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textos de António Olaio
Bernardo Pinto de Almeida
Vítor Costa
Este livro foi publicado por ocasião da exposição
Diálogos IV: Julio & António Olaio – De Julio em diante, com curadoria de Bernardo Pinto de Almeida e António Olaio, coordenação de Laura Garrido e Caetano e apoio à investigação de Arminda Rodrigues, realizada na Galeria Julio – Centro de Memória, em Vila do Conde, de 27 de abril a 1 de dezembro de 2024.
Agradecimentos: Emília Cela
Diálogos IV: De Julio em diante
Julio & António Olaio
Dando sequência ao ciclo de exposições anteriores, na Galeria Julio e Centro de Estudos Julio – Saúl Dias, trouxemos a público a mostra «De Julio em diante» com o artista contemporâneo António Olaio, que dá agora lugar a um catálogo com a mesma designação.
Além do diálogo, que se espera profícuo, entre a obra de Julio e António Olaio, a apresentação desta exposição reveste-se também de um carácter simbólico. De facto, quando celebramos, no nosso país, 50 anos do 25 de abril de 1974, a Galeria Julio apresenta em confronto a obra de António Olaio — desenvolvida a partir da década de 1980, em plena democracia — com a obra de Julio, produzida em pleno Estado Novo (embora se reconheça Julio como opositor ao regime). Tal permite-nos aludir, ainda que subtilmente, às diferenças de contexto político, social, económico e artístico que o país atravessou no século XX.
Através deste olhar alargado que cobre um século de arte portuguesa, procuramos entender, simultaneamente, toda a transformação que pode ter lugar, mas também as linhas de continuidade que são ainda possíveis de estabelecer entre os diversos discursos artísticos nas suas respetivas contextualizações históricas.
Com mais esta iniciativa, continuamos o nosso desígnio de preservação e divulgação da obra de Julio, uma figura central do modernismo português.
Vítor Costa
Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde
De Julho em diante
Com o título «De Julio em diante» queria sobretudo traduzir o lado performativo desta exposição. Como artista, era o próprio fazer destes desenhos que referia, um durante que se estenderia em diante…
E não me importava nada com a possibilidade de se perceber «De Julho em diante» como se o tempo fosse o tema, uma cronologia de uma acção em contínuo.
Só que, como artista, como alguém que trabalhará «para além do espaço e do tempo», este Julho poderia ser de 1947, de 1959… porque aqui este Julio é meu contemporâneo. Tão contemporâneo que nos cruzámos várias vezes quando desenhava estes desenhos ao ponto de quase, mas só quase, acreditar que ele os fazia por mim.
António Olaio
Coimbra, 13 de Outubro de 2024
Lista de obras
PP. 1-8
Performance de António Olaio
P. 9
Pormenor da assinatura de António Olaio nos desenhos da exposição
P. 11
Parede de entrada na exposição, com quatro desenhos emoldurados de Julio sobre a parede intervencionada por António Olaio
P. 12
Julio, Sem título, 1974
Tinta-da-china sobre papel
43 × 30,5 cm
Coleção CMVC
P. 13
Julio, Sem título, 1974 Tinta-da-china sobre papel
43 × 30,5 cm
Coleção CMVC
P. 14
Julio, Sem título, 1974 Tinta-da-china sobre papel
43 × 30,5 cm
Coleção CMVC
P. 15
Julio, Sem título, 1974
Tinta-da-china sobre papel
43 × 31 cm
Coleção CMVC
PP. 22-23
Vista da exposição com desenho emoldurado de Julio e desenho de António Olaio
P. 25
Julio, Sem título, sem data
Tinta-da-china sobre papel
47 × 35 cm
Coleção CMVC
PP. 26-30
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
47 × 35 cm
Coleção António Olaio
P. 31
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 32
Julio, Sem título, 1959
Tinta-da-china sobre papel
45,5 × 34 cm
Coleção CMVC
PP. 33-36
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
45,5 × 34 cm
Coleção António Olaio
P. 37
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 39
Julio, Sem título, 1959
Tinta-da-china sobre papel
38,5 × 29,5 cm
Coleção CMVC
P. 40
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
38,5 × 29,5 cm
Coleção António Olaio
P. 41
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 43
Julio, Sem título, 1959
Tinta-da-china sobre papel
34 × 22,5 cm
Coleção CMVC
P. 44
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
34 × 22,5 cm
Coleção António Olaio
P. 45
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 47
Julio, Sem título, 1959
Tinta-da-china sobre papel
45 × 34 cm
Coleção CMVC
P. 48
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
45 × 34 cm
Coleção António Olaio
P. 49
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 51
Julio, Sem título, 1954
Tinta-da-china sobre papel
23,5 × 30 cm
Coleção CMVC
PP. 52-54
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
22,5 × 34 cm
Coleção António Olaio
P. 55
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 57
Julio, Sem título, 1954
Tinta-da-china sobre papel
23,5 × 30 cm
Coleção CMVC
PP. 58-60
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
23,5 × 30 cm
Coleção António Olaio
P. 61
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 63
Julio, Herdade da Serralheira (Évora), 1956
Tinta-da-china sobre papel
20,5 × 30 cm
Coleção CMVC
PP. 64-66
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
20,5 × 30 cm
Coleção António Olaio
P. 67
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 69
Julio, Herdade do Vale do Rico Homem, 1956
Tinta-da-china sobre papel
21 × 30 cm
Coleção CMVC
PP. 70-72
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
21 × 30 cm
Coleção António Olaio
P. 73
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42,8 cm
Coleção António Olaio
P. 75
Julio, Sem título, 1939
Tinta-da-china sobre papel
38 × 33,5 cm
Coleção CMVC
P. 76
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 37,5 cm
Coleção António Olaio
P. 77
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 79
Julio, Sem título, 1938
Tinta-da-china sobre papel
29,5 × 38 cm
Coleção CMVC
P. 80
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
29,5 × 38 cm
Coleção António Olaio
P. 81
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 83
Julio, Sem título, sem data
Tinta-da-china sobre papel
34,5 × 23 cm
Coleção CMVC
PP. 84-86
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
34,5 × 23 cm
Coleção António Olaio
P. 87
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 89
Julio, Sem título, 1947
Tinta-da-china sobre papel
40 × 33,5 cm
Coleção CMVC
PP. 90-92
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
40 × 33,5 cm
Coleção António Olaio
P. 93
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 95
Julio, Sem título, 1959
Tinta-da-china sobre papel
38,5 × 29 cm
Coleção CMVC
PP. 96-104
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
38,5 × 29 cm
Coleção António Olaio
P. 105
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
P. 107
Julio, Sem título, 1938
Tinta-da-china sobre papel
46 × 34 cm
Coleção CMVC
PP. 108-114
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
46 × 34 cm
Coleção António Olaio
P. 115
António Olaio, Sem título, 2024
Tinta-da-china sobre papel
42 × 42 cm
Coleção António Olaio
PP. 116-117
Vista da exposição com desenho emoldurado de Julio e desenhos de António Olaio
PP. 118-121
Vista da exposição com desenhos de António Olaio
Depois de Julio
A presente exposição continua a série que entendemos designar de Diálogos, que vêm sendo estabelecidos entre a obra de Julio e a de alguns artistas contemporâneos relevantes e que pretendemos continuar a realizar no Centro Julio / Saúl Dias, tendo contado, neste caso, com António Olaio, artista que emergiu na década de 80 do século XX.
Olaio é, decerto, um dos artistas mais significativos surgidos na década de oitenta do século XX, já que a sua obra, desde o seu início, se dispersou por vários modos de expressão, alguns dos quais então ainda pouco divulgados no meio português: a pintura e o desenho, mas também a performance (em que foi verdadeiramente um pioneiro) e mesmo a música experimental, além do vídeo. Essa obra vasta foi, tardiamente como é de uso no País, objecto de uma larga e fundamental retrospectiva, que teve lugar nas salas da Culturgest (Lisboa) há mais de uma década, permitindo ver os seus vários aspectos, e tem vindo a ser reconhecida, quase unanimemente pela crítica mais destacada, como uma das mais originais entre as diversas propostas da arte portuguesa contemporânea.
Neste novo Diálogo, o artista optou por escolher um conjunto de obras de Julio — sobretudo desenhos com a temática da paisagem e da figura humana que o vila-condense explorou toda a vida, para, a partir delas, estabelecer um leque de conexões, ou poderíamos dizer de variações, que reencenam os modelos plásticos de Julio libertando-os para uma nova actualidade, e sabemos bem como muita da melhor arte contemporânea passa por uma capacidade de re-actualizar.
Reinterpretando-os, Olaio inscreveu, nessa relação, um gesto que pertence à ordem do performativo, uma vez que, tal como numa representação musical ou teatral, aquilo de que se trata, nos desenhos aqui apresentados, é de um recolocar em acto. O que comporta, neste caso, não apenas abrir para uma nova forma de acção e mesmo de transformação, como também de actualizar, ou seja, de transportar de um tempo para outro e de um espaço para outro. Esta des-locação assinala, no seu movimento sempre contíguo ao da obra de Julio, a compreensão que um Artista pode chegar a fazer da obra de outro, sem jamais a copiar ou ilustrar, mas simples-
mente tomando-a como ponto de partida para a inscrever de uma nova consciência e, porventura, de uma nova potência.
Junto aos desenhos de Olaio, os de Julio parecem reabrir-se e evidenciar novas possibilidades quer plásticas quer expressivas. Assim como abrindo os desenhos de Julio para sucessivas variações, António Olaio evidencia a própria potência performativa do artista vila-condense, uma vez que os inscreve de um sentido de movimento (e mesmo de velocidade) que como que os transfigura e os transporta para novos campos semânticos, expressivos e visuais ao permitir revê-los à luz de uma nova rima que vem evidenciar processos poéticos que pareciam escondidos antes.
Esta «apropriação» inteligente e original permite, assim, que se elabore um novo olhar sobre a obra do primeiro e que se proporcione a partir da relação criada um diálogo multiplicador que serve para transfigurar essa obra e para a transportar até ao campo do que designamos de Contemporâneo.
© Câmara Municipal de Vila do Conde Praça Vasco da Gama, 4480-337 Vila do Conde
© Sistema Solar, Crl (chancela Documenta) Rua Passos Manuel 67 B, 1150-258 Lisboa
imagens © António Olaio, Emília Cela textos © os Autores
1.ª edição: novembro de 2024
ISBN: 978-989-568-186-0
Fotografias: Sara Claro, Marta Fonseca Design gráfico: Manuel Rosa
Depósito legal: 538875/24
Pré-impressão, impressão e acabamento: Gráfica Maiadouro SA Rua Padre Luís Campos, 586 e 686 (Vermoim), 4471-909 Maia