SURGE Skateboard Magazine, 39th issue: "se os oregãos falassem..."

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janeiro/fevereiro/março

Trimestral

Distribuição gratuita

2018


LYNNFIELTDS


AURA S.A. - 212 138 500a


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E N T Ã O , Pedro Raimundo “Roskof” editor

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N Ó S ?

E foi assim, com esta frase dita por um quadro superior de uma grande empresa de media em Portugal, que nós nos calámos bem caladinhos, olhámos uns para os outros e saímos daquela sala de reuniões decididos a fazer uma coisa. A Surge iria ser nossa, iria ser grátis, iria ser feita como bem nos desse na cabeça e por mais que a conjuntura o exigisse só iria acabar quando nós quiséssemos. Parece que foi ontem, mas já lá vão 10 anos, leram bem, nossos amigos millenials e não só. Uma década passada na estrada com muitos skaters, amigos, 10 anos onde intercalámos noites passadas num saco cama ao relento numa praia qualquer, com noites em hotéis de 5 estrelas, cortesia de alguns dos nossos anunciantes. Anos e anos de reuniões a tentar convencer toda a gente que o skate é algo que não deve ser só valorizado, mas também estimado, anos de apresentações, de argumentações e também de discussões de modo a mantermos a máquina rotativa a imprimir. Sejamos sinceros, tivemos os nossos momentos em que parecia que o mundo ia acabar, em que computadores e outros aparelhos foram dar beijinhos à parede, momentos em que parecia que tínhamos ganho o euromilhoes, não em dinheiro, claro, mas em pica, em excitação, em podermos fazer coisas de que nos orgulhamos. Construímos secretárias e rampas, fizemos festas, filmes, jantares, concertos, raios, até prémios em forma de “falos” das Caldas criámos para os skaters com os maiores “cojones”, tentámos ajudar amigos, alguns perdemos para sempre, vimos gerações de skaters a desaparecer, outras a florescer. Enquanto o número de skate parques crescia, o numero de cabelos nas nossas cabeças diminuía. Vimos o surf a ser considerado o segundo desporto nacional a seguir ao futebol, enquanto o skate era colocado por alguns logo ali antes dos matraquilhos. Chamaram-nos todos os nomes imaginários por não querermos passar a Surge a revista online, por não fazermos posts diários no nosso site, nas redes sociais, por não darmos destaques a longboards, trotinetes e afins, por termos mais fotos de uns skaters do que outros, “são sempre os mesmos”, diziam uns, “é só amigos”, diziam outros, enquanto dávamos workshops de fotografia de borla, ou quando dávamos abertura a todos os interessados a colaborar com a revista. E claro que errámos, muitas vezes, mesmo, mas mesmo assim, entre todos os “penáltis” ou “tiros na mouche”, nos últimos 10 anos as nossas batalhas foram bem travadas... e dito isto, para que é que precisam de nós? Nós respondemos, literalmente e rigorosamente para nada, nós é que queremos que o skate continue a fazer parte da nossa vida e enquanto assim for vão ter que nos aturar!



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Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127

número 38 disponível online em www.surgeskateboard.com

Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com

S E O S O R É G Ã O S F A L A S S E M . . .

Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com

Globe shoes em Portugal, numa procura pelo tempero perfeito para o skate

Fotógrafos residentes: Luís Moreira João Mascarenhas

Para um bom skater brasileiro a melhor casa na Europa só podia ser em Portugal

Publicidade: pub@surgeskateboard.com

D U R A N , A L E X . . .

Colaboradores: Rui Colaço, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela, Ruben Claudino, Rui Miguel Abreu, Telmo Gonçalves, Jorge Matreno, Nathan Ethier Myette.

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três rapazinhos que ainda não têm a carta de condução, mas já conduzem um skate como gente grande

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Comprem filme... não megapíxeis. Uma aventura analógica com alguns dos melhores fotógrafos da Europa

Tiragem Média: 4 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros

Capa: Num momento único de skate em Portugal os dois S.O.T.Y., David Gonzalez e Mark Appleyard brincam como crianças no skate parque de Odivelas... só podia ser capa... tinha que ser capa e uma das nossas favoritas! fotografia Alex Papcke



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Digo-vos uma coisa, por mais que esses povos que habitam perto do círculo polar ártico sejam sempre bastante sofisticados e desenvolvidos, isso serve-lhes de pouco se forem dos que gostam de praticar atividades ao ar livre. Andar de skate com 20Cº negativos, podemos todos concordar que não deve ser das coisas mais agradáveis. Por isso e para nosso regozijo, essa malta no inverno é forçada a procurar outras paragens, tal como as aves migratórias. Mas estes, felizmente, não nos cagam na cabeça. E, claro, Portugal é um país que recebe bem todas as aves, não só as que fazem ninhos nos postes de alta tensão. Por isso quando a malta do team da RVCA Canadá nos disse que vinha passar umas férias... desculpem... trabalhar para o Porto, nós muito subtilmente fizemos aquilo que qualquer bom português faria, colámo-nos a eles para duas semanas de boa comida e cama à borla.

CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS R V C A

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fotografia Nathan Ethier texto Roskof



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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS

O JS Lapierre é vegan e não pode provar o chouriço caseiro no assador que levámos, mas mesmo usando apenas abacates como propulsão para dar nollie flips como este, não nos parece que o rapaz precise de mais calorias. A “entourage” era pesada... Kevin Lowry, JS Lapierre, Magnus Hanson e Lee Yankou. O Joey Larock também veio mas, lá está, deve ter uma costela tuga porque nem sequer patrocinado da marca é. Felizmente nas viagens de skate, quanto mais melhor e quando chegas ao Airbnb e vês que cada um tem duas camas é algo bastante positivo, não tens de incomodar os outros com o teu ressonar. Deste grupo, o Kevin e o Lee já tinham passado cá pela terra, enquanto que os outros jovens não faziam a mínima ideia para o que vinham. Por isso e para lhes dar uma introdução às boas maneiras tripeiras convidámos o Jorge Simões a passar estas semanas com a malta. Claro que no fim do primeiro dia, os nossos amigos canadianos já lhe tinham arranjado uma alcunha: “The Amazing Jorge”.

Magnus Hanson, com um magno switch ollie em Espinho



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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS

Os dias seguintes foram passados na cidade invicta a aproveitar o sol de inverno, a contar histórias de Natal a uma Mãe Natal numa roulote de um supermercado e, acreditem, por mais esquisito que isso seja, comparada com as histórias de Vigo, essa da Mãe Natal é um conto do Baby Tv. Mas já lá vamos.

Lee Yankou depois de cheirar os dedos da nossa amiga até dava frontside flips por cima da Torre Eiffel, se fosse preciso


Lee Yankou, ollie a 500km/h em Espinho


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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS


Este spot no Porto era para ser skatado de outra maneira, mas quando se tem pernas como este maluco, o mundo nĂŁo tem limites... ollie transfer


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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS

Na viagem do Porto a Vigo quase que ficávamos a pé mesmo na fronteira. À nossa adorada e entretanto desaparecida carrinha deu-lhe uma travadinha e chegámos a pensar em ficarmos todos em casa do Luís Moreira, em Valença. Felizmente para ele não teve de levar com o nosso chulé, porque o Magnus Hanson, para além de ter-se recentemente tornado pro da Element, também ficou com a carpintaria do Pai e assim arranjou maneira de com um pauzinho tratar do problema da carrinha... sim, leram bem, um pauzinho. Eu nem com um kit pro de ferramentas tinha resolvido aquilo, mais depressa tentava resolver ao pontapé... mas, lá está, esta malta do norte não gasta energia à toa.

Kevin Lowry, o team manager mais descontraído da história, a dar um ollie em frente a um nada descontraído segurança de hotel em Espinho



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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS

Lee a fazer a barba a uma estatua em Vigo, com um skate...

Vigo, como sempre, trata qualquer skater bem. Ali a pedra não gasta, o chão é mel e para skaters profissionais as raparigas são como abelhas... agora a sério, nem sequer saímos um dia de casa, o Kevin disse-nos que tinha reservado uma casa bem perto de Vigo, só a 40 quilómetros... lá está, aquilo na terra dele é como ir ao Supermercado. Mas, pronto, lá nos habituamos à viagem diária da costa de Baiona até ao centro da cidade. E seria numa dessas viagens que entraríamos na quinta dimensão... se tens menos de 30 anos e não sabes o quer era a “Quinta Dimensão” aconselho-te a procurar, se achas que ficas traumatizado com os episódios de Black Mirror, então aquela série vai pôr-te a dormir na cama dos pais outra vez.



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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS

Enquanto as três amigas ali sentadas punham a coscuvilhice em dia, o JS punha os lipslides em dia também... “The Incredible Jorge”… digam-nos algo que não saibamos... crooked pop-out – Porto

E esta história quase que nos pôs a nós. Uma das noites, no meio do nada, parámos numa bomba de gasolina para nos abastecermos de mantimentos, quando uma rapariga nos seus 40 anos atravessa o carro à nossa frente e pergunta se nos fumávamos... inicialmente pensávamos que ela queria cravar um cigarro, e então ela disse...”olha, vocês fumam aquelas coisas que fazem rir? Venham aqui e cheirem-me os dedos”. Ficamos todos com cara de parvo, menos o Lee Yankou, que devido a problemas médicos tem que fumar essas substâncias... por isso, lá foi ele cheirar os dedos à rapariga... juro que só imaginava que ela tinha posto o dedo no rabo e lhe estava a pregar uma partida... mas, afinal não, cheirava bem! Entretanto ela diz ao Lee para acompanhá-la e, claro, nós todos a pensar que ela ia levar-nos para uma quinta onde alguém iria desmembrar-nos e dar-nos como alimento aos porcos, mas, afinal, não.



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CHEIREM-ME OS DEDOS... E CUIDADO COM AS OVELHAS


Era uma quinta de ovelhas, onde a espécie ovina era usada não para arranjar meias quentinhas para o inverno, mas sim para fertilizar uma plantação de arbustos jamaicanos... o Lee lá aviou a receita e quando saiu da casa da miúda estava em choque. Ela tinha-lhe dito para não fazer barulho em casa porque a mãe estava a dormir. Não sei se fiquei mais chocado por ela vender substâncias com a mãe a ressonar ao lado, ou por uma mulher com aquela idade ainda não ter saído da casa dos pais. A partir dessa noite, lá está... ”Cheira-me os dedos” passou a ser o bom dia oficial de toda a gente no tour. Na volta para Lisboa ainda passámos na Nazaré para ver as ondas e comer tremoços e a malta aproveitou para dar uns mergulhos na Praia do Norte... a sério, aquela praia onde vemos o pessoal a surfar grandes cacetes, naquele dia levou com canadianos em cuecas... não menos impressionante.

Sabem porque é que este spot em Espinho se chama Nave? É porque de vez em quando aparecem lá alguns extra terrestres a skatar... Lee Yankou, lipslide no último andar


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JS Lapierre, Kickflip Nosegrind - Vigo


WWW.CARHARTT-WIP.COM RÉMY TAVEIRA – FRONTSIDE 50-50 • PHOTO: ALEXANDRE PIRES


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Sasha Daily – 50.05 para o flat

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U fotografia e texto Jorge Matreno

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28 SKATEDELUXE 28 WE ARE SUPRA - EURO TOUR PT

Oscar Candon veio esticar a corda em Chelas... frontside wallride

O fim do verão é a altura preferida pelos “Gringos” para visitar o “velho continente”. Portugal está na moda e não é só para os turistas. O “We are Supra Euro Tour” passou por cá e como podes imaginar, foram mais uns dias épicos com alguns dos nossos ídolos. Lizard King, Spencer Hamilton, Dane Vaughn, Oscar Candon, Windsor James, Clint Walker, Sascha Daley e Aníbal Martins foram os tripulantes desta viagem que passou por Lisboa, Leiria e Porto, com paragem obrigatória pela BANA e KATE Skateshop. Quase que podíamos chamar a esta viagem uma “visita de médico”, uma vez que a agenda deste pessoal estava muito solicitada, com várias cidades europeias para ligar em apenas 10 dias.


Sasha – Front blunt transfer


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WE ARE SUPRA - EURO TOUR PT

Oscar – Front Bonelless


O Lizard King tem das melhores alcunhas de sempre e os seus frontboards também não ficam nada atrás...

A coisa boa de normalmente estas viagens começarem cá pela nossa terra, é que embora a malta venha com o “Jet Lag” à flor da pele, a pica de começar a skatar e o reencontro de amigos deixam o pessoal sempre em alta, alguns deles com mais que vontade de skatar, como é o caso do Oscar Candon, que só descansou quando o levamos a surfar. Embora o que interesse mesmo seja a rua, com dias longos e quentes pela frente, ninguém recusa uma rápida visita ao oceano para fazer o tratamento à sinusite.


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WE ARE SUPRA - EURO TOUR PT

A viagem foi curta, mas a coisa boa da fotografia é essa, pode-se sempre congelar as boas memórias, como este fontwallride nollie out do Sascha

Com apenas dois dias para ligar os melhores spots entre Lisboa e o Porto, é certo que a paisagem passava depressa demais pela janela do carro, mas a razão era nobre, demos o nosso melhor para que todos pudessem conhecer este grupo de skaters. E acreditem que a missão foi cumprida na perfeição. Ficou a promessa de um regresso, com mais calma... apenas raspámos a superfície do bom que nós, em Portugal, temos para skatar. Cá estaremos para mais uma aventura.



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A primeira vez que te vimos a skatar foi no Parque das Gerações e parecias mesmo ainda um “puto chirila”... de repente deste um salto e já és mais alto que aqui a malta toda. Como é que isso aconteceu, foi começares a saltar escadas de skate, ou tiveste aí alguma receita secreta? Por acaso também não sei, sempre fui baixo. Depois, do nada, comecei a crescer. Mas, sim, skatar as escadas e alguns “danoninhos” podem ter ajudado ahaha A tua abordagem ao skate é um bocadinho diferente da maior parte dos skaters da tua idade. Muitos preocupam-se mais com as manobras, do que com a forma como dão as manobras, em termos de estilo. Tu parece que vais um bocado em sentido oposto, porquê? Tem a ver com os teus skaters favoritos, ou é apenas como tu és? Acho que é de ter crescido a ver pessoas como o Dylan Rieder, Austyn Gillette

e o Jason Dill. Estes foram skaters que me marcaram muito a skatada. Ainda me lembro que todos os dias antes de ir andar via sempre a mesma vídeo parte do Dylan Rieder, da Gravis ahahah. Fui bastante influenciado por eles e agora faz parte da minha maneira de pensar e da minha maneira de ser. Como “local” do PDG e skater da POP Skateshop tens no Laurence e no Bernard Aragão duas pessoas que estão sempre prontos para motivar, mas também para dizer as verdades que precisam de ser ditas sem rodeios. Eles partem-te muito a cabeça, ou és um skater bem comportado? Por acaso até sou bem-comportado, obviamente que já ouvi os famosos sermões deles. Mas falando a sério, eles são das pessoas mais bacanas que conheço. Um grande abraço para eles, por me apoiarem e estarem sempre lá!


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fotografia Ruben Claudino entrevista Roskof

Noseblunt

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ALEX BOTELHO

Recentemente entraste também para a Others, uma nova marca nacional, onde fazes companhia ao João Allen, um dos melhores skaters nacionais. Como é que vês esse projeto e como é que é teres o Allen no mesmo team, ele faz-te dropar do topo de prédios, ou nem por isso? Estou muito feliz por fazer parte da Others, acho que me identifico bastante com o estilo e a visão da marca e do pessoal envolvido. Por agora ainda não me fez dropar prédios, mas chegaremos lá! As fotos desta entrevista também foram feitas por um fotógrafo que tem um visão bem singular do skate, o Ruben Claudino. Como é que essa ligação aconteceu? Trabalhar com ele era algo que ambicionavas fazer, ou foi algo que aconteceu naturalmente? Honestamente desde que vi o trabalho dele que sempre quis fazer alguma coisa.

Quando a oportunidade surgiu estava um bocado nervoso, mas eventualmente fomos tirar umas fotografias e foi mesmo tranquilo, naturalmente. Também tem a ver com o facto de eu estar sempre a mandar piadas. Então, pronto, começámos logo por dar-nos bem. Como só te conhecemos do skate parque, não sabemos bem o que fazes para além do skate. Espero que - como a maior parte dos putos agora - não sejas apenas youtuber, ou alguma dessas coisas novas que te obrigam a colar que nem um zombie à frente de um ecrã... o que é que curtes fazer, para além do patinete? Para alem do skate também estudo no Liceu de S. João, o que é fantástico, basta sair e descer a rua, que estou no PDG. E como moro atrás do Liceu, ainda melhor! Depois nos tempos livres desenho, pinto e também gosto imenso de design gráfico.

Se virem o Alex a skatar ao vivo vão poder comprovar o pop deste menino... e não estamos a falar da loja que o patrocina – flip no Areeiro Nesta sessão e antes deste 180º nosegrind, o Alex deu um dos maiores “tralhos” que vimos ao vivo nos últimos tempos. Enquanto que a maior parte de nós tinha logo encostado à boxe, ele não só não parou, como ainda tentou uma manobra mais difícil... respect!


Tens muitos skaters à tua volta, literalmente “em altas” em termos internacionais, mas não nos parece que tu sejas um skater que gostes muito do fator competitivo. Estamos enganados, ou és dos que ambiciona ir ao Street League? Eu acho piada ao lado competitivo do skate. Não é algo que adore, mas ate é engraçado. Nunca pensei nisso, mas acho que nunca terei nem capacidade nem consistência para competir com o pessoal que dá tre noseblunts nollie tre out ahaha. Prefiro

mil vezes ir por aí com o pessoal skatar, à busca de spots e curtir a skatada. E novos projetos, onde é que te vamos poder encontrar nestes tempos mais próximos? Certamente na street, vou começar a produzir mais e fazer-me um homem ahaha. Ah, e quero também começar a andar melhor de bowl, para ver se começo por aí a voar.

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fotografia Leandro Romero/Daniel Romero entrevista Leandro Romero

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VICTOR MARTINS

Num típico cenário irlandês, switch crooked Switch Varial Heel por cima do rail


Para começar, pedia-te para que te apresentasses à malta. O meu nome é Vítor Martins, tenho 29 anos, sou de Itabira, Minas Gerais Brasil, estou em Portugal há um ano. Há quanto tempo estás a viver na Europa e o que te fez sair do Brasil? Há três anos que saí do Brasil. Na verdade, sempre tive o sonho de viver em outro país, viajar pelo mundo e andar de skate nos spots que via sempre nos vídeos de skate. Por que países da Europa já passaste e qual foi o que te marcou mais? Já estive na Irlanda, Inglaterra, Espanha, República Checa, Itália, Alemanha e Portugal. O que mais me marcou foi a Irlanda, por ter vivido 2 anos em Dublin, capital do país. Foi um período de muita vivência e aprendizagem. Como é a cena do skate lá em Dublin e como foi passar estes 2 anos lá? O skate em Dublin tem uma cena “bem style”, a malta anda por amor à camisola, faz muito frio, não há muitas marcas nem competições. Nem se fala em “viver do skate”, mas, sim, em diversão, sempre.

Quais as facilidades e dificuldades em Dublin? Para mim o melhor são os spots perfeitos e a facilidade de locomoção pela cidade... usava uma bicicleta para andar de spot em spot. A dificuldade principal é acostumarmo-nos ao frio. Há dias em que chega a doer os ossos e nem sentir os pés, hahaha Lembras-te de alguma sessão de skate memorável que tenhas vivido lá? Para mim, a sessão que nunca esquecerei em Dublin será o dia em que fui tentar um switch heel numa escada muito grande e extensa. Era um dia muito frio, fui com 2 calças, 3 camisas e uma jaqueta para tentar a manobra, estava com os meus parceiros de skatada (Daniel, Fabrício, Leo Low, Lucas Foca e Júlio). Parti duas tábuas nesse dia, caí em cima do skate, mas não dei a manobra perfeita! Ainda hei de voltar a Dublin para acertar a manobra como quero. Agora sobre Portugal, como foi a tua adaptação ao país? A minha adaptação não foi muito fácil, assim como em qualquer começo. Tive uma grande ajuda da família no Brasil e de amigos que já aqui estavam, como o Marcell Bethonico, Leo Low, além da minha namorada, Priscilla Bini, que sempre me apoiou. Amo Portugal e hoje tenho amizades que levarei para toda a vida.


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VICTOR MARTINS

O Victor mal chegou a Portugal participou num anuncio de cerveja, depois de um crooked como este deve apatecer beber uma bem gelada



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VICTOR MARTINS

Ollie num sítio mítico do skate nacional – Pavilhão Carlos Lopes

O skate abriu-te portas por aqui? Claro que sim, como sempre o skate abre portas, participei num anúncio para uma marca de cerveja, que rendeu uma “grana” e conheci o Tomás, skater de longa data e amigo que me arranjou emprego no restaurante dele. Sem falar de todos os skaters que conheci e amizades que fiz através do skate. Tiveste a oportunidade de participar do Lisboa Stone Crushers, certo? Conta-nos como foi entrar neste evento e o que é que veio somar à tua vida. Sim, foi muito style o Lisboa Stone Crushers, tive que trocar folgas no trabalho e andar numa correria para poder participar. Quando cheguei à praça do Martim Moniz e vi os obstáculos fiquei “pilhado” para andar, pois estava cheio de palcos (acho que dizem curbs, aqui), um dos obstáculos que mais curto. O nível do campeonato foi muito alto e graças a Deus acabou rendendo o 3º lugar para mim. Ganhei uma grana que me ajudou muito naquela altura! Como é viver em Portugal e quais os spots que mais te fazem a cabeça? Portugal é muito style e tem vários spots para se andar de skate, além de um das melhores skate parques em que já andei (PDG). Os lugares que mais curto são a Praça do Comércio e a Praça da Figueira.



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BALCÃSMARTINS VICTOR - LAS VEIGAS

Tens andado a filmar sessões ultimamente? Estava a filmar com o Thiago Teles, mas ele mudou-se para a Austrália. No momento estou a andar pouco, pois estudo e trabalho, mas sempre que dá, estou na sessão a filmar com os meus parceiros Lucas ou Leandro Romero para o Film & Life. Nem sempre é possível filmar, então tento aproveitar a sessão e divertir-me com o skate. Podemos esperar alguma vídeo parte para o futuro? Estou com um projeto para lançar um vídeo com os meus amigos do Brasil, a minha crew, com quem comecei a andar de skate. Estamos as filmar as últimas partes e esperamos lançar o vídeo até meados deste ano. O vídeo terá partes de Jefferson Almeida, Luiz Felipe, Jardel Germano, Rodrigo Ramalho e outros amigos.

Disseste que estás a estudar. O quê e quais os teus planos para o futuro? Sim, comecei o curso de web design no ano passado, sempre curti essas cenas. A minha ideia é trabalhar com skate nessa área. Queres contar-nos alguma sessão de skate memorável, que rolou em Portugal? Depois de o Leandro Romero me convidar para fazer fotos para esta entrevista e filmar para o canal dele no youtube (Film & Life), começámos a “colar” em diversos spots para tentar fazer render algo de bom. Um dia ele falou-me sobre um spot abandonado, eu disse que poderíamos tentar... fomos cheios de pica, eu e ele com três câmaras e sem ter ideia do que podíamos fazer. O spot é muito style, mas todo sujo e com pouco espaço. Muitos cacos de vidro no chão que dificultavam a volta da manobra, porém no final resultou uma foto animal e mais um episódio para o canal.

Para quem não sabe, estes canhões encontram-se bem à vista de Lisboa... não sabes onde é? Tens bom remédio... procura! Varial Heel num secret spot à vista de toda a gente.



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VICTOR MARTINS

Quem te vê skatar percebe logo a tua preferência pelas manobras de base trocada / switch stance. Pode-se dizer que isto é uma característica do teu estilo? Acho que sim, sempre curti andar de switch, mas para mim o principal é divertir-me!

Queres deixar alguma mensagem ou se quiseres, “está aberto” para agradecimentos. Agradeço a Deus, à Surge pelo espaço, ao Daniel Romero e ao Leandro Romero, fotógrafos que estiveram comigo na sessão a apoiar-me para voltar às manobras e a dar-me motivação que rendeu todo este material. Ao meu patrocinador no Brasil, Nollie Skateshop, que sempre acreditou no meu skate. À minha família, namorada e amigos, são tantas as pessoas que fica difícil nomeá-las, mas quem é real, sabe!

Para um skater que adora curbs, não fica nada mal num bom corrimão... frontside 50



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Então, Durand tudo bem? Epá, em primeiro lugar, de onde vem esse nome. Não me digas que os teus pais eram fãs dos Duran Duran? Tudo ótimo! Ahah acho que não é essa a razão do meu apelido. O “Durand” tem a ver com alguma descendência francesa que existe na minha família que eu ainda não descobri. Sei que também tens raízes no Brasil, como é que vieste parar a Portugal? Sim, a minha família toda é Brasileira, eu no Brasil vivia com a minha avó. A minha mãe vivia em Portugal nessa altura. Quando eu tinha 7 anos disse à minha avó que queria viver em Portugal com a minha mãe e como o meu pai vinha para cá à procura de emprego, eu vim com ele. Desde então vivo com a minha mãe, com o meu padrasto e com a minha irmã mais nova, mas ainda mantenho contacto com o meu pai e com os meus familiares no Brasil.

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És dos skaters que temos visto a evoluir mais rapidamente nos últimos tempos em Portugal. Cada vez que te vemos a skatar parece que deste um “pulo” nas manobras. Porque é que achas que isso é assim, é apenas a forma como skatas, ou já sabes as manobras todas e só as vais pondo cá fora conforme te apetece? Ahah nem sei, eu acho que é mais a minha maneira de skatar. E também há sempre pica, motivação e bom ambiente do pessoal com quem custumo skatar por isso é bacano para evoluir. O que é que se passa com a cena dos body-varials? Nós sabemos que tu também gostas de skatar coisas grandes, mas depois nas redes dás mais enfoque a outro género de manobras. Porque? Eu curto de dar uns bodyvarial’s às vezes, é verdade, eheh epá, eu no “insta” tento mostrar um bocado de tudo o que aprendo de novo, ou de algo que curta dar. E também curto fazer uns edits às vezes para o “insta” ahah ...e também tenho umas footages de street que só estou à espera de umas coisas para serem lançadas.


fotografia Jorge Matreno entrevista Roskof


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GUI DURAND

Um impossible nada impossível em Sacavém...


Como membro desta nova geração de skaters da linha que chama casa ao PDG como é que olhas para aquele skate parque, que pelo que temos percebido já mudou a vida a muita gente...? O PDG é um skate parque perfeito para toda a gente poder evoluir e eu agradeço mesmo por este projeto ter ido até ao fim, pois o skate parque foi essencial para muita gente. Sei que recentemente também entraste para a Ericeira Surf and Skate e, como é logico, essa relação é algo que tem de funcionar bem para os dois lados... como é que tem corrido essa experiência, a vida de patrocinado é como imaginavas, ou a pressão é maior? Sim é verdade. E eu estou contente por ter a oportunidade que estou a ter para poder representar estas marcas, está a correr tudo bem, já não

tenho falta de material o que é ótimo, exceto os ténis que as lixas comem eheh a pressão é sempre um bocado maior porque queres passar uma boa imagem tua e tens que mostrar conteúdo que o faça. Alguns dos teus melhores amigos já conseguiram abrir portas a uma carreira de skate internacional, nós sabemos que a vida dá muitas voltas, mas isso será algo com que também te identificas, gostarias de lhes seguir os passos? Ou preferias fazer outra coisa qualquer? Sim, é verdade, o Gustavo, o Jorginho e o Tiaguinho estão mesmo no caminho do American Dream. Viver do skate lá fora não é nada fácil, mas é um dos meus sonhos, poder viajar, fazer tours e andar muito de skate. Vou acabar o 12º ano, trabalhar e juntar o meu dinheiro para poder viajar e andar de skate.


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GUI DURAND


Com manobras como este Fakie frontside flip estamos a ver o Durand a seguir o caminho dos seus amigalhaรงos do peito


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Ok, pode não ter o nome por causa dos Duran Duran, mas mesmo assim este frontfeeble é bem pop!

E agora com o Gustavo Ribeiro a viver em L.A já tens lá casa, não pensas ir lá fazer uma visita ao rapaz? Ehehe ahahah Claro que eu quero ir visitar o meu puto Gugu nos States para andarmos de skate!!! Nessa altura ele já conhece os spots todos ahah



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entrevista Marta Cruz fotografia Miguel Correia

Miguel Correia, 34 anos, Músico e Fotógrafo, Lisboa. O Miguel não passa despercebido a quem passa por ele. Com uma linguagem irreverente e provocatória, começou na música e rapidamente começou a explorar a fotografia. Com registos muito próprios de pessoas, grupos e culturas diversificados, não tem medo de seguir em frente e ver mais além.

SURGE: Miguel Correia ou Mike Ghost? Quem é quem? Miguel Correia: O Miguel Correia é a pessoa que carrega o tal de Mike Ghost, uma alcunha meio random para justificar a minha voz num disco de uma banda, voz essa que ficou tão lá ao fundo na mistura que acharam por bem creditar-me dessa maneira, maldita hora. Passados uns anos as pessoas tornam o Miguel Correia num alter ego do Mike Ghost, porque este raramente aparecia. S: Músico, Fotógrafo e Visual Artist? Em que doses? MC: Comecei cedo como músico, deixei a escola para ir em tour com uns rapazes de Lisboa, mais tarde achei que deveria começar a registar as viagens e os momentos passados na estrada e comprei uma máquina fotográfica. Cresci com uma cultura muito visual e sonora e não tive de pensar muito para começar a criar, ia-me saindo à medida que ia vivendo, creio que com a idade e experiência certos rótulos e estrangeirismos deixaram de ser algo que não poderia ser mencionado. O puto punk que achava que conseguia viver fora da sociedade moderna, a seu tempo teve de começar a querer entender o porquê de certas coisas serem como são e, no final moldar-se a elas. Acho que a sociedade, ainda assim, tem os seus podres, como tudo na vida, e depende de cada um ser o que quer ser e como o quer ser. Dai o Visual Artist e, cada vez mais, criar algo visual, que te faça parar um pouco e estimular seja qual for o pensamento. Sou um pouco de tudo aquilo que sou.


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MIKE GHOST


S: Quando e como começou o teu interesse pela “cena artística”? MC: Lá está, nunca pensei em ser artista, ou intitular-me artista, fui fazendo e criando o que me vinha à cabeça com o conhecimento que tinha e as ferramentas que me estavam à mão. Acho que os seguidores do teu trabalho e o interesse de certas entidades te tornam artista, esses sim. O resto, como disse, é aproveitares a onda e continuares a criar, usar o que a sociedade nos dá para nosso proveito. S: É um amor, uma paixão ou uma amante? MC: São todas as que mencionaste em cima, depende do dia e do trabalho, mas todas elas reagem à sua maneira, dependendo do momento na relação. S: A tua fotografia passa muito pelo retrato. O que procuras e encontras quando retratas pessoas, fantasmas escondidos? MC: Acho que para mim involuntariamente no início fazer um retrato era uma maneira de abrir o jogo com a pessoa em questão, para quebrar um pouco o gelo, fosse qual fosse o trabalho. E hoje uso o retrato voluntariamente para a mesma situação. Claro que alguns trabalhos não passam de retratos e, no fim, acho que dependendo do caso o retrato nem sempre mostra aquilo que as pessoas são, mas sim aquilo que elas querem que se veja delas. S: No teu percurso já viveste e experienciaste muitas culturas e contraculturas. Existe Cultura e Contracultura em Portugal? MC: Existe e muita, somente estamos ofuscados com o que os media nos mostram, o nosso país tem imensas culturas e contraculturas, desde “crews” de carros alterados, sem passar pelo chuning claro, “crews” de amigos que gostam das mesmas modas, do mesmo look, do mesmo estilo de vida e por aí fora, só que, lá está, em vez de olharmos para nós, olhamos pela janela à espera que caia à nossa porta algo com que nos possamos identificar.


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S: A tua estética e linguagem são provocatórias. Quem é que queres provocar? MC: Sinceramente ninguém, sai naturalmente. Houve casos que sim, sabia que ao fotografar algo de uma certa maneira poderia provocar alguém, mas não sinto, se calhar ainda, que o faça para provocar diretamente alguém. Como já referi, gosto de coisas que me façam pensar em algo, questionar certos assuntos e no fim creio que é isso que quero transmitir. Eu acho que a provocação só existe se alguém se sentir provocado, podes tentar provocar e ninguém ligar porque não lhes diz nada, já pensar em algo em que não chegariam lá se não fosse o que está a ser transmitido, naquele momento, acho que se vai mais ao encontro daquilo que faço. S: Em 2018 estás no espaço e no tempo que idealizaste para ti? MC: Ficou para o fim a pergunta que vai descambar, não acredito em espaço nem em tempo, na vida pessoal ou profissional, acredito que agora estou onde estou e amanhã posso não estar, trabalho gera trabalho e projetos pessoais não faltam e quando sentir que estou com a cabeça “lá”, aí sim, começo a criar. As pessoas e a maior parte “artistas” veem a frustração como algo que bloqueia a criatividade e a vida pessoal, mas, na verdade, se usarmos a frustração como mais uma ferramenta de trabalho e como uma autoajuda para chegarmos a uma certa finalidade, esta deixa de coexistir e passa a existir somente.


@globebrand | GLOBEBRAND.COM | est. Australia 1994

Sammy nose blunt transfer wearing Globe Fall apparel and shoes. Fall apparel and footwear available in select retailers.

WELCOME SAMMY MONTANO


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entrevista Surge fotografia Helio Dilman

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Um bom flip é como um bom movimento de dança. Vindo da parte de um rapaz da Ementa SB, nesta foto do Raphael Alves, estamos à espera de música e dança a qualquer momento. fotografia Jorge Matreno



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Não entendemos como é que o miradouro de Monsanto, um dos locais mais incríveis de Lisboa continua neste estado. Mas enquanto não é renovado, vamos aproveitando para chamar a atenção para este espaço, de todas as maneiras possíveis. Pedro Roseiro – Ollie fotografia Jorge Matreno


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Costumam dizer que quando estamos com os pés quase no além, vemos uma luz ao fundo do túnel. Se for como esta, com malta a skatar lá, também não nos parece assim tão mau. Tikz backsmith fotografia Renato Lainho

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KICKFLIP - PHOTO BY ELEMENT ADVOCATE BRIAN GABERMAN ELEMENTBRAND.COM - @ELEMENTBRAND - #MADETOENDURE


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Este spot nas Caldas da Rainha tem chamado a atenção de não só críticos de arte internacionais mas também de alguns dos melhores skaters da actualidade. Jake Anderson, directamente da California para as Caldas, para dar este backside ollie fakie manual cab flip fotografia Roskof



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Este 50-50 pop-out do João Allen foi dado ainda a recuperar os pés de uma lesão grave... imaginem o que aí vem quando ele achar que está completamente curado! fotografia Roskof

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Oi Guilherme, tudo bem? É bom ver que depois de uma lesão grave estás de volta com mais vontade para skatar do que nunca. Que lesão foi essa e como é que lidaste com a recuperação? Sabemos que para a malta nova estar parado é como uma prisão... Pois, é verdade, eu tive uma lesão grave no joelho direito no verão de 2016. Fiz uma rotura do ligamento cruzado interior, o que levou a cirurgia e a seis meses de recuperação. Nunca pensei conseguir passar tanto tempo sem fazer o que gosto, foi bem pior que uma prisão, mas percebi que depois da cirurgia só faltava a recuperação e sendo que era uma lesão complicada e com médicos a dizer que não voltaria a andar de skate, percebi que apenas dependia de mim para voltar a pisar a tábua. Portanto, levei a recuperação à risca e graças a Deus deu tudo certo!

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fotografia Jorge Matreno entrevista Roskof

Mesmo antes de te lesionares tinhas ganho o título nacional da categoria Amador e logo a seguir o prémio Surge “Puto do Ano”, algo que é votado pelos teus pares e pela comunidade do skate. Como é que encaraste esse reconhecimento? Para mim foi uma sensação excelente, eu ando de skate todos os dias é, sem dúvida, o que mais gosto de fazer e ganhar o título nacional de amador e logo de seguida ser “chamado” de Puto do Ano foi mesmo muito bom. É ótimo sentir que somos reconhecidos por algo que adoramos fazer dando-nos ainda mais pica para continuar. Fazes parte de um dos teams de skate mais clássicos em Portugal, da Bana Skateshop, uma das skateshops mais antigas do país, ao lado de skaters como o Pedro Roseiro, o Canina... como é fazer parte dessa família? O Bana e a malta dão-te muito na cabeça, ou só te dão mimos? Ahah O Bana foi o meu primeiro apoio, para mim fazer parte desta equipa é mesmo um orgulho gigante. Poder filmar e curtir com o pessoal da team... é só boa gente e as streetadas em conjunto são sempre pica a dobrar. Fora da rua eu acho que o pessoal sempre que pode tenta ajudar-se uns aos outros, seja nós ao Bana ou o Bana a nós, só tenho mesmo a agradecer ao Bana!

Quando recuperas de uma lesão, a confiança nunca é a mesma, mas pelo que podemos ver do Guilherme nestes últimos tempos, o tempo parado ainda lhe deu mais pica para skatar. Frontside 5.0



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GUILHERME LIMA

Estiveste na final Europeia do Vans Shop Riot com o team do Bana e deste lá algumas manobras que trocaram os olhos à malta. Qual o teu estilo de skate favorito, gostas de misturar o clássico com manobras mais técnicas ou, como agora as novas gerações, curtes é inventar coisas novas? Pá, sinceramente nem sei muito bem ahaha mas quanto a inventar as manobras que o pessoal anda aí a dar agora não é muito para mim ahaha curto de dar as manobras mais “normais”, mas é um pouco o que me vai na cabeça, às vezes chego ao parque e até me dá na cabeça inventar umas cenas ahaha Um assunto que temos que falar: como muitos skaters da nova geração da zona da Linha, o Parque das Gerações tem sido uma das bases desta nova vaga de talentos... mas tu és daqueles que mais vemos nas ruas, como é que encaras isso, és dos que gosta de praticar no parque para depois levar para a rua, ou és dos que não se preocupa com isso e depois quando chegares ao spot logo se vê o que estás a sentir? Acima de tudo gosto de andar de skate, ando para me divertir e quando estou no parque penso mais em curtir com o resto do pessoal do que propriamente treinar manobras para ir para a rua. Mas quando saio do parque para o spot tento não pensar seja em pormenores do chão, ou se o rail é muito alto e me posso aleijar, tento apenas aproveitar a pica, curtir e acima de tudo tentar. Como todos os que andam na rua sabem, nem sempre corre bem ahaha Recentemente entraste também para a BD Skateboards uma marca espanhola que já há algum tempo vem fazendo algumas viagens a Portugal. Como é que isso aconteceu? É verdade, isso aconteceu talvez na altura em que eu menos esperava que aparecesse um apoio/patrocínio, pois foi na altura em que me lesionei. Quando faltava cerca de dois meses para voltar a andar de skate recebi uma mensagem no insta do Caboz, que é quem distribui a marca em Portugal e a partir dai falámos e aconteceu. Foi, sem dúvida, uma pica extra para voltar a skatar e uma grande ajuda! E como é que foi fotografar uma entrevista para uma revista? Ahaha És dos que tem comichões por não publicares logo as fotos no insta ou curtes ver o trabalho de outra maneira? Foi um “trabalho” que adorei fazer, um dos meus sonhos sempre foi aparecer numa revista de skate e visto que tive oportunidade o objetivo era mesmo tirar fotos para a entrevista, por isso, por mais que me custe, o insta teve que ficar de parte ahaha E projetos no skate ou fora dele para breve, o que te vês a fazer nos próximos tempos, tens alguma coisa em vista, ou não te preocupas muito com o que aí vem? O futuro é uma cena em que por acaso tenho pensado bastante. Por agora quero investir ao máximo neste ano de 2018, seja em correr campeonatos lá fora, filmar bastante, viajar etc. Em termos de campeonatos pensei no Simple Session, na Estónia e queria pelo menos ir a mais uns dois ou três campeonatos fora de Portugal. Quanto a filmar, saiu agora o meu introducing na bdskateco que é mais uma chill edit do que uma video part, mas em breve estará cá fora um vídeo em que já ando a trabalhar há algum tempo com o João Apolinário e a minha parte para o Bana street pack 3.

“insta”, desculpa lá mas esta foto do front feeble está aqui impressa primeiro... chupa!



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fotografia Sam Ashley, Thomas Busuttil, Jerome Campbell, Benjamin Deberdt, Florian Hopfensperger, Jelle Keppens, Henry Kingsford, Dani Millán, Patxi Pardiñas, Gerard Riera, Sem Rubio and Danny Sommerfeld. texto Surge

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Com a certeza de que a revolução digital mudou completamente as nossas vidas, não deixa de ser irónico que as máquinas fotográficas sejam, hoje em dia, objetos em que são mais importantes a quantidade de píxeis, o wi-fi e uma grande panóplia de avanços tecnológicos, do que as próprias imagens captadas. Mas há também quem procure a imperfeição, os acidentes, os detalhes, os atrasos e avanços e o processo químico da revelação, que vai muito mais além dos que os potentes megapíxeis. Neste sentido, um grupo de fotógrafos europeus criou o “The Film Project”, dando foco a novos trabalhos na área do skate, mas usando as clássicas técnicas fotográficas. As fotos que vais poder ver publicadas neste artigo estarão em exposição por um grande número de cidades europeias e, claro, onde elas mais merecem estar: nas páginas de várias revistas de skate.


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fotografia Alex Papcke/Roskof texto Roskof

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Segundo vários estudos publicados em algumas das mais prestigiadas revistas cientificas mundiais, as plantas comunicam entre si de várias maneiras e, ao contrário do ser humano, essa comunicação acontece também entre espécies. Plantas 1, humanos 0!


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SE OS ORÉGÃOS FALASSEM...

De todas as plantas presentes na cidade de Lisboa, poucas devem ter tantas histórias para contar como os orégãos, sim... aqueles que são vendidos por vários comerciais especializados no centro da cidade. Aqueles que também vendem farinha e caca de cão prensada. Neste caso, os orégãos comprados pelo David Gonzalez ainda devem estar hoje a rir-se da cara que ele fez quando todos olhámos para ele e lhe provámos que o que ele tinha comprado, não era destinado a fazê-lo relaxar, mas sim ser um ótimo tempero para as ameijoas à bulhão pato (ou nestes moluscos são coentros?!). E, claro, foi a comer umas belas ameijoas na casa que a Globe tinha alugado para esta viagem que delineámos o plano de ataque aos spots de Lisboa, com algumas lendas vivas do skate mundial. Não é todos os dias que temos oportunidade de ter a skatar na calçada portuguesa David Gonzalez, Mark Appleyard, Paul Hart, Ryan Decenzo e Sammy Montano. A pressão estava em nós e no Nuno Príncipe, que como responsável do marketing da marca em Portugal tinha que tomar conta destes tão ilustres convidados. Para ajudar, o Alex Papcke, fotógrafo da Thrasher, quando chegou disse-nos logo que já o tinham avisado que não valia a pena ir a Portugal porque numa viagem passada eles já tinham skatado todos os spots que valiam a pena! Eu sorri e disse-lhe que no fim desta semana ele ia engolir aquelas palavras... com uma cataplana de marisco, é certo. Nos primeiros dias o ritmo foi lento, o jetlag ainda se fazia sentir, mas a malta conseguiu chegar a horas à demo marcada no Parque das Gerações, onde se houvesse notas de 5€ por cada selfie tirada com o David Gonzalez a esta hora este vosso amigo estava nas Antilhas holandesas com os túbaros de molho. A rapaziada não deixou os créditos por mãos alheias e com skaters como o Ryan Decenzo a skatar escadas e gaps literalmente para aquecer os pés, quem esteve presente levou uma boa recordação para casa. Nessa noite e apesar de alguma da malta querer sair para festejar uma boa demo, a responsabilidade falou mais alto e voltámos para casa, onde apenas se partiram umas portas e meia dúzia de copos de vinho... ahhh não há nada como ir relaxar para casa antes de alguns dias de trabalho intenso.

Um dos skate parques mais antigos de Portugal recebeu um dos maiores destruidores de rampas dos últimos tempos e o diálogo entre ambos foi perfeito. David Gonzalez frontside flip a passar o channel do Bowl da Baixa da Banheira.



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A namorada do Sammy Montano é dos Açores, quando ele lhe disse ao telefone que tinha dado este noseblunt transfer em Chelas ela disse... caraças, que fixe! Ele perguntou-lhe: what does it mean “caraças?”


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SE OS ORÉGÃOS FALASSEM...

Quando o Ryan nos disse que tinha descoberto este double-set 10+10 em Chelas, a expressão que usou foi que era um spot bem “chill” Se calhar é a nova designação que se dá na America do Norte a grandes abusos... Ollie... bem “chill”

A partir de agora é que a coisa começava a sério, de escadas de skate parque passámos para double-sets 10 espaço 10, para bumps onde tinhas que skatar a 300km/h, para corrimões com 10 metros, seguranças, cães, polícia, tudo o que qualquer skater que se preze gosta de apanhar quando anda na rua. Entretanto, a conversa de estarmos numa viagem com dois Skaters do Ano vinha sempre à baila e começámos na carrinha todos sempre a picá-los: “fixe era tiramos uma double foto”, ou seja, uma foto com os dois a skatar. Depois de muito os chatearmos lá convencemos o Mark e o David a ir até ao skate parque de Odivelas, onde pudemos ver em primeira mão estas duas lendas do skate a voar um por cima do outro. Eu já vi muita coisa no skate, mas garanto-vos que foi uma das que mais me emocionou nos últimos tempos. E não, não estou a falar de emocionado de lágrimas nos olhos, estou a falar de estarmos todos aos gritos e abraçados como se tivéssemos ganho o euro milhões, a raspadinha e aqueles concursos televisivos do domingo à tarde tudo ao mesmo tempo.



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SE OS ORÉGÃOS FALASSEM...

Sempre que vamos ao Monte da Caparica skatar é como se de uma festa se tratasse: toda a gente vem à janela, é miúdos por todo lado e, claro, toda a gente vem para ver bom skate. O Ryan Decenzo retribuiu a hospitalidade com um frontside flip à séria...

Nesse dia nem conseguimos fazer mais nada, fomos para casa, o David passou a noite a tocar guitarra, o resto da malta a jogar matrecos e a falarmos de o quão incrível tinha sido mais um dia de skate em Lisboa. Para acabar a noite estivemos a ouvir atrás da porta a conversa do Sammy Montano com a sua namorada em Los Angeles, que é lusodescendente, enquanto ele lhe perguntava porque raio é que os pais dela tinham saído daqui. Não compreendia! O momento da partida desta rapaziada de volta aos “States” aproximava-se. A cada dia que passava mais eles diziam que nunca tinham tido uma viagem de skate tão boa... sim, meus amigos, estes skaters que conhecem o mundo todo e mais a lua devem ter-nos dito mais de uma centena de vezes que Portugal era incrível.



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SE OS ORÉGÃOS FALASSEM...

Por estes dias está a estrear em Los Angeles um filme da Globe com esta viagem. E conta com um título bastante sugestivo: Good Luck In Lisbon. Nada mau para um grupo que tinha sido avisado para não ter grandes espetativas de Portugal. No final perguntei novamente ao Alex, “então, afinal o que achas disto?” Ele riu-se e nem precisou de dizer mais. O único que se queixou foi mesmo o David Gonzalez, afinal mesmo com os nossos avisos para não comprar Orégãos ainda deixou cá temperos para pelo menos mais duas panelas de ameijoas.

Appleyard kickflip fakie



THE SKATE SHOE FOR ANY PERSONALITY To introduce our newest model the 255, JORDAN TAYLOR chose the notso-subtle palette of Clear Sky and Laser Blue, with highlights of Solar Flare Orange, to reflect the unique set of characters that inhabit the far corners of his mind. Jordan finds the 255 is a go-to skate shoe that’s ready to roll right out of the box, wherever the day may take him. Featuring an updated heel fit, tongue construction and redesigned foxing tape, the 255 retains the same dependable support, durability and grip from its predecessors. The 255 is reassuringly utilitarian for whichever role you want to assume.



EVAN SMITH BY BRIAN GABERMAN.


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