O Sul Abril nº 21

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NR 21

ano: 2012 . nr 21 . mês: Abril . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

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O FIM DA FARSA DA “SOLIDARIEDADE EUROPEIA”

uma farsa, ainda que tal só agora se tenha tornado evidente; pela crise e, não o esqueçamos, pela ausência de qualquer inimigo externo… Com efeito, ainda que hoje isso pareça fazer parte de uma história hoje já muito distante, o grande “cimento” da construção europeia foi a ameaça que o bloco soviético, que, como sabemos, se estendeu a toda a Europa de Leste. Constituiu-se como tal, durante quase meio século, para a Europa ocidental, bem como também a posição subalterna que a Alemanha aceitou, como expiação da sua culpa pela II Guerra Mundial. A Alemanha (falamos, obviamente, antes da reunificação, da Alemanha ocidental) não poderia afirmar-se politicamente, apenas financiar todo o projecto político da construção europeia. E deveria até mostrar entusiasmo por isso. Com o fim da ameaça soviética e com a reunificação alemã, era inevitável que também essa derradeira máscara caísse. A Alemanha reunificada voltou a ser, naturalmente, um país como os outros – não mais do que os outros, mas também não menos. Para mais, acedeu ao poder uma geração que já não carregava sobre os seus ombros esse peso histórico da “culpa alemã”. O que a Alemanha tinha a pagar, já o havia feito. Agora, defenderia simplesmente os seus interesses, tal como todos os outros países europeus. Quem a poderia impedir? E eis como inevitavelmente se encerrou o último acto da farsa da “solidariedade europeia”. Renato Epifânio Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono www.movimentolusofono.org

Ilustração Dinis Carrilho

Um dos efeitos mais positivos da actual crise europeia – ou, mais exactamente, da União Europeia – foi o de ter tornado (de novo) evidente que a única entidade política realmente consistente é a do Estado-Nação. Durante anos, para não dizer décadas, foi-nos “ensinado” que a figura do “Estado-Nação” estava completamente ultrapassada – era, garantiram-nos, um anacronismo, um dos muitos atavismos entretanto enterrados no caixote do lixo da história. Os Estados, em particular no âmbito da União Europeia, pareciam pois destinados a dissolverem-se através de transferências de soberania cada vez mais amplas e profundas. Para o bem dos próprios, asseguravam-nos. Os grandes problemas decorrentes da globalização já não se coadunavam com respostas a nível nacional – eis o argumento maior de todo este processo que se foi concretizando ao longo das últimas décadas. Até que a actual crise da União Europeia fez cair todas as máscaras. Afinal, todos os Estados, mesmo aqueles que mais tinham embarcado na retórica antisoberanista, defendiam, antes de tudo o mais, os seus interesses. O que só pode ter surpreendido os mais ingénuos. Com efeito, se em tempos de fartura económica os inevitáveis “egoísmos nacionais” podem aparentemente desaparecer – pois que há quanto baste para todos –, em tempos de crise eles voltam inevitavelmente à tona – e com renovado vigor. Pela simples mas suficiente razão de que os Estados-Nação são, de facto, as únicas entidades políticas realmente consistentes. Quanto tudo o mais se dissolve, apenas elas realmente resistem… A razão para tal também se explica facilmente. As comunidades políticas realmente sólidas são aquelas que correspondem a comunidades histórico-culturais. Só nestas se pode gerar uma comunidade de afectos, única base da tão proclamada “solidariedade”. É pois tão simplesmente por isso que a “solidariedade europeia” sempre foi


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