SURGE Skateboard Magazine, 38th issue: "don't believe the hype!"

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2017 julho/agosto/setembro Trimestral Distribuição gratuita

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DC X SK8MAFIA

AURA S.A. - 212 138 500





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B A C K ilustração Luís Cruz

Pedro Raimundo “Roskof” editor

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“No meu tempo” é sempre aquela expressão que me continua a incomodar, se bem que agora, nos “entas”, por motivos bem diferentes. Na minha adolescência e enquanto skater, sempre que alguém me começava a falar dos “bons velhos tempos”, para ser sincero, 50% do que me diziam entrava a cem e saía a mil. Curiosamente, agora essa pessoa sou eu. Muitas vezes dou por mim a falar com pessoal mais novo e mesmo que não use essa malfadada expressão, quando “engato” na nostalgia chego a dar secas a mim mesmo. E enquanto tomo consciência disso mesmo, penso cá para com os meus botões: “faz parte”, é uma das principais características do ser humano. Afinal, nostalgia e evolução complementam-se uma à outra. O que isto tem a ver com skate? Tudo. Afinal, antes de poderes ter skate parques para andar, lojas para comprar as tuas “grifes” mais badaladas, internets, aplicações e câmaras de alta qualidade para fazeres os teus insta clips e vlogs, houve muitos malucos e pioneiros “que se atravessaram” para que isso pudesse acontecer. E nesta edição da Surge vais poder ver mais dois exemplos de pessoas que “se estão a atravessar” com algo que supostamente não faria sentido nos dias de hoje, abrir uma skate shop! Claro que hoje em dia a net é que bomba, toda a gente já manda vir tudo online, desde tábuas, a rodas, fraldas e papas de bebé... o mundo está nas tuas mãos. Mas, então, qual será a motivação destas pessoas para investirem num espaço físico, a que os skaters chamem casa? Provavelmente – e mesmo com a explicação que os próprios nos dão nos artigos, - nunca vamos ficar a saber as verdadeiras razões, mas queria deixar-vos com uma nota: nem tudo o que está para trás de nós é mau e velho e nem tudo o que aí está a vir é espetacular e bom. Como no skate, temos que procurar um equilíbrio. E mesmo que esta conversa te tenha entrado a cem e saído a mil, o facto de leres o texto até ao fim deixa-me contente, procuraste mais do que aquilo com que te bombardeiam para os olhos... e sim, no meu tempo também era assim. Pedro Raimundo “Roskof”

No meu Tempo...


O3EPO – Even In Siberia There Is Happiness Joseph Biais – Ollie Drop In � Photo: Alexey Lapin www.carhartt-wip.com


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Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127

número 37 disponível online em www.surgeskateboard.com

Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com

LisboaStoneChrushers 3 dias em que o skate tomou conta da capital e em que o Marquês de Pombal chorou por estar virado de costas para a festa

Las Veigas

Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com

Os tugas foram para leste e pelos vistos aquilo tem lá uns bons sítios para dormir na rua

Fotógrafos residentes: Luís Moreira João Mascarenhas

Skatedeluxe

Publicidade: pub@surgeskateboard.com Colaboradores: Rui Colaço, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela, Ruben Claudino, Rui Miguel Abreu, Telmo Gonçalves.

Um verdadeiro grupo de luxo do skate europeu veio provar a comida aqui do burgo e lá pelo meio ouvimos dizer que também deram umas boas manobras.

PrimeiroFoco Rafael Aragão a provar que a nova geração está bem atenta aos novos spots da cidade

FankMallorca A prova de que nunca se deve escrever depois de uma boa garrafa de vinho...

Tiragem Média: 4 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais.

Capa:

www.surgeskateboard.com

O Francisco Perdigão tinha marcado um encontro com o Darth Vader neste spot, mas como ele nunca mais aparecia decidiu fazer alguma coisa enquanto esperava... wallride.

Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros

fotografia Luís Moreira


SINCE 1922 Distribuição marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


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texto Surge fotografia Luis Moreira/Nuno Capela/ Renato Laínho/Jorge Matreno

Estão a ver a pedra da calçada? Sim, aquela mesmo que nós, skaters, adoramos? Pois ela foi, sem dúvida, das maiores inspirações para nos atirarmos de cabeça para um evento internacional de skate em Lisboa. Afinal, se os nossos skaters e quem nos visita pouco se importam se o chão é de pedra ou de mármore, porque não aproveitá-lo e fazer com ele uma festa do skate na cidade?


Jocke Olson – Backside air


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LISBOA STONE CRUSHERS

Tal como a paciência exigida aos calceteiros para criar tão belos pavimentos, foi com muita carolice que a mesma equipa que vos dá a Surge criou de raiz o Lisboa Stone Crushers. O início não foi fácil: explicar, mostrar, convencer pessoas de que seria algo positivo para todos os skaters nacionais e não só, provou-se, só por si, qualquer coisa de tão doloroso como levar com um paralelo na cabeça. Mas conseguiu-se e provou-se também que em Portugal o skate não é nenhum parente pobre de outros desportos do género.

Clay Kreiner –Indy tweak Gabriel Machado – Flip 540

Marcelo Bastos – Nosegrind

Marcelo Bastos – Nollie frontside heel


Clay Kreiner –Slob air

Clay Kreiner – Method

Moto Shibata – 540


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LISBOA STONE CRUSHERS

intro Surge texto e fotografia Laurence Keefe

Victor Fernandez – flip frontside nosegrind

Nos 3 dias do evento, a cidade encheu-se de skaters de todo o mundo: Japão, Estados Unidos, Brasil, Suécia, Espanha, França, Reino Unido, Itália, Dinamarca… e mais do que apenas um campeonato de skate, procurou dar-se enforque à riqueza da cultura skater e à vivência de uma cidade que é muito mais do que um armazém de casas para alugar e autocarros turísticos. Com a ajuda da Câmara Municipal de Lisboa foram pela primeira vez abertos aos skaters espaços como o Marquês de Pombal - onde Portugal recebeu pela primeira vez uma rampa Vert (com 350 m2 de área e quase 8 metros de altura) para uma competição internacional, - ou o Parque Eduardo VII, onde com o apoio dos nossos amigos da Wasteland Ramps - que protegeram o espaço existente e desenvolveram pequenos novos desafios à criatividade dos skaters, - pudemos usufruir do mobiliário urbano de um miradouro histórico da cidade! Durante 3 dias, em que também passámos pela Praça do Martim Moniz, transformámos estes locais emblemáticos de milhões de selfies, em lugares de tributo ao skate.


Jorge Simões – Backside 360 Duarte Pombo – Hardflip


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LISBOA STONE CRUSHERS


Montana Shop Lisboa + Underdogs Public Art Store


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LISBOA STONE CRUSHERS


Cinema Ideal


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LISBOA STONE CRUSHERS

Aníbal Martins – frontside flip



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LISBOA STONE CRUSHERS

Bruno Senra – Noseblunt Gustavo Ribeiro – Crooked flip out


Pela primeira vez uma competição de Vert esteve num local onde merecia estar, em pleno centro de Lisboa e a mostrar-se ao público em geral como o verdadeiro espetáculo que é. Pela primeira vez o Cinema Ideal, um local emblemático da cidade de Lisboa, recebeu a estreia Europeia de um filme de skate, com o “Devoted” do Lucas Beaufort. Tivemos exposições na Montana Shop Lisboa + Underdogs Gallery, Afterparty da qual não nos lembramos muito bem, por motivos mais ou menos óbvios, e, claro, algo que nos deixou ainda mais contentes, ver que a comunidade skater viveu este evento em conjunto. Foi o maior prize money de sempre no skate em Portugal - 14 mil euros de prémio global, mas quem ganhou, como ganhou, quem perdeu… durante os 3 dias não foi isso o mais importante.

Pedro Roseiro – Crooked Thaynan Costa – Backside nosedrive revert


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LISBOA STONE CRUSHERS

Aquilo que todos os presentes puderam constatar é que o skate tem espaço na cidade e a mesma só tem a ganhar com isso. Politiquices, pintelhices, deixem isso para os políticos. Skater, ou não, estão todos convidados para a próxima edição do Lisboa Stone Crushers. Até 2018!


Rune Glifberg – method


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exto Telmo Gonçalves fotografia Florian Hopfensberger Este gap no Martim Moniz é tão pequeno que o Christophe Radke começou logo a viagem a dar dois backside flips, só porque sim... a sério, vão lá ver... aquilo é minúsculo.

A troca foi simples... Eu tomo conta deles e em troca vejo-os a partir a loiça! A malta da Skate Deluxe veio à “Tuga” para curtir os spots de Lisboa e no 1° dia, ver o Cristoph a dar dois BS flips no Gap do Martim Moniz, o Denny a tratar os Bancos de Santos por tu...? Os meninos estavam apresentados! Seguimos para a terra do choco frito e o Ben encontrou um miminho: foi ao incline do Largo de Jesus! Acabámos a tarde no Allegro para ver um FS ollie do Douwie à primeira, por cima do caixote e os sugas a agarrar nos tripés e flash’s do Burney para dentro do centro comercial. Deu raia! Esta tour ainda estava a ganhar balanço e todos os dias os meninos espetavam manobras impossíveis em spots “furiros”! O nollie heel front board do Denny esticou a corda! Tenho de agradecer a todos eles pela disponibilidade, ao Willow pelo relógio feito com tábuas usadas (germanhammerking) e ao team manager, Eric, por todo o apoio que nos deu em Almada com material técnico!

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Uma das grandes vantagens em ser pequeno é esta: consegue-se dar frontwallrides onde os outros nem cabem com os pés... Ben Dillinger – Doca da Caldeira



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Dowe Macare, frontside flip antes de os seguranças do Allegro, em Setúbal, raptarem os flashes do Florian. O resgate foi difícil, tiveram que trocar 6 doses de choco frito por 3 flashes.


Ben Dillinger flip para o bank – Setúbal


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O relógio da estação estava a marcar a melhor hora para um bom flip – Ben Dillinger


Denny Pham a tornar a vida bem mais difĂ­cil para quem quiser skatar o corrimĂŁo do Areeiro. nollie heel frontside boardslide


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Ben Dillinger – switch 180 nosemanual nollie flip em frente daquele sítio onde se fazem os doutores.



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Denny Pham – Crooked nollie flip



38 38 SKATEDELUXE TIAGO FERNANDES

Dowe Macare - front crooked bigspin, desta vez sem raptos de flashes nem choco frito envolvidos.



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As nossas viagens começam sempre da mesma maneira: 1- Pensar num local onde gostávamos de chegar. 2- Tentar arranjar pessoal que alinhe em fazer-se à estrada. 3- Quase andar à pera uns com os outros para decidir quais serão as datas. 4- Arranjar uma carrinha de nove lugares. 5- Esperar impacientemente até ao dia. 6- Arrancar.

texto e fotografia Luís Moreira

Normalmente acabam também da mesma forma: Não chegámos onde tínhamos planeado chegar, ou porque afinal pareceu não ser assim tão importante, ou porque encontramos sítios bons demais para ter de fugir deles passado umas horas de termos chegado. Há dois anos que andava a pensar ir para os Balcãs. Pensar num país de destino e ir até lá de carrinha, com mais oito putos do skate e ir parando onde bem nos apetecesse para skatar e acampar nas praias, bosques e descampados.

Estes jovens podem não saber bem onde são os Balcãs, mas sabem sempre como aproveitar da melhor maneira os lugares onde vão parar - Jorge Simões, transfer frontside wallride


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BALCÃS - LAS VEIGAS

Jorge Simões – 360flip Não é como um graff em castelhano que foi parar à Croácia, mas talvez seja pela mesma razão que temos um tripeiro a dar backside flips ali... Nuno Cardoso


“Vamos até à Albânia de carrinha! Queres vir?” Eu, o Paulo “Nitro” Pinho, o nosso truckdriver, Juan Salas, o Nuno Cardoso, O Gonçalo “Pico” Maia, o João Castela, o Romeo “Rolando” “Romário” “Rivaldo” “Roberto Carlos” Mateus, o Francisco “Kiko” Perdigão e o perpétuo MVP, Jorge Simões, começámos a falar da viagem: - Onde é que são os Balcãs? - Vê na net. - Qual é que é o percurso, mesmo? - Não sabemos. - E dormimos onde? - Acampamos onde calhar. - Ok, por mim, siga! - Mas afinal qual é o percurso?


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BALCÃS - LAS VEIGAS

Kiko – Bluntslide fakie Jorge Simões – Flip

Saímos no dia 17 muito cedo, tão cedo que ainda não era de dia. Arrancámos às três da manhã e conduzimos pela noite dentro até ser uma da tarde e estarmos em San Sebastian na região de Biscaya a dar uma tolada na praia. Não podíamos demorar muito porque o Cardoso não conseguiu sair do Porto naquele dia e tínhamos combinado apanhá-lo em Veneza. O avião dele chegava lá ao meio dia do dia seguinte. Foi duro, mas 24 horas depois de sairmos do Porto estávamos todos a ressonar numa praia em Vintimiglia, em Itália. Apanhámos o Cardoso às 17h e seguimos para Liubliana, na Eslovénia. - Espera! Estou aqui a ver e amanhã chove em Liubliana. Chove até domingo (era sexta-feira). - Foda-se. E agora? - Não chove na Croácia. - Siga para a Croácia, então. Passamos em Liubliana à vinda. Tem spots e é uma cidade altamente. Temos que acampar na margem do lago Bled. É do caralho! - Para ver lagos tinha ficado em Portugal. - Cala-te.



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BALCÃS - LAS VEIGAS

Seguimos para Riejka, na Croácia. Estendemos os sacos cama numa praia à sombra de umas árvores. Eu, como sempre, adormeci como uma pedra mas há quem diga que a meio da noite tivemos uma visita de um casal que achou que o melhor sítio para uma sessão de motocross sueco era a meia dúzia de metros de nós. De manhã tomámos todos banho com champô (mesmo à betinho) no chuveiro da praia e apercebemo-nos de que não havia ninguém com menos de 170 anos de idade naquela praia e estava toda a gente a olhar para nós. Qual é o mal? Skatámos nessa cidade até ao final da tarde e arrancámos para Zadar. Pelo caminho íamos olhando para o mapa para ver um sítio fixe para estender os sacos cama. Chegámos a uma praia já depois da meia noite e Nuno Cardoso a trocar os olhos vimos algumas carrinhas alemãs estacionadas. Os gajos estavam a falar do quão boa a praia era para fazer aos “balcânicos” e não só... halfcab kitesurf. Isso deveria ter servido de alerta para o que se passou a seguir, mas nós estávamos demasiado crooked nollie varial heel cansados para qualquer tipo de raciocínio. Montámos as tendas porque estava a chuviscar e acordámos passado umas horas com um vendaval como nenhum de nós alguma vez tinha sentido. Eu dormi o resto da noite com o teto da tenda encostado a mim, tal era a força do vento. Estávamos três pessoas na minha tenda, se estivesse só eu, acho que tinha feito kitesurf sem sair da tenda. Nesse dia skatámos um spot bem fixe na zona velha de Zadar e seguimos para Split, onde dormimos numa praia de gravilha, três noites! Split está carregada de spots e passámos dois dias a skatar lá. O pessoal entretinha-se a ver-nos andar. Enquanto o Jorge estava a tentar um tailslide pop out para a estrada tivemos plateia e ainda pessoal a ajudar a parar o trânsito para ele se mandar. Quando chegámos ao final do segundo dia em Split, depois de muita skatada e depois de eu ter ido para o hospital com uma virose que me fez andar a vomitar o inferno, começámos a falar do próximo país. - Vamos para Montenegro. Se sairmos hoje chegamos lá amanhã e seguimos para a Albânia. - Espera, temos de fazer contas aos dias para ver se dá tempo para isso tudo. - Três vezes nove, vinte e sete, noves fora, nada. Não vai dar tempo. - Então vamos para onde, afinal? - Podíamos seguir já para a Bósnia. Se descermos mais vai ser um grande filme. - Então Albânia, Montenegro e Kosovo arderam? Seguimos para a Bósnia. Quando chegámos à fronteira, fomos revistados ao sair da Croácia e à entrada da Bósnia (vinte metros à frente). O polícia apesar de ter achado piada ao facto de termos uma edição croata da Playboy no carro não nos deixou entrar por causa de um problema qualquer com os documentos da carrinha. Eram duas da manhã. Voltámos a ser revistados ao regressar à Croácia (novamente, vinte metros a seguir) e voltámos para Split, para a praia onde tínhamos dormido nos dois dias passados. No dia seguinte de manhã teríamos que decidir o que é que íamos fazer à nossa vida.



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BALCÃS - LAS VEIGAS

Onde estacionámos a carrinha antes de descer para a praia estavam uns velhotes numa casa a olhar muito para nós e a falar croata uns com os outros e um deles até pegou no telefone. Descemos para a praia, estendemos os sacos cama. - Será que os cotas vão chamar a polícia? A multa aqui são 750 kuna (100€) e os gajos não perdoam. - Caga nisso, vamos dormir. - Estamos a arriscar um bocado, já é a terceira noite que dormimos aqui e isso dá estrilho. - Ya, se calhar é arriscado. - Mas vamos para onde? Entretanto o pessoal começa a subir para a carrinha e entramos todos. Abre-se a garrafa de whiskey que veio de Portugal, todos os dias na expectativa de ser aberta. - Vamos para onde? - Eu acho que devíamos ir em direção à Bósnia e dormir pelo caminho. - Eu acho que devíamos ir para outro sítio aqui perto. - Eu acho que devíamos ficar aqui, não se vai passar nada. Não percebemos como é que Meia hora depois de começarmos a discutir, descemos e dormimos naquela mesma praia e não se passou nada. o Jorge Simões consegue dar duas manobras ao mesmo tempo Dez horas depois estávamos nós a ser revistados outra vez à saída da Croácia e depois, novamente revistados à entrada da Bósnia, mas desta – Tailslide pop-out e ao mesmo vez passámos. Quando vimos o que nos esperava, só nos apeteceu abraçar o polícia que na noite anterior não nos deixou passar. Durante as tempo smith-pop out... 7 horas que demorámos a fazer 200 quilómetros, vi das paisagens mais bonitas que alguma vez tinha visto e andei nas piores estradas que alguma vez vi. Queria ver como é que nos íamos safar ali à noite. Os buracos de balas em grande parte dos edifícios de Sarajevo e um pouco por todo o país são como um grave e crepitante sussurro que não deixa esquecer as atrocidades que foram cometidas naquele solo há menos de vinte e cinco anos. Entre esses edifícios, Sarajevo é uma cidade enérgica e vibrante, cheia de pessoas alegres e simpáticas.



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Os campos ainda com minas são outros vestígios da Guerra da Bósnia. Apesar de a maioria dos terrenos perigosos estar sinalizados, decidimos não acampar enquanto não saíssemos do país, afinal de contas nós vamos sempre parar a sítios que não lembram ao diabo e achámos melhor não arriscar. Tivemos sorte de ser tudo muito barato e alugámos uma casa, e todos tomámos banho e dormimos numa cama, finalmente. Graças às técnicas de persuasão (ou manipulação) do Cardoso, essa casa transformou-se em duas e se em vez de nove fossemos vinte, teríamos dormido todos confortavelmente. Sarajevo é uma cidade incrível. Não conhecíamos spots e por isso fomos skatar as praças principais. Fomos expulsos em quase todos os spots. A pista de Bobsleigh, de Sarajevo, foi uma das melhores paragens da viagem. Foi construída para os Jogos Olímpicos de 1994 e agora, ao abandono, é usada por pessoal para patinar e até por equipas de Bobsleigh que não têm sítio para treinar. A paragem seguinte foi Belgrado, na Sérvia. Depois de muitos quilómetros e de sermos revistados mais duas vezes na fronteira, chegámos, demos uma volta à cidade para ver uns spots e fomos dormir para a beira de um rio. Fomos expulsos passado meia hora de termos adormecido. Levantamo-nos e fomos dormir para um bosque ali perto. É impressionante a quantidade de spots que há em Belgrado e o pouco que se vê deles. Skatámos dois dias na cidade e conhecemos alguns skaters locais. Depois seguimos em direção a Liubliana. A caminho tivemos que passar outra vez na Croácia e por volta das duas da manhã passámos num monumento em Jasenovac erguido no local onde, entre 1941 e 1945, existiu um campo de concentração e onde pelas mãos dos Ustaše - uma organização croata de extrema-direita apoiada pelo regime Nazi - morreram aproximadamente cem mil pessoas.

Uma boa mama é uma boa mama seja aqui, seja onde for... ollie



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Ficamos lá um bocado a discutir sobre o assunto e sobre a possibilidade de skatar o monumento e as suas consequências em termos de ética, quando vimos as luzes da carrinha ligadas a mais de 200 metros de nós. Começámos a correr em direção à carrinha, sem ver um palmo à frente dos olhos, uma escuridão tremenda. O Castela ia de faca na mão e quando chegamos lá perto vimos que era a polícia. Fizeram-nos um monte de perguntas enquanto nos identificavam, pareciam indignados por ver pessoas naquele sítio àquela hora. Ficaram com os nossos documentos mais de vinte minutos e depois deixaram-nos ir. Estávamos a pensar dormir por ali, mas acabámos por achar melhor ir para longe daquele sítio, não fosse a polícia acordar-nos. Dormimos em tendas num parque de estacionamento em Podgaric e de manhã fomos ver o Monumento à Revolução do Povo de Moslavina, um ícone da resistência contra o fascismo durante a segunda guerra mundial. Enquanto o Kiko dava um wallride completamente doente, o Romeo e o Jorginho começaram a fazer uma lança com dois metros de comprimento e entretiveram-se a atirá-la contra um alvo improvisado. Essa lança acompanhou-nos durante cinco países. Tivemos sorte de não voltar a ser revistados. Quando chegamos a Liubliana estava a chover. - Siga começar a fazer o caminho de regresso hoje? - Era fixe ir ao lago de Bled e acampar lá! - Amanhã vai chover, vamos ficar aqui por causa do lago? Se fossemos hoje íamos nas calmas. - Para ver lagos ficava em Portugal. - Cala-te. - Está bem. Dormimos em Itália hoje? - Sim, podemos dormir perto de Veneza. Acabámos por atravessar a Itália toda e estávamos de regresso a Vintimiglia.



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Jorge Simões – Backsmith pop-out “Que barulho é aquele ali em cima?” pergunta o casal... é um bobsleigh do Porto, carago... Jorge, a deixar a malta dos trenós para trás...


Mas desta vez, enquanto estávamos a tirar as coisas da carrinha para ir dormir para a praia, por volta das quatro da manhã, para um carro ao nosso lado, saem quatro gajos de lá, metade russos, metade italianos e começam a oferecer vinho e com uma conversa muito estranha. O Juan não desligou a carrinha e isso não era bom sinal. Os gajos pediram um cigarro ao Nitro, ele mostrou o maço e tiraram quatro ou cinco cada um. Também não foi bom sinal. Quando olho para a carrinha vi o Cardoso a arrumar outra vez as coisas na mala e isso também não era bom sinal. Tentei perguntar ao Cardoso da forma mais difícil de perceber possível se era para ir embora e como não falo alemão perguntei: “Tá no bazar”? Segundos depois estávamos nós a ir em direção a França. Em Nice andámos às voltas, às seis da manhã à procura de um sítio para dormir. - Vamos ficar na praia? - É melhor não. Há muita polícia nesta zona. - E depois? Não podemos querer ir para a praia cedo para garantir lugar? - Podes, mas nove gajos a dormir numa praia normalmente não é porque calhou de adormecerem. - Vamos ver naquele monte, acho que já dormi ali uma vez. - Não cabemos ali, somos nove! - Olha ali, naquela praia tem dois gajos a dormir. Vamos para lá!


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Jorge Simões – 50 para backside nosedrive revert

Dormimos na praia menos confortável em que alguma vez estive. Uma praia feita de brita mas com pedras maiores. Doía só de caminhar. Deitamo-nos já de manhã e dormimos p’raí duas horas até estarmos a assar com o calor. Nesse dia atravessámos o sul de França. Ainda tínhamos dois dias e pensámos ir para Bilbao, mas as previsões eram de chuva para quase todo o lado, menos para Zaragoza. Fomos para Zaragoza e skatámos em spots que é impossível não terem sido feitos para andar de skate. Depois arrancámos para Portugal, a lança ficou em Zaragoza.


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Se o nosso irmão fosse o Mike Anderson também dávamos flips por cima de muros assim... ou se calhar, não... flip para o bank fotografia Roskof


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Austyn Gillete – front heel switch manual fakie antes de provar pela primeira vez as “cavacas” das Caldas


RVCA.COM


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E N T A entrevista Surge fotografia Helio Dilman

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Como é que numa altura que em que a malta já manda vir fraldas e café pela internet vocês se lembraram de abrir uma loja física? Ou a loja é apenas para servir de fachada a uma operação para lavar os milhões que vocês fazem com a roupa da Ementa? Excelente questão! É verdade que a tecnologia mudou os nossos hábitos, no entanto acreditamos que as lojas físicas, sejam eles como forem, vão sempre existir. Tem que ver com a nossa essência humana. Também será um acréscimo de valor aos nossos clientes onde poderão sempre encontrar Ementas únicas e exclusivas, acompanhadas com o serviço de excelência do nosso amigo Né. Venham conhecer o novo corte do cabelo dele. Já lá vai o tempo em que havia lojas de skate na rua em Lisboa. Vocês agora vendem também material de skate, por isso podem ser classificados de skateshop, ou como é que vocês se definem? O nosso grande objetivo sempre foi ter o nosso próprio espaço (guardar as caixas no 4º andar na casa do Rapha já não dava mais para as costas) e também termos o abrigo para o encontro dos amigos. E como as nossas raízes vieram de skate fez todo o sentido complementar com material técnico de skate.


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EMNTA STORE

Numa zona agora mais famosa por ter 450.000 hostels e ainda mais lojas de souvenirs “nacionais”, como é que vocês se dão com a vizinhança? Vão lá comprar umas litrosas e juntam-se aos pub crawls, ou os vizinhos olham para vocês como uns extraterrestres? Visto que um dos nossos sócios é indiano e outro deles tem três hostels, temos agora algum poder em Lisboa. Festas é do que nós gostamos, numa escala de 1 a 10, sendo que 1 é uma festa sozinho com o Gorev e o 10 um arraial cheio de estudantes de Erasmus com 3 caipiroscas no bucho, como é que correu a festa de inauguração da primeira loja da Ementa SB? Foi espetacular… tivemos visitas inesperadas e passámos uns bons momentos tal e qual como estava previsto. O que podemos esperar da loja da Ementa na baixa? Qual seria o vosso objetivo de sonho para a vossa aventura? Um grupo de amigos sonhadores desde a adolescência que chegou a uma das etapas da sua grande meta. A amizade e o crescimento serão os ingredientes essenciais para a sua continuação … A quem é que querem agradecer por agora terem um local aberto para “levar” com a malta todos os dias? Queremos agradecer a Deus por toda a força que foi dada, aos nossos fornecedores, clientes e amigos.



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entrevista Marta Cruz fotografia Margarida Fleming

Margarida Fleming, 29 anos, Pintora e Designer Gráfica, Lisboa. A Arte faz parte da sua vida desde sempre. Estudou Arquitetura, exerceu a profissão por pouco tempo e em seguida tirou o curso de Design Gráfico direcionando a sua carreira para um caminho mais criativo. Atualmente trabalha em Lisboa como designer gráfica e os retratos que pinta acompanham-na a tempo inteiro, completando-a. SURGE: Como aparece a Pintura na tua vida e porquê?

MARGARIDA FLEMING: Recordo-me de ser miúda e perder tardes a pintar com marcadores, lápis, pastel, aguarela, óleo, mexer em fimo, pó de gesso, cola, enfim... no fundo a experimentar tudo e mais alguma coisa. Penso que é uma vontade que surge naturalmente. Acho que uma coisa boa que sempre tive foi a determinação e não ter medo que ficasse mal. Aprender para criar, criar para aprender, aprender a criar e criar a aprender. S: Como descreves a tua pintura? MF: Descrevo a minha pintura como figurativa, expressiva, contemporânea, irreverente, misteriosa, intrigante e crua. S: Porquê retratos? MF: Temos uma ligação especial com a figura humana, é algo que nós observamos todos os dias, desde que nascemos, olhamos e questionamos constantemente. Conhecemos pessoas tão diferentes e com características tão opostas. É interessante para mim dar vida a personagens que não existem. Sinto que muitas delas não se conseguem decifrar, se estão felizes ou tristes… cria-se esse mistério em volta de cada personagem, ou seja, quem é realmente essa pessoa? A verdade é que nem eu sei. Acho piada ficar mesmo assim. Assim todas as vezes que olhar para eles posso imaginar histórias diferentes. S: Quem são? MF: A verdade é que nunca sei exatamente qual será o resultado final, portanto mesmo para mim às vezes é uma incógnita o porquê de a ter criado. S: Quais são as tuas inspirações? MF: Inspiro-me em pessoas, em arte, artistas, música, fotografia. Sou viciada em arte, design, arquitetura.... acho que conseguimos sempre retirar alguma coisa, sensação ou sentimento do que nos rodeia e criar algo, filtrando e moldando à nossa maneira de ser.


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MARGARIDA FLEMING


S: Um projeto/sonho por realizar. MF: Gostava de um dia viajar com a minha arte, espalhá-la em todo o lado. Gostava de dar o meu contributo para o desenvolvimento da cultura e da arte, de alguma forma. S: Qual é a história da peça que estás a pintar neste momento? MF: Estou a pintar uma tela, com duas personagens, um casal de amigos, jovens e com um estilo irreverente. Gostam de andar na rua e de pertencer a um gang. Têm uma atitude segura e inconsciente, digna de teenager. Eles são amigos, unha e carne, mas com os seus segredos. S: Como te imaginas quando fores mais velha? E o teu atelier e as tuas peças? MF: Vejo-me num atelier meio sala de estar grande com pé direito alto, com grandes janelas, plantas, com um ar industrial, mas confortável, com lareira e tudo, onde consiga desenvolver projetos com todas as escalas e explorar outras disciplinas artísticas em simultâneo. Uma velhinha com um “quê” de rabugenta, mas calma, sozinha a pintar e ouvir música, mas que gosta de beber um copo nas inaugurações dos jovens e velhos amigos artistas. Imagino a minha pintura um pouco diferente, com mais sumo, não sei. Devo ter evoluído qualquer coisa até lá! (risos) S: Como vês a “cena artística” em Lisboa e no panorama nacional? MF: Penso que em Portugal a arte em geral está a ser cada vez mais valorizada, as pessoas mostram-se mais interessadas pela Cultura e acho que a nossa geração também vai mudar muita coisa para melhor. Ser artista em Portugal (e penso que em quase todo o lado) não se baseia apenas no talento, baseia-se também na pessoa que tu és, nas pessoas que conheces. As galerias mantêm os estereótipos e estilos de arte que querem manter, sendo muitas vezes um ciclo fechado e viciado. Começam a aparecer galerias ou espaços com a “mente mais aberta” e inovadoras que querem realmente mostrar o artista e a arte. Falta mais apoios do Estado no sentido de incentivar jovens artistas e de certa forma assumi-los com orgulho no país e fora do país.


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MARGARIDA FLEMING

S: O que sentes quando vês uma obra tua na rua, ou na casa de alguém? MF: Sinto-me como uma mãe que vê o filho ir para a faculdade (risos). Sinto que é meu, mas já não é só meu, sinto saudade e orgulho. Rever um quadro que já não vejo há algum tempo ainda me faz gostar mais dele. Por vezes é difícil desprender-me. Mas acho que é mesmo assim, tenho que deixá-los ir para fazer mais.

Marta Cruz, Creative Urban Curator entrevista Margarida Fleming, Designer Gráfica e Pintora para a Revista SURGE.



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S K A T E S H entrevista Luís Cruz fotografia Telmo Gonçalves

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Lembro-me de te ver, bem puto, na sektor 55, em Almada, a ajudares a Malta na lida da loja. Foi importante para ti teres tido essa experiência? Claro que foi bom para mim, nessa altura era complicado ter dinheiro para comprar skates e ténis novos a toda a hora para poder andar de skate e o João e o Hugo davam-me apoio nesse sentido. Eu ajudei-os bastante na logística no armazém, na divulgação e organização dos eventos da loja, o que me dava muita pica na altura. Depois de teres uma carreira de sucesso numa multinacional o que te fez abrir uma skate shop? Depois de 7 anos a trabalhar diariamente sob pressão e sem muito tempo para a vida pessoal, cresceu a necessidade de querer desempenhar outro tipo de funções para as quais me sentia preparado. Tive um coordenador com um forte sentido de orientação para o cliente,

bastante trabalhador, e puxava muito pela minha equipa. Cresci bastante profissionalmente e como pessoa. Ele desde sempre me apoiou e instruiu da melhor forma. Mas eu achei que dentro do projeto no qual estava inserido já não poderia subir mais, senti vontade de experimentar outro tipo de aventuras que vieram a ganhar mais forma, com a emoção de ver o skate parque a ser reconstruído, misturado com a ausência de uma skate shop! Basicamente larguei a minha casa, o meu trabalho, a minha profissão e tudo o que tinha construído até a data e fiz-me ao sonho! Em Almada sempre houve uma cultura forte do skate, como está essa comunidade? Almada tem uma cultura de skate muito forte! Concordo plenamente contigo, foram todas as gerações mais velhas que contribuíram para eu gostar tanto do skate. Sobre o estado da comunidade, não tenho muito a dizer, estive fora 4 anos e ainda me estou a ambientar.


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AFIRMA SKATESHOP

A Afirma produz muito material próprio e tem as suas marcas, fala-nos um pouco sobre isso. Afirma skate shop nasceu com um conceito muito vincado no desenvolvimento da marca própria da loja e da marca Gandim skateboards, em colaboração com o Roka, sendo este quem está a tratar de toda a imagem e produção das marcas. A Afirma skate shop acabou de abrir, o Bruno’s skate parque foi renovado, há muito sangue novo... que emoção tens nos primeiros meses? Uma sensação muito boa. É demais olhar para o trabalho que a ASKA fez e tenho muito orgulho em que este projeto tenha realmente acontecido e trazido uma mão cheia de

vida ao Bruno’s skate Parque. É demais ver o skate parque todos os dias cheio de novos e velhos do skate. E o futuro? O que vem daí? O futuro, boa pergunta, mas vão ter de esperar e ver para crer.



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frank

fotografia Fabien Ponsero texto Dallas Rockham

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Olá malta!!! Daqui fala Frank, de Mallorca... sim, amigos! C’um raio, como todas as outras, esta viagem foi muito bem passada. Tommy May, Rob Maatman, Mulr, David, Tito, Fabi e, sim, eu próprio... que confusão do caraças!

Rob Maatman Frontside flip


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FRANK MALLORCA

Rob Maatman nosegrind minutos antes de saber que era prรณ.


Como podem imaginar, estas viagens são exatamente como vocês veem nos filmes: cervejas infinitas, splifss a montes, e cafés com Baileys. Boom!!! Sim, éramos apenas uns despassarados a tentar fazer manobras e, no meio, o Murl esmurrou o David na cara numa noite de copos e o nosso vizinho todos os dias nos vinha oferecer aquelas substâncias importadas nos cús de alguém da Colômbia. Paraíso, certo? Não, nada disso! Claro que tínhamos um trabalho para fazer, tirar estas belas fotografias que estão a ver agora, mas como o Fabien estava a ser um autêntico “Fábio” foi uma sorte do caraças termos conseguido fazer alguma coisa!


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FRANK MALLORCA

Rob Maatman Ollie por cima do rail Dallas Swicth crooked

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MANTRASTE



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Dallas era uma sĂŠrie famosa nos anos 80, agora para os Millenials ĂŠ apenas o nome de um skater mal cheiroso... five-0 drop

FRANK MALLORCA


Até tentámos fazer uma reunião de equipa numa das noites, para arranjarmos algumas frases de jeito para este artigo... mas, claro, com um grupo assim não há reunião que nos valha, a conversa rapidamente descambou para frases como “a melhor cena é sonhar que estás a fumar um cigarro” ou “meu, essas garrafas são minhas” mas a meio de tão interessante conversa, descobrimos na internet que o Rob Maatman já é, oficialmente, pró! Caraças, altura de festejar outra vez, que se lixe a reunião de equipa! Ah, já vos disse que nestas viagens temos também sempre uns finlandeses que se colam? Nem nunca sei bem os nomes deles, mas também não interessa, são nossos amigos e uns gajos fixes! É disto que a malta gosta. Bons tempos, certo?

ilustração Cravo Lembrança


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FRANK MALLORCA

Eniz Fazliov, um dos melhores skaters, com um dos piores nomes, numa das manobras mais difíceis da viagem. Transfer tailslide para o bank

Obrigado a todos por esta viagem, obrigado a vocês por nos deixarem ter um artigo numa revista e obrigado, vida! Viva o México! Oh merda, desculpem, viva Palma!

Dallas Rockham


MARK APPLEYARD | THE MAHALO

Kickflip over the rail. The Mahalo features a ShockbedTM insole for impact control and Globe’s S-Trac vulcanized outsole for ultimate grip and flex.

@globebrand | GLOBEBRAND.COM | est. Australia 1994


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Boas, antes de mais, começa por te apresentares! “Mekie”, sou o Rafael Aragão, tenho 18 anos e sou de Lisboa.

EI RO F OC

Há quanto tempo andas de skate e como é que o skate surgiu na tua vida? É uma história engraçada. Os meus primos, Laurence e Bernard já andam de skate há imenso tempo e eu comecei com eles quando tinha 5 anos. Um dia caí e fiquei cheio de medo e nunca mais andei. Há aproximadamente 4 ou 5 anos um amigo começou a andar e eu voltei a sentir aquele feeling e nunca mais parei. E como desde o início tive facilidade para estar dentro no meio, por causa dos meus primos, a pica e vontade estiveram sempre presentes.

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entrevista e fotografia Ruben Claudino

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Ollie para drop, logo ali por trĂĄs da nossa loja de fotografia favorita.

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PRIMEIRO FOCO

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Depois destas fotos vamos ter, de certeza, um grande aumento na venda de rodas vermelhas. Front board

Pertences à nova geração de skaters, é impossível negar. Como tal, gostaríamos de saber qual a tua opinião sobre a entrada do skate nos Jogos Olímpicos, as competições de alto nível e o controlo desses eventos por parte grande marcas, muitas vezes fora deste lifestyle? Para mim há dois resultados da entrada do skate nos Jogos Olímpicos. Um deles bom, o outro mau. A parte má é que vai tornar a nossa cena ainda mais mainstream, que não é completamente mau, visto que vamos ter mais praticantes, mais spots, mais marcas, basicamente tudo será mais fácil para nós. O problema é que isto vai contra uma das principais bases do skate, onde não existem regras nem elites que decidem o que fazer, ou o nosso futuro. Cabe a nós, skaters, apoiarmos as marcas de skaters para skaters e apoiar todos os que realmente vivem esta cultura na íntegra. Quais são os teus objetivos e sonhos para lá do skate e o que fazes quando não estás a skatar? Agora tenho que acabar o 12º porque deixei o exame de matemática por fazer. Por isso vou fazer essa disciplina como “externo” e trabalhar este ano para perceber como funcionam as cenas no mundo laboral. Depois disso quero ir para a faculdade, só ainda não sei para que curso ahah... quando não ando de skate costumo estar em casa a ouvir música, ou então a ver aquele “Rick and Morty” clássico (hahaha) Ainda não tenho a minha vida muito bem definida. Mas acho que o mais importante é conseguir viver sem problemas monetários, poder viajar e curtir com o pessoal e se um dia vier a constituir família, poder dar o melhor de mim, esperemos que daqui a muitos anos ahahah

Se tivesses que escolher 5 skaters nacionais para seguir contigo numa tour, quem seriam? Se tivesse que escolher 5 pessoas, sem dúvida os meus primos, mas também o pessoal da IC (Icaramba Cru) como o Tomás Moreira, Tomás Fernandes, que puxam sempre por mim e me motivam, e também o André “Harry” Dias, para um hype extra. Costumo encontrar-te quase sempre no skate parque da Expo, mas já me tinhas dito que o que preferes é mesmo a street. Esclarece lá isso! O skate parque da Expo é a minha segunda casa, é lá que vou quando quero dar a minha skatada e onde encontro sempre o meu pessoal todo. Street dá-me sempre mais pica, visto que os spots não são perfeitos... por isso, quando se dá qualquer toque na rua é sempre uma felicidade do outro mundo, ganhas muito mais hype (ahah) e tens sempre aquele sentimento de liberdade quando skatas pelas ruas. O que te motiva no dia-a-dia, para pegares no teu skate e sair de casa? O que me faz sair de casa todos os dias para ir skatar é a base do skate, ou seja, cada um curte e expressa-se à sua maneira, não há regras, não há limites, tens toda uma capacidade criativa com apenas “uma tábua com 4 rodas” . Qual foi o skater nacional que mais te marcou? O Ricardo Fonseca, pelas videoparts incríveis, por ter sido dos primeiros skaters profissionais “a sério” em Portugal e por estar ao nível do skate lá de fora.


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PRIMEIRO FOCO

Dizem que a cruz é a sombra do homem com os braços abertos, de frente para o sol, será que este é um ollie místico? Transfer 50-50

Vivemos dias onde toda a informação, fotos e vídeos nos são apresentadas a 1000 à hora. Quais os teus “bancos de informação” mais assíduos sobre o skate? Ahah eu sou um instagramer assíduo. Lá apanho a maior parte dos miniclips que me fazem ir aos sites, seja do Berrics, Thrasher, Surge, etc., para ver os vídeos completos. Sem dúvida que a Thrasher é a minha fonte de informação nº1. Como imaginas a evolução do skate português, onde é que achas que vamos estar daqui a 5 anos? O skate nacional para mim está no auge. Com tanta facilidade em divulgar os vídeos e fotos começam a surgir skaters de quem nunca tinha ouvido falar e que acabam por ganhar reconhecimento. E cada vez são mais. Cada vez temos mais portugueses a safarem-se lá fora e é isso que se quer. Os “tugas” não sabem só ver a bola e comer tremoços ahahah

Por último, deixa aqui umas palavras para quem começou a andar de skate recentemente. Para o pessoal que está a começar agora, muita pica, não larguem nunca o skate e, acima de tudo, divirtam-se sempre, não existe nada mais importante que isso!

Agradecimentos Quero agradecer ao Laurence e ao Bernard por me levarem sempre para as skatadas desde o início e por fazerem crescer o bichinho, à Pop Skateshop pelo apoio dado, a todo o pessoal da ICaramba, que acaba por ser a minha segunda família e, por fim, ao Ruben Claudino por ter a paciência de ir para as ruas comigo para tirarmos umas “chapas”.



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1 Roberto Cremascoli - “Skate de Gordon” 2 Ivo Pacheco - «Untitled Skate” 3 João Pais Filipe - “Skateboard spinning Gong” 4 Mauro Ventura - “Mulheres que mijam de pé, Parte I” 5 Dinis Santos - “Embalagem de Tábua de Skate Enuff da Loja Kate» 6 Cristina Mateus - “TAKE AWAY” 7 Bruno Monteiro - S/título texto Rita Garizo fotografia Luís Moreira

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Para quem não sabe do que se trata, a Skatomize é uma exposição organizada pela Kate Skateshop. Teve a sua primeira edição a acontecer em 2007 como parte do programa de festas para celebrar o “Go Skateboarding Day”. Inicialmente, a exposição resultava exclusivamente da reinterpretação que criativos de diferentes expressões, artes e talentos, faziam das tábuas usadas pelos skaters da cidade que as ofereciam à causa. Na terceira edição a exposição começou a tornar-se mais abrangente e com a intenção de alargar o espectro de possibilidades, o suporte para trabalhar era inteiramente escolha do artista.

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O objetivo da Skatomize é estimular e projetar a interação entre a modalidade e todos aqueles, que pelo seu engenho e dedicação, se vão destacando na cena artística do momento: músicos, designers, artistas plásticos, writers, DJs e outros criativos, são convidados a glorificar a cena skate, tomando-a como inspiração, para compor uma exposição que leva a rua para dentro de uma galeria. Em 2011, deu-se a última edição da Skatomize, sendo hora de dar descanso ao projecto. Este ano a exposição foi ressuscitada a pedido da organização do festival Milhões de Festa que, neste ano, concretizou a décima edição. Os escassos dois meses de organização e preparação não eram visíveis ao entrar na Casa do Vinho. Houve muitas participações quer de skaters quer de artistas de várias áreas.

1 ÁCIDA - Rafael Silva - “CARRINHO” 2 Afonso Menezes - “Composição epidérmica” 3 Ruca Bourbon - “Sk-atex37# (multifunctional weaponized moving device)” 4 Mauro Ventura - “Mulheres que mijam de pé, Parte I” 5 ÁCIDA - David Ferreira - “SACO” 6 Antiprysm - “HEXED” 7 Vítor Israel - S/ título

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A inauguração da exposição foi também marcada pela actuação dos Mr. Miyagi. Banda de Viana do Castelo que é habitual presença onde quer que haja skate. Aguardamos ansiosos pela sexta edição da Skatomize, em 2018! O objetivo da Skatomize ao longo das suas várias edições sempre foi o mesmo: “Trazer a rua para dentro de uma galeria” e com isto estimular a interação entre skaters e outras pessoas que se destacam na cena artística. A última edição da Skatomize tinha acontecido em 2011. Depois da quarta edição do evento e de muitos entraves, foi hora de descansar e a edição seguinte foi-se adiando.

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1 Mariana Malhão - “Descomprimido “ 2 Rita Roque - “Faz a pose” 3 Horácio Frutuoso - “Sk8 or D13” 4 Oliveira Marco - “Padroeiro do Jovens” 5 Aurora Moreno - S/título 6 Francisco Fonseca “Skate no cérebro” 7 Joao Moura com Jacques Duchesne - “La faim” 8 Pedro Magalhães - “Pedro andar de skate” 1990-2017 9 Francisca Marques - “Inversão Parte I” 10 ÁCIDA - João Cruz - “+IVA”


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A convite da organização do Milhões de Festa, em 2017, ano em que quer o Festival quer a exposição celebravam dez anos desde a sua primeira edição, a Skatomize voltou! Os escassos dois meses de organização e preparação não eram visíveis ao entrar na Casa do Vinho. Houve muitas participações, quer de skaters, quer de artistas que gostam de skate. A inauguração da exposição foi também marcada pela atuação dos Mr. Miyagi. Banda de Viana do Castelo que é habitual presença onde quer que haja skate. Aguardamos ansiosos pela sexta edição da Skatomize, em 2018!



MA SON SILVA WELCOME TO THE PRO TEAM HAR D F L I P - P HO T O B Y EL EMEN T ADVO C AT E B R I AN G A BE R M A N #M AD ET O EN D U R E - @EL EM EN T B R AN D - EL EM EN T B R AND .C O M


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