SURGE Skateboard Magazine, issue 10

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SIGA PARA LESTE ZUKAS DE CÁ A SAGA FINAL CARHARTT RDA TOUR

SKATE NA VEIA!

RED BULL MANNY MANIA NEW YORK 2011

Número 10 - Setembro/Outubro

Bimestral

Distribuição gratuita



AURA S.A. - 212 138 500




AURA S.A. - 212 138 500



fotografia Roka

O Acordo Eis que chega a primeira Surge com o novo acordo ortográfico da língua Portuguesa, essa “ferramenta” criada para harmonizar a escrita, a leitura e preparar a nossa língua para os desafios do séc. XXI. Mas afinal, será que é mesmo só a língua aquilo de que precisamos para que essa ligação seja mais forte? Esta ideia do acordo fez-nos pensar, aqui na redação, sobre os primórdios do skate em Portugal e sobre a nossa relação com o Brasil, país que é hoje a segunda potência do skate mundial. Uma ligação que se perdeu há muito… ela já existiu. E era forte: sabiam que antes de aparecerem nas bancas as Thrashers e as Transworlds, as únicas revistas de skate disponíveis eram brasileiras? Quase que chorávamos quando conseguíamos arranjar uma Overall, não interessava se era em primeira ou quinta mão… talvez também não saibam que no final dos anos 80, antes sequer de sabermos quem era o Tony Hawk ou o Caballero, já víamos demos de skaters brasileiros como o Not Dead ou o Fernandinho “Batman”, até cortávamos a lixa como ele com símbolos de morcego... ou, até, que o nosso primeiro

podíamos continuar com muitos mais exemplos da influência que o skate brasileiro teve em Portugal, mas a verdade é que mesmo com tudo isto e com a mesma língua a nossa relação esmoreceu, para não dizer que praticamente desapareceu. Será que era por não escrevermos da mesma maneira? Não nos parece. Mais à frente nesta revista encontras um artigo sobre a nova geração de skaters Brasileiros à procura de uma vida melhor no nosso país, alguns vêm de passagem, outros para ficar, mas muitos têm contribuído bastante, ao puxar pelo nível dos skaters nacionais. Se o skate é uma linguagem universal e agora até já temos o “acordo”, é um verdadeiro desperdício se não aproveitarmos as mais valias de cada um. Como dizem os nossos irmãos: “Skate na Veia” é o que verdadeiramente interessa... acho que nisso estamos todos de acordo!

circuito nacional de skate se chamava Terra-Brasil?…

Pedro Raimundo “Roskof”

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Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127 Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Director: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Director-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com Direcção de Arte: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com Publicidade: pub@surgeskateboard.com Colaboradores: Rui Colaço, João Mascarenhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Heizman, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe

Tiragem Média: 15 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Multiponto, S.A. Morada: Rua D. João IV, 691-700 4000-299 Porto Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros Capa: Um amigo meu que não anda de skate perguntava-me no outro dia: “porque é que os skaters na revista aparecem sempre tão limpinhos e bem vestidos e quando os vemos na rua estão todos rotos e sujos?”… pois, amigo, a realidade é assim, skate é sangue, suor e lágrimas, terra, alcatrão e pele tudo misturado… vê lá os pés do Ferit Batir depois de uma skatada… bonitos e limpinhos, não é verdade? fotografia dvl

Dr. Manka-te

Do lado insular

Mais escaldante que a reentrada na atmosfera só mesmo a reentrada do nosso querido doutor… ah diz-se rentrée?… aguentem-se!

Um pequeno retrato dos skaters de S.Miguel, se não quiseres lá ir depois de leres o artigo vais ser cozinhado na lagoa das “Furnas”…nú!

Siga para Leste

Red Bull Manny Mania New York

És daqueles que pensa que a “Cortina de Ferro” é algo para decorar a casa fabricado na siderurgia nacional? Prepara-te para uma lição de história com o team da Carhartt.

Nuno Cardoso e Mikey Rourke, duas figuras em destaque na final mundial do Manny Mania.

Zucas de Cá Mais que povo irmão, são alguns dos mais inspiradores e dedicados skaters a viver em Portugal.

Onde muitos dos colaboradores da Surge escorregavam com a família de todas as maneiras e feitios há não muitos anos atrás, hoje em dia dá-se ollies para a rampa depois de limpar mato e lama durante horas. Kiko Perdigão no antigo, abandonado e degradado Onda Parque da Costa de Caparica. fotografia João Mascarenhas


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Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


fotografia Luís Colaço

CONSULTÓRIO DO DR.MANKA-TE Dá a tua opinião sobre a revista. Envia-nos as tuas ideias ou sugestões. Manda fotos de spots novos na tua zona e do rabo da tua melhor amiga… sei lá… escreve por tudo e por nada… se aqui o Dr. Mankate curtir, publicamos a tua carta na revista e se tiveres sorte, pode ser que te toque alguma coisa… Abraços e beijos na bunda. Dr. Mankate drmankate@surgeskateboard.com

2011

www.mankatetainha.com


Boas, seu ganda feio! Daqui fala o Rafa, sou de Oliveira de Azeméis e tenho 18 anos. Adoro ler a Surge, principalmente quando estou na retrete a dar uns tiros, hahaha. Estou a brincar. Acho que esta revista tem uma grande iniciativa de ajudar a crescer o people do skate e lembrar a todos que o skate é pura diversão. Eu ando de skate quando estou com o meu pessoal porque não consigo andar de skate sozinho. Skate para mim é conviver com o pessoal, rir das quedas dos outros, conhecer umas boas miúdas, ir partir os spots, fugir da bófia, ir para a esquadra, voltar ao spot onde fomos apanhados, mostrar o rabo às pessoas que passam e que começam a mandar vir, aprender toques novos, partilhar experiências de vida. Divertir-me ao máximo. Não gosto do pessoal que pensa que o skate é simplesmente competição, ou que utiliza o skate como forma de alcançar fama. A minha mãe tem uma skateshop com o nome “Backflip”. Neste momento estamos a mudar a loja de lugar. Vamos para um novo sítio mesmo bacano e estamos com alto projeto em mente, possivelmente vamos fazer um skate parque indoor, se for possível e se tivermos apoios. Já fizemos um abaixo assinado para a Câmara construir aqui um skate parque, mas já sabem como são os políticos neste país, “prometem tudo e não fazem nada”. Por isso nunca fiquem à espera dos

Lourenço o que eu acho sinceramente é que não devias andar a faltar às aulas de Português... Obrigado por teres “escrito”. Beijo na bunda meu puto. Dr. Manka-te

políticos, continuem sempre a mover-se, a mostrar que o skate é forte e nunca vai desistir. Um dos meus sonhos é fazer uma tour pelo país com o meu pessoal de skate, apoiar o skate nacional e ajudar este nosso “povo” a crescer, escrever e tirar fotos para uma revista e ser feliz. Quando quiseres vir beber um copo e conhecer umas boas pussy´s cá acima, apita. Um kiss nessa grande peida!

sou uma skater também de Almada, adoro a surge, acho que foi uma boa aposta, a revista tem imenso sentido de humor, é de destacar os textos do Pedro Raimundo que são bastante inspiradores e estão bem construídos, mas devo dizer que em relação ao grafismo da revista, no que toca à cor das letras em certos fundos, torna-se difícil de ler. À parte disso não deixa de ser uma revista brutal. Comecei a andar há um ano e hoje, infelizmente, já não tenho tanta pica como antes, não sou rapariga de fazer desporto, no entanto espero nunca desistir do skate, faço-o por diversão e dá-me imenso gozo, mas ultimamente não me tem proporcionado isso e a frustração é imensa. Como tirei um curso de realização, espero que um dia, ainda que já não ande de skate, o possa integrar na minha profissão. Conheço muitos da nova geração de skaters e é com pena que vejo que muitos deles estão a perder a humildade e só pensam em apoios. Despeço-me dizendo que o skate não é só para rapazes e é bom ver que há mais raparigas a praticá-lo. Miriam

Como é que é malandragem! Porra, deves ser da minha família ou cresceste comigo... parecias o Dr. Manka-te a escrever, meu mano! Agora deixaste-me comovido. Afinal existem por aí uns guerreiros esquecidos. Afinal não é só trampa. Afinal ainda existem verdadeiros! Deixaste-me feliz! Apetecia-me partir a televisão com o skate, ou arrear a calça e cagar no chão da sala, ou pegar fogo ao tapete da vizinha, ir comprar pão todo nú, eu sei lá... estou feliz auuuu! A tua mãe é a maior, só por ter uma skateshop. A tua família, a tua cidade, os teus amigos, as tuas amigas e o teu skate educaram-te muito bem! Estão de parabéns! Grande master és o meu orgulho! Obrigado por esta carta! Valeu. beijos na bunda Dr. Manka-te

então? come que? tasss bem, eu tenho 12 anos fiz em julho, e chamo-me Lourenço, eu faço o ollie bem, faço alto segundo o meu amigo que anda comigo, eu ando desde abril a tentar mandar flip, eu faco a rotaçao bue bem mas caio sempre com o pe de fora do skate, os meus pais tambem nao apoiam muito no skate, nao me deixam andar em casa porque dizem que faz muito barulho, e so posso andar com um amigo meu e as vezes vou pa espinho andar, mas ha poucos dias eu tive a andar toda a tarde e o flip esta mesmo quase, eu agora faço o pop mais alto e acertei tres mas mesmo assim... eu as vezes vou pa sitios que ha gajos a andar muito e ate me sinto envergonhado, que achas que devo fazer pa acertar flip? algum concelho? fica bem, o que mais gosto na revista e o Dr. Manka-te :p

Olá Dr.manka-te Chamo-me Filipe Reis e sou de Almada. Mandei-te esta carta para te dizer que têm aqui uma grande revista, de graça!!!!!! Bem sempre ouvi dizer que as melhores coisas da vida são de graça. Mudando de assunto... eu e a minha irmã Miriam andamos de skate há um ano e adoramos, mesmo naqueles dias em que não temos pica para skatar lê-se uma surge e a pica aparece como por magia. Nós normalmente vamos skatar com os nossos amigos (Gui, pulga, Eric etc..) e estou-te a convidar para um dia ires skatar connosco ;) Bem, deixo aqui o convite , fica bem Dr.manka-te e continuem com esta grande revista!!! Olá,

Olá manos. Espetáculo. Irmãos skaters e Almadenses. Gosto tanto! Almada não é assim tão grande, talvez até saiba quem vocês são. Estou curioso. Principalmente de conhecer a Miriam. Filipe, não me leves a mal, mas de putos do skate já estou eu farto, agora de meninas ainda não me fartei... Fiquei com a ideia que tu Filipe, tens mais pica que a tua irmã. Puxa por ela, não a deixes parar. Miriam, falta de humildade e apoios é uma invenção do séc. XXI, não se pode fazer muito em relação a isso. É triste, mas enfim... cá andaremos sempre para meter o dedo na ferida dessa gente. O Pedro Raimundo ficou todo excitado com os elogios e não para de se tocar... Viva o skate e vivam as meninas que o adoram! Obrigado pelo vosso apoio. Beijos na bunda Dr. Manka-te

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fotografia Roosevelt Alves texto Ruben Costa

Quando um skater pensa em deixar o seu país de origem para aventurar-se no desconhecido é porque acredita que as oportunidades estão no horizonte, e longe do alcance dos olhos. Claro que até certo ponto está correto termos isso em mente, pois acreditar num sonho é viver. E os brasileiros têm por hábito sonhar em alcançar tudo aquilo que vida possa proporcionar-lhes de melhor, desde que se trabalhe pelo objetivo. Muitas vezes quando um brasileiro é abordado em qualquer parte do mundo as perguntas estão relacionadas com mulheres e desporto, que neste quesito tem sempre como primeira opção o futebol... mas vale a pena lembrar que hoje o skate é considerado o segundo desporto mais praticado no Brasil, com mais de quatro milhões de skaters. Isto é para esclarecer que aqui, em Portugal, não é diferente de outros lugares do planeta, onde estes skaters brasileiros tentam alcançar os seus objetivos numa carreira internacional, aprendendo e mostrando um pouco daquilo que faziam no Brasil. Temos conhecimento de que muitos skaters passaram por cá e seguiram para outras linhas de um novo horizonte. Outros permaneceram por acreditarem numa oportunidade de vida melhor cá e adotaram este lugar de coração e não como uma opção. Hoje a tribo brasileira e luso-brasileira de skaters a residir em Portugal é grande e já de há algum tempo para cá que figura entre as páginas das revistas, ecrãs de computadores e outros meios de comunicação, seja como skaters, fotógrafos, ou videomakers.

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Descobrimos agora a verdadeira razão pela qual o Tanaka foi para técnico de comunicações, vejam só este spot no telhado. Flip.

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Se nos dissessem assim: “vimos um swicth crooks do Bruno Javaz mesmo ao lado de três ovos vermelhos e com braços” não acreditávamos…

Um dos pioneiros chegou a Portugal no ano de 2002 e até hoje trabalha num local em nada relacionado com a área do skate – como sabemos da dificuldade de se viver 100% do skate propriamente dito, mais de 99% dos que cá estiveram, ou estão, exercem atividades paralelas, para que possam manter-se no país e a praticar descontraidamente, ou em campeonatos – Roosevelt Alves é figura conhecida entre todos os praticantes como sendo skater/fotógrafo/videomaker, um dos que ajuda a impulsionar o skate em Portugal de forma a não haver discriminações quanto ao praticante que é capturado pelas suas lentes, fazendo propagar aquele “moment” para a eternidade. As dificuldades por que este skater passou, do início até aos dias de hoje, nunca foram suficientes para lhe tirar o foco das rodinhas e não tardou a notar que poderia fazer mais do que praticar, começando a desenvolver outras atividades que pudessem deixar registados os momentos de felicidade que o skate proporciona na vida de todos os que o vivem.

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Conseguir um patrocinador é uma dificuldade extra que enfrentamos. Encontrar quem acredite que podemos fazer a diferença é difícil. Por vezes a única coisa de que precisamos é ter alguém que dê condições básicas para ter um bom equipamento, sem a preocupação de ter que comprá-lo. Alguns conseguem este status, mas nem sempre é o suficiente... Dizer que Portugal é um paraíso para skatar seria errado, tanto mais tendo Espanha como vizinha, (Barcelona é considerada pelo mundo do skate como a “Meca” para esta prática), porém não podemos deixar de salientar que aqui também temos inúmeros spots onde se pode skatar em condições perfeitas. Com a devida exceção à calçada portuguesa... temos aqui todo tipo de spots, só não temos assim tanta fartura... mas se mesmo com o que temos já dizemos “presente” no cenário mundial do skate, imaginem se tivéssemos a quantidade de locais que há no quintal do vizinho! Já no que respeita a skate parques, temos excelentes locais para uma prática segura e evolutiva.


Diogo Smith num nosegrind, ou se trocássemos… Diogo Nosegrind num Smith… é que dá ter nome de manobra de skate.

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O Doutor Ricardo Goshima (Dentista-Japa), oriental de fisionomia e brasileiro de nascença, tem entre as suas práticas desportivas o snowboard e o skate, com um estilo agressivo, “rebentando os coopings” de bowls e mini-rampas por onde passa. Podem conferir isso mesmo os mais assíduos dos skate parques do Ski Skate Amadora Parque e do Bowl do parque Ilha Mágica. Fábio Neves (Tanaka), chefe de vendas da TV Cabo, é o que podemos chamar de um guia virtual de spots em Lisboa e é talvez aquele que está mais familiarizado com os dias e noites em Portugal. Pelo seu vasto conhecimento da área geográfica, tem sempre em mente muitos locais para skatar que poucos conhecem. Quando não está a tirar fotos de street, está no indoor da Amadora logo pela manhã, para poder ganhar ânimo e enfrentar mais uma jornada de trabalho, que termina com um ginásio e uma sauna... boa vida, heinnn?!!!!. Desse pioneirismo de skaters vindos do Brasil atrás de aventuras, de um estilo de vida que lhes proporcione liberdade e de condições melhores para a prática daquilo que mais amam na vida, chegou também Roberto Martins (Poleão), que, como todos os dessa geração, mantém um trabalho paralelo para poder andar de skate. Mesmo depois de muitos anos em Portugal com pouco tempo para o skate, conseguiu manter técnica e base, continuando a dar trabalho aos “putos” nos campeonatos, - pudemos vê-lo, por exemplo, na 2ª edição do Baam Slam - mesmo não sendo esta “a sua praia”. O seu estilo é o da rua e com muito switch... também ele contribui para a divulgação do skate com as suas filmagens.

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O André Costa “Def” é um verdadeiro playboy brasileiro, vejam só as estátuas a derreterem-se todas com este flip… sexy!

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Uma das características do skater brasileiro é o pop. O Wagner não deixa mal os seus compatriotas, Nollie frontside heel

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Thaynan Costa, hardflip no “gap” bancário mais famoso de Portugal a seguir ao buraco do BPN.

Já se sabe que um dos locais mais frequentados por skaters em Lisboa é a Praça da Figueira, onde fica o monumento de D. João l... lá poderemos sempre encontrar um brasileiro a divertir-se nos curbs, gap e no flat. Fazem do skate uma verdadeira forma de vida, sem esquecer as responsabilidades que acarretam ao estar longe da família e a depender deles para se manterem aqui, trabalhando com seriedade, mas acima de tudo podendo divertir-se. Este local marcou o início no skate de Felipe Martins, que mostra já uma grande evolução, com uma boa base no street, embora já não seja presença muito assídua na Praça, por estar agora a residir em Odivelas, assim como Fernando Klewys, que além de skater é técnico ótico e vocalista da banda On Your Knees. Aliás, temos a certeza de que o que não falta é atividade a estes skaters de coração. Talvez se falássemos de outro desporto já houvesse “baixas”, mas o skate é, acima de tudo, persistência – nunca se desiste, mesmo em circunstâncias desfavoráveis, ou quando os obstáculos são grandes demais... Na verdade, dificuldades é o que não falta a muitos destes skaters, que estão longe das suas famílias e que não podem arriscar ficar doentes, ou magoados, consequência de uma manobra mal dada. Mesmo assim estão presentes e atiram-se para um “bom click” ou lente de câmara de vídeo, este é o espírito que une estas pessoas. O (Sushiman) Henrique Marzano e o luso-brasileiro Luís Guilherme são dois exemplos de skaters técnicos sempre a deixar as suas marcas pelos spots de Lisboa. Faltou-lhes também apoio para se dedicarem exclusivamente ao skate... desde que desembarcaram em terras portuguesas passaram por muitas situações inusitadas. Em comum têm a superação das dificuldades e o skate no pé, por isso temos que dar os parabéns a estes guerreiros: eles não podem viver do skate, mas também não podem viver sem ele. No Brasil existem muitas regiões com particularidades e identidades próprias no skate, e o sul do país caracteriza-se por ser considerado uma espécie de incubadora desse movimento, com constantes aparições de grandes nomes no cenário brasileiro e mundial, como Luan de Oliveira (ninguém vai dizer que não conhece, pois não?). Recentemente chegaram a Portugal dois grandes nomes vindos deste local: o Bruno Javaz e Wagner Cabeça. Não são especialistas em campeonatos, já passaram essa fase, atualmente são a versão pura da rua, o puro sangue do street, com muito pop e manobras em curbs que poucos alcançam. Até chegar a este nível de técnica vocês sabem que são precisas muitas quedas e, por vezes, algumas pernas partidas. Acredito que o mercado hoje está mais recetivo aos skaters brasileiros, que também dão o seu contributo, fazendo aumentar o número de praticantes em Portugal. Quem sabe possamos ter num futuro breve vários representantes no cenário internacional. E há, já, uma geração de skaters brasileiros e luso-brasileiros que estão a fazer-se notar. É o caso de Diogo Smith, que chegou a Portugal em 2007 e já mostrou ao que veio: venceu “de caras” o primeiro campeonato em que participou, em Torres Vedras, obtendo a visibilidade necessária para conseguir os primeiros patrocínios e estar presente em tours, campeonatos e para conhecer vários lugares... tudo por ter convicção e por correr atrás daquilo que o fez atravessar o oceano... nestes últimos anos é figura constante nas revistas especializadas, com fotos que impressionam pela técnica apresentada nas ruas de Portugal e com bons resultados em campeonatos. Ainda este ano espera poder participar, também, nas suas primeiras provas internacionais, que são privilégio de poucos skaters residentes aqui em Portugal. Temos também o exemplo de dois luso-brasileiros que ajudam a propagar o skate de Portugal pelo mundo: o André Costa (Def) chegou a Portugal em 2008 com o intuito de terminar a faculdade e andar de skate por diversão. Foi a sua evolução que fez com que, em 2010, tivesse a sua primeira participação internacional,

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Este corrimão em Alfragide já viu muitas boas manobras, mas suspeitamos que ainda hoje está de queixos abertos com este flip do João Bravin.

no Volcom Amsterdamn Am e conquistasse os primeiros patrocínios... daqui para frente é correr atrás de melhores condições para continuar a crescer, já que para fazer estas viagens depende do seu trabalho e da ajuda dos pais, além de acumular a função de guitarrista na banda On Your Knees, que anda pelo país em concertos; e o skater Thaynan Costa, que chegou a Portugal também em 2008 para ser somente skater. Depois de vencer nas categorias de base alguns dos principais circuitos de skate no Brasil, traçou o objetivo de fazer carreira internacional. Mesmo muito novo sabia o que queria e com o apoio dos pais conseguiu construir uma base sólida, que só vem crescendo com os resultados positivos obtidos a nível nacional e internacional. Atualmente é o único skater vindo do Brasil que vive exclusivamente do skate. Com muito empenho e determinação, este jovem skater conquistou patrocinadores que hoje lhe proporcionam condições para poder skatar diversos spots no mundo e participar em campeonatos... para 2012 a tendência é aumentar o seu conhecimento geográfico e fazer muitas amizades por onde passar. É um dos skaters nacionais que contribui para que Portugal tenha o respeito merecido nesta modalidade. E Portugal também já se faz notar em terras brasileiras, em de publicações especializadas, internet e televisão... E já agora, chegaram recentemente ao país Ester Perussi, João Miguel Bravin e Igor Smith, mais três skaters que vieram para conhecer os spots e que num curto espaço de tempo já mostraram um pouco daquilo que o Brasil exporta, e até com fartura, que é bom nível... Os skaters brasileiros têm muitas características que falam por si, mas à sua chegada a outros países duas sobressaem: a simplicidade e a humildade. E é assim que conquistam o seu espaço. A interação dos skaters brasileiros com os portugueses vem contribuindo positivamente para o crescimento de praticantes, simpatizantes e, principalmente, para o aumento do nível de ambos os países. Todos ganham. E que no futuro as portas dos patrocinadores estejam mais acessíveis a estes e a novos skaters que venham a aparecer para contribuir, pois

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o mercado é imenso e tem espaço para todos. Skate or Die!!!


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RED BULL MANNY MANIA NEW YORK texto e fotografia Roskof

Novas tecnologias, barracas à antiga… foi o que pensei quando dei por mim a desperdiçar uma foto com o Mickey Rourke num bar em Nova Iorque. Ali estava o boss de “Sin City” e um dos meus ídolos desde que vi o “Nove Semanas e Meia” com a Kim Basinger, na altura em que os pais chegavam a casa e perguntavam o que estávamos a ver no velhinho vídeo e respondíamos todos corados que estávamos a ver “um filme de guerra”, pois… A verdade é que tinha deixado a película a proteger o flash do smartphone e a foto saiu toda rebentada, é que nem no photoshop deu para safar. Frustrado, lá segui para o meu hotel de 5 estrelas em Nova Iorque, onde lavava os dentes a olhar de frente para o Empire State Building. Ah, ainda não vos disse como fui parar a este refúgio luxuoso em plena baixa de Manhattan? Tenho que agradecer aos nossos amigos da Red Bull pelo convite para acompanhar o Nuno Cardoso à final mundial do Manny Mania. Nos dias seguintes iria realizar-se a final mundial de amadores e o vencedor teria a oportunidade de disputar com os pros o título de rei do manuals.

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Depois de no ano passado a chuva ter causado algumas dificuldades, a Red Bull decidiu realizar a prova por baixo de uma tenda instalada por baixo da Manhattan Bridge – mais vale prevenir que remediar (!), apesar de a tenda causar algumas dificuldades aos fotógrafos em termos de luz. Duplamente abrigados, ali estavam os representantes dos 32 países que participaram nas qualificações do Manny Mania – eu até vos dizia os países todos mas o jetlag notava-se e isto de ter bar aberto logo à chegada ao hotel tem muito que se lhe diga, não me consigo recordar de todos os países. Eram muitos! O Nuno Cardoso é que já conhecia grande parte dos skaters, depois de também ter representado Portugal na final europeia do És Game of Skate, em Paris. Por isso sentiu-se logo em casa. Mais do que um campeonato, aquilo parecia um encontro de amigos. Estão a ver os “jamborees” mundiais dos escuteiros? Mais ou menos a mesma coisa mas sem aquelas pregas nas saias e meias com folhos. O grande favorito Sewa, da Holanda,

não deu grandes hipóteses e qualificou-se para disputar a prova de domingo com os pros. O Nuno Cardoso, após a sua prova disse-me… “aqui parece que as coisas são mais fáceis”... e pareceram mesmo, andou bem na jam e na minha humilde opinião poderia ter sido um dos escolhidos para os 8 finalistas (este é o meu “bitaite” à treinador de bancada, também tenho direito ou não?). Até o Chris Nierakto, lusodescendente e colaborador da Skateboard mag, tentou convencer os júris de que o Nuno devia passar, mas sem sucesso. Se calhar não gostaram que ele tivesse agarrado nas folhas de júri e desatado a correr para se esconder atrás do mega-camião da Red Bull… um verdadeiro ato de patriotismo! Não resultou, mas foi uma tarde bem passada… até decidirmos ir a pé para o hotel e passar por Chinatown, os meus colegas asiáticos que me perdoem mas aquela zona tinha um odor estranho, não me perguntem o que era e se sabem, por favor, não me digam! Meu rico bacalhau com grão.

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O Joey Brezinski inventou este formato e levou o troféu para casa… assim também nós… só nos falta aprender a dar frontblunt fakie nose-manual flip out

Nessa noite ficamos a conhecer o Red Bull Space, o clube privado da marca em NY, onde o Zered Basset iria dar uma festa e expor algum do seu trabalho fotográfico. Não quero ser tendencioso, mas a melhor foto dele foi tirada em Portugal quando ele visitou o país com a mulher e a filha. Claro que, depois de entrarmos no ambiente da festa, eu e o Nuno mostrámos a toda a gente essa foto e convidamos cerca de 300 pessoas a visitar o nosso país, oferecemos casa, comida e roupa lavada, tuga style sabem como é! Só espero que não venham todos ao mesmo tempo!

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Nessa noite ainda houve espaço a battles de break, piruetas e mortais (quase no sentido literal). Curiosamente, no dia seguinte estávamos frescos que nem umas alfaces e ainda bem, antes da prova dos pros queríamos aproveitar para um bocadinho de turismo à maneira antiga, se bem que nos fartamos rápido e decidimos ir até à Manhattan Bridge acompanhar a prova dos pros e do nosso amigo Sewa.


O Sewa tem um nome tรฃo estranho como as manobras que dรก. Flip nose-manual nollie frontflip out...

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Os spots de Nova Iorque são assim... este manny pad têm mais buracos do que queijo suíço passado por uma kalashnikov russa com balas chinesas… New York, a verdadeira capital multicultural! Nuno Cardoso nose-manual flip-out

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Nuno Cardoso halfcab-crooks por baixo de um túnel ao pé de uma ponte com um homem a olhar para o rio, outro a olhar para ele, um fotógrafo, o céu estava azul, a humidade nos 80% e por aí em diante…

A expectativa era grande, será que o amador ia mostrar-lhes como se faz? A batalha pelo primeiro lugar foi difícil, afinal estavam lá o inventor da prova Joe Brezinsky, Ronnie Creager, Dennis Buzenitz, David Gonzalez, Kenny Anderson… sei lá, usando uma expressão tipicamente portuguesa em inglês “they were more than the mothers”. No final o Joey consagrou-se novamente rei do Manny Mania mas, supresa, o Sewa ficou em segundo e levou para casa uns belos 5000€ e mais uns gadjets da moda. Como diz o ditado: só na América! Por falar nisso, só mesmo na América é que temos que dar gorjeta por lei, mesmo que tenhamos pedido um prato, tenha vindo outro diferente, que a empregada nos

tenha despejado o sumo em cima e nos tenha dado duas facas para comer… foi o que nos aconteceu em Times Square na última noite... ainda por cima, deve ter achado a gorja pouca, ainda nos perguntou se não tínhamos gostado do serviço… fazendo minhas as palavras do nosso Dr.: Manka-te! No dia seguinte, despedi-me do Nuno e, depois de o avisar para não comer nada em Chinatown, onde ele iria ficar ainda mais dois dias com o skater de Itália Francesco, rumei à velha Europa… na bagagem boas memórias e a frustração de não ter a foto com o Mickey Rourke… o que vale é que tinha uns filmes de “guerra” da Kim Basinger no pc.

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texto Lars Greiwe fotografia dvl

CARHARTT RDA TOUR 2011

Tenho que admitir que a decisão de fazer uma tour da Carhartt na Alemanha de Leste foi bastante egocêntrica. Há já longos anos que sentia o desejo de viajar até ao território anteriormente conhecido como DDR [Deutsche Demokratische Republik], RDA, República Democrática Alemã, e partir à descoberta de uma parte da história do país onde nasci. Apesar deste “chamamento” ser forte, o distante e desconhecido acabou sempre por levar vantagem sobre o que estava mesmo aqui à porta. Viajei pelos Balcãs, Rússia e Mongólia antes de, finalmente, fazer as malas para partir à descoberta da Alemanha de Leste...


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Muki Rustig - pole Jam

Tinha cerca de 13 anos quando caiu o muro, em 1989, dois anos depois de ter começado a skatar. Estava tão possuído com o skate... e consumia tudo a que conseguia deitar as mãos – os poucos vídeos que havia estavam apenas disponíveis em VHS, o que era apenas para gente rica; e as revistas custavam dinheiro, coisa que obviamente não havia. Através de alguns amigos consegui algumas revistas antigas e li-as de A a Z. Recordo em particular um artigo da Monster Skateboard Magazine em janeiro de 1988 em torno do campeonato europeu em Praga, na então Checoslováquia. Tinha uma entrevista com um skater de Berlim do Leste chamado Marco Sladek. Marco falava do cenário na RDA e de como aquilo era pequeno: talvez houvesse à volta de 30 pessoas em todo o país (tantos quantos éramos nós na pequena vila, na parte ocidental, onde eu vivia na altura), e de como era absolutamente impensável comprar quaisquer tábuas, porque custavam 4000 marcos, o que representava metade do salário anual de qualquer trabalhador na RDA. Por isso, eles tinham construído as suas próprias tábuas com o material que tinham disponível: trucks minúsculos de patins e bocados de madeira. A única hipótese de conseguir uma tábua de fora era sendo oferecida por alguém do lado ocidental, coisa que era extremamente difícil. Contudo, o seu discurso era altamente otimista, não se queixava da situação, estava única e exclusivamente dedicado ao skate. Passo a citar a última linha da sua entrevista: “O skate para mim significa liberdade. É um sentimento de ser livre. Todos os problemas do dia-a-dia que tens – e há muitos – simplesmente desaparecem quando andas pelas ruas com o teu skate a fazer uns ollies e uns boardslides. Esqueces todos os teus problemas, pelo menos em mim tem esse efeito. E é ótimo conhecer outras pessoas de outros países (...) o skate para mim é um mundo sem limites e sem estruturas sociais. Skateboarders do mundo unite!!!” Todo este positivismo atingiu-me como um raio. Tinha ido à Alemanha de Leste quando tinha 5 anos, mas na altura só pensava em doces e brinquedos e não percebia porque motivo as pessoas aparentavam estar tão zangadas quando passávamos a fronteira. Em 1989 eu ainda era muito novo, mas considero a leitura desta revista como a minha primeira tomada de consciência da situação de vida na Alemanha de Leste e passei muito tempo a pensar sobre isso. Quando somos miúdos estamos só preocupados com o material mais fixe e queremos ter sempre a última merda que aparece nas revistas. Por exemplo os trucks tinham que ser verde-neon Gullwing Magnesium e não simples Indys prateados. E mesmo aqueles que pertenciam a famílias mais pobres no nosso meio conseguiam arranjar sempre maneira de arranjar estas merdas. Podia até ser a tábua usada de um amigo, mas fosse de que forma fosse tínhamos sempre acesso a material decente. Depois, passados 2 anos de ter lido esta entrevista, caiu finalmente o muro, a Alemanha foi reunificada e deu lugar a um novo capítulo nos livros de história. Que é também um novo capítulo na história do skate na Alemanha.

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Christian Petzold - nosebump

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Ferit Batir - smith grind

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Christian Petzold - nollie bigsping new deal

No que respeita à situação da Alemanha de Leste, aqui fica um pequeno sumário daquilo que aconteceu antes: Quando a Alemanha Nazi de Hitler foi derrotada em 1945, os países vencedores, da Aliança, que eram a Inglaterra, os Estados Unidos da América, a França e a Rússia, dividiram a Alemanha em quatro zonas distintas de ocupação, cada uma delas sob a alçada de cada um dos Aliados. A única exceção foi Berlim, que era governada por um conselho de todas as quatro potências e que mais tarde se tornou numa ilha ocidental dentro do território de Leste. Passada a euforia do fim da guerra tem início um processo que, mais tarde, ficaria conhecido como Guerra Fria: conflito entre a super-potência de leste, a então URSS, e a do ocidente, liderada pelos Estados Unidos. A Guerra Fria teve por base fraturantes diferenças ideológicas, em termos políticos, económicos e

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sociais entre o leste e o ocidente. E a Alemanha transformou-se num dos principais palcos deste conflito. Em 1949 as super-potências do ocidente unificaram as suas três zonas de ocupação, zona que passou a ser chamada de BRD [Bundesrepublik Deutschland], RFA, República Federal da Alemanha, e instauraram um governo democrático – os Russos, por seu lado, tomaram a sua zona de influência e criaram a RDA: curiosamente, apesar do nome – República Democrática da Alemanha – a Alemanha de Leste não tinha um governo democrático, mas sim autoritário controlado pelo regime socialista de Moscovo. Ou seja, aquilo que fora anteriormente um país, uma nação e o seu povo, acabou dividido em duas partes inimigas. A Alemanha de Leste contra a Alemanha Ocidental, o comunismo versus a democracia, socialismo versus capitalismo, alemães contra alemães, irmãos contra irmãos.


Ferit Batir - frontside Indy

A 17 de junho de 1953, apenas 4 anos após a fundação da RDA, grande parte da população de leste fez greve e deu início a uma série de protestos em prol da liberdade de escolha, de expressão e do direito a melhores padrões de vida. Povo de todos os géneros, de diferentes camadas sociais, não apenas da classe operária. Os russos mandaram avançar a sua força militar e suprimiram os protestos violentamente... 55 pessoas foram mortas, centenas enviadas para campos de trabalho forçados na Sibéria [Gulag] e milhares foram presos.

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A situação levou cada vez mais e mais pessoas a fugir da RDA. Em 1961 o número chegou aos 2,6 milhões. Como resultado, a RDA decidiu acrescentar algo mais aos já existentes 1400 quilómetros de fronteira, algo que ficou conhecido como “a zona da morte”, com minas, arame farpado, com vigilância apertada de atiradores; é erguido o “Berliner Mauer”. O muro que dividia Berlim Ocidental de Berlim de Leste torna-se o derradeiro símbolo da “Cortina de Ferro”, a fronteira que dividiu a Europa em dois durante a Guerra Fria até à queda do muro,

em 1989, na sequência de protestos pacíficos de cidadãos. O número de refugiados chegou a 3,5 milhões (!). Cerca de 1300 morreram enquanto tentavam escapar. Os métodos para a fuga da RDA ultrapassam a imaginação: desde a clássica escavação de túneis, a passeios de balão improvisados, até “cavalos de Troia”, a lista é infindável. Houve quem ansiasse por um trabalho como “controlador de fronteira” para ter mais facilidade em escapar...

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Quanto à vida do dia-a-dia não é difícil imaginar... aquele que costumava ser o teu irmão ou amigo da porta ao lado, que partilhava contigo a mesma história e as mesmas raízes, foi oficialmente declarado como teu inimigo. Na parte ocidental aprendes inglês, o teu irmão, no leste aprende russo. É erguida uma fronteira e deixas de poder comunicar livremente. Todos os bens de consumo, como comida, roupa, etc., são feitos, produzidos e distribuídos sob as regras do governo. Todos os media, televisão, rádio e jornais, estão sob alçada do governo e apenas informam sobre aquilo em que o governo quer que tu acredites. O mesmo acontece no ensino. Qualquer voz interpretada contra o governo ou as suas determinações é censurada e o seu autor vítima de perseguição politica ou, até, prisão com tortura ou penas de morte. Mas a propaganda contra o “inimigo” teve lugar nos dois lados. O leste amaldiçoou o ocidente e vice-versa. As pessoas com ideologias socialistas foram perseguidas no ocidente, tal como o foram aquelas cujas tendências eram democráticas no leste. Foi uma guerra sem campo de batalha. Outro aspeto incontornável da vida na RDA foi a criação da STASI, um sistema de vigilância e controlo extremamente eficiente. As pessoas espiavam-se umas às outras em prol do partido SED [Sozialistische Einheitspartei Deutschlands], Partido Socialista Unitário. Muitos deles eram coagidos socialmente a ser espiões (quem não pertencesse à STASI não tinha acesso a determinados trabalhos), outros por questões ideológicas ou simplesmente por favores pessoais. Números oficiais quantificam em cerca de 25 mil as pessoas a trabalhar para a STASI em 1988, números não oficiais reivindicam o número além do milhão. A jurisdição da RDA tinha todos os direitos. As normas eram vagamente formuladas, de modo a poderem ser interpretadas pela polícia da forma mais conveniente. Havia penas para crimes como “influência negativa na estrutura social” por exemplo, o que podia englobar o que quer que fosse. Dar ouvidos a algum media ou linha de pensamento mais crítico originários do ocidente era estritamente proibido e punido assim que detetado. Por outro lado o governo tinha que disfarçar os sinais de opressão e censura. Autointitulava-se mente aberta e moderno, pelo que deixavam algum “espaço” à cultura, o que tinha como objetivo levar a população a pensar que vivia no lado certo do país! Um fenómeno juvenil como era o skate, por exemplo, provavelmente poderia ser encardo como “crítico”, já que veio dos Estados Unidos, mas por outro lado, rolar num pedaço de madeira com 4 rodas não pareceu assim tão perigoso ao regime. Assim, o skate conseguiu seguir o seu percurso pela Cortina de Ferro e foi “tolerado”, embora o termo oficial usado nos media tivesse que ser “Rollbrett” tradução livre em alemão para skateboard. Os skaters puderam criar um “rollersport-club” e ainda podiam usar determinados locais para skatar, como campos de basket, sendo que deste modo o partido único poderia mantê-los debaixo de olho. Pouco tempo antes da queda da cortina chegou mesmo a haver um skater “made in RDA”, descrito pela maioria dos skaters como “disfuncional”.

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Phil Swijzen - front blunt

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Tom Derichs Julian Furones nollie Backside 50-50

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Jan Kliewer - backside wallride

Haveria muito mais a contar acerca de como as coisas se desenrolaram após a reunificação, ou ainda todos os detalhes de como correu a nossa tour, mas isso é outra história. Quero apenas dizer isto: VÃO PARA LESTE! Lá as pessoas não estão à espera que as coisas lhes caiam do céu, a sorte são eles que a constroem. É por isso que está a palpitar cultura... entre bares e restaurantes encontramos cinemas independentes, galerias... podemos encontrar toda a variedade de arquitetura perfeita para skatar, desde os street spots mais rough da era socialista, a novíssimas plazas com curbs em mármore, desde parques construídos pelo Estado, a projetos DIY nos quintais. Alguns no meio de nada, mas a maioria nas grandes cidades, tal como no resto do mundo. Os “locais” vão receber-vos de braços abertos

e a maioria das pessoas na rua vai ficar excitada com a vossa presença; nada como no Ocidente, onde o avistar um grupo colorido de skaters produz uma atenção mais negativa. Quero deixar um especial obrigado ao guia da nossa tour, Christian Petzold por ter-nos tratado tão bem, Andreas Menz por dar-nos abrigo e deixar-nos skatar na rampa do seu celeiro, ao Kevin e ao Ronald do Full Force Festival, ao Tom, à Luise e a todos os residentes em Dresden e a todos com quem nos cruzámos, por todo o apoio e grandes momentos.

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Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


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texto e receita Sílvia Ferreira fotografia João Mascarenhas Podemos dizer que desta vez o marisco não nos passou despercebido, embora tenha acabado por passar-nos ao lado: perante várias ofertas para mariscadas com valores mínimos – e com marisco ao mesmo nível, suspeitámos nós – respondemos com uma enorme variedade de hambúrgueres (diria mesmo que em 4 dias em Vigo atingimos o limite de hambúrgueres que devia ser estabelecido como o máximo a ingerir durante um ano...).

Olhem-me só para a cara destes caramelos, a sério olhem bem… duas, três vezes se for preciso…tugas em Vigo… sem comentários! 2011


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Por falar em culinária, o Alexis para além dos backside overcrooks shove-its também faz umas belas patuscadas.

Em compensação, este ano não tivemos problemas com gruas para reboque de autocaravanas mal estacionadas, banhos frios, ou falta de água, ficámos muito bem instalados num quarto gigante – tão grande que, apesar de ser para duas pessoas, albergou seis (a crew inicial: câmara, fotógrafo e jornalista, o Alexis Santos e o Ricardo Ferreira, chegados da Benedita às tantas da noite e sem a mínima pista quanto a sítio para pernoitar e, no último dia, o Pedro Freire, de Aveiro). O “albergue” estava muito bem equipado: com internet, água e peixinhos a vaguear num plasma pendurado na parede... só faltava mesmo um aviso à entrada com uma inscrição que dissesse: “aqui vai treinar-se a arte de passar 3 noites sem dormir”: fosse pelo tempo que levava a impor silêncio às crianças... (lembram-se da primeira vez que dormiram em cada dos vossos amigos? Pois este grupo nunca tinha tido essa experiência até esta viajem a Vigo! O engraçado é que assim que se conseguiu manter toda a gente calada, a juventude levou no máximo 3 segundos a adormecer, exceto eu que ainda estava em stress com tamanha euforia – era capaz de ser chato se os vizinhos do quarto ao lado fizessem queixa, tendo em conta o excesso de gente naquelas 4 paredes...); ou fosse porque a meio da noite havia quem tivesse insónias e se lembrasse de fazer longos passeios pelo quarto, ou, ainda, porque houve quem fizesse ruídos semelhantes a um motosserra 2011

a cortar troncos de carvalho para a construção de uma urbanização de casas pré-fabricadas. Mais um detalhe: o hotel ficava na ponta oposta da avenida onde se realiza o Marisquiño, (a uns 3 ou 4 quilómetros), trajeto que calcorreamos várias vezes por dia... teve as suas vantagens: além do exercício físico, deu para reencontrarmos algumas caras – e pernas – conhecidas do ano anterior: estas mais no período da noite... é a nossa sina... Constrangimentos à parte, falemos de oMarisquiño. Mais uma vez conjugou da melhor forma uma panóplia imensa de campeonatos em diferentes modalidades, (skate, b-boying, bmx, motocross frestyle, mountainbike, parkour, graffiti...), este ano com introdução de algumas novidades. Desde logo, a quadra de skate, que mudou de local para a Praza Estrela, um street spot por excelência, devidamente adaptado para o campeonato, que, além de ter ganho a independência da quadra de BMX, para regozijo dos skaters colocados nos 3 primeiros lugares da categoria Open cresceu o prize money até aos 3000€ para o primeiro lugar, 1500 para o segundo e 750 para o terceiro! Já sabem que o 3º lugar foi direitinho para as mãos do Ruben Gamito, o que provavelmente não saberão é de como, ainda assim, o campeão nacional português em título veio de Vigo com saldo negativo!


Alô! Está lá! Rodrigo Albuquerque, o único skater português patrocinado por uma marca de telemóveis num noseblunt… até já!

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Só podemos dizer que envolveu um portátil de um grande amigo, uma cadeira e um ataque fúria causado por uma carteira perdida... na nossa opinião, a culpa foi da chuva que não deixou que se realizassem as finais da categoria Open, já que achamos que estava tudo encaminhado para trazer uma ainda melhor classificação para Portugal. Já nos Amadores, Jorge Simões trouxe o primeiro lugar para casa e Pedro Carreira subiu ao segundo lugar do pódio. O nosso câmarafilósofo-agora-também-adivinho bem ia dizendo ao longo de todo o fim de semana: “tuga domination”... mas, enfim, S.

Open. Quem agradeceu foi de certeza o fotógrafo da surge, parece que o jantar da noite anterior lhe caiu mal, aliás, no domingo estávamos todos um tanto ou quanto cansados. Já diz o ditado, “não podes vencê-los junta-te a eles” e nesta última noite juntaram-se todos! O pior senão foi não aguentarmos a pedalada para ver o concerto dos Bad Religion no domingo à noite... tivemos mesmo que regressar ao final do dia a Portugal: tentar dormir no hotel, já se sabe, não valeria a pena e assim também chegámos a horas de ainda comer em Valença uns bifes com ovo a cavalo. Diabo, para ano havemos de comer

David Spínola é um dos skaters com mais talento natural e raramente aparece… flip numa das pausas de omarisquiño

Pedro “da Galiza” não estava pelos ajustes e vai de carregar na aguinha que envia para a terra mesmo antes das finais

o tal marisco...

pagar metade do portátil!

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Yeah! Já vou poder


Arroz de Marisco 500 grs de mexilhão 400 grs de arroz 500 grs de amêijoa 500 grs de camarão 4 bocas de sapateira 4 colheres de sopa e azeite 1 cebola média picada 50 grs de margarina 2 dentes de alho picados 1 molhinho de coentros picante q.b. sal 1 dl de vinho branco

Jorge Simões Hardflip na maior descontração… deviam mudar o nome a esta manobra!

Limpar e lavar os mariscos (se preferires a textura da areia não vale a pena lavar). Cozer os mariscos em água, sal, um pouco de picante e aproveitar a agua de todos eles (não cozer todos ao mesmo tempo para evitar espapaçar uns e deixar outros crus). Descascar os camarões e deixar alguns camarões inteiros para decorar o prato. Com as cabeças do camarão (sem as cascas) fazer um bom caldo: podes triturar tudo com a varinha mágica (se não estiveres familiarizado com este instrumento do além pede ajuda lá em casa) Refogar a cebola e os alhos picados no azeite e margarina, sem deixar queimar. Juntar o caldo e o vinho e deixar levantar fervura. Juntar o arroz (quatro chávenas de caldo da cozedura para 1 chávena de arroz) e deixar cozer por 12 minutos. Juntar os mariscos e os coentros picados, retificar temperos e deixar ao lume por mais 3 minutos. Retirar o tacho do lume e decorar com camarões inteiros. Servir de imediato.

Recorde do guiness para pessoas à volta de uma careca

Podes consultar os resultados de oMarisquiño em www.surgeskateboard.com

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Carlos Costa, polejam boardslide fakie num dos mais recentes spots de Ponta Delgada.

texto e fotografia Tiago Moniz (Açoriano)

Inspirado na “Panorâmica” do Roskof, na sexta edição desta bela bíblia do Skate Português, refleti para mim acerca da “Grande Cavalgada” do Sr. Peixoto, um senhor castiço, que já tive a oportunidade de conhecer. Não esperei muito, direcionei-me ao Mr. Roskof e falei-lhe em modo “fast” das minhas ideias. Feliz com a reação, separei uma trouxa para três dias de estadia, coloquei ao colo a “Máquina de Registos” e mandei-me para aquele que é o “lado insular”. Sim, aquele lado de Portugal sobre o qual grande parte dos portugueses não sabe se está mais para o lado de lá, se para o lado de cá do nosso Continente e cujo “slogan” consiste na cauda de um Cachalote e em lagoas gigantes espalhadas por todas as caixas multibanco de Portugal: os Açores, que atraem milhares de turistas amantes da natureza virgem e da natureza marinha, e que, por vezes, têm a sorte de avistar uma ou outra baleia, aquando dos seus passeios.

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João “San” switch flip ninja style, não lhe deram a alcunha ao acaso...

Não venho falar, nesta matéria, de natureza, nem de cachalotes nem, muito menos, estou a convidar-vos para um passeio turístico. Mas aqueles que amam o skate de certeza absoluta que se deslumbrarão com os spots que surgem em resultado da grande explosão de aglomerados de betão verticais, à qual a evolução das cidades se rende, e a que algumas ilhas dos Açores não são exceção. Eu, como micaelense de gema e skater de paixão, tive a oportunidade de ver crescer esta modalidade numa pequena comunidade em S. Miguel, onde as influências eram poucas, dados os fracos recursos em termos de meios de comunicação, “youtubes” e afins. Mais um motivo que me levou a escrever este texto e a divulgar umas fotos dos “meninos do skate” ali das ilhas, facto que não aconteceria com tanta facilidade há uns 10 anos. Agora que vivo no continente, quando volto às origens tenho a felicidade de ver que o espírito continua na pele daqueles que pertencem, hoje, à nova geração, com a sorte de estarem mais interligados com o mundo do skate fora dali, graças à tal evolução. Estou a falar de uma geração com potencial de sobra e que acredita no seu crescimento naquele lugar, procurando sempre influências e ligações que dão significado àquilo em que acreditam, mas que, no fundo, continua com condições muito idênticas àquelas a que estávamos sujeitos há cerca de 10 anos, sem apoios ou oportunidades para sair e absorver novas influências “ao vivo e a cores”.

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Carlos Costa Boardslide no mesmo rail onde o David Carvalho deixou o “abono de família” há uns anos… é tão bom recordar…

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David Meireles olha e faz o ollie com precisão milimétrica

Estes meninos das fotos que estão a ver: Carlos Costa, João Amado, David Meireles, Alexandre Almeida e Henrique Nicolau são alguns nomes que representam este grupo na ilha de São Miguel. Com idades entre os 16 e os 19 anos, foram eles que me proporcionaram alguns dias bem passados de convívio, sessões de fotos e boas skatadas. Aí percebi o quão importante é para eles o skate, que é também o que lhes alimenta a esperança de um dia irem mais além. Agora, sim, aproveito a oportunidade e a altura do ano para vos convidar para uma boa temporada de férias nos Açores. Não é preciso muito: pega numa trouxa, no teu skate e “manda-te”, que os putos agradecem. Tenho a certeza de que não vais querer voltar para casa, com tanta hospitalidade vinda daquele lado insular! Em jeito de roteiro podes começar pelo largo do teatro Micaelense, lugar que fica mesmo no centro mais tradicional da cidade de Ponta Delgada. Se reparares na sequência percebes o seu potencial. Aqui encontras a rapaziada do skate cheia de fé para andar e para te levar a lugares como as Torres do Loreto, as “666” do lado do hotel, praia do Populo, Lagoa, Largo da Igreja do Livramento, os apartamentos da Urbe Oceanus, entre outros. Se precisares de mais informações, o que não falta hoje em dia são perfis do “facebook”, onde poderão informar-te muito melhor do que eu... também por aí encontrarás os anfitriões do skate deste lugar! Achei piada... antes de me despedir daqueles putos perguntei-lhes se já tinham visto alguma baleia, responderam-me que não, mas que já tinham assistido ao “nolie tré-flip” do Carlos Costa nas “666” do Hotel Marina.

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página 68 Do Lado Insular


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O pessoal tem de começar a chamar-se pelos nomes…PG... pode ser muita coisa… pilantra, giraço, etc.… drop fotografia João Mascarenhas

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Sabiam que o nome original de Faro, no Algarve, era Ossonoba? Pois nós também não. Tiago Lopes Smithgrind. fotografia João Mascarenhas

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Joรฃo Neto Nollie heel-noseslide shove-it Fotografia Renato Lainho

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Tiks, feeble flip out… ah pois, eles agora já têm skate parques, nova geração do norte ao ataque!

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fotografia Renato Lainho


O Adrien Bulliard veio de Paris no voo da manhã, deu este tré-flip nas escadas da Maia e embarcou de volta das 8 da noite… verdade, verdadinha!! Fotografia Renato Lainho.

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Rui Costa frontside flip fotografia Jo達o Mascarenhas

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pรกgina 79 Anti Estรกtico



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