2 minute read

O Compositor e a Sua Obra | Vasco Lima

O compositor e a sua obra

Por Vasco Lima

Advertisement

A escassez de concertos em Paris, cidade onde principalmente residiu a partir de 1801, agora sob Luís XVIII dominada pela agitação política, e a impossibilidade de prosseguir a atividade em Lisboa, onde procurou reestabelecer-se entre 1817 e os meados de 1818, forneceram a Bomtempo a oportunidade para se dedicar à composição das suas primeiras obras corais sacras.

No início de 1816, publicou em Londres os “Elementos de Música e Método de tocar Piano Forte” - com exercícios de todos os géneros, seis lições progressivas, trinta prelúdios em todos os tons, e doze estudos, obra composta e oferecida à nação portuguesa.

Graças a alguns excertos da sua correspondência, sabemos que a composição do Requiem Op. 23, iniciada em Lisboa em 1817, foi concluída em Paris no segundo semestre de 1818.

No ano seguinte, a obra teve a sua primeira audição privada, estreando publicamente em Londres, em Junho ou Julho de 1819. Parece ser deste ano a dedicatória à memória de Camões, cujo objetivo, abertamente confessado, foi o de garantir o sucesso da subscrição que permitiu a impressão da partitura (em Paris, por Auguste Leduc, 1819/20), aproveitando o renascimento camoniano iniciado com a edição monumental d’Os Lusíadas promovida pelo Morgado de Mateus, em Paris, no ano de 1817. Diz Bomtempo numa carta – que escreveu a um correspondente anónimo (possivelmente a Duquesa de Hamilton): «Compus um Te Deum e duas Missas, uma das quais de Requiem consagrada à memória de Camões que, espero, me seja mais produtiva que tantas obras dedicadas a homens ainda vivos, os quais, até ao presente, não me foram de grande utilidade”.

Com o advento do primeiro regime constitucional em 1820, Bomtempo regressou definitivamente a Portugal. As audições documentadas do Requiem Op. 23 em Lisboa serviram a causa do Partido Liberal, em cerimónias cívicas largamente publicitadas na imprensa da época.

A primeira execução da obra teve lugar no sufrágio do General Gomes Freire de Andrade, a 18 de Outubro de 1821, na Igreja de S. Domingos, sob a direção do compositor. Uma segunda audição realizou-se na Basílica da Estrela, na ocasião da trasladação do corpo de D. Maria I, a 20 de Março de 1822, também sob a direção de Bomtempo.

O Requiem Op. 23 cantou-se depois nas exéquias do próprio Bomtempo, celebradas na Igreja de S. Caetano a 5 de Novembro de 1842, por iniciativa do Conservatório Real de Lisboa, que o compositor fundara em 1835 e de foi o primeiro Diretor.

This article is from: