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JÉSUSLACAILLE
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tradução e apresentação
Aníbal Fernandes
TÍTULO ORIGINAL: JÉSUS-LA-CAILLE
© SISTEMA SOLAR, CRL RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES, 2023
CAPA: GUILHERME GERALDES REVISÃO: DIOGO FERREIRA
1.ª EDIÇÃO, OUTUBRO DE 2023
ISBN 978-989-568-071-9
DEPÓSITO LEGAL: 521814/23
IMPRESSO NA ULZAMA
Em 1914, o ano em que foi publicado pela primeira vez Jésus-la-Caille, Francis Carco só tinha como antecedentes literários uns quantos versos a que o autor chamava canções agri-doces e podiam ser lidos em edições pobres, com reduzida circulação nas livrarias. Viviam-se dias de guerra, mas com uma presença editorial marcada por alguns sobressaltos. Poucos meses antes, os leitores franceses tinham sido surpreendidos com os versos de Alcools de Apollinaire e os de La Prose du Transsibérien de Blaise Cendrars; Barrès publicava o seu melhor livro, La Colline inspirée, e Martin du Gard provocava amenamente os católicos com Jean Barois; Proust dava a conhecer uma primeira amostra do seu enorme romance, e chamava-lhe Du Côté de chez Swann; Alain-Fournier, a poucos meses da bala alemã que o ia matar, mostrava-se com todas as seduções do seu Le Grand Meaulnes; Gide supunha-se impertinente com Les Caves du Vatican e Raymond Roussel fora de todas as regras com Locus Solus; o Jean-Christophe de Romain Rolland recebia o Grande Prémio da Academia Francesa.
No meio desta efervescente convivência criativa Jésus-la-Caille, a primeira obra em prosa de Francis Carco (que viria a ter a sua versão definitiva em 1917), levantava hesitações conservadoras aos editores de Paris. Era a primeira vez que a homossexualidade masculina da prostituição de engate surgia com tanta audácia num romance da literatura francesa. Ainda por cima, com um título que se atrevia a dar o nome de Jésus a um gigolô e a acrescentar-lhe na alcunha um La Caille,
que embora significasse na linguagem vulgar uma inocente codorniz, tinha no calão da época o sentido de «a trampa». O som destas palavras, que num inevitável desvio de significação poderia sugerir Jesus a Trampa, era um mau gosto que roçava o sacrilégio. (Registe-se que muitos anos depois, em 1955, o banal filme de André Pergament baseado neste romance — com um dos primeiros papéis no cinema de Jeanne Moreau — achou que devia adoçar o seu título para um bem comportado M’sieur La Caille).
Existia, porém, na edição francesa da época uma Mercure de France onde imperava a desenvoltura de Rachilde; que tinha, ela própria, escrito e publicado Monsieur Vénus em 1884 e Les Hors nature em 1897. Por que não, no catálogo da editora do seu marido, este gigolô chamado Jésus-la-Caille, que lhe surgia num manuscrito lido de um fôlego numa só noite? Carco, ajudado pela corajosa abertura da Mercure de France, teve um apreciável êxito de vendas (e se houve a frieza dos livreiros, que o evitavam no destaque das suas montras, também houve a preciosa ajuda publicitária da Assembleia Nacional, onde foi discutida uma proposta, que não vingou, de se intimar a editora a retirar do título a palavra Jésus). A crítica literária da imprensa, essa, colaborou com um silêncio quase generalizado; uma ou duas vozes se fizeram ouvir, mas para falar da pretendida influência que lhe chegava de um romance de 1905, Le Tigre et Coquelicot de Charles-Henry Hirsch, com um ambiente e um calão que muitas vezes emparceiravam com os de Jésus-la-Caille.
Francis Carco fazia assim um controverso aparecimento na prosa de romance; tinha nascido vinte e oito anos antes na Noumeia, uma ilha francófona do Pacífico pertencente à Nova Caledónia, mas onze anos depois já vivia em Nice, na casa dos seus avós maternos, e aos dezassete era um discreto rapaz de versos na revista Le Narrateur assinados por um Franco Crac, pseudónimo que procurava iludir as
cóleras do seu pai, avesso a poetas e poesias, vistos por si com forte «suspeição de imoralidade». Mas Monsieur Jean-Dominique Carcopino-Tusoli, honrado corso conservador de hipotecas, não se deixou iludir; descobriu que esse Crac era um disfarce de Carco (redução de Carcopino), e proibiu ao seu filho toda e qualquer veleidade de mergulhar nas letras, um meio que só contribuiria para o alimentar na sua vocação de excêntrico e até seria nocivo à reputação paterna. De nada lhe valeu. Em 1906 o jovem Carco conheceu Jean Lorrain e fundou com ele e mais uns quantos La Revue Jeune, páginas efémeras que foram continuadas com as de Nain Jaune, com uma igual vida curta. E quando Monsieur Carcopino-Tusoli foi no ano seguinte transferido para Rodez, este filho «fora dos eixos» resolveu revoltar-se contra o provincianismo local dançando com escândalo público maxixes (a dança que nessa época provocava a decência burguesa) no café que o seu sorumbático pai frequentava. Destaquemos a este propósito uma frase do seu futuro livro Bohème d’artiste (1940): Se o meu pai não se mostrasse avesso a esta carreira de artista, por si tão detestada, é provável que eu tivesse em mais de uma ocasião vontade de a abandonar. No entanto, por espírito de contradição muitas vezes me obstinei a lutar contra provações de toda a espécie, das quais uma parte, a mim como a outros, calhou.
Em 1910, a viver em Paris e com trabalhos acidentais mal pagos que o obrigavam a uma difícil aventura de subsistência, é resgatado por uma visita inesperada de Monsieur Carcopino. É levado sob a asa paterna para Nice, mas dois meses mais tarde estaria de novo em Paris, onde se viu obrigado a ser «negro» em romances populares de Willy (L’Implacable Syska e Les Amis de Syska).
Em 1913 serviu de guia turístico a John Middleton Murry e Katherine Mansfield numa visita que eles fizeram a Paris, e Katherine apaixonou-se por aquele rapaz tão exterior no seu comportamento à
enfática correcção inglesa. Desligou-se sem grande dificuldade de Murry e regressou a Paris. Mas a guerra de 1914 mantinha o «seu» Carco mobilizado, perto de Besançon e numa padaria do exército a fazer uma guerra de pão para soldados, que não só o defendia das balas mas permitia escrever — levado pela onda de popularidade que o gigolô La Caille lhe tinha oferecido — o seu segundo romance Les Innocents. Nos dias deste inoportuno afastamento, Katherine Mansfield enviou-lhe cartas onde a sua apaixonada admiração pelo jovem francês era acompanhada por singulares descrições (feitas à Mansfield) do Paris que ela percorria sozinha e fortemente tocada pela sensação de ser nas suas ruas uma estrangeira — descrições que ele vai aproveitar (confissão sua), passando-as para francês e fazendo-as participar com autoria não denunciada nas páginas que iam nascendo e se destinavam a Les Innocents. Ela, pelo seu lado, acrescentou à sua obra literária o conto «Je ne parle pas français», onde um rebelde rapaz chamado Raoul Duquette é, sem dúvida, o «seu» Carco. Esta Katherine desamparada em Paris chegou ao ponto de se aproximar bastante mais da guerra e instalar-se num albergue-hotel de Gray, perto da padaria militar do seu querido soldado. Mas nem tudo foi tão fácil como lhe tinha chegado a parecer; aquela relação revelou-se ambígua e reticente, sem entrega explícita, e pouco depois devolveu-a a Londres. Carco, que só voltaria a vê-la nove anos mais tarde, com ela prestes a morrer tuberculosa no sanatório de Avon, fez deste momento o ponto forte da sua novela «Winnie», publicada em 1931 nos cento e quarenta e dois exemplares de Quelques-unes, uma edição de luxo com gravuras de Louis Legrand.
Com a paz de 1918 consolidada, com as editoras de Paris restituídas à sua normalidade, Carco pôde mostrar-se perito numa desenvoltura de livro atrás de livro e transformar-se no autor de muitas prosas a quem foi dado o epíteto, que não disfarça alguma hostilidade, de
«escritor prolixo». Romances, memórias, contos e ensaios foram construindo uma obra vasta, onde um grande número de ficções se espalha por uma verdade de sombras nocturnas e recantos que ele conheceu e frequentou de perto nos mais secretos bairros de Paris. Francis Carco fez-se escritor de uma marginalidade culta; um romancista que aceitamos como guia num passeio especializado à vida escondida dos bares, dos bordéis, das casas de ópio, dos lugares de encontros com homossexuais. Mas nada disto impediu que a Academia Francesa em 1922 o escolhesse para o seu grande prémio e conferisse destacada evidência a L’Homme traqué — um desvio ao mais previsível na sua selecção de autores premiáveis, e que fez Jean de Pierrefeu escrever em Le Journal des débats: «A Academia Francesa, que tão obstinadamente repeliu Émile Zola, culpado de denegrir a pessoa humana, hoje coroa o historiógrafo dos proxenetas e das mulheres da vida, o romancista dos esquisitos vícios que pareceria votado por essência ao Inferno das bibliotecas e ao Index das instituições. Que resolução isto prenuncia? Não terá chegado a altura de a sociedade tremer sobre as suas bases? Não se leve muito a sério este meu preâmbulo. Porque o talento de Francis Carco nos chega, só ele, para não censurarmos aqui a Academia que dá provas na sua longa vida, e pela primeira vez, de independência literária.»
Em 1940, os prenúncios da ocupação do território francês pela Alemanha de Hitler provocaram o grande êxodo que escolhia sobretudo a América, mais defendida da ambição nazi. Com esta fuga, a actividade literária do país reduziu-se a uma débil expressão; e Carco, que se manteve na França, viu os seus direitos de autor bloqueados. Este desaire fê-lo escolher uma vida economicamente menos áspera; e àquela que teve em Rodez, melancólica e com muito tédio, sucederam-se outras em Lião e Nice. Mas a sua imparável criação literária ia-se acumulando dentro de gavetas e não encontrava editores. Carco lembrou-se então de que tinha uma boa voz; de que podia ganhar algum dinheiro
como cantor de cabarés. E assim foi que este escritor com cerca de noventa livros já publicados, premiado pela Academia Francesa, entreteve noites de duvidosa animação nos cabarés da França de Vichy — a que era complacente e se sujeitava, com uma independência fingida, às más realidades do invasor germânico.
Mas Francis Carco, nesta época de muitos cantos e poucos livros, começou a perceber que a neutral Suíça conviria mais ao seu momento de escritor não editado. Como é que ia arranjar um passaporte, tão difícil nesses dias de extorquir aos desconfiados helvéticos? Em 1942 viu o seu desejo realizado; apanhou-se em Genebra, ajudado pelos bons ofícios de um proxeneta corso, conhecimento que lhe sobrava dos seus dias de ficcionista especializado em lateralidades nocturnas. E embora não tivesse encontrado na Suíça uma pujança editorial compatível com as suas possibilidades criativas, durante os três anos que viveu distante da França heil-hitlerizada ela editou-lhe Nostalgie de Paris; Maurice Barraud, um peintre chez soi; Surprenant procès d’un bourreau; L’Ami des peintres; Les Belles manières e sobretudo La Danse des morts comme l’a décrite François Villon, sugerido pela representação das danças macabras que o deixaram seduzido quando as viu no tecto da ponte coberta de Lucerna.
Em 1945 Francis Carco, a sua mulher e o cão Okay — um adorado caniche bleu-ravissant — puderam regressar com alegria ao Paris «sem boches», ao Paris desnazificado. Carco era agora um escritor com cinquenta e nove anos de idade, já não o romancista de apaches e do submundo da prostituição, e só capaz de pálidos êxitos que não repetiam os que ele tinha conhecido nos fulgurantes anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. Mas foi-lhe posta ainda assim ao peito a fita da Legião de Honra; recebeu ainda assim o Grande Prémio de Poesia da Cidade de Paris; e fez uma série de entrevistas radiofónicas — as que seriam publicadas posteriormente em livro com o título Francis Carco
vous parle e tentavam mostrá-lo, aos que muito mais se entusiasmavam nesses dias com a louça partida de uma nouvelle-vague nas artes, a marcar uma França literária que tinha desaparecido e fora substituída por outra de pós-guerra, a que preferia o Sartre existencialista, escritor sem grande talento mas que se incomodava no momento certo com os transtornos psicológicos de uma grande náusea perante os valores decadentes da vida burguesa.
Carco morreu às vinte horas de uma segunda-feira, a do 26 de Maio de 1958. Tinha a sua cama rodeada por amigos, entre eles o maior e mais fiel, o escritor Pierre Mac Orlan. Aragon, esse, rendeu-lhe de mais longe a homenagem do poema «Carco», dez estrofes que começam e terminam com a mesma quadra:
Diz-me lá o que fizeste aos dias que partiram, os da tua juventude e daquilo que tu foste, às tuas mãos cheias de poemas que tremiam ao fim da noite.
Para imaginar este romance, Francis Carco recorreu a uma realidade que ele próprio conheceu de perto na época em que frequentou os mais duvidosos bares de Montmartre. Disse-o num texto a que chamou «O Verdadeiro Rosto de Jésus-La-Caille»:
O ambiente de Montmartre em que vivi antes da guerra inspirou-me Jésus-la-Caille. Nessa altura já não era habitual usarem-se as palavras «tatas» e «gâcheuses». Esses jovens chamavam «mon Jésus!» aos seus camaradas; e os donos dos bailes musette, apesar de serem discretos penduravam cartazes que em letras grandes diziam: «Pede-se que os senhores não dancem uns com os outros.» Eu frequentava, como é de prever, estes bailes; e nos bares da praça Blanche e da praça Pigalle é que eu encontrava depois da meia-noite estes efebos. Foi uma amante transitória, que se vestia à homem, quem me ensinou a não ficar surpreendido com nada; quem me apresentou um jovem louro que tinha a alcunha «La Caille»; era na realidade Lucien B… mas chamavam-lhe la Lucienne. Uma noite ouvi-o exprimir-se com muito nojo a respeito de um velho que lhe tinha feito propostas, e isso fez-me simpatizar com ele.
— Daquela idade? — perguntava indignado. — Palavra! Dar-se-á o caso… de já não terem mulheres?
La Lucienne tinha dezanove anos. Estava louca para subir aos palcos; mas um ensaio feito na rua Fontaine, dos que correspondem aos que hoje popularmente se chamam crochet, arruinou-lhe
Francis Carcoas ilusões. Pobre Lucienne! Cantava desafinado. Encontrei-a na companhia da gagneuse de um corso, no aperitivo do baile do Moulin-Rouge, um casal que depois frequentava até às oito ou nove horas a grande sala do Cyrano…
… Senti nessa noite que já tinha no fundo de mim próprio o Jésus-la-Caille a palpitar.
Três anos depois conheci Katherine Mansfield; e num conto onde ela me pintou com traços de jovem romancista, atribuiu-me isto:
— Hei-de ser conhecido como escritor dos sub-mundos mas não da forma como outros, antes de mim, o fizeram. Oh! Não… Com muita ingenuidade e um humor do género meigo e vislumbrado do seu interior, como se fosse uma coisa muito simples… muito natural.
Mas será assim tão simples? Não serei eu a dizê-lo. Embora eu nada negue nesta confissão: «O Jésus-la-Caille sou eu.»
«Madame Bovary sou eu», diz-se (mentirosamente) que Flaubert o afirmou para fazer-nos sentir que as mais conseguidas personagens de um autor são forma esquiva de uma verdade humana que lhe pertence. Francis Carco, na sua mais visível expressão um heterossexual, era com maior segredo bissexual (confirmou-o, por exemplo, Jean Genet); e achou, ao parafrasear uma suposta frase de Flaubert, que a sua ligação profunda a Jésus-la-Caille ficaria mais compreendida com ele próprio a revelar-se por baixo dessa impetuosa sobreposição. Carco nunca foi um gigolô de engate embora tenha percebido, podemos com esta ajuda dar por certo, que se agitavam em si as hesitações de um ambivalente amor, as que se mostram com tortuoso caminho nas páginas do seu romance. No seu Contes du milieu, de 1933, informa-nos que as personagens de Jésus-La-Caille tiveram na vida real uma presença que passou
com poucos disfarces para o seu romance; que uma noite, anos depois de ter publicado Jésus-la-Caille, encontrou num bar um homem corpulento que veio cumprimentá-lo com um gesto da mão até ao boné.
— Desculpe… O senhor não é, por acaso, Monsieur Francis?
Estava a ser cumprimentado por La Puce. Era naquela altura um homem casado, e mecânico. Ficou também a saber que Bambou, saído da prisão em 1915, esteve a combater na Primeira Grande Guerra e não saiu dela vivo; que La Caille (com um verdadeiro nome que era Lucien Blache) continuava a morar em Montmartre.
Como pediu a La Puce que o pusesse em contacto com Monsieur Blache, dirigiram-se ambos com este objectivo ao Tabac des Abbesses. Monsieur Blache estava lá sentado, com uma camisa cor-de-rosa, gravata escura e um fato azul às riscas, «muito na moda nesse início dos anos trinta». Segundo Carco, Monsieur Blache tinha trinta e quatro anos e muito bem conservado o encanto físico do gigolô Jésus. Tinha-se feito massagista de um balneário.
O Corso? Depois do assassínio de La Vache, tinha arranjado um lugar em Nogent, como «respeitável» dono de uma tasca. Fernande, exactamente como no final do romance, tinha-se deixado acusar por um crime que não tinha cometido; protegia assim «o seu homem» (o homem que lhe batia, que vivia à custa da sua prostituição mas era «seu», a quem ela prestava honras cumprindo à risca o papel da mulher-objecto que precisa de mãos fortes masculinas para se sentir realizada e protegida na sua vida pública). O seu sacrifício por um Corso que não teve a hombridade de se denunciar para lhe poupar a pena de prisão, valeu-lhe quinze anos de pena cumprida na Centrale de Rennes, onde se fez costureira. Naquele momento vivia perto da Estação do Leste, na casa de uma sua irmã, e tinha-se especializado na confecção de camisas para homem. No seu encontro com Fernande, Carco ficou a saber que ela tinha ido ter com o Corso, quando saiu da prisão,
pensando que ele iria ajudá-la. Mas ele só lhe quis dar vinte francos, que ela recusou.
Em Contes du milieu também esclarece: «Quanto mais eu pensava, mais inútil me parecia pedir-lhes que fossem outra coisa nessa noite, além de fantasmas reunidos pelo acaso à volta de uma mesa redonda, nesse bairro de Paris onde eu os tinha conhecido. Desse tempo só restava a La Caille a camisa cor-de-rosa e agudos risos de rapariga; a La Puce uma obscura e penosa necessidade de parecer honesto; a Fernande o asco que o Corso lhe merecia. Como é que tinham conseguido expulsar-se até àquele ponto de si próprios? Era inexprimível. E, no entanto, só eu tinha vivido por eles a sua triste história. […] Não é a paixão que aproxima certos seres; ela gasta-os para prolongá-los melhor no nada.»
Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg
Histórias aquáticas — O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad
O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono
O dicionário do diabo, Ambrose Bierce
A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco
O caso Kurílov, Irène Némirowsky
A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson
Nova Safo — tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura
Gaspar da Noite — fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand
Rimbaud-Verlaine, o estranho casal
O rato da América, Jacques Lanzmann
As amantes de Dom João V, Alberto Pimentel
Os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, Leopoldo Lugones
Preceptores – Gabrielle de Bergerac seguido de O discípulo, Henry James
O Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo
sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest Renan
Derborence, Charles Ferdinand Ramuz
O farol de amor, Rachilde
Diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière
A minha vida, Isadora Duncan
Rakhil, Isabelle Eberhardt
Fuga sem fim, Joseph Roth
O castelo do homem ancorado, Joris-Karl Huysmans
Tufão, Joseph Conrad
Heliogábalo ou o anarquista coroado, Antonin Artaud
Van Gogh o suicidado da sociedade, Antonin Artaud
Eu, Antonin Artaud
A morte difícil, René Crevel
A lenda do santo bebedor seguido de O Leviatã, Joseph Roth
O Chancellor (Diário do passageiro J.R. Kazallon), Jules Verne
Orunoko ou o escravo real (uma história verídica), Aphra Behn
As Portas do Paraíso, Jerzy Andrzejewski
Tirano Banderas (novela de Terra Quente), Ramón del Valle-Inclán
Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, Malcolm Lowry
Balkis (A Lenda num Café), Gérard de Nerval
Diálogos das carmelitas, Georges Bernanos
O estranho animal do Vaccarès, Joseph d’Arbaud
Riso vermelho — fragmentos encontrados de um manuscrito, Leonid Andreiev
A morte da terra, J.-H. Rosny Aîné
Nossa Senhora dos Ratos, Rachilde
O colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, Miguel de Cervantes
Entre a espada e a parede, Tristan Bernard
A vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van Dongen
Os meus Oscar Wilde, André Gide
As aventuras de uma negrinha à procura de Deus, George Bernard Shaw
Meu irmão feminino — «Noites Florentinas», Marina Tsvietaieva
Jean-Luc perseguido, Charles Ferdinand Ramuz
O filho de duas mães, Edith Wharton
A armadilha, Emmanuel Bove
Um jardim na margem do Orontes, Maurice Barrès
Erotika Biblion, Conde de Mirabeau
A minha amiga Nane, Paul-Jean Toulet
Paludes, André Gide
O bar dos dois caminhos, Gilbert de Voisins
Sol, D.H. Lawrence
Cagliostro, Vicente Huidobro
As magias do Ceilão, Francis de Croisset
Má sorte que ela fosse puta, John Ford
Chita — uma memória da Ilha do Fim, Lafcadio Hearn
A mulher 100 cabeças, Max Ernst
A dificuldade de ser, Jean Cocteau
O duplo Rimbaud (com um preâmbulo de Benjamin Fondane), Victor Segalen
A vida apaixonada da grande Catarina, Princesa Lucien Murat
Casa de incesto, Anaïs Nin
Morte de Judas seguido de O ponto de vista de Pôncio Pilatos, Paul Claudel
Os domingos de Jean Dézert seguido de contos, Jean de la Ville de Mirmont
Ser ou não ser – Três histórias, Honoré de Balzac
Babilónia, René Crevel
O encontro (uma história incerta), Henri de Régnier
Carmilla, Sheridan Le Fanu
Mulheres na vida, Guy de Maupassant
O plantador de Malata, Joseph Conrad
A mandrágora, Jean Lorrain
A biografia de Vénus, deusa do amor, Francis de Miomandre
Viagem ao país dos Tarahumaras, Antonin Artaud
O nevoeiro de 26 de Outubro e outras lições de abismo, Maurice Renard
Salomé, Salomés…, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, Guillaume Apollinaire e ainda Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Castro, Fernando Pessoa
Battling Malone, Pugilista, Louis Hémon
Kyra Kyralina, Panait Istrati
Codine, Panait Istrati