chaves CONSELHO CONSULTIVO
Ana Luisa Leite Cesar Oiticica Christian Rôças Danielle Corpas Fred Hortêncio Moacir dos Anjos Nelson Ricardo Martins Pedro Karp Vasquez Roberto Meirelles Walter Carvalho Wilson Lázaro AGRADECIMENTOS
Alberto Saraiva Armando Strozenberg Balthazar de Andrade Casa do Saber Celso Fioravante Cristina Magalhães Pinto Cristina Zappa Duda Carvalho Edson Cunha Neto Erica Beninkasa Fabio Ghivelder Felipe Rodrigues Fernando Maia Fernando Prado Florêncio de Andrade Frederico Coelho Instituto Moreira Salles João Cruz Joana Estellita Lucas Blalock Luciana Caravello Luciano Trigo Márcia Manccini Marcos Prado Marina Ribas Mercedes Viegas Nanci e Osvaldo Corpas Patrícia Newcomer Pólo de Pensamento Contemporâneo Rogério Reis Sergio Burgi Sula Danowski Sylvia Martins Tatiana Ribeiro Trio Studio Vanda Mangia Klabin Waldir Simões de Assis Filho APOIOS
Artsalon online – art for new collectors www.artsalon.wordpress.com
Funarte LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO
Editora 360º IMPRESSÃO
Gráfica Santa Marta www.graficasantamarta.com.br
PAPEL
Suzano www.suzanoholding.com.br
08 20 22 38 40 52 54 60 68 72 80 84 88 94
DEPOIMENTO INÉDITO
JORGE GUINLE
A ARTE BRASILEIRA VAI AO PARAÍSO
Uma conversa com CILDO MEIRELES FOTOGRAFIAS
ALÉCIO DE ANDRADE CONDOMÍNIO
FELIPE BARBOSA Vik Muniz fez a imagem de Nossa Senhora
PICTURES OF GARBAGE
VIK MUNIZ
das Graças emergir de madeiras de móveis e portas, do ferro retorcido, dos tijolos e de pedaços de parede. Era o entulho da reforma
O NAVEGANTE
ROSANA RICALDE
da sede da Casa Daros, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Mas a aparição lhe surgira antes, sobre uma porta daquele mesmo casarão
PRETO NO BRANCO
MARINHO
de 1866, criado como um Recolhimento das Órfãs, e cuja reforma termina em fins de 2009. “Há muito tempo minha mãe pede que
URBAN PUNS
GABRIEL MENDES METRÔ
FELIPE HELLMEISTER
eu faça uma santa. Quando a vi na Daros, tive um insight”, diz.
O resultado, um trabalho de 18 x 14 m, transformado em foto de 2,30 x 1,80 m que ilustra a capa desta SANTA, é a primeira obra
CINEMA ATMOSFÉRICO
VICENTE DE MELLO
do acervo da Casa Daros carioca (a matriz é na Suíça). Em janeiro, uma mostra no MAMRJ trará a série Pictures of Garbage, que
ELETROENCÉFALOVÍDEOSCÓPIOFONE
ilustra as páginas 40 a 51.
XICO CHAVES
Em um galpão no bairro de Parada de Lucas,
CANTEIRO DE OBRAS
ANA HOLCK
em duas semanas, Vik reviveu a santa – a mesma que apareceu em 1830 para a noviça Catarina de Labouré, das Irmãs de Caridade,
EXCHANGING GLANCES
ISABEL GARCIA
em Paris. A imagem é também a da famosa Medalha Milagrosa, alvo de peregrinação de fiéis no mundo todo. Para reanimá-la, Vik
ONDE ESTÁ O HOMEM DA CAVERNA?
MARK BRESSON
subiu alto: fotografou tudo de dez metros de altura, do teto do galpão.
SANTA art magazine
#03
É PAU, É PEDRA, LATA VELHA E URSINHO DE PELÚCIA
A
SANTA art magazine 2 é pau, pedra, pneu, lata velha, ursinho de pelúcia, refugos e entulhos. Nosso lixo civilizatório que, sob a batuta de Vik Muniz, transmuta-se em obras de arte. É de sua autoria a Nossa Senhora das Graças que ilumina a capa da SANTA 2. Também trazemos outras de suas imagens inéditas, todas feitas a partir do lixo. A obra de Vik Muniz em nossas páginas revela a verve de uma linguagem que mobiliza pela estética ilusória e pelas questões sociais, econômicas e ecológicas intrínsecas ao nosso modo de vida consumista e suicida. O número 2 da SANTA traz ainda um depoimento inédito de Jorginho Guinle. Durante 24 anos, essa gravação esteve numa velha e mofada fita de vídeo VHS. No depoimento, Jorge comenta com vivacidade e inteligência peculiares seu processo de trabalho, formula reflexões críticas e entretém o espectador com personalidade e simpatia cativantes. Na transcrição que publicamos agora, tentamos manter ao máximo a oralidade para não perdermos a verve tão espontânea que caracterizava o pintor. A SANTA 2 publica também uma parte da imensa obra de Alécio de Andrade, um genial poeta da fotografia que o Brasil pouco conhece – ele foi morar na França muito jovem e lá desenvolveu seu fecundo trabalho. Suas fotografias são puro deleite estético.
Cildo Meireles também nos dá o ar de sua graça com o seu pensamento afiado, inteligente e provocativo. O artista atira algumas farpas em várias direções e nos mostra a importância da crítica aguda e não domesticável. Seguindo em frente, paramos e olhamos para as estrelas através dos óculos cósmicos de Xico Chaves. Ele nos conta que o homem não tem idade e que entre os meteoros e o nosso sangue não existe lá muita diferença. Xico nos ensina que somos seres geológicos e que fazemos parte de toda a estrutura mineral do planeta e do espaço. Trazemos também Ana Holck – com texto de Cauê Alves sobre o trabalho da artista plástica intitulado Em Obras. E ainda: a mescla antropológica entre a street art e seus personagens urbanos circundantes, fotografados por Gabriel Alves; o preto no branco metafísico e explosivo de Marinho; as belas fotografias românticas de Isabel Garcia; o mar revolto com nomes de oceanos de Rosana Ricalde; o condomínio modular de Felipe Barbosa; o ensaio intrigante e premiado, feito no Metrô paulista, de Felipe Hellmeister; as fotografias-seqüência de Vicente de Mello em sua série Cinema Atmosférico. Por fim, uma pergunta feita por Mark Bresson a partir de uma montagem fotográfica: Onde está o homem da caverna? Se alguém souber, por favor, nos informe.
Sergio Mauricio EDITOR
cerebelo A Santa #2 é dedicada a Vicente C. Martins. Na Santa #1, faltou agradecer a Gabriela Medeiros a ajuda para a publicação da matéria Xadrez Toy. Santa - Art Magazine é editada pela Cerebelo Artes. Impressa pela gráfica Santa Marta. O papel utilizado foi o couché matte 150g da Suzano.
A Santa aceita propostas de colaborações, que são avaliadas pelo seu conselho. Todas as opiniões expressas nos ensaios, matérias, entrevistas, depoimentos e artigos publicados são de inteira responsabilidade dos respectivos autores. É proibida a reprodução de imagens ou textos por qualquer meio. Endereço para correspondência: Praça Pio XI Nº 6 / 102. Jardim Botânico. CEP 22461-080. Rio de Janeiro – RJ – Brasil Cerebelo Artes Ltda. CNPJ: 09.448.968/0001-50. Rua Lauro Muller 116/704 parte. CEP 22290-160. Rio de Janeiro – RJ
M A R E P E
Foto | Edouard Fraipont
Marepe, Sem título, 2003, bolas de natal, 50 x 110 x 56 cm
CONSTRUÇÃO INCONCLUSA DE CARTOGRAFIA NOVA Moacir dos Anjos
A
s esculturas, instalações e performances
toneladas) para o interior do prédio da Bienal
Paulo, entre muitos outros lugares, a depender
de Marepe traduzem, em uma linguagem
de São Paulo, quase dois mil quilômetros dali
de onde se observa o mundo) está permeado
“internacional” da arte, objetos, situações e
afastado. Transformou, com esse ato, o que
pelo que lhe parece periférico e subordinado. Já
atitudes encontráveis no cotidiano de Santo
possuía serventia assentada para os moradores
se a ênfase fosse posta na última parte do slogan
Antônio de Jesus, cidade da Bahia onde nasceu
locais em campo aberto para os visitantes da
– “pelo menor preço” –, era cabível ler a frase
e vive. Frente ao poder homogeneizador da
mostra exercitarem seu desalento diante do
pintada como um comentário ácido sobre a
cultura global, o artista cuida de inserir, nas
que não conseguiam classificar de modo certo.
valorização simbólica e patrimonial de trabalhos
próprias vias onde esta reclama sua hegemonia,
Sobre essa parede feita de tijolos e de cimento
(incluindo, evidentemente, o seu próprio) depois
aquilo que pertence ao seu território doméstico
se destacava, ainda, pintada artesanalmente
que são inseridos em (ou transportados para)
e ao campo do afeto. Ocorre que não existe
em azul e amarelo, a propaganda de um
exposições de arte julgadas importantes, lugares onde quase tudo cabe.
correspondência unívoca entre sistemas culturais diversos, assim como não há entre sistemas
M
lingüísticos diferentes. Como conseqüência, inexiste transparência perfeita naquilo que é
oposições cegas entre geografias e
resultado dessas traduções, restando sempre
formações culturais diversas; em vez disso,
algo opaco e, portanto, intraduzível entre
absorve, traduz e lança, aos circuitos de
as formações culturais por ele postas em
difusão apropriados, os efeitos freqüentemente
confronto. Tal opacidade é proporcional ao
contraditórios dessa inevitável vizinhança. Para
desconhecimento tanto do que é próprio da vida
atingir tal intento, sua obra constantemente
ordinária da cidade natal de Marepe quanto dos
frustra as expectativas dos que esperam
conceitos e códigos que estruturam o campo da
reconhecer nela apenas o elogio do passado e
arte culta. Dessa forma, se o domínio da história
antigo e conhecido armazém onde seu pai
do periférico, em suposta oposição binária a um
e dos procedimentos canônicos da produção
trabalhara – Comercial São Luís –, oferecendo
tempo presente e a um território central, onde
visual contemporânea não basta para desvelar
Tudo no mesmo lugar pelo menor preço (2002),
os primeiros evocariam uma vida apegada a
os significados possíveis de seus trabalhos, o
confirmação de uma vontade de atrair o outro e
modos de vida particulares e os segundos, uma
fato de os habitantes de Santo Antônio de Jesus
de negociar mercadorias variadas. Deslocado e
adesão a uma genérica arte internacional. Por
reconhecerem a procedência e a função de
destituído de sua utilidade original, a primeira
meios variados, o artista constrói laços ou propõe
cada utensílio, imagem ou gesto apropriados
parte desse slogan – “tudo no mesmo lugar”
associações possíveis entre a defesa do vernacular
pelo artista não os torna, por isso, melhores
– parecia recordar o quanto o local (Santo
e o desejo pelo cosmopolita, entre o que importa
entendedores de sua obra. Diante dos trabalhos
Antônio de Jesus, entre muitos outros lugares)
à sobrevivência e o que é somente representação
de Marepe, parece estar-se sempre longe ou perto
está embebido de toda parte. Podia igualmente
de algo. Instaura, assim, um espaço de “dissenso”
demais daquilo que, supostamente, os explicaria
ser lido, porém, como uma afirmação que era
em meio a conceitos e idéias convencionais que
de modo acurado. E é justamente o desconforto
contradita pela própria ação do artista, posto que
ignoram os complexos modos de pertencimento
dessa posição que solicita a imaginação do
o deslocamento do pesado muro sugeria que as
vigentes no mundo contemporâneo. Espaço que
observador para conferir sentidos ao que o
coisas, mesmo as supostamente fixas, não estão
é esboço da cartografia nova e inconclusa de um
artista faz, ainda que estes sejam provisórios e
sempre no mesmo lugar, mas, ao contrário, em
mundo que une Santo Antônio de Jesus a tantos
parciais.
potencial movimento. Se não tanto, indicava
mais lugares que repartem, com a cidade de
ao menos que esse lugar onde todas as coisas
Marepe, a incerteza de sentidos com que se lida,
oucas vezes esse apelo foi tão marcado
estão é um território de fronteiras flexíveis, que
forçosamente, no cotidiano comum e no campo
como quando transportou o fragmento
se contraem e se distendem continuamente. O
ampliado da arte.
de um muro de sua cidade (dois metros de
deslocamento do muro de uma a outra cidade
altura, seis de extensão e pesando três e meia
informava, ademais, que também o global (São
P
10
arepe não cuida, portanto, de estabelecer
Moacir dos Anjos, é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.
Foto | Edouard Fraipont
Marepe, Sem título, 2003, bolas de natal, 90 x 90 x 65 cm 11
Foto | Marcus Leith
Marepe, 2002,220 bolas de cm, natal, 61 x 27 x 49 cm Diurno, 1983, Sem óleo Título, sobre tela, x 160 coleção particular 08 18
Foto | Marcus Leith
Marepe, Sem Título, 2002, bolas de natal, 70 x 50 x 26 cm - Cortesia: Galeria Fortes Vilaça 09
12
Foto | Edouard Fraipont
Marepe, Sem Título, 2002, bolas de natal, 29 x 50 x 30 cm 13
METRÓPOLES
THIAGO BARROS A desocupação do espaço
14
??????????????, ??????????????????????????????? 15
??????????????, ??????????????????????????????? 16
17
??????????????, ??????????????????????????????? 18
19
CAI GUO-QIANG
?????????, ????????????????????????????????? 20
24
?????????, ????????????????????????????????? 25
?????????, ?????????????????????????????????
23
28
?????????, ????????????????????????????????? 29
FAYGA OSTROWER
30
Sem título, 1950, Gravura em metal, água-tinta e água-forte em preto sobre papel, 19 x 16 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower
31
Mulheres no morro, 1948, Gravura em metal, água-forte em preto sobre papel, 15,7 x 11,6 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower
32
“Fayga Ostrower dedica-se à xilogravura, água-forte, água-tinta, etc. Sua dedicação lembra a de um Lívio Abramo. Tem ela alguma coisa de comum, aliás, com este último, o gosto da procura, do aperfeiçoamento técnico. Lívio é mais livre, mais impetuoso, de maior apaixonamento estético. E lança sua sonda mais longe. Mas em ambos há o mesmo ardor, a vontade concentrada de chegar a um resultado. Fayga Ostrower tateia ainda embaraçada por alguns preconceitos estéticos. Sua técnica é, entretanto, segura e invejável. A maneira com que usa simultaneamente, na mesma gravação, a águatinta, a água-forte e a tinta-seca não tem rival no Brasil. Nesse sentido, gravura como a Mulher é do maior interesse. A água-forte marca certos matizes, reforça o desenho com suas linhas, enquanto a água-tinta cria a atmosfera arrematando a composição. A ponta-seca completa certos detalhes, aveluda uma passagem num canto ou realça certa qualidade em outra extremidade. Fayga tem na água-tinta um meio técnico inteiramente submisso à sua vontade. O que ela faz com a aguada também é estupendo. Nas últimas coisas, já demonstra rara virtuosidade, sobretudo ao permitir o enriquecimento da parte propriamente voluntária do desenho e da composição por certos efeitos advindos quase ocasionalmente da reação do ácido, da ordem no emprego da água-forte ou da água-tinta, etc.”. Mário Pedrosa
33
Sem título, 1950, Gravura em metal, água-tinta e água-forte sobre papel, 20 x 14 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower
34
Sem título,1947, Gravura em metal, água-tinta e água-forte sobre papel, 14,5 x 11,7 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower
35
LORETTA LUX
38
?????????, ????????????????????????????????? 39
?????????, ????????????????????????????????? 40
41
42
?????????, ????????????????????????????????? 43
?????????, ????????????????????????????????? 44
45
46
?????????, ????????????????????????????????? 47
?????????, ?????????????????????????????????
MARINA MARCHETTI O modo como Marina Marchetti compõe suas fotos desfaz os referentes imediatos, desloca a direção do olhar, acentua a dimensão imaginária do campo visual, e convida a pensar um conjunto forte de percepções e relações. A seu modo, fotos que escapam da saturação de imagens gastas que se repetem e não cansam de se repetir no mundo em que vivemos. Um pouco ao modo de Gaston Bachelard, imagens que matam a imaginação. Não é mesmo o caso dessas fotos, que abrem justo a brecha por onde a imaginação pode passar.
?????????, ????????????????????????????????? 50
?????????, ?????????????????????????????????
IMAGENS DE UM TEMPO FORA DO TEMPO André Bueno
50
As fotos de Marina Marchetti pedem que se pense com
resulta. Ao tempo histórico que as figuras humanas
atenção a estranheza específica de sua composição. À
poderiam sugerir de imediato, se contrapõe um
primeira vista, a foto com as figuras humanas que se
tempo mais longo e mais forte, a meu ver o próprio
banham e se movem por entre as rochas sugere uma
tempo da longuíssima duração geológica das rochas,
alusão ao Jardim das delícias, de Hieronimus Bosch.
que ocupam sempre grande parte do campo visual.
Como a nossa memória cultural está sempre saturada
Essa maneira de composição que superpõe os tempos
de imagens já muito vistas e repetidas pela tradição,
desloca a percepção das figuras humanas, assim como
talvez fosse o caso. Mas me parece que se trata, se for
das plantas, que ficam como que desamparadas
o caso, apenas de uma alusão tangencial. O contraste
diante da presença forte das rochas, com suas fendas,
entre paraíso e inferno, mais que marcado por toda a
fissuras, relevos e reentrâncias. Efeito estético que é
iconografia da tradição cristã, está ausente das fotos,
acentuado pela presença dos granulados que derivam
que apontam, a meu ver, para outra direção do olhar.
do mofo, pontilhando com firmeza as imagens. E
Olho com atenção as fotos de Marina Marchetti que
ameaça, imaginemos, tomar conta de todo o campo
a revista Santa agora publica, e penso em um tempo
visual, dissolvendo de vez as figuras que se vê. Com
fora do tempo, que resulta do modo específico da
isso acentuando muito a fragilidade e o desamparo das
composição das imagens e do efeito estético que daí
figuras humanas.
Na foto 1, as figuras humanas muito claras que
se banham ou se situam ao longo das rochas, de fato representam um movimento ascendente, que pode ser situado nas águas escuras, até chegar ao topo da foto. Caso se queira, uma espécie de paisagem do paraíso perdido, solta no vazio, ao contrário das imagens da queda, da vida profana e da redenção, que apontam para outro tipo de narrativa. É como se as figuras humanas, desamparadas e muito claras, a qualquer momento pudessem desaparecer da visão, deixando em seu lugar apenas o vazio.
Na foto 2, a força do campo visual aponta
primeiro para as massas rochosas e o granulado do mofo, em seguida para a árvore ressecada e árida, e só depois o olho se volta para duas mínimas figuras, um pouco à direita e abaixo do centro da foto. Seriam o quê? Insetos? Abstrações reforçando o contraste? Ou então, como imagino, duas pequenas figuras humanas, uma delas podendo ser a de um homem vestido de linho branco, estranhamente desamparado e quase invisível diante da presença maciça da matéria e do tempo geológico? A força da foto, penso eu, deriva justo dessa contraposição de tempos, o tempo mais breve da vida e da figura humana, por definição fugaz e passageira, e o tempo da longa duração e formação da matéria rochosa. Também aqui, o desamparo é visível, sendo possível acrescentar ao desamparo uma curiosa forma de solidão serena, em que está ausente algum plano divino de salvação.
53
A foto 3 tem o mesmo princípio de composição
– a presença forte da matéria rochosa e do tempo geológico, acentuada pelo granulado que resulta do mofo –, mas nela se acrescenta, digamos assim, um efeito estético lírico, a seu modo muito bonito, que é dado pela presença, mais para o alto, um pouco à direita da foto, de flores brancas e vivas. Cabendo acrescentar que lirismo muito frágil e delicado, apenas um traço fugaz da beleza em meio à força compacta da matéria rochosa.
Na foto 4, como as outras tendendo de modo
marcado à abstração, o contraste da composição monta um efeito estético a meu ver também lírico, de uma beleza fugaz e desamparada, que se vê na figura da bailarina de sapatilhas, com os braços erguidos, como que dançando à beira do abismo. Ao mesmo tempo em que a figura também parece curiosamente inscrita no relevo da rocha. Também aqui, a foto aponta para um tempo fora do tempo, já que a figura da bailarina está deslocada de qualquer contexto cotidiano que a situasse e referisse em relação à duração histórica como a conhecemos – o teatro, o espetáculo, o ensaio, o camarim, o bastidor, a rua – que indicariam outra direção do olhar e outra relação da imagem com o tempo.
?????????, ????????????????????????????????? 54
Mario Pedrosa, escritor e crítico de arte brasileiro, Centro Nacional ?????????, de ????????????????????????????????? Arte Contemporânea (CNAC), Paris, 1975. Acervo Instituto Moreira Salles 56
Otavio Shipper
57
Fluído percurso Paulo Venancio Filho
58
Não se sabe exatamente se são seres, figuras, modelos. Ou
a ciência, e esta, a imaginação.
um híbrido disso tudo. Mas, o que quer que sejam estão pre-
Estas formas lisérgicas, imateriais, flutuantes entre a
cisamente definidos, matematicamente definidos, podería-
aparição e a imaginação, parecem habitar um hiper ou infra
mos dizer. Eles exigem atenção e fascinam como a quem
mundo ao qual pertencemos, embora não nos seja familiar
vê pela primeira vez um catálogo de espécimens descon-
nem íntimo, mas presente ao nosso redor o tempo todo.
hecidos. A primeira vista os desenhos de Otavio Schipper
Desenho fluído, talvez assim fosse mais adequado chamar
supõem uma precisa catalogação de formas; a nitidez, o
estas formas que se definem pela instabilidade morfológi-
rigor similar à observação científica nos lembra os álbuns de
ca; formando-se e deformando-se, em constante mutação.
mineralogia ou os de espécies animais, tal a exatidão com
Formas de plasma, talvez. Portanto, formas transitórias e
que o desenho isola perfeitamente a forma sobre o fun-
fronteiriças entre reais e abstratas, limites entre ser e mod-
do branco do papel, revelando a singularidade própria de
elo, bordas entre níveis diversos da realidade, dobrando-se
cada indivíduo, ao mesmo tempo que acompanha os traços
entre um e outro. Daí a natureza simultaneamente nítida e
gerais de cada família e as formas que a caracterizam. Isso
difusa desses desenhos, impalpável mesmo.
em épocas que o desenho era o mais preciso instrumento de
A transparência da aquarela é o meio ideal e a flutuação que
observação e meio de reprodução de um universo afastado
ela dá à imagem sobre o papel indica a aparição quase fu-
da observação cotidiana do indivíduo comum e quando não
gaz, momentânea, daquilo que vemos no desenho. A trans-
havia ainda sido substituído pela fotografia e outras técni-
lucidez imaterial da imagem empresta aquela aparência
cas de reprodução. Será então que, novamente, o desenho
irreal, e ao mesmo tempo viva, imagem que o cinema atual
revela formas que só ele pode revelar?
com sua imensa capacidade tecnológica realiza, manipula
Mas que formas são essas? Existem ou são imaginárias, ou
e banaliza à perfeição. Os trabalhos de Otavio convergem
estão numa região além ou aquém da nossa observação,
uma refinada técnica manual a um imaginário que emerge
entre realidade e abstração? E o que elas representam?
da atualidade científico/tecnológica e suas representações
Seres orgânicos, figuras abstratas, estruturas inorgânicas,
visuais.
ou simplesmente formas imaginárias que, no entanto, são
As superfícies elásticas, topologicamente torcidas, moles,
estimuladas por todo um universo possível para além da
flutuantes e fluorescentes, não estão sob a ação da gravi-
observação e através deles temos acesso a estruturas não
dade, pelo menos dessa nossa; pertencem a um mundo
perceptíveis da realidade. Portanto, entidades que se en-
sintético, construído atrás do mundo real. Desenhar fluídos
contram entre a imaginação e realidade. Mas, em vez de
parece tarefa impossível. Como dar forma a algo que é por
se deixarem ver através de estados alterados da mente são
definição sem forma, feito de mais nada que uma lumi-
formas que derivam da investigação abstrata e rigorosa
nescência. Até a cor se define, tênue, no limite da matéria
da realidade. Descortinamos através desses desenhos um
transparente. Uns azuis que quase não chegam a ser cor,
mundo real mas não empírico, onde a imaginação provoca
mas a fuga de uma cor.
?????????, ????????????????????????????????? 59
CLAUDIO EDINGER Sertão da Bahia
62
?????????, ????????????????????????????????? 63
?????????, ????????????????????????????????? 64
?????????, ????????????????????????????????? 65
66
?????????, ????????????????????????????????? 67
PATRICIA THOMPSON
?????????, ?????????????????????????????????
As entre-horas urbanas Sylvio Fraga Neto
Capturar imagens com uma máquina fotográ-
real ou aparente de ralas copas de árvores.
fica consome apenas o tempo de apertar um botão.
Este é o outro aspecto essencial da fotografia de Patri-
Porém, no campo das artes, podemos admitir que isso
cia: a inserção de elementos sem organização geomé-
é análogo ao ponto final de um poema, à última nota
trica rigorosa num contexto maior de arranjo visual. Há
de uma música, quem sabe à pincelada final sobre uma
sempre elementos que atribuem um sentido de ordem à
tela. Há poetas, por exemplo, que escrevem estrofes ir-
imagem: podem ser sombras alinhadas ou entrelaçadas,
retocáveis alla prima e produzem, no sentido mais rig-
vidros trincados em padrão homogêneo ou até mesmo
oroso da expressão, poemas acabados. Mas existem artis-
corriqueiras persianas. As imagens são quase sempre
tas que perseguem o artesanato disciplinado da palavra,
compostas por elementos passíveis de plena identifica-
do acorde ou da imagem: como se escultores criassem
ção, mas que transfigurados e assumindo outras possi-
a própria matéria-prima de sua obra para depois, com
bilidades iconográficas, servem para gerar imagens ines-
as mãos e os instrumentos de trabalho, modificá-la até
peradas e ambíguas perante a realidade.
o resultado final. Refletindo sobre o ato
Tal processo está presente em todo o tra-
de compor, percebo que é exatamente
balho recente de Patricia: imagens cujo
assim que compreendo as fotografias de
objeto principal é a forma não-represen-
Patricia Thompson: imagens construi-
tativa, embora elaborada a partir de ele-
das e reconstruidas em plena prática da
mentos figurativos triviais, cujo estímulo
composição formal.
visual é proporcionado simplesmente por
Bem ao contrário da concepção barroca
tudo aquilo que ela vê caminhando pelas
do horror vacuii — aversão ao vazio —
ruas em seu cotidiano. Decerto existem
a artista muitas vezes seleciona extensas
diferentes níveis nesta ação transfigu-
lacunas que servem como elementos
radora, através da qual elementos rep-
fundamentais na elaboração de suas
resentativos se tornam cada vez menos
fotografias. Nesse sentido, não posso
reconhecíveis, tangenciando limites rad-
deixar de recordar o grande João Cabral de Melo Neto:
icais ao fixar reflexos difusos na superfície de vidraças,
“onde foi palavra | (...) resta a severa | forma do vazio”.
em sombras ora rígidas e hierarquizadas, ora líquidas e
Este, de fato, é o tipo de vazio que está presente nas com-
esquivas.
posições de Patrícia, sobretudo como manifestação de
A fotografia de Patricia Thompson, embora primordi-
rigor estrutural. Eis que uma ampla parede branca ad-
almente urbana e focada na interpretação abstrata de
quire função crítica ao separar elementos do primeiro
elementos representativos, pode ser — talvez contradi-
ao último plano da imagem, articulando-os em arejado
toriamente — resumida em seu belo auto-retrato. Ela se
diálogo geométrico e cromático. Em outro caso, muros
apresenta serena e compenetrada no ofício de sua arte,
escuros emolduram com rispidez um facho inclinado
conferindo à imagem uma delicada textura de tela, uma
de luz, ao mesmo tempo propagando uma sucessão de
tonalidade quente que evoca o século XVII na Holanda,
cortes diagonais que o intensificam até a quase comple-
os contornos diáfanos valorizados por ocasionais cintila-
ta diluição entre ramos de vegetação. Por meio de seu
ções douradas, como nos Pré-Rafaelitas ou nos mestres
enfoque urbano, a artista cultiva contrastes expressivos
da Belle Époque: quem sabe, misteriosa e singela hom-
deste gênero, eliminando qualquer impressão de caos
enagem aos séculos de pintura que antecederam a fo-
entre a imponência de sólidas edificações e a fragilidade
tografia?
Sylvio Fraga Neto é pesquisador em história da arte, poeta e diretor do Museu Antônio Parreiras.
?????????, ????????????????????????????????? 72
T O R R E S
74
G A R C I A
75
?????????, ????????????????????????????????? 26
O Universalismo Construtivo Fernanda Terra
O
Universalismo Construtivo de Joaquín
símbolos, para o artista, são entendidos como
Torres García (1874-1949) se integra aos
“idéias-matéria”. Esvazia-os de suas semânticas
grandes movimentos construtivos do início do
originais para logo re-semantizá-los, dentro de
século XX. Sob influência, principalmente, do
uma nova sintaxe.
Neoplasticismo holandês – representado por Piet Mondrian e Theo Van Doesburg – o projeto do grande artista uruguaio caracteriza-se pela busca de um espaço plástico puro, que revela, entretanto, particularidades expressivas.
C
metafísica do Homem-Universo.
D
esta forma, acreditamos que o Universalismo Construtivo é uma forma de apre-
sentação e sistematização do conhecimento
N
a proposta de resgatar as origens artísticas
universal na Arte e se insere no contexto das
das culturas pré-históricas e ameríndias,
classificações filosóficas, voltadas para uma
ele agrega, a um vocabulário próprio, símbolos
organização elaborada e sofisticada dos con-
de culturas antigas, com ênfase no imaginário
hecimentos humanos – busca e encontro com o
indo-americano das culturas pré-colombianas.
sentido universal dos seres e das coisas. É pura linguagem em formação e, neste sentido, já não
om a criação de uma ordem estética pes-
O
pretende
estamos falando da representação formal, ou da
ser uma linguagem compreensível, em
diluição da forma na Arte, mas a substituição da
obra pode ser vista como uma síntese entre as
qualquer tempo, a todos os povos. É mais que
forma pelo signo: a pesquisa artística aqui de-
formas puras do pensamento e os aspectos intu-
uma concepção de Arte. É uma concepção
termina campos semânticos.
itivos do artista. Ela se caracteriza pelo equilíbrio
universal da existência humana. A idéia do
entre a abstração geométrica, inspirada nas
Homem-Universo desenvolvida pelo artista nos
grandes tradições matemáticas do passado e o
revela muito sobre sua obra. O homem, como
mundo dos ícones e símbolos na invenção de
manifestação do universo, está integrado a três
mas também pelo seu exaustivo trabalho teóri-
uma linguagem altamente sugestiva.
planos da existência. O primeiro plano, o mental
co e educativo. Por tudo isso é apontado, com
ou racional é o mundo abstrato, das idéias, dos
justiça, como uma das figuras mais importantes
através da criação de uma malha geomé-
números e das regras geométricas, representado
da arte latino-americana do século XX.
trica na superfície de seus desenhos e pin-
pelo triangulo. O segundo, o plano emocional,
turas – primeiro com o emprego de linhas or-
é o da concepção intuitiva representado pelo
togonais, depois a partir da regra matemática
coração. Finalmente o plano da matéria é a
dos retângulos áureos, conhecida como “Secção
vida instintiva: a vida animal, vegetal, e mineral
Áurea” – que o artista vai encontrar uma forma
representado pelo peixe. Dentro destes três
universal de expressão humana.
planos o artista constrói e estrutura suas obras
soal, Torres García quis chegar a uma arte
puramente abstrata, concreta e universal. Sua
É
Universalismo
Construtivo
criando uma síntese da existência humana
D
entro dos retângulos áureos ele desen-
no universal. A sistematização de palavras,
ha, de maneira frontal e planar, varia-
números, formas geométricas e signos dentro
dos ícones e símbolos. Arranja e rearranja os
da composição plástica atende a uma visão
signos segundo uma lógica de arquitetura. Os
cósmica e total e corresponde a uma linguagem
T
orres García nos deixou um legado valiosíssimo não apenas pelas magníficas obras,
Fernanda Terra artista e mestre em Museologia e Patrimônio, pós-graduada em História da Arte e graduada em Arqueologia, vem ao longo dos anos desenvolvendo um intenso trabalho com ‘arqueologia da imagem’ através de seu Ateliê Documenta. Foi colaboradora do Museu do Futebol de São Paulo, dentre outros museus e editora iconográfica de várias publicações. Há mais de quinze anos desenvolve trabalhos relacionados com o universo da Arte, dos museus e das publicações. Já expôs em coletivas e individualmente em diversos espaços da arte. fterra@infolink.com.br
PABLO REINOSO
?????????, ????????????????????????????????? 68
69
G U ID O BON FAN T I
36
37
60
61
Foto | ??????????????
???????????????????, ??????????????????????????????????? 86
ENTREVISTA
GERAÇÃO ZERO Por
NELSON RICARDO MARTINS
E
ram seis da tarde quando cheguei ao edifício em torno dos 26 anos e pensava em minha própria onde fica o ateliê das irmãs Csekö, na rua Profes- trajetória. Nos anos 1980, junto com Sergio Mauricio e
sor Luis Catanhede, para uma entrevista com os inte- Flavia Portella, eu compunha o núcleo do Grupo Rádio grantes de três coletivos cariocas: o GrupoUM (www. Novela.1 À diferença deste e da maioria dos grupos grupoum.art.br), o Grupo Py (grupopy.blogspot.com) daquele período, as atuais formações não constituem e o Opavivará (opavivara.blogspot.com). Logo, do estruturas isoladas, buscam inserir as suas poéticas outro lado da rua, Julia Csekö, uma das integrantes em diferentes contextos, compartilhando-as com do Grupo Py, caminhava em minha direção. Entra- redes de artistas do Brasil e do mundo. Além disso, mos no prédio art déco,
procuram alternativas de
construído talvez no final
fomento e produção – como
da década de 30. Subimos
editais – que possibilitem a
por degraus intestinais e
obtenção de recursos para a
chegamos a uma espécie de
realização de seus projetos,
sótão que, provavelmente, havia sido a morada do sem que, no entanto, abram mão das convicções porteiro ou de algum operário da extinta Companhia experimentalistas que têm em comum com os grupos de Fiação e Tecidos Aliança, que durante anos fez de de décadas atrás. Os integrantes dos novos coletivos Laranjeira (RJ), um bairro operário.
fazem parte de uma geração que, quando chegou
Por todos os lados do espaço recém-reformado à cena artística, encontrou os espaços ocupados, os havia trabalhos das irmãs Csekö. Me sentei ao lado sistemas de arte cristalizados. Talvez este seja um da janela e me detive na vista estonteante. Mais um dos motivos de terem se unido – e, como a união pouco e todos chegaram: Joana Traub Csekö, outra faz a força, estão começando a colher os resultados integrante do Grupo Py, irmã de Julia; Nadam Guerra concretos. No início da década de 2000, formavam e Domingos Guimaraens, do GrupoUM, e Daniel To- um mesmo grupo, que se desdobrou em outros. ledo, do Opavivará e do Py.
Hoje, depois de muitos eventos, voltaram a se reunir
Olhava para aqueles artistas com a média de idade sob a sigla GG (Grupo Grupo).
Nelson Ricardo Martins: Antes de vocês se
com a participação de convidados que
autofomento, de um espaço para apresentar
desdobrarem em três coletivos faziam parte
apresentavam
as coisas, independente da materialidade
do GrupoUM. Como ele surgiu?
e música. O Domingos era um dos
delas.
Nadam Guerra: Nós começamos fazendo
participantes e fez lá, pela primeira vez,
Nadam: Todos que estão nesta entrevista
projetos individuais para o CEP 20.000. Em
a performance “Primavera derretida”. Ali
fizeram parte do GrupoUM. O “Manifesto
um CEP, o Domingos propôs que criássemos
surgia o Grupo Um.
UM” propunha novas categorias para
uma companhia de performances. Logo
Domingos
época
as artes, pois achávamos esta divisão
depois, o Espaço SESC aprovou um projeto
lançamos o “Manifesto UM - Por uma arte
de pintura, escultura, teatro, cinema,
meu, o “Cinema Manual Convida”, onde eu
única”e chamamos várias pessoas para uma
fotografia ou dança, insuficiente para falar
mostrava o “Cinema Manual”, 2 intercalado
reunião. O manifesto falava da questão do
do que estávamos fazendo.
performances,
Guimaraens:
fotografia
Na
87
Foto | Nadam Guerra e Débora 70
Cinema Manual - Grupo UM (Nadam Guerra), EAV Parque Lage - V::E::R, Encontro de Arte Viva, corpo: Jaya pravaz.
Domingos:
88
As novas categorias se
fizemos um chamado “Escultura Imaterial”,
por semana durante dois anos. Queríamos
chamavam: Performance fotográfica; Teatro
com trabalhos muito interessantes, como o
nos aprofundar na questão da autoria
Abstrato; Humanogravura e Escultura
Jogo de dentro, 3 da Júlia Cseko e O Homem
compartilhada, da diluição da identidade.
Imaterial, entre outras.
espelho,4 do Daniel Toledo.
Nelson:
Nelson: No início da formação do GrupoUM
Nelson: Quantas pessoas chegaram a
GrupoUM e formam o Grupo Py. Por que
vocês já tinham conhecimento da existência
participar do GrupoUM?
Py?
de outros coletivos?
Nadam: Chegaram a participar cerca de
Joana Traub Csekö: O Py se formou em 2005,
Nadam: Não, não tínhamos ainda nem
20 pessoas, mas a dinâmica interna do
com alunos da EBA (Escola de Belas Artes da
noção de que éramos um coletivo.
grupo começou a mudar, por que, além de
UFRJ). O primeiro evento que realizamos se
Estávamos fazendo um grupo ali para se
produzir eventos, havia a necessidade de
chamou Py = X Circuito aberto. “Py”, por
autofomentar, se autoproduzir. Cada um
realizar trabalhos em parcerias. Tanto que
que esse é o nome da rua de Niterói onde
trazia o seu projeto, cada um criticava,
o que seria o último evento do grupo não
aconteceu o evento, e “X” em homenagem à
perguntava como ia ser. Era uma construção
chegou a acontecer. E antes de o GrupoUM
Márcia X, que havia falecido pouco antes.5
coletiva nesse sentido. Depois é que a
se reconfigurar, ficando só eu e o Domingos,
Julia: O Orlândia e o Nova Orlândia tinham
gente foi sacar que havia um movimento
a gente estava tentando radicalizar a idéia
acontecido poucos anos antes [2001];
coletivo.
de trabalhar juntos. Neste evento que não
Grande Orlândia – Artistas abaixo da Linha
Julia Csekö: O GrupoUM era um grande
aconteceu, o Falsa identidade, as pessoas
Vermelha também [2003]. 6 Nosso projeto
viabilizador de propostas efêmeras – algo
fariam os trabalhos dos outros. A proposta
estava dentro do que vinha acontecendo no
que, naquele momento, não se fazia muito
era que eu fizesse um trabalho da Joana,
Rio de Janeiro: a ocupação de espaços não
no Rio, no Brasil. Enfim, era um lugar onde
o Domingos fizesse um trabalho da Julia, a
convencionais.
as pessoas estavam a fim de pensar em
Julia, um trabalho do Domingos.
Nelson: Quantas pessoas participavam do
performances, happenings – coisas que se
Domingos: A gente já tinha tanta vivência
grupo?
davam usando o corpo, o aqui e agora. Foi
juntos que era possível raciocinar com o
Julia: No início eram vinte pessoas, um
muito interessante a experiência.
trabalho do outro, pensar no desdobramento
monte de gente da EBA. Algumas pessoas
Domingos: O GrupoUm realizou vários
do trabalho de uma outra pessoa, que
tinham passado pela Escola de Artes
eventos. Me lembro que no Parque Lage
estava ali comigo conversando uma vez
Visuais do Parque Lage, outras foram
Algumas
pessoas
saíram
do
Foto | ??????????????
??????????????????????, ??????????????????????????????????
vendo o que estava acontecendo, gostaram
espaço físico, imaginário ou poético que se
fase, o Pylar, em Santa Teresa, eu, que tinha
da movimentação e foram se juntando.
torna um espaço não ordinário, se torna
ido ao Pyrata, senti que havia algo diferente.
Depois da primeira exposição, fizemos uma
um espaço extraordinário. 7
Era uma exposição mais formal.
coletiva na FAN/RJ (Fundação de Arte de
Julia:
Pyrata,
Julia: Esse rigor foi crescendo quando
Niterói) com quinze artistas.
influenciados pelo TAZ, lançamos um edital
começamos a intensificar o trabalho e
Joana: Essa exposição acabou gerando
virtual que era muito aberto, no sentido de
pensar cada vez mais no resultado final,
uma super polêmica, porque dois trabalhos
que todos podiam se manifestar. Como não
querendo que a exposição ou o evento
quase foram censurados: um, do Daniel
havia dinheiro, era questão de vontade para
ficasse impecável. Mesmo não tendo
Toledo – era uma cobrinha com um baseado
realizar. O evento reuniu setenta artistas.
dinheiro ou infra-estrutura, queríamos que
na boca, se chamava A cobra vai fumar –; o
Joana: Foi uma ação interessante, porque
ficasse bem feito, que ficasse profissional,
outro, do Cadu D’Oliveira, era um desenho
era uma exposição feita por artistas.
no sentido de que as pessoas conseguissem
do Papa João Paulo II com a frase “Deixa
Exposições feitas por artistas muitas vezes
ver as obras, entendessem o que estava
o véio morrer”. Por conta desses trabalhos,
são acontecimentos mais experimentais,
exposto ali.
um bispo e a própria direção da FAN
em que você tem essa efervescência do
Daniel: Mas o Pylar tinha a mesma idéia
quiseram fechar a exposição.
criar. É diferente de uma exposição que
das outras exposições, só que dessa vez a
Julia: E depois dessas duas exposições,
tem um curador chamando pessoas, dentro
gente não lançou edital, os artistas foram
rolaram o Pyneo, ainda em Niterói e o
de algum guarda-chuva conceitual.
convidados para a ocupação da casa.
Pyrata, em uma barca que faz a travessia
Daniel: O Pyrata foi uma proposição de
Joana: O objetivo desse evento era que
Rio-Niterói
artistas jovens, que realmente não estavam
houvesse também uma troca entre gerações
Joana: Nesse momento surgiu para nós
inscritos no mercado. Ninguém tinha
de artistas. A gente achou que ia ser muito
uma grande influência teórica: o Hakim
galeria ou era convidado a participar de
bacana ter artistas mais velhos, com uma
Bey, com o conceito de “T.A.Z.” (Temporary
exposições. Acho até que, muito por isso,
produção mais consolidada, junto com
Autonomous Zone), conhecido em português
tanto o Py quanto o UM queriam realizar
artistas da nossa idade. Enfim, começamos
como “ZAT” (zona autônoma temporária).
os projetos: todos tínhamos trabalhos para
a dar uma misturada e mostramos que
TAZ é a ativação de um espaço durante um
apresentar e não tínhamos espaços.
era possível organizar um evento daquela
determinado tempo, a liberalização de um
Nelson: No último evento do grupo naquela
maneira, através do autofomento, da
Quando
realizamos
o
89
Foto | ??????????????
??????????????????????, ??????????????????????????????????
90
autogestão.
grupo?
Callado saem do Py e criam o Opavivará. Eu
Julia: O conceito do Pylar foi dado pelo
Joana: Depois do Pylar tivemos uma
me lembro das apresentações anárquicas
espaço,
hibernação de dois anos.
do Opavivará no CEP 20.000.
aconteceu em todos os eventos do Py. O
Joana: Foi a dissidência causada por
Daniel: O Opavivará começou, na prática,
espaço estava ali e os artistas intervinham
algumas discordâncias.
a fazer ações dentro do CEP 20.000 – era o
da maneira que queriam.
Nelson: Quais eram as discordâncias?
Control C, Control V. Nessa época a gente
Julia: Obviamente tinha a participação
Daniel: Havia questões conceituais mesmo.
tinha lido o Hakim Bey e a nossa cabeça
da organização, buscando evitar que um
E também um desejo de construir algo que
estava naquele dilema: o que era o que?
trabalho passasse por cima do outro.
não fosse só a reunião de vários artistas
Eu me lembro que a gente conversava as
Joana: Sim, mas isso eram negociações
para propor e organizar um evento. Eu, o
coisas achando que era de uma pessoa só e
entre as pessoas.
Julio Callado8 e o Daniel Murgel 9 estávamos
não era. Um hipertexto mesmo.
Joana: Não é porque você não está num
com vontade de criar uma poética própria,
Nelson: E como acontecia o Control C,
espaço que seja um cubo branco que você
que fosse construída como se fossemos um
Control V?
não está mais falando de arte, entendeu?
único artista. Tem uma diferença, nesse
Daniel: Nós preparávamos uma comida
Você continua falando de arte com “A”
sentido, tanto em relação ao GrupoUM
no palco e, em paralelo, diversos artistas
maiúsculo.
como em relação ao Py.
convidados faziam as suas ações, seja
Nadam: É importante falar que tanto nos
Julia: O Grupo Py é mais um viabilizador,
falando poemas no microfone, realizando
eventos do Grupo Py como nos do GrupoUM
um agregador de pessoas. Eventualmente
performances, filmando ou fotografando o
a gente criava regras, porque estávamos
podemos
público.
pensando em um sistema para as coisas
coletivas, mas os nossos projetos são
Joana: Qual era a comida?
funcionarem, independentes do nosso
projetos viabilizadores, projetos que abrem
Daniel: Tipo um yakisoba com legumes –
trabalho estético.
e liberam os espaços para que as pessoas se
que era devorado, no final da apresentação,
Domingos: E a cada sistema que é
manifestem ali dentro enquanto indivíduos,
por todos, inclusive o público. A última
construído, a gente pega alguns elementos
porém, juntas.
ação que fizemos nesse formato se chamou
e larga outros.
Nelson: Voltando na linha do tempo. O
Nada sincronizado e foi na época dos
Nelson: O Pylar foi o último evento do
Daniel Toledo, o Daniel Murgel e o Julio
Jogos Pan-americanos no Rio. Esta ação
pelas
circunstâncias;
como
fazer
propostas
que
sejam
Foto | ???????????????????
??????????????????????, ??????????????????????????????????
foi a mais caótica, a mais descontrolada.
Daniel: A casa, que pertence à família do
ocupação da casa era a de se montar uma
A gente não sabia, de fato, o que cada um
Ricardo Ventura, era alugada pela clínica
cozinha coletiva, com três fogões, uma
iria fazer. Outra ação interessante, também
oftalmológica Oculistas Associados. Quando
mesa gigantesca,
no CEP 20.000, foi a orquestra de assovios.
acabou o contrato de aluguel, eles não
espalhados. O que queríamos era que as
Começava com o palco no escuro. Quando
renovaram e o espaço ficou vazio. O Ricardo,
pessoas, a partir da convivência na cozinha,
acendiam as luzes, havia uma câmera
que tinha nos conhecido havia pouco
comendo e bebendo, fossem elaborando os
voltada para a platéia, filmando. Aí a gente
tempo, nos convidou para ocupar a casa.
seus projetos de ocupação.
começava a assoviar, batucar, fazer barulho,
O Opavivará, dentro dessa onda caótica e
Domingos:
experimentações sonoras com o que a gente
anárquica, propôs em uma primeira reunião
memória
tivesse junto ao corpo: chaveiro, celular. Foi
que, no encontro seguinte, chamássemos
independentemente
a experiência mais bem sucedida no que se
mais gente. Então, na reunião seguinte,
era que havia tanta gente na casa que
refere à participação do púbico.
mais pessoas foram chamadas e assim foi
eu não consigo lembrar das pessoas que
Nelson: Eu participei do Nada sincronizado
crescendo a idéia de que o espaço não seria
participaram ou não participaram – era
e confesso que poucas vezes me deparei
utilizado para uma exposição nos moldes
realmente um caos.
com algo tão anárquico. Enquanto o
em que o grupo Py fazia. A proposta do
Joana: Vocês acham que a convivência
Opavivará fazia uma espécie de quentão,
Associados era que fosse um grande ateliê,
funcionou?
várias coisas aconteciam simultaneamente
uma grande experiência, e que o resultado
Daniel: Se fosse hoje, eu não sei se
e sem a mínima sincronização. No palco, foi
final fosse um trabalho só, feito por todo
repetiria da mesma maneira, mas só
montado um pequeno campo de futebol
mundo.
ali dentro nós conseguimos observar
e jogamos durante toda a apresentação.
Joana: O conceito dos Associados era até
determinados aspectos de se levar uma
O público, embora tenha ficado meio
bacana, o problema foi o resultado.
experiência coletiva quase que às últimas
aparvalhado,
Mais
Daniel: Sim, mas o resultado tem a ver
conseqüências. Também acho que, agora, a
anárquico que o Nada sincronizado foi o
também com o que se espera. O que
gente tem esses dois pontos que podem ser
Associados, que aconteceu na Rua Jornalista
se esperava ali não era uma exposição
desenvolvidos. Ou seja: trabalhar dentro
Orlando Dantas, no mesmo endereço onde,
normal e sim um espaço de vivência.
desse limite do caos total e de uma coisa
anos antes, aconteceram as Orlândias.
Tanto que a proposta do Opavivará para a
mais organizadinha, caretinha e mais
não
arredou
pé.
panelas e alimentos
O que me fica como uma afetiva
dos das
Associados, participações,
91
Fotos | Luiz Alphonsus
Camadas de Universo - GrupoUM (Nadam Guerra e Dominigos Guimaraens), 3 vistas da mesma parede em diferentes situações de luz. Palácio Gustavo Capanema Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea - Instalação - 2006
92
formal como os eventos do Py.
municipal e às contingências cariocas de
história.
Joana: Os eventos do Py não são caretinhas
um modo bem real. Conseguiu agregar
Nadam: Tem a ver com a história da arte
– formal sim, vá lá. Rigor não é sinônimo
uma série de pessoas, gerando movimento.
no Brasil depois da redemocratização,
de
que
A gente se reencontrou a partir disso e a
quando um sistema cultural se estruturou
experimentação não é sinônimo de baderna.
energia que foi colocada nesse evento foi
e
Um quadro pode ser tão experimental
muito frutífera, gerou o GG.
foram responsáveis por esse processo,
quanto uma ação efêmera. Hoje em
Nelson: Esta junção dos grupos Py, UM e
naturalmente,
dia a gente já passou das delimitações
Opavivará, criando o GG (GrupoGrupo),
criados e os “novos artistas” são cada vez
estabelecidas pelo moderno. Hoje essas
potencializará as ações de vocês?
mais velhos quando conseguem se inserir.
categorias são fluidas, a experimentação
Nadam: Eu acho que a união significa
Não podemos dizer: “nós somos as artes
pode acontecer em “n” instâncias.
maturidade da nossa parte. Não tem isso
visuais atuais”, porque a Geração 80 ainda
Julia: Eu vi os CEPs nos anos 90, com Márcia
de achar que uma coisa é melhor que a
está aí; a geração 90 também ainda está aí
X, com Simone Michelin. Uma galera que
outra. Todas as coisas são possíveis.
produzindo. Os espaços já estão ocupados,
tinha rigor. A gente também leva o nosso
Daniel:
então temos de abrir novas frentes.
rigor.
Por exemplo, em relação a editais, além
Julia: Que geração nós somos, então? Somos
Daniel: O Associados foi uma experiência
dos três grupos poderem mandar projetos
a geração 2000?
tão radical que o Opavivará acabou por se
individualmente, temos mais uma chance
Domingos: Zero.
reconfigurar.10
de entrar com o GG que é a reunião de
Julia: Zero?! A gente é a geração zero!
Nelson: Voltando a cronologia: em 2002,
todos.
Nelson: Pra finalizar: como é para vocês,
forma-se o GrupoUM; em 2005, o Grupo
Nelson: A geração de vocês já encontrou
na condição de coletivos, a questão
Py; em 2006, surge o Opavivará e, em 2008,
um espaço próprio?
financeira?
com o FEBEARio, todos se reencontram de
Nadam: Somos uma geração que ainda está
Joana: As associações acontecem por
novo, dando origem ao Grupo Grupo, vulgo
encontrando a sua voz. Já estão surgindo
vontade e não por grana. Não, não tem
GG. Como se deu isso?
outras gerações, mais novas que a nossa, e
grana envolvida é trabalho e é por amor.
Joana: FEBEARio é o Festival de Besteira
a gente ainda não tem uma cara, não tem
Domingos: É afetivo e se efetiva. Afetividade
que Assola o Rio de Janeiro.11 Na verdade,
uma história.
com efetividade.
diz respeito a toda a má administração
Julia: A gente está fazendo a nossa
1 Entre 1981 e 1988, Grupo Rádio Novela realizou e participou de diversos eventos na cidade do Rio de Janeiro, entre eles: Projeto Rádio Novela (PUC-RJ), Como vai você, Geração 80? (Parque Lage), O visual do rock (MAM-RJ), As artes das artes (Noites Cariocas/Morro da Urca), 8º Salão Nacional de Artes Plásticas (MAM-RJ), É proibido olhar para o palco (Espaço Cultural Sérgio Porto). 2 Performances, instalações, fotos, vídeos e espetáculos a partir da projeção de imagens em tela plana. Como nos teatros de sombra, objetos são manipulados por trás da tela, compondo uma pintura de luz em movimento. 3 Vestimentas costuradas umas às outras em locais estratégicos. O público é convidado a vesti-las em grupos. 4 Performance em que o artista, após vestir-se dos pés à cabeça com uma roupa coberta de cacos de espelho, trafega em espaços públicos, por entre pessoas que, ao se aproximarem, vêem-se refletidas na escultura móvel. 5 Márcia X (1959-2005) formou-se na Escola de Artes Visuais do
Parque Lage e foi muito atuante no cenário das artes visuais carioca com seus vídeos, instalações, esculturas e performances. 6 Idealizados por Márcia X, Ricardo Ventura, Bob N. e Elisa de Magalhães, as coletivas Orlândia e Nova Orlândia ocuparam um imóvel vazio e em obras na Rua Jornalista Orlando Dantas (Rio de Janeiro). Poucos anos depois, foi organizada a coletiva Grande Orlândia - Artistas abaixo da Linha Vermelha, que ocorreu em um galpão em São Cristóvão. 7 Peter Lamborn Wilson (1945), escritor, ensaísta e poeta norte-americano, publicou diversos livros sob o pseudônimo Hakim Bey, entre eles TAZ: The Temporary Autonomous Zone, Ontological Anarchy, Poetic Terrorism (1985/1991). O original em inglês pode ser “pirateado e compartilhado” na internet, com anuência do autor e da editora, em endereços como www.hermetic.com/bey/taz_cont.html. Edição brasileira: TAZ – Zona autônoma temporária. São Paulo: Conrad do Brasil, 2001. Coleção Baderna.
caretice,
ao
mesmo
tempo
Estrategicamente,
potencializa.
amadureceu.
As
gerações
ocuparam
os
que
espaços
8 Julio Callado tem obras na Coleção Gilberto Chateaubriand e em coleções particulares do Rio de Janeiro. Concentra sua produção em ações e performances que se desdobram em registros fotográficos e poéticos. 9 Daniel Murgel trabalha com várias linguagens do campo das artes visuais, com especial destaque para a performance e o desenho. Na performance O curador, o artista, vestido de terno e gravata, come uma língua de boi pré-cozida e, com a boca cheia, lê um texto baseado em Assim Falou Zaratrustra, de Nietzsche, e no Eclesiastes. 10 Atualmente os integrantes do grupo são: Daniel Toledo, Julio Callado, Caroline Valansi, Pedro Victor Brandão e Daniela Koh. 11 Organizado pelo Grupo Py para a reabertura do Espaço Cultural Sérgio Porto, o FEBEARio, entre 11 de julho e 07 de setembro de 2008, homenageou Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do jornalista Sérgio Porto) com exposições, performances, exibições de vídeos e debates.
cerebelo
15
A L E X A N D R E
84
L I M A
85
Felipe Hellmeister ganhou o Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2008, na categoria São Paulo. Sua exposicão estará aberta ao público de 11 de novembro a 14 de dezembro de 2008, das 10:00 às 18:00, no Espaço Porto Seguro de Fotografia, Alameda Barão de Piracicaba, 740, São Paulo.
94
futuro melhor pode ser tão simples quanto escolher um papel para comprar.
Ajudar a construir um
A marca do manejo florestal responsável. SW-COC-1388
Usando produtos com o selo FSC ©, você ajuda a construir um futuro melhor, apoiando práticas sustentáveis que auxiliam milhares de pessoas e preservam o meio ambiente. E é por isso que nós da Suzano temos o maior mix de produtos certificados com o selo verde mais reconhecido em todo o mundo. Isso significa que todas as nossas atividades passaram por uma minuciosa auditoria que atesta o nosso respeito pelas comunidades, meio ambiente e, principalmente, pelo futuro do nosso planeta. Ligue 0800 722 7008
www.suzano.com.br