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o poder dos animais

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O PODER DA VOZ

O PODER DA VOZ

o poder dos animais o poder dos animais ADORADOS

A águia, como reflexo do espírito estadunidense; a vaca, como fertilidade; e o gato, como proteção, são exemplos de como os animais são símbolos de poder em várias culturas

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Texto e fotos: Camila Medroa camilamedroa@gmail.com Fotos: Gabrielle de Luna gabideluna209@gmail.com

Gatos, cachorros, peixes, coelhos ou pássaros. Hoje é difícil encontrar um lar que não tenha um animal doméstico. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos de Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil ocupa o quarto lugar em população total de animais de estimação no mundo. Contudo, nas sociedades antigas, como o Antigo Egito, e em certas práticas religiosas, como o Hinduísmo e o Xamanismo, os animais representam muito mais do que bichos de companhia: são seres sagrados que ajudam a entender o mundo, a vida e até a individualidade das pessoas.

EGITO ANTIGO

As civilizações do Vale do Nilo, no Egito Antigo, desenvolveram-se no nordeste do continente africano, por volta de 3.200 a.C. Foi uma das maiores civilizações da antiguidade, destacando-se pelos grandes monumentos arquitetônicos, como as pirâmides; pela escrita, com os hieróglifos; e pelas ciências, com a mumificação.

O solo fértil da região – graças às enchentes do rio Nilo – ajudou a sociedade egípcia a estabelecer um sistema de agricultura, com a plantação de cereais, como trigo e cevada. Para o armazenamento, foram instalados celeiros e depósitos. Com isso, os alimentos ficaram à mercê de uma infestação de roedores, e os gatos foram a solução perfeita para evitar a disseminação da epidemia. Com o tempo, os gatos ficaram próximos dos seres humanos e tornaram-se os animais protetores da sociedade egípcia.

A deusa Bastet – deusa retratada com cabeça de felino e corpo de mulher – era considerada a protetora das mulheres grávidas. Também chamada de Ailuros, que significa “gato” em grego, a deusa era relacionada à fertilidade e à sexualidade e em sua homenagem foram criados centros de culto na cidade de Bubastis para o ensinamento das práticas obstétricas.

Nem todos os gatos eram considerados divindades. Os escolhidos tinham sido selecionados porque acre- ditava-se que eram reencarnações dos deuses. Esses gatos chegaram a ser domesticados em templos e eram tratados como membros da elite – com o direito de usar joias como os faraós.

Para Wellington Balém, professor de História do Centro Universitário Metodista (IPA),

em Porto Alegre, os egípcios viam, em certos animais, características de elementos da natureza. “O Rio Nilo, o deserto, a tempestade, todas essas forças da natureza, por exemplo, vão ser consideradas deuses, e os animais vão ser formas de identificar essas forças”, afirma o professor. “O crocodilo vai representar o silêncio; o hipopótamo, a fertilidade e a maternidade; o escorpião, a cura do veneno; o chacal, o protetor dos mortos, porque era um animal que rondava as necrópoles; e a íbis era um pássaro ligado ao deus Thot, que representa a sabedoria”, ressalta Balém.

Quando os animais sagrados morriam, eram mumificados e enterrados em locais específicos. Em 1888, um fazendeiro encontrou em Beni Hasan – cidade do Egito central – mais de 200 mil múmias de animais, em sua maioria gatos.

XAMANISMO O xamanismo é um conjunto de práticas enNo espaço Terra Mística – Núcleo de Vivências e Terapias, elementos contrado em várias culturas ancestrais que procura conectar-se com outros ajudam a descobrir o animal de poder de cada visitante planos de consciência que levam à cura, ou que busca a conexão com o mundo exterior e interior. A base do xamanismo é proveniente das culturas do norte da Ásia, como a Mongólia, a Sibéria e a Rússia.

No xamanismo existe a crença de que uma energia encontra-se disponível no universo e que nos acompanha na vida. Os estudiosos do xamanismo, como Michael Harner, antropólogo americano e presidente da Fundação para Estudos Xamânicos, perceberam que diferentes culturas manifestavam uma associação entre os humanos e elementos da natureza. Geralmente, essas energias apareciam em formas, como pedras, ou através de animais. Esses são chamados de animais de poder.

Tatiana Menkaiká, fundadora do espaço Terra Mística – Núcleo de Vivências e Terapias, em Porto Alegre, afirma que essa energia, representada por um animal, tem características muito parecidas com a nossa personalidade. “Ele seria como um anjo da guarda, como uma proteção. É uma energia que surge para te proteger, te guardar e que te ajuda a perceber melhor os sinais dos recursos à tua volta. É como se fosse um alerta e uma proteção.” O filme de animação dos Estúdios Disney, Irmão Urso, relata a conexão entre um nativo americano e seu totem, o urso do amor. Sem entender o motivo de ter esse animal como sua proteção, Kenai é transformado em urso pelos espíritos ancestrais para compreender o significado do seu totem. A história demonstra justamente essa ligação entre os animais e os humanos.

Tatiana explica que a concepção dos animais de poder acabaram se popularizando no meio urbano e diferem-se do entendimento do xamanismo tradicional. “Um caçador foi atacado por uma onça na floresta. O animal arranca a mão dele, mas o homem consegue lutar e mata a onça”, exemplifica. “No momento que ele matou a onça, passou a adquirir a energia daquele animal e também passou a entender como era ser um felino. Ele volta para sua comunidade como um vencedor que se salvou de um ataque de um animal feroz

e que adquiriu a energia da onça.” No meio urbano é diferente: geralmente são feitas conexões para descobrir o animal de cada pessoa. Eles podem ser encontrados em sonhos, visões ou com a companhia de um xamã, através de meditações.

Cada animal de poder possui uma única significação. O urso, por exemplo, representa encontrar a própria cura, porque, quando ele precisa, cava a terra em busca de raízes para se curar. O beija-flor representa alegria. Em algumas culturas nativas brasileiras, acredita-se que o grande espírito manifestou-se pela primeira vez na forma de um grande beija-flor. Já o lobo representa aquele que tem o instinto de cuidar, pois cuida da sua matilha. Também é um animal muito fiel e observador.

HINDUÍSMO

O hinduísmo – também chamado de Sanātana Dharma – é uma das filosofias religiosas mais antigas do mundo que engloba várias culturas e quase todas as religiões do subcontinente indiano. Nela, a função da alma é de servir à Krishna, o deus. Tanto os homens quanto os animais, mesmo não sabendo, estão servindo a deus, pois, ao vivenciar o mundo material, estão tentando satisfazer a ele de alguma forma. Por isso, no hinduísmo, tanto os seres humanos como os animais são sagrados.

O respeito do hinduísmo pela vaca é bastante difundido em telenovelas e filmes. E qual é o motivo da veneração por esse animal específico? Raghu Nandan, coordenador do templo Sri Narayan Goswami – Goudiya Math, em Porto Alegre, relata a história do surgimento da adoração da vaca. “Existe um plano espiritual eterno no qual Krishna reside e manifesta sua forma original. Nesse local, ele tem diversas atividades, como a de criação de vacas. Sendo provenientes desse plano, elas são consideradas sagradas. No mundo mate

PARA O HINDUÍSMO, Tanto os homens quanto os animais, mesmo não sabendo, estão servindo a deus, pois, ao vivenciar o mundo material, estão tentando satisfazer a ele de alguma forma

Sala do Templo Sri Narayan Goswami – Goudiya Math. Para entrar no aposento, é necessário retirar os sapatos rial, são reflexos desse mundo fotos: tatiana menkaiká/arquivo pessoal espiritual, mas não são deuses nem divindades. Ela é um ser puro e por isso não podemos nos alimentar dela.”

Certas divindades, como Hanuman, Narasimha, Garuda, Ganesha, possuem partes de animais no corpo, mas não podem ser considerados animais. São semideuses, partes de Krishna, que têm uma função específica e auxiliam nas tarefas divinas. Sri Ganesha, por exemplo, possui cabeça de elefante e corpo de homem e é considerado o deus da sabedoria, protetor do casamento e removedor de obstáculos.

Os animais são muito mais do que companheiros domes ticados. Eles podem ajudar a compreender o extraordinário, a proteger e ajudar a entender melhor o relacionamento com a natureza e com a própria individualidade.

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