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O PODER DA ÁGUA
SOMOS ÁGUA
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Podemos sobreviver muitos dias sem alimentação, mas não sem água. O líquido corresponde a 60% do corpo humano e tem papel fundamental no organismo
Texto: Lucas Katsurayama lucaskatsurayama@gmail.com Fotos: Nathalia Sasso e Tamires Rodrigues nathalianunes15@hotmail.com / tamyrodriguesmoraes96@gmail.com
O corpo humano é sólido, mas cerca de 60% da sua composição é água, segundo estudos da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN). O líquido é essencial nas funções vitais – da regulação da temperatura corpórea à eliminação de substâncias tóxicas – e é necessário tê-lo em quantidades corretas para um melhor funcionamento do organismo. Para evidenciar a importância do fluido, o pneumologista João Deodato Lunardi, de São Leopoldo, destaca: “O indivíduo pode até sobreviver muitos dias sem alimentação, mas sem água não tem como; ela mantém todo o corpo funcionando”.
Tanto os rins quanto o sangue, por exemplo, são compostos em grande parte por água. O primeiro tem função de filtrar as impurezas do segundo, que, por sua vez, realiza a circulação de substâncias – sejam elas boas ou ruins – no corpo. A doutora em nutrição Renata Ramos, do Programa de Pós Graduação em Nutrição e Alimentos da Unisinos, lembra: “Além disso, a água é o meio de excreção de substâncias tóxicas através da urina”. Sem o meio aquoso em quantidades ideais, os rins não desempenham o seu papel corretamente, deixando de eliminar as impurezas do organismo, como explica Lunardi. “As bactérias, que seriam eliminadas, ficam no corpo e, como consequência, atacam o organismo”, esclarece o médico.
Outra função do líquido é a regulação da temperatura. Ao praticar um exercício, ou até mesmo em um dia quente, uma pessoa transpira, “expulsa” o calor, para que a temperatura do corpo seja mantida entre 36 e 37°C. Caso contrário, o metabolismo não funcionaria adequadamente, já que necessita de determinada calidez, como explicam as pesquisadoras Ana Lúcia Serafim, Eilamaria Libardoni Vieira e Ivana Loraine Lindemann, de Santa Maria, no artigo Importância da água no organismo humano.
A lubrificação também é destaque entre as atividades da água. Se uma pessoa, por exemplo, bater a cabeça em algum lugar, as meninges vão minimizar o impacto entre o crânio e o cérebro. Essas meninges, com funções protetivas à massa encefálica, são lubrificadas pelo meio aquoso, que ajuda na redução de danos físicos. Outro exemplo da lubrificação é nas articulações e nos órgãos, evitando atrito.
A água também desempenha importante papel nas reações químicas do corpo e em processos fisiológicos. “Ela é responsável por
manter a homeostase (equilíbrio) entres os meios intra e extracelular, que permite o funcionamento perfeito do corpo humano”, explica o pediatra Werner Carvalho, de São Leopoldo. Em processos como a digestão de alimentos, a água está diretamente ligada às reações químicas.
O médico João Deodato Lunardi destaca ainda que o consumo adequado de água pode ser muito benéfico à pele. A epiderme hidratada fica “brilhosa, sebosa e escorregadia” e sem fissuras.
Desidratação mata
Durante o dia, uma pessoa perde água através da transpiração, da urina, das fezes e da respiração. Um estudo da pediatra Ana Escobar e da nutricionista Lara Natacci, ambas de São Paulo, aponta que a quantidade de líquido perdido diariamente é, em média, de 2,6 litros. Se uma pessoa realizar exercícios físicos ou estiver em ambiente quente – que a faça transpirar mais –, essa perda pode ser ainda maior. É necessário, então, repor, para que todas as funções já citadas ocorram normalmente.
Caso contrário, a desidratação pode até matar – como já explicado pelo médico Lunardi – já que os rins não desempenhariam o seu papel corretamente, deixando de filtrar o sangue. “No momento em que tu deixas de ingerir água, tu perde líquido e começa a entrar em colapso. A primeira coisa é a pessoa desmaiar, porque o cérebro manda um aviso ‘apaga esse ser para ele ficar deitado e não gastar energia’, para manter os principais órgãos, como coração e pulmão, funcionando”, explica o pneumologista.
Com devida importância e tamanha perda, a água precisa ser reposta. A ingestão de água é uma das formas de repô-la, mas não é a única. Outras bebidas, como leite e sucos, e até mesmo a comida, possuem água. Pelos estudos de Ana Escobar e de Lara Natacci, apenas 58% da reposição do fluido é feito pela ingestão de líquidos; os outros 42% vêm da comida. Como exemplo: 87% da composição do leite é água; nas frutas e nos vegetais, o número chega aos 90%; o pão, por sua vez, detém cerca de 31%. A nutricionista Renata Ramos, porém, alerta: “Alguns chás podem conter substâncias desidratantes”.
A quantidade de água a ser consumida não é determinada, pois varia de pessoa para pessoa. As mulheres possuem um volume aquoso menor do que os homens, necessitando, portanto, consumir menos água. “As mulheres devem ingerir 20% a menos de água pelo seu biótipo”, esclarece Lunardi. Carvalho explica a variação pela idade: “As crianças devem consumir, no mínimo, 150 ml/Kg por dia, e os adultos cerca de 1 ml/ quilocaloria ingerida. Então, se há um consumo diário de
A água está em todo lugar e é essencial para o ecossistema.Frutas e vegetais, por exemplo, podem conter 90% de água em sua composição
2000 quilocalorias, o ideal seria no mínimo ingerir 2 litros de água por dia”.
Um dos cuidados alertados pelos nutricionistas e médicos é quanto à quantidade de sódio nas garrafas de água, que variam de empresa para empresa. Renata Ramos dá um conselho: “É recomendado até 300 mg de sódio a cada 500 mililitros. Mas, se possível, que tenha a menor quantidade.” Se consumido em excesso, o sódio pode causar pedras nos rins, acidentes vasculares cerebrais, hipertensão e outros problemas de saúde.
Até quando o assunto é água, o excesso pode ser um problema. Em 2007, em um programa de rádio da Califórnia, os participantes tinham como objetivo beber a maior quantidade de água possível em um curto espaço de tempo para ganhar um videogame. Uma mulher de 28 anos ingeriu 6 litros em três horas e depois, em casa, morreu. A morte foi justificada por “intoxicação por água”. Para Lunardi, porém, a explicação é outra: “É um caso de edema pulmonar. O excesso de ingestão de água leva à insuficiência cardíaca. O corpo recebe uma quantidade de líquido maior do que estava previsto e, como o coração não está preparado, ele para pelo excesso de mandar tanto líquido para o corpo. Aí ele retém esse líquido nos pulmões. Os pulmões encharcam e levam ao edema pulmonar. Se não tratado com rapidez, leva ao óbito”. O pediatra Carvalho também não concorda com a justificativa: “Uma pessoa que tem todos os órgãos em pleno funcionamento, não morre por intoxicação hídrica. Possivelmente essa pessoa tivesse algum problema cardíaco ou renal que provocou essa intoxicação hídrica”.
“Beber água é beber vida!”, finaliza Renata. A nutricionista expressa o que pensa enquanto conhecedora de algo essencial para a existência da vida. A água pode dar mais saúde, maior qualidade de vida. Assim como pode, também, tirar uma vida – seja por excesso ou por falta.