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NR 21
ano: 2012 . nr 21 . mês: Abril . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
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O FIM DA FARSA DA “SOLIDARIEDADE EUROPEIA”
uma farsa, ainda que tal só agora se tenha tornado evidente; pela crise e, não o esqueçamos, pela ausência de qualquer inimigo externo… Com efeito, ainda que hoje isso pareça fazer parte de uma história hoje já muito distante, o grande “cimento” da construção europeia foi a ameaça que o bloco soviético, que, como sabemos, se estendeu a toda a Europa de Leste. Constituiu-se como tal, durante quase meio século, para a Europa ocidental, bem como também a posição subalterna que a Alemanha aceitou, como expiação da sua culpa pela II Guerra Mundial. A Alemanha (falamos, obviamente, antes da reunificação, da Alemanha ocidental) não poderia afirmar-se politicamente, apenas financiar todo o projecto político da construção europeia. E deveria até mostrar entusiasmo por isso. Com o fim da ameaça soviética e com a reunificação alemã, era inevitável que também essa derradeira máscara caísse. A Alemanha reunificada voltou a ser, naturalmente, um país como os outros – não mais do que os outros, mas também não menos. Para mais, acedeu ao poder uma geração que já não carregava sobre os seus ombros esse peso histórico da “culpa alemã”. O que a Alemanha tinha a pagar, já o havia feito. Agora, defenderia simplesmente os seus interesses, tal como todos os outros países europeus. Quem a poderia impedir? E eis como inevitavelmente se encerrou o último acto da farsa da “solidariedade europeia”. Renato Epifânio Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono www.movimentolusofono.org
Ilustração Dinis Carrilho
Um dos efeitos mais positivos da actual crise europeia – ou, mais exactamente, da União Europeia – foi o de ter tornado (de novo) evidente que a única entidade política realmente consistente é a do Estado-Nação. Durante anos, para não dizer décadas, foi-nos “ensinado” que a figura do “Estado-Nação” estava completamente ultrapassada – era, garantiram-nos, um anacronismo, um dos muitos atavismos entretanto enterrados no caixote do lixo da história. Os Estados, em particular no âmbito da União Europeia, pareciam pois destinados a dissolverem-se através de transferências de soberania cada vez mais amplas e profundas. Para o bem dos próprios, asseguravam-nos. Os grandes problemas decorrentes da globalização já não se coadunavam com respostas a nível nacional – eis o argumento maior de todo este processo que se foi concretizando ao longo das últimas décadas. Até que a actual crise da União Europeia fez cair todas as máscaras. Afinal, todos os Estados, mesmo aqueles que mais tinham embarcado na retórica antisoberanista, defendiam, antes de tudo o mais, os seus interesses. O que só pode ter surpreendido os mais ingénuos. Com efeito, se em tempos de fartura económica os inevitáveis “egoísmos nacionais” podem aparentemente desaparecer – pois que há quanto baste para todos –, em tempos de crise eles voltam inevitavelmente à tona – e com renovado vigor. Pela simples mas suficiente razão de que os Estados-Nação são, de facto, as únicas entidades políticas realmente consistentes. Quanto tudo o mais se dissolve, apenas elas realmente resistem… A razão para tal também se explica facilmente. As comunidades políticas realmente sólidas são aquelas que correspondem a comunidades histórico-culturais. Só nestas se pode gerar uma comunidade de afectos, única base da tão proclamada “solidariedade”. É pois tão simplesmente por isso que a “solidariedade europeia” sempre foi
Centro Histórico de Setúbal, património vivo a revitalizar O Concelho de Setúbal é o centro de uma paisagem única, repleta de características prontas a serem descobertas pelos seus visitantes. Com a serra da Arrábida, a Oeste, a Reserva Natural do Estuário do Sado, a Este, e a baía considerada uma das mais belas do mundo, a banhar a extensa frente Sul, Setúbal oferece um contraste entre a agitação urbana e a paz da Natureza reforçada pela sua panóplia de cores. As praias são uma das mais-valias mais apreciadas durante a época balnear pelas suas condições e beleza inigualáveis. Esta região é conhecida pela qualidade gastronómica do peixe (Sardinha Assada foi eleita uma das 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal), choco frito, vinhos e doces regionais de Azeitão. A sua diversidade relativamente à flora e fauna é bastante marcante. O Centro Histórico é a zona onde incide a cultura e identidade da cidade, sendo este a porta de entrada de turistas que podem disfrutar da nossa História, Monumentos, Comércio e Serviços. AAssociação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal (ACSDS) tem como principal objetivo o apoio aos empresários, sendo o reforço
do associativismo uma forma de fortalecer as suas defesas. Desta forma, intervém ativamente junto de instituições, agrupamentos, confederações e redes. O panorama económico e social actual obrigou as empresas a tomar várias medidas em termos de reestruturação, para que pudessem evoluir e, deste modo, acompanhar as alterações sentidas. Numa época, em que o individualismo é salientado na nossa sociedade, é importante que se mantenham valores inerentes ao Comércio Tradicional que tanto contribui para a economia local. Uma das características do comércio tradicional é o atendimento personalizado onde existe um bom relacionamento entre o vendedor e o cliente que se traduz num aconselhamento mais específico e adequado, que contrasta com a agressividade do atendimento estandardizado. A ACSDS não se opõe à abertura das grandes superfícies, mas continuará a defender, intransigentemente, as micro e pequenas empresas, e respetivos colaboradores, que em tanto contribuem para a economia nacional. Deste modo, tenta criar atrativos que correspondam às ex-
pectativas da real procura, para que não venhamos a assistir à desertificação de uma zona dotada de um enorme potencial. Tendo em conta a conjuntura atual, é necessário que se unam esforços em prol de um bem comum, ou seja, cada vez é mais urgente que todos coloquemos em prática o espírito de entreajuda para que se alcancem objetivos que beneficiem toda a sociedade, pois esta é uma missão que compete a toda a comunidade, num envolvimento de união, entre as várias entidades competentes e sua população. É fulcral que, cada vez mais, se criem sinergias e parcerias entre entidades de vários setores para despoletar melhorias das condições do ordenamento do território para que as acessibilidades correspondam às necessidade e as pessoas possam movimentar-se com facilidade. Continuaremos a trabalhar para algo que nos é precioso, que é a nossa cidade, pois só deste modo conseguiremos ultrapassar os obstáculos que se têm vindo a impor. Fernando Piedade Associação do Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal
“O Cerco de Leningrado” Sinopse: Este espectáculo é uma criação baseada no olhar, na acção e nas memórias de duas mulheres que vivem encerradas num velho teatro, lutando e nunca se rendendo, contra a sua demolição anunciada. “Teatro” como metáfora para tudo o que desmorona e que tem o fim anunciado por imposições tecnocratas e economicistas.
“CARACAOS” Sinopse: Quatro saltimbancos, um filosofo, o seu lobo, uma cega e um jovem no qual a sociedade fez gravar um sorriso horrendo, viajam de terra em terra numa misteriosa carroça, cenário do seu espectáculo, Caracaos. Símbolo duma humanidade destruída, entregue a vaidade e a infâmia, eles são as sementes da revolta dum povo esmagado pelo poder. A sua viagem é o principio duma marcha em frente que pretende acabar com este mundo corrupto eternamente a deriva. As personagens inspirados da obra “o Homem que ri” de Victor Hugo, deram origem a este fábula burlesca onde os protagonistas são os heróis da sua própria historia.
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A &D Arte e Decoração José Paulo B. Nobre
Pintura decorativa de interiores e exteriores - Conservação e restauro de Pintura Mural artedecoracao93@gmail.com tm: 963106106 Rua do Pincho nº 10 - 2250-055 Constância
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MAIS UMA VELHACARIA DOS NOVOS NEGREIROS os impostos forçadamente. Senão, os humilhados e oprimidos, que Os queridos governantes, resta-lhe um destino, o cárcere. tudo sustentam e laboram sem que constituem com os queridos E, para os mais pobres entre descanso para que não faltem aos capitalistas uma boa réplica dos os pobres, os senhores do mando privilegiados as mordomias que negreiros de séculos atrás, decidireservam um apoio, a sopa dos ponão prescindem. ram acelerar a barbárie bres por todo o país, uma esmola Por isso, os pobres com que esmagam diaTambém que consideram digna dos maiores e ofendidos poderão riamente o povo. aqui, há cidadãos encómios, enquanto escamoteiam ser encarcerados, se Aflitos com o pagaas razões da miséria que lançam não preencherem a mento à Troika do nos- de primeira e de entre os famintos. papelada do IVA seso descontentamento, segunda, amos e E assim vai este rincão. Um gundo ordens dos vão reeditar uma or- servos. bando de seduzidos pelo poder burocratas. Obviadenação medieval para controla tudo, não se limitando mente, os senhores das armas e nos extorquirem não os cereais, á propaganda diária semeada de do capital, que fazem as leis e as azeite, vinho e outros bens agrícoabundantes bastonaimpõem, não correrão las medievos espoliados aos camdas distribuídas entre semelhante risco. Era poneses de antanho para que os os servos. Agora já nos o que faltava, os seamos abarrotassem as suas arcas A mente metem na prisão por nhores não vão parar tortuosa dos novos senhoriais, mas sim os euros que causa dos impostos, à prisão. os ataques desenfreados dos novos negreiros não tem amanhã sabe-se lá Como bem debarões nos arrancam da carteira. limites quando se porquê. monstra o facto destas Assim exararam, tal qual os A mente tortuosa medidas carcerárias trata de manter seus antepassados senhores de esdos novos negreisó se aplicarem às e reproduzir as cravos, um novo édito absolutista ros não tem limites gentes de rendimento condições dos seus legalizando a extorsão que exerquando se trata de singular. Às empresas privilégios e da cem sobre nós. A partir de agora manter e reproduzir e seus proprietários, nossa servidão. todo aquele que tiver a infelicidade as condições dos seus em particular aquede não passar o crivo da apertada privilégios e da nossa las de maior dimensão malha da legalidade fiscal, arrisca servidão. refugiadas em paraísos fiscais e pura e simplesmente dar com os Já não nos despacham para escritórios de peritos nestas tracostados no cárcere. o pelourinho, para as plantações móias, não se aplica semelhante Mas, como lhes convém, essas das Américas e para as costas de pena. medidas não se aplicam a todos África, como os seus antecessores, A arraia-miúda que rebente a os portugueses. Também aqui, a realidade presente não o permite. trabalhar, na busca de emprego ou há cidadãos de primeira e de seNem para um novo Guantanana sobrevivência possível, e pague gunda, amos e servos. Estes são
pintura de josé paulo nobre angustia
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que não cumprem e nos saqueiam o presente e o futuro. Para esses o castigo é interdito. Não são permitidas punições aos negreiros na pátria dos negreiros.
mo, como fazem os seus mentores, pese a cruel imitação da cadeia de Monsanto. A cadeia já aguarda quem se engane no obrigatório preenchimento da papelada que assegura a pagamento de impostos dos trabalhadores. Mas nunca a prisão receberá os que nos enganam, que prometem o
José Luís Félix Economista
Economia política das prisões a emergência de práticas masO número de prisioneiros sivas de encarceramento. não pára de crescer. São cerEstes dados, e a nova atenca de 10 milhões de pessoas ção que estão a merecer cada presas para 7 biliões de havez mais dos intelectuais e dos bitantes da Terra, e portanto governantes à pro140 presos por cada cura das raízes dos 100 mil habitantes. problemas a que se A distribuição Parece pode chamar a crise dos prisioneiros ser um dado do fim do predomínão é equitativa, favorável à nio ocidental sobre Pelo contrário: há a o mundo, podem Índia com 32 presos explicação ser interpretados por 100 mil habi- economicista: o de várias maneiras. tantes, ou o Nepal encarceramento O Chile, uma das ali lado com 24, a em massa seria raras democracias Mauritânia com 26, funcional com na América do Sul ou Timor Leste com o modelo de em meados do sé20. Mas há também culo XX, foi palco os EUA com 748 ou desenvolvimento da mais conhecida a Rússia com 598. capitalista das experiência polítiSem dúvida, os pa- últimas décadas. co social encenada íses protagonistas pelos discípulos de da Guerra Fria e da Milton Friedman: a ditadura de modernização são os campeões Pinochet. Ainda hoje o Chile, do encarceramento. bem perto do Brasil, famoso É especialmente curiopela desigualdade social e so o caso da Finlândia, país pela violência associada, é o que com a queda do muro de país da América Latina com Berlim deixou de ser soviético, mais presos, junto com o Sucom altas taxas de encarcerariname e a Guiana Francesa. mento, e voltou a ser escanParece ser um dado favorável dinavo, com baixo número de à explicação economicista: o prisioneiros. A modernização encarceramento em massa senão implica necessariamente
José Carrilho, fotografo
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ria funcional com o modelo de desenvolvimento capitalista das últimas décadas. Trata-se de excluir ou conter o crescimento populacional numa fase do ciclo económico em que a produtividade e a deslocalização dispensam trabalhadores, a quem o capital recusa consi-
derar fornecer meios de subsistência aos indivíduos agora livres também do trabalho e, portanto, do consumo útil. Menos ainda quer saber das suas famílias e dos serviços sociais que as apoiam. A multidão de indigentes terá, nesse caso, de ser controlada. Por tanto
ameaçada, impedida de se reproduzir, explorada na medida do possível à margem do sistema principal de relações sociais – ao que o encarceramento longo e impeditivo de uma vida social regular parece poder bem dar resposta. Mas uma resposta imoral. Mobilizada para servir de moços de fretes no comércio ilícito de drogas, esta força de trabalho precarizada e marginalizada serve uma classe internacionalizada de transporte de drogas, armas e pessoas, para lucros de quem tenha a protecção política suficiente para beneficiar dos negócios mais lucrativos. As principais vítimas desta política são os estigmatizados – estrangeiros, negros, ciganos – porque uns são presos e outros estão no temor de serem confundidos com os presos, tal como muitos dos políticos portugueses temem ser confundidos com os gregos. António Dores Sociólogo
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Camaradas, uma história mundial do comunismo garantia de acesso à comida, habitação e emprego ainda estão por proporcionar a milhares de milhões de pessoas...É pouco provável que o comunismo regresse na forma que tinha na URSS e na China maoísta. Na verdade, a sua restauração de uma forma abrangente é certamente inconcebível. Tem sido completamente desacreditado entre a intelectualidade e o público em geral, embora seja provável que ainda sobrevivam alguns grupos de verdadeiros crentes no seio das democracias liberais. As ideologias e políticas podem sofrer mutações e espalhar-se como um vírus que é despótico por inerência ou poRobert Service é um dos nomes contraria todos os esforços méditencialmente libertador? Até que mais destacados da historiografia cos para o isolar e erradicar. Foi o ponto a experiência soviética foi contemporânea, há mesmo quem que aconteceu com o comunismo. singular? Foi um exercício político admita que ao nível do estudo Lenine e os bolcheviques trilharam original, uma verdadeira revolução da Rússia Soviética o seu nome hesitantemente o caminho para a na estrutura organizativa do Estado é imbatível, insubstituível, pela criação do seu novo tipo de Estado. e da sociedade ou um pragmatismo, qualidade da investigação e pela Este tornou-se o estereótipo para uma prática política originalidade da refleos sistemas comunistas em toda maleável que sufoxão. As suas biografias Podemos a parte; e a própria URSS sofreu cou a frio ou adaptou dedicadas a Lenine e a variações internas nas décadas talentosamente tradiEstaline são indispen- viver, hoje em subsequentes. As ideias, instituições nacionais preesáveis para entender dia, sem explicar ções e práticas totalitaristas do xistentes? Podemos não só o marxismo- o comunismo, os marxismo-leninismo tiveram um viver, hoje em dia, sem leninismo na sua ver- sucessivos golpes impacto profundo na extremaexplicar o comunismo, são soviética como a de sorte da sua direita. Lideres como Mussolini, os sucessivos golpes história mundial ao consolidação Hitler e bin Laden, detestavam o de sorte da sua conlongo do séc. XX (escomunismo. Dedicaram-se ao seu solidação ter ocorrido tão publicadas na co- ter ocorrido aniquilamento. Contudo, foram num espaço precarialecção “Grandes Bio- num espaço influenciados pelos precedentes mente industrializado grafias” de Publicações precariamente comunistas, mesmo quando o com o nome de Rússia, Europa-América). industrializado consideravam o bacilo de uma com um forte pendor E s c u s o d e m e com o nome de praga. O comunismo provou ter imperialista? Em que penitenciar dizendo Rússia, com características metastizantes. Irá divergiu o clientelismo que não se pode escontinuar vivo, mesmo depois do comunista das outras tar atento a tudo e que um forte pendor desaparecimento do último Estado ordens sociopolíticas só agora, largos meses imperialista? comunista”. vigentes? O comudepois da sua publiEsta advertência final tem a ver nismo desmoronou-se porque cação em português, é que li esta com uma questão veperdera coesão interobra capital que é uma narrativa lha e relha: os debates continental ou, muito sumária sobre o comunismo em (...) 1 ª Guerra sobre o comunismo simplesmente, por ter todo o mundo. O livro é prodigiosão tão antigos como deixado de entender Mundial precipita so pela síntese, pelo rigor da reflea teoria comunista, o que o proletariado a implosão que xão que deixa em aberto, postos que nos faz saltar para deixara de ser o que os dados sobre a mesa. Chama-se vai desencadear uma questão que não fora antes do triunfo singelamente “Camaradas, uma a Revolução de é puramente acadéhistória mundial do comunismo” da sociedade de conmica: por que é que sumo e da revolução Outubro. Nascia e pergunto-me se é possível estudar assim o primeiro houve diferentes conumérica? o mundo contemporâneo sem o munismos no mundo, Rober t Ser vice Estado comunista, conhecer. A leitura é indispensáonde falhou a sintonia adverte-nos no ter- (...) vel, é um verdadeiro monumento no internacionalismo mo da sua obra: “Os da divulgação histórica e cultural, proletário? Foi uma maldição obriimpulsos que levaram ao comuatrevo-me a questionar se não é a gatória os comunistas chegar ao nismo não estão adormecidos. Emleitura abrangente do comunismo, poder e liquidarem impiedosamenbora os antigos impérios tenham doravante de referência obrigatória te os partidos rivais? E é assim que desaparecido, persiste o domínio (Publicações Europa-América). Robert Service nos prepara para o do mundo ditado pelos interesses O investigador revela no preinício da história mundial do copróprios por um punhado de granfácio a gama de questões para as munismo. des potências. A segurança pessoal, quais pretende resposta na nossa Porque houve uma história, das as oportunidades educativas e a contemporaneidade: o comunismo
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URSS. No final dos anos 50, o coideias, antes e depois de Marx e Enmunismo é uma realidade ideogels. Por coincidência, o fervilhar lógica, económica, cultural e até intelectual sentiu-se no interior do militar. Só que no mundo ocidental mundo mais industrializado (Alea prosperidade era inquestionável manha, Reino Unido, França). Na e iniludível. Depois o conflito sinoRússia, emerge o fenómeno Lenisoviético exigiu um repensamenne, a 1ª Guerra Mundial precipita to do comunismo, os intelectuais a implosão que vai desencadear ocidentais de esquerda, depois os a Revolução de Outubro. Nascia terceiro-mundistas entraram na assim o primeiro Estado comudiscussão, apresentando-se como nista, os bolcheviques chegaram alternativa. A questão de autoridade ao poder sem qualquer preparação central do Estado iria para a nova ordem do ser o ponto de fricção Estado. É verdade que A ideologia que tornaria volátil houve poucas condiou contingente a suções para um grande estalinista premacia soviética. A debate interno, a der- vinga e mostradescolonização, o rota militar deixara se eficiente na fenómeno cubano, a sequelas gravíssimas, construção da guerra do Vietname, houve a guerra civil, os Europa de Leste, começam a escapar tumultos, os comunistotalmente às superpotências, isto tas impuseram-se pelo enquanto a internacioterror. Robert Service subordinada a nalização económica enuncia os zigueza- Moscovo. Mas gues da nova ordem, entrara-se numa se iria encontrar com uma catadupa de noa experiência impôs- nova era, era vos paradigmas que se, periclitante, o ideal o armamento irão minar as clássicomunista propagatermonuclear cas respostas do cose por outros países, munismo, e de que são serão experiências quem iria ditar exemplo: as ameaças que irão culminar em as novas regras: ambientais globais, banhos de sangue, no uma guerra a consagração dos Ocidente. Em Moscovo fria baseada no direitos humanos, a decide-se a criação da equilíbrio pelo crescente repugnânInternacional Comuterror. cia pelos fenómenos nista, a esquerda vaiditatoriais e, sobretuse dividindo em todo do, o advento da era electrónica. o mundo, comunistas de um lado, Gorbachev chega ao poder quando sociais-democratas do outro. O cotoda a estrutura económica soviémunismo mundial revela confiança, tica estava minada pelo imobilisestrutura-se na Europa, espalha-se mo e pela corrupção. O resto, é um pela Ásia e pelas Américas. Esses pouco mais ou menos conhecido anos 20 anunciam autoritarismos por todos, com a queda do Muro que se vão confrontar com toda a foi o desmantelamento, o descrébrutalidade na 2ª Guerra Mundial. dito e o progressivo abandono da O modelo soviético é definido pela ordem comunista. Remeto o leilinha de Estaline, ele será a alavanca tor para as conclusões de Robert da estratégia mundial, prestigiada e Service, e aquela advertência que temida com a vitória sobre o nazias injustiças actuais vão manter o fascismo, em Maio de 1945. A ideoideal comunista vivo a despeito da logia estalinista vinga e mostra-se total falência da sua prática desde eficiente na construção da Europa a Revolução de Outubro até ao fim de Leste, totalmente subordinada da URSS. A história poderá não ser a Moscovo. Mas entrara-se numa edificante, mas foi aquela que se nova era, era o armamento termoviveu e que determinou (e continua nuclear quem iria ditar as novas a determinar) o nosso tempo. regras: uma guerra fria baseada Por favor, ponham esta obra na no equilíbrio pelo terror. O bloco lista das urgências das próximas soviético expande-se na Europa e leituras. na Ásia com a nova ordem chinesa, a partir de 1949. Robert Service é minucioso a explicar as nuances da Beja Santos nova organização do comunismo, Docente Universitário o modo como a China não podia aceitar a liderança ideológica da
O livro que faz ver setúbal nu! Tal como veio ao mundo! Já nas Bancas!
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Boreal 05 Social Democracia em Risco? Parece que o grande problema dos partidos social democratas, hoje ,não está tanto nos objectivos que pretendem,mas em não conseguir leva-los à pratica quando atingem o poder. E é fundamental que quando o atingem, não seja para o manter só como tal , mas explicar nos que estratégias vão desenvolver para alcançar os objectivos propostos. Para outros, a questão está no pântano ideológico em que caíram. Na verdade a Internacional Socialista desapareceu da cena política desde o Eng. Guterres,e agora o mais que se fala é na Partido Socialista Europeu,aliás, com diversas sensibilidades. Mas o que é a social democracia ?Na linha dos socialistas portugueses, é a Liberdade,igualdade, solidariedade,universalidade justiça social , desenvolvimento humano e soberania popular. Voltaremos a isto no final . Outros sintetizam isto em três ideias : a igualdade entre os cidadãos , o bem estar material da sociedade, e a democracia. Ate´à década de 70 do século passado, houve um grande desenvolvimento nos países do Ocidente Norte e as desigualdades sociais dimínuiram, mas depois dos anos 80 ,com a chegada do tatcharismo, reaganismo, o neoliberalismo da escola de Chicago, começam -se a sentir dificuldades,e estes partidos não conseguem travar o crescendo das desigualdades sociais, que se iniciam nos seus países ,ao mesmo tempo que cai o Estado Soviético,que nos servia de emulação social,para provar a bondade da nossa Democracia com Liberdades. Nem Blair, nem Clinton , nem Schroeder conseguem travam essa tendência, e nos anos 2000 - 2005 com Schroeder na Alemanha , pronunciaram -se muito estas desigualdades. Começam então os sociais democratas a ser uma espécie de alinea social democrata do neo liberalismo. Com a crise económica e financeira que entretanto começou, dimínuiram as capacidades distributivas dos Estados,mas cresceram as exigências de apoios sociais, e a impotência de os resolver. Há creio por detrás disto duas
tribua pouco e menos do que proquestões importantes: uma ecomete os partidos da direita liberais nómica, outra política .A económidistribuem muito menos e favoca tem a ver com o modelo aceite, recem muito mais os detentores baseado na hipertrofia do sector do capital. Apesar da critica profinanceiro sem regulamento, da funda à partidocracia prestação do credito e á corrupçao em que fácil como motor de Mas como a muitos se viram endesenvolvimento,e na crise não passa ,os volvidos directa ou política de beneficios indirectamente,. e do dos impostos permiti- povos começaram descontentamento dos ao grande capi- a perceber que que grassa, a verdatal , e o aumento dos embora a social de é que o espaço até impostos indirectos democracia agora, está livre para que prejudicam muito distribua pouco eles se nao aparecer mais quem trabalha. e menos do fundar a Internacional Socialista ninguem a ocupa- lo , Pelo meio a globali,mas será sobretudo muito útil com um discurso vázação ,uma crise total que promete que nas eleiçoes europeias de lido que dê nova es,holística , e o ressur- os partidos da Maio-Junho 2014 apresentem um perança aos povos . gir dos chamados direita liberais candidato único para a presidenDaí que agora a sopaíses emergentes, distribuem muito cia da Comissão, e não se dividam cial democracia sinta com quem houve menos e favorecem como aconteceu antes, com os um novo fôlego com sempre dificuldades muito mais os ingleses, espanhóis e portugueses a vaga de eleiçoes que em compreender o a apoiarem Durão Barroso! Têm se aproximam e que sentido,pois a Eu- detentores do de procurar encontrar uma agenos podem trazer ao ropa e o Ocidente capital. da comum, partilhada, que tenha poder, por si sós ,ou estavam habituado em atenção as diversas culturas em alianças com outros partidos a uma hegemonia que se está politicas dos estados do Norte da ,desta vez mais á esquerda. a perder a favor deles,e nao se Europa e do Sul Mediterrânico. Em França há a esperança conformam com isso - Por ouTêm de deixar claro que não de ver eleger F. Holande ,lider do tro lado,mudanças estruturais no querem uma economia dirigipartido socialista a presidente projecto europeu, que na verdade da pelo Estado, mas da república.Trata-se limitam muito o poder democratitambem não pactuam de uma escolha de co, foram apoiadas pelos partidos Todos mais, com a economia segunda linha dado sociais democráticos . Referirei a de casino, e de capitaque o homem caris- perceberam que independencia dos bancos cenlismo selvagem como mático era Domini- para revolucionar trais, que se permitiram fazer o a que temos, e põe que Strauss Khan, ex a social desenho institucional da uniaõ em causa as próprias homem forte do FMI democracia tal europeia com as suas politicias bases da Democracia, ,que estragou a sua não pode restritivas do deficit que nos letal como a concebevida toda, com escanvam á “Regra de Ouro”, sem terem partir de um só mos. dalos sexuais ,que o mandato popular para tal . Depois Em Por tugal o tornam inelegivel por país, e que os , as concessões feitas á Comissão motores tem de P.S terá de rever a sua muito tempo. Europeia com os seus oligarcas, os politica de alianças, o N a A l e m a n h a ser a França a comissários europeus , todos eles Bloco Central definios olhos estão pos- Alemanha e a carentes de mandato popular,mas tivamente tem de ser tos nas eleições ge- Inglaterra que todos bem concertados em quesdemarcado da direita, rais de 2013 em que tões ideologicas, que passam podem dar alento e então pode ser assuse espera que o SPD mais por respostas tecnicas, do consiga um resulta- aos outros partidos mido em aliança com que politicas, e nem por isso sao a esquerda. É dificil do convincente para irmãos. responsáveis perante a Cidadaporque o PCP tem elegovernar a Alemanha nia. Não é pois de admirar qeu a gido o P.S como inimigo principal, e assim inverter-se definitivamensocial democracia tenha pago a desde o 25 de Abril,e ainda não se te a lógica da austeridade que crise de 2008 e todos os governos curou da implusão da Cortina tem sido o designio único dos desta côr tenham sido substituidos de Ferro. O BE não tem sido um partidos liberais, ou de direita. e arredados do poder,para dar interlocutor fácil, defraudando To d o s p e r c e b e r a m q u e lugar aos partidos mais á direita expectativas, que aliás, lhe fazem para revolucionar a social deque sao na verdade os verdadeiperder base social de apoio. mocracia tal não pode partir de ros promotores da crise,e os qeu Mas uma coisa é certa: o PS um só país, e que os motores tem defendem o neo liberalismo com tem de descolar e criar fortesde ser a França a Alemanha e a toda a convicção. distâncias deste Governo que é Inglaterra que podem dar alento Mas como a crise não passa , os uma extensão fundamentalista da aos outros partidos irmãos. povos começaram a perceber que Troika, em Portugal, com este Provavelmente será bom reembora a social democracia dis-
Programação
Academia Problemática e Obscura
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Dia 25 de Abril Inauguração da exposição “Arte de trincheira” no La Bohéme, das colecções da Prima Folia Cooperativa Cultural, CRL. Dia 4 de Maio Academia Problemática e Obscura, 21.30h.
Rua Fran Paxeco nº 178 . Setúbal . primafolia.blogspot.com . primafolia@gmail.com . Tel. 963 883 143
palestra ´”A greve geral de 1912”, de Álvaro Arranja
país ocupado, por fiscais tecnicos, que não olham às pessoas , mas aos números , a questões orçamentais verdadeiramente imorais, e tecnicamente erradas. Os socialistas em nome dos seus verdadeiros principios não podem continuar a pactar com tal, senão correm o risco merecido, de esvaziarem-se, ou implodir, (veja-se a bancada parlamentar, e as ameaças da UGT), e poderem dar lugar a vários populismos, todos eles muito perigosos. A assinatura do Tratado Europeu, para cumprir uma questão dita de palavra,não foi um bom augúrio. Mário Soares avisou ,mas agora têm mesmo de impor a sua nova agenda de desenvolvimento e trabalho, apesar, e até, contra politicas restritivas. Percebam que há que olhar para as novas energias alternativas, novas atitudes e processos de consumo, para a ecologia, para a criatividade da sociedade do conhecimento, para os jovens ,para Cultura, para o património histórico, lusofonia e, sobretudo, para uma agenda de Direitos Humanos que condiciona sempre os avanços democráticos, e por consequência avanços na estrutura produtiva do país. As próximas eleições locais de 2013, e as políticas de alianças que fizerem, vão ser a prova dos nove para o futuro. Já agora vamos ver como se passam em Setúbal? António Serzedelo Editor do programa de radio Vidas Alternativas anser2@gmail.com)
Dia 27 de Abril Academia Problemática e Obscura, 20h. Jantar cultural comemorativo dos 75 anos do Guernica, com palestra de António Galrinho
Dia 11 de Maio Academia Problemática e Obscura, 21.30h. Concerto de João da Ilha
Dia 18 de Maio Academia Problemática e Obscura, 21h. Debate aberto - “Há cultura suburbana?”, com agentes culturais da Margem Sul
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06 CULTURA
bém «os novos arquivos electrónicos O Arquivo e a Biblioteca nano âmbito de actuação do organismo, cionais deviam ser ligados. Não só a par do mandato explícito para dar institucionalmente mas também execução à lei que estabelece as bases fisicamente. da política e do regime de protecção e O formato electrónico pode estar valorização do património cultural, na a tornar-se cada vez mais frequente e sua vertente de património arquivístiinfluente… mas não substitui, nunca co e património fotográfico.» A segunsubstituirá, o papel, nem nunca o suda tem como objectivo perará em importância principal «proceder à e em predominância. (...) justificaria recolha, tratamento e Pelo que se deve conconservação do patinuar a assegurar que inteiramente trimónio documental as instituições que têm proceder-se à português, em língua como missão guardar integração, à portuguesa e sobre e proteger (e divulgar e fusão, do Arquivo Portugal, nos vários tivalorizar) livros e do- Nacional/Torre pos de suporte em que cumentos têm todas as do Tombo com este se apresente, bem condições necessárias a Biblioteca como assegurar o seu – financeiras e não só – Nacional estudo, divulgação e as à prossecução das suas condições para a sua fruição e garanactividades. tir a classificação e inventariação do Em Portugal as instituições com património bibliográfico nacional.» mais poderes e responsabilidades nesNão seria preciso ler estes enunta área são o Arquivo Nacional/Torre ciados para saber que as duas instido Tombo e a Biblioteca Nacional. O tuições têm practicamente tudo em primeiro tem como objectivo principal comum, diferindo apenas nas caracpreservar «documentos originais desterísticas dos objectos… em papel com de o séc. IX até à actualidade» e tam-
Ricardo Almeida, fotografo
De «A» a «B»: ABN/TT
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que costumam trabalhar. O ANTT lida preferencialmente com folhas (mais ou menos) soltas, individualizáveis, isoladas; a BNP lida preferencialmente com folhas… agrupadas em volumes. Ou nem isso. Os pontos de contacto entre ambas são pois bastantes, as áreas de intersecção – e até de sobreposição – várias. Pelo que se justificaria inteiramente proceder-se à integração, à fusão, do Arquivo Nacional/Torre
do Tombo com a Biblioteca Nacional, criando-se assim… o Arquivo e Biblioteca Nacional/Torre do Tombo. Seria uma união institucional com evidentes vantagens em termos de eficiência e de eficácia, de eventual aumento de capacidades e de racionalização de custos. Mas não só: dadas as actuais localizações de ambas, em Lisboa, a pouca distância uma da outra, poder-se-ia pensar seriamente em
também uni-las fisicamente. Estando uma na Alameda da Universidade e outra no Campo Grande, talvez fosse viável – tecnicamente, e financeiramente assim que o Orçamento de Estado o permitisse… - construir um complexo de túneis, galerias e gabinetes subterrâneos que fosse de «A» a «B», e que constituísse igualmente o espaço principal, e privilegiado, de depósito, com prioridade aos documentos e livros mais importantes e/ ou raros. Dispondo de sistemas de transporte e de comunicação próprios e modernos, embora condicionado, quase inevitavelmente, pelas linhas do Metropolitano que passam muito perto… Enfim, um trabalho, uma tarefa para os melhores arquitectos e engenheiros, e à altura do que poderia passar a ser o «templo» - e «estação», e «quartel-general» – principal da cultura em Portugal. Octavio dos Santos octaviodossantos@gmail.com
John Carpenter Vive
e anos. Na literatura. Na pintura. E no cinema também. Carpenter tem influências e admite-as. AlJohn Carpenter é uma obsesfred Hitchcock é apenas a mais são antiga e omnipresente. Uma óbvia. Mas seria Carpenter quem que habita e compõe o meu imaacabaria por inaugurar a sua forginário desde a juventude. Toda ma definitiva. Tudo aquilo que a juventude é triste. Corrijo: toda hoje em dia constitui a base do a vida é triste. Triste e trágica. E horror cinematográfico está lá. todo o escape possível desta é um Mais: começou lá, e escape necessário. A de lá seria posteriorar te é um veículo mente recapitulado propício à coisa. E John vezes sem conta em Carpenter foi – e é – Carpenter, o filmes que escapam uma artista. E como “Mestre do Horror”. à conta. O cliché de não? E como não, de John Carpenter, hoje foi uma inovação facto. de ontem. De quem? Mas, calma: quem o “Príncipe das Exactamente: de John é John Carpenter? Trevas”. Uma Carpenter. Não, não, não. De- constatação É dele a habilidafinitivamente, não. justíssima. de do “cheap scare”, O leitor não acabou o susto barato, que consiste na de me fazer essa pergunta. Um simples conjugação de elementos leitor meu nunca me faria essa – a ambiência claustrofóbica, os pergunta. Porque certamente movimentos de câmara, os jogos sabe que Carpenter é tão só e de sombra e a música que em si apenas o mestre do horror por mesma é já um aviso do terror detrás de filmes como “Halloeminente – com a propositaween” (1978), “The Fog” (1980), da intenção de desviar a nossa “The Thing” (1982), ou “Christine” atenção de modo a possibilitar o (1983). Esqueçam tudo o resto. Foi sobressalto inesperado. É a hoje aqui que tudo começou. Princivulgar “misdirection”. Bons tempalmente em “Halloween”. Óbvio pos. Simples tempos. O talento, que Carpenter não inaugurou o esse, claro, esteve sempre lá. género. Esse já existia fazia anos
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John Carpenter, o “Mestre do Horror”. John Carpenter, o “Príncipe das Trevas”. Uma constatação justíssima. Mas uma constatação redutora ainda assim. Porque Carpenter é isso e muito mais. “Escape from New York” (1981) e “Escape from L.A.” (1996) são filmes de pura acção com uma vaga notação política, que fariam por apresentar o memorável anti-herói Snake Plissken (pelo sempre excepcional Kurt Russell) ao mundo; “Big Trouble in Little China” (1986) uma divertida e preciosa aventura no ramo do fantástico, tal como o é “Memoirs of an Invisible Man” (1992) com um hilariante Chevy Chase; e o muito injustamente subvalorizado e esquecido “Starman” (1984) – um dos meus francamente preferidos – uma extraordinária e bela história de um amor improvável e, em último caso, impossível, com um sempre genial Jeff Bridges. Falei de uns. Omiti outros. Uma injustiça necessária: o tempo urge. Eis o que eu queria dizer: John Carpenter esteve ausente vários anos. O seu último filme, “Ghosts of Mars”, datava de 2001. Verdade que, no entretanto, acabaria por assinar dois episódios
Ricardo Almeida, fotografo
A Obsessão e o seu Dia
para a série “Masters of Horror”: “Cigarette Burns” (2005) e “ProLife” (2006) que, julgo, nunca chegaram a passar pelas televisões do nosso país. Felizmente a tristeza acabou. Em 2010, Carpenter assinou “The Ward” que acabaria estreado em Portugal em 2011 no “MOTELx – Festival Internacional de Terror de Lisboa”. Vi. Digo mais: vi e gostei. Muito. História simples: Kristen (Amber Heard) é uma rapariga problemática que acaba institucionalizada num hospital psiquiátrico. Colocada na ala feminina encontra quatro companheiras que, uma por uma, não tardam
a ser brutalmente assassinadas. Kristen procurará a evasão e a consequente sobrevivência. E é assim que um aparente conto acerca do paranormal rapidamente se torna num thriller psicológico. Não quero denunciar o final inesperado. Melhor ver. Melhor apreciar. Deixo apenas uma questão para ponderação: afinal, será possível fugirmos de nós próprios? Certezas, certezas, apenas uma: John Carpenter vive. Vive e recomenda-se, claro. Tiago Apolinário Baltazar t.apolinariobaltazar@gmail.com
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ABR 2012
Cultura 07 Berta Menezes de Bragança - Um Mulher de Goa.1911-1993 países do Mundo. Desejava que as incluindo o jornal de Mahatma Foi-me difícil escrever este texjovens de Goa tomassem consciênGandhi, “Harijan”. to, pois Berta Menezes de Bragança, cia do que se passava com outras Berta foi a primeira mulher de além de uma figura histórica, foi mulheres, na Índia e noutros lugaGoa a tornar-se activista política uma grande amiga. Tive o priviléres do planeta. Simultaneamente, contra o regime, fazendo parte do gio, durante o tempo que com ela iniciou um Movimento Geral para movimento cujo líder era seu tio partilhei, de receber a sua amizade as jovens discípulas, continuanTristão. Numa entrevista, Berta e amor. Assim, existe uma vertendo, durante 15 anos, este trabalho declarou: “Faço uma grande diste histórica, documentada, e uma gratuito. Entretanto, a Direcção da tinção entre o povo pessoal, de amizade e Escola foi informada por um agente e o governo Portucarinho.Seu pai, Luis Berta foi a da PIDE que aquela seria encerrada guês. Conheço muiMenezes de Bragança, por ordem do Governo, caso Berta tos portugueses com descendente da aris- primeira mulher Bragança continuasse a leccionar sentimentos nobres, tocracia indiana, es- de Goa a tornar-se na referida escola. Após 15 anos de mas que foram cocreveu sobre assuntos activista política docência, a Direcção informou-a locados à margem políticos. Tristão Bra- contra o regime (...) das ordens superiores, pelo que do desenvolvimento gança da Cunha, seu Berta seria obrigada a deixar de progressivo.”Muitos tio materno, sendo um prestar a sua cooperação. democratas portugueses apoiaaluno brilhante, discordava do ensiA partir de 1945, Berta passa vam a luta de Goa e alguns estino que, em Goa, era controlado pela a ocupar as funções de secretáveram presos, como o Dr. Baptista Igreja Católica. Foi, então, estudar ria da “Goan Youth League” e, em de Sousa, Virgínia Moura, Dr. José para Pondicherry, no sul da Índia, 1946, participa no movimento Morgado, Prof. Ruy Luis Gomes, dominada pelos franceses, cujo sisdas liberdades civis. Reivindicam Albertina Macedo e Lobão Vital. tema de ensino era secular. Depois, o fim da censura e a liberdade de Alguns deles foram companheiros segue para Paris, onde se forma em expressão. Esta luta inicia-se com de seu tio, na cadeia de Peniche.Em Engenharia e exerce a sua profissão uma palestra pública, sem autori1935 Berta iniciou a sua carreira de durante 18 anos.Regressa a Goa, zação do Governo, por um sociaprofessora, na Escola Feminina, em ainda sob domínio Português, em lista indiano, Dr. Ram Margão. Seus objec1928. Funda o “Goa Comitte”, orgaManohar Lohia, doutivos eram políticos e nização formada por jovens de Goa. Influenciada torado em economia não aceitou qualquer Berta Bragança é uma das primeipor uma universidade remuneração. Foi uma pelo pensamento ras mulheres a tornar-se sócia. Na de Berlim. No início fase muito importan- de Ghandi, História portuguesa e goesa o ano da sessão, o Dr. Lohia te da sua vida, como defendia que a de 1928 é importante, pois começa foi abordado por um mulher empenhada na educação das o regime ditatorial de Salazar. agente da PIDE, que libertação da condição mulheres, em Desde este ano, esta organilhe apontava uma pisdas Mulheres. zação integra o “Indian National todos os países, era tola. A esta provocaInfluenciada pelo Congress”, em Calcutá, com forte ção, o Dr. Ram Manopensamento de Ghan- fundamental para apoio de Jawaharlal Nehru, futuro har Lohia respondeu: di, defendia que a edu- a sua libertação e Primeiro Ministro da Índia. Era o “Estou na minha terra, cação das mulheres, igualdade social. começo do nacionalismo em Goa e, não preciso de autoriem todos os países, desde este momento, Tristão passa zação de estrangeiros”. Com esta era fundamental para a sua libera ser o “pai do nacionalismo em atitude, o Dr. Lohia é deportado tação e igualdade social. Disse: “A Goa”. para Bombaim. Tristão divulga este libertação total das mulheres só Os preparativos para a organiacontecimento através de diversos será atingida quando elas puderem zação deste movimento passavampanfletos. Ao tomar conhecimento ser Chefes de Estado”. se em casa da, ainda menina, Berta. deste procedimento, a PIDE prende Durante o tempo em que lecSeu pai não confiava nas escolas Tristão. O Tribunal Militar declaracionou, Berta foi uma excelente de Goa, por isso decidiu que Bero culpado e envia-o para a prisão professora de História e Inglês. ta e seus irmãos fossem educados de Peniche. Mais tarde, introduziu outra disem casa e que aprendessem, para Durante 8 anos, Berta e seu ciplina, “Informação e Novidades além do Português, o Francês, e marido, António Furtado, juiz em do Mundo Actual”, em que permitia o Inglês, em particular, língua de Goa e formado em Coimbra, têm a livre expressão das alunas, atracomunicação do futuro. Recebiam problemas com a PIDE, que não vés de debates acerca de aconteciem casa todos os jornais em Línrespeitava as mulheres indianas. mentos políticos dados em todos os gua Inglesa, publicados na Índia,
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Dr. Salazar, das condições da gePelo baptismo, Berta era católica, neralidade das Mulheres de Goa, mas sempre se vestiu segundo os bem como das Mulheres de Angola, preceitos da cultura indiana, usanMoçambique e Cabo Verde. Após do o sari, pelo que era considerada um exílio de 15 anos em Bombaim, uma “criada” indigna. O regime saBerta regressou feliz a Goa, enfim lazarista em Goa funcionava como libertada.Berta participou no Conuma espécie de continuação da gresso Mundial para a Paz, em HelInquisição. sínquia, em 1965, como membro da O Dia da Independência da Delegação da índia. Aí, encontrouÍndia do Colonialismo Britânico se com líderes de países africanos. foi celebrado em Goa, sob o olhar Nas primeiras atento da PIDE. Como eleições livres na Íno casal continuava a Após 15 dia, Berta foi a única ter problemas com Mulher e a primeira a PIDE, refugiou-se anos de docência, militante do Partido numa parte indepen- a Direcção Comunista a condente da Índia, onde informou-a das correr. Mais tarde, Berta visitou as maio- ordens superiores, disse-me, a rir: “Anil, res cidades do Norte pelo que Berta eu perdi. Nunca tive do país, explicando seria obrigada a esperança na vitória, as razões da luta de mas a minha candidaGoa.Em 1953, Berta deixar de prestar a tura foi um dever polífundou em Bombaim o sua cooperação. tico em representação “Free Goa”, com o fim das Mulheres. Depois disto, nunca de divulgar o sistema repressivo mais participei na vida política da naquela cidade. Este jornal exisÍndia”. D. Berta foi sempre contra tiu até à libertação de Goa, sendo o imperialismo e as tendências toenviado para o MPLA, a FRELIMO, talitárias, contudo sempre sentiu o PAIGC e, ainda, para o Brasil, Caum profundo amor por todos os nadá e Londres. A “Goa Political povos do Mundo, em especial pelas Covention”, emergiu em 1960, na Mulheres. Em 1979, Maria de Lurcampanha do Comité Nacional. Em des Pintasilgo foi eleita Primeira1961, realiza-se no Cairo a 1ª Confeministra em Portugal e Berta, em rência Internacional das Mulheres conversa com amigos, manifestou a Afro-asiáticas, para a qual Berta sua alegria, dizendo que a eleição de foi convidada como representante Pintasilgo “era um sinal da verdada luta das Mulheres de Goa. Foi deira Democracia”.O pensamento com Aruna Asaf Ali (1909 – 1996). político de Berta Menezes Bragança Antes de Aruna, nenhuma mulher está claramente expresso na sua nem nenhum comunista fora eleito obra “Land Marks in My Time” Presidente. Aruna era, desde 1958, (1992).Muito significativo da sua Presidente da Câmara Municipal de personalidade, é o facto de, tendo Nova Dehli, capital da República nascido e crescido no seio de uma da índia. família aristocrática, entre um pai Nesta conferência, Berta partianti-clerical e um tio agnóstico, cipou na secção das Colónias PorBerta se ter tornado, ao longo da tuguesas, argumentando de forma sua vida, uma figura distinta na muito lúcida. O Conselho Indiano História da Índia, através da sua para África organizou uma sessão luta pela Liberdade. em que a Rússia teve um papel importante. As intervenções de Berta Anil Samarth foram de tal modo contundentes Professor que foi convidada a visitar Moscosamarthanil@gmail.com vo, onde realizaria várias palestras acerca do regime do
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