Louvor e Simplificação de Mário Cesariny / José Manuel dos Santos

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louvor e simplificação de mário cesariny

Mário Cesariny na Feira Popular de Lisboa, c. 1940.

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José Manuel dos Santos

fotografias

Duarte Belo

Eduardo Tomé

Luís Pavão

Nuno Félix da Costa

Mário Cesariny, começo dos anos 1940. Fotografia do espólio de Carlos Eurico da Costa (FCM).

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Índice

Na vida e na morte de Mário Cesariny ........................................

O espelho vazio ..........................................................................

De uma carta de Mário Cesariny para Maria José de Lancastre e Antonio Tabucchi ..........................................................

De uma carta de Mário Cesariny para Alberto de Lacerda ............

A ausência tão presente ..............................................................

Cesariny e a música ....................................................................

Baile na livraria ....................................................................

Carta de Mário Cesariny para Vieira da Silva ..............................

Frente a frente ............................................................................

Fotografias de Mário Cesariny por Eduardo Tomé ......................

A vida e a obra estão uma para a outra como se fossem a mesma ....

O relâmpago ..............................................................................

Um riso alto e firme como uma lança ..........................................

Os 3 Mários ................................................................................

Carta de Mário Cesariny para Alberto de Lacerda ......................

Pela santa liberdade ....................................................................

Onde a luz encontra a sua sombra ..............................................

Em casas como aquela ................................................................

«Cesariny — Em Casas Como Aquela», fotografias de Duarte Belo

Um Centenário tão antigo como o futuro ..................................

Qualquer coisa assim como um tempo sem fim ..........................

Visto a esta luz ............................................................................

Excertos de Epopeia de Guilgamesh, versões de Mário Cesariny 

O encontro ................................................................................

Biografia de Mário Cesariny, por António Soares ......................

Mário Cesariny, Torre Saint-Jacques, Paris, 2000.

Na vida e na morte de Mário Cesariny

É com a morte dos amigos que aprendemos a morrer, porque a morte deles é também — é já — a nossa morte. Morreu Mário Cesariny e aquele de mim que o olhava nos olhos iluminados morre na sua morte. Enorme e longa e intensa foi a nossa amizade. Durou mais de trinta anos, cada dia confirmada, tornada nova. Nunca tive dúvidas: ele foi uma das pessoas que mais livre me tornou. O que dizia, fosse sobre o que fosse, tinha uma originalidade e uma audácia, que não conheci em mais ninguém. Nunca lhe ouvi um lugar comum. Aprendi com ele a ver com outro ver, a sentir com outro sentir, a pensar com outro pensar. Aprendi que vale a pena trocar tudo por nada se o nada for o nosso tudo desse dia. Aprendi a «amar como a estrada começa».

Agora, lembro. Lembro os cafés onde, durante anos, nos encontrámos todas as noites. Ali estávamos até de madrugada, vivendo a verdadeira vida que está sempre fora de onde é suposto estar. Lembro os passeios pelas ruas, as histórias contadas, as confidências trocadas. Havia coisas de mim que só ele sabia e coisas dele que só eu sabia. Lembro as férias que passámos nos Açores, num Verão de todas as exaltações, com ele maravilhado perante aquele outro mundo, como se tivesse recuperado um antigo e já esquecido fervor. Lembro os serões no atelier da Calçada do Monte e nas casas de Palhavã e da Costa da Caparica. Lembro uma conversa com Jorge Luis Borges sobre espelhos, palavras mágicas e S. Paulo. Lembro a sua prodigiosa inteligência verbal, a fulgurante imaginação poética, a memória imemorial, o seu dizer perfeito, exacto e original, que dava e tirava sentido. Lembro a ácida lucidez, a graça devastadora, as iras e zangas, as idolatrias e desprezos, a sua gravidade frente ao mistério da vida e da morte. Lembro as delicadezas da amizade.

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A sua obra poética, que tem uma força indomável, é como um grande mar onde o brilho branco da espuma submerge o ouro mais puro do tesouro deixado intacto, no fundo, pelo naufrágio de um majestoso barco de piratas, cujo fantasma é esse eterno navio de espelhos de que ele fala num dos mais belos poemas da língua portuguesa. E a sua obra de pintor, tão injustamente subavaliada durante anos, tem a transparência incerta dos grandes mitos que atravessam o tempo.

Mário Cesariny viveu à altura da sua obra e criou a sua obra à altura da sua vida. Surrealista vital, fez do amor, da liberdade e do conhecimento o horizonte da sua navegação. A sua vida é um testemunho de liberdade sem margens. Nós, seus amigos, admiradores e leitores é que tínhamos a ilusão de que elas existiam, para nos sentirmos seguros junto dele. Mas Cesariny, com Rimbaud, tinha advertido que ninguém pode nada contra quem partiu. E ele era aquele que partiu. Sei tudo isto, mas sei também que a sua presença vai permanecer em mim até ao último dia da minha vida. A sua morte é também um pouco a minha morte, porque a sua vida foi também um pouco a minha vida.

26 de Novembro de 2006

O espelho vazio

Dos lugares que os homens criaram para se abrigar, o café é o que mais rua tem. Por isso, Mário Cesariny gostava tanto de cafés. Aí, sentia-se onde a poesia estava, onde «sempre esteve». Aí, lembrando Lautréamont, podia fazê-la em comum. Foi em cafés que escreveu os poemas. Foi em cafés que conversou com os amigos e até com os inimigos. Foi em cafés que fitou os corpos com um olhar que os tornava mais visíveis. Era nos cafés, e no que eles tinham de rua, que se sentia verdadeiramente em casa. Cafés cheios de fumo e de fadiga e de fuga e de fúria. Cafés onde se estava porque não havia sítio melhor para estar. Cafés que resumiam o seu entendimento da vida: café-manicómio, café-convés, café-asilo, café-escritório, café-quase-salão e, pois claro!, café-de-engate. Viciado em cafés, nunca o vi aí tomar um café. Pedia uma água mineral e, muitas vezes, usava-a para lavar as mãos, porque desconfiava que, depois de bebida, a garrafa era enchida pelo dono da casa. Ria e, enquanto a vertia nos dedos em ablução ritual, olhava à volta para a «malandragem» que habitava as mesas e exclamava: «A água é a única coisa que não é de confiança neste café.» Nos tempos gloriosos do grupo surrealista, era nos cafés (Herminius, Royal, Gelo) que se incendiavam a eles próprios e era a partir dos cafés que queriam incendiar o mundo. Depois, toda a sua vida foi vivida, nocturnamente, em cafés, até que os cafés acabaram e ele começou a acabar como eles.

Passei, durante anos, todas as noites, milhares de horas com Mário Cesariny, nos cafés e nas ruas à sua volta. Esse tempo foi o mais lúcido e o mais bem aproveitado da minha vida. Estou a vê-lo chegar, alto, magro e direito, como um fidalgo que nunca perde o porte. Logo que entrava, punha-nos, com o que dizia, à altura do desconcerto do mundo. Se alguém josé manuel dos santos

Mário Cesariny «na sua casa em Londres» (Embaixada de Portugal), 1988. Fotografia de Nuno Félix da Costa.

estava a ler um jornal, perguntava: «Fala de nós?! Se não fala, deita fora.» E sentava-se, com o olhar aceso de inteligência, gravidade, assombro, malícia e imaginação, a qual, como escreveu, é o contrário da fantasia e, por isso, habita o real. A conversa começava e não mais parava, a não ser quando ele fazia um silêncio para nos dar a ver melhor, com uma mímica só dele (que, para mim, se tornou uma mnemónica), o que queria dizer. Fazia perguntas para fazer das nossas respostas o chão a partir do qual levantava voo até às alturas onde o ar era mais puro e rarefeito; ou para descer aos abismos onde o fogo queimava mais. Costumava dizer, cingindo o rosto com as mãos, que tinha ardido num incêndio e aquele era o resultado. Esse incêndio era o Portugal da polícia de costumes, da censura, da PIDE, do «respeitinho é que é bonito» e do «trabalho é que educa», onde viveu (não o esqueçamos nunca!) cinquenta anos da sua vida, uma parte deles perseguido por «suspeita de vagabundagem» (ele mostrava a perversidade do ataque, lembrando que, se a acusação fosse de «vagabundagem», era fácil provar a sua verdade ou falsidade, mas que uma «suspeita de vagabundagem» não tinha prova possível e assim podia ser eterna…), e que afrontou da maneira mais intensamente livre que se pode: fazendo do seu corpo um lugar «tenebroso e cantante», o sítio mais subversivo do universo. É por isso que a sua poesia nos ilumina e aquece e queima como a proximidade de um fogo alto e inextinguível.

Para a conversa tudo servia: o que acontecia e não devia acontecer e o que não acontecia e devia acontecer, Portugal (que, segundo ele, acabou na segunda dinastia, e de que desconfiava como se desconfia de alguém que já nos «fez várias») ou o estrangeiro (a sua viagem ao México, por exemplo), a política ou o amor, a poesia, que para ele era o contrário da literatura, ou a magia, a pintura ou a filosofia esotérica, os Aztecas, os óvnis, Sade, ou o amor entre Rimbaud e Verlaine. E os Pré-Rafaelitas, Swedenborg, Blake, Breton, Artaud, Genet, Paz. Ou os cancioneiros medievais, Gil Vicente, Bocage, Antero, Gomes Leal, Cesário, Sá-Carneiro, Pessoa, Raul Brandão, Pascoaes, Botto. E Giotto, Bosch, os Painéis de Nuno Gonçalves, Picasso, Miró, Dalí, Bacon, Vieira da Silva, Paula Rego. E também (ora essa!) o senhor Manuel da Hortaliça, o Grande, a Galga, a Doble-Quina, Titânia, o Reinaldo ou o gato (quem quiser saber mais leia

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Titânia, História Hermética em Três Religiões e Um Só Deus Verdadeiro com Vistas a Mais Luz como Goethe Queria: está lá tudo demonstrado). Dizia poemas de cor (sabia imensos e sabia-os dizer como ninguém), contava histórias do tempo em que «até os arrebentas tinham boca: queriam ser beijados», falava de sonhos e de pesadelos, de coincidências e de acasos objectivos. E as troças que fazíamos eram esplêndidas. De repente, nele e em nós com ele, era como se comparecessem, todos juntos, os narradores do Decameron, das Mil e Uma Noites e dos Contos de Cantuária, com as suas vozes ora roucas ora agudas, os olhos ora astutos ora inocentes, as mãos ora lentas ora ágeis. Quando a noite atingia o zénite, no meio do barulho do café, erguia-se a voz de Cesariny a declamar a Salve Rainha, dramatizando com gestos lúgubres o que ia dizendo. Ao chegar à passagem «A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas», bradava mesmo, com voz lutuosa e suplicante. Esta oração, que sabia toda de cor, era para ele como que uma «vera efígie» de um cristianismo enlouquecido, contra o qual tinha erguido a sua magnífica liberdade de corpo, de alma e de espírito. É verdade: Cesariny adorava ouvir histórias e adorava contá-las. Para começar, as da infância, quando ia de férias para casa da família, na Póvoa de Varzim. Havia um tio, homem «importante dos regimes», que não tinha aceite, para não deixar a terra nem a pacatez, um lugar no governo de Salazar. A mulher dele, espanhola efusiva e ambiciosa, insultava-o por isso, enquanto ele permanecia silencioso, a trabalhar no escritório. Toda a manhã, ela andava pela casa, atirando-lhe à cara um nome: estúpido! E, ao mesmo tempo, dizia baixinho, contentíssima, para o jovem Mário: «Niño, já viste o que é chamar estúpido a um homem desta posição!» Beata, esperta e má, quando regressava da missa, inspeccionava minuciosamente a limpeza da cozinha e apertava o pescoço das criadas, gritando: «Este tacho não tem o brilho que devia ter. Há aqui uma mancha. Isto é um pecado. Deus está nos pormenores.»

Outra história que o divertia e nos divertia era a do poeta-aristocrata do Tâmega, devotado imitador de Pascoaes, e roído por uma avareza ainda maior do que a sua fortuna. Recebia, ao serão, no grande solar e, todas as noites, a certa hora, aparecia, no salão, uma antiquíssima

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Mário Cesariny, The Photographers’ Gallery, Londres, 1988. Fotografia de Nuno Félix da Costa

e idêntica caixa de bolos. Era o dono da casa quem apresentava a lata, abrindo-a e fechando-a, instantaneamente, em frente de cada pessoa presente, sem que alguém se atrevesse a tirar sequer uma migalha, porque sabia que isso o poria rubro de raiva. Certa vez, um convidado desprevenido tentou tirar um bolo e foi imediatamente entalado pela tampa que o poeta, num gesto automático, fechou sobre a sua mão. O conviva deu um grito de dor e o avarento exclamou: «Nunca queres! Nunca queres!» Cesariny contava estas histórias e ria muito, muitíssimo. A sua ironia valia um ensaio literário. Ele gostava dos grandes poemas de Eugénio de Andrade («Green God», «Espera») e sabia-os de cor. Mas gostava menos de alguns, como dizer?, mais «preciosos». Assim, quando às vezes se despedia de nós, dizia, mordaz: «Boa noite. Eu vou com as aves», usando o verso de um desses poemas…

Durante anos, o Reimar, na Rua do Telhal, foi um templo de visita quotidiana obrigatória. Chegava-se lá e a «coisa» já estava montada. Quero eu dizer: havia sempre «coisa». Ao pé «daquilo», Fellini era Cecil B. DeMille. As empregadas, a Mena e a Mina, tinham as vozes sempre no tom e na altura em que a Maria Callas brilhava. Quando chegava a hora do tiroteio, faziam do balcão uma trincheira, deitavam-se no chão e esperneavam como se estivessem ligadas à corrente eléctrica. E, se calhar, estavam! O senhor Manuel da Hortaliça, ou do Bairro Alto, que antes tinha descido o Chiado entre a mulher, dedicada enfermeira dos Hospitais Civis, e o amante, aprumado marujo do Alfeite, ameaçava (ou estaria a oferecer conteúdos?) a tropa especial, agitando a pochette. E dizia para as «amigas»: «Vai com este, que é muito limpinho e não mexe em nada»: Nesse magnificente antro, havia de tudo: putas e homens «coisa e tal», chulos e travestis, artistas e ladrões, professores primários em crise de identidade e fadistas (com e sem voz), operários e vagabundos sem eira nem beira, filósofos ocultistas e jornalistas (proibidos, sob ameaça de morte, de falar do que ali se passava), funcionários públicos casados, mas com heterónimos sexuais, milionários em fuga para um Egipto qualquer, poetas e pintores, maiores e menores. E, se Cesariny era um enviado do fogo, havia também apolíneos e dionisíacos, enviados (alguns fardados) dos outros três elementos, terra, mar e ar, a que se juntavam, em temível contraste, anões, gigantes josé manuel dos santos

coxos, zarolhos, corcundas, gagos e mudos. «Tudo boa gente», dizia Cesariny. E acrescentava: «Comparado com isto, o que Ulisses viu na viagem de regresso a Ítaca era banal…» Por entre a ginjinha e as imperiais, de que a Mina e a Mena bebiam golinhos, antes de as entregarem aos clientes («é para ver se estão fresquinhas», diziam), falava-se de Nietzsche e do marujo da mesa ao lado. Ali, estávamos como se estivéssemos em plena Idade Média, o seu tempo histórico do Ocidente preferido («Com tanta treva e tanta peste, deviam querer aproveitar bem o tempo, divertindo-se muito», explicava).

Mário Cesariny gostava de anarquistas, videntes, usurpadores, blasfemos, xamãs, incendiários e revoltosos. E de reis destronados, deuses abolidos, bruxas ameaçadas, fidalgos arruinados, náufragos salvos no último minuto. Gostava de gostar e gostava que gostassem — até dele. Gostava de não gostar e não desgostava que alguns não gostassem dele. Nunca conheci ninguém que, ao mesmo tempo, tivesse em tão alto grau o sentimento trágico da vida e o sentimento cómico da vida. A sua palavra era grave e ameaçadora e alegre e ácida e inocente e ameaçada e leve e dura e genial, no juntar tudo isso na sua voz única, no seu olhar-clarão, na altivez com que se impunha aos medíocres de todas as vaidades, culturas, universidades, classes, terras, aptidões, idades e especialidades. Gostava de falar da «inteligência estúpida» e da «estupidez inteligente», contra o «discurso discursivo» e a «arte artística». Este Cavafis de uma Lisboa-Alexandria oculta no subsolo do salazarismo era uma águia real de voo altíssimo, que, nas ruas, falava com malucos, tresnoitados, mulheres do trapo (havia uma de quem dizia: «é igual à Vieira»), visionários, apocalípticos e seres de outros planetas que vinham tomar a bica à Avenida da Liberdade. Nessas falas com eles, tinha o dom de os tornar o que eram: poetas.

O seu atelier da Calçada do Monte, onde ouvíamos incessantemente os concertos para violino e orquestra de Beethoven e de Tchaikovsky, ficava num pátio com diferentes oficinas (de estofador, por exemplo) e também tinha muita rua. Raro era o dia em que não acontecesse qualquer coisa que dava uma história para contar: desde o que se passou no pátio, a seguir ao 25 de Abril, com motins, intentonas, escândalo sexual do senhorio, plenário de inquilinos na Voz do Operário e chapéu de palha comido por louvor e simplificação de mário cesariny

um ser humano, até ao vizinho que ele, uma tarde, descobriu, degolado e frio, atrás da porta, passando pelo estranho caso de um assaltante que lhe entrou no atelier, com as paredes cheias de quadros a que não atribuiu qualquer valor, e que não só não levou nada, como ainda esqueceu lá um guarda-chuva, deixado num canto, sem que Cesariny lhe quisesse tocar. Passado muito tempo, numa noite de súbita invernia, em que o único chapéu que havia era aquele, acabou por usá-lo e, debaixo dele, foi assaltado a caminho do Martim Moniz, aonde ia apanhar táxi… Os vizinhos pressentiam-no célebre (até porque Mário Soares ia ao atelier), chamavam-lhe «senhor Mário», mas tratavam-no como ele gostava de ser tratado: com a franca cortesia medieval praticada entre a gente das várias artes e ofícios… «Tudo isso vive em mim para uma história / de sentido ainda oculto / magnífica irreal / como uma povoação abandonada aos lobos / lapidar e seca / como uma linha férrea ultrajada pelo tempo», digo eu, agora, com versos dele. Houve uma época, já os cafés tinham acabado e ele estava muito em casa, em que andei ocupado e não o pude visitar com a assiduidade de que ele gostava e que era própria da nossa amizade. Uma tarde, o Al Berto tinha morrido e eu fui à Basílica da Estrela. Quando entrei na capela mortuária, plena de gente, Cesariny estava sentado junto do corpo do poeta morto. Ao ver-me, ergueu-se e gritou, no silêncio: «Vens visitar um morto e não me vais visitar a mim, que ainda estou vivo!» Quando o velei no Palácio das Galveias, lembrei-me destas palavras, mas, estranhamente, não senti que estivesse junto de um morto: vi apenas um espelho vazio. Mas a sua presença é tão forte em mim que nada, nem a morte, a consegue tocar. Por isso, tenho vivido estes dias da sua ausência como quem olha, de olhos muito abertos, o escuro, perscrutando-o e sabendo que Cesariny é como um desses astros mortos que continuam a iluminar a nossa noite.

8 de Dezembro de 2006

josé manuel dos santos

Mário Cesariny, Alfeite, Almada, 1991. Fotografia de Nuno Félix da Costa.

Viriato de Vasconcelos, o pai de Mário Cesariny, 1936. A mãe, Maria Mercedes Cesariny de Vasconcelos.

De uma carta de Mário Cesariny para Maria José de Lancastre e Antonio Tabucchi

(Setembro de 1971)

PAI: Viriato de Vasconcelos, filho de Viriato de Vasconcelos, engenheiro

electroquímico, natural da cidade do Porto; e de Maria da Encarnação Marques, beldade rural, natural de Tondela, onde deu à luz o meu pai Viriato. Pai Viriato, filho natural, legitimado, veio para Lisboa trabalhar como oficial de ourives — trabalho de certo modo ligado a uma das ocupações do meu avô paterno, que tratava quimicamente a limalha dos ourives do Porto — e como era rapaz esperto e bem parecido, em breve se estabeleceu por conta própria, com oficina de ourives e escritório e loja na rua da Palma, em Lisboa.

Conheceu minha mãe e com ela casou em Lisboa, em 1913 ou 14 (de qualquer modo escassos meses antes de deflagrar a primeira Guerra Mundial), sendo intenção do casal fixar-se em Paris onde minha mãe tinha família (uma tia Marguerite que foi primeira bailarina da ópera de Paris e se casou com um coronel Graziani, este vindo não sei donde, provavelmente corso, como o meu avô materno); desistiram, pois apenas haviam encetado a viagem, rebentou a supracitada guerra.

O casal teve 4 filhos: a minha irmã Henriette, nascida em 1915, depois a Carmen, depois a Luísa e no fim eu, em 1923.

MÃE: Maria Mercedes Cesariny de Vasconcelos, filha de Pierre Marie Rossi Cesariny, natural de Ajaccio, Córsega, e, de profissão, aventureiro, tendo viajado sempre e sempre parado um pouco: em Paris, onde conheceu ou frequentou Victor Hugo e os socialistas da época; em Madrid, onde foi amigo de Indalécio Prieto e de outros instauradores da República espanhola; no Porto, onde foi cônsul de França e professor do Instituto Superior Comercial; nas Arábias (guerra de Abdel-Knim, perdeu um dedo); e também na guerra de 14-18, na qual se alistou, em França, tendo chegado ao front no dia do

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Mário Cesariny com as irmãs, Henriette, Carmen e Luísa, 1942.

armistício (!) . Morreu num banco de um jardim, em Paris, onde estava em casa de sua irmã Marguerite, depois de ter conhecido vicissitudes terríveis na viagem em Espanha, então em guerra civil.

O y (i grego) no fim de Cesarini, deve ter sido invenção deste meu avô, que não gostava de descender de ninguém, pois a família dele parece que era a mesma dos de Itália, Rossi-Cesarini, em ramo fugido para a Córsega devido a acontecimentos mais ou menos históricos, que eu não conheço. Devo porém dizer-lhe que um primo meu, dado a estimas nobiliárquicas e outras, procedeu a averiguações, tendo sofrido um grave choque pois também parece possível que esta dos Rossi-Cesarini seja peta inventada pelo meu avô antes da sua invasão da Europa (ele tinha grande estima por Napoleão Bonaparte, seu conterrâneo). Etc.

Casou com Carmen Escalona, de uma velha família de Salamanca, com ancestres na descoberta da América, ver Cristóvão Colombo, e grande beleza citadina. Este avô, que passava em Espanha, viu a senhora à janela e no mesmo instante subiu a pedi-la em casamento. O qual se fez. Carmen Escalona morreu jovem, tendo deitado à luz a minha mãe, que se fixou em Espanha, a minha tia Henriette, que se fixou em Paris, a minha tia Pilar, que se fixava onde a punham, pois tinha uma perna artificial, de pau, fruto de uma queda pela escada abaixo, era muito feia coitada e nunca casou, vindo a morrer em Portugal, em minha casa, depois de quarenta anos de solidão numa aldeola do norte. Tivemos grandes incómodos com a PIDE pois a senhora continuava espanhola (estrangeira) e nunca teve consigo o mais ligeiro documento de identidade; e o meu tio Pablo, que aos sete anos desapareceu de casa e não mais foi visto senão aos vinte e um, por acaso, numa aldeola, em companhia teatral ambulante, da qual era director e galã. Foi mais tarde incorporado na companhia do teatro Maria Guerrero, em Madrid. Crê-se que ainda está vivo.

Morta minha avó materna, os filhos foram entregues aos cuidados da minha tia-avó Madalena, que mais tarde se fez freira, em Talavera de la Reina; meu avô continuaria a viajar.

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Já lhe contei como se conheceram meu pai e minha mãe. Do mesmo modo se conheceram minha tia Henriette e meu tio Caetano Vazquez Calaforte, que viveram longos anos na Póvoa de Varzim e aí morreram. A casa — a da Póvoa de Varzim dos tempos da minha infância! — é agora habitada por alguns dos meus primos e respectivas famílias. Os quais primos são sumamente excêntricos, como era de esperar.

EU: da «infância vagabunda», pode recordar o que lhe disse da Póvoa de Varzim, a excitação, todos os anos renovada, da partida para o «Norte» — um «Norte» que, nessa altura, era, para mim, incomensuravelmente longe, um «sítio» algures onde existia o paraíso, as «férias», o Sol e o mar, sempre antecedidos de um complicado cerimonial de partida, com a mãe a fazer malas e «fardos» de roupa para três meses, a gare do Rossio em Lisboa, os quatro irmãos aos saltos e às janelas, e a chegada ao Porto e, daí para a Póvoa, um minúsculo comboio de conto de fadas, ou o «americano», transporte colectivo que corria sobre rails puxado a quatro cavalos. Antes dos verões na Póvoa, tinha havido os da Cruz Quebrada, praia perto de Lisboa hoje caída em tudo, mas, à altura, ainda aristocrática. Lembro-me bem que aquela praia hoje asmática, banhada pelo Tejo, era para mim o Grande Oceano (quando, mais tarde, a revi, pasmei de poder avistar, do lado de lá do rio, a outra margem, bem nítida a qualquer olhar). […]

Acho que fui, até à altura em que abandonei todo o estudo outro para me dedicar ao da música (embora os meus pais julgassem que eu continuava a estudar na escola António Arroio, onde continuava inscrito para a admissão à escola de Belas-Artes, curso de Arquitectura), um aluno brilhante, tanto na Instrução Primária como no primeiro ano do liceu Gil Vicente, como, a seguir, na dita escola António Arroio. Por ser verdade, pode dizer que da dita escola António Arroio, e não decerto por acaso, mas por obra do director, o pintor Falcão Trigoso, que deixou a nossa adolescência em estado de liberdade, num momento em que se procedia à fascização do ensino — criava-se a louvor e simplificação de mário cesariny

Mário Cesariny com a prima Maria Helena (nota escrita à mão pelo poeta no verso da fotografia), começo dos anos 1940.
A mãe de Mário Cesariny em 1972, com 80 anos.

obrigatoriedade do serviço para-militar, a «Mocidade Portuguesa», de saudação fascista, etc. — e disso e de outras perniciosas coisas livrou a dita escola e os seus alunos, — surgiu a mais válida, e também a única, geração de pintores do final dos anos 40, princípio dos anos 50: o Fernando José Francisco, o Fernando de Azevedo, o Vespeira, o Cruzeiro Seixas, eu, o António Domingues, o Júlio Pomar, etc. Quando o director acabou por ser corrido, já nós éramos, como se diz, uns homenzinhos. De resto, foi também na António Arroio, ou em torno dela, que se congregaram também Pedro Oom, António Maria Lisboa, José Leonel Martins Domingues e quantos, pouco depois, se encontrariam no movimento surrealista, quer no grupo de 1947-49, quer no que a este sucederia. Julgo que os meus primeiros versos aceitáveis (para publicação) datam de 1942, e também de uma praia, a de Moledo do Minho. Anteriores a esses, alguns poemas, também publicáveis (e publicados) que escrevi durante uma «volta a Portugal» feita com meu pai, que dispensara os serviços de caixeiros-viajantes — fora sempre roubado por eles e um deles roubou tanto que foi parar à Penitenciária de Lisboa — e fazia ele próprio esse serviço. Numa dessas «voltas» levou-me consigo e aí conheci, ou era para conhecer, a província portuguesa, ou melhor: sempre a mesma e invariável loja de ourivesaria, o sempre mesmo balcão, e dono ou empregados afáveis no meio daquela coisa de anéis, pulseiras, colares, adereços… Eu desaparecia, «para ir fumar», coisa de que estava proibido pelo meu pai… Nessas andanças, Faro, Portalegre, Viana, Castelo Branco, Guarda, Lagos, etc., etc. … eu, creio que não via ou atendia a nada, nada daquilo me prestava para nada, não me interessava em nada, e ia escrevendo (há poemas desses no livro Nobilíssima Visão, mas noutros livros também).

Falei-lhes de Francis James, mas outro poeta que, esse, me influenciou mesmo foi Cesário Verde. Na praia onde vocês estão agora escrevi eu uma considerável série de poemas cesarioverdeanos, tão verdeanos que tiveram de ir para o caixote. O Sá-Carneiro e o Fernando Pessoa aconteceram-me

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parecidos ou rivais. Ou de quando foi preso no cinema em Paris e fez disso uma série de desenhos da prisão. Ou de quando os marinheiros apareciam fardados de branco-branco e desfilavam nas ruas como se estivessem numa parada naval.

Fala e a sua fala tem um motor com as rotações cronometradas e sincronizadas com as pancadas do coração no seu pulso. Anota e comenta o que ouviu um político dizer — e ri-se, deitando a cabeça para trás para deixar sair a gargalhada, do que diz sobre o que esse político disse. Fala do seu velho amigo Mário Soares e segreda que ele tem muito jeito para ser Presidente num país que não tem jeito nenhum para ser país. Fala e nós ouvimos, sem perder uma só sílaba ou um só silêncio ou um só suspiro.

Tem um sentimento trágico-cómico da vida. Adivinha o sarro triste que fica no vidro do copo depois do líquido viscoso bebido alegremente. Antecipa a fuligem que aparece no cano da arma depois do disparo. Fala de Portugal e diz-nos que não se percebe bem a longa e funda tragédia portuguesa se não tivermos lido a História da Universidade de Coimbra, de Teófilo Braga. («A Portugal, em que esta universidade se viu / Desde que sobre ela caiu D. João III / E, aos bocados, / As armas e os varões assinalados.»)

Fala de Antero e do seu suicídio-assassínio, pois só nele obteve a síntese da tese e da antítese. Diz, de cor e com uma voz soletrada e suspensa das sílabas, poemas, porque são muito bons, e diz outros poemas, porque são muito maus. São tão maus que quase são tão bons como os que são bons. E, na apoteose clara do riso ou na subida aguda da noite, diz os versos d’O Virgem Negra, nos quais é como se Cesariny e Bocage encontrassem Pessoa, num encontro em que a insolência do corpo afronta a insolvência do espírito:

É importante foder (ou não foder)?

É evidente que não, não é importante. Fode quem fode e não fode quem não quer. Com isso ninguém tem nada

Mas mesmo nada

A ver. louvor e simplificação de mário cesariny

O que um tanto me tolhe é não poder confiar

Numa coisa que estica e depois encolhe,

Uma coisa que é mole e se põe a endurar e

A dilatar a dilatar

Até não se poder nem deixar andar

Para depois se sumir

E dar vontade de rir e d’ir urinar.

Isso eu o quis dizer naquele verso louco que tenho ao pé:

«O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»

Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por mim até).

Também aquela do «outrora-agora» e do «ah poder ser tu sendo eu» foi um bom trabalho

Para continuar tudo co’a cara de caralho

Que todos já tinham e vão continuar a ter

Antes durante e depois de morrer.

Mário Cesariny afirmava muitas vezes que uma pessoa não é o poema que escreve, nem o quadro que pinta, nem a canção que canta. É muito mais do que isso e muito menos do que isso. É isso para os outros, mas não é isso para a voragem da sua vida, para o precipício da sua alma e para a febre do seu corpo.

Se um admirador lhe fazia ouvir as palavras com que dizia a sua admiração, exclamava: «Eles acham que sou um génio e repetem-repetem-repetem-repetem que gostam muito do que escrevo e do que pinto, mas depois deixam-me ir sozinho para casa…» E era assim que ia para casa: sozinho — isto é, acompanhado por todos os sóis e por todas as luas que dão um além ao nosso aquém e uma companhia à nossa solidão astral. Quando falava da morte, falava da vida e exclamava: «Isto é para chupar até ao fim!» E era como se tivesse um rebuçado a mover-se brandamente na boca deliciada e risonha. Porém, nos tempos insidiosos da doença e do fim, a sua presença imperativa no mundo começou a tornar-se fadiga, fuga e ausência. Um dia, com a dor numa perna tão aguda e josé manuel dos santos

agitada como um grito, protestou que queria morrer para não morrer sem morrer.

Disse André Breton, em 1924, e parece que estava a falar deste agora e deste aqui onde estamos: «Mas é verdade que não se pode ir tão longe, não é uma questão de distância apenas. Acumulam-se as ameaças, desiste-se, abandona-se uma parte da posição a conquistar. Esta imaginação que não admitia limites, agora só se lhe permite actuar segundo as leis de uma utilidade arbitrária; ela é incapaz de assumir por muito tempo esse papel inferior, e quando chega ao vigésimo ano prefere, em geral, abandonar o homem ao seu destino sem luz.» Foi esse um «aviso feito a tempo por causa do tempo».

Nestes tempos em que, salvo a ciência e a tecnologia, tudo parece recuar para o abjecto ou avançar para o objecto e para o abismo, a atitude ética, poética e vital do grande poeta de Pena Capital e de Titânia e A Cidade Queimada impõe-se como um mandamento de resistência e de libertação. Para ele, as palavras «vida, amor e poesia» tinham o som siderante dos versos vitais, viscerais, viciantes, da Epopeia de Guilgamesh, que ele estava sempre — interminavelmente, apaixonadamente, alvoroçadamente — a traduzir.

«Guilgamesh, que testemunhou o abismo, as fundações da terra, / experiente de caminhos, em tudo era sábio! / Aonde estavam os poderes, foi averiguá-los, / de cada coisa extraiu um ápice de sabedoria.» E: «O meu amigo, a quem tanto amei, está reduzido a argila, / o meu amigo Enkidu, a quem tanto amei, está reduzido a argila. / Não acabarei eu como ele, e como ele jazer, para jamais me erguer, por toda a eternidade?»

É aqui que tudo começa e é aqui que tudo acaba. Foi com as palavras do princípio e as palavras do fim que Cesariny firmou a sua vida e lhe deu aquela aurora e aquela noite, aquele som e aquele sopro, aquele movimento e aquela altura onde o continuamos a ver como se tivesse acabado de chegar.

Lisboa, Maio/Junho de 2023

louvor e simplificação de mário cesariny

Excertos de Epopeia de Guilgamesh (c. século XXV a.C.)

versões de Mário Cesariny, 2001

(Excerto)

Nos dias de antanho nos distantes dias de antanho

Nas noites de antanho nas distantes noites de antanho

Nos dias de antanho nos distantes dias de antanho

Depois de criadas todas as coisas

Destinadas todas as coisas

Depois de provado o pão nos santuários da terra

Depois de separado o céu da terra

Depois de separada a terra do céu

Depois de Anu ter arrebatado o céu

Depois de Enlil ter arrebatado a terra

Depois de Ereskigal ter recebido o Mundo Inferior como prémio,

Aquele que viu tudo e ouviu tudo

O que viu o Secreto e atravessou o Oculto

Aquele cujo arco não será excedido

Cuja força não será destruída

O Senhor de Uruk a das altas muralhas

Dois terços deus um terço homem

Foi Guilgamesh gerado

De Nin-Sun, a deusa, a vaca, a sábia

E de Lugalbanda, o terceiro depois do Dilúvio,

Um Lil-Lá

Guilgamesh, o Senhor construtor

Das altas muralhas de Uruk

Ergueu o Templo Doirado, o Céu de Anu e de Isthar,

E fez gravar numa estela o conto dos seus dias.

(Excerto)

Contempla estas muralhas semelhantes a um nó corredio para aves

Considera o poder das suas fundações

Observa a alvenaria vê se em toda a terra

Há algo que lhe possa ser comparado.

Olha o alto da entrada imemorial

Sobe às adarvas pisa-os com o teu pé

Vê o templo de Eana tal ainda é

As paredes exteriores sob a cornija

Cintilam como fogo

E as interiores são ainda mais belas

Vê com os teus olhos

Toda a muralha de Uruk

E diz se isto não é obra dos Sete Sábios.

(Excerto)

Quando os deuses criaram Guilgamesh

Shamash o Sol no zénite dotou-o de beleza incomparável

Adad, a tempestade, deu-lhe força invencível.

O toque do seu corpo não tem igual

A sua altura chega a onze côvados

O largo do seu peito são nove palmos

 louvor e simplificação de mário cesariny

O longo do seu membro é três vezes nobre.

Nos terraços de Uruk, a das altas muralhas, o seu passo é soberbo

O embate das suas armas não encontra inimigo

Mas, ao som do seu tambor, fechados em suas casas, os homens não comparecem

Este Guilgamesh não deixa nenhum filho ao seu pai

Não respeita nenhuma donzela, seja filha de herói ou noiva prometida

Diante destas queixas intermináveis

Os deuses, os grandes deuses do céu

Falaram contra o senhor Guilgamesh

Criámos em Guilgamesh um touro desenfreado

O embate das suas armas não tem inimigo

Ao som do seu tambor, fechados em suas casas, os homens não comparecem

Guilgamesh não deixa nenhum filho ao seu pai

Ele, o pastor do seu povo, está a massacrá-lo

O Rei não respeita nenhuma donzela

Seja filha de herói ou noiva prometida.

Agora o grande Anu chama Aruru,

Senhora da Fertilidade:

Tu, Aruru, deixaste gerar Guilgamesh

Cria agora um que lhe seja igual no combate

Que lutem um com o outro e deixem Uruk em paz

Ouvindo isto Aruru invocou um soldado de Anu Mergulhou as mãos na terra, colheu argila, escarrou nela e lançou aos desertos.

Assim nasceu Enki-Du, criatura do silêncio, parcela do Deus Ninurta,

O corpo rugoso o cabelo comprido luxurioso como o da mulher.

Um abundante velo espesso como o trigo

Era o seu pêlo, como o do Deus Samukan

E não conhecia cidades nem homens, nem terra cultivada

Com o onagro comia a erva da estepe

Com a gazela bebia a água da mina

Com a horda habitava o deserto

Esta era a sua única alegria

(Excerto)

Sagração de Enki-Du por sua mãe Ninsun:

A ti que não és raça dos cabeças negras

A ti ponho no chão da Egalmah

E ponho em ti o tirso do amável

E te dou nome Soldado de Anu

E te dou nome Pedra de Guilgamesh

Como o leão que na grande corrida mantém a cabeça imóvel

Sê barco do meu filho no mar perigoso

Na água a que não conhecemos o fundo

Na montanha do cedro a quem nunca ninguém viu a altura

Nos sete brilhos de Humbaba, causa de todo o mal.

[Rosa do Mundo — 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim, 2001]

louvor e simplificação de mário cesariny

MC à janela do seu atelier junto à Sé de Lisboa, c. 1956.
Mário Cesariny com José Manuel dos Santos, 1989. Fotografia de Nuno Félix da Costa.

O encontro

Em todas as ruas te encontro em todas as ruas te perco

[…]

Mário Cesariny, Pena Capital

O vulto vivo e visível de Mário Cesariny atravessa este livro como atravessou a vida que ele viveu com perigo e fulgor. A sua figura percorreu também a vida de todos aqueles que o olharam com intensidade e espanto. Esses reconheceram no seu olhar uma grande razão que exige o amor, a liberdade e a poesia que tornam o mundo mais habitável e a respiração livre e aberta a um oxigénio mais puro.

No que escreveu e no que pintou, Cesariny fez da sua vida um ímpeto implacável, poético, contra os poderes da morte sobre a vida e contra o domínio do estreitamento do mundo sobre a sua vastidão.

Seguindo-lhe o exemplo com Álvaro de Campos, este livro louva e simplifica Mário Cesariny, porque não há louvor nosso a ele que não seja simplificação dele a nós.

O que escrito por mim neste livro se publica fala do poeta, do pintor e do amigo — três pessoas numa só. Às vezes, as minhas palavras encontram as suas palavras, assim o baixo da montanha se eleva e engrandece no seu cume.

Esses textos são ora seguidos, ora guiados pelas imagens que nos trazem Cesariny com a sua altura, feita de lucidez e imaginação, curiosidade e criação, amargura e encantamento. Vemos a nitidez ardente destas

josé manuel dos santos

imagens e agradecemos a arte dos fotógrafos que deram ao instante de um gesto a sua desconhecida eternidade.

Entre a primeira e a última página deste livro-tributo está o grande poeta-mago-autor do Manual de Prestidigitação em corpo e alma, em figura e símbolo, em vestígio e evidência.

Isto é: está Mário Cesariny à nossa espera e estamos nós à espera dele. É nesse encontro que o fazemos nosso, sabendo, afinal, que ele será sempre, como o Zaratustra de Nietzsche, de todos e de ninguém.

BIOGRAFIA DE MÁRIO CESARINY



> Nasce em Lisboa a 9 de Agosto.

-

> Frequenta o Liceu Gil Vicente e a Escola António Arroio.

> Estuda música com o compositor e musicólogo Fernando Lopes-Graça.

> A partir de 1942 produz as primeiras pinturas, desenhos e poemas.

> Escreve A Poesia Civil e Burlescas, Teóricas e Sentimentais

> Mário Cesariny, António Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Fernando José Francisco, José Leonel Martins, Júlio Pomar, Pedro Oom, Marcelino Vespeira, alunos da Escola António Arroio e alguns dos jovens artistas que desencadeariam o movimento surrealista reúnem-se em tertúlia de características dadá no Café Herminius, em Lisboa.



> Desde o final da Segunda Guerra Mundial, e até 1946, adere ao neo-realismo e à actividade política correspondente. Apresenta a conferência «A Arte em Crise» para os operários da Companhia União Fabril, no Barreiro. Publica artigos no jornal A Tarde e nas revistas literárias Seara Nova e Aqui e Além.

> Escreve os poemas do livro Nobilíssima Visão.



> Escreve o poema Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos, despedida da teorética neo-realista.

> Produz a primeira colagem surrealista, com fotografia do general De Gaulle.



> Viagem a Paris onde encontra os membros do grupo surrealista francês, André Breton, Victor Brauner e Henri Pastoureau.

> Pinta O Operário e Homenagem a Victor Brauner e uma série de Figuras de Sopro e de Sismofiguras onde introduz técnicas que lhe permitem explorar processos abstractos de carácter automático, como a escorrência e a dispersão de tintas.

> Participa na fundação do Grupo Surrealista de Lisboa, do qual fazem parte Alexandre O’Neill, António Domingues, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto França e Marcelino Vespeira.



> Escreve poemas do Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano e de Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor. > Abandona o Grupo Surrealista de Lisboa. É formado o grupo Os Surrealistas composto por Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Fernando Alves dos Santos, Fernando José Francisco, Henrique Risques Pereira, Pedro Oom.



> Texto cadáver-esquisito do manifesto colectivo A Afixação Proibida com António Maria Lisboa, Henrique Risques Pereira e Pedro Oom.

louvor e simplificação de mário cesariny

> Primeira sessão de «O Surrealismo e o seu público em 1949» no Jardim Universitário de Belas-Artes (Casa do Alentejo), em Lisboa.

> Primeira Exposição dos Surrealistas, em Lisboa, na Sala de Projecções da Pathé-Baby (18 de Junho a 2 de Julho).



> Publica o poema Corpo Visível (edição de autor).

> II Exposição dos Surrealistas. Lisboa, Galeria de «A Bibliófila», 1 a 10 de Junho.



> Primeira exposição individual em casa de Herberto de Aguiar, no Porto.

> Edita os panfletos Para Bem Esclarecer As Gentes Que Ainda Estão À Espera, Os Signatários Vêm Informar Que: com Mário-Henrique Leiria e Do Capítulo da Probidade com António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Fernando Alves dos Santos, Henrique Risques Pereira e Mário-Henrique Leiria.

> Visita o poeta Teixeira de Pascoaes, que se tornará referência na sua obra, em S. João de Gatão.



> Publica Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (Ed. Contraponto) e escreve A Bruxa, o Papagaio e a Solteira

> Conhece José-Francisco Aranda e o casal de pintores Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes.



> Publica Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (Ed. Contaponto).

> Edição do manifesto A Afixação Proibida (Ed. Contraponto).

> Escreve Titânia, História Hermética em Três Religiões e Um Só Deus Verdadeiro, com Vistas a Mais Luz como Goethe Queria.



> Publica Manual de Prestidigitação (Ed. Contraponto).

> Exposição de Capas-Poemas-Objectos para o livro A Verticalidade e a Chave de António Maria Lisboa. Lisboa, Livraria António Maria Pereira, 3 a 15 de Dezembro.





> Publica Pena Capital (Ed. Contraponto).



> Iniciam-se as reuniões no Café Gelo, que prosseguirão até 1963, no âmbito das quais é publicada a colecção A Antologia em 1958 e que inclui Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores de Mário Cesariny.

> Manifesto Autoridade e Liberdade São Uma e a Mesma Coisa (folheto editado pelo autor).

> Pintura de Mário Cesariny Vasconcelos. Lisboa, Galeria Diário de Notícias, 11 a 17 de Abril.



> Publica Nobilíssima Visão (Guimarães Editores).

> Pintura e Poesia. Porto, Galeria Divulgação, 2 a 10 de Maio.



> Traduz e prefacia Une Saison en Enfer de Jean-Arthur Rimbaud (Portugália Editora).



> Publica Poesia 1944-1955 (Editora Delfos), Planisfério e Outros Poemas (Guimarães Editores) e Antologia Surrealista do Cadáver-Esquisito (Guimarães Editores).

> Organiza os livros Poesia e Erro Próprio de António Maria Lisboa (Guimarães Editores).



> Organiza e publica a antologia SURREAL-ABJECCION(ismo) (Editorial Minotauro).

> Mário Cesariny — Tábuas, Pinturas e Objectos. Lisboa, Galeria Carlos Bataglia, 10 a 24 de Dezembro.

-

> Publica Um Auto para Jerusalém (Editorial Minotauro).

> Estada em Paris, Lausana e em Londres como bolseiro da Fundação Gulbenkian.



> Publica o poema A Cidade Queimada com ilustrações de Cruzeiro Seixas (Editorial Ulisseia). louvor e

> Publica A Intervenção Surrealista (Editorial Ulisseia).



> Na comemoração do 20.º aniversário do surrealismo em português, expõe na Galeria Buchholz, em Lisboa, onde lê versões suas de textos e poemas de Luis Cernuda, Luis Buñuel, Octavio Paz, Francis Picabia, Arrabal, Henri Michaux, Hans Arp, Kurt Schwitters, Raul Hausmann, Marcel Duchamp, André Breton, Benjamin Péret, John Cage.

> Publica Do Surrealismo e da Pintura em 1967: Cruzeiro Seixas (Ed. Lux).

> Pintura Surrealista, Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas. Porto, Galeria Divulgação, 12 a 21 de Junho.

> XIII Exposição Internacional do Surrealismo. S. Paulo, Maio.

> Salão de Verão. Lisboa, SNBA.



> Exposição Internacional Surrealista. Haia.

> Cesariny. Lisboa, Galeria S. Mamede, Maio.



> Edita o panfleto Para Bem Esclarecer As Gentes Que Continuaram À Espera, Os Signatários Vêm Informar Que: com Cruzeiro Seixas e Mário-Henrique Leiria.

> Organiza o catálogo da exposição de Vieira da Silva na Galeria S. Mamede.

> Conhece Édouard Roditti.

> Exposição Novos Sintomas na Pintura Portuguesa. Lisboa, Galeria Judite Dacruz, Junho.



> Organiza e edita, com Cruzeiro Seixas, o volume Reimpressos Cinco Textos de Surrealistas em Português e publica 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres (Ed. Livraria Quadrante).

> 30 Pinturas de Mário Cesariny. Lisboa, Galeria de S. Mamede, Janeiro.

> Algumas Obras de Pintura

Contemporânea das Colecções da Secretaria de Estado da Informação e Turismo e da Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, Galeria de Exposições Temporárias da FCG, Julho/Agosto.



> Publica a recolha antológica Burlescas Teóricas e Sentimentais (Editorial Presença), As Mãos na Água a Cabeça no Mar (ed. de autor) e a tradução portuguesa de Iluminações e de Uma Cerveja no Inferno de Jean-Arthur Rimbaud (Ed. Estúdios Cor).

> Organiza e edita, com Cruzeiro Seixas, o caderno Aforismos de Teixeira de Pascoaes.

> Organiza o volume antológico Poesia de Teixeira de Pascoaes (Ed. Estúdios Cor).

> Os Lusíadas que fomos, Os Lusíadas que somos. Lisboa, Galeria Diário de Notícias.

> Mário Cesariny. Porto, Galeria Alvarez, Março.

> 10 Artistas da Galeria S. Mamede. Lisboa, Galeria S. Mamede, Maio.



> 11 Crucificações em Detalhe / 3 Afeições de Zaratustra / Retrato de Jean Genet. Lisboa, Galeria S. Mamede, 15 de Fevereiro a 10 de Março.

> Pintura Portuguesa de Hoje — Abstractos e Neofigurativos. Barcelona, Palácio de la Virreina, Abril/Maio. Salamanca, Universidade de Salamanca, Maio/Junho. Lisboa, SNBA, Julho.

> Phases — Homenaje a César Moro. Lima, Casa Taller Delfin, Outubro/Novembro. Phases. Lyon, Galerie Le Passe-Muraille, Novembro.



> Organiza e com Cruzeiro Seixas edita o caderno Contribuição ao Registo de Nascimento Existência e Extinção do Grupo Surrealista de Lisboa no 50.º aniversário do Primeiro Manifesto do Surrealismo em França.

> Publica Jornal do Gato (Ed. de Raul Vitorino Rodrigues).

> Traduz e prefacia Os Poemas de Luis Buñuel de José-Francisco Aranda (Ed. Arcádia). Prefacia Imagem Devolvida de Mário-Henrique Leiria (Plátano Editora).

> Organiza e integra a Exposição Maias para o 25 de Abril. Lisboa, Galeria S. Mamede, Junho.

louvor e simplificação de mário cesariny

> Expo AICA. Lisboa, SNBA.

> Diálogo 74. Lisboa, Galeria S. Francisco, Junho.

> Exposição do Movimento Phases. Bruxelas, Museu d’Ixelles, 9 de Outubro a 17 de Novembro.



> Inicia a publicação das folhas volantes Bureau Surrealista (1975-1988).

> Figuração-Hoje?. Lisboa, SNBA, Janeiro.

> O Cadáver Esquisito, Sua Exaltação seguida de Pinturas Colectivas. Lisboa, Galeria Ottolini, Fevereiro.



> Inicia a série de pinturas As Linhas de Água.

> Segunda edição de Nobilíssima Visão (Guimarães Editores).

> Visita Octavio Paz, no México, e Eugenio Granell, em Nova Iorque.

> Organiza a representação portuguesa na exposição World Surrealist Exhibition Chicago, Galeria Black Swan.



> Pinta uma série de Cinco Memorizações do México e alguns trabalhos (pintura e elementos gráficos) sobre a geração do Orpheu, à qual pertenceram Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.

> Publicação de Titânia e A Cidade Queimada (Publicações Dom Quixote) e de Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial (1924-1976) (Ed. Perspectivas & Realidades).

> Segunda edição da tradução de Os Poemas de Luis Buñuel de J.F. Aranda (Ed. Arcádia).

> Organiza e prefacia o volume Poesia de António Maria Lisboa (Ed. Assírio & Alvim).

> A Fotografia na Arte Moderna Portuguesa. Centro de Arte Contemporânea, Março/Abril.

> 1.ª Exposição «Phases» em Portugal. Estoril, Galeria da Junta de Turismo da Costa do Sol, Novembro.

> Surrealism Unlimited 1968-1978 Londres, Camden Arts Centre, 17 de Janeiro a 5 de Março.

> Surrealism in 1978 — 100th Anniversary of Hysteria. Cedarburg, Ozaukee Art Center, 5 de Março a 9 de Abril.

> A António Maria Lisboa 1928-1953 Estoril, Junta de Turismo da Costa do Sol, Maio.

> Claridade Dada pelo Tempo — Homenagem a Mário-Henrique Leiria. Estoril, Junta de Turismo da Costa do Sol, Agosto.



> Prefacia e traduz Enquanto Houver Água na Água e Outros Poemas, de Breyten Breytenbach (Publicações Dom Quixote).

> Cesariny. Lisboa, Galeria Tempo, Fevereiro de 1979. Porto, Galeria Alvarez Dois, Março de 1979.

> Presencia Viva de Wolfgang Paalen Cidade do México, Instituto Nacional de Bellas Artes, Julho.

> Arte Moderna Portuguesa. Lisboa, SNBA, Setembro.



> Publica Primavera Autónoma das Estradas (Ed. Assírio & Alvim).

> Fondo de Arte. Santa Cruz de Tenerife, Sala de Arte e Cultura La Laguna, 24 de Novembro a 10 de Dezembro. Sala de Arte e Cultura Puerto de La Cruz, 12 de Dezembro a 24 de Dezembro.



> Mário Cesariny, Exposição de Obras Inéditas (1947 a 1977). Lisboa, Galeria Tempo, Dezembro. 

> Publicação de Manual de Prestidigitação (Ed. Assírio & Alvim).

> Organiza o catálogo e a exposição Três Poetas do Surrealismo — António Maria Lisboa, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, na Biblioteca Nacional.

> Organiza um número da revista Mele — Carta Internacional de Poesia dedicado aos poetas surrealistas portugueses.

> Papeles Invertidos. Santa Cruz de Tenerife, Aula Cultural — Caja Insular de Ahorros, 3 a 13 de Fevereiro.

> Mário Cesariny. Lisboa, Galeria S. Mamede, Março. louvor

> Permanence du Regard Surréaliste. Lyon, Espace Lyonnais d’Art Contemporain, 30 de Junho a 22 de Setembro.

> Antevisão do Centro de Arte Moderna. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Julho/Setembro.

> Mário Cesariny. Viseu, Galeria 22, Dezembro.



> Tradução de Heliogabalo ou o Anarquista Coroado de Antonin Artaud (Ed. Assírio & Alvim).

> Publicação de Pena Capital (Ed. Assírio & Alvim).

> Mário Cesariny. Amarante, Museu Municipal, Janeiro.

> Os Anos 40 na Arte Portuguesa. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 30 de Março a 17 de Maio.



> Publica a antologia Horta de Literatura de Cordel (Ed. Assírio & Alvim) e o poema Sombra de Almagre, com serigrafia do autor (Ed. de Isaac Holly).

> Le Surréalisme Portugais. Montreal, Galerie UQAM, 16 de Setembro a 9 de Outubro.

> Harvest of Evil — Group Surrealist Exhibition. Columbus, Ti Rojo Studio, 29 de Outubro a 12 de Novembro.



> Publica Vieira da Silva, Arpad Szenes ou o Castelo Surrealista (Ed. Assírio & Alvim).

> Os Novos Primitivos: Os Grandes Plásticos Porto, Cooperativa Árvore, Janeiro.

> Exposição Internacional: Surrealismo e Pintura Fantástica. Lisboa, Teatro Ibérico, Dezembro. SNBA, Janeiro de 1985.



> Reedição (aumentada) de As Mãos na Água a Cabeça no Mar (Ed. Assírio & Alvim).

> Um Rosto para Fernando Pessoa. Lisboa, FCG/CAM, Julho.

> Pintura Portuguesa: Obras Destinadas ao Museu de Arte Moderna do Porto. Lisboa, Galeria Almada Negreiros, 17 de Setembro a 3 de Outubro.



> Traduz uma selecção de Fragmentos, de Novalis (Ed. Assírio & Alvim).

> Colectiva de Pintura. Lisboa, Galeria Holly.

> O Fantástico na Arte Contemporânea. Lisboa, FCG/CAM, Fevereiro/Março.

> 56 Artistas da António Arroio. Lisboa, SNBA, 20 de Maio a 8 de Junho.

> Mário Cesariny: 11 Acrílicos Comemorativos do Nascimento da Primeira Linha de Água. Lisboa, Livraria Assírio & Alvim, Dezembro. 

> III Bienal Nacional de Desenho. Porto, Cooperativa Árvore — Mercado Ferreira Borges, 4 a 27 de Julho.

> Anos 40 a 60. Macau, Galeria do Leal Senado, 22 de Fevereiro a 4 de Março.

> VIII Salão de Outono. Estoril, Galeria de Arte do Casino do Estoril, 13 de Novembro a 1 de Dezembro.

> Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, 21 de Novembro a 20 de Dezembro.

> III Exposição: Pintura, Desenho, Cerâmica Constância, Galeria de Constância, 28 de Novembro a 19 de Dezembro.



> Reedição de A Cidade Queimada (Ed. Assírio & Alvim).

> Exposição Internacional L’Experience

Continue Phases 1952-1988. Le Havre, Museu de Belas-Artes André Malraux.

> A Galeria D’Arte de Vilamoura e a Colecção de Cruzeiro Seixas. Vilamoura, Galeria D’Arte de Vilamoura.

> Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, Fevereiro.

> O Mar-i-o Cesariny: O Navio de Espelhos. Lisboa, Galeria EMI — Valentim de Carvalho, Maio.

> Exposição Phases 1952-1988. Le Havre, Museu de Belas-Artes André Malraux, Maio.

> Oitenta Anos de Arte Portuguesa. Lisboa, Galeria de São Bento, Maio/Junho.

> 14 + 1 Pintores Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama, Junho.

louvor e simplificação de mário cesariny

> IX Salão de Outono. Estoril, Galeria de Arte do Casino Estoril, 1988.

> 9 + 3 Pintores Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama, Novembro/Dezembro.

> Exposição Outono/88 — Inverno/89. Constância, Galeria de Constância, 8 de Dezembro a 15 de Janeiro de 1989.



> Publica O Virgem Negra (Ed. Assírio & Alvim).

> Reedição da Antologia do Cadáver Esquisito (Ed. Assírio & Alvim).

> 15 + 3 Pintores Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama.

> Exposição Colectiva. Lisboa, Galeria Holly, 4 de Maio a 4 de Junho.

> 13 Pintores Portugueses. Torres Novas, Galeria Neupergama, Maio/Junho.

> 2.º Fórum de Arte Comtemporânea. Lisboa, Fórum Picoas, Junho.

> Exposição de Pintura e Escultura do Património da Caixa Geral de Depósitos Porto, Casa de Serralves, Julho/Agosto.

> 12 + 2 Pintores Portugueses. Torres Novas, Galeria Neupergama, 5 de Outubro a 7 de Novembro.

> X Salão de Outono, Descobrimentos Portugueses. Estoril, Galeria de Arte do Casino Estoril, 18 de Novembro a 10 de Dezembro.



> Colectiva de Pintura Lisboa, Galeria Nartis, Maio.

> Surrealismo E-Não-Só. Torres Novas, Galeria Neupergama, Outubro/Novembro.

> 20 Pintores no Décimo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 24 de Novembro a 15 de Janeiro de 1991.



> Reedição de Nobilíssima Visão (1945-1946) (Ed. Assírio & Alvim).

> Cesariny: A Ilha Misteriosa. Costa da Caparica, Galeria Almadarte, 22 de Junho a 28 de Julho.

> Jardim do Tabaco: Exposição de Pintura e Escultura. Lisboa, Pavilhão AB do Jardim do Tabaco.

> 3.ª Bienal de Arte dos Açores e Atlântico. Horta, Outubro/Novembro.

> 17 + 2 Pintores no Décimo Primeiro Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 14 de Dezembro a 20 de Janeiro de 1992.



> 17 Pintores no Décimo Segundo

Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama.

> Automatismos. Las Palmas de Gran Canaria, Centro Atlántico de Arte Moderna, 11 de Fevereiro a 29 de Março.

> Homenagem a D’Assumpção. Portalegre, Galeria Municipal de Portalegre, 7 a 17 de Outubro.

> Exposición Surrealista. Madrid, Estudio Ancora, 13 de Novembro a 11 de Dezembro.

> Arte Portuguesa nos Anos 50. Beja, Biblioteca Municipal, Outubro/Novembro. Lisboa, SNBA, Janeiro/Fevereiro 1993.



> Verão 93 — 14 Pintores Portugueses

Torres Novas, Galeria Neupergama.

> Mário Cesariny, 47 Anos de Pintura

Torres Novas, Galeria Neupergama, 23 de Outubro a 5 de Dezembro.

> 18 Pintores Contemporâneos no 13.º

Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, Dezembro a Janeiro de 1994.



> Reedição de Titânia, História Hermética em Três Religiões e Um Só Deus Verdadeiro com Vistas a Mais Luz como Goethe Queria (Ed. Assírio & Alvim).

> Phases — 87 images, 71 artistes, 23 pays de la planisphére. Galerias de Arte de Plemet Ploeuc / Lié et Quintin, 26 de Maio a 28 de Junho.

> Primeira Exposição do Surrealismo ou Não. Lisboa, Galeria S. Mamede, Julho a Outubro. louvor

> Surrealismo (e não) — Obras da Colecção Doada pelo Eng. João Meireles. Vila Nova de Famalicão, Novembro.

> Colecção Manuel de Brito: Imagens da Arte Portuguesa do Século XX. Lisboa, Museu do Chiado, 16 de Novembro a 31 de Dezembro.

> Vinte Pintores no Décimo Quarto Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 10 de Dezembro a 22 de Janeiro de 1995.



> Publica Uma Combinação Perfeita (Edições Prates).

> Mário Cesariny e Álvaro Lapa. Torres Novas, Galeria Neupergama, 18 de Fevereiro a 2 de Abril.

> Plural. Torres Novas, Galeria Neupergama, 17 de Junho a 6 de Agosto.

> Imargem 95. Almada, Câmara Municipal de Almada, Dezembro.

> Vinte e Dois Artistas no Décimo Quinto

Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 16 de Dezembro a 28 de Janeiro de 1996.



> Reedição de Corpo Visível com 15 ilustrações, capa e retrato do autor por Pedro Oom (Edições Prates) e publicação de António António (Ed. da Secretaria Regional da Educação e Cultura, Região Autónoma dos Açores).

> Segunda edição (revista e aumentada) de O Virgem Negra (Ed. Assírio & Alvim).

> Reedição da tradução de Os Poemas de Luis Buñuel de J.F. Aranda.

> Colecção Mário Soares. Lisboa, Museu do Chiado, 22 de Fevereiro a 21 de Abril.

> António Areal, Mário Cesariny, Álvaro Lapa. Torres Novas, Galeria Neupergama, 30 de Março a 12 de Maio.

> El Juego de los Espejos — Colección Fundación Eugenio Granell. Instituto Leonés de Cultura, Sala Província, 3 de Maio a 22 de Junho.

> Associação Académica de S. Mamede — 50 Anos / 50 Artistas. S. Mamede de Infesta, Galeria Municipal Arménio Losa, 24 de Maio a 30 de Junho.

> Pluralidades. Torres Novas, Galeria Neupergama, 1 de Junho a 28 de Julho.

> Mário Cesariny: Regresso a 1947. Torres Novas, Galeria Neupergama, 5 de Outubro a 30 de Novembro.

> Feira de Arte Contemporânea — FAC 96 / Fórum Atlântico de Arte Contemporânea — Fórum 96. Matosinhos, Exponor, 5 a 10 de Dezembro.

> Vinte Artistas no Décimo Sexto Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 7 de Dezembro a 25 de Janeiro de 1997.

> Reedição de A Intervenção Surrealista (Ed. Assírio & Alvim).

> 4 Pintores Portugueses — Cesariny, Charrua, Álvaro Lapa, Julião Sarmento. Torres Novas, Galeria Neupergama, 15 de Março a 27 de Abril.

> Colecção José-Augusto França. Lisboa, Museu do Chiado, 20 de Março a 29 de Junho.

> Gravura Moderna — Exposição

Comemorativa do X Aniversário, Costa da Caparica, Almadarte Galeria, 10 de Maio a 17 de Agosto.

> A Arte, o Artista e o Outro. Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda.

> Vinte e Dois Artistas no Décimo Sétimo

Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 29 de Novembro a 18 de Janeiro de 1998.

> 23 Artistas Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama, 10 de Junho a 19 de Julho.

> O Que Há de Português na Arte Moderna Portuguesa. Lisboa, Palácio Foz, Junho/Setembro.

> Mário Cesariny, Pintura Surrealista

Monocromática e Outra. Torres Novas, Galeria Neupergama, 10 de Outubro a 6 de Dezembro.

> Dez Artistas no Décimo Oitavo

Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 12 de Dezembro a 7 de Fevereiro de 1999.

louvor e simplificação de mário cesariny

> Segunda edição de Pena Capital (Ed. Assírio & Alvim).

> Desenhos dos Surrealistas em Portugal 1940-1966. Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis.

> Natália: Arte e Poesia. Lisboa, Palácio Galveias. Porto, Fundação Eng. António de Almeida.

> Linhas de Sombra. Lisboa, FCG/CAM, 29 de Janeiro a 18 de Abril.

> Surrealismo. Torres Novas, Galeria Neupergama, 27 de Março a 16 de Maio.

> Doações Recentes. Lisboa, Museu do Chiado, 28 de Outubro a 15 de Novembro.

> Agriculturas. Lisboa, Edifício Sede da Caixa Geral de Depósitos, 29 de Novembro a 7 de Dezembro.

> Doze Artistas no Décimo Nono Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 4 de Dezembro a 30 de Janeiro de 2000.



> Publica Tem Dor e Tem Puta (Ed. de Ernesto Martins) e traduz Hamlet, Tragédia Cómica por Luis Buñuel (Ed. Assírio & Alvim).

> Nova edição de A Cidade Queimada (Ed. Assírio & Alvim).

> Caminha nos Caminhos do Surrealismo — Mário Cesariny: Uma Antologia Caminha, Câmara Municipal de Caminha, 12 de Maio a 12 de Junho.

> Feira de Arte Contemporânea — FAC 2000. Lisboa, FIL — Parque das Nações, 23 a 28 de Novembro.

> Dezasseis Artistas no Vigésimo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 2 de Dezembro a 21 de Janeiro de 2001.



> Mário Cesariny, Enrique Carlón, J.F. Aranda. Torres Novas, Galeria Neupergama, 24 de Fevereiro a 22 de Abril.

> Surrealismo em Portugal 1934-1952. Badajoz, Museo Extremeño e

Iberoamericano de Arte Contemporáneo, 16 de Março a 13 de Maio. Lisboa, Museu do Chiado, 24 de Maio a 23 de Setembro. Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda, 27 de Outubro a 31 de Dezembro.

> Catorze Artistas no Vigésimo Primeiro Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 8 de Dezembro a 31 de Janeiro de 2002. 

> Recebe o «Grande Prémio EDP» de artes plásticas.

> Versão portuguesa de História do Soldado em Duas Partes de C.F. Ramuz (Ed. Assírio & Alvim).

> Surrealismo em Portugal 1934-1952 Círculo de Bellas Artes, Madrid.

> 1940/1960 — Figuração e Abstracção nas Colecções do Museu do Chiado. Castelo Branco, Museu de Francisco Tavares Proença Júnior.

> Mário Cesariny — Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, 9 de Março a 5 de Maio.

> Territórios Singulares na Colecção Berardo. Sintra, Museu de Arte Moderna, 26 de Outubro a 28 de Fevereiro de 2003.

> Quinze Artistas no Vigésimo Segundo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 5 de Dezembro a 20 de Fevereiro de 2003.



> Acervo 03. Lisboa, Perve Galeria, Junho.

> O Surrealismo na Colecção Berardo Tavira, Palácio da Galeria, 12 de Julho a 14 de Setembro.

> Vigésimo Terceiro Aniversário — Quinze Artistas. Torres Novas, Galeria Neupergama, 6 de Dezembro a 31 de Janeiro de 2004.

> Uma Colecção. Montijo, Galeria Municipal do Montijo, 6 de Dezembro a 7 de Fevereiro de 2004.



> Reedição de Jornal do Gato e de Horta de Literatura de Cordel (Ed. Assírio & Alvim). Terceira edição (aumentada) de Pena Capital (Ed. Assírio & Alvim).

> Da Convergência dos Rios / Exposição de Arte Contemporânea de Moçambique e Portugal. Lisboa, Perve Galeria, 21 de Março a 24 de Abril.

> O Surrealismo Abrangente — Colecção

Particular de Cruzeiro Seixas. Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda, 24 de Abril a 30 de Maio.

> Revisitar Obras do Anos 60-70-80-90. Torres Novas, Galeria Neupergama, 15 de Maio a 12 de Junho.

> Acervo 03 / Razões de Existir. Lisboa, Perve Galeria, 7 de Novembro a 18 de Dezembro.

> Mário Cesariny — Exposição Grande

Prémio EDP 2002. Lisboa, Museu da Cidade, 2 de Dezembro a 13 de Fevereiro de 2005. Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda, 5 de Março de 2005 a 30 de Abril de 2005.

> Recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e o Prémio «Vida Literária» da Associação Portuguesa de Escritores.

> Segunda edição (revista) de Manual de Prestidigitação (Ed. Assírio & Alvim).

> O Surrealismo Abrangente — Colecção Particular de Cruzeiro Seixas. Lisboa, 11 de Janeiro a 12 de Fevereiro. Lagoa, Convento de S. José, 1 de Julho a 8 de Setembro.

> Iluminações. Torres Novas, Galeria Neupergama, Março/Abril.

> Arte Lisboa 2005 — Feira de Arte Contemporânea. Lisboa, Feira Internacional de Lisboa, 24 a 28 de Novembro.

> O Contrato Social. Lisboa, Museu Bordalo Pinheiro, 4 de Outubro a 8 de Janeiro de 2006.

> Fernando Lemos e o Surrealismo. Sintra, Museu de Arte Moderna, 26 de Novembro a 30 de Abril de 2006.

> 5.º Aniversário da Perve Galeria. Lisboa, Convento do Beato, 8 de Dezembro a 14 de Janeiro de 2006.

> Morre em Lisboa a 26 de Novembro.

> 25 Anos da Galeria Neupergama. Torres Novas, Galeria Neupergama, Janeiro/Fevereiro.

> II Exposição de Artes Plásticas — Arte na Planície. Montemor-o-Novo, 8 de Abril a 30 de Maio.

> Feira de Arte do Estoril. Estoril, Centro de Congressos do Estoril, 14 a 18 de Abril.

> 20 Anos — 20 Nomes Portugueses. Porto, Galeria Nasoni, Abril/Maio.

> Artistas na Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, Maio/Junho.

> Mário Cesariny: Navío de Espejos. Madrid, Círculo de Bellas Artes, 20 de Setembro a 19 de Novembro.

louvor e simplificação de mário cesariny

AGRADECIMENTOS

António Soares

Duarte Belo

Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva

Luís Amorim de Sousa

Luís Pavão

Maria José de Lancastre

Nuno Félix da Costa

Pedro Tomé

Textos © Autores / Herdeiros dos Autores Imagens © Autores / Herdeiros dos Autores

© Fundação Cupertino de Miranda Praça Dona Maria II, 4760-111 Vila Nova de Famalicão

© Sistema Solar CRL (chancela Documenta) Rua Passos Manuel 67 B, 1150-258 Lisboa

ISBN: 978-989-568-181-5

1.ª edição, Novembro de 2024

Revisão: Helena Roldão

Tiragem: 700 exemplares Depósito legal: 540206/24

Impressão e acabameno: Gráfica Maiadouro SA Rua Padre Luís Campos, 586 (Vermoim), 4470-324 Maia

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