Revista Shimmie Ed. 2

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Dicas IMPERDÍVEIS para estudantes e profissionais da

DANÇA DO VENTRE FIGURINOS

Cada corpo, um estilo BLOG

Dicas para seu blog de dança ter mais seguidores FUSÕES

Tango Árabe e Jazz Cabaret CABELOS

Visagismo: descubra como mudar o seu visual

Entrevista

EXCLUSIVA 00002

www.shimmie.com.br

com Jorge Sabongi (Khan el Khalili), Miles Copeland (Bellydance Superstars) e Omar Naboulsi (Bellydance®)

ANO 1 Nº 2 R$ 10,00

Dana El fareda: após ser aprovada na seleção da Khan el Khalili tornou-se um dos novos talentos da Casa de Chá.

CONFIRA MAQUIAGEM • ANATOMIA • FOLCLORE ÁRABE • LEITURA MUSICAL • MENTE • E MUITO MAIS!


Flávio Amoedo - Homem na DV flavioamoedo@shimmie.com.br

Beto Silva - Beleza betosilva@shimmie.com.br

Sheila Regina - Saúde Mental sheilapsicologa@shimmie.com.br

Mariana Rocha DV na Universidade marianarocha@shimmie.com.br

Renata Lobo - No inicio foi assim renatalobo@hotmail.com

Marcia Baptista - Faça você mesma marcinhabaptista@shimmie.com.br

Isis Mahasin - Fusão de ideias isismahasin@shimmie.com.br

Lulu Sabongi - Me leva Lulu lulusabongi@shimmie.com.br

Aysha Almeé - Clássico aysha.almee@hotmail.com

Samýra Muraddy - Olhos de Bastet samyramuraddy@shimmie.com.br

Maraísa Nunes - Saúde Corporal maraisafisioterapia@shimmie.com.br

Alex Fão - Figurinos alexfao@shimmie.com.br

Giuliana Scorza - Moderno giulianascorza@shimmie.com.br

Ives al Sahar - Teoria Musical ivesalsahar@shimmie.com.br

Sahira Fatin - Glamurosa sahirafatin@shimmie.com.br

Hanna Hadara Consciência Corporal hannahadarah@shimmie.com.br


Tufic Nabak - Folclore tuficnabak@shimmie.com.br

Rhazi Manat - Leitura Musical e Novelinha Shimmie rhazi@shimmie.com.br

Simone Galassi - Estilo simonegalassi@shimmie.com.br

Adriana Brida - Figurinos brida@shimmie.com.br

Naznin - Encontrei por aí e entrevistas international@shimmie.com.br

Vera Moreira - Make, Cantinho das Blogueiras e Finanças veramoreira@shimmie.com.br

Layla Almaza - Anatomia laylaalmaza@shimmie.com.br

Danna Gama - Fusão de Idéias e Corrente do Bem dannagama@shimmie.com.br

Como você, definitivamente única.


DIRETO DA REDAÇÃO

Diretoria Executiva Redação Monica Nice Marketing e Negócios Daniella Ogeda Nice Design e Multimídia Adriana Brida Monteiro Produção Divina Consultoria www.divinaconsultoria.com.br Redação Jornalista Responsável Andre Rossi - MTB 30.907 Diretora de Arte Josi Madureira Diagramação Carol Troque Sara de Morais

Refletindo sobre nosso mercado, nossa profissão... Nesta edição, nossa matéria de capa conta com entrevistas mais do que especiais com três empresários do nosso mercado: Jorge Sabongi, brasileiro, proprietário da Khan el Khalili(SP), Miles Copeland, norte-americano, dono do grupo Bellydance Superstars, e o brasileiro Omar Naboulsi, proprietário da empresa Bellydance®, que agencia bailarinas brasileiras para trabalho no exterior. Como redatora, fazer a organização deste trabalho editorial não foi das tarefas mais fáceis, pois a equipe vinha das entrevistas com um material vastíssimo, difícil de condensar em poucas folhas. Mas, ao organizar este trabalho, uma outra tarefa foi interna: lidar com conteúdo vindo de homens tão experientes, falando de temas muitas vezes polêmicos, mexeu muito com minha essência de bailarina, assim como acredito que mexerá com a sua. São páginas que nos trazem à responsabilidade em tudo que fazemos e com quem temos contato em nosso dia a dia: nossas alunas, nosso público, nossa presença em cena. Não há como qualquer pessoa que tenha uma responsabilidade mínima com o que faz ficar imune. Concordando ou não com estes pontos de vista, estas entrevistas são, no mínimo, convites à reflexão e, por que não dizer, à ação em direção a uma dança de qualidade, um mercado mais sério e comprometido para todas nós.

Contato Administrativo Patricia Moura Tradutora e Intérprete Thaís Cristina Casson Contato Publicitário Lucília Braccesi Fotógrafa Adelita Chohfi Usina de ideias Vera Moreira Produção Gráfica Kamaleão Digital Tiragem 5.000 exemplares A Revista Shimmie é uma publicação bimestral da K Editora & Comércio de Papéis Ltda, destinada ao público envolvido com a Dança do Ventre. ISSN 2178-5759. A Revista Shimmie é destinada à informação e entretenimento, não cabendo responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo este último de inteira responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução total ou parcial de qualquer material sem prévia autorização por escrito.

Atendimento ao leitor contato@shimmie.com.br

Assinaturas

A Redação

assinatura@shimmie.com.br

Marketing e Negócios

marketing@shimmie.com.br

os no Não esquecendo que estam reria cor final de ano, com toda a s, ola esc dos festivais nas a viagens... é um prazer par sa nes ê voc com os arm nós est o, iss por caminhada dançante, eja des ie mm Shi toda a Equipe a você um Feliz Natal e um Reveillon maravilhoso!!!

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Redação

redacao@shimmie.com.br

Anúncios

anuncio@shimmie.com.br Tel.: (+55) 11 2876.2011 www.shimmie.com.br www.lojashimmie.com.br



GPS DA REVISTA

COLUNAS

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Estilo

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Figurinos

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Maquiagem

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Beleza

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Faça você mesma

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Cantinho das Blogueiras

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Fusão de ideias

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Fusão de ideias Jazz Cabaré

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Folclore

21

Me leva Lulu

22

Corpo – Anatomia

23

Corpo – Consciência Corporal

24

Saúde Mental

25

Saúde Corporal

26

Dança do ventre na universidade

27

Encontrei por aí

45

Jovens Talentos

46

No início foi assim

48

Finanças

49

Meu negócio

50

Corrente do bem

52

Leitura Musical

53

Teoria Musical

54

Moderno

55

Clássico

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O Homem na dança do ventre

57

Olhos de Bastet

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Eventos

NESTA EDIÇÃO

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Programe-se

28

60

Glamurosa

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Novelinha Shimmie

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Figurino Clássico Corpo Ampulheta Gold Ebony Visagismo Camiseta customizada Quando as leitoras não vem Tango Árabe

ngi Jorge Sabo

Dabke Viajando com a dança pelo mundo Parte superior e bacia Consciência corporal no aprendizado da dança do ventre Fortalecendo a autoestima Para que servem os joelhos? Desmistificando a graduação de Dança Rua do encontro

Miles C opelan d

Jovens Talentos Renata Lobo

O Futuro chegou. E agora? Escola Shiva Nataraj APADE

O Violino

Instrumento de percussão Dança do ventre moderna Música clássica árabe

si Omar Naboul

A arte sem preconceito Deusa Sekhmet

Momentos Inesquecíveis

Saber dançar te faz professora? Coreografando emoções...

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Capa

Homens que fizeram e fazem história na DANÇA DO VENTRE modelo da capa: Dana El fareda fotógrafo: Manoel Guimarães



O QUE TEM NO SITE

ENQUETES

ÚDO CONTE

ENTREVISTA

PROGRAME-SE

ONDE ENCONTRAR

VÍDEOS

PROMOÇÕES

SIVO

EXCLU

ES

CALENDÁRIO DE EVENTOS

ANT

SSIN RA A

PA

MAKE-UP PA RA PELE NEGRA

ONDE ENCONTRAR A SUA SHIMMIE

E MUITO M AIS!!! NOVELINHA

ENQUETE GALASSI O: FIGURINO CLÁSSIC JA? AN FR M SE COM OU

CONF CULTU IRA OS CO MBOS RAIS Q UE PREPA ROU P A SHIMMIE RA VO CÊ!!!

SHIMMIE

TARÔ EGÍPCIO SEGUNDA CA RTA

VEJA MAIS NO SITE

AGUARDE! NA EDIÇÃO 3

MITOS E VERDADES SOBRE A DANÇA DO VENTRE Ops!!! Edição anterior... A grafia correta do nome de nossa colunista é Samýra Muraddy. Na página 36, faltou o nome do músico e colunista Ives Al Sahar.

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MURAL DAS LEITORAS

A equipe Shimmie agradece a todos nossos leitores!!! “(...)Adorei a seção Corpo - Anatomia e Consciência corporal, será, com certeza, mais fácil dar aulas com essas matérias para enriquecer nosso vocabulário. A revista tem um numero de paginas excelente, tentem não encher com muitas propagandas e fotos... Desejo que vocês tenham muito sucesso”

Fatima Nogueira, São Vicente, SP

“Olá! Ganhei a assinatura do marido, chegou ontem e acabei de ler..adorei! Parabéns a todos! Sucesso total! um beijo!”

Luciana Arruda – Guararapes - SP

Quero parabenizá-las pela revista maravilhosa! As coisas das quais eu gostei foram: - o design elegante. - a originalidade dos artigos. Uau! O artigo sobre o grupo de meninas com Down...amei! Eu nunca tinha visto um artigo sobre esse tema antes. E eu também gostei do fato de os artigos insistirem na dança como uma forma de arte, que requer preparo, e que vai muito além do mero entretenimento. Desejo o melhor para vocês e novamente, Auguri!, que significa “parabéns” em italiano!

“A revista está maravilhosa! devorei as matérias no fim de semana! Por favor, repasse a toda a equipe os meus parabéns pela edição e apresentação do trabalho! Finalmente a Dança do Ventre tem um meio de informação completo!!”

Simone Iost, Itapetininga, SP

Gostei muito da Revista, mas senti falta de outros anunciantes de fora de São Paulo!

Maria Strova, Itália (comentário recebido por e-mail, e traduzido por Naznin).

“Quero dizer que adorei a revista Shimmie! Ela chegou aqui em casa ontem, e cheguei a ficar emocionada! Excelente qualidade gráfica, temas pertinentes, respeito às diferentes vertentes, enfim, tudo de bom! Vou começar a divulgá-la!”

Ameeeeeeeeiii a novelinha!! Cheguei a me emocionar, relembrando minhas primeiras aulas. Que saudade daqueles dias!! Um ano sem dançar me aperta o peito. Mas ano que vem voltarei. Parabéns!!!

Lucy Linck, Porto Alegre, RS

Celle, no site da shimmie

Marcelle Costa, Brasília, DF Shimmie responde: Marcelle, estamos abertos a anunciantes de todo Brasil, inclusive exterior. A partir desta edição, já temos anunciantes de outros Estados, além de termos ampliado nossos pontos de venda, a saber: Brasília, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pará. Com esta ação, o nosso objetivo é contribuir para o crescimento do comércio local, com a entrada de novos anunciantes destes pólos. Obrigada pela contribuição!

O Atelier Simone Galassi deseja a todos os amigos e clientes

Boas Festas e um próspero Ano Novo! Exclusividade e luxo sob medida

Visite nosso novo site www.ateliersimonegalassi.com.br dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br 9 55 11 5083.8455

Parceria Revista Shimmie e Atelier Simone Galassi: vote na enquete do site www.shimmie.com.br


ESTILO

Figurino por SIMONE GALASSI fotos FERNANDO N. RODRIGUES

A bailarina quando escolhe uma música clássica para sua dança, deve criar uma entrada grandiosa, assumindo a figura poética que o público tanto aguarda na abertura de um show. É neste momento que o figurino tem seu papel mais importante, pois é ele quem ajuda a bailarina a se transformar no personagem lúdico e delicado que desliza pelo ambiente encantando a todos. Para este momento tão especial devemos sempre lembrar de bailarinas como Samia Gamal, Taheya Carioca e Souhair Zaki, que sempre exibiam seus figurinos esvoaçantes com amplas saias e sempre muito brilhantes. Os godês em musseline, crepe ou seda são os mais indicados nestas ocasiões, pois são tecidos leves e transparentes, que expressam delicadeza e dão movimento à dança. As organzas e tules com toque de seda também são bem vindos, porém, vão ¨sempre¨ exigir um forro, pois são muito transparentes e tendem à 10

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vulgaridade se mal utilizados. Devemos lembrar que a música clàssica normalmente abre o show, e você deve causar a melhor impressão possível, portanto nada de exagerar na transparência - é muito ruim enxergar o entre pernas da bailarina durante a dança, isso tira todo o glamour do seu show. Mas se você não é fã das godês ou se elas não se adaptam ao seu biotipo, você pode optar por saias evasês ou modelos ¨sereias¨ que se ajustam ao quadril e começam a ampliar na região dos joelhos chegando aos pés, sempre com uma quantidade de tecido suficiente para causar a mesma impressão da leveza das godês. Para compor as clássicas saias esvoaçantes, não podemos esquecer do cinturão e do bustiê que devem estar sempre lindamente bordados, bem acabados e ajustados ao corpo. Quanto às franjas, elas podem ser opcionais, não são elas que definem se o figurino é clássico ou

não, mas não tenha dúvida, elas dão mais movimento a sua dança. Acessórios são sempre muito bem vindos e merecem uma certa atenção para não destruir todo o figurino. E por fim, as famosas "telinhas" tules com elastano em sua composição que se ajustam ao corpo e ajudam muito quando a bailarina não quer expor parte do seu corpo ou quando quer criar um novo efeito para seu traje. Elas podem ser bordadas ou não, mas o que importa é que estejam em perfeita harmonia com o restante do seu figurino. Agora é só escolher sua música, porque criar um look clássico você já sabe: saia esvoaçante, cinturão, bustiê e acessórios, todos somados com bom gosto e cuidado. Agora você está pronta para encantar seu público. Simone Galassi é estilista simonegalassi@shimmie.com.br



FIGURINOS

CORPO

AMPULHETA

“O segredo de se vestir bem é o mesmo para fazer qualquer outra coisa. É ter conhecimento daquilo que se está fazendo e porque o está fazendo” Marlene Tarbill – consultora de imagem por ALEX FÃO E ADRIANA BRIDA ilustração ALEX FÃO

O importante para uma bailarina não é quanto se gasta ou onde se compra seu figurino, mas o quanto se sabe na hora de comprá-lo. Para isso, antes de qualquer coisa, precisamos analisar as características físicas da bailarina, seu tom de pele, sua personalidade, e verificar qual o estilo de dança ela irá apresentar.

Nossa proposta neste caso será valorizar ainda mais a cintura, disfarçar as coxas grossas e deixar busto e quadril ainda mais harmônicos. Para ilustrar nossa matéria, escolhemos o amarelo como cor predominante do figurino; uma cor estimulante, quente, ligada a uma personalidade receptiva, acessível, alegre, otimista e criativa. Figurino 1 (errado): O figurino possui mais de uma fenda, o que faz mostrar mais a coxa grossa. No bordado de busto e quadril não há harmonia, deixando a impressão de que ambos não estão proporcionais. Figurino 2 (certo): O figurino é mostrado com apenas uma fenda, para não mostrar tanto as coxas da bailarina. A cintura ficou mais marcada, porque trabalhamos com um bordado não muito gritante no busto e quadril, e acrescentamos mangas, tornando assim todo o conjunto mais harmônico e colocando o foco totalmente na cintura.

Em nossa primeira edição falamos sobre o corpo “triângulo invertido”, onde os ombros são maiores que o quadril. Nesta edição vamos falar sobre o corpo geralmente encontrado nas mulheres negras e brasileiras em geral: o “ampulheta” – ombros e quadril da mesma largura, uma cintura bem definida, costas largas e geralmente coxas volumosas.

Os Acessórios

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Neste caso, você pode usar e “abusar” do dourado. Sempre lembrando de dar uma balanceada entre as partes. Um brinco grande combina com um colar discreto, enquanto um brinco médio já combina com um colar maior. O importante é você saber dosar na hora de montar a composição. Não podemos esquecer que figurino e aces-

sórios são apenas complementos para a composição de um personagem, nunca devendo chamar mais a atenção que a sua dança! Em nossa próxima edição iremos estudar o corpo “retângulo”, predominante entre as mulheres orientais. Alex Fão – Estilista alexfao@shimmie.com.br Brida – bailarina de dança do ventre brida@shimmie.com.br


GOLD EBONY

MAQUIAGEM

“Minha vó que foi rainha, Minha mãe que foi princesa, Eu me orgulho de ser Uma mulher negra” (Mulher Negra – Banda Reflexu's) por VERA MOREIRA fotos ADELITA CHOHFI

A temática desta maquiagem foi iluminar a pele da modelo, que é de uma tonalidade bem escura. Antes de iniciar o trabalho nos olhos, é importante caprichar na preparação da pele. As mulheres negras, cuja tonalidade da pele for mais escura, devem preferir a base marrom com fundo mais acinzentado. As mulatas devem optar pela base marrom com o fundo mais vermelho, ou terracota. É importante desmistificar que a pele negra só admite maquiagem com cores claras e luminosas. Pelo contrário! A pele negra admite todos os tipos de tonalidades. É a mais versátil no que diz respeito à maquiagem. Assim sendo, utilizaremos muita sombra preta, sem medo de exagerar. Para dar um destaque na sombra dourada, faça um traço grosso com o lápis preto bem próximo à linha dos cílios e esfume com os dedos. Aplique por cima a sombra dourada com cuidado. A sombra utilizada na modelo foi um pigmento (ou sombra em pó solta), que tem uma cor bem melhor do que a sombra prensada. No canto externo, muita sombra preta para dar profundidade aos olhos. Para intensificar o efeito da sombra preta, fiz alguns traços com o lápis preto no canto externo (por cima da sombra), e após um esfumado bem caprichado, reapliquei sombra preta por cima. Uma boa dica para morenas e negras é utilizar uma sombra marrom acima do côncavo, para fazer um degrade com a sombra preta. E não esqueça do iluminador. Na foto utilizei uma sombra cor champagne cintilante. Mulheres negras têm que apostar sempre na sobrancelha bem delineada, e para realçar o olhar, não devem economizar no lápis preto, no delineador e nos cílios bem poderosos. Nas bochechas, o blush deve ser bem iluminado, porém observando-se o tipo de pele para que o brilho excessivo não realce poros e imperfeições. A modelo está usando um blush pêssego com brilhos dourados. Nos lábios, apenas um batom cor de boca com gloss transparente, para não carregar o look. E nossa deusa de ébano está pronta para arrasar! Vera Moreira é bailarina e professora especializada em maquiagem de palco. veramoreira@shimmie.com.br dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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BELEZA

VISAGISMO O que é visagismo? por BETO SILVA fotos ADELITA CHOHFI e DIVULGAÇÃO

ANTES

DEPOIS

Visagismo é uma técnica aplicada nos cabelos para disfarçar traços e expressões indesejáveis nos variados tipos de rostos, com a qual conseguimos ótimos resultados. Existem 5 tipos de rostos: oval, quadrado, redondo, retangular e triangular, e para cada rosto conseguimos o corte perfeito. Vamos mostrar que com um leve corte de cabelo, e sabendo modelá-lo, podemos mudar completamente o rosto de uma pessoa. Veremos como isso funciona com um rosto de formato redondo. Antes: temos um cabelo dividido ao meio, e devido às bochechas mais “cheinhas”, o rosto parece ficar ainda mais redondo e com isso, até a

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expressão da modelo fica mais triste. Depois: mantivemos o comprimento do cabelo, mas fizemos um corte perfilado (desfiado) em sua frente, começando da ponta do nariz e terminando no comprimento lateral; modelamos todas as pontas para dentro para disfarçar a linha das bochechas e fizemos um volume no topete, jogando para um dos lados, fazendo com que este rosto fique mais alongado. A dica mais importante é que em todo rosto redondo o cabelo jamais pode ser dividido ao meio. Sempre a frente do cabelo deve ser jogada para um dos lados e com volume no alto da cabeça. Também não são ideais as “franji-

nhas”, use somente “franjões” em diagonal e desfiados. Com estas técnicas, conseguimos mudar o rosto completamente! Beto Silva é cabeleireiro betosilva@shimmie.com.br

Para saber mais leia: Visagismo - Harmonia e Estética Philip Hallawell, Editora Senac, 292 páginas, R$ 48,90 Visagismo integrado - Identidade, estilo e beleza Philip Hallawell, Editora Senac, 288 páginas, R$ 60,00



FAÇA VOCÊ MESMA

CAMISETA

Customizada por MÁRCIA BAPTISTA fotos ADELITA CHOHFI

MATERIAL 1 camiseta branca Linhas de bordar em cores bem vivas Pedaços de tecido florido Fita, ou sianinha colorida Agulha de costura Papelão Molde de flor Lápis preto Tesoura MODO DE FAZER Com o lápis, risque o molde da flor no papelão e recorte, repassando no tecido. Corte 3 flores, costure em ponto caseado aberto com a linha colorida que combine, e dê destaque na camiseta posicionando-as de forma harmoniosa. Com a linha colorida, faça a barra das mangas em ponto caseado aberto. Na barra da camiseta costure a sianinha. Pronto! Sua camiseta já ganhou um novo look.

Marcinha é artesã e estudante de Dança do Ventre. marcinhabaptista@shimmie.com.br Dicas para soltar a imaginação! Copie os moldes abaixo em uma folha de papel vegetal ou papel manteiga e com a ajuda de um papel carbono transfira os desenhos para um papelão e recorte.

Molde FLOR 1

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Molde FLOR 2

Molde FLOR 3


CANTINHO DAS BLOGUEIRAS

Quando as

LEITORAS NÃO VÊM

Como fazer seu blog ter mais acessos por VERA MOREIRA ilustração SARA DE MORAIS

Lindo sábado de sol. Você olha pela janela e sorri com a certeza de que será um dia maravilhoso. Espreguiça-se para a vida, espalhando boas energias à sua volta. Depois de um delicioso café, você senta em frente ao computador, abre o Google Analitics e AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! O tremor toma conta de seus membros, e você não consegue acreditar no que seus olhos veem: o relatório diz que na última semana apenas 15 pessoas visitaram seu blog. A cena é imaginária, mas a situação é muito comum: mesmo diante dos largos esforços da blogueira em trazer informação de qualidade, e do seu tempo gasto em pesquisa e na elaboração de posts com bom conteúdo, o retorno não vem como esperado. Podemos diagnosticar este caso como simples desinteresse da leitora em boa leitura para bailarinas. Mas também pode ser que a blogueira não esteja utilizando todas as ferramentas de que pode lançar mão para fazer de seu blog “hit nas paradas de sucesso”. Falaremos aqui de coisas simples que podem ajudar e muito a aumentar o número de visitas em seu blog. 1. Capriche no layout: não hesite em investir um tempo procurando um bonito layout para seu blog. A pri-

meira impressão é muito importante para quem está acessando seu espaço pela primeira vez, e um layout mais simples não vai chamar a atenção do visitante. Existem diversos sites na Internet que oferecem templates gratuitos e muito bonitos. Escolha um que mais combine com sua personalidade, com o objetivo do blog, e capriche nos gadgets. 2. Não seja prolixo: elabore posts de qualidade, mas entenda que nem todas as pessoas que lerão seu blog são doutoras em dança do ventre, que conhecem os mais diversos tipos de ritmos e danças folclóricas, que dissertam longamente sobre as bailarinas do passado. O blog é de natureza “autoral” sim, ou seja, nele você escreve o que quiser. Mas, se quer mais visitas em seu blog, use linguagem simples, de fácil interpretação. Traga novidades, esteja bem informada sobre o que acontece nos eventos, assista a muitos vídeos do Youtube, e esteja sempre com uma matéria “furo de reportagem” na manga. 3. Habilite a ferramenta “Pesquisa de blogs” no painel de controle de seu blog: o Google atualmente lança mão de uma ferramenta chamada “spiders crawl blogs”, que atualiza em tempo real o conteúdo de sites pes-

soais na Internet. Assim, cada vez que você inserir um assunto novo em seu blog, em poucos minutos ele estará no Google para ser pesquisado. Se sua “Pesquisa de blogs” estiver desabilitada, nenhum usuário que utilizar mecanismos de busca para procurar informações irá visualizar as atualizações do seu blog. 4. Tenha sempre um cartão do blog na bolsa: existem milhares de pessoas no meio de dança que não estão acostumadas a pesquisar sobre assuntos de dança na Internet, e que não têm já identificados os sites para onde direcionam suas pesquisas. É por isso que você sempre tem que andar com um cartão, um folder, um papelzinho, qualquer coisa onde estejam escritos em letras grandes seu nome, o endereço do blog e o conteúdo. Assim, quando você falar para alguém sobre seu blog, ofereça um cartão. Você verá que a pessoa não perderá a oportunidade de acessá-lo. São dicas simples, mas de retorno certeiro. E você poderá, finalmente, sorrir feliz diante do computador em um lindo sábado de sol! Vera Moreira é blogueira veramoreira@shimmie.com.br

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FUSÃO DE IDEIAS

TANGO ÁRABE por DANNA GAMA imagem FOTOLIA

...procure por Gardel e Piazzolla – só cuidado... você vai se apaixonar!

Pela voz de Carlos Gardel e pelas mãos de Ástor Pantaleón Piazzolla o tango imortalizou-se, tendo até hoje reconhecimento mundial como um dos estilos mais sedutores. Os tangos são densos, românticos, sofridos, com uma interpretação dramática muito forte. E qual é a relação entre nosso mundo árabe e o tango na música? É isso mesmo: o amor! As mais belas músicas árabes têm o “mesmo tom” do tango argentino. A interpretação nesse caso é parte fundamental da composição coreográfica. Para os grandes admiradores de tango, como eu, o que mais fascina é que mesmo sendo muito sensual, é uma interpretação que não passa nem de longe pela vulgaridade. O tango é luxo puro! A tangueira é forte, poderosa, linda, sensual, mas NUNCA vulgar. É um estilo com o qual quando queremos fazer uma fusão, podemos usar uma música árabe que tenha uma levada de tango, ou um tango original mesmo. Dicas para conhecer os mais lindos tangos: procure por Gardel e Piazzolla – só cuidado.... você vai se apaixonar! Hoje também existe o Tango Novo (como dizemos nós bailantes) ou Tango Eletrônico; eles misturam a raiz do tango com bases eletrônicas – e o resultado é fantástico! Procurem pelo Gotan Project, Bajo Fondo, Narcotango, Tanguetto, Ultratango... Outro aspecto importantíssimo é o figurino. Cuidado para não misturar tudo. Rosa no cabelo é bailarina de flamenco, não é tangueira. O chapéu, por exemplo, funciona como um complemento perfeito. A meia calça e a meia arrastão são acessórios interessantes para usarmos. Dançar de salto ou descalça? Eu, particularmente, gosto mais de salto... o “taco” dá um efeito lindo, mas treine bastante, pois seu eixo corporal muda com o sapato. As saias podem ser no estilo Belly Dance ou Tango. Vale até calça, vai depender do foco da sua coreografia. Lembre-se somente que as saias de tango têm fendas propositalmente grandes para que os movimentos de boleo, chiches, rulo, cancheio, oitos e outros adornos apareçam. As figuras (como chamamos os movimentos compostos do tango) são lindas se bem executadas, então estude antes de usá-las. Lembrem-se que no tango, os joelhos estão SEMPRE juntos, nas caminhadas e adornos. É como se um joelho se encaixasse atrás do outro. Para os que já amam o tango como eu, bons estudos! E para os que ficaram com a vontade aguçada... busquem conhecê-lo. Certamente não irão se arrepender!

Dicas para assistir: Tango tradicional: Pablo y Dana / Mundial de Tango / Fabio Martins e Sirley Paplewsk / Señor Tango. Tango Oriental: Shahdana / Amir Thaleb / Yamil Annum y Sonia Hurtado. Danna Gama bailarina, professora e coreógrafa de Dança do Ventre. dannagama@shimmie.com.br 18

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JAZZ CABARÉ Ahhh, o Jazz Cabaré!!! por ISIS MAHASIN imagem FOTOLIA

O Jazz apresentado nos grandes cabarés entre as décadas de 20 e 50 sofria muitas influências das músicas e estilos de dança que faziam a cabeça das pessoas ao redor do mundo naquela época, mas sempre apresentado com muito glamour e sensualidade. Mas voltando a falar da dança inicial, Jazz Cabaré é uma fusão com danças dos anos 20, 30, 40, e 50, entre elas o Swing, Charleston, Lindy Hop, Can Can etc. As danças que estavam “bombando” na época em diferentes lugares, e claro que a técnica da dança juntamente com os apanhados de purpurinas, paetês, jogos de luzes e mulheres lindas chamavam muita atenção. A mistura deu tão certo que até hoje faz sucesso. Um dos cabarés mais famosos - e o maior de todos - fica na França e é parada obrigatória de turistas que por lá passeiam...o Grande Moulin Rouge! Por ser uma fusão, a apresentação do Jazz Cabaré tem que nos lembrar de todo o glamour e ambiente da época, mas temos que saber dosar, tanto a dança que vamos misturar quanto até que ponto isso é “bonito” para quem assiste, e tomar muito cuidado para não vulgarizar, pois uma boa apresentação é aquela que é diferente, e não estranha! Lembrando que sexy não tem nada a ver com vulgar! Fiz aulas com Shaide Halim, uma experiência que me introduziu a esse universo retrô, e me abriu a cabeça para um apanhado de danças que para mim eram desconhecidas. Durante esse tempo tive acesso a vídeos que achei muito interessantes, muitos dos quais classifico como Jazz Cabaré, com misturas de passos de Jazz com as danças que já citei acima e outras que nem conhecia; algumas danças, como o Charleston - uma dança dos anos 20 - e o Can Can - uma mistura de Polca com Quadrilha, que surgiu há muito tempo - tive o prazer de dançar e de conhecer um pouco mais sobre suas respectivas culturas. Um estilo que gostei muito foi o Lindy Hop, uma dança dos anos 30 que nasceu no bairro negro mais famoso de Nova Iorque, o Harlem. Bem agitado e despojado, até hoje há grandes competições do estilo. Vale a pena dar uma checada no Youtube e apreciar a criatividade dos bailarinos. Uma curiosidade é que a partir dos anos 50, o Lindy Hop deu origem a vários estilos de dança, entre elas o Rock’n’roll e o Swing. Suas origens e vertentes englobam o Jazz Dance. Espero que tenha dado a você uma noção do que é o Jazz Cabaré, e um pouco das danças que são acrescentadas ao estilo. Reforço aqui que me baseei em textos que pesquisei e nas aulas que fiz. Se você se animou com o estilo e pretende montar uma coreografia, vale a pena ir atrás de professores, vídeos, textos e de muito material para fazer bonito e representar com muita beleza essa fusão. Boa sorte!

Lembrando que sexy não tem nada a ver com vulgar!

Isis é professora, bailarina e coreógrafa de Dança do Ventre. isismahasin@shimmie.com.br dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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FOLCLORE

DABKE Interpretação da dança por TUFIC NABAK fotos ARQUIVO PESSOAL

O folclore libanês é sempre acompanhado por muitos gritos alegres e por uma expressão facial bem trabalhada. O folclore tem que estar ligado à arte como uma forma de comunicação, cultura e expressividade. Devemos estudar bastante a música e interpretar a parte cênica da coreografia, tomando cuidado com as entradas e as finalizações da dança. Quando não se sabe o que a letra da música diz, devemos dançar acompanhando o ritmo da canção, favorecendo a integração entre as pessoas que estão executando a própria dança. O bailarino tem que se deixar conduzir pela música e pelo ritmo. Durante a dança do casal, a bailarina deve utilizar sempre o seu encanto feminino com o movimento dos braços, das mãos na cintura, com o charme do cabelo, do vestido e dos adereços utilizados, enquanto o homem sempre tem o papel de cortejar a sua parceira de dança através da encenação teatral.

COSTUMES, DICAS E CURIOSIDADES • O Dabke representa o trabalho da terra. Assim, tal dança não exige elegância como na dança do ventre, e sim força devido à sua origem. • Antigamente, somente os homens

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dançavam na roda. Só depois as mulheres começaram a dançar também. • Na época, as mulheres não podiam ficar na ponta da roda, onde ficavam somente os homens mais hábeis que realizam evoluções através de passos diferenciados. • Atualmente, qualquer pessoa pode entrar na roda de Dabke, evitando ficar na ponta, caso não domine a dança. • Tanto o pé esquerdo quanto a mão esquerda são considerados “líderes”. • A roda sempre é direcionada para o lado direito. • Para executar coreografias, as mulheres podem dançar com lenços, com cestas de flores, com cestos de palha, peneiras (representando a comemoração da fartura e da boa colheita) ou com os jarros sobre as suas cabeças. Todos estes adereços fizeram parte durante a formação da dança. • Os adereços utilizados pelos homens na dança são o masbaha (um terço típico árabe), o lenço de bolso e o bastão. • Durante o dabke, os homens podem fazer no meio da roda a luta da espada, do bastão ou do punhal, e as mulheres podem dançar ao redor deles, recitando mensagens alegres em sua homenagem e dançando oferecendo o narguilê e o café árabe. • O bailarino de dabke é chamado de dabbik em árabe. • Os locais em que se dança muito o Dabke são Líbano, Síria, Palestina e Israel. • É importante saber os nomes dos passos tradicionais do Dabke. • Nas danças folclóricas libanesas, a bailarina deve evitar dançar com trajes de dança do ventre e sem sapatos. • Durante a dança, as palmas árabes

estão sempre presentes (devemos utilizar palmas típicas com as mãos bem abertas). • Dançando o folclore libanês, o alongamento é totalmente indispensável para o aquecimento muscular e principalmente porque a dança utiliza muitos movimentos com os pés. • Durante a dança, não podemos perder a postura e os movimentos com os ombros, braços e pés. Não esquecer ainda da utilização certa desses movimentos na hora das mãos dadas. • Faça aulas de teatro para mesclar as duas artes no trabalho a ser realizado, e principalmente para o folclore árabe, onde a interpretação teatral é essencial na dança junto com o uso de improviso. • É importante criar uma personagem para interpretar a música durante a dança. • Tenha criatividade, mas sempre com limite e sem exagero. • Coloque sempre músicas de dabke no final do evento, convidando o público para interagir uns com os outros na roda. Tufic Nabak é professor, bailarino, coreógrafo e pesquisador. tuficnabak@shimmie.com.br


ME LEVA LULU

Viajando com a dança pelo Quando pela primeira vez nossos olhos pousam sobre uma apresentação de Dança Oriental, nossa mente não tem nem ideia de onde aquilo pode nos levar. Foi assim comigo. Assisti minha primeira apresentação de dança por volta de 1983... não consigo me lembrar do nome da bailarina, mas até hoje as impressões se mantêm em minha memória emocional. Encantamento, saudade de algo impossível de ser descrito, desejo de duplicar aquilo que eu via, uma mescla de emoções e ideias que até hoje me acompanham, em meu processo criativo. Muitos anos depois começaria minha peregrinação por outros países. A possibilidade de conhecer outras culturas é um convite irresistível e facilitado pelo fato de meus convites virem de muitas partes. Sempre repito o quanto me sinto abençoada por poder desfrutar dessa variedade de impressões, apenas pelo fato de ser capaz de compartilhar aquilo que eu mesma estudo em minha vida, que é a Dança Oriental - Raks Sharkí. Uma das impressões mais fortes que já tive, sobre a seriedade em relação a esta arte, é minha trajetória no Japão. Não visitei muitas cidades, no total apenas 3 - Tóquio, Fukuoka e Osaka - mas as pessoas que encontrei deixaram marcas profundas em mim como professora.

MUNDO

Estando distantes de tudo, por sua localização geográfica, elas têm uma seriedade que não se encontra em nenhuma outra parte do mundo que eu já tenha visitado. Imaginem diversos grupos em workshops distintos, todos com mais de 50 participantes, onde não existe nem um traço suave sequer de estrelismo ou falta de concentração. Assim são as japonesas. Elas vêm para os cursos com a xícara vazia, ávidas de aprendizado e absolutamente gratas pela presença do professor. O respeito que demonstram é tão comovente, que por vezes eu tive que me controlar para não ser eu a pessoa mais comovida em cena. Sempre há algo a aprender em nossa vida, e elas me ensinam isso a cada encontro. O sistema hierárquico de respeito entre as bailarinas é muito claro, e não há qualquer possibilidade de histórias inverídicas (“fofocas”, em nosso idioma) serem distribuídas no mercado japonês. Se alguém tenta algo assim, é simplesmente descartada como persona non grata imediatamente! Temos muito a aprender com estas mulheres que de tão longe, mostram-nos diversas das qualidades a serem cultivadas em nossas vidas de bailarinas!!

Hiromi

Inak o

Lulu Sabongi é professora, bailarina e coreógrafa de Dança do Ventre. lulusabongi@shimmie.com.br

Workshop Japão

por LULU SABONGI fotos ARQUIVO PESSOAL

Paisagem de Kyoto

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CORPO - ANATOMIA

Parte SUPERIOR e BACIA Caixa torácica

por LAYLA ALMAZA foto iSTOCKPHOTO

Descobrir as costelas na dança foi um grande salto na minha evolução como professora de dança do ventre e bailarina profissional. E utilizá-las com consciência é um “plus” na dança. Novamente venho ressaltar a consciência corporal, e dela precisamos ao explorar as costelas. As costelas se expandem ao respirarmos, e quando dançamos podemos alongar a região das costelas flutuantes, expandindo-as como na respiração. Essas costelas flutuantes estão na altura do diafragma, e os movimentos nos quais elas mais aparecem são os redondos e espirais no tronco. Quando eu estava aprendendo a “conhecer” minhas costelas, ligava a respiração ao movimento. Está errado. Você pode desenhar um ½ redondo, partindo do seu centro, e na lateral expandir suas costelas; elas se destacam nesse momento – e a respiração continua a mesma - porque o movimento é independente e isolado. As costelas estão ligadas na coluna vertebral, fazem parte da sua sustentação e protegem alguns órgãos. Logo, é preciso ter equilíbrio e força para a execução correta dos movimentos e sem tônus isso não é possível. Novamente nosso amigo tônus muscular entra na conversa... precisamos de tônus abdominal para segurar o corpo no espaço, nos manter no eixo e executar os movimentos limpos. Nossos músculos precisam de alongamento e exercício, e com o tempo vão ficando mais fortes. É essa força que nos dá tônus, e na dança precisamos de tônus desde o fio do cabelo até a ponta do dedão do pé.

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Tônus abdominal O tônus deve estar presente em cada parte do seu corpo, mas nós temos uma região que é central, é o “Quartel General dos tônus”: o abdômen. O abdômen divide-se em 3 partes: abdômen superior (estômago), abdômen mediano (cintura) e abdômen inferior (baixo ventre). O tônus está em todas as partes, mas o ponto de partida é o abdômen inferior. É dessa região que sai toda a força para você se manter não só equilibrada, no eixo, mas acordada e consciente corporalmente. Essa força liga e conecta seu corpo inteiro e assim, você consegue sentir seu pé no chão ao mesmo tempo em que sente suas costas se movimentando, e pode olhar para os seus braços sem receios, porque eles estarão desenhados e definidos. Como achar esse tônus? Quando eu falo sobre esse tema em aula, percebi um equívoco nas alunas. Quando eu peço para contrair o abdômen, algumas “encolhiam” a barriga. Contrair abdômen é “deixar as paredes laterais desse grupo muscular duras”. Eu comecei a usar a expressão “força para baixo”, e as pessoas que tinham dificuldade para entender essa dinâmica, passaram a diferenciar a região abdominal entre relaxada e com tônus. O ideal é você manter a região abdominal contraída o tempo todo. Com treino e disciplina, isso é possível sim. Layla Almaza é bailarina, professora e pesquisadora. laylaalmaza@shimmie.com.br


CORPO - CONSCIÊNCIA CORPORAL

Consciência corporal no aprendizado da

Dança do Ventre O pensar, o sentir e o expressar por HANNA HADARA

Durante o eterno processo de aprendizado na Dança do Ventre, o grande objetivo da bailarina é realizar uma dança completa que transmita sua técnica, emoção e essência. Por isso devemos praticar e ensinar às nossas alunas como os movimentos da dança podem e devem ser “pensados”, “sentidos” e “expressados”. Descrevo abaixo três métodos para o ensino consciente da Dança do Ventre, baseados no equilíbrio da tríade corpo/ mente/alma. Essa metodologia foi elaborada por mim em minha tese de pós-graduação em Dança. Método Demonstrativo: É o modo de aprender pela leitura e cópia, pela imitação e repetição mecânica dos movimentos da dança. A maioria das bailarinas iniciou seu aprendizado por ele, que é também o mais usual entre as professoras de dança, principalmente quando estão no início da carreira.

Aqui não é necessário pensar ou sentir o movimento e suas qualidades, pois ele é simplesmente observado e reproduzido. O sentido da visão se faz presente, mas a consciência mais explorada é a do movimento articular da estrutura óssea, da ação física do movimento. Na tríade representa o expressar com o corpo (físico). Método Proprioceptivo: É o método cinestésico, de decodificação e codificação, da especificação das qualidades do movimento. São raras as professoras que utilizam esse método continuadamente em suas aulas, pois exige muito conhecimento teórico e prático, além de uma didática criativa. Nesse método, precisamos “pensar” no movimento para reproduzi-lo de forma clara, limpa e esteticamente harmoniosa. Pensar em todas as possíveis qualidades do movimento como trajeto, linhas, planos e direções que o formam; quais músculos, ossos, órgãos e articulações estão envolvidos; qual seu peso, tônus, sua intenção; como pode ser a fluência, etc. É explorada a consciência dos órgãos de sentidos e do sistema nervoso central. Assim, podemos traduzir e interpretar um mesmo movimento, de diferentes formas, intenções e direções. Nossa dança também se torna mais rica

porque ampliamos o nosso repertório de movimentos. Costumo afirmar para minhas alunas que esse processo pode parecer mais lento que o da imitação, mas, uma vez aprendido, o movimento vai para o “chip da memória corporal” tecnicamente correto e quando precisamos dele é só acessarmos que ele estará lá, prontinho para ser usado. Na tríade representa o expressar com a mente. Método Indutivo: É o método mais próximo do que fazem os artistas inatos, ou seja, o que permite a exploração de movimentos espontâneos, orgânicos, criativos e naturais, vindos da inspiração da alma. Para isso é necessário que a professora guie a aluna por meio de variados jogos de expressão corporal e deixe claro que aqui não existe o certo e o errado, e sim a verdadeira entrega. Devemos “sentir” a música e expressá-la corporalmente, da maneira como ela toca nossos sentimentos e emoções. A consciência aqui é intuitiva e permite que haja a comunicação do que vem do nosso mundo interior para o mundo exterior e vice-versa. E é dessa forma que doamos aquilo que de mais verdadeiro possuímos, a nossa essência. Na tríade representa o expressar com a alma. Espero que esse artigo contribua de alguma forma para o desenvolvimento dessa tríplice consciência em sua dança. Hanna Hadara é bailarina, professora, atriz e coreógrafa. hannahadara@shimmie.com.br

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SAÚDE MENTAL

Fortalecendo a

AUTOESTIMA por SHEILA REGINA LEITE

Olá! Em nossa estreia conversamos sobre as “prisões sem muros”. Em resumo, nosso bate-papo tratou de como às vezes deixamos de sermos nós mesmas em função do julgamento do outro. Isso me faz pensar em um assunto muito importante: autoestima. A definição de autoestima é: a maneira como a pessoa sente-se em relação a si mesma, o juízo que faz de si própria e o quanto ela se gosta. Quando você entrou no curso de dança do ventre, de certo sua autoestima deve ter sido trabalhada de alguma forma. Talvez optar pela dança já é uma boa condição para melhorar a autoestima. Isto mostra que ela está conectada com as suas emoções. Porém, há casos em que ao longo das aulas a autoestima vai diminuindo. Mas por que será que isto acontece? Quando um novo desafio é iniciado, por mais que se saiba o que se quer, sempre há a expectativa de como vai ser; as dúvidas e o medo se fazem presentes.

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Neste momento, pode surgir no caminho uma palavrinha pequena, mas que gera grandes conflitos, a palavra “SE”. E “SE” eu não conseguir, e “SE” eu errar o passo, e “SE” eu fizer feio na apresentação, e “SE” ela dançar melhor que eu...são muitos os “SEs” que atrapalham a vida. O medo sentido de modo saudável protege dos perigos, porém, em excesso, ele prejudica e corta o fluxo de energia positiva. O resultado disso é quando existe a sensação de estar empacada, sem força para seguir em frente, ou uma falsa sensação de segurança. Quando não estamos conectadas com as emoções e sentimentos, a autoestima torna-se baixa, e a tendência é o “SE” tornar-se parte do dia a dia. Estar conectada com as emoções é: ter autoconhecimento, lidar da melhor maneira possível com a maioria das emoções e sentimentos, olhando para dentro de si, reconhecendo, aceitando e valorizando cada uma delas (emoções), boas ou más.

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É verdade que em muitos momentos não temos tanta segurança sobre se o que fazemos ou vamos fazer dará certo, mas o importante é arriscar, não se boicote, não há como antecipar uma situação, e sim preparar-se para ela, conhecendo-se, trabalhando as emoções, deixando o “SE” de lado, e viver o aqui e o agora, permitindo-se errar, sem se cobrar...relaxe! Errar também é aprendizado. As grandes bailarinas também tiveram um começo e com certeza erraram muito até chegar onde chegaram, e acredito que ainda errem, pois para quem ama o que faz, a busca pelo conhecimento nunca se esgota. Ao valorizar e comemorar suas conquistas, por menores que possam parecer, não só na dança, mas em todas as áreas da vida, você estará contribuindo para o fortalecimento da sua autoestima. Lembre-se de que você pode! Sheila Regina é psicóloga. (CRP 06/59.910) sheilapsicologa@shimmie.com.br


SAÚDE CORPORAL

Para que servem os

JOELHOS? por MARAÍSA NUNES ilustração iSTOCKPHOTO

Não existe nada mais chato do que sentir dor, ainda mais quando esta dor limita nossas atividades do dia a dia. Agora imagine esta dor limitando uma atividade tão prazerosa quanto a dança. Isso é muito comum de acontecer. E ocorre com muita frequência nos joelhos. A articulação dos joelhos é uma das mais importantes do nosso corpo, mas nem sempre damos a ela seu devido valor. Às vezes ouvimos um estalido ou sentimos uma “dorzinha”, e logo o que se pensa é que foi um mau jeito e que logo vai passar. O problema é quando estes estalos e dores tornam-se mais frequentes ou duram dias. Nossos joelhos são articulações que estão sujeitas a muita sobrecarga, pois além de carregarem todo o nosso peso, ainda realizam movimentos (muitas vezes nada simples) com toda esta carga. Para dar conta do recado, os joelhos possuem uma série de ligamentos que os estabiliza, uma estrutura chamada menisco, que além de servir como uma espécie de amortecedor da carga permite que os ossos deslizem mais facilmente uns sobre os outros. Os joelhos também possuem uma série de músculos que, além de estabilizar, dão os movimentos para esta articulação; além disso, dentro deles existe um líquido chamado sinovial que os mantêm lubrificados. Por ser esta estrutura tão complexa é que não podemos deixar de cuidar (e muito bem) dela. As dores e/ou inchaços podem ocorrer devido a alguma inflamação e em casos extremos ao rompimento de algum ligamento ou tendão. Os estalidos podem significar alguma frouxidão, e esta por sua vez pode ser um sinal de fraqueza de algum músculo. Por isso nada melhor

que um especialista para dizer se foi apenas um mau jeito ou se os joelhos precisam de uma atenção especial. Um médico (na maioria das vezes ortopedista) pode fazer um diagnóstico através de exames para detectar o que há de errado e indicar um tratamento correto para sanar o problema. E mais uma vez, a Fisioterapia está lá para ajudar nesta recuperação e reabilitação. Mas se você ainda não passou por isso, a prevenção ainda é o melhor remédio. Então, fique atenta! Para que os joelhos funcionem bem, eles devem estar equilibrados entre o fortalecimento e o alongamento. Nada em excesso é bom, por isso não adianta ser super alongada e flexível se não tem força e vice-versa. Exercícios de força, como a musculação, podem ajudar desde que sejam muito bem orientados. Séries de alongamentos também ajudam. Dentre as opções também temos a natação e o pilates que trabalham os dois (força e alongamento) sem causar impacto nesta articulação. E não podemos deixar de dizer que controlar o peso também ajuda para diminuir o impacto nos joelhos. Opções é o que não faltam para ficar em dia e fazer as pazes com os joelhos. Só não podemos esquecer que qualquer que seja a atividade, ela sempre deve ser orientada por pessoas capacitadas (fisioterapeutas e/ou educadores físicos) para não piorar de vez a situação. Lembre-se sempre de procurar pela atividade que atenda às suas expectativas e objetivos, além de proporcionar bem-estar! Maraísa Nunes é fisioterapeuta. (CREFITO 34263 – LTF) maraisafisioterapeuta@shimmie.com.br

AS MAIS VARIADAS ATIVIDADES COM OS MELHORES PROFISSIONAIS DO MERCADO

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DANÇA DO VENTRE NA UNIVERSIDADE

Desmistificando a

GRADUAÇÃO

de DANÇA por MARIANA ROCHA ilustração JOSI MADUREIRA imagem iSTOCKPHOTO

Embora muito se comente sobre “faculdade de dança”, ainda existem muitas ideias um tanto quanto equivocadas sobre esse tema. Quando procurei uma graduação em dança, já estava inserida há muito tempo no meio – estudava e praticava tanto a dança do ventre como outras danças há anos, e já ministrava aulas de dança do ventre em academias. Mas, mesmo tendo tanta intimidade com esse “mundo”, quando decidi fazer uma graduação em dança, procurei me informar bastante sobre as universidades que ofereciam o curso, sobre as matérias, os professores, e mesmo sem ser aluna, eu frequentei duas das faculdades que selecionei para decidir em qual eu estudaria. Como todo curso universitário, existem muitas desistências ao longo do caminho, e a maioria delas – senão todas – podem ser evitadas quando há informação. E toda frustração e stress resultantes, ao se abandonar um curso, podem sim ser evitados, bastando somente isso: informação! Um dos maiores equívocos é achar que o curso será super divertido, porque acredite em mim, não será! E não pense que estou querendo desmotivar ninguém, mas acredito realmente que, ao desmistificar algo, o interesse em objetivá-lo torna-se maior, ao conhecermos bem aquilo que queremos. Em primeiro lugar, você não vai aprender a dançar todas as modalidades de dança que existem! Essa foi e continua sendo a pergunta que mais respondo quando falo que fiz faculdade de dança! Vi muita gente ir fazer o curso pensando que seria assim, e desistir quando se deparam com uma realidade diferente daquilo que idealizaram. “Ah! Terei aulas de ballet, contemporâneo, jazz, flamenco...”, mas não é assim que funciona. Para uma pessoa formar-se no ballet, são necessários pelo menos 8 anos de dedicação; no flamenco, no mínimo 6, e por aí vai. Seria humanamente impossível formar um aluno em todas as modalidades de dança existentes, primeiro porque além de cada modalidade

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de dança ter as suas especificidades corporais, cada uma tem também a sua história, sua cultura, e não acredito de maneira alguma que alguém seja capaz de tamanha proeza. Desconfie da faculdade que oferecer aulas de diversas modalidades. Quem oferece diversos estilos de dança são academias, não faculdades. Para uma pessoa que trabalha com dança, é muito mais importante a grade curricular da universidade oferecer aulas de anatomia, de fisiologia por exemplo, do que aulas de jazz ou ballet (ou outro estilo). Fazer faculdade de dança é puxado, é cansativo, exige disciplina, como qualquer outro curso universitário. Tive desde aulas de história da dança, anatomia, fisiologia, cinesiologia, filosofia, psicologia, teoria geral dos sistemas, leituras do corpo, etologia humana, semiótica, entre tantas outras matérias, até improvisação, criação, dramaturgia, entre mais tantas matérias... Fiz resenhas, relatórios, provas, apresentei sequências coreográficas em grupo e solos (a grande maioria eram solos) para avaliação, e também textos sobre espetáculos de dança que tínhamos que assistir aos finais de semana. Éramos avaliados nas aulas, tanto teóricas quanto práticas. E sim, havia reprovação. Agora eu pergunto: você acha que todo dia era pura diversão? Não existe fórmula para o sucesso, mas existem caminhos. Acredito que um deles é o estudo árduo e infinito, que pode ser feito dentro de uma Universidade. De qualquer forma, a probabilidade de sucesso profissional é muito maior quando fazemos o que escolhemos e amamos! Na próxima edição, falaremos sobre o campo de trabalho para quem estuda dança! Mariana Rocha - Bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Dança do Ventre. marianarocha@shimmie.com.br


ENCONTREI POR AÍ

Rua do ENCONTRO A beleza de uma fusão bem construída por NAZNIN foto DIVULGAÇÃO

Imagine uma rua larga, com uma escadaria ao fundo...de suas esquinas surgem jovens bailarinos. Junto a eles veem os músicos, e seus pandeiros, tamborins, a tabla e a sitar. Essa rua está localizada em algum lugar entre o Brasil e a Índia. E assim começa o espetáculo Samwaad - Rua do Encontro, de Ivaldo Bertazzo, minha indicação de dvd para vocês. Ivaldo Bertazzo é coreógrafo e professor, conhecido pelo seu trabalho na Escola do Movimento em São Paulo, onde trabalha com bailarinos profissionais e amadores. Ele também é conhecido por criar espetáculos com bailarinos não profissionais, geralmente jovens de periferias, trabalho que ele próprio chama de “dança-cidadania”. Bertazzo já viajou para Turquia, Espanha, Indonésia, Índia e outros países, e absorveu vários aspectos dessas culturas, usando-as em seu trabalho com o movimento. A gravação do dvd foi feita no Sesc Santo André em 2004, e embora Bertazzo possua espetáculos mais recentes,

escolhi indicar este especificamente devido ao elemento fusão, que interessa a tantas praticantes de dança do ventre. Para quem admira esse elemento, destaco nesse dvd a cena dançada por um trio de bailarinos - a pequena indiana e dois brasileiros. A música é a “brasileiríssima” Santa Morena, de Jacob do Bandolim, e a dança é coreografada pela indiana convidada Madhavi Mudgal - essa, aliás, é a única cena coreografada por ela. Os passos naturalmente indianos, com toda a riqueza gestual, as batidas dos pés, unidos à ginga brasileira, e à expressividade das duas culturas. Um chorinho indiano, que honra a beleza dos dois países e demonstra que duas culturas aparentemente tão diferentes podem dialogar em perfeita harmonia e encontrar-se numa mesma rua. Tudo é tão bem feito, que até o agradecimento final é surpreendente. Cada um dos bailarinos agradece com seu nome ao lado. E uma última dica: antes de ouvir as explicações cena a cena de

Bertazzo nos extras, vale a pena assistir e tentar entender seus desenhos, seus propósitos, e todo o encontro, porque é extremamente prazeroso decifrar o que acontece nessa rua de harmonia, nesse encontro de culturas unidas pela arte, e acima de tudo, observar na expressão de cada um desses jovens bailarinos o real significado dessa união e desse trabalho artístico, tão indiano, e tão brasileiro. Naznin é estudante de dança do ventre, chamada aqui na redação carinhosamente de “nerd bellydancer” international@shimmie.com.br

DVD SAMWAAD Rua do encontro Direção IVALDO BERTAZZO DVD DUPLO Selo SESC SP R$ 40,00

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CAPA

Jacqueline Braga Oriente Médio (Yemen, Síria e Bahrain).

Petite Jamilla Estados Unidos

Omar Naboulsi Bellydance®

Miles Copeland Bellydance Superstars


HOMENS QUE FIZERAM E FAZEM HISTÓRIA NA DANÇA DO VENTRE por NAZNIN E DANIELLA OGEDA NICE

O tema desta nossa segunda edição já havia sido decidido antes mesmo da edição número 1 ser publicada. Sabíamos que, para falar sobre o mercado de dança do ventre, tínhamos que buscar a experiência e o conhecimento dos empresários que trabalham no meio. E numa tentativa bastante audaciosa, fomos em busca dos 3 maiores nomes que pudemos pensar – Miles Copeland (Bellydance Superstars), Jorge Sabongi (Khan el Khalili) e Omar Naboulsi (empresa Bellydance®). Mas nosso receio era de que um deles, ou todos eles, não topassem fazer as entrevistas. Foi um tiro no escuro, e para nossa enorme surpresa (a primeira delas), TODOS aceitaram nosso convite. Foram 3 entrevistas extraordinárias, onde nossos entrevistados foram bastante sinceros, e dividiram conosco a experiência que possuem de anos envolvidos com o mercado da dança. Embora tivéssemos roteiros de perguntas preparados previamente para todas nossas entrevistas, sempre acabávamos seguindo outros caminhos, pois os assuntos tratados acabavam rendendo muitos outros, ainda mais interessantes. Alguns assuntos polêmicos foram inevitavelmente discutidos também, sempre de forma respeitosa de ambos os lados – revista e empresários. Podemos dizer que aprendemos muito durante o processo. Tivemos alguns receios antes das entrevistas, porque nossas poucas informações prévias sobre cada um desses homens estavam ligadas aos velhos boatos que todos já ouviram em algum momento, e também aos medos de que esses homens dessem respostas monossilábicas às nossas perguntas, ou que se irritassem com alguma coisa. Grande engano! Todos eles responderam a todas as nossas perguntas e falaram de outros assuntos antes mesmo de nós perguntarmos, e com isso acabamos com um “problema” oposto: as entrevistas foram tão longas, e consequentemente ficamos com um material tão vasto, que a parte mais complicada foi a de edição para esta publicação que vocês estão lendo agora. Foram longas horas de conversas, reuniões e e-mails entre a equipe para decidirmos o que seria publicado e o que seria disponibilizado no site para nossas assinantes (claro, estas últimas não vão perder nada dessas entrevistas). São três homens que, além de todo trabalho que realizam, têm em comum a seleção de bailarinas para trabalhos profissionais, isso sim, com estilos totalmente diferentes: americano, libanês e egípcio. Finalmente chegamos ao nosso produto final que você lerá agora. Também esperamos que, assim como aconteceu conosco nas entrevistas, muitos tabus possam cair durante essa leitura para você, pois existem muitas histórias inventadas sobre esses 3 homens, mas na verdade eles são apenas pessoas que trabalharam – e ainda trabalham – muito, e conseguiram chegar onde estão com muito esforço, erros e acertos. Para você, fica o convite à leitura e à reflexão, sem mistificação, folclore ou achismos. Lembrando que, processos de avaliação e seleção são apenas caminhos, que cabem a cada uma trilhar ou não. Se um deste for o seu caminho, vá em frente. Se isso não fizer parte de sua essência, busque outros ou crie o seu próprio, por que não?

Kahina Brasil Noites do Harém Jorge Sabongi Khan el Khalili

Capa desta edição Dana El fareda: após ser aprovada na seleção da Khan el Khalili tornou-se um dos novos talentos da Casa de Chá.


Jorge Sabongi

CAPA

Palavras constroem uma imagem. Realizações constroem uma biografia. Johnnie Walker

por NAZNIN E DANIELLA OGEDA NICE fotos DIVULGAÇÃO E ADELITA CHOHFI

Revista Shimmie: Para começar, nos fale um pouco de seu livro: o que vamos encontrar nele, como foi a criação, quanto tempo levou... Jorge Sabongi: Costumo responder a todos que me perguntam que este livro foi escrito em 45 dias, mas utilizando experiência de 30 anos na Casa de Chá com shows, bailarinas e os mais diversos tipos de público. Começou de uma brincadeira com o meu filho Yanni, todos os dias eu passava um tema para redação, no intuito de melhorar a intimidade dele com a Língua Portuguesa, para que incrementasse o vocabulário e ampliasse as formas de pensar. Em contrapartida, ele me pediu que, ao seu lado, eu o acompanhasse e também escrevesse. Então sentamos cada um com seu computador, lado a lado. Sentei e escrevi: “14 de julho de 2010 - Livro de Direção e Preparação Artística”. Aí começou tudo! E ele nem percebeu. Notava que eu escrevia muito e muito rápido, mas só foi saber que era um livro em meados de setembro, quando já estava na gráfica, pronto para imprimir. Ficou boquiaberto: “Pai, você escreveu um livro?” Agora brinco com ele que, quando sentarmos para ele fazer mais redações, vou escrever outro (rs..). Débora tem também uma participação bastante importante como coautora. Sua contribuição foi fundamental para se ter a visão da professora/bailarina. Ela acompanhou cada capítulo, escreveu, deu sugestões, e utilizou sua vasta experiência com espetáculos, antes da Khan el Khalili, quando trabalhava em teatro, com ópera, ballet clássico e organização de eventos imensos envolvendo orquestras. Mesclando o conhecimento de ambos, chegamos ao resultado final. A ideia deste livro é

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que seja um projeto para os próximos 30, 40 anos no estudo e no desenvolvimento da dança árabe. Não é um livro para ser digerido em 2 dias, ele foi programado para o leitor encontrar coisas novas a cada momento. Um capítulo complementa o outro, criando um vasto contexto de informações. Se você ler mais de uma vez, perceberá que muita coisa passou despercebida na primeira leitura. Procuramos agregar informações que vão ajudar não só as aprendizes, mas também as professoras, bailarinas e qualquer tipo de artista. Envolve diretrizes para trabalhar a emoção desde o início do aprendizado em sala de aula, e não apenas a técnica e a estética. Além disso, estimula a criatividade, o imaginário, o autoconhecimento, as formas de lidar com os bloqueios, o improviso, as relações interpessoais, o comportamento de bastidores e vários outros aspectos que vão facilitar sobremaneira uma carreira. RS: O livro fala também sobre metodologia de ensino? Jorge: Sim, o capítulo 18 foi inteiramente escrito pela Débora (Direção para Professoras). Fala sobre como dirigir a aula e das diversas condições psicológicas a serem observadas por quem orienta. Estimula o desenvolvimento das relações interpessoais e aborda as dificuldades tanto de professoras quanto de alunas oferecendo uma série de ideias que permitam a comunicação mais saudável, não apenas na sala de aula, mas na vida em geral. O livro visa a agregar informações, constituindo um vocabulário profissional, que, ainda hoje engatinha em nosso mercado. Direciona também diversas questões relativas a fantasmas e medos, ilusões desvairadas, personalida-

de, bloqueios, carisma, egos inflamados e influências nocivas de diversas espécies que inibem e deturpam o aparecimento de excelentes mentoras. Eu diria que se ensina muita técnica e fica esquecido o direcionamento que traduza para o artista mecanismos emocionais para ele trabalhar equilibradamente nos próximos anos. Neste sentido, o livro menciona a carência de uma metodologia que possa gerar diversos métodos que sirvam para qualquer lugar, qualquer país. Não adianta só ser uma professora que ensina movimentos iniciantes, intermediários e avançados. Isso simplesmente não adianta. O que conta é o que você realmente ensina de vivência e ética para que as pessoas aprendam lidar, de forma pacífica, umas com as outras, sem se corromper ou corromper o mercado com o passar dos meses. É nítido que a dança oriental está atualmente atrás de mentoras e não só de professoras. Esta foi uma das grandes questões trazidas pelo livro: falar sobre “atitudes” de sala de aula que irão refletir futuramente, alicerçar uma metodologia que necessita de estrutura, trabalhando os estímulos emocionais, a imaginação, a concentração, a calibragem, enfim todo processo que mexe internamente com cada mulher e principalmente no elemento final: estar em cena. O improviso, por exemplo, que, para muitas, é uma questão desagradável por valorizarem mais o erro e não o estímulo à audição seletiva e à sintonia fina, ajuda não apenas a estimular mecanismos e produzir insights, mas também a trazer à tona, com o passar do tempo, o estilo pessoal de cada uma. Bailarina que está acostumada a improvisar, diferente daquela se só aprende coreografias, está sempre tranquila em cena, pois, além de


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se sentir segura daquilo que faz, é criativa, livre, tem imenso prazer em dançar. Observe a dificuldade na expressão de tantas bailarinas quando estão dançando: sua expressão, muitas vezes, não diz nada, pois seu pensamento está focado apenas na técnica e em “qual passo vou usar agora”? Esse contexto começa a mudar a partir de agora. Não é o exibicionismo que conta, mas sim a tranquilidade emocional que ela apresenta quando executa uma dança, visível em sua expressão facial. RS: A Casa de Chá continua com as aulas não é? Jorge: Nosso foco principal é e sempre foi a Casa de Chá, atendendo ao público que nos prestigia há várias gerações. Mas não podemos negar que todas as mulheres que assistem à dança na Khan el Khalili sentem vontade de dançar também... e bem. Se temos a possibilidade de ensinar isso com qualidade e, ainda por cima, agregar valores ao mercado, por que deveríamos somente nos ater aos shows? Foi através da Casa de Chá que a dança saiu do casulo da colônia árabe e se popularizou para os brasileiros. Então podemos ensinar aquilo que sabemos de melhor, sem esconder nada de ninguém. Poderíamos ter dezenas de professoras ministrando aulas por lá, pois existe coerência no trabalho, prova disso é que estamos há tanto tempo administrando esta empresa no mercado. Mas esta não é a intenção. Na KK, Débora atualmente ministra as aulas com Camilla Martini. Atualmente temos aulas, como também indicamos bailarinas de todo o Brasil para que as pessoas tenham contato a fim de se dedicar ao aprendizado da dança. Desde que Débora chegou do Maranhão, desenvolvemos juntos uma estrutura diferente, arrojada e extremamente ética visando aos próximos anos da dança. Ampliamos a possibilidade de melhorar ainda mais o aprendizado, com experiências como o “Clã” que estava engavetado há mais de uma década na KK. Estas experiências deram tão certo que decidimos compartilhar com todos agora em nosso livro. Outra experiência bastante interessante diz respeito

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aos diversos perfis de mulheres que fazem aulas. Não existem apenas aquelas que querem ser bailarinas profissionais. Têm aquelas que querem aprender por hobby, outras por terapia, outras, ainda, pura e simplesmente para se sentirem mais belas para elas mesmas diante do espelho. Não podemos nos esquecer que tem também o perfil daquelas que acham que vão aprender em 15 dias para dançar para o parceiro. O que deturpa o aprendizado é exatamente este conflito de interesses dentro da sala de aula. A professora se desdobra para ensinar todas ao mesmo tempo, sendo que uma quer ser corrigida o tempo todo, outras querem apenas se mover de forma bela, e algumas querem desenvolver apenas coreografias. No meio de tudo isso, entra uma aluna nova por semana na turma, começando do zero. Pronto! Muitas vezes, a didática está completamente fora da temperatura ideal para envolvimento das alunas. E isso é um dos motivos da grande rotatividade em sala de aula. Quem consegue lidar com tudo isso de forma tranquila e ensinar coerentemente? Minha sugestão é que as que desejam se profissionalizar façam aula isoladamente dos demais perfis mencionados, de duas a três vezes por semana, por diversas razões mencionadas no livro, mas principalmente pelo seu objetivo específico. RS: Vemos que, atualmente, a profissional de dança coloca toda a carga nela: ela é bailarina, professora, coreógrafa, psicóloga... você não acha que o ideal seria um trabalho conjunto para que isso aconteça? Jorge: É difícil agregar diversas funções numa única pessoa. Não apenas no mundo da dança, mas em qualquer área de trabalho. Acredito que atacar por várias frentes é uma utopia neste mercado. Existe um extenso processo de desenvolvimento de relações pessoais ainda a ser desenvolvido para que isso se torne uma realidade. Temos duas vertentes bastante definidas: bailarina e professora. São duas atribuições e dois dons diferentes. Nem sempre uma boa bailarina é uma boa professora e vice-versa. Existem professoras que são excelentes coreógra-

fas, possuem visão de palco, dinâmica, contexto, criatividade e unificação de grupos e muitas outras qualidades para elaborar momentos diferenciados e especiais em cena. Psicologia é uma ciência que todo ser humano deveria estudar, principalmente por quem ministra aulas, seja do que for. Pelo que percebo, nem todas possuem o esmero em procurar se desenvolver suas habilidades latentes nas diversas áreas. Daí a unir ainda o dom da direção, realmente torna-se um trabalho que requer extrema dedicação e extensa leitura. É necessário muito estudo de psicologia, sociologia, antropologia, técnicas cênicas, conhecimento de mercado, história, geografia, marketing... a maioria nem sabe quantos são os países árabes e onde eles se localizam... mas ela é professora, ela se tornou professora. Mas ela aprendeu o que para ser professora? Professores são mentores, são pessoas que não deveriam falar muito, pois, o pouco que falam já agregam muito. Então, a questão é a responsabilidade de saber qual é a sua posição, o que você quer abraçar com amor e carinho. Mas, o que vemos, é todo mundo fazendo tudo, sem qualquer cuidado ou critério e, por consequência, desvirtuam o mercado. Há pessoas que entram nessa empreitada de forma séria e com boa vontade, porém acabam sendo prejudicadas. Isso acarreta o desaparecimento de pessoas interessantes, que poderiam ser mentoras, porque preferem se afastar, pois percebem que, muitas vezes, o que existe é um antro de fofocas, de ti-ti-ti, de “achismo”, de pessoas querendo puxar o tapete das outras,...e o que sobra? A pessoa desiste. RS: Existem pouquíssimos livros em português sobre Dança do Ventre. A internet se tornou um fonte de pesquisa. Fale um pouco sobre isso. Jorge: Hoje em dia, é necessário um crivo muito apurado para não sair acreditando em tudo. Posso afirmar que, dentre 20 sites, você pode usar somente um para informações interessantes e fidedignas, sem ser a cópia da cópia. No caso do nosso site, tudo é baseado em conhecimento cultural comprovado. Os artigos


Tarik e Kahina em apresentação no Harém

Ritual Oriental

Decoração da Khan el Khalili

são elaborados no intuito de proporcionar às pessoas um embasamento para fazerem o próprio trabalho, sejam elas professoras, alunas, bailarinas, e, principalmente, amantes da arte. Em termos de literatura é difícil encontrar coisas boas. O problema é que as pessoas se prendem muito a questões históricas ou coisas que todo mundo já sabe: de onde veio a dança, quais os instrumentos usados na dança, danças folclóricas, os benefícios etc. Então fica muito restrito e dificilmente alguém pensa: vamos criar algo único, um sistema para ser compartilhado por todos... infelizmente, não existe essa mentalidade. O que existe são algumas ações pontuais usadas em benefício próprio, de autopromoção, cuja intenção é única e exclusivamente puxar a glória para si. Costumo dizer que a glória é da Arte. Daqui a pouco não existirá mais nada disso que tem hoje,

o que restará? A arte, os benefícios, os elos criados. Temos que primar em fazer algo em benefício de todos. Eu diria que, em termos de mercado, existiram três “ondas” que realmente alavancaram o mercado da dança: a abertura da Khan el Khalili, que popularizou a dança; os vídeos didáticos, lançados por volta de 2001; e este livro de direção, que é uma tentativa de contribuir em termos de metodologia e fazer com que várias pessoas sigam um mesmo caminho, com o mesmo objetivo: dignificar a arte que se determinaram em desenvolver. RS: A mídia você acha que atrapalha em alguns casos? Jorge: Para estar diante da mídia é necessário ter estrutura. Não apenas isso, deve-se ter noção exata do que se fala, que aquilo que você está tentando comunicar seja perfeitamente compreendido. Acima de tudo, é necessário

ter “atitude”. Se queremos que a dança árabe conquiste o respeito na mídia e no dia a dia, é fundamental que saibamos exatamente o que estamos fazendo. A mídia não serve só para você buscar seus 15 minutos de fama. Um passo em falso e você colocar a perder anos de trabalho esmerado. Já tivemos oportunidade de ir a diversos programas de peso na TV, os quais eu recusei e continuo recusando quando verifico a pauta. Mesmo sendo bastante seletivos, corremos riscos, pois a mídia dificilmente respeita a dança do ventre. Esse é um panorama que precisamos mudar, mas só vai acontecer a hora que houver uma conscientização dos que integram este mercado de que mostrar “arte” não é primar pelo exibicionismo e pela caricatura. Muitas vezes eu já levei minha equipe embora durante filmagens de programas de televisão, pois tinha percebido que aquilo não ia

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acrescentar nada para a Casa de Chá e muito menos para a Arte. É uma questão de escolha. A Casa é muito visada, por consequência, as bailarinas da Casa são muito visadas, pois conquistaram esta posição, então tem que tomar muito cuidado onde aparecer, como aparecer. RS: Jorge, nos fale sobre a criação e funcionamento das “Noites no Harém” e das “Super Noites do Harém”? (show apresentado através de coreografias e solos com as bailarinas Noites do Harém) Jorge: As Noites no Harém na Casa de Chá são apresentações em que as bailarinas dançam músicas 8, 10 e até 12 minutos. Então elas têm que ter repertório de movimentos, tranquilidade e equilíbrio, presença cênica, domínio, emoção e, principalmente, capacidade de improvisação. Tudo isso tem que fluir num conjunto harmonioso. Para as Super Noites no Harém (Teatro), elas têm a liberdade de criar apresentações em grupos, o que denota, muitas vezes, um trabalho em equipe fabuloso. No começo, tínhamos dificuldades para o trabalho em grupo, pois cada uma tem o seu estilo, seu jeito, seu tempo. A ideia das Super Noites não é fazer uma réplica das Noites do Harém. Escolhemos, em média, 6 solistas, aquelas que se destacaram durante o ano, para que possam mostrar a um público bem maior seu brilho pessoal. RS: Como você analisa hoje o público de dança do ventre? Jorge: Para entender o público é necessário que compreendamos como flui a informação na mente dele. Como se processa o emocional das pessoas enquanto nos assistem? Que tipo de comportamento de cena devemos assumir? Como não perder a estrutura diante dos mais variados públicos? Este é um assunto bastante interessante que desenvolvemos no capítulo 15 do livro, e que realmente vai mexer com muita gente. Eu diria que estamos num processo de “ensinar o público a assistir à dança do ventre como arte”. Nesse andamento, temos que saber que existem pessoas que têm dificuldades em lidar com as emoções e, por isso, preferem apenas momentos

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frenéticos e muito agito. Quando ouvem uma música poética, já dizem “tira isso, to quase dormindo” ou “coloca alguma coisa mais agitada, vai!”. Pessoas assim ainda não têm capacidade de observar algo artístico e vivenciar momentos mágicos. No capítulo mencionado, criamos uma pirâmide do público, para exemplificar. É preciso sempre lembrar que arte é poesia. RS: Você fala muito de marketing, mas nós vemos um distanciamento seu das redes sociais. No passado, houve problemas no Fórum, com discussões acirradas, principalmente acerca do assunto pré-seleção. Foi prejudicial para vocês? Jorge: Trabalhamos na Khan El Khalili para agradar a um público fiel há quase três décadas. Nosso trabalho com a dança do ventre é procurar agregar cada vez mais conhecimentos para todos aqueles que estiverem dispostos a aprender e a compreender como funciona realmente o mercado. Pessoalmente não acredito muito em redes sociais. Acho que se perde muito tempo administrando estas redes sociais. Você acaba não vivendo realmente a sua vida, fica preso a internet. Nós decidimos que temos a nossa vida particular, nosso momento de cuidarmos de outros assuntos (família, amigos etc.). Somos felizes assim! Nosso objetivo na Khan el Khalili é fazer um trabalho digno, centrado, direcionado, que, de preferência, todos os envolvidos colham os frutos disso. Respeitando a dança automaticamente respeitamos aos amantes da arte e, por tabela, rechaçamos os que a vulgarizam a todo momento. RS: Aproveitando, como funciona a avaliação na Pré-Seleção? Jorge: Na Pré-Seleção avaliamos uma média de 30 itens (já atualizando para 2011). Dividem-se em técnica (50%), cênica (42%) e estética (7%). As notas de maior relevância têm peso 2, 3 ou 4. A cada ano agregamos novos tópicos para serem analisados. A Pré é, sem dúvida, a melhor ferramenta para o desenvolvimento de bailarinas que desejam se apresentar profissionalmente e também para aquelas que realmente querem um Certificado de Padrão de Qualidade. O

mais interessante é que ninguém concorre com ninguém. Todas têm chances iguais e, dificilmente, poderão ter uma avaliação tão precisa daquilo que realizam na dança. RS: Como é feito o critério de escolha da banca? Jorge: A banca é formada por todas as bailarinas Noites do Harém. Claro que é difícil ter todas presentes nos dias do exame, mas tentamos marcar as datas de acordo com a coerência das agendas de cada uma delas. Tanto a banca como as bailarinas que participam do exame da Pré são orientadas sobre como devem proceder. Para a banca, é necessário todo um preparo: explico item por item, para que elas sejam justas. Por exemplo, quando você vê uma bailarina improvisando, você não pode querer que ela acerte 100% da música. O mais importante é que ela demonstre que tem ouvido apurado para perceber as nuances musicais e lidar com elas com maestria. RS: Como você responde às criticas, principalmente no que diz respeito à exigência de um padrão estético na Casa de Chá? Jorge: A minha função é de um diretor não só da empresa, mas de um agente de alinhamento profissional. Procuro harmonizar aquilo que o público deseja assistir. Ao longo de tantos anos, diante de tanta gente, adquiri a sensibilidade de perceber aquilo que o público quer ver. Existe um gosto muito peculiar no que diz respeito à fantasia presente no inconsciente coletivo quando o assunto é dança do ventre. As pessoas querem sonhar. Minha função é proporcionar-lhes o sonho, caso contrário elas não retornam e não divulgam a Casa. É um trabalho focado. Qualquer diretor tem que ter pulso para escolher aquilo que ele quer para seu empreendimento. Não é um trabalho filantrópico. É um trabalho profissional, que envolve pessoas gastando dinheiro, exigindo qualidade. Nesse sentido, não posso me dar ao luxo de não prestar atenção ao que o público quer assistir. Hoje em dia, eles querem emoção, técnica e estética. E é exatamente isso que oferecemos.


ENTREVISTA

DÉBORA SABONGI, Revista Shimmie: Qual é o foco da escola de dança do ventre Khan el Khalili hoje? Débora Sabongi: Bom, nós temos dois focos: o de preparação profissional e outro, para as pessoas que fazem a dança por prazer ou hobby. Nós não temos a pretensão de ter um número grande de alunas, de professoras. Tudo tem que ter administração. Se crescer, você tem

que chamar mais pessoas para ajudar e eu prefiro estar no controle desta parte. Somos duas professoras (Débora Sabongi e Camila Martini) e eu gosto assim, pois falamos a mesma língua. Quando eu digo controle, não é dar aula do meu jeito. Cada professora tem um jeito, mas todas têm que falar a mesma linguagem, pois estamos na mesma escola. Acho que isso falta um pouco no mercado.

Tem caso também de aluna que está comigo, depois vai para a turma da Camila... por quê? Porque se identificou mais com o trabalho dela, com a energia dela. E o contrário também é verdadeiro. Daí é necessário o equilíbrio emocional para lidar com estas coisas, para não ficar, dentro da mesma escola, dizendo que a colega roubou sua aluna! Uma coisa que eu tento quebrar um pouco é essa coisa da “propriedade”. De qualquer forma, essas construções foram feitas a partir de anos de trabalho. Sou formada em ballet clássico, só trabalhava com isso, foi quando infelizmente (ou felizmente!) tive problemas no joelho e no pé, e tive que abandonar o ballet, ficando só com a dança do ventre. Mas eu fiquei muito preocupada com a minha cabeça, a parte mental, e fui estudar psicologia e também fui muito observadora. Vi que nesse meio tem muita vaidade, competitividade e cheguei a largar a dança. RS: Como você vê a questão da concorrência entre as escolas de dança? Débora: Particularmente, eu não vejo as outras escolas como concorrentes, mas isso já é um conceito que eu trago desde criança, de nunca concorrer com ninguém. Eu penso assim: tem uma vaga, se eu for boa o suficiente, essa vaga vai ser minha, simples assim; um valor passado pela minha mãe. Eu acho que você não pode ser cego, fechar os olhos para o que acontece à sua volta, mas também não pode trabalhar em função disso. Não dá para eu ficar pendurada na janela olhando o vizinho, se eu tenho várias coisas para fazer dentro da minha casa! O mercado está aí, e outras escolas virão e outras alunas também. O que faz a aluna ficar ou não é você mesma. E não temos que nos preocupar com as alunas que vão, e sim com aquelas que ficam. O momento da saída da aluna deveria ser um momento de reflexão, não de apontar o dedo para ela e ficar falando de mágoas, e sim de apontar o dedo para nós mesmas, professoras, e nos perguntar o que deu errado. Falta autocrítica e preparo na nossa área infelizmente.

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Omar Naboulsi Não se contente em trilhar um caminho estabelecido. Ao contrário vá para onde não há caminho algum e deixe seu rastro. Johnnie Walker

por DANIELLA OGEDA NICE fotos ADRIANA BRIDA E ARQUIVO PESSOAL DE FÁTIMA BRAGA

Revista Shimmie: Omar, conte-nos um pouco da sua história. Omar Naboulsi: Em um evento organizado por mim, a pedido de uma Cia aérea árabe, conheci a bailarina Shahrazade. Desde então, passei a ter maior contato com a dança do ventre. Na verdade eu trabalhava com artesanato árabe, que ia desde móveis até pequenas peças de decoração. Fiz isso durante 15 anos. Mas graças a esse contato maior com a dança, algumas bailarinas começaram a me procurar, pedindo que eu produzisse alguns acessórios para elas, pois aqui no Brasil não existia nenhum tipo de acessório para dança, e as poucas coisas que vinham de fora não tinham muita qualidade. Comecei então a desenvolver vários produtos, como o primeiro snuj feito aqui, a primeira espada feita especialmente para dança do ventre, com um cabo em formato de uma naja, desenvolvida a pedido de nossa querida amiga e professora Samira. Criei também um candelabro com um peso adequado, além de bijuterias, cintos, franjas e muitos outros produtos, todos de excelente qualidade. Há uns 16 anos, surgiu a oportunidade de trazermos artistas árabes para o primeiro workshop de dança do ventre feito aqui no Brasil. Dentre os vários artistas que trouxemos, posso citar Hossam Hamzy, Amani, Samara e Setrak, Raqia Hassam e muitos outros artistas renomados. Também organizei a primeira excursão para o Egito, direcionada exclusivamente para professoras e alunas de dança

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do ventre, para participarem do festival do Cairo, criado pela professora Raqia Hassam. Neste ano de 2010, completei a 10ª excursão para o Egito. Durante muitos anos também ministrei aulas ensinando a língua árabe, e durante esse tempo escrevi dois livros intitulados “Conversação árabe”, vol. I e vol. II. Hoje, dedico a maior parte do meu tempo empresariando bailarinas brasileiras que dançam nos países árabes. RS: Como era a receptividade dos primeiros workshops aqui no Brasil? Omar: Como tudo que é novo, divide opiniões. Muitas bailarinas adoraram a oportunidade de estar em contato com seus ídolos e de poder conhecer novos estilos. Até hoje tenho certeza que essa experiência foi muito importante para suas carreiras como bailarinas profissionais. Algumas estranharam um pouco as novidades vindas de fora. Mas acredito que no final o saldo foi bem positivo, tanto que até hoje continuam a organizar vários workshops com profissionais vindos de fora todos os anos. As bailarinas libanesas Amani e Samara gostaram tanto que a partir desta experiência continuaram ministrando workshops em vários outros países com muito sucesso até hoje. Graças ao incrível sucesso que Raqia Hassam presenciou em seu workshop organizado por nós aqui no Brasil no ano de 2000, em 2001 ela inaugurou o primeiro festival do Cairo, intitulado Ahlan Wa Sahlan, que a cada ano fica mais conhecido no mundo inteiro.

RS: Foi uma forma de promoção da arte da dança do ventre? Omar: Acho que foi uma maneira que encontramos de divulgarmos nosso trabalho, mas nunca deixando nossos princípios de lado, e sempre procurando fazer tudo de forma séria e honesta. Mas principalmente, foi a maneira que encontramos de darmos nossa contribuição à dança do ventre e a tantas bailarinas tão esforçadas e dedicadas a esta maravilhosa dança. E hoje além do sucesso que a cada dia conquistam aqui no nosso país, também estão tendo a oportunidade de brilhar fora dele. Para mim, é uma honra continuar dando minha contribuição e fazendo parte desta história. Quero aproveitar e agradecer a todas as profissionais que sempre confiaram em meu trabalho e dar os parabéns a todas as bailarinas, por todo sucesso conquistado até hoje. RS: Omar, como você vê os estilos dentro da dança do ventre? Omar: Existem vários estilos de dança do ventre. Os estilos mais ensinados no Brasil são o egípcio, que tem os movimentos mais lentos, e também o libanês, que é uma dança mais forte, alegre. RS: Para ser uma bailarina empresariada por você, qual estilo ela deve ter? Omar: Elas têm que dançar no estilo libanês. RS: Quantas bailarinas você já levou para o exterior nesses 15 anos? Omar: 120 meninas – a primeira foi a Najua, que está no México agora.


Omar Naboulsi e sua esposa Olga Naboulsi dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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RS: E quantas estão dançando atualmente? Omar: Hoje em dia tem 55 bailarinas no mundo árabe em lugares como Dubai, Abou Dhabi, Oman, Libano, Tunísia, Marrocos... dessas, 45 são brasileiras. RS: Qual o material exigido para avaliação? Omar: Book profissional, e DVD com algumas apresentações de dança do ventre. Esse material é enviado aos restaurantes em que trabalho e aguardamos por uma possível contratação. Antes disso, é claro, fazemos uma entrevista com a bailarina na presença de seus pais, ou caso não seja possível, com outra pessoa da família. Tiramos todas suas dúvidas e entregamos um contrato que será assinado por mim, por ela e pelos pais ou responsáveis e em seguida registrado em cartório. RS: Fale um pouco sobre a questão estética para dançar no Exterior. Omar: Existe uma exigência quanto à altura e idade. Os cuidados que a bailarina tem com cabelo, maquiagem e com o corpo em geral também contam na hora da escolha, como qualquer profissional que trabalha com a imagem. RS: Mas, pelo que estamos entendendo também, o mercado é meio restrito... Omar: Sim. Existe um número X de restaurantes libaneses. Não é como aqui que a bailarina pode dançar em festas, casamentos, barzinhos e outros locais. Lá isso não existe. A bailarina já sai do Brasil com visto de trabalho enviado pelo restaurante que vai contratá-la, pois de outra maneira não poderá entrar ou permanecer no país. RS: Como é a estrutura de acompanhamento da bailarina? Omar: Eu tenho um sócio que tem escritório nos países árabes e que cuida pessoalmente de tudo. Eu, por minha vez, mantenho contato diário com todas as bailarinas aqui no Brasil via internet e também por telefone, caso seja necessário. Também todo ano viajamos algumas vezes para lá, para acompanharmos tudo de perto. RS: Depois que tem a seleção aqui, você pega o material das meninas, manda para o seu sócio lá, e ele avalia também, é isso?

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Omar: Sim. Eu mando o material para que ele também possa avaliar a dança delas. Se ele achar que a menina já está preparada, envia todo seu material para os possíveis contratos. RS: O que vemos é que algumas bailarinas precisam reconstruir a sua dança do jeito que ela aprendeu aqui para o jeito lá de fora. O estilo é muito diferente, é isso? Omar: Aqui o estilo de dança é mais o egípcio. Lá, como os restaurantes são libaneses, é preciso que a bailarina adapte-se a este estilo, que como eu já havia comentado, é uma dança mais forte e mais rápida. Mas no geral, a técnica é a mesma. Para uma profissional, isso não será um problema. O que eu acredito que ela terá um pouco mais de dificuldade será com a dança típica do Golfo, o Khalige, que é totalmente diferente do que se dança aqui. Mesmo assim, isso não será nenhum empecilho, pois não é uma dança difícil de aprender. Fora isso, ter muito carisma, e gostar muito de dançar. RS: Como é o show no Exterior? Omar: O show é assim: na verdade é um jantar, acompanhado de um show com duração de 3 a 4 horas. Esse show é composto de dois cantores, uma bailarina e uma banda com 5 músicos em média, que acompanham todos estes profissionais. Dentro destas 3 ou 4 horas, cada profissional apresenta-se individualmente, sendo mais ou menos 1 hora de apresentação para cada um deles. RS: Tem bailarina que não dá certo lá fora? Omar: Tem sim. Mas posso dizer que 90% dão certo. Os 10% que acabam voltando somente com poucos meses de trabalho, é porque não conseguem se adaptar a viver longe da família, e a uma cultura totalmente diferente da nossa. Há também as que se acomodam um pouco e não evoluem na dança. Não inovam e nem se empenham em fazer um show diferente, acrescentando outros estilos de dança. Algumas também acabam descuidando do visual e do figurino, e por todos esses motivos não conseguem adquirir novos contratos, tendo que retornar ao Brasil. RS: Qual conselho você daria para quem

quer dançar no Exterior? Omar: Ter isso como objetivo de vida, amar a dança mesmo, estudar todos os dias, cuidar da saúde, da aparência, ver que isso não é um hobby, não é diversão, é trabalho. Aqui, apesar de terem meninas que amam o que fazem, infelizmente não conseguem viver da dança, e acabam exercendo outra profissão. Lá a dança é o amor da vida delas. Tem aquele lado glamuroso, onde elas são reconhecidas, as pessoas pedem para tirar fotos e até autógrafos. Mas como tudo na vida, existem as dificuldades como a solidão, por exemplo. Estar longe da família e dos amigos. Tem que saber receber crítica e elogios. Quando receber crítica, tentar melhorar... aqui no Brasil, se você não está bem, liga para a amiga e pede para ela te substituir. Lá o contrato é seu, e não pode se dar ao luxo de não ir dançar porque está com dor de cabeça ou algo assim. Tem que ir dançar e dançar bem. Ela não pode chegar atrasada e tem que ser simpática com o público. Você tem que se preocupar 24 horas com a sua postura, com seu modo de vestir. Tem que seguir as regras de cada país, e de cada contratante, que não permite que a bailarina seja vista após o show conversando com qualquer cliente do restaurante, ou saia após o show para danceterias, por exemplo. RS: Mesmo com tantos cuidados, alguma bailarina não conseguiu trabalho? Omar: Já aconteceu sim... algumas vezes a gente acredita que ela tem tudo para dar certo. Atende todos os requisitos quanto ao tipo físico, tem uma ótima dança, enfim... acreditamos realmente que ela não terá dificuldade para conseguir trabalho. Enviamos seu material, mas ela não é escolhida. Eles não gostam. Como em qualquer outro tipo de trabalho, existe a chance de você ser admitida ou não. É um risco que se corre, mas que a meu ver, é muito pequeno diante da possibilidade de se realizar o sonho de trabalhar no exterior. RS: Muitos processos seletivos às vezes são acompanhados de algumas intrigas, e isso acontece muito através das redes sociais.


Jaqueline Braga, bailarina brasileira, dançando nos Emirados Árabes

Vocês acompanham esse tipo de coisa? Omar: Eu acompanho sim, e infelizmente tem pessoas falando inverdades. Mas com certeza são pessoas que nunca trabalharam comigo, e outras até que nem me conhecem... ouvem falar uma coisa aqui e outra ali, e acabam tirando conclusões totalmente erradas. Sem um mínimo de responsabilidade, envolvem o nome de quem sempre trabalhou com toda honestidade e seriedade. Mas graças a Deus, essas pessoas são uma minoria, e 30 anos de trabalho sério com dança do ventre me deram credibilidade suficiente para que a grande maioria das pessoas saiba que tudo isso não passa de calúnias. RS: E em termos financeiros, as coisas funcionam de forma diferente do Brasil? Omar: Sim. Financeiramente é mais compensador, pois lá se dança todos os dias, e principalmente porque o restaurante que contrata oferece moradia e ali-

mentação. Caso contrário, seria inviável se manter, pois a vida é bem cara lá fora. Mas é importante ressaltar que a bailarina não deve decidir viajar pensando somente no lado financeiro, mas sim, principalmente no desejo de poder fazer o que realmente ama, que é dançar. Dançar em alguns dos países que são o berço da dança do ventre, para pessoas

que admiram e respeitam a dança como uma arte, e também pela oportunidade de conhecer outras culturas, tão ricas e milenares. Hoje em dia, poder trabalhar com o que se ama é um verdadeiro privilégio. Mas viajar pensando somente no lado financeiro não irá fazer de nenhuma bailarina uma profissional reconhecida e de sucesso.

Rua Luiz Afonso, 368 – Porto Alegre/RS – Fones: 51 3212.9128 / 8148.1001 www.amareinbellydance.com.br . contato@amareinbellydance.com.br

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Miles Copeland Não existem atalhos para qualquer lugar que valha a pena. Johnnie Walker

por NAZNIN fotos DIVULGAÇÃO

Revista Shimmie: Você criou o grupo em 2003. Por que você acha que ninguém pensou nisso antes? Miles Copeland: Bom, a dança do ventre nunca foi realmente levada a sério. RS: Nós temos o mesmo problema por aqui... Miles: O lado bom é que ela recebe a todos: qualquer mulher... se você tiver 80 anos pode fazer dança do ventre, ou se tiver 3 anos... então isso é bom. Então é um tipo de arte que recebe qualquer um. O lado ruim é que, por definição, com isso, ela aceita pessoas que não são muito boas. Você encontra pessoas que fazem 5 aulas e acham que já podem ensinar. Isso acontece em todo o mundo... RS: Infelizmente... Miles: Eu vejo pessoas vindo para as minhas audições, dizendo que são professoras, e não sabem nem dançar. Então, por um lado, isso é horrível, mas por outro, eu diria que é bom, porque significa que mais e mais pessoas estão interessadas na dança. Acho que porque ela não é uma arte organizada, no sentido de que não existem escolas reconhecidas aonde você vá, como o Bolshoi, Kiev, o Boston Ballet, o American Ballet Theater. Para entrar em uma dessas escolas você tem que ser bom. Só para entrar na escola, imagine para se formar! Na dança do ventre... bem...não existe isso. Mas é um exemplo de uma cultura que é muito diferente da nossa... bem, você vê a dança em um restaurante! As pessoas estão lá, comendo hummus, “Ah, olha, tem uma menina dançando lá!”, então, quando nós começamos o grupo, as pessoas acharam que estávamos completamente loucos! RS: Mas foi provado que não. Miles: Quando nós começamos, a maioria das pessoas pensaram que nós éramos um tipo de piada, ou que éramos

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‘bonitinhos’! Eu acho que a percepção sobre o conceito da dança do ventre era de algo que você vê basicamente em um restaurante árabe, e uma moça com... (imitando uma mulher chacoalhando o peito), sabe? Como se fosse algo sexual. Então essa era a ideia das pessoas sobre a dança do ventre. Não era algo que você veria em Las Vegas. Então, os preconceitos estavam presentes, baseados em onde as pessoas tinham tido contato com a dança, que era basicamente em restaurantes árabes. RS: Então podemos dizer que você é contra bailarinas dançando em bares, ou em restaurantes... Miles: Eu não sou contra!!! Porque neste momento, a maior parte dos trabalhos disponíveis para uma bailarina está em um restaurante! Então eu não posso ser contra! São pessoas trabalhando para viver! O que eu estou dizendo é que em um restaurante, o que uma pessoa quer não é o mesmo que alguém produzindo um show profissional em um palco quer! Em muitos casos, o que o dono de um restaurante quer é uma moça bonita! Se ela dança bem ou não, isso não importa de fato. Porque as pessoas estão lá para comer! Elas não estão lá para ver uma bailarina. Em meus shows, as pessoas estão lá para assistir a dança! Elas não estão comendo! Muito diferente! Além disso, é muito diferente para mim, porque meu público é feminino, não masculino. Se as meninas estivessem dançando para um público masculino, eu teria que mudar meu show. RS: Nós podemos destacar algumas semelhanças entre a dança (do ventre) na sociedade brasileira e na norte-americana, por exemplo, o baixo valor pago para as bailarinas, e também...

Miles: Bailarinas são mal pagas em qualquer dança. Uma dançarina comum em Las Vegas... a dançarina comum, em qualquer dança – menos uma stripper, strippers ganham muito dinheiro! – ganha 600 dólares por semana. Isso é o que ganha uma dançarina comum. Qualquer uma: 600 dólares por semana. RS: Mas você está falando sobre os EUA. No Brasil é diferente. Miles: Sim, mas as professoras de dança do ventre são muito bem pagas. Elas provavelmente são as mais bem pagas no mundo. Elas ganham mais do que uma professora de ballet. As bailarinas mais ricas no mundo, hoje, são de dança do ventre. RS: Você já trabalhou com punk rock (Miles foi empresário do grupo The Police), e outros estilos musicais também. Eu tenho que te perguntar: é mais fácil trabalhar com um grupo de homens ou de mulheres? Miles: É diferente. Com o The Police foi muito fácil, porque eram apenas 3 caras. E eles estavam muito motivados. Eu ganhei muito dinheiro com eles. É muito mais difícil trabalhar com um grupo de 15 dançarinas. E, as mulheres... as mulheres têm outras questões envolvidas. De repente, o namorado não quer mais que elas façam turnê, porque quer que elas fiquem em casa. Elas chegam aos 35 anos e começam a entrar em pânico, pensando se vão ter um filho, se não vão ter um filho... e os homens não têm esse tipo de preocupação. Você começa a perceber que pode ter uma mulher trabalhando por um período de tempo muito limitado, porque quando elas tiverem 2 filhos, não vão sair em turnê. E então o corpo começa a mudar, a mentalidade muda...


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RS: Aqui no Brasil, a bailarina Jillina tem uma imagem ligada ao grupo muito forte, como se fosse a diretora, ou empresária do grupo, ou algo assim... Miles: Não, não. Ela criava a coreografia, e era uma das estrelas do show. O empresário sempre fui eu. O conceito é meu, eu decido o que vai para o show, e o que não vai. Eu escolho as músicas. Eu escolho as bailarinas. Nem sempre as melhores pessoas para escolher bailarinas são bailarinas. Quando uma bailarina seleciona bailarinas, fica prestando atenção em coisas como “como é o shimmie da menina?”, “se ela consegue fazer isso, ou fazer aquilo”, mas eu pensava: isso não é fundamental se a menina é ótima em cena como artista! O criador precisa de ajuda. Na dança do ventre, você tem uma moça, e ela vai sair fazendo tudo sozinha?! Ela vai ser a produtora, coreógrafa, bailarina, criadora... ela ESTÁ NO SHOW!!! Quando você está no show, e está coreografando, e é o seu show, como você vai ter uma visão desapegada, e olhar tudo de fora, olhar...digamos...criticamente? Você não consegue! Se você prestar atenção no ballet, ou na maioria dos espetáculos, o coreógrafo não está no show. O problema com a dança do ventre é que você tem pessoas talentosas que não possuem um sistema de apoio, apenas várias pessoas ao redor delas, dizendo que são maravilhosas... isso não funciona. RS: Você está falando sobre críticas, e as BDSS recebem críticas também. Você responde a elas? Miles: Depende de onde vem a crítica. Nós recebemos críticas como “ah, elas não são bailarinas de dança do ventre!”, e se você investigar, vir de onde está vindo essa crítica, e vem de uma mulher que estudou no Egito, e agora mora em algum lugar, e por algum motivo ela pensa que possui a verdadeira dança do ventre. O que de fato ela está dizendo é “eu sou uma bailarina de verdade. Me contrate!”. Então a crítica está vindo sob um ponto de vista competitivo. Algumas pessoas dizem... a primeira crítica que recebemos foi essa – “elas não são bailarinas de dança do ventre de verdade”. Não existem regras sobre dança do ventre! Não 42

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existe uma escola que diga “isso é dança do ventre, isso não é dança do ventre”. As pessoas ficaram contra nós colocarmos tribal no show. “Você não pode colocar tribal com dança do ventre. Tribal não é dança do ventre!”. Nós fomos os primeiros a colocar tribal e dança do ventre juntos em um show. As meninas do tribal pensaram “uuuuu, eu não sou da dança do ventre”... mas claro que funcionou! Porque criou um yin e yang, uma dinâmica, uma coisa diferente, e de repente, criou uma visão mais ampla sobre o que era a dança do ventre. E isso ofendeu muitas bailarinas tradicionalistas. Para mim, a tradição é uma âncora, é um ponto de partida. RS: Mas por outro lado, também deve haver um monte de gente atrás de você, querendo entrar no grupo, ou trabalhar com você de alguma forma. Miles: Em nossas audições recebemos pessoas de todo o mundo. E isso acontece porque somos o único grupo mundialmente aceito como top. Nós somos o único show que se apresenta em ótimas casas de espetáculo, teatros bonitos, e no mundo inteiro. Nós somos o único show presente na televisão norte-americana. Nós estamos na TV! Nós estamos na Directv da América Latina. Então é o único grupo onde você tem bailarinas que estão de fato dançando nos mesmos lugares que uma bailarina clássica. As Superstars, elas vão para o Egito, Marrocos, França... mas há sempre o processo de convencimento. Estamos sempre tentando fazer as pessoas prestarem atenção ao nosso trabalho. E eu olho para o nosso show agora e penso “Deus, se apenas tivéssemos mais dinheiro, seríamos duas vezes melhores”. RS: Então você também tem problemas financeiros... Miles: Ah, sim!!! Porque nós não ganhamos dinheiro. As meninas ganham. Eu não. Ainda vai chegar o dia que eu vou ver um centavo. Quando eu faço uma crítica, tenho que ser realista, e observar quais são os recursos que a pessoa tem. E para nós também. Nós temos limitações. Eu adoraria ter 18 meninas no show. Deixa eu te dar um exemplo: nós contratamos um homem. É a primeira vez que

temos um bailarino em nosso show. Ele veio do Cirque du Soleil. Ele é homem. Então agora preciso ter um quarto de hotel só para ele. As meninas dividem o quarto. São 2 em cada um. Mas ele com seu próprio quarto, o custo aumenta em dez mil dólares para a turnê, só considerando o hotel. Então, percebe? É caro! RS: Quais são suas expectativas nas audições? Miles: Eu vou sem nenhuma expectativa. Eu não tinha expectativas em nossas últimas audições em Los Angeles. Eu encontrei dois bailarinos. Um é homem. Eu nunca pensei que contrataria um homem. Então eu não me permito pré-julgar. A América Latina é um mercado muito interessante, embora seja difícil, porque as cidades são grandes, a moeda é diferente; como na Argentina: nós não podemos nos apresentar lá porque o preço dos ingressos seria dez dólares. Mas eu sei que há boas bailarinas lá... e nós somos conhecidos lá, mas é interessante para mim, ver o que está acontecendo em outros lugares, sentir como o público responde a diferentes estímulos visuais e musicais. RS: E que tipo de chefe você diria que é? Miles: Bom, nós não somos tão brutais como, vamos dizer, um grupo de ballet. Há um aspecto único sobre as BDSS. Nós levamos muito a sério a palavra “superstars”; em outras palavras, tudo gira em torno das bailarinas. Nós promovemos as bailarinas por nome, e é por isso que as nossas meninas são famosas. Riverdance... fale o nome de um bailarino do Riverdance. É o show de dança mais bem sucedido na história. Fale o nome de um bailarino... você não consegue. Talvez você saiba o nome de alguma bailarina clássica. A maioria das pessoas não sabe. Nós fazemos questão de dar crédito às meninas. Assim como fazemos questão de ver o que elas têm de especial para oferecer, e nos certificamos de colocar isso no show. A Petit Jamila toca gaita de foles. Nós colocamos isso num show. Ela gira como um peão. Colocamos isso no show. A Sabbah dança ballet da cintura para baixo, e dança do ventre da cintura para cima. Colocamos isso no show. Então nós vemos cada menina como um recurso e dizemos “eu quero que ela faça


Cenas do novo Show Bellydance Superstars

isso”. Eu quero tirar proveito desse recurso e quero que ela leve o crédito por isso. É uma outra razão pela qual... bem, a razão pela qual nosso bailarino juntou-se a nós e saiu do Cirque du Soleil. Ele disse, “eles me pagam 80 dólares por show. Eu me mato todas as noites, vou para casa, e ninguém sabe quem eu sou!”. RS: O que faz uma grande bailarina de dança do ventre, em sua opinião? Miles: Não tenho ideia. No segundo em que eu pensar “ah, eu quero isso. Estou procurando uma menina de 1,68m, magra, negra, com cabelos verdes”, eu vou deixar passar aquela de cabelos vermelhos, de 1,73m, por exemplo. Eu vou perder essa menina! Porque eu só estou procurando por uma coisa. Então, eu olho para o nosso show, eu vejo... eu não tenho ideia do que eu gosto ou não gosto: entretenha-me! No segundo em que eu decidir o que quero, estou acabado. Então, eu não devo, eu não devo saber o que eu quero. RS: E quanto tempo você precisa para saber que algo é bom? Miles: Três segundos. A média é 15 segundos. A única regra é: não há regras.

No momento em que você estabelece regras, você está preso, você está olhando apenas para uma coisa. Então vai perder outra. O BDSS está parcialmente no mundo da dança do ventre, e parcialmente fora dele. Então eu tenho que lidar com a realidade que, se uma menina é boa, mas não consegue aprender a coreografia rapidamente, não se enquadra em nosso show. Porque nós só temos dinheiro para bancar ensaios de uma semana, o que significa que ela iria segurar todo o grupo. Tem que ser assim. Porque estamos tentando competir com grupos como o Riverdance, Stomp, Cirque du Soleil... tem outras coisas também como, por exemplo, se ela é uma pessoa com uma personalidade horrível. Se ninguém gosta dela, então ela tem um comportamento ruim. Então, é basicamente, número 1: ela me impressionou? número 2: ela consegue fazer a coreografia? número 3: ela é uma pessoa legal? número 4: ela tem um marido que é terrível? Ela tem filhos? Ela pode viajar o tempo todo? A realidade tem que contar. RS: E a aparência física das meninas? Miles: Aparência física é uma realida-

de com a qual todos temos que lidar. Quanto mais bela você for, mais as pessoas vão querer olhar para você. Ponto final. Mas isso não é tudo. Algumas pessoas são muito boas em pegar seus atributos físicos e utilizá-los a seu favor. No tribal, principalmente... a maioria das meninas do tribal não é bonita, pelo menos não com aquela “beleza tradicional”. Se você olhar para elas, você não vai achá-las bonitas. Mas como bailarina de tribal, por exemplo, a Sharon Kihara, ela é impressionante como bailarina. A Zoe (Jakes). Ela não tem aquela beleza tradicional, mas como bailarina, fazendo todos aqueles (imitando os braços de tribal)... no tribal, você pode usar os seus, digamos, diferentes atributos, enquanto que na dança do ventre, quando a estrela é bem feminina, bem bonita... quanto mais bonita você for... claro que você sabe disso. Isso não é só comigo, é com qualquer pessoa. Nesse momento, Miles faz algo inusitado: Miles: Por que você não me fala uma crítica, e eu explico ela para você? dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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CAPA

RS: Ok. Algumas pessoas dizem que o BDSS tem muito entretenimento, e que falta a verdadeira arte de dança do ventre. Miles: E o que é a verdadeira arte da dança do ventre? RS: Talvez seja algo relacionado com o que você disse antes, sobre a conexão com o estilo egípcio, que você mencionou. Miles: E quem pode dizer qual é o verdadeiro estilo egípcio? RS: Atualmente, o estilo dançado por Randa Kamel, Dina... Miles: Bom, falando sobre o Egito: os egípcios não aceitam a dança do ventre como parte de sua cultura, só nos níveis mais altos da sociedade, são os únicos que podem ver dança do ventre, porque as pessoas mais pobres... elas não têm dança do ventre. A dança é para os turistas, e sheiks árabes, que, francamente... eles veem uma menina,

aí mandam um rapaz, e ele diz “dê a ela 50.000 dólares para passar a noite comigo”, e o que a menina vai fazer? Por 50.000 dólares? Ela provavelmente vai aceitar! E você vai culpá-la? Ela é uma moça pobre da Rússia, ou de sei lá onde... então, o fato é, como qualquer cidadão árabe vai te dizer, não eu! Eu ouvi dizer que elas não são bailarinas, são prostitutas. Claro que a Raquia Hassan, por exemplo, não é prostituta! Sobre as aulas: a maioria das professoras não são muito boas, pois não há disciplina. As melhores professoras do mundo são norte-americanas! Por quê? Porque elas são disciplinadas. Você vai fazer uma aula, e vai aprender! Se você for ao Egito, a professora vai sair da sala! Pagamos para a Sonia fazer aulas com a Raqia no Egito e ela fez um trabalho fantástico. Ela esteve presente e fez o

trabalho dela! Mas isso é raro! RS: É verdade, as professoras saem da sala... Miles: É uma vergonha, e eu estou feliz que isso vai ser publicado, porque eu gostaria que todo mundo dissesse aos egípcios, “olha, essa é uma arte que vocês começaram. Por que vocês não a respeitam? E por que vocês não a tratam com dignidade?!”. Você não pode simplesmente dizer “oh, eu sou egípcio, portanto, eu sou melhor que você!” Me desculpe, mas não é! Os egípcios perderam o respeito pela própria arte! E então as pessoas têm que dizer a eles, “não, não é só porque você é egípcio que significa que seja bom! Não significa que você tem algo especial”. Qualquer um que não fale isso (a verdade para os egípcios) está fazendo um desserviço para a arte da dança. E um desserviço para os egípcios.

Agradecemos mais uma vez aqui aos entrevistados pelo tempo e atenção que cederam a nossa equipe. Também gostaríamos de agradecer a Débora Sabongi, pela atenção e carinho quando estivemos na Khan el Khalili, a Olga Naboulsi pela “dupla entrevista”, e a Adriana Bele Fusco por criar a ponte entre Miles e a Revista Shimmie.

Dia Hora Nível Segunda 20h30 Intermediário Terça 20h30 Básico Sexta 15h30 Básico Turma de coreografias Sábado 16h30 para apresentações.

Inscrições Abertas!

Inscrições e informações Tel.: 11 5539.5092 Rua Gaspar Lourenço, 25 Vila Mariana . SP


JOVENS TALENTOS

Jovens

TALENTOS

por ADRIANA BRIDA fotos ARQUIVO PESSOAL

A coluna jovens talentos vem para mostrar meninas que praticamente “respiram” a dança, treinam duro horas e horas na semana, seja domingo ou feriado, para dar o melhor de si para a arte da dança do ventre. Mesmo sendo tão novas, elas sabem da importância de ter foco nos ensaios e competições. Três meninas, três histórias e um único sonho: a dança do ventre.

Bianca Julih Huang – 5 ANOS

Gabrielle Lieh Huang - 10 anos

Giselle Manat - 15 anos

Faz aulas de ballet clássico e dança do ventre há apenas um ano e já coleciona títulos. Sua professora e coreógrafa é Carla Cristina, sua figurinista e maquiadora profissional é sua mãe Beth (ela fez curso de maquiagem, e de corte e costura só para poder cuidar melhor das filhas) e seu editor de músicas, vídeos e fotógrafo é seu pai. Bianca possui premiações em diversos festivais, dentre eles o Yalla Festival 2010, organizado por Danna Gama, onde conquistou o primeiro lugar, e além disso, essa pequena é semifinalista do programa “Qual é o seu Talento?” do SBT e integrante da Cia Dancers South America.

Pratica ballet clássico, jazz, ginástica de solo e dança do ventre há 6 anos. É encantada pela dança oriental, onde pode mostrar todo seu sentimento, sua espontaneidade e alegria. Irmã de Bianca, possui a mesma equipe técnica para cuidar de seus passos. Já participou de diversos workshops com profissionais renomados, tanto de dança do ventre como de tribal fusion, como: Petite Jamilla, Moria Chappell, Michelle Nahid, entre outros. Possui diversas premiações, e vale ressaltar que ela foi campeã nacional na categoria infantil no Mercado Persa 2010, e primeiro lugar no IV Projeto Petit Pass 2009, onde também o prêmio como destaque do evento. Ela é semifinalista do programa “Qual é o seu Talento?” do SBT e integrante da Cia Dancers South America. Também já se apresentou diversas vezes com Tony Mouzayek e atualmente dança com o grupo do professor Nasser Mohamed em festas e eventos.

Pratica dança do ventre há 4 anos. Sua primeira professora foi Kaira Manat e hoje ela aperfeiçoa suas técnicas com Rhazi Manat. Giselle tem apoio incondicional de sua família e pretende cursar faculdade de dança. Já participou de inúmeros workshops com professoras renomadas e possui diversas premiações. Em 2009 foi 2o lugar no Panamericano CIAD, categoria juvenil. Em outubro de 2010, concorreu pela primeira vez na categoria amador no II Festival Marques de Dança e conquistou o 2º lugar.

Parabéns meninas, vocês são um exemplo de dedicação e amor à dança! dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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NO INÍCIO FOI ASSIM

Renata Lobo por RENATA LOBO fotos ARQUIVO PESSOAL

Parece que foi ontem.... Faz 15 anos que iniciei meu caminho na dança árabe. A dança sempre fez parte da minha vida, fiz muitos anos de ballet, jazz, flamenco e sapateado americano. Tive meu primeiro contato com a dança do ventre aos 23 anos. Fiquei encantada e quis me aprofundar. Tive a sorte de encontrar Fádua Chuffi. Na vida, temos poucos encontros especiais. Esse foi um deles! Por ter uma sede infinita de aprendizado, fiz muitos cursos com renomados professores. Também tive a oportunidade de estudar em Nova Iorque, Paris e Cairo, pois na época tinham poucas professoras no Brasil, pouco material e nada na Net. Aliás, tudo o que eu conseguia de vhs e fitas cassetes tinham um sabor de algo muito precioso. Parem para analisar, estou falando de 15 anos atrás! Como sempre foi muito claro para mim que trabalharia com a dança, fiz minha parte sendo persistente, estudiosa e disciplinada. Receita básica para qualquer bailarina. Aliás, uma verdadeira bailarina sabe que o processo de aprendizado é contínuo. Naquela época, nunca imaginaria que a dança cresceria assim! Fico muito feliz! Olho para trás, e vejo que consegui escrever uma parte da minha história! Mesmo não morando numa capital (sou de Londrina, Paraná), tive a persistência de seguir. E hoje, tenho uma escola estruturada, e esse ano celebro o 12º espetáculo de dança do ventre da escola Renata Lobo. Sinto-me realizada também por ter a oportunidade de viajar a outras cidades e países ministrando cursos, dançando e sendo jurada. E para as bailarinas que estão iniciando a caminhada, não esqueçam que a dança é algo artesanal, algo que tem que ser repetido de forma sistemática nos seus corpos, até que os movimentos tornem-se orgânicos, interiorizados. Isso exige suor, dedicação e tempo. Preparem seus corpos, afinem

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Se dançar é arte, não sonhemos alcançar um alto grau de aperfeiçoamento sem energia, ordem e paciência. A arte de dançar é para corações generosos, que possuem uma inclinação para o belo, dado por Deus autor desconhecido

seus ouvidos e unam alma a sua dança. Ah! E não queiram antecipar os acontecimentos. O importante é que estejam se preparando...não parem, sigam! Tudo tem seu momento! Por experiência própria, esse é o único caminho! Mãos à obra! Renata Lobo é bailarina, professora e coreógrafa. renatalobo@hotmail.com


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FINANÇAS

O futuro chegou.

E AGORA?

A necessidade de contribuir com a Previdência Social para assegurar o direito à Aposentadoria por VERA MOREIRA fotos iSTOCKPHOTO

A visão que a bailarina e professora têm de si mesmas é essencialmente a de “artista”. Mesmo que inseridas no mercado de trabalho como profissionais liberais, elas se veem como facilitadoras do “despertar do feminino”, que desenvolvem através da arte uma nova forma da mulher encarar sua realidade. E, de fato, as bailarinas e professoras de dança são profissionais especiais. Porém, aos olhos dos órgãos reguladores, são trabalhadoras que, para ter seus direitos assistidos quando for a hora, têm também alguns deveres. E contribuir com a Previdência é um deles. Como profissionais liberais que são, bailarinas não contribuem mensalmente com a Previdência Social através de desconto em folha de pagamento. E quando chegar o momento no qual a bailarina deveria desfrutar de uma velhice digna, ela poderá se ver sem o direito à aposentadoria porque não contribuiu com a Previdência pelo tempo mínimo exigido pelo Ministério

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da Previdência e Assistência Social. Existe um equívoco grande em pensar que existe o direito à aposentadoria por idade sem nenhuma contribuição ao INSS. Qualquer trabalhador, para ter direito à aposentadoria, precisa comprovar 180 contribuições – ou seja: 15 anos contribuindo com o INSS. Sem este pré-requisito, não há direito à aposentadoria por idade, por invalidez permanente e nem direito ao Auxílio Doença. É importante ressaltar a questão do direito ao Auxílio Doença. Porque sendo uma profissional que depende exclusivamente do pleno funcionamento do corpo para trabalhar, qualquer lesão muscular pode tirar a bailarina dos palcos e a professora da sala de aula. Assim sendo, é muito importante ter garantido o recurso extra quando houver necessidade. Bailarinas e professoras autônomas (sem vínculo empregatício) estão enquadradas na categoria “Contribuinte

Individual”. Portanto, devem contribuir para com a previdência com 20% sobre o valor declarado ao INSS. O valor mínimo a ser declarado é o Salário Mínimo, que atualmente é de R$ 510,00. Se você ainda não é contribuinte e deseja cadastrar-se, o site para cadastramento é: http://www1.dataprev.gov. br/cadint. Você deverá ter em mãos a Carteira de Identidade, a Carteira de Trabalho e o C.P.F. O recolhimento é feito mensalmente através do famoso “carnezinho”, e deve ser mantido em arquivo durante todo o período de contribuição, para, em caso de necessidade de comprovação das contribuições, o contribuinte possa apresentá-lo ao Ministério da Previdência. Não se trata de um gasto adicional. Trata-se de pensar no futuro. Vera Moreira, analista de crédito e risco e investment manager de uma das maiores instituições financeiras do mercado. veramoreira@shimmie.com.br


MEU NEGÓCIO

Escola

SHIVA NATARAJ por RHAZI MANAT fotos ARQUIVO PESSOAL

A Revista Shimmie conversou com as administradoras Leda Toda (formada em Farmácia) e Fernanda (formada em Comércio Exterior), que nos contaram um pouco sobre a experiência com a Escola Shiva Nataraj, situada no Tatuapé, São Paulo, e que atualmente conta com mais de 200 alunos. As administradoras participavam de grupos de dança e tinham o sonho de montar uma escola legalizada e com infraestrutura adequada. Daí nasceu a escola Shiva Nataraj. Depois de algum tempo de funcionamento, buscaram o apoio do SEBRAE, que segundo elas, foi um “divisor de águas” na história da escola, pois com este apoio, tiveram todas as informações e suporte necessários para a legalização da escola, o trabalho em equipe com os funcionários, além do marketing e negócios. Para elas, a legalização é o primeiro passo, pois apenas “existindo” para o governo já é possível conseguir financiamento e crédito para o fomento do negócio.

A Equipe Segundo elas, o maior desafio foi o trabalho com a equipe, pois a maioria dos artistas não está acostumada a uma proposta coletiva, de reuniões e procedimentos básicos dentro de uma escola. O principal desafio foi aceitarem receber seus pagamentos por hora/aula e não em porcentagem por alunos, como a maioria das escolas. Com muita persistência, o tempo mostrou que, com este sistema, as vantagens são inúmeras, principalmente para o profissional, que não tem problemas com sazonalidades típicas do nosso meio (férias, inverno e festividades em geral), quando muitos alunos “dão um tempo” em seu curso, muitas vezes não efetuando o pagamento das mensalidades, o que atinge diretamente o professor e a escola. “Podemos dizer orgulhosamente que todo esforço não foi em vão, pois a es-

cola tem uma equipe de verdade dentro de seu estabelecimento, com integrantes envolvidos com a arte ‘full time’ (não tem outros empregos fora da área que atuam), que falam a mesma língua, estão sempre por dentro do que acontece na escola, divulgam, ‘vestem a camisa’ (literalmente, tendo em vista que trabalham uniformizados) e são uma extensão da Diretoria em todas as salas de aula. Os funcionários hoje, além do salário e de serem totalmente legalizados dentro da escola, usufruem de um programa de gratificações e incentivos.”

Fernanda e Leda, administradoras do Shiva Nataraj

Curso Técnico em Dança – Ampliação do Mercado de Trabalho para o Profissional em Dança Um passo importante da escola Shiva Nataraj foi a implantação de curso técnico em dança, o único de danças árabes reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação e da Cultura). Para o reconhecimento do curso pelo MEC, a Escola teve que se adaptar às exigências de matriz curricular, além de exigências estruturais, não havendo diferenças entre uma escola de dança para uma escola pública, pois as exigências são as mesmas: formato de escadas, número de janelas, itens de segurança, piso apropriado, entre outros. Para que o Curso de Dança de sua escola seja reconhecido pelo MEC, é necessário suprir as exigências do Ministério da Educação e Cultura, acerca do currículo e estrutura de seu estabelecimento.

O Profissional de Dança rumo ao Sucesso O sucesso profissional não tem a ver somente com o número de fãs que você tem, pois, infelizmente, não se vive de aplausos. O aplauso nutre nossa alma, mas o sucesso também tem a ver com a nossa sobrevivência como artistas que vivem da arte. O artista deve ter consciência de

que, desde a sua primeira aula, já é uma empresa! Que é necessário fazer os cálculos com seus gastos com alimentação, transporte, custos com sua própria arte (figurinos, material de divulgação e outros), verificar suas necessidades e seguir em frente em busca do que deseja. Infelizmente, muitos ótimos profissionais ficam pelo caminho, pois, por inexperiência, não buscam a sua legalização e informações com outros profissionais (contadores, advogados, etc.) a fim de fazerem uma carreira sólida. Muitos profissionais iludem-se com o fato de terem vários alunos e acham que a legalização é apenas “dar dinheiro para o Governo”, e que com essa prática eles não vão ficar com nenhum lucro, o que é uma inverdade, pois vários benefícios, como INSS e crédito pessoal, são necessários e indispensáveis para sua permanência em um mercado tão sazonal como o da dança. Para Leda e Fernanda, a principal mensagem para os leitores Shimmie é que o profissional deve sempre buscar informação, abrir-se para o novo e não ficar preso apenas nas referências de Dança do Ventre, e sim, buscar referência de sucesso em outras áreas e ir adiante, com muita persistência e otimismo! dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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CORRENTE DO BEM

APADE Seja você também um artista do bem

por DANNA GAMA fotos ARQUIVO PESSOAL

Oficinas Terapêuticas • Artesanato • Bonecas • Dança • Fala • Momentos

Cursos Profissionalizantes (mais de 650 pessoas capacitadas para o mercado de trabalho) • Culinária • Informática A APADE foi fundada em 1990 com objetivo de defender os direitos de cidadania das pessoas com deficiência. Ela conta com atendimentos de psicologia, pedagogia, fonoaudiologia, fisioterapia, serviço social e nutrição, além de projetos específicos e oficinas terapêuticas.

Projetos desenvolvidos na APADE, nos quais mais de 1200 pessoas já foram atendidas Projeto Música, Movimento e Conscientização Visa, através da música e do som, promover o desenvolvimento do indivíduo, consciência corporal, buscando autonomia na sua maneira de explorar, conhecer, criar e transformar experiências em oportunidades e ações.

Projeto Com Arte eu Posso Visa promover a iniciação artística através de trabalhos que propiciem a oportunidade do indivíduo desenvolver suas habilidades, potencialidades e gosto artístico.

Projeto Empregabilidade Capacitação de pessoas com deficiência para o mercado de trabalho.

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Fontes de recurso CONVÊNIO EMAE / APADE: uma fonte de recursos com a qual eles contam é a colaboração de 162 sócios funcionários da CESP/EMAE, que mensalmente contribuem para a manutenção dos projetos da APADE. Lanchonetes Conveniadas: lanchonetes conveniadas com empresas, onde 12% do faturamento é destinado à manutenção do trabalho da APADE. Doações financeiras: a APADE está necessitando de doações para a continuidade deste trabalho. Trabalho voluntário: a APADE também conta com uma equipe de voluntários, sem os quais todo esse trabalho não seria possível. Nossa colunista Danna Gama é voluntária APADE!

Seja um artista do bem e doe recursos ou trabalho! NÚCLEO APADE & EMAE Contato: Hilda Tenório Oshiro (Assistente Social) Endereço: Av. Nossa Senhora do Sabará, 5312 CEP: 04447-900 - Pedreira - São Paulo - SP E-mail: parceriaemae@apade.org.br Telefax: 11 5613-2116



LEITURA MUSICAL

O violino por RHAZI MANAT fotos STOCK.XCHNG

A leitura de uma bailarina consiste no modo como ela executa uma música. Parece simples, não é? Mas talvez este seja um dos maiores desafios para a artista, pois significa a tradução da música em movimentos. A leitura musical perpassa pela sensibilidade e claro, pela escolha dos instrumentos, escolha essa ditada pelo seu estudo e emoção do momento. A bailarina quando dança é uma intérprete da música. Preferi dividir este tema através de instrumentos específicos, árabes ou não, que aparecem com mais frequência nas músicas árabes. Cada instrumento tem uma estética musical, ou seja, suas qualidades e elementos contidos, como o lirismo, harmonia, timbre, emotividade e outros. São estes elementos que vão determinar a relação pessoal da bailarina e do público com cada instrumento. Como preferência pessoal (confesso), escolhi como primeiro instrumento o violino, um instrumento de origem Ocidental. Particularmente, o que me fascina no violino é a quantidade de possibilidades sonoras que ele oferece: sons graves, agudos, melodias longas, curtas... isso sem contar o alto teor melódico que ele oferece, sendo um convite à entrega da bailarina através de sua interpretação. Já vi bailarinas dançarem ao som de violinos, apenas mudando as posições dos cambrets: para trás, lateral direita, lateral esquerda, e ficando nestes movimentos até o final daquele trecho que, muitas vezes, é o momento do taksim (improvisação melódica e lenta dentro da música). Não que o cambret não seja válido nesta leitura, mas a possibilidade oferecida é muito mais vasta. Você pode, em sons mais leves e agudos, passear por entre oitos, redondos e ondulações, passando por cada um sem recortes, de acordo com a fluência do instrumento. O tamanho destes movimentos deve obedecer ao “tamanho” e ao andamento (lento ou rápido) das frases que está escutando e interpretando. Quando o violino nos oferece sons mais graves e rápidos, geralmente junto com a orquestra, você pode usar os redondos grandes e, dependendo do crescimento da orquestra, usar arabesques e giros. E, claro, sua leitura musical é composta também pela emoção, na qual você vai detectar o “humor” do instrumento em determinado momento. Como disse anteriormente, o violino é altamente melódico, e, em termos de humor, podemos ouvi-lo mais dramático, triste, forte... a partir daí é que você cria a sua interpretação. Isso é algo totalmente singular, mas com certeza é um pequeno flash no qual a bailarina pode externar um pouco de sua alma de artista e mulher. Seria um desperdício a bailarina, neste momento, continuar com a mesma expressão que estava antes da entrada do violino. Já vi bailarinas sorrindo abertamente em violinos, apesar dos movimentos escolhidos para a leitura estarem corretos. Tive a sensação, como público, de desconexão entre o que eu estava ouvindo e o que estava acontecendo no palco. Sugiro para você um exercício: ouça o instrumento, sinta o que ele lhe diz, só depois pense na técnica que vai empregar. Em pouco tempo, esses dois fatores andarão juntos com você no palco. Tente, experimente suas possibilidades. Alguns casos serão mais fáceis, outros mais difíceis, mas sempre serão altamente gratificantes. Quem tem a ganhar é você e seu público. Rhazi Manat é bailarina, professora e coreógrafa. rhazi@rhazi.com.br

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TEORIA MUSICAL

Instrumento de

PERCUSSÃO Sobre o Derbak e a Dança do Ventre por IVES AL SAHAR fotos STOCK.XCHNG

Também conhecido como tabla egípcia, doumbek, darabukka, derbeki, derbocka, dunbul e dumbelek, o derbak é um instrumento membranofone1 presente em diversas culturas além da árabe, como por exemplo, entre os balcãs, persas, armênios e turcos. No Brasil é mais conhecido como derbak ou darbuka. Entre os tipos mais comuns de derbakes podemos classificar: a tabla egípcia, a darbuka turca, e a darbuka árabe. Escolher o instrumento correto é tão importante quanto tocá-lo. O som da darbuka turca, por exemplo, é significativamente diferente do som de uma árabe. É um instrumento tradicionalmente feito de barro ou de madeira, e peles confeccionadas a partir do couro de peixe ou de cabra, fixadas através de tiras de couro, pregos, amarrações ou mesmo cola. Hoje muitas darbukas são fabricadas de metais como cobre, latão, alumínio e tungstênio, possuindo também peles sintéticas. Com isso, existe a vantagem de uma maior resistência mecânica e também de manter a afinação durante um grande período de tempo; por outro lado, os instrumentos possuem uma timbragem menos rica do que os tradicionais. Este tambor pode ser reproduzido através de diversas técnicas que variam de região para região e também em função do material do qual o instrumento é feito. Dentre as diversas notas possíveis do derbake, podemos destacar as mais básicas: “Dum”, “Ta”, “Ka” e “Sak”. Para cada nota dessas existe uma forma específica de ataque na pele. O Dum, que é a nota mais grave, por exemplo, deve ser executada com os dedos juntos, em linha reta, batendo no tambor com a mão direita na altura das falanges médias. O derbak é o principal instrumento utilizado para solos de percussão da dança do ventre. Ele é responsável pela condução rítmica e acentos frasais que deverão ser graficados pela profissional da dança. Esta interação artística – entre o derbakista e a bailarina – depende de alguns fatores para que seja bem sucedida: sentimento, sintonia, estudo e aprofundamento técnico de ambas as partes. Para a profissional, ou mesmo para a estudante que pretende dançar um solo de derbak, aí vão algumas dicas básicas: atenção às intenções e intensidades da música (respirar com o instrumento); conheça bem os ritmos e suas variações, além do estilo musical do músico com o qual você vai fazer parceria, e se possível, tenha uma vivência prática com a técnica deste instrumento, o que facilitará e muito sua performance como bailarina, tendo em vista que a sua função é graficar e interpretar as expressões musicais e artísticas provenientes do instrumento. Este, por sua vez, é tocado por instrumentistas que também precisam estar conectados com a dança da bailarina, seja no momento de um solo de percussão ou mesmo em uma música que possua instrumentos melódicos, se for o caso. Ives Al Sahar é músico multi-instrumentista e pesquisador da música e cultura oriental. ivesalsahar@shimmie.com.br 1 Membranofones são instrumentos que produzem som através da vibração de membranas distendidas.

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MODERNO

Moderna

Dança do ventre por GIULIANA SCORZA fotos iSTOCKPHOTO

Para começarmos a falar sobre dança do ventre moderna devemos entender exatamente a definição da palavra moderno: ser moderno é romper com o clássico, é rejeitar a estética anterior e produzir uma nova, e ter liberdade para criar. Na dança em geral, essa divisão ocorreu por volta do anos 20 na América, onde o bailarino clássico rompe com a formalidade do ballet, deixando as sapatilhas de lado, e entrega-se à liberdade de expressão, através de movimentos não simétricos e tradicionais. Ele rejeita também o padrão dos espetáculos tradicionais, e passa a incorporar novos elementos cênicos à dança. O bailarino moderno visualiza o futuro e não o passado, mesmo sabendo que sua arte por vezes possa não ser compreendida, pois não segue nenhum modelo e muitas vezes choca com tanta originalidade, autenticidade e novidade. Entre as praticantes de dança do ventre, “ser moderna” era quase ser uma herege, passível de ser queimada em algum ritual à beira do Nilo. Como imaginar uma dançarina com roupas pouco bordadas e até sem nenhum bordado? E cinturão sem franja de canutilho? E mais: homem dançando?! Declaro o ano de 2010 como o ano da aceitação ao moderno. Nunca em toda a trajetória da dança do ventre brasileira vimos tantas coreografias, com as mais diversas fusões e os mais diversos tipos de roupas. A necessidade de novidade tomou conta das academias, e a demanda por acessórios como o véu Poi e o véu Leque deixou os ateliers ocupadíssimos por todo o ano. Lembro também que falar sobre bailarinas turcas dançando era o pior exemplo a se dar a uma aluna. Difícil quem não torcesse o nariz para elas. Hoje em dia, não há modelo moderno mais adequado para exemplificar um solo. Roupas lindíssimas com quase nada de brilho, sensuais sem ser em demasia, e movimentos precisos. Elas também utilizam certos contorcionismos um tanto estranhos para nós, porém bastante modernos. Assim como ocorreu na arquitetura, na dança e artes em geral essa passagem do clássico para o moderno foi muito abrupta, e até hoje há os que não a aceitem de jeito nenhum, pregando que se assim continuar, o clássico será suplantado pelo moderno. Penso que não há como continuarmos evoluindo sem transformação. Isso faz parte da história humana e esse ritmo não pode ser quebrado. Preservar as características tradicionais é nosso dever, porém fazer uma nova releitura acerca delas é nossa obrigação. Giuliana Scorza é bailarina, professora e coreógrafa de dança do ventre. giulianascorza@shimmie.com.br

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Músicaclássica árabe CLÁSSICO

Conhecendo a estrutura da Música Clássica Oriental – Parte II por AISHA ALMEÉ

Conforme já vínhamos conversando na edição anterior, a música clássica árabe é composta, basicamente, pelos seguintes momentos: introdução, entrada em cena, momentos cadenciados,taqsim folclore, percussão e encerramento. Vamos conhecer cada um deles: Introdução É de praxe não se dançar neste momento. É a hora em que os músicos se apresentam. A dançarina, fora de cena, concentra-se para entrar, e o público aguarda (ansiosamente, esperamos...) a bela apresentação. Apertem os cintos, queridos tripulantes, a viagem vai começar... Entrada em cena Ritmos rápidos que pedem deslocamento, dinamismo da dançarina, a ocupação do espaço de forma elegante, e geralmente, altiva. Arabesques, giros, piruetas, deslocamentos grandiosos ganham a cena. Muitas dançarinas utilizam-se das técnicas do ballet clássico para maior acabamento destes movimentos. É a apresentação da dançarina, do seu figurino, do seu corpo, do seu cheiro. Um convite generoso a uma viagem que está apenas começando. Momentos cadenciados Ritmos

cadenciados que pedem descontração e movimentos soltos, “macios”; aqui, a dança pode ganhar pés no chão, sorriso, quadris reverberados, é um convite ao sabor da genuína dança do ventre. Taqsim/lentos Ritmos lentos acompanhados de instrumentos melodiosos (kanun, nay e flautas variadas, alaúde, acordeon, violino e outros) convidam a dançarina a preencher o espaço com sinuosidade, flexibilidade, movimentos arredondados e braços suaves . A sutileza, doçura e a sensualidade dominam o ar. É um sutil convite a esquecer o mundo lá fora, como um longo suspiro num fim de tarde sob a brisa do deserto... Folclore A maioria das músicas clássicas árabes tem trechos de ritmos folclóricos inseridos nelas (said, khalige, falahi, masmoudi e maqsoum rápidos). É necessário (pelo menos o mínimo) conhecimento de dança folclórica para que esse momento ganhe movimentos específicos do folclore solicitado pela música. Descontração e irreverência são solicitados neste momento. A dançarina transporta-se, juntamente com o público, para uma pequena tribo onde homens e mulheres dançam despreo-

cupadamente, pés em contato com a terra. Dançam para celebrar a vida. Percussão Técnica de quadril, movimentos marcados, destreza e velocidade, o “coração” da nossa dança: o quadril e as batidas dos tambores árabes (derbaki, dahola, daff, snujs, bendir e tudo o que mais vier). A dançarina aqui preenche com segurança a percussão árabe. Encerramento Geralmente com o mesmo ritmo e melodia do início (finalização melódica). Novamente os deslocamentos grandiosos entram em cena, juntamente com o adeus e o generoso agradecimento da dançarina ao respeitável público pela companhia à deliciosa viagem. É utilizar-se da dança e da música árabe para se expressar, reunir pessoas, sentir e causar emoções, e desenrolar-se como a arte islâmica que começa com um motivo central, e vai criando ornamentos, tecendo padrões complexos ao redor dele, para a construção de um momento oriental, místico, intenso e maravilhoso. Aysha Almee é bailarina, professora e coreógrafa de dança do ventre. aysha.almee@hotmail.com

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O HOMEM NA DANÇA DO VENTRE

sem preconceito

por FLAVIO AMOEDO

O preconceito é falta de respeito com qualquer ser humano. Falar sobre este tema não é fácil, ainda mais quando nós somos o alvo. É notória a existência do preconceito na dança do ventre, seja ela executada por homens ou por mulheres. Infelizmente o mercado impôs algumas regras, que temos que seguir. Tenho observado durante meus 12 anos de carreira que grandes festivais de dança (exclusivos de dança do ventre) colocam para os homens a modalidade “dança show”; com isso, não temos a possibilidade de competirmos nas outras modalidades como profissionais, clássicos e outros. Sempre quando vejo esta situação, pergunto-me: por que não podemos nos encaixar na modalidade “dança do ventre”, assim como as demais colegas de trabalho? A maioria das pessoas diz, “porque homem não tem ventre”. Bom, vamos lá: uma das definições da palavra ventre, diz que: o ventre é a cavidade do corpo onde estão o estômago e o intestino. En-

tão, homem tem ventre sim! E embora o nome da dança seja como o conhecemos no Brasil – dança do ventre – e em outros países também (como nos EUA e na França), o nome correto da dança é raks el sharks, que significa dança do leste. Dança do ventre foi o nome dado pelos franceses posteriormente. Se fôssemos levar tudo à risca, deveríamos julgar também algumas fusões, e não é isso que acontece e muito menos é o que queremos. Estou falando de liberdade de expressão, sem preconceitos. São inúmeras perguntas sem êxito de respostas, mais gostaria de lembrar que a arte não combina com preconceitos, por isso sempre digo às minhas alunas e demais pessoas que o preconceito sobre a arte tem como resultado a falta de compreensão dela própria e em si. A dança do ventre para nós é o encontro do movimento, do corpo e da alma, onde conseguimos vivenciar sensações e emoções que muitos desconhecem, mas que nosso corpo sente. É a realização de sonhos, é vivenciada a cada passo, é um

Ballet Dança Cigana Artigos para dança

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momento mágico que nos leva ao êxtase. A arte não tem sexo, tem alma. Nosso sonho, nosso profissionalismo é desrespeitado no Brasil. No Exterior, podemos fazer aulas com muitas professoras e professores renomados mundialmente. Aqui no Brasil, para não ficar muito óbvio o preconceito, usa-se o termo indicação feminina nos folhetos e sites. Realmente no meio artístico, específico da dança do ventre, há muitas profissionais com um brilhante conhecimento teórico e técnico, só que conhecimento não é tudo, respeito sim. Balanchine disse: “balé é mulher”. Béjart respondeu que a dança é masculina. Como disse o renomado bailarino Ernesto Gadelha: “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar, balé não é mulher e dança não é só balé. Dançar é humano, demasiado humano”. Flávio Amoedo é bailarino e professor de dança do ventre. flavioamoedo@shimmie.com.br


OLHOS DE BASTET

DEUSA SEKHMET

Deusa egípcia, representada com cabeça de leoa e com corpo de mulher e com um disco solar sobre sua cabeça.

por SAMÝRA MURADDY foto iSTOCKPHOTO

SEKHMET, A cabeça de leoa é símbolo de força e poder de destruição de inimigos. A deusa é representada a maioria das vezes sentada em um trono, segurando um sistro (ou sistrum, instrumento musical sagrado) e com o pé esquerdo à frente, sugerindo movimento. É esposa de Ptah, deus das artes e dos ofícios. Sekhmet foi profundamente temida por seus inimigos. Os ventos escaldantes do deserto eram sua respiração e os egípcios acreditavam que sua aura impetuosa cercava seus corpos. A praga e a peste foram criações dela. Sua juba era cheia de chamas, sua espinha dorsal tinha cor de sangue. Seu rosto brilhava como o sol, e o deserto ficava envolto em poeira quando sua cauda o varria. Tida como “Senhora da Vida”, é considerada também como a “Patrona dos Médicos e Ortopedistas”. No período do ano em que os raios do Sol estão mais fracos, Sekhmet mostra seu lado mais generoso. Seu centro principal era em Mênfis, mas sua adoração também foi documentada em Luxor, Karnak e sobre todo o Egito. Deus Rá ordenou a Sekhmet que castigasse a humanidade por causa de sua desobediência. Sekhmet executou a tarefa com tamanha fúria que o deus Rá precisou embebedá-la para que ela não acabasse ex-

terminando toda a raça humana, o que acabou originando a deusa Bastet. Alguns egípcios tiveram dificuldades para dissociar a deusa Bastet da deusa Sekhmet, sendo como uma única pessoa com personalidade e características diferentes. Bastet é a gata amável e sossegada, e Sekhmet leoa guerreira implacável, deusa cruel da guerra e das batalhas que tanto causava quanto curava epidemias.

Pedido de proteção à deusa Sekhmet “Senhora do Leão, da Batalha e da Espada, Sekhmet, terrível deusa, estabeleça proteção ao meu redor. Quebre as paredes que me confinam. Ajude-me a me livrar dos inimigos e obstáculos. Grande Senhora, Ajude-me! Leoa da destruição e da vingança. Meus inimigos me circundam, buscando minha queda. Livra-me de sua influência. Conceda-me a liberdade. Ó poderosa e Terrível, amada de Ptah, atenda a meu pedido por proteção”. Samýra Muraddy é tarologa, pesquisadora do panteão egipcio e faz leitura na borra do café. samyramuraddy@shimmie.com.br

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EVENTOS

Momentos

INESQUECÍVEIS

por EQUIPE SHIMMIE fotos ADELITA CHOHFI, CLARICE BONINI E ADRIANA BRIDA

Festa de lançamento da Revista Shimmie, que ocorreu no dia 26 de setembro de 2010, em São Paulo. 1º Encontro Nacional Mahira Hassan 2010 na Escola Top Dance

I Concurso de Danças árabes de Sorocaba e região

I Yalla Festival, em São Paulo

II Festival de Danças Orientais Marques

Lançamento do Livro ‘Direção e Preparação Artística’ de Jorge e Débora Sabongi, no Khan el Khalili, em São Paulo. 58

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Festa de 17 anos do Atelier Simone Galassi, em São Paulo.


Programação

PROGRAME-SE

de EVENTOS

5 de Dezembro V Festival de dança do ventre Ventremania Local: Centro de eventos Pedro Bortolosso São Paulo - SP Informações: (11) 8216.6516 / 7749.7213 (Ana Claudia Borges)

09 a 12 de Dezembro II Dançamazonia Teatro Margarida Schivazappa Belém - Pará Informações: (91) 3082-2222

12 de Dezembro Equilibrio - VI Sarau de Danças Orientais Árabes São Paulo - SP - 19h Informações: Al Qamar (11) 3578.9390

12 de Dezembro III Festival Oriente - A mulher e o sonho Ályyta Suhair São Paulo - SP - Associação Aichi do Brasil - Liberdade

17 de Dezembro 3º Espetáculo de dança “Os 4 Elementos” e 1ª Mostra de Danças “Cores em Movimento” Teatro Jd. São Paulo - São Paulo - SP Informações: Escola Sete Veus (11) 2950-2702

19 de Dezembro Encantos da Dança III Ipatinga/MG - Teatro do Centro Cultural Usiminas - 20h Participações Especiais: Najla Yacoub e Sebastian Yacoub (Show e Workshop) Informações: (31) 88694564 (Cíntia Barros)

19 de Dezembro Noites do Harém – A última de 2010. Apresentações de: Jade, Aysha, Mayara, Lainah, Talita Faria e Bailarina Convidada: Najwa Zaidan Informações: (11) 5575-6647 ou (11) 5571-3209

Quer ter seu evento divulgado? Envie um e-mail para contato@shimmie.com.br e acompanhe nosso site. Nele você encontrará um calendário geral de tudo o que acontece no meio da dança do ventre.

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GLAMUROSA

Saber dançar te faz

PROFESSORA? por SAHIRA FATIN ilustração iSTOCKPHOTO

São 22 horas de um domingo chuvoso e frio. Sentada à frente do computador, pensativa, estou eu. As páginas do Google abertas começam a pesquisa...

Mestrado No Brasil, o Mestrado é o primeiro nível de um curso de pós-graduação, que tem como objetivo, além de possibilitar uma formação mais aprofundada, preparar professores para lecionar em nível superior, seja em faculdades ou nas universidades, e promover atividades de pesquisa.

Dança A dança é uma das três principais artes cênicas da Antiguidade, ao lado do teatro e da música. Caracteriza-se pelo uso do corpo seguindo movimentos previamente estabelecidos (coreografia) ou improvisados (dança livre). Na maior parte dos casos, a dança, com passos cadenciados, é acompanhada ao som e compasso de música e envolve a expressão de sentimentos potencializados por ela. A dança pode existir como manifestação artística ou como forma de divertimento, e/ou cerimônia. Como arte, a dança é expressada através dos signos

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de movimento, com ou sem ligação musical, para um determinado público, que ao longo do tempo foi se desvinculando das particularidades do teatro. Atualmente, a dança manifesta-se nas ruas, em eventos como “Dança em Trânsito”, sob a forma de vídeo, no chamado “vídeo-dança”, e em qualquer outro ambiente em que for contextualizado o propósito artístico.

Professora Professora é uma pessoa que ensina uma ciência, ARTE, técnica ou outro conhecimento. Para o exercício dessa profissão, são necessárias qualificações acadêmicas e pedagógicas, para que se consiga transmitir/ensinar a matéria de estudo da melhor forma possível ao aluno. É uma das profissões mais antigas e mais importantes, tendo em vista que as demais, em sua maioria, dependem dela. Platão, na sua obra A República, já alertava sobre a importância do papel do professor na formação do cidadão (aqui poderíamos ler “bailarina”). Após esta pequena pesquisa na internet, em um momento em que estava mais livre, fiquei me perguntando, e tenho certeza de que você também vai

se perguntar: Saber dançar te faz professora? E aí? Talvez quem esteja mais apta a responder seja alguém com a lombar, o joelho, ou qualquer outra parte lesionada pela postura incorreta! Ou alguém que já passou a vergonha de subir ao palco para dançar uma música folclórica com traje clássico e com uma coreografia moderna! A aula para a mulher de 50 anos é igual à aula para a mulher de 18? E ela é igual à aula da menina de 8 anos? Novamente: até onde vai a responsabilidade da “professora” que forma outra “professora”? Temos alguns cursos profissionalizantes muito bons, e alguns deles possuem em suas grades a disciplina pedagógica na Dança do Ventre. A coisa é muito mais séria do que parece! Está certo, cada tópico por mim citado pode render páginas e páginas de conversa, mas a questão principal neste momento é a seguinte: ter DRT te faz professora? Fui! Sahira Fatin é bailarina, professora e coreógrafa de Dança do Ventre. sahirafatin@shimmie.com.br


NOVELINHA SHIMMIE

Coreografando

EMOÇÕES... “Prepara... vou soltar a música!”

por RHAZI MANAT imagens iSTOCKPHOTO ilustração JOSI MADUREIRA

A professora Habiba intensificou mais o ensaio da coreografia. Suas alunas já estavam com 8 meses de aula. Parece que foi ontem... a música já estava no repeat, de tanto que elas estavam ensaiando. Neste início de aprendizado, mesmo com uma música mais simples, era preciso o início da apuração musical, identificando refrões, frases e instrumentos, fazer com que elas ouvissem as nuances da música, para uma melhor interpretação. Borboletinha acompanhava as sequências com dificuldade. Pensou que seria mais fácil. Mesmo assim, apostava em sua aparência, um passaporte para a fila da frente. Além do mais, falou para a professora que iria levar 20 convidados... isso deveria fazer diferença também. Trancinha não se cansava de repassar a coreografia. Não se conformava como outras alunas com tanta dificuldade ainda conversavam durante a aula. Algumas não tinham nem a música para estudar em casa! Tinha medo de a coreografia ser um desastre. Mas sabia que pelo menos ela estava fazendo a sua parte. Tinha visto na internet a mesma música coreografada por outras professoras, e tinha reparado na variação de interpretações. Achou a coreografia da sua professora muito interessante. Sapatilha estava muito feliz por seu marido tê-la deixado dançar. Aconteceu depois de uma das brigas mais feias que tiveram, na qual ele quase a agrediu. Como ele ficou arrependido, deu este presente, e ela, claro, aproveitou. Agora, o próximo passo seria entrar no grupo de folclore, que era tão maravilhoso, tão alegre... já que ela estava gostando tanto da dança, conseguira unir as duas coisas: algo maravilhoso como a dança do ventre e a possibilidade de ficar o máximo de tempo fora de casa. Fadinha foi à aula com dificuldade, mas não poderia faltar, pois já tinha perdido o início da coreografia. Ficou no fundo da sala, foi pegando a coreografia aos poucos, mas, iria ficar ali no fundo mesmo; na verdade, sua vontade era que ninguém percebesse que ela estava ali, que ela fosse um ser invisível. Florzinha girava e fazia as sequências muito bem. Nem estava acreditando que tinha essa habilidade! Entendia direitinho as transferências entre um movimento e outro e começava a se corrigir. Ficou surpresa quando a professora Habiba pediu para que ela ficasse na frente “puxando” a coreografia para que a professora pudesse assistir e fazer as devidas correções. A professora Habiba, ao final da aula, finalmente fez a disposição da coreografia, como sempre, obedecendo aos seguintes critérios: desempenho técnico, desenvoltura e altura. Então, a disposição ficou da seguinte forma: na frente, Trancinha, Florzinha e Sapatilha; atrás, intercaladas, Fadinha e Borboletinha. Também aproveitou para falar do figurino, valores de inscrição, ensaios extras e outros compromissos inerentes a qualquer apresentação de alunas. Estava bem calma em relação ao evento, já que era tranqüilo, não teria tanta gente e com isso as meninas não ficariam tão acanhadas. Acompanhe os capítulos da novelinha Shimmie em nosso site. Rhazi Manat é bailarina, professora e coreógrafa. rhazi@shimmie.com.br dezembro/janeiro 2011 www.shimmie.com.br

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PENSAMENTOS

Uma mulher que torna seu corpo sensível e abre-se para a experiência dessa dança, concentra os movimentos em seu ventre, faz uma viagem no tempo, até um período onde o tempo não existe. Através de sua dança, ela adquire uma visão sagrada e feminina do mundo, que inclui sua própria cultura ou pátria.

Maria Strova do livro "The Secret Language of Belly Dancing"

foto ADELITA CHOHFI 62

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Divina Consultoria . Bailarino: Flavio Amoedo

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