03 . 12
NR 20
ano: 2012 . nr 20 . mês: Março . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
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Muitas vezes fomos inquiridos sobre o interesse de manter na programação cultural do MAEDS (Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal) um mês dedicado às problemáticas do género. Não realizou já a Mulher a sua caminhada até ao topo da igualdade? Não se encontra reconstruído um novo paradigma social sobre as cinzas da mistificada “guerra dos sexos”? Quando observamos o recrudescimento da violência doméstica sobre a mulher ou a sua sub-representação na esfera política, consciencializamo-nos que atravessamos um campo perigoso, ainda minado pela discriminação. E, no entanto, do universo feminino chegam-nos quotidianamente evidências de práticas excepcionais em todos os domínios da actividade humana. Em 2011, O MAEDS homenageou a luta tenaz das mulheres sarauis. Em 24 de Março de 2012, o enfoque será sobre as mulheres palestinianas e a sua luta pelo direito ao território, participando nesta jornada, entre outras palestrantes, a doutoranda da Universidade de Coimbra Shahd Wadi, e o embaixador Mufeed Shami. Ainda em Março, o mesmo museu apresenta duas exposições de artes plásticas de
autoria feminina. Uma de gravuras (19661997), de Ilda Reis, notável artista contemporânea, que entrou, qual deusa-mãe na terra, e desvendou como ninguém, o organismo secreto que pulsa no seu prodigioso coração de magma. Sobre Ilda Reis, escreve a Mestre Ana Matos, curadora da mostra Não quero ir onde não há luz: “Uma mulher comprometida com a causa da Liberdade e da Democracia, determinada nas suas convicções políticas e ideológicas, o que necessariamente se reflectiu no seu percurso artístico. O pessoal é sempre político [...]”. A intervenção artística Dias Felizes (fotografia, instalação e vídeo), de Rosa Nunes, contesta a ideia da redenção da Humanidade pelo sacrifício, e o seu Cristo no feminino, transmutado em corpo abatido de uma árvore da vida, inquieta-nos perante o sofrimento inútil. No título, pedra de fecho da abóbada do edifício desconstruído por Rosa Nunes, reside o impulso para a acção. A sua profunda ironia constitui uma poderosa arma ao serviço da transformação social. As árvores devem morrer de pé e os seres humanos, no esplendor da sabedoria. Joaquina Soares Directora do MAEDS
Ilustração Dinis Carrilho
ARTE E GÉNERO EM MARÇO