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tradução do original francês e redacção cronológica de
Aníbal Fernandes
Portador de um fascinante enigma. Na desordem uma liberdade.
August Strindberg INFERNO
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August Strindberg
INFERNO tradução do original francês e redacção cronológica de
Aníbal Fernandes
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TÍTULO DO ORIGINAL: INFERNO
© SISTEMA SOLAR, CRL RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES NA CAPA: STRINDBERG POR EDVARD MUNCH REVISÃO: ANTÓNIO D’ANDRADE 1.ª EDIÇÃO, JANEIRO 2015 ISBN 978-989-8566-13-3
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SUMÁRIO
Redacção Cronológica (1.ª Parte) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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INFERNO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Redacção Cronológica (2.ª Parte) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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REDACÇÃO CRONOLÓGICA (1.ª PARTE)
O movimento da poesia parte do conhecimento e leva ao desconhecido. Raia a loucura se alguma vez se cumpre. Georges Bataille
A diversidade pode não passar de aparência, de um módulo com mil formas que repetem a mesma afirmação. Ao longo da vida Strindberg usará muitas máscaras para apontar armas ao homem, ser com dois sexos organizado em sociedade e seu único, porém múltiplo, inimigo. Em 1869, com vinte anos de idade tem definidos os elementos principais desta luta. Assume-se como o «filho de criada» inconfessável numa sociedade que convive mal com alianças rebeldes às suas regras — a mãe mulher de albergue, o pai oficial respeitado da marinha sueca (menino, já eu chorava a sujidade da vida e sentia-me um estranho, desorientado ao pé dos meus pais e da sociedade — diz na sua autobiografia); hostiliza com perversa lucidez a sua nova mãe-madrasta; revolta-se contra o pai, revolta-se contra a injustiça dos homens; e quando deixa de acreditar neles sente-se a sofrer uma injustiça de supra-humanos, aquela que desencadeará como motor preferencial das suas futuras «crises» e usará para alimentar uma superior ideia de honra que as seduções do mundo não subvertem. Strindberg virá a travar esta batalha na vida, mas também com uma força de palavras escritas ou, melhor ainda, com uma
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força de palavras postas em cena (lugar de alquimias que as amplificam e lhes conferem uma emoção e um poder de intervenção transcendentes), e chegará a esta cintilação depois de se afastar da universidade que em Upsala o obrigava à ciência «caduca» e a um ensino «elitista», depois de sofrer duras convulsões de moral e religião (desde a infância procurei Deus e encontrei o demónio), depois de ser professor primário e mártir de outras fatalidades alimentares — as de um discreto actor teatral, de um jornalista mal pago, de um telegrafista, de um bibliotecário. Na sombra já trabalha o escritor; e quando aprende um chinês utilitário para poder catalogar os manuscritos que existem na Biblioteca Real, tem prontas duas versões, em prosa e em verso, da peça teatral O Mestre Olof. Por volta de 1870, um falso ateísmo apenas lhe serve para se distrair de Deus e da sua mão invisível, voltar-se contra o homem que ele quer como o responsável de todas as acções humanas. Os antigos ressentimentos do «filho de criada» regressam exaltados e passam a literatura no primeiro painel da sua autobiografia; transforma o seu fracasso na universidade numa farpa impiedosamente cravada na sociedade burguesa; e o ramo feminino da sua família é eleito como fermento da misoginia que será tema em muitos dos seus futuros escritos (o segundo painel da sua autobiografia chamar-se-á, precisamente, A Fermentação). Em Strindberg como noutros casos de exemplar ferocidade (Artaud?, Genet?), o desfigurado desejo de um deus alia-se a esta destruição dos seres mais amados, trava uma batalha que leva à diluição final e oblíqua numa santidade profana. A sua literatura e a sua dramaturgia são um evidente reflexo desta santidade que olha para o mundo global dos homens condicionando-o pelas experiências do seu mundo individual. E são cóleras deste humor
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que ele oferece nas suas primeiras obras publicadas: O Povo Sueco retratado numa visão histórica do sofrimento dos humildes perante as amenidades da classe dominante; O Novo Reino, que leva ao maior ridículo a instituições parlamentares; Casados!, essas novelas de furor antifeminista, com transparências que os tribunais suecos julgam e só em 1884 lhe perdoam. Dar-se-ia como pouco previsível que este autor polémico de vinte e oito anos de idade e com uma visão negra da Mulher cedesse facilmente às seduções da bela e elegante baronesa Wrangel, a que arrastava pela trela um barão senil e espreitava todas as oportunidades para realizar sonhos de actriz. Divorciada e outra vez casada, esta baronesa reduzida a senhora Strindberg e ao nome de cartaz Siri von Essen, teve quinze anos de refregas conjugais rematadas pelo inevitável divórcio; e ele, o escritor ateu, desfez-se nestas ondas tumultuosas de um infeliz casamento; voltou a ver os homens condicionados por determinações supra-humanas e a invocar, com o seu antifeminismo, a mulher-Eva pintada pela Bíblia como má conselheira de Adão. A estas efervescências acrescentou a descoberta emocionada de Nietzsche, o responsável por esta sua frase: E num combate de cérebros vence quem for psiquicamente mais forte. Chega a ser viável o assassínio psíquico! No plano literário, Strindberg dá livre curso à sua animosidade contra Siri von Essen vingando-se em A Mulher de Sire Bengt, uma peça de teatro que a transforma em carcereira, em louva-a-deus-fêmea que aniquila o macho e que também responde a Ibsen, o terno guerreiro da causa feminista, com um momento teatral jogado no pólo oposto ao das peças mais célebres do dramaturgo norueguês. A Suécia hostiliza-o; a Suécia marginaliza-o; a Suécia torna-se irrespirável — são as justificações que elege para abandonar o
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seu país. E a França, mas também a Suíça, a Itália, a Áustria, a Alemanha e a Dinamarca, durante cinco anos desfilam ao sabor das suas mudanças de cenário temperamentais e de novas tentativas para encontrar um país adoptivo. É neste estrangeiro pouco acolhedor que surgem, porém, os primeiros sintomas de uma diagnosticável esquizofrenia; da incurável psoríase que lhe reveste as mãos com escamas sangrentas; de uma alucinação transtornada por perseguições sobrenaturais. (Mania? Porquê esta palavra? — escreve, revoltado contra o rótulo que os mais próximos colam ao seu comportamento. — Sou perseguido, sim senhor. Nada é mais lógico do que sentir-me perseguido. E em Defesa de um Louco dotará com uma componente terrestre esta dimensão sobrenatural: Não deixarei escrita uma palavra que possa revelar as causas da minha morte nem as terríveis suspeitas que alimento. […] A minha anulação física foi decretada pelo sexo [feminino] em peso, e a minha Fúria vingadora encarregar-se-á da espinhosa tarefa que é torturar-me até à morte. Esta Fúria chama-se Marie David, a amiga de Siri von Essen que lhe dá conselhos para sair vitoriosa da sua batalha conjugal e ele deixa malevolamente retratada na peça de teatro Camaradas.) Acusada de infidelidade e premeditações assassinas, Siri faz o último esforço para salvar o que já não passa de um casamento destroçado. Pensa que um regresso à Suécia talvez funcione como ruptura benéfica na trama de obsessões do seu marido; mas essa viagem dará, pelo contrário, o passo final que consuma o divórcio. Depois disso Strindberg vai para Berlim e adormece a sua crise com uma extraordinária série de textos teatrais. Credores, por exemplo, é representado setenta vezes e a crítica saúda «o génio sueco». O entusiasmo fá-lo exclamar: A Alemanha é a minha segunda pátria! Uma relativa estabilidade psíquica per-
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mite-lhe levar a cabo controversos escritos sobre química e prosseguir, em paralelo com a sua obra literária nessa altura com momentos altos de dramaturgia como O Mestre Olof, Viagem de Pedro o Afortunado ou A Menina Júlia (uma das suas peças teatrais célebres), incómodas prosas autobiográficas (O Filho da Criada, A Fermentação, O Quarto Vermelho, O Escritor) as novelas «malditas» de Casados!, o magnífico romance Gente de Hemsö ou, melhor ainda, a novela que influenciou Kafka e se chama À Beira do Vasto Mar. A má experiência conjugal e uma misoginia militante não chegam para lhe impedir o segundo casamento, desta vez com a muito jovem jornalista austríaca Frida Uhl, da qual virá a divorciar-se dois anos mais tarde. Outra vez na Suécia e destroçado por uma nova crise que lhe arrasa o espírito, se não o corpo, no dia 3 de Maio de 1896 começa em Lund a escrever Inferno num francês imperfeito (o que lhe ficou das andanças em Paris), e oito meses depois de ser conhecido numa tradução sueca, revista pelo autor, foi publicado pela editora Mercure de France. * A fama de Inferno construiu-se a partir de uma articulação de frases dispersas, de um acaso de referências que lhe prescreveram o limbo de uma arte doentia, extravagante, saída de um cérebro demente e povoado por excessos de uma indesmentível sem-razão. A dificuldade em aferir a legitimidade deste rótulo numa língua acessível à parte significativa dos leitores (houve cinquenta e um anos entre a primeira e a segunda edições do original francês) só aumentou a dimensão ao seu mito. Durante
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muito tempo Inferno foi uma raridade bibliográfica disputada pelos alfarrabistas de Paris. A mais nova edição vem acompanhada de notas que permitem avaliar as correcções (cerca de três mil e duzentas) destinadas à edição do original francês, conferidas a partir do manuscrito existente na biblioteca da universidade de Göteborg, registar as que foram excessivas ou abusivas, esclarecer pontos obscuros do texto pelo sentido das mesmas frases na tradução sueca supervisionada pelo autor. A recepção escandinava deste livro foi marcada por um tom de surpresa desfavorável, se exceptuarmos a do norueguês Ibsen, que declarou a um jornalista: «Um enorme talento. […] Inferno, o último e não menor dos seus livros, causou-me um abalo muito forte.» No entanto, no Svenska Dagbladet pôde ler-se: «Poderoso mas desagradável e ridículo. […] Ridículo como tudo aquilo onde falta o sentido das proporções e da harmonia.» Hoje também se conhecem cartas que mostram desagrado por este livro, uma delas do seu fiel amigo Peter Staaff: «A forma de loucura mais nauseabunda que podemos imaginar», diz no seu comentário a outro amigo comum, «e a mais sórdida demência de dez em dez páginas sorri com sorriso largo.» Se Strindberg permanece como um extraordinário dramaturgo, não ilude um poderoso prosador na sua tetralogia autobiográfica e em romances como Gente de Hemsö ou À Beira do Vasto Mar. O seu Inferno, desde sempre controverso, desde sempre catalogado como um livro «demencial», foi amado por Ibsen mas também motivo para estas palavras de Michael Meyer, talvez o seu melhor biógrafo: «Enganador por dramatizar e em parte imaginar o que apresenta como factos, Inferno não deixa por isso de permanecer como uma das mais belas obras de Strindberg, talvez mesmo a maior obra exterior às grandes peças teatrais. É um retrato extraordinariamente forte e convincente de um espírito perturbado, que merece um lugar em pé
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de igualdade com obras como os auto-retratos de Van Gogh, os poemas de Hölderlin e os romances de Dostoievski.» Strindberg chegou a Inferno coleccionando sinais inexplicáveis que o perturbaram em Paris, em Saxen e em Lund, com eles fazendo um cerco às trivialidades do quotidiano. Esgotou-se num esforço esplendorosamente fracassado para confrontar as suas dúvidas com a inocência tranquila da realidade. Mas construiu um espectáculo que impressiona. A sua manipulação de sinais efémeros marca com dureza um destino supostamente regido por Potências que lhe não poupam dores nem o martírio da expiação. Para Strindberg estas Potências — imagem de um deus que ele não consegue definir — incitam-no a um refúgio na Ciência, mas por ironia encontrará aí outra vergasta que o incita a investir contra os homens; é um mundo de obsessões, com tréguas raras e curtas, derrotas sofridas com um masoquismo que o humilha e destina ao sangrento desastre das relações humanas. Nesta viagem chega tarde a uma consciência de Inferno singularmente acrescentada por um cristianismo caprichoso e temperamental que convive com outras fontes, incompatíveis, irreconciliáveis, de iniciação. Se o cristianismo sufoca por inspirar a expiação e aos seus fiéis segredar a pequenez do que lhes é consentido compreender, por os acalmar com promessas de outra vida e pedir-lhes complacência perante o hermetismo das actuações divinas, tenta-o com a dor agradecida dos mártires e a escola da abnegação. Obcecado por um adversário invisível, Strindberg não conseguirá excluir-se desta religião. E o Destino, visto como força que incide sobre os homens para lhes definir a trajectória terrena, e não como contingência de acasos e probabilidades, surge-lhe ditado por uma suprajustiça e pela sua escada que o homem toma pelo lado bom ou mau, conforme as Potências lho determinam.
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Strindberg não consegue definir estas Potências aceitando o deus de uma única religião. Da Bíblia aceita os códigos bravios do Velho Testamento, o Eterno na sua decoração vetusta, Jacó seu porta-voz (O meu Deus é o velho Jacó, diz numa página de Inferno); ao Cristo não consegue compreendê-lo (Cristo, também ele, ter-se-á transformado em demónio?, pergunta no final do livro. Será a religião um castigo, e o Cristo um espírito vingador? […] Porque ele é, de facto, o assassino da razão, da carne, da beleza, da alegria, dos mais puros afectos da humanidade. Assassino das virtudes: franqueza, valentia, glória, amor, misericórdia!) Mais do que a Bíblia, impressionam-lhe os livros do budismo. E a magia-negra? Acusa-se de a praticar involuntariamente. E a alquimia? Vai fabricar ouro, embora queira vê-lo conciliado com a ciência clássica. E o espiritismo? (Existe alguém que não vemos à luz das velas, diz a um rapaz perturbado pelo inexplicável.) Strindberg luta em várias frentes e atravessa o espelho numa barca de leme delirante; faz uma viagem com mau regresso ao mundo da razão. Em Swedenborg encontra respostas que o tranquilizam, embora ele desaconselhe o abandono da religião praticada pelos nossos antepassados, no caso de Strindberg o protestantismo. Mas como cumprir isto, se permanece nele uma dúvida essencial sobre o papel do Cristo? Que confusão babilónica!, exclama no auge da sua desorientação. Este portador de um fascinante enigma atinge na desordem uma liberdade. O seu limite estético é a alienação autêntica, aquela que Artaud define como «a do homem que preferiu ser louco, no sentido em que a sociedade o entende, a transgredir uma ideia superior de honra humana». A.F.
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CORAM POPULO de creatione et sententia Mistério
Personagens O Eterno, invisível Deus, o Espírito Maligno Usurpador, o Príncipe Deste Mundo Lúcifer, o Porta-luz destronado Arcanjos Anjos Adão e Eva
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PRIMEIRO ACTO
O CÉU Deus e Lúcifer, cada qual em seu trono. Estão rodeados de anjos. Deus é um velho de cariz severo, quase maldoso; com barba branca longa e cornichos à Moisés de Miguel Ângelo. Lúcifer é jovem e belo, com algo de Prometeu, Apolo e Cristo; tem a pele do rosto branca, luminosa; os olhos flamejantes, os dentes brancos. Por cima da cabeça tem uma auréola. Deus Faça-se o movimento, já que o descanso nos corrompeu! Quero também arriscar-me a uma manifestação, correndo o risco de me fragmentar e perder na multidão bruta! Vede! Além, entre Marte e Vénus, permanecem devolutos alguns miriâmetros do meu domínio. Quero criar ali um novo mundo que sairá do Nada e ao Nada regressará um dia. As crianças que lá viverem vão julgar-se deuses como nós, e prazer teremos a observar os seus combates e as suas vaidades. Que o seu nome seja mundo da loucura! Que parecer é o teu, irmão Lúcifer que partilhas comigo estes reinos ao sul da Via Láctea? Lúcifer Senhor irmão, o teu desejo malévolo implica os sofrimentos e as desgraças. Abomino a tua ideia!
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Deus E vós, Anjos, o que dizeis do meu propósito? Os Anjos Que a vontade do Senhor se faça! Deus Assim seja! E ai de quem esclarecer os loucos sobre a sua origem e a sua missão. Lúcifer Ai de quem chamar bem ao mal e mal ao bem; quem das trevas fizer luz e da luz fizer trevas, quem do amargo fizer doce, e do doce o amargo! Obrigá-lo-ei a comparecer perante o tribunal do Eterno. Deus Fico então à espera! Costumas encontrar o Eterno fora das suas visitas a estas paragens, sempre que passa uma miríade de anos? Lúcifer Para destruir os teus projectos, vou dizer a verdade aos homens. Deus Maldito sejas, Lúcifer. Que tenhas assento abaixo do mundo das loucuras, para veres os seus tormentos; e que os homens passem a chamar-te Maligno!
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Lúcifer Vais vencer porque és tão forte como o Mal! Para os homens serás Deus: tu, caluniador, Satanás! Deus Que este revoltado pereça! Miguel, Rafael, Gabriel, Uriel, avançai! Azarel, Meazael, fustigai! Oriães, Paimão, Egino, Amémão, soprai! Arrebatado por um turbilhão, Lúcifer é precipitado nos abismos.
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SEGUNDO ACTO
NA TERRA Adão e Eva debaixo da árvore da ciência, e depois Lúcifer disfarçado de serpente. Eva Eu nunca tinha reparado nesta árvore. Adão Esta árvore foi-nos proibida. Eva Quem o disse? Adão Deus! Lúcifer, entrando Qual Deus, se há tantos? Adão Quem és? Lúcifer Sou eu, Lúcifer, o Porta-luz que deseja a vossa felicidade, que sofre as vossas penas. Olhai a nova estrela da
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manhã que anuncia o regresso do sol! É o meu astro encimado por um espelho que reflecte a luz da Verdade. Na plenitude dos tempos, pastores de um determinado deserto vão ser guiados pelos seus raios até à manjedoura onde nascerá o meu filho, o redentor do mundo. Quanto a esta árvore, comendo o seu fruto ficareis conscientes do bem e do mal. Sabereis então que a vida é um mal; que não sois deuses; que o Maligno vos cegou e só tendes uma existência que serve ao riso dos deuses. Comei-o, e tereis o dom de vos libertardes das dores, a alegria da morte! Eva Quero saber e libertar-me! Come também, Adão! Ambos comem o fruto proibido.
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TERCEIRO ACTO
O CÉU Deus e Uriel. Uriel Ai de nós, porque a nossa alegria findou. Deus O que aconteceu? Uriel Lúcifer desvendou aos habitantes da terra os vossos actos; eles sabem tudo e estão felizes. Deus Felizes! Ai deles!… Uriel E como lhes concedeu o dom da liberdade, também podem regressar ao Nada. Deus Morrer! Pois bem! Que antes de morrer se propaguem. Faça-se o amor!
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QUARTO ACTO
Lúcifer acorrentado. Lúcifer Desde que o amor chegou ao mundo, o meu poder acabou. Abel foi libertado por Caim e procriou com a sua irmã. E a todos vós eu quero libertar! Águas, mares, fontes, rios! Vós, que sabeis apagar a chama da vida, subi! Exterminai!
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QUINTO ACTO
O CÉU Deus e Uriel. Uriel Ai de nós! A nossa alegria findou. Deus O que aconteceu? Uriel Lúcifer soprou sobre as águas; estão a subir e vão libertar os mortais! Deus Bem sei! Mas entre os menos esclarecidos acabo de salvar dois que nunca chegarão a saber a palavra do enigma. O barco deles encalhou no Monte Ararat e fizeram holocaustos. Uriel Entretanto Lúcifer ofereceu-lhes uma planta chamada vinha, com um sumo que gera a estupidez. Uma gota de vinho basta para verem as coisas como elas são.
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Deus Insensatos! Não sabem que dotei a sua planta com estranhas virtudes: a loucura, o sono e o esquecimento. Com ela deixarão de saber o que os seus olhos vêem. Uriel Ai de nós! O que andarão a fazer os estúpidos habitantes da terra? Deus Constroem uma torre e querem tomar o Céu de assalto. Ah! Lúcifer ensinou-os a perguntar. Paciência! Vou fazer com que as suas línguas só perguntem o que é estéril, e que o meu irmão Lúcifer emudeça!
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SEXTO ACTO
O CÉU Deus e Uriel, Egino e Amémão. Uriel Ai de nós! Lúcifer enviou-lhes o seu filho único, o que ensina a verdade aos homens… Deus O que diz ele? Uriel Esse filho nascido de uma virgem diz que veio libertar os homens, e com a sua própria morte pretende anular o pavor da morte. Deus E os homens o que dizem? Uriel Uns que o Filho é Deus, outros que é o diabo. Deus E o que entendem por diabo? Uriel Lúcifer!
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Deus, irritado Estou arrependido de ter feito o homem na terra; tornou-se mais forte do que eu, e deixei de saber dirigir a sua multidão de loucos e estúpidos. Amémão, Egino, Paimão, Oriães, libertai-me deste fardo: atirai o globo aos abismos! Que a maldição caia sobre a cabeça dos rebeldes! E cravai a forca na fonte do planeta maldito, sinal de crime, castigo e sofrimento. Entram Egino e Amémão. Egino Senhor! A vossa cruel vontade e a vossa palavra proferida produziram efeito! A terra enlouquece na sua órbita; as montanhas desabam, as águas inundam o solo; o eixo orienta-se pelo Norte, pelo frio, pelas trevas; a peste e a fome devastam as nações; o amor transformou-se em ódios mortais, a piedade filial em parricídio. Os homens julgam-se no inferno e vós, Senhor, estais destronado! Deus Socorro! Arrependo-me de me ter arrependido! Amémão Demasiado tarde! Desencadeastes as forças, e agora tudo é imparável… Deus Arrependi-me! Dotei com centelhas da minha alma seres impuros cuja fornicação me avilta tanto como a
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mulher que suja o marido quando suja o seu próprio corpo. Egino a Amémão O velhote delira! Deus A minha energia acaba quando eles se afastam de mim; sou atingido pela sua iniquidade e tomado pela loucura da minha descendência. Eterno, o que fiz eu? Tende piedade de mim!… Já que ele gostou da maldição, que lhe caia a maldição em cima; e uma vez que não se deleitou com a bênção, que a bênção se afaste dele! Egino Que loucura! Deus, prosternado Senhor Eterno, nenhum outro deus se parece contigo. As tuas obras são incomparáveis porque és grande e fazes coisas maravilhosas; Deus és tu e mais ninguém! Amémão Loucura! Egino Assim vai o mundo: iludem-se os mortais quando os deuses se divertem!…
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INFERNO Toda a pessoa de boa fé e razão desobscurecida ou advertida concorda que a vida corporal do homem é uma privação e um sofrimento contínuos. Não será portanto sem razão que nos apoiamos nas ideias adquiridas de Justiça para olhar a extensão dessa vida corporal como tempo de castigo e expiação; embora não possamos olhá-la assim sem pensar de imediato que deve ter havido para o homem um estado anterior, preferível ao que tem neste momento, e sem dizer que o seu estado actual é tão fechado, penoso e semeado de dores como o outro foi ilimitado e cheio de delícias. São Martinho
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i A MÃO DO INVISÍVEL
Eu regressava da Estação do Norte com feroz alegria; tinha abandonado lá a minha querida mulher, que levava a nossa filha doente para a terra distante. A imolação da minha alma consumada! E as últimas palavras — «Até quando? — Até breve.» — também tinham ressoado como inconfessadas mentiras porque um certo pressentimento me dizia que era de vez. Este adeus, dito e retribuído no mês de Novembro de 1894, foi o último porque estamos em Maio de 1897 e não voltei a ver a minha bem-amada esposa. Quando chego ao Café de la Régence sento-me à mesa que costumava ocupar com ela, a minha formosa carcereira dia e noite a espiar-me a alma, a adivinhar-me os pensamentos secretos, a vigiar-me o curso das ideias, a ter ciúmes das minhas aspirações ao desconhecido… Restituído à liberdade apoderou-se de mim uma expansão súbita e pôs-me a planar sobre as ninharias da grande Cidade, palco das lutas intelectuais onde acabo de ter uma vitória só por si insignificante, mas para mim imensa, e concretização de um sonho de juventude que todos os literatos meus contemporâneos e compatriotas alimentam, e só eu realizei: estar em cena num teatro de Paris1. Mas o teatro entediava-me como 1 Em 1893, a peça de Strindberg A Menina Júlia foi representada em Paris, e em 1894 estiveram em cena outras peças suas (Os Credores e O Pai). (N. do T.)
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tudo o que já foi obtido, e a ciência atraía-me. Obrigado à escolha entre o amor e o saber, eu tinha-me decidido pelos conhecimentos supremos; e o sacrifício dos meus afectos fez-me esquecer a vítima inocente, imolada no altar da minha ambição ou da minha vocação. De regresso ao meu desconfortável quarto de estudante no Quartier Latin, revolvi o cofre-forte e tirei do seu esconderijo os seis cadinhos de porcelana fina que tive a precaução de comprar com dinheiro adiantado sobre os meus recursos. Uma pinça e um pacote de enxofre puro completavam a instalação do laboratório. No fogão arde um fogo de forja; tenho a porta fechada e as cortinas corridas porque em Paris, três meses passados sobre a execução de Caserio não é prudente manejarem-se utensílios químicos1. A noite cai, o enxofre queima com labaredas de inferno, e ao amanhecer verifico que existe carbono neste elemento considerado simples; julgo assim resolvido o grande problema; que voltei do avesso a química vigente e ganhei a imortalidade a que os mortais têm direito. Crestada pelo fogo intenso, a pele das minhas mãos cai em escamas e a dor que lhes causa o esforço banal de me despir recorda o preço da minha conquista. Solitário na cama que cheira a mulher, sinto-me feliz: uma sensação de alma pura, de virgindade masculina faz-me ver o passado conjugal 1 O anarquista Caserio, assassino do presidente Sadi-Carnot. Note-se que não o assassinou com produtos químicos, como a observação de Strindberg poderia levar a crer. Sante Geronimo Caserio aproximou-se da carruagem do presidente, agarrou-se ao veículo com a mão esquerda, e com a direita espetou-lhe no peito um punhal. (N. do T.)
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EPÍLOGO
Este volume começou por ter a seguinte exclamação final: «Que partida, que partida fúnebre é a vida!» Mas depois, reflectindo um pouco achei que a frase era indigna e risquei-a. Como as hesitações continuaram, recorri à Bíblia para adquirir o esclarecimento desejado. Veja-se o que respondeu o livro sagrado, dotado como nenhum outro de maravilhosas faculdades proféticas: «E voltar-me-ei contra esse homem, e fá-lo-ei servir de sinal e de brinquedo, e subtraí-lo-ei de entre o meu povo, e sabereis que sou o Eterno. «Se o profeta se deixar seduzir, se pronunciar uma palavra, é porque eu, o Eterno, seduzi esse profeta. Estenderei contra ele a mão e destruí-lo-ei no meio do meu povo de Israel.» Ezequiel, xiv. 8.9.
É também assim a equação da minha vida: um sinal, um exemplo destinado a melhorar os outros; um brinquedo que mostra a vaidade da glória e da celebridade; um brinquedo que esclarece a juventude sobre a forma como se não deve viver; um brinquedo que se julga profeta e vê desmascarado como impostor. O Eterno, seduzindo este profeta impostor, fê-lo proferir palavras; mas o falso profeta não se sente responsável porque só desempenhou o papel que lhe impuseram.
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Irmãos! Tendes aqui um destino de homem, entre tantos outros, e confessai que a vida humana pode surgir como um embuste! Por que foi o autor deste livro castigado de tão extraordinária forma? Leia-se o mistério que precede o seu texto. Mistério1 composto há trinta anos, antes de o autor conhecer as heréticas chamadas Stedingh. Em 1223, o papa Gregório IX excomungou-as por causa da sua doutrina satanista: «Lúcifer, o Deus bom, expulso e destituído pelo “Outro”, voltará quando o usurpador chamado Deus for desprezado pelos homens e, devido ao seu miserável governo, à sua crueldade e à sua injustiça, ele próprio estiver convencido da sua incapacidade.» Quem é o Príncipe deste mundo, capaz de condenar os mortais aos vícios e castigar a virtude com a cruz, a fogueira, as insónias e os pesadelos? É o carrasco a quem fomos entregues por causa de desconhecidos ou esquecidos crimes feitos num outro mundo! E quem são os Espíritos Correctores de Swedenborg? Anjos-da-guarda que nos protegem dos males espirituais! Que confusão babilónica! Santo Agostinho declarou que é imprudente alimentarmos dúvidas sobre a existência dos demónios. São Tomás de Aquino proclamou que os demónios são causadores das tempestades e dos coriscos, são espíritos que podem confiar às mãos dos mortais o seu poder. 1 Este mistério, o Coram Populo que abre este livro, mais não é do que o epílogo de uma versão intermédia da peça de Strindberg O Mestre Olof. (N. do T.)
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Inferno
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O papa João XXII lamentou as manobras ilícitas dos inimigos que o atormentaram utilizando retratos picados por agulhas (bruxaria). Na opinião de Lutero todos os acidentes, fracturas, quedas, incêndios e a maior parte das doenças são efeito da acção dos diabos. Além disto, é de opinião que certos indivíduos encontraram nesta vida o seu inferno. Terá sido com conhecimento de causa que baptizei de Inferno o meu livro? Se o leitor demasiadamente pessimista duvidar do que eu digo, leia a minha autobiografia Tjensteqvinnans son e A Defesa de um Louco1. Leitores haverá que tomarão este livro apenas por um poema; consultem então o meu diário, dia a dia escrito desde 1895, que apenas é redacção retocada e ampliada do seu texto.
1 O Filho da Criada, o primeiro volume da sua tetralogia autobiográfica. A Defesa de um Louco (outro livro que Strindberg escreveu em francês) é uma acusação destemperada e misógina ao carácter e ao procedimento da sua mulher Siri von Essen e da sua amiga (corruptora) Marie David. (N. do T.)
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REDACÇÃO CRONOLÓGICA (2.ª PARTE)
Strindberg não chegou a fazer o retiro no mosteiro belga que as últimas páginas de Inferno prenunciam, nem a converter-se duradouramente ao catolicismo. A crise de Inferno prolongou-se literariamente a Lendas (com duas partes que ele intitula «Inferno II» e «Inferno III»), a O Combate de Jacob e à trilogia dramática A Estrada de Damasco, mas perdeu força e anulou-se num jogo de contradições. Depois fez um desvio ao eixo central da sua criação com uma fase de ressonâncias épicas e shakespeareanas, inpirada por heróis e figuras com papel relevante na história da Suécia (a ela pertence um conjunto de peças teatrais pouco lembradas nas companhias com reportório strindberguiano). Solitário em Estocolmo, lunático e marcado pelo fracasso nas relações com os outros, sem obter resposta para as dúvidas fundamentais da sua vida, compreende-se que não tenha evitado a experiência de um terceiro casamento: a actriz norueguesa Harriet Bose (primeira intérprete de A Estrada de Damasco) passa rapidamente pela sua vida até ao divórcio litigioso de 1904. Restam-lhe mais oito anos «terrestres», aqueles que um cancro do estômago precisou para o matar; um derradeiro fôlego com afirmações brilhantes tecidas em Karlavagen, a casa solitária a que chamou «torre azul». A Sonata dos Espectros, uma das suas celebradas peças teatrais, foi lá escrita; e também dois romances com histórias de violência (Bandeiras Negras e As Casas
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R e d a c ç ã o C r o n o l ó g i c a ( 2 . ª Pa r t e )
Góticas), ou ainda um retrato cruel da sua própria tristeza, a que resolveu chamar (como António Nobre) Só (Ensam). Uma coisa, porém, é haver génio e talento para singulares momentos de arte dramática e literária, outra é a vocação (ou mesmo a vontade) para garantir a si próprio um mínimo de conforto material. No fim da vida, Strindberg foi quase um mendigo. Desleixou a cobrança dos seus direitos de autor, e a sua obra (excepcional mas em tantos momentos controversa) não conseguiu dar-lhe, como ele desejava, o dinheiro associado ao Prémio Nobel, o que foi parar em 1909 às mãos suaves e bem comportadas da sua compatriota Selma Lagerlöff. Viu-se obrigado a aceitar quarenta e cinco mil coroas obtidas num peditório público… Morreu em 13 de Maio de 1912; e o governo sueco — com um gesto de alívio mal disfarçado em rituais de grande respeito — mandou descer a meia haste todas as bandeiras do país, e decretou luto nacional. A. F.
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ÍNDICE
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Redacção Cronológica (1.ª Parte) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Coram populo – de creatione et sententia Mistério Personagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Primeiro Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O céu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Segundo Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Na terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Terceiro Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O céu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quarto Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quinto Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O céu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sexto Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O céu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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INFERNO i. A mão do invisível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 ii. São Luís põe-me em contacto com o falecido sr. Orfila 48 iii. As tentações do demónio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 iv. O paraíso reconquistado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 v. Sylva Sylvarum. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 vi. A borboleta-caveira (Acherontia atropos) . . . . . . . . 71 vii. Estudos fúnebres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
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Índice
viii. A queda e o paraíso perdido . . . . . . . . . . . . . . . ix. O purgatório. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . x. Extracto do meu diário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xi. Inferno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii. Beatrice. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii. Swedenborg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiv. Extracto do diário de um maldito . . . . . . . . . . . xv. O eterno falou. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xvi. O inferno à solta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xvii. Peregrinação e expiação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . xviii. O Redemptor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xix. Tribulações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xx. Em direcção a que fim? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Epílogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
91 96 121 143 169 177 192 205 209 218 224 229 235 241
Redacção Cronológica (2.ª Parte) . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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livros publicados
Os génios, seguido de Exemplos, Victor Hugo O senhor de Bougrelon, Jean Lorrain No sentido da noite, Jean Genet Com os loucos, Albert Londres Os manuscritos de Aspern (versão de 1888), Henry James O romance de Tristão e Isolda, Joseph Bédier A freira no subterrâneo, com o português de Camilo Castelo Branco Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de O que ele me disse…, Joachim Gasquet David Golder, Irene Nemirowsky As lágrimas de Eros, George Bataille As lojas de canela, Bruno Schulz O mentiroso, Henry James As mamas de Tirésias — drama surrealista em dois actos e um prólogo, Guillaume Apollinaire Amor de perdição, Camilo Castelo Branco Judeus errantes, Joseph Roth A mulher que fugiu a cavalo, D.H. Lawrence Porgy e Bess, DuBose Heyward O aperto do parafuso, Henry James Bruges-a-Morta — romance, Georges Rodenbach Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), Herman Melville Histórias da areia, Isabelle Eberhardt O Lazarilho de Tormes, anónimo do século XVI e H. de Luna Autobiografia, Thomas Bernhard Bubu de Montparnasse, Charles-Louis Philippe Greco ou O segredo de Toledo, Maurice Barrès Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton Dicionário filosófico, Voltaire A papisa Joana – segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel Rhoides O raposo, D.H. Lawrence Bom Crioulo, Adolfo Caminha O meu corpo e eu, René Crevel Manon Lescaut, Antoine Prévost d’Exiles O duelo, Joseph Conrad
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DEPÓSITO LEGAL 381815/14 ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA EUROPRESS RUA JOÃO SARAIVA, 10 A 1700-249 LISBOA
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tradução do original francês e redacção cronológica de
Aníbal Fernandes
Portador de um fascinante enigma. Na desordem uma liberdade.
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