SANTART MAGAZINE # 03

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SANTA

#03

art magazine

Alex Lima Cai Guo-Qiang Claudio Edinger Fayga Ostrower Geração 0 Marepe Marina Marchetti Otavio Shipper Patricia Thompson Thiago Barros

Loretta Lux



cerebelo


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Felipe Cama, Gobbis x Elaine, 2008 - Fotografia, impressão lenticular (detalhe)

TORNE-SE UM COLECIONADOR DE ARTE CONTEMPORÂNEA Associe-se ao Clube de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo e adquira obras inéditas de artistas que trabalham ou experimentam este meio. Ao se associar você recebe, a cada ano, cinco trabalhos concebidos especialmente para o MAM por artistas selecionados pela curadoria.

INFORMAÇÕES:

Tel: 11 5085-1406 clubedafotografia@mam.org.br www.mam.org.br

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EDIÇÃO 2009: Adriana Varejão Felipe Cama João Castilho Rosângela Rennó Tony Camargo


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Direção de arte | Sergio Mauricio Foto | Isabel Garcia Stylist | Ciro Midena Beleza | Erica Monteiro



EXPEDIENTE # 2 novembro de 2008

EDITOR

Sergio Mauricio sergiomauricio@utopos.com.br

DESIGN E ARTE

Sergio Mauricio Bady Cartier badycartier@utopos.com.br

ASSITENTE DE EDIÇÃO

Andrea Carvalho Stark santaeditorial@gmail.com

CONSULTORIA EDITORIAL

André Luiz Barros Danielle Corpas Nelson Ricardo Martins COMERCIAL

Rogério Randolph santacomercial@gmail.com

CONSULTORIA DE MÍDIA

Antonio Jorge A. Pinheiro midia1@midia1.com.br

PROJETO GRÁFICO

Utópos www.utopos.com.br

COLABORAÇÃO EM PRODUÇÃO

Julia Dias Leite COLABORADORES

Alécio de Andrade Ana Holck Cauê Alves Cildo Meireles Felipe Barbosa Felipe Hellmeister Gabriel Mendes Isabel Garcia Joana Estelita Jorge Guinle Luis Brunello Luiz Zerbini Marinho Mark Bresson Rosana Ricaldi Vicente de Mello Vik Muniz Xico Chaves CONSELHO CONSULTIVO

Ana Luisa Leite Cesar Oiticica Christian Rôças Danielle Corpas Fred Hortêncio Moacir dos Anjos Nelson Ricardo Martins Pedro Karp Vasquez Roberto Meirelles Walter Carvalho Wilson Lázaro AGRADECIMENTOS

Alberto Saraiva Armando Strozenberg Balthazar de Andrade Casa do Saber Celso Fioravante Cristina Magalhães Pinto Cristina Zappa Duda Carvalho Edson Cunha Neto Erica Beninkasa Fabio Ghivelder Felipe Rodrigues Fernando Maia Fernando Prado Florêncio de Andrade Frederico Coelho Instituto Moreira Salles João Cruz Joana Estellita Lucas Blalock Luciana Caravello Luciano Trigo Márcia Manccini Marcos Prado Marina Ribas Mercedes Viegas Nanci e Osvaldo Corpas Patrícia Newcomer Pólo de Pensamento Contemporâneo Rogério Reis Sergio Burgi Sula Danowski Sylvia Martins Tatiana Ribeiro Trio Studio Vanda Mangia Klabin Waldir Simões de Assis Filho APOIOS

Artsalon online – art for new collectors www.artsalon.wordpress.com

Funarte LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO

Editora 360º IMPRESSÃO

Gráfica Santa Marta www.graficasantamarta.com.br

PAPEL

Suzano www.suzanoholding.com.br

08 20 22 38 40 52 54 60 68 72 80 84 88 94

DEPOIMENTO INÉDITO

JORGE GUINLE

A ARTE BRASILEIRA VAI AO PARAÍSO

Uma conversa com CILDO MEIRELES FOTOGRAFIAS

ALÉCIO DE ANDRADE CONDOMÍNIO

FELIPE BARBOSA Vik Muniz fez a imagem de Nossa Senhora

PICTURES OF GARBAGE

VIK MUNIZ

das Graças emergir de madeiras de móveis e portas, do ferro retorcido, dos tijolos e de pedaços de parede. Era o entulho da reforma

O NAVEGANTE

ROSANA RICALDE

da sede da Casa Daros, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Mas a aparição lhe surgira antes, sobre uma porta daquele mesmo casarão

PRETO NO BRANCO

MARINHO

de 1866, criado como um Recolhimento das Órfãs, e cuja reforma termina em fins de 2009. “Há muito tempo minha mãe pede que

URBAN PUNS

GABRIEL MENDES METRÔ

FELIPE HELLMEISTER

eu faça uma santa. Quando a vi na Daros, tive um insight”, diz.

O resultado, um trabalho de 18 x 14 m, transformado em foto de 2,30 x 1,80 m que ilustra a capa desta SANTA, é a primeira obra

CINEMA ATMOSFÉRICO

VICENTE DE MELLO

do acervo da Casa Daros carioca (a matriz é na Suíça). Em janeiro, uma mostra no MAMRJ trará a série Pictures of Garbage, que

ELETROENCÉFALOVÍDEOSCÓPIOFONE

ilustra as páginas 40 a 51.

XICO CHAVES

Em um galpão no bairro de Parada de Lucas,

CANTEIRO DE OBRAS

ANA HOLCK

em duas semanas, Vik reviveu a santa – a mesma que apareceu em 1830 para a noviça Catarina de Labouré, das Irmãs de Caridade,

EXCHANGING GLANCES

ISABEL GARCIA

em Paris. A imagem é também a da famosa Medalha Milagrosa, alvo de peregrinação de fiéis no mundo todo. Para reanimá-la, Vik

ONDE ESTÁ O HOMEM DA CAVERNA?

MARK BRESSON

subiu alto: fotografou tudo de dez metros de altura, do teto do galpão.


SANTA art magazine

#03

É PAU, É PEDRA, LATA VELHA E URSINHO DE PELÚCIA

A

SANTA art magazine 2 é pau, pedra, pneu, lata velha, ursinho de pelúcia, refugos e entulhos. Nosso lixo civilizatório que, sob a batuta de Vik Muniz, transmuta-se em obras de arte. É de sua autoria a Nossa Senhora das Graças que ilumina a capa da SANTA 2. Também trazemos outras de suas imagens inéditas, todas feitas a partir do lixo. A obra de Vik Muniz em nossas páginas revela a verve de uma linguagem que mobiliza pela estética ilusória e pelas questões sociais, econômicas e ecológicas intrínsecas ao nosso modo de vida consumista e suicida. O número 2 da SANTA traz ainda um depoimento inédito de Jorginho Guinle. Durante 24 anos, essa gravação esteve numa velha e mofada fita de vídeo VHS. No depoimento, Jorge comenta com vivacidade e inteligência peculiares seu processo de trabalho, formula reflexões críticas e entretém o espectador com personalidade e simpatia cativantes. Na transcrição que publicamos agora, tentamos manter ao máximo a oralidade para não perdermos a verve tão espontânea que caracterizava o pintor. A SANTA 2 publica também uma parte da imensa obra de Alécio de Andrade, um genial poeta da fotografia que o Brasil pouco conhece – ele foi morar na França muito jovem e lá desenvolveu seu fecundo trabalho. Suas fotografias são puro deleite estético.

Cildo Meireles também nos dá o ar de sua graça com o seu pensamento afiado, inteligente e provocativo. O artista atira algumas farpas em várias direções e nos mostra a importância da crítica aguda e não domesticável. Seguindo em frente, paramos e olhamos para as estrelas através dos óculos cósmicos de Xico Chaves. Ele nos conta que o homem não tem idade e que entre os meteoros e o nosso sangue não existe lá muita diferença. Xico nos ensina que somos seres geológicos e que fazemos parte de toda a estrutura mineral do planeta e do espaço. Trazemos também Ana Holck – com texto de Cauê Alves sobre o trabalho da artista plástica intitulado Em Obras. E ainda: a mescla antropológica entre a street art e seus personagens urbanos circundantes, fotografados por Gabriel Alves; o preto no branco metafísico e explosivo de Marinho; as belas fotografias românticas de Isabel Garcia; o mar revolto com nomes de oceanos de Rosana Ricalde; o condomínio modular de Felipe Barbosa; o ensaio intrigante e premiado, feito no Metrô paulista, de Felipe Hellmeister; as fotografias-seqüência de Vicente de Mello em sua série Cinema Atmosférico. Por fim, uma pergunta feita por Mark Bresson a partir de uma montagem fotográfica: Onde está o homem da caverna? Se alguém souber, por favor, nos informe.

Sergio Mauricio EDITOR

cerebelo A Santa #2 é dedicada a Vicente C. Martins. Na Santa #1, faltou agradecer a Gabriela Medeiros a ajuda para a publicação da matéria Xadrez Toy. Santa - Art Magazine é editada pela Cerebelo Artes. Impressa pela gráfica Santa Marta. O papel utilizado foi o couché matte 150g da Suzano.

A Santa aceita propostas de colaborações, que são avaliadas pelo seu conselho. Todas as opiniões expressas nos ensaios, matérias, entrevistas, depoimentos e artigos publicados são de inteira responsabilidade dos respectivos autores. É proibida a reprodução de imagens ou textos por qualquer meio. Endereço para correspondência: Praça Pio XI Nº 6 / 102. Jardim Botânico. CEP 22461-080. Rio de Janeiro – RJ – Brasil Cerebelo Artes Ltda. CNPJ: 09.448.968/0001-50. Rua Lauro Muller 116/704 parte. CEP 22290-160. Rio de Janeiro – RJ


M A R E P E


Foto | Edouard Fraipont

Marepe, Sem título, 2003, bolas de natal, 50 x 110 x 56 cm


CONSTRUÇÃO INCONCLUSA DE CARTOGRAFIA NOVA Moacir dos Anjos

A

s esculturas, instalações e performances

toneladas) para o interior do prédio da Bienal

Paulo, entre muitos outros lugares, a depender

de Marepe traduzem, em uma linguagem

de São Paulo, quase dois mil quilômetros dali

de onde se observa o mundo) está permeado

“internacional” da arte, objetos, situações e

afastado. Transformou, com esse ato, o que

pelo que lhe parece periférico e subordinado. Já

atitudes encontráveis no cotidiano de Santo

possuía serventia assentada para os moradores

se a ênfase fosse posta na última parte do slogan

Antônio de Jesus, cidade da Bahia onde nasceu

locais em campo aberto para os visitantes da

– “pelo menor preço” –, era cabível ler a frase

e vive. Frente ao poder homogeneizador da

mostra exercitarem seu desalento diante do

pintada como um comentário ácido sobre a

cultura global, o artista cuida de inserir, nas

que não conseguiam classificar de modo certo.

valorização simbólica e patrimonial de trabalhos

próprias vias onde esta reclama sua hegemonia,

Sobre essa parede feita de tijolos e de cimento

(incluindo, evidentemente, o seu próprio) depois

aquilo que pertence ao seu território doméstico

se destacava, ainda, pintada artesanalmente

que são inseridos em (ou transportados para)

e ao campo do afeto. Ocorre que não existe

em azul e amarelo, a propaganda de um

exposições de arte julgadas importantes, lugares onde quase tudo cabe.

correspondência unívoca entre sistemas culturais diversos, assim como não há entre sistemas

M

lingüísticos diferentes. Como conseqüência, inexiste transparência perfeita naquilo que é

oposições cegas entre geografias e

resultado dessas traduções, restando sempre

formações culturais diversas; em vez disso,

algo opaco e, portanto, intraduzível entre

absorve, traduz e lança, aos circuitos de

as formações culturais por ele postas em

difusão apropriados, os efeitos freqüentemente

confronto. Tal opacidade é proporcional ao

contraditórios dessa inevitável vizinhança. Para

desconhecimento tanto do que é próprio da vida

atingir tal intento, sua obra constantemente

ordinária da cidade natal de Marepe quanto dos

frustra as expectativas dos que esperam

conceitos e códigos que estruturam o campo da

reconhecer nela apenas o elogio do passado e

arte culta. Dessa forma, se o domínio da história

antigo e conhecido armazém onde seu pai

do periférico, em suposta oposição binária a um

e dos procedimentos canônicos da produção

trabalhara – Comercial São Luís –, oferecendo

tempo presente e a um território central, onde

visual contemporânea não basta para desvelar

Tudo no mesmo lugar pelo menor preço (2002),

os primeiros evocariam uma vida apegada a

os significados possíveis de seus trabalhos, o

confirmação de uma vontade de atrair o outro e

modos de vida particulares e os segundos, uma

fato de os habitantes de Santo Antônio de Jesus

de negociar mercadorias variadas. Deslocado e

adesão a uma genérica arte internacional. Por

reconhecerem a procedência e a função de

destituído de sua utilidade original, a primeira

meios variados, o artista constrói laços ou propõe

cada utensílio, imagem ou gesto apropriados

parte desse slogan – “tudo no mesmo lugar”

associações possíveis entre a defesa do vernacular

pelo artista não os torna, por isso, melhores

– parecia recordar o quanto o local (Santo

e o desejo pelo cosmopolita, entre o que importa

entendedores de sua obra. Diante dos trabalhos

Antônio de Jesus, entre muitos outros lugares)

à sobrevivência e o que é somente representação

de Marepe, parece estar-se sempre longe ou perto

está embebido de toda parte. Podia igualmente

de algo. Instaura, assim, um espaço de “dissenso”

demais daquilo que, supostamente, os explicaria

ser lido, porém, como uma afirmação que era

em meio a conceitos e idéias convencionais que

de modo acurado. E é justamente o desconforto

contradita pela própria ação do artista, posto que

ignoram os complexos modos de pertencimento

dessa posição que solicita a imaginação do

o deslocamento do pesado muro sugeria que as

vigentes no mundo contemporâneo. Espaço que

observador para conferir sentidos ao que o

coisas, mesmo as supostamente fixas, não estão

é esboço da cartografia nova e inconclusa de um

artista faz, ainda que estes sejam provisórios e

sempre no mesmo lugar, mas, ao contrário, em

mundo que une Santo Antônio de Jesus a tantos

parciais.

potencial movimento. Se não tanto, indicava

mais lugares que repartem, com a cidade de

ao menos que esse lugar onde todas as coisas

Marepe, a incerteza de sentidos com que se lida,

oucas vezes esse apelo foi tão marcado

estão é um território de fronteiras flexíveis, que

forçosamente, no cotidiano comum e no campo

como quando transportou o fragmento

se contraem e se distendem continuamente. O

ampliado da arte.

de um muro de sua cidade (dois metros de

deslocamento do muro de uma a outra cidade

altura, seis de extensão e pesando três e meia

informava, ademais, que também o global (São

P

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arepe não cuida, portanto, de estabelecer

Moacir dos Anjos, é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.


Foto | Edouard Fraipont

Marepe, Sem título, 2003, bolas de natal, 90 x 90 x 65 cm 11


Foto | Marcus Leith

Marepe, 2002,220 bolas de cm, natal, 61 x 27 x 49 cm Diurno, 1983, Sem óleo Título, sobre tela, x 160 coleção particular 08 18


Foto | Marcus Leith

Marepe, Sem Título, 2002, bolas de natal, 70 x 50 x 26 cm - Cortesia: Galeria Fortes Vilaça 09


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Foto | Edouard Fraipont

Marepe, Sem Título, 2002, bolas de natal, 29 x 50 x 30 cm 13


METRÓPOLES

THIAGO BARROS A desocupação do espaço

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CAI GUO-QIANG

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FAYGA OSTROWER

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Sem título, 1950, Gravura em metal, água-tinta e água-forte em preto sobre papel, 19 x 16 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower

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Mulheres no morro, 1948, Gravura em metal, água-forte em preto sobre papel, 15,7 x 11,6 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower

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“Fayga Ostrower dedica-se à xilogravura, água-forte, água-tinta, etc. Sua dedicação lembra a de um Lívio Abramo. Tem ela alguma coisa de comum, aliás, com este último, o gosto da procura, do aperfeiçoamento técnico. Lívio é mais livre, mais impetuoso, de maior apaixonamento estético. E lança sua sonda mais longe. Mas em ambos há o mesmo ardor, a vontade concentrada de chegar a um resultado. Fayga Ostrower tateia ainda embaraçada por alguns preconceitos estéticos. Sua técnica é, entretanto, segura e invejável. A maneira com que usa simultaneamente, na mesma gravação, a águatinta, a água-forte e a tinta-seca não tem rival no Brasil. Nesse sentido, gravura como a Mulher é do maior interesse. A água-forte marca certos matizes, reforça o desenho com suas linhas, enquanto a água-tinta cria a atmosfera arrematando a composição. A ponta-seca completa certos detalhes, aveluda uma passagem num canto ou realça certa qualidade em outra extremidade. Fayga tem na água-tinta um meio técnico inteiramente submisso à sua vontade. O que ela faz com a aguada também é estupendo. Nas últimas coisas, já demonstra rara virtuosidade, sobretudo ao permitir o enriquecimento da parte propriamente voluntária do desenho e da composição por certos efeitos advindos quase ocasionalmente da reação do ácido, da ordem no emprego da água-forte ou da água-tinta, etc.”. Mário Pedrosa

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Sem título, 1950, Gravura em metal, água-tinta e água-forte sobre papel, 20 x 14 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower

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Sem título,1947, Gravura em metal, água-tinta e água-forte sobre papel, 14,5 x 11,7 cm - Acervo Instituto Fayga Ostrower

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LORETTA LUX

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MARINA MARCHETTI O modo como Marina Marchetti compõe suas fotos desfaz os referentes imediatos, desloca a direção do olhar, acentua a dimensão imaginária do campo visual, e convida a pensar um conjunto forte de percepções e relações. A seu modo, fotos que escapam da saturação de imagens gastas que se repetem e não cansam de se repetir no mundo em que vivemos. Um pouco ao modo de Gaston Bachelard, imagens que matam a imaginação. Não é mesmo o caso dessas fotos, que abrem justo a brecha por onde a imaginação pode passar.

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IMAGENS DE UM TEMPO FORA DO TEMPO André Bueno

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As fotos de Marina Marchetti pedem que se pense com

resulta. Ao tempo histórico que as figuras humanas

atenção a estranheza específica de sua composição. À

poderiam sugerir de imediato, se contrapõe um

primeira vista, a foto com as figuras humanas que se

tempo mais longo e mais forte, a meu ver o próprio

banham e se movem por entre as rochas sugere uma

tempo da longuíssima duração geológica das rochas,

alusão ao Jardim das delícias, de Hieronimus Bosch.

que ocupam sempre grande parte do campo visual.

Como a nossa memória cultural está sempre saturada

Essa maneira de composição que superpõe os tempos

de imagens já muito vistas e repetidas pela tradição,

desloca a percepção das figuras humanas, assim como

talvez fosse o caso. Mas me parece que se trata, se for

das plantas, que ficam como que desamparadas

o caso, apenas de uma alusão tangencial. O contraste

diante da presença forte das rochas, com suas fendas,

entre paraíso e inferno, mais que marcado por toda a

fissuras, relevos e reentrâncias. Efeito estético que é

iconografia da tradição cristã, está ausente das fotos,

acentuado pela presença dos granulados que derivam

que apontam, a meu ver, para outra direção do olhar.

do mofo, pontilhando com firmeza as imagens. E

Olho com atenção as fotos de Marina Marchetti que

ameaça, imaginemos, tomar conta de todo o campo

a revista Santa agora publica, e penso em um tempo

visual, dissolvendo de vez as figuras que se vê. Com

fora do tempo, que resulta do modo específico da

isso acentuando muito a fragilidade e o desamparo das

composição das imagens e do efeito estético que daí

figuras humanas.


Na foto 1, as figuras humanas muito claras que

se banham ou se situam ao longo das rochas, de fato representam um movimento ascendente, que pode ser situado nas águas escuras, até chegar ao topo da foto. Caso se queira, uma espécie de paisagem do paraíso perdido, solta no vazio, ao contrário das imagens da queda, da vida profana e da redenção, que apontam para outro tipo de narrativa. É como se as figuras humanas, desamparadas e muito claras, a qualquer momento pudessem desaparecer da visão, deixando em seu lugar apenas o vazio.

Na foto 2, a força do campo visual aponta

primeiro para as massas rochosas e o granulado do mofo, em seguida para a árvore ressecada e árida, e só depois o olho se volta para duas mínimas figuras, um pouco à direita e abaixo do centro da foto. Seriam o quê? Insetos? Abstrações reforçando o contraste? Ou então, como imagino, duas pequenas figuras humanas, uma delas podendo ser a de um homem vestido de linho branco, estranhamente desamparado e quase invisível diante da presença maciça da matéria e do tempo geológico? A força da foto, penso eu, deriva justo dessa contraposição de tempos, o tempo mais breve da vida e da figura humana, por definição fugaz e passageira, e o tempo da longa duração e formação da matéria rochosa. Também aqui, o desamparo é visível, sendo possível acrescentar ao desamparo uma curiosa forma de solidão serena, em que está ausente algum plano divino de salvação.

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A foto 3 tem o mesmo princípio de composição

– a presença forte da matéria rochosa e do tempo geológico, acentuada pelo granulado que resulta do mofo –, mas nela se acrescenta, digamos assim, um efeito estético lírico, a seu modo muito bonito, que é dado pela presença, mais para o alto, um pouco à direita da foto, de flores brancas e vivas. Cabendo acrescentar que lirismo muito frágil e delicado, apenas um traço fugaz da beleza em meio à força compacta da matéria rochosa.

Na foto 4, como as outras tendendo de modo

marcado à abstração, o contraste da composição monta um efeito estético a meu ver também lírico, de uma beleza fugaz e desamparada, que se vê na figura da bailarina de sapatilhas, com os braços erguidos, como que dançando à beira do abismo. Ao mesmo tempo em que a figura também parece curiosamente inscrita no relevo da rocha. Também aqui, a foto aponta para um tempo fora do tempo, já que a figura da bailarina está deslocada de qualquer contexto cotidiano que a situasse e referisse em relação à duração histórica como a conhecemos – o teatro, o espetáculo, o ensaio, o camarim, o bastidor, a rua – que indicariam outra direção do olhar e outra relação da imagem com o tempo.

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Mario Pedrosa, escritor e crítico de arte brasileiro, Centro Nacional ?????????, de ????????????????????????????????? Arte Contemporânea (CNAC), Paris, 1975. Acervo Instituto Moreira Salles 56


Otavio Shipper

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Fluído percurso Paulo Venancio Filho

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Não se sabe exatamente se são seres, figuras, modelos. Ou

a ciência, e esta, a imaginação.

um híbrido disso tudo. Mas, o que quer que sejam estão pre-

Estas formas lisérgicas, imateriais, flutuantes entre a

cisamente definidos, matematicamente definidos, podería-

aparição e a imaginação, parecem habitar um hiper ou infra

mos dizer. Eles exigem atenção e fascinam como a quem

mundo ao qual pertencemos, embora não nos seja familiar

vê pela primeira vez um catálogo de espécimens descon-

nem íntimo, mas presente ao nosso redor o tempo todo.

hecidos. A primeira vista os desenhos de Otavio Schipper

Desenho fluído, talvez assim fosse mais adequado chamar

supõem uma precisa catalogação de formas; a nitidez, o

estas formas que se definem pela instabilidade morfológi-

rigor similar à observação científica nos lembra os álbuns de

ca; formando-se e deformando-se, em constante mutação.

mineralogia ou os de espécies animais, tal a exatidão com

Formas de plasma, talvez. Portanto, formas transitórias e

que o desenho isola perfeitamente a forma sobre o fun-

fronteiriças entre reais e abstratas, limites entre ser e mod-

do branco do papel, revelando a singularidade própria de

elo, bordas entre níveis diversos da realidade, dobrando-se

cada indivíduo, ao mesmo tempo que acompanha os traços

entre um e outro. Daí a natureza simultaneamente nítida e

gerais de cada família e as formas que a caracterizam. Isso

difusa desses desenhos, impalpável mesmo.

em épocas que o desenho era o mais preciso instrumento de

A transparência da aquarela é o meio ideal e a flutuação que

observação e meio de reprodução de um universo afastado

ela dá à imagem sobre o papel indica a aparição quase fu-

da observação cotidiana do indivíduo comum e quando não

gaz, momentânea, daquilo que vemos no desenho. A trans-

havia ainda sido substituído pela fotografia e outras técni-

lucidez imaterial da imagem empresta aquela aparência

cas de reprodução. Será então que, novamente, o desenho

irreal, e ao mesmo tempo viva, imagem que o cinema atual

revela formas que só ele pode revelar?

com sua imensa capacidade tecnológica realiza, manipula

Mas que formas são essas? Existem ou são imaginárias, ou

e banaliza à perfeição. Os trabalhos de Otavio convergem

estão numa região além ou aquém da nossa observação,

uma refinada técnica manual a um imaginário que emerge

entre realidade e abstração? E o que elas representam?

da atualidade científico/tecnológica e suas representações

Seres orgânicos, figuras abstratas, estruturas inorgânicas,

visuais.

ou simplesmente formas imaginárias que, no entanto, são

As superfícies elásticas, topologicamente torcidas, moles,

estimuladas por todo um universo possível para além da

flutuantes e fluorescentes, não estão sob a ação da gravi-

observação e através deles temos acesso a estruturas não

dade, pelo menos dessa nossa; pertencem a um mundo

perceptíveis da realidade. Portanto, entidades que se en-

sintético, construído atrás do mundo real. Desenhar fluídos

contram entre a imaginação e realidade. Mas, em vez de

parece tarefa impossível. Como dar forma a algo que é por

se deixarem ver através de estados alterados da mente são

definição sem forma, feito de mais nada que uma lumi-

formas que derivam da investigação abstrata e rigorosa

nescência. Até a cor se define, tênue, no limite da matéria

da realidade. Descortinamos através desses desenhos um

transparente. Uns azuis que quase não chegam a ser cor,

mundo real mas não empírico, onde a imaginação provoca

mas a fuga de uma cor.


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CLAUDIO EDINGER Sertão da Bahia

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PATRICIA THOMPSON

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As entre-horas urbanas Sylvio Fraga Neto

Capturar imagens com uma máquina fotográ-

real ou aparente de ralas copas de árvores.

fica consome apenas o tempo de apertar um botão.

Este é o outro aspecto essencial da fotografia de Patri-

Porém, no campo das artes, podemos admitir que isso

cia: a inserção de elementos sem organização geomé-

é análogo ao ponto final de um poema, à última nota

trica rigorosa num contexto maior de arranjo visual. Há

de uma música, quem sabe à pincelada final sobre uma

sempre elementos que atribuem um sentido de ordem à

tela. Há poetas, por exemplo, que escrevem estrofes ir-

imagem: podem ser sombras alinhadas ou entrelaçadas,

retocáveis alla prima e produzem, no sentido mais rig-

vidros trincados em padrão homogêneo ou até mesmo

oroso da expressão, poemas acabados. Mas existem artis-

corriqueiras persianas. As imagens são quase sempre

tas que perseguem o artesanato disciplinado da palavra,

compostas por elementos passíveis de plena identifica-

do acorde ou da imagem: como se escultores criassem

ção, mas que transfigurados e assumindo outras possi-

a própria matéria-prima de sua obra para depois, com

bilidades iconográficas, servem para gerar imagens ines-

as mãos e os instrumentos de trabalho, modificá-la até

peradas e ambíguas perante a realidade.

o resultado final. Refletindo sobre o ato

Tal processo está presente em todo o tra-

de compor, percebo que é exatamente

balho recente de Patricia: imagens cujo

assim que compreendo as fotografias de

objeto principal é a forma não-represen-

Patricia Thompson: imagens construi-

tativa, embora elaborada a partir de ele-

das e reconstruidas em plena prática da

mentos figurativos triviais, cujo estímulo

composição formal.

visual é proporcionado simplesmente por

Bem ao contrário da concepção barroca

tudo aquilo que ela vê caminhando pelas

do horror vacuii — aversão ao vazio —

ruas em seu cotidiano. Decerto existem

a artista muitas vezes seleciona extensas

diferentes níveis nesta ação transfigu-

lacunas que servem como elementos

radora, através da qual elementos rep-

fundamentais na elaboração de suas

resentativos se tornam cada vez menos

fotografias. Nesse sentido, não posso

reconhecíveis, tangenciando limites rad-

deixar de recordar o grande João Cabral de Melo Neto:

icais ao fixar reflexos difusos na superfície de vidraças,

“onde foi palavra | (...) resta a severa | forma do vazio”.

em sombras ora rígidas e hierarquizadas, ora líquidas e

Este, de fato, é o tipo de vazio que está presente nas com-

esquivas.

posições de Patrícia, sobretudo como manifestação de

A fotografia de Patricia Thompson, embora primordi-

rigor estrutural. Eis que uma ampla parede branca ad-

almente urbana e focada na interpretação abstrata de

quire função crítica ao separar elementos do primeiro

elementos representativos, pode ser — talvez contradi-

ao último plano da imagem, articulando-os em arejado

toriamente — resumida em seu belo auto-retrato. Ela se

diálogo geométrico e cromático. Em outro caso, muros

apresenta serena e compenetrada no ofício de sua arte,

escuros emolduram com rispidez um facho inclinado

conferindo à imagem uma delicada textura de tela, uma

de luz, ao mesmo tempo propagando uma sucessão de

tonalidade quente que evoca o século XVII na Holanda,

cortes diagonais que o intensificam até a quase comple-

os contornos diáfanos valorizados por ocasionais cintila-

ta diluição entre ramos de vegetação. Por meio de seu

ções douradas, como nos Pré-Rafaelitas ou nos mestres

enfoque urbano, a artista cultiva contrastes expressivos

da Belle Époque: quem sabe, misteriosa e singela hom-

deste gênero, eliminando qualquer impressão de caos

enagem aos séculos de pintura que antecederam a fo-

entre a imponência de sólidas edificações e a fragilidade

tografia?

Sylvio Fraga Neto é pesquisador em história da arte, poeta e diretor do Museu Antônio Parreiras.

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T O R R E S

74

G A R C I A


75


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O Universalismo Construtivo Fernanda Terra

O

Universalismo Construtivo de Joaquín

símbolos, para o artista, são entendidos como

Torres García (1874-1949) se integra aos

“idéias-matéria”. Esvazia-os de suas semânticas

grandes movimentos construtivos do início do

originais para logo re-semantizá-los, dentro de

século XX. Sob influência, principalmente, do

uma nova sintaxe.

Neoplasticismo holandês – representado por Piet Mondrian e Theo Van Doesburg – o projeto do grande artista uruguaio caracteriza-se pela busca de um espaço plástico puro, que revela, entretanto, particularidades expressivas.

C

metafísica do Homem-Universo.

D

esta forma, acreditamos que o Universalismo Construtivo é uma forma de apre-

sentação e sistematização do conhecimento

N

a proposta de resgatar as origens artísticas

universal na Arte e se insere no contexto das

das culturas pré-históricas e ameríndias,

classificações filosóficas, voltadas para uma

ele agrega, a um vocabulário próprio, símbolos

organização elaborada e sofisticada dos con-

de culturas antigas, com ênfase no imaginário

hecimentos humanos – busca e encontro com o

indo-americano das culturas pré-colombianas.

sentido universal dos seres e das coisas. É pura linguagem em formação e, neste sentido, já não

om a criação de uma ordem estética pes-

O

pretende

estamos falando da representação formal, ou da

ser uma linguagem compreensível, em

diluição da forma na Arte, mas a substituição da

obra pode ser vista como uma síntese entre as

qualquer tempo, a todos os povos. É mais que

forma pelo signo: a pesquisa artística aqui de-

formas puras do pensamento e os aspectos intu-

uma concepção de Arte. É uma concepção

termina campos semânticos.

itivos do artista. Ela se caracteriza pelo equilíbrio

universal da existência humana. A idéia do

entre a abstração geométrica, inspirada nas

Homem-Universo desenvolvida pelo artista nos

grandes tradições matemáticas do passado e o

revela muito sobre sua obra. O homem, como

mundo dos ícones e símbolos na invenção de

manifestação do universo, está integrado a três

mas também pelo seu exaustivo trabalho teóri-

uma linguagem altamente sugestiva.

planos da existência. O primeiro plano, o mental

co e educativo. Por tudo isso é apontado, com

ou racional é o mundo abstrato, das idéias, dos

justiça, como uma das figuras mais importantes

através da criação de uma malha geomé-

números e das regras geométricas, representado

da arte latino-americana do século XX.

trica na superfície de seus desenhos e pin-

pelo triangulo. O segundo, o plano emocional,

turas – primeiro com o emprego de linhas or-

é o da concepção intuitiva representado pelo

togonais, depois a partir da regra matemática

coração. Finalmente o plano da matéria é a

dos retângulos áureos, conhecida como “Secção

vida instintiva: a vida animal, vegetal, e mineral

Áurea” – que o artista vai encontrar uma forma

representado pelo peixe. Dentro destes três

universal de expressão humana.

planos o artista constrói e estrutura suas obras

soal, Torres García quis chegar a uma arte

puramente abstrata, concreta e universal. Sua

É

Universalismo

Construtivo

criando uma síntese da existência humana

D

entro dos retângulos áureos ele desen-

no universal. A sistematização de palavras,

ha, de maneira frontal e planar, varia-

números, formas geométricas e signos dentro

dos ícones e símbolos. Arranja e rearranja os

da composição plástica atende a uma visão

signos segundo uma lógica de arquitetura. Os

cósmica e total e corresponde a uma linguagem

T

orres García nos deixou um legado valiosíssimo não apenas pelas magníficas obras,

Fernanda Terra artista e mestre em Museologia e Patrimônio, pós-graduada em História da Arte e graduada em Arqueologia, vem ao longo dos anos desenvolvendo um intenso trabalho com ‘arqueologia da imagem’ através de seu Ateliê Documenta. Foi colaboradora do Museu do Futebol de São Paulo, dentre outros museus e editora iconográfica de várias publicações. Há mais de quinze anos desenvolve trabalhos relacionados com o universo da Arte, dos museus e das publicações. Já expôs em coletivas e individualmente em diversos espaços da arte. fterra@infolink.com.br


PABLO REINOSO

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G U ID O BON FAN T I

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37


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61


Foto | ??????????????

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ENTREVISTA

GERAÇÃO ZERO Por

NELSON RICARDO MARTINS

E

ram seis da tarde quando cheguei ao edifício em torno dos 26 anos e pensava em minha própria onde fica o ateliê das irmãs Csekö, na rua Profes- trajetória. Nos anos 1980, junto com Sergio Mauricio e

sor Luis Catanhede, para uma entrevista com os inte- Flavia Portella, eu compunha o núcleo do Grupo Rádio grantes de três coletivos cariocas: o GrupoUM (www. Novela.1 À diferença deste e da maioria dos grupos grupoum.art.br), o Grupo Py (grupopy.blogspot.com) daquele período, as atuais formações não constituem e o Opavivará (opavivara.blogspot.com). Logo, do estruturas isoladas, buscam inserir as suas poéticas outro lado da rua, Julia Csekö, uma das integrantes em diferentes contextos, compartilhando-as com do Grupo Py, caminhava em minha direção. Entra- redes de artistas do Brasil e do mundo. Além disso, mos no prédio art déco,

procuram alternativas de

construído talvez no final

fomento e produção – como

da década de 30. Subimos

editais – que possibilitem a

por degraus intestinais e

obtenção de recursos para a

chegamos a uma espécie de

realização de seus projetos,

sótão que, provavelmente, havia sido a morada do sem que, no entanto, abram mão das convicções porteiro ou de algum operário da extinta Companhia experimentalistas que têm em comum com os grupos de Fiação e Tecidos Aliança, que durante anos fez de de décadas atrás. Os integrantes dos novos coletivos Laranjeira (RJ), um bairro operário.

fazem parte de uma geração que, quando chegou

Por todos os lados do espaço recém-reformado à cena artística, encontrou os espaços ocupados, os havia trabalhos das irmãs Csekö. Me sentei ao lado sistemas de arte cristalizados. Talvez este seja um da janela e me detive na vista estonteante. Mais um dos motivos de terem se unido – e, como a união pouco e todos chegaram: Joana Traub Csekö, outra faz a força, estão começando a colher os resultados integrante do Grupo Py, irmã de Julia; Nadam Guerra concretos. No início da década de 2000, formavam e Domingos Guimaraens, do GrupoUM, e Daniel To- um mesmo grupo, que se desdobrou em outros. ledo, do Opavivará e do Py.

Hoje, depois de muitos eventos, voltaram a se reunir

Olhava para aqueles artistas com a média de idade sob a sigla GG (Grupo Grupo).

Nelson Ricardo Martins: Antes de vocês se

com a participação de convidados que

autofomento, de um espaço para apresentar

desdobrarem em três coletivos faziam parte

apresentavam

as coisas, independente da materialidade

do GrupoUM. Como ele surgiu?

e música. O Domingos era um dos

delas.

Nadam Guerra: Nós começamos fazendo

participantes e fez lá, pela primeira vez,

Nadam: Todos que estão nesta entrevista

projetos individuais para o CEP 20.000. Em

a performance “Primavera derretida”. Ali

fizeram parte do GrupoUM. O “Manifesto

um CEP, o Domingos propôs que criássemos

surgia o Grupo Um.

UM” propunha novas categorias para

uma companhia de performances. Logo

Domingos

época

as artes, pois achávamos esta divisão

depois, o Espaço SESC aprovou um projeto

lançamos o “Manifesto UM - Por uma arte

de pintura, escultura, teatro, cinema,

meu, o “Cinema Manual Convida”, onde eu

única”e chamamos várias pessoas para uma

fotografia ou dança, insuficiente para falar

mostrava o “Cinema Manual”, 2 intercalado

reunião. O manifesto falava da questão do

do que estávamos fazendo.

performances,

Guimaraens:

fotografia

Na

87


Foto | Nadam Guerra e Débora 70

Cinema Manual - Grupo UM (Nadam Guerra), EAV Parque Lage - V::E::R, Encontro de Arte Viva, corpo: Jaya pravaz.

Domingos:

88

As novas categorias se

fizemos um chamado “Escultura Imaterial”,

por semana durante dois anos. Queríamos

chamavam: Performance fotográfica; Teatro

com trabalhos muito interessantes, como o

nos aprofundar na questão da autoria

Abstrato; Humanogravura e Escultura

Jogo de dentro, 3 da Júlia Cseko e O Homem

compartilhada, da diluição da identidade.

Imaterial, entre outras.

espelho,4 do Daniel Toledo.

Nelson:

Nelson: No início da formação do GrupoUM

Nelson: Quantas pessoas chegaram a

GrupoUM e formam o Grupo Py. Por que

vocês já tinham conhecimento da existência

participar do GrupoUM?

Py?

de outros coletivos?

Nadam: Chegaram a participar cerca de

Joana Traub Csekö: O Py se formou em 2005,

Nadam: Não, não tínhamos ainda nem

20 pessoas, mas a dinâmica interna do

com alunos da EBA (Escola de Belas Artes da

noção de que éramos um coletivo.

grupo começou a mudar, por que, além de

UFRJ). O primeiro evento que realizamos se

Estávamos fazendo um grupo ali para se

produzir eventos, havia a necessidade de

chamou Py = X Circuito aberto. “Py”, por

autofomentar, se autoproduzir. Cada um

realizar trabalhos em parcerias. Tanto que

que esse é o nome da rua de Niterói onde

trazia o seu projeto, cada um criticava,

o que seria o último evento do grupo não

aconteceu o evento, e “X” em homenagem à

perguntava como ia ser. Era uma construção

chegou a acontecer. E antes de o GrupoUM

Márcia X, que havia falecido pouco antes.5

coletiva nesse sentido. Depois é que a

se reconfigurar, ficando só eu e o Domingos,

Julia: O Orlândia e o Nova Orlândia tinham

gente foi sacar que havia um movimento

a gente estava tentando radicalizar a idéia

acontecido poucos anos antes [2001];

coletivo.

de trabalhar juntos. Neste evento que não

Grande Orlândia – Artistas abaixo da Linha

Julia Csekö: O GrupoUM era um grande

aconteceu, o Falsa identidade, as pessoas

Vermelha também [2003]. 6 Nosso projeto

viabilizador de propostas efêmeras – algo

fariam os trabalhos dos outros. A proposta

estava dentro do que vinha acontecendo no

que, naquele momento, não se fazia muito

era que eu fizesse um trabalho da Joana,

Rio de Janeiro: a ocupação de espaços não

no Rio, no Brasil. Enfim, era um lugar onde

o Domingos fizesse um trabalho da Julia, a

convencionais.

as pessoas estavam a fim de pensar em

Julia, um trabalho do Domingos.

Nelson: Quantas pessoas participavam do

performances, happenings – coisas que se

Domingos: A gente já tinha tanta vivência

grupo?

davam usando o corpo, o aqui e agora. Foi

juntos que era possível raciocinar com o

Julia: No início eram vinte pessoas, um

muito interessante a experiência.

trabalho do outro, pensar no desdobramento

monte de gente da EBA. Algumas pessoas

Domingos: O GrupoUm realizou vários

do trabalho de uma outra pessoa, que

tinham passado pela Escola de Artes

eventos. Me lembro que no Parque Lage

estava ali comigo conversando uma vez

Visuais do Parque Lage, outras foram

Algumas

pessoas

saíram

do


Foto | ??????????????

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vendo o que estava acontecendo, gostaram

espaço físico, imaginário ou poético que se

fase, o Pylar, em Santa Teresa, eu, que tinha

da movimentação e foram se juntando.

torna um espaço não ordinário, se torna

ido ao Pyrata, senti que havia algo diferente.

Depois da primeira exposição, fizemos uma

um espaço extraordinário. 7

Era uma exposição mais formal.

coletiva na FAN/RJ (Fundação de Arte de

Julia:

Pyrata,

Julia: Esse rigor foi crescendo quando

Niterói) com quinze artistas.

influenciados pelo TAZ, lançamos um edital

começamos a intensificar o trabalho e

Joana: Essa exposição acabou gerando

virtual que era muito aberto, no sentido de

pensar cada vez mais no resultado final,

uma super polêmica, porque dois trabalhos

que todos podiam se manifestar. Como não

querendo que a exposição ou o evento

quase foram censurados: um, do Daniel

havia dinheiro, era questão de vontade para

ficasse impecável. Mesmo não tendo

Toledo – era uma cobrinha com um baseado

realizar. O evento reuniu setenta artistas.

dinheiro ou infra-estrutura, queríamos que

na boca, se chamava A cobra vai fumar –; o

Joana: Foi uma ação interessante, porque

ficasse bem feito, que ficasse profissional,

outro, do Cadu D’Oliveira, era um desenho

era uma exposição feita por artistas.

no sentido de que as pessoas conseguissem

do Papa João Paulo II com a frase “Deixa

Exposições feitas por artistas muitas vezes

ver as obras, entendessem o que estava

o véio morrer”. Por conta desses trabalhos,

são acontecimentos mais experimentais,

exposto ali.

um bispo e a própria direção da FAN

em que você tem essa efervescência do

Daniel: Mas o Pylar tinha a mesma idéia

quiseram fechar a exposição.

criar. É diferente de uma exposição que

das outras exposições, só que dessa vez a

Julia: E depois dessas duas exposições,

tem um curador chamando pessoas, dentro

gente não lançou edital, os artistas foram

rolaram o Pyneo, ainda em Niterói e o

de algum guarda-chuva conceitual.

convidados para a ocupação da casa.

Pyrata, em uma barca que faz a travessia

Daniel: O Pyrata foi uma proposição de

Joana: O objetivo desse evento era que

Rio-Niterói

artistas jovens, que realmente não estavam

houvesse também uma troca entre gerações

Joana: Nesse momento surgiu para nós

inscritos no mercado. Ninguém tinha

de artistas. A gente achou que ia ser muito

uma grande influência teórica: o Hakim

galeria ou era convidado a participar de

bacana ter artistas mais velhos, com uma

Bey, com o conceito de “T.A.Z.” (Temporary

exposições. Acho até que, muito por isso,

produção mais consolidada, junto com

Autonomous Zone), conhecido em português

tanto o Py quanto o UM queriam realizar

artistas da nossa idade. Enfim, começamos

como “ZAT” (zona autônoma temporária).

os projetos: todos tínhamos trabalhos para

a dar uma misturada e mostramos que

TAZ é a ativação de um espaço durante um

apresentar e não tínhamos espaços.

era possível organizar um evento daquela

determinado tempo, a liberalização de um

Nelson: No último evento do grupo naquela

maneira, através do autofomento, da

Quando

realizamos

o

89


Foto | ??????????????

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90

autogestão.

grupo?

Callado saem do Py e criam o Opavivará. Eu

Julia: O conceito do Pylar foi dado pelo

Joana: Depois do Pylar tivemos uma

me lembro das apresentações anárquicas

espaço,

hibernação de dois anos.

do Opavivará no CEP 20.000.

aconteceu em todos os eventos do Py. O

Joana: Foi a dissidência causada por

Daniel: O Opavivará começou, na prática,

espaço estava ali e os artistas intervinham

algumas discordâncias.

a fazer ações dentro do CEP 20.000 – era o

da maneira que queriam.

Nelson: Quais eram as discordâncias?

Control C, Control V. Nessa época a gente

Julia: Obviamente tinha a participação

Daniel: Havia questões conceituais mesmo.

tinha lido o Hakim Bey e a nossa cabeça

da organização, buscando evitar que um

E também um desejo de construir algo que

estava naquele dilema: o que era o que?

trabalho passasse por cima do outro.

não fosse só a reunião de vários artistas

Eu me lembro que a gente conversava as

Joana: Sim, mas isso eram negociações

para propor e organizar um evento. Eu, o

coisas achando que era de uma pessoa só e

entre as pessoas.

Julio Callado8 e o Daniel Murgel 9 estávamos

não era. Um hipertexto mesmo.

Joana: Não é porque você não está num

com vontade de criar uma poética própria,

Nelson: E como acontecia o Control C,

espaço que seja um cubo branco que você

que fosse construída como se fossemos um

Control V?

não está mais falando de arte, entendeu?

único artista. Tem uma diferença, nesse

Daniel: Nós preparávamos uma comida

Você continua falando de arte com “A”

sentido, tanto em relação ao GrupoUM

no palco e, em paralelo, diversos artistas

maiúsculo.

como em relação ao Py.

convidados faziam as suas ações, seja

Nadam: É importante falar que tanto nos

Julia: O Grupo Py é mais um viabilizador,

falando poemas no microfone, realizando

eventos do Grupo Py como nos do GrupoUM

um agregador de pessoas. Eventualmente

performances, filmando ou fotografando o

a gente criava regras, porque estávamos

podemos

público.

pensando em um sistema para as coisas

coletivas, mas os nossos projetos são

Joana: Qual era a comida?

funcionarem, independentes do nosso

projetos viabilizadores, projetos que abrem

Daniel: Tipo um yakisoba com legumes –

trabalho estético.

e liberam os espaços para que as pessoas se

que era devorado, no final da apresentação,

Domingos: E a cada sistema que é

manifestem ali dentro enquanto indivíduos,

por todos, inclusive o público. A última

construído, a gente pega alguns elementos

porém, juntas.

ação que fizemos nesse formato se chamou

e larga outros.

Nelson: Voltando na linha do tempo. O

Nada sincronizado e foi na época dos

Nelson: O Pylar foi o último evento do

Daniel Toledo, o Daniel Murgel e o Julio

Jogos Pan-americanos no Rio. Esta ação

pelas

circunstâncias;

como

fazer

propostas

que

sejam


Foto | ???????????????????

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foi a mais caótica, a mais descontrolada.

Daniel: A casa, que pertence à família do

ocupação da casa era a de se montar uma

A gente não sabia, de fato, o que cada um

Ricardo Ventura, era alugada pela clínica

cozinha coletiva, com três fogões, uma

iria fazer. Outra ação interessante, também

oftalmológica Oculistas Associados. Quando

mesa gigantesca,

no CEP 20.000, foi a orquestra de assovios.

acabou o contrato de aluguel, eles não

espalhados. O que queríamos era que as

Começava com o palco no escuro. Quando

renovaram e o espaço ficou vazio. O Ricardo,

pessoas, a partir da convivência na cozinha,

acendiam as luzes, havia uma câmera

que tinha nos conhecido havia pouco

comendo e bebendo, fossem elaborando os

voltada para a platéia, filmando. Aí a gente

tempo, nos convidou para ocupar a casa.

seus projetos de ocupação.

começava a assoviar, batucar, fazer barulho,

O Opavivará, dentro dessa onda caótica e

Domingos:

experimentações sonoras com o que a gente

anárquica, propôs em uma primeira reunião

memória

tivesse junto ao corpo: chaveiro, celular. Foi

que, no encontro seguinte, chamássemos

independentemente

a experiência mais bem sucedida no que se

mais gente. Então, na reunião seguinte,

era que havia tanta gente na casa que

refere à participação do púbico.

mais pessoas foram chamadas e assim foi

eu não consigo lembrar das pessoas que

Nelson: Eu participei do Nada sincronizado

crescendo a idéia de que o espaço não seria

participaram ou não participaram – era

e confesso que poucas vezes me deparei

utilizado para uma exposição nos moldes

realmente um caos.

com algo tão anárquico. Enquanto o

em que o grupo Py fazia. A proposta do

Joana: Vocês acham que a convivência

Opavivará fazia uma espécie de quentão,

Associados era que fosse um grande ateliê,

funcionou?

várias coisas aconteciam simultaneamente

uma grande experiência, e que o resultado

Daniel: Se fosse hoje, eu não sei se

e sem a mínima sincronização. No palco, foi

final fosse um trabalho só, feito por todo

repetiria da mesma maneira, mas só

montado um pequeno campo de futebol

mundo.

ali dentro nós conseguimos observar

e jogamos durante toda a apresentação.

Joana: O conceito dos Associados era até

determinados aspectos de se levar uma

O público, embora tenha ficado meio

bacana, o problema foi o resultado.

experiência coletiva quase que às últimas

aparvalhado,

Mais

Daniel: Sim, mas o resultado tem a ver

conseqüências. Também acho que, agora, a

anárquico que o Nada sincronizado foi o

também com o que se espera. O que

gente tem esses dois pontos que podem ser

Associados, que aconteceu na Rua Jornalista

se esperava ali não era uma exposição

desenvolvidos. Ou seja: trabalhar dentro

Orlando Dantas, no mesmo endereço onde,

normal e sim um espaço de vivência.

desse limite do caos total e de uma coisa

anos antes, aconteceram as Orlândias.

Tanto que a proposta do Opavivará para a

mais organizadinha, caretinha e mais

não

arredou

pé.

panelas e alimentos

O que me fica como uma afetiva

dos das

Associados, participações,

91


Fotos | Luiz Alphonsus

Camadas de Universo - GrupoUM (Nadam Guerra e Dominigos Guimaraens), 3 vistas da mesma parede em diferentes situações de luz. Palácio Gustavo Capanema Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea - Instalação - 2006

92

formal como os eventos do Py.

municipal e às contingências cariocas de

história.

Joana: Os eventos do Py não são caretinhas

um modo bem real. Conseguiu agregar

Nadam: Tem a ver com a história da arte

– formal sim, vá lá. Rigor não é sinônimo

uma série de pessoas, gerando movimento.

no Brasil depois da redemocratização,

de

que

A gente se reencontrou a partir disso e a

quando um sistema cultural se estruturou

experimentação não é sinônimo de baderna.

energia que foi colocada nesse evento foi

e

Um quadro pode ser tão experimental

muito frutífera, gerou o GG.

foram responsáveis por esse processo,

quanto uma ação efêmera. Hoje em

Nelson: Esta junção dos grupos Py, UM e

naturalmente,

dia a gente já passou das delimitações

Opavivará, criando o GG (GrupoGrupo),

criados e os “novos artistas” são cada vez

estabelecidas pelo moderno. Hoje essas

potencializará as ações de vocês?

mais velhos quando conseguem se inserir.

categorias são fluidas, a experimentação

Nadam: Eu acho que a união significa

Não podemos dizer: “nós somos as artes

pode acontecer em “n” instâncias.

maturidade da nossa parte. Não tem isso

visuais atuais”, porque a Geração 80 ainda

Julia: Eu vi os CEPs nos anos 90, com Márcia

de achar que uma coisa é melhor que a

está aí; a geração 90 também ainda está aí

X, com Simone Michelin. Uma galera que

outra. Todas as coisas são possíveis.

produzindo. Os espaços já estão ocupados,

tinha rigor. A gente também leva o nosso

Daniel:

então temos de abrir novas frentes.

rigor.

Por exemplo, em relação a editais, além

Julia: Que geração nós somos, então? Somos

Daniel: O Associados foi uma experiência

dos três grupos poderem mandar projetos

a geração 2000?

tão radical que o Opavivará acabou por se

individualmente, temos mais uma chance

Domingos: Zero.

reconfigurar.10

de entrar com o GG que é a reunião de

Julia: Zero?! A gente é a geração zero!

Nelson: Voltando a cronologia: em 2002,

todos.

Nelson: Pra finalizar: como é para vocês,

forma-se o GrupoUM; em 2005, o Grupo

Nelson: A geração de vocês já encontrou

na condição de coletivos, a questão

Py; em 2006, surge o Opavivará e, em 2008,

um espaço próprio?

financeira?

com o FEBEARio, todos se reencontram de

Nadam: Somos uma geração que ainda está

Joana: As associações acontecem por

novo, dando origem ao Grupo Grupo, vulgo

encontrando a sua voz. Já estão surgindo

vontade e não por grana. Não, não tem

GG. Como se deu isso?

outras gerações, mais novas que a nossa, e

grana envolvida é trabalho e é por amor.

Joana: FEBEARio é o Festival de Besteira

a gente ainda não tem uma cara, não tem

Domingos: É afetivo e se efetiva. Afetividade

que Assola o Rio de Janeiro.11 Na verdade,

uma história.

com efetividade.

diz respeito a toda a má administração

Julia: A gente está fazendo a nossa

1 Entre 1981 e 1988, Grupo Rádio Novela realizou e participou de diversos eventos na cidade do Rio de Janeiro, entre eles: Projeto Rádio Novela (PUC-RJ), Como vai você, Geração 80? (Parque Lage), O visual do rock (MAM-RJ), As artes das artes (Noites Cariocas/Morro da Urca), 8º Salão Nacional de Artes Plásticas (MAM-RJ), É proibido olhar para o palco (Espaço Cultural Sérgio Porto). 2 Performances, instalações, fotos, vídeos e espetáculos a partir da projeção de imagens em tela plana. Como nos teatros de sombra, objetos são manipulados por trás da tela, compondo uma pintura de luz em movimento. 3 Vestimentas costuradas umas às outras em locais estratégicos. O público é convidado a vesti-las em grupos. 4 Performance em que o artista, após vestir-se dos pés à cabeça com uma roupa coberta de cacos de espelho, trafega em espaços públicos, por entre pessoas que, ao se aproximarem, vêem-se refletidas na escultura móvel. 5 Márcia X (1959-2005) formou-se na Escola de Artes Visuais do

Parque Lage e foi muito atuante no cenário das artes visuais carioca com seus vídeos, instalações, esculturas e performances. 6 Idealizados por Márcia X, Ricardo Ventura, Bob N. e Elisa de Magalhães, as coletivas Orlândia e Nova Orlândia ocuparam um imóvel vazio e em obras na Rua Jornalista Orlando Dantas (Rio de Janeiro). Poucos anos depois, foi organizada a coletiva Grande Orlândia - Artistas abaixo da Linha Vermelha, que ocorreu em um galpão em São Cristóvão. 7 Peter Lamborn Wilson (1945), escritor, ensaísta e poeta norte-americano, publicou diversos livros sob o pseudônimo Hakim Bey, entre eles TAZ: The Temporary Autonomous Zone, Ontological Anarchy, Poetic Terrorism (1985/1991). O original em inglês pode ser “pirateado e compartilhado” na internet, com anuência do autor e da editora, em endereços como www.hermetic.com/bey/taz_cont.html. Edição brasileira: TAZ – Zona autônoma temporária. São Paulo: Conrad do Brasil, 2001. Coleção Baderna.

caretice,

ao

mesmo

tempo

Estrategicamente,

potencializa.

amadureceu.

As

gerações

ocuparam

os

que

espaços

8 Julio Callado tem obras na Coleção Gilberto Chateaubriand e em coleções particulares do Rio de Janeiro. Concentra sua produção em ações e performances que se desdobram em registros fotográficos e poéticos. 9 Daniel Murgel trabalha com várias linguagens do campo das artes visuais, com especial destaque para a performance e o desenho. Na performance O curador, o artista, vestido de terno e gravata, come uma língua de boi pré-cozida e, com a boca cheia, lê um texto baseado em Assim Falou Zaratrustra, de Nietzsche, e no Eclesiastes. 10 Atualmente os integrantes do grupo são: Daniel Toledo, Julio Callado, Caroline Valansi, Pedro Victor Brandão e Daniela Koh. 11 Organizado pelo Grupo Py para a reabertura do Espaço Cultural Sérgio Porto, o FEBEARio, entre 11 de julho e 07 de setembro de 2008, homenageou Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do jornalista Sérgio Porto) com exposições, performances, exibições de vídeos e debates.


cerebelo

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A L E X A N D R E

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L I M A

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Felipe Hellmeister ganhou o Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2008, na categoria São Paulo. Sua exposicão estará aberta ao público de 11 de novembro a 14 de dezembro de 2008, das 10:00 às 18:00, no Espaço Porto Seguro de Fotografia, Alameda Barão de Piracicaba, 740, São Paulo.

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