SURGE Skateboard Magazine, 35th issue: "uma vez rato, rato para sempre"

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2017 janeiro/fevereiro/março Trimestral Distribuição gratuita

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TIAGO LEMOS

COLOR-WAY

T H E P LA Z A TC

WITH


TIAGO LEMOS \ SWITCH B/S SMITH \ BLABAC PHOTO

DCSHOES.COM

AURA S.A. - 212 138 500



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Certamente estás agora a pensar o que fazem tantos ratos na capa de mais uma edição da nossa estimada Surge e quase de certeza que dentro da infinita combinação de ligações nervosas no teu cérebro, que criam as tuas opiniões neste determinado momento, uma das que te surgiu foi: “Mas em que raio é que estes gajos pensam quando fazem capas destas? Afinal isto não é uma revista de skate? Eu quero é ver manobras, boas fotos e ler boas histórias”. Pois é, amigo, temos uma informação de última hora para ti… andas de skate? Gostas de procurar spots, de juntar-te com os teus amigos para skatadas, seja numa bela Praça de mármore, ou num armazém abandonado cheio de merda? Gostas de passar os dias a “assar” num skate parque enquanto os teus amigos apanham um solzinho na praia e, ainda por cima, levam a tua namorada? Então, meu caro, tu, tal como nós, tu és um rato. Ou dependendo da tua dependência do skate até podes ser uma autêntica ratazana! Não te rias desta comparação… se parares para pensar no que estes animais têm em comum com os skaters, vais encontrar mais semelhanças do que diferenças. Tal como eles, os skaters aproveitam cada oportunidade, não para se alimentarem de restos de comida, mas dos restos produzidos pela urbanidade e não só. Também nós temos muitos predadores e constantemente somos vítimas de ratoeiras. Também a nós nos tentam impedir de usufruir dos espaços que vemos à nossa volta. Raios, até a nós nos chamam de feios, sujos e nojentos. Já para não falar das vezes que vêm falar connosco logo com uma vassoura ou um pau na mão. Mas tal como os ratos nos provam tantas vezes, não é com todos os perigos e armadilhas que desafiam um instinto tão básico como a sobrevivência animal, que conseguem fazer com que eles desapareçam de vez... e o mesmo podemos afirmar como skaters: podem tentar domesticar-nos, pôr-nos a andar às voltas em rodinhas de “hamsters” para entretenimento geral, podem deixar-nos veneno nos spots, dar com vassouradas na cabeça, ou colocar ratoeiras onde menos esperamos, a nós também o instinto nos controla! Nunca deixar uma oportunidade por aproveitar, skatar sempre, skatar em todo o lado. Este é o lema de um autêntico Skate Rat…

ilustração Luís Cruz

Pedro Raimundo “Roskof” editor


A COLLABORATION BETWEEN

ISLE SKATEBOARDS RAPHAËL ZARKA CARHARTT WIP

WWW.CARHARTT-WIP.COM SYLVAIN TOGNELLI – OLLIE UP 5-0 • PHOTO: MAXIME VERRET

Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


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Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127

número 34 disponível online em www.surgeskateboard.com

Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271

TiagoFernandes,ThiagoMonteiroeTomásLopes

Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com

Lá por começarem todos por T não quer dizer que sejam “tranquilos”. Uma nova geração está a aparecer e a pôr a “velha guarda” em sentido.

Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com

Capturas Laurence Keefe

Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com

Até te contávamos algumas destas histórias aqui, só para fazer a introdução, mas de certeza que não ias acreditar... por isso deixamos-te a pensar até chegares a este artigo.

Fotógrafos residentes: Luís Moreira João Mascarenhas

Utopia – Minas de São Domingos Uma missão a um dos sítios mais improváveis para andar de skate em Portugal mostra-nos que utopias só mesmo na nossa mente é que são impossíveis.

Publicidade: pub@surgeskateboard.com

Tapete Voador com Rolamentos

Colaboradores: Rui Colaço, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela, Ruben Claudino, Rui Miguel Abreu, Telmo Gonçalves.

Na era do “Eixo do Mal” cada vez mais nos apercebemos que são só coisas inventadas só para nos encher a cabeça. Um skater é um skater, seja na China, nos Estados Unidos, ou no Irão.z

Tiragem Média: 8 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros

Capa: Apesar de ter uma “carinha laroca”, de ser “Sr. Engenheiro”, quem o conhece sabe que há poucos “ratos do skate” como o nosso João Allen. Boneless em Oeiras fotografia Roskof

Uma vez rato, rato para sempre… ilustração Bruno Madeira



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Oi Tiago, apresenta-te aí à malta, de onde és, o que fazes e como é que acabaste em cima de um skate na cidade dos doutores? Olá, chamo-me Tiago Fernandes, também conhecido por “CJ”, tenho 18 anos e sou de Coimbra. Recebi um skate no Natal quando tinha 5 anos, curti muito esse skate, mas só mais tarde com 12 é que comecei a gostar mesmo e a skatar todos os dias. Como é que está a cena do skate aí por Coimbra? Já foi uma cidade com muita tradição no skate, agora para quem está de fora a cena parece bem mais calma. É mesmo assim, ou há uma nova geração de skaters a aparecer? Está muito fraco... o pessoal começa a curtir outras cenas, uns vão para fora e outros vão para a universidade. Existem uns 4 ou 5 que skatam mais regularmente, mas ainda há muita gente que curte a cena, pessoal mais velho que vai até ao skate parque do Parque Verde depois do trabalho ou das aulas. Quanto a uma nova geração, vejo 3 putos com pica, mas para haver mesmo uma nova geração é preciso um skate parque em condições onde os putos vejam o pessoal a skatar todos os dias para que eles também queiram skatar.

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Enquanto a maior parte da malta local passa os dias no skate parque, o Tiago dedica-se a explorar os melhores spots de Coimbra - 360º flip

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entrevista e fotografia Roskof


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TIAGO FERNANDES

Mesmo com o skate parque do Parque Verde passas mais tempo no mítico Campo das Flores do que no skate parque. Porquê? Porque aquele skate parque é um insulto aos skaters de Coimbra, é um monte de lombas com os copings dentro do cimento, dá para “brincar” lá ás vezes, mas só as vezes, mesmo. Não dá para estar lá todos os dias, prefiro o Vale das Flores, que foi onde comecei a skatar. Tem vários curbs, um corrimão e alguns gaps. Encontrámos-te no DC Skate Challenge, em Leiria, e vimos que tu e mais rapaziada aí da zona norte e centro têm-se juntado para aparecer nos campeonatos, quem é que são e como é que esse gang se juntou? Esse gang juntou-se a no início do circuito nacional da DC deste ano, já conhecia o César Afonso e o Bruno Scortgagna, da Figueira da Foz, desde puto eles iam skatar muitas vezes as Coimbra. Depois do nada apareceu em Coimbra, já com grande nível de skate, o Bruno Simões. Mais tarde conheci o Max Klochac e o campeão nacional de iniciados deste ano, Pedro Rodrigues, ambos de Aveiro. E por último conheci o Carlos Costa, de Águeda, e aos poucos juntámo-nos para ir a campeonatos passar fins de semana a skatar... Todos eles são uma ótima escolha para um artigo semelhante a este na próxima edição da revista.

As horas passadas nos curbs do Vale das Flores mostram-se proveitosas neste switch 180 smith 180 out


Por acaso o Tiago nĂŁo curte muito a Queima das Fitas, mas a velocidade que ganhou neste no-comply para a estrada de certeza que curava qualquer excesso das noites acadĂŠmicas.


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TIAGO FERNANDES

Para quem não costuma andar em skate parques, deste umas manobras em Leiria bem típicas de skate parque. Disseste-nos que era porque tinhas curtido mesmo o Parque de Leiria. Porquê? O porque está brutal! Apesar de ser pequeno, o espaço está muito bem aproveitado, tem obstáculos mais acessíveis do que nos outros parques. Os obstáculos de que gostei mais foram a lomba e o manual pad com curb a subir e descer ao lado. Acompanhas a cena nacional ? Para ti o que faz falta para que o skate e os skaters em Portugal evoluam mais? Sim, acompanho a cena nacional. Acho que o que falta aos skaters nacionais para evoluírem mais são melhores apoios e mais skate parques.

Ainda bem que este curb não é infinito, senão ainda hoje ele lá estava… nosegrind no curb todinho até ao fim



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TIAGO FERNANDES

Quem são os teus “companheiros” favoritos do skate aí em Coimbra? Ouvi dizer que de vez em quando ainda aparece malta da velha guarda, como o Cotonete, o Miguel “Sassi”, ou o João Jorge. Partem-te muito a cabeça? Gosto de skatar com o Bruno Simões, o Miguel costa, o João Santos, o Alex Alves, o João Esteves, o Carlos Carvalho, o João Jorge e o Ivan Vicente. A maior parte deles não está a viver em Coimbra, mas quando eles estão por cá são sempre boas skatadas. A malta da velha guarda ainda vai aparecendo, mas raramente. O Miguel “Sassi” skata muitas vezes, ainda! Antigamente Coimbra na altura da Queima das Fitas “fechava para obras”, ainda é assim? Ou essa altura até é das melhores para o skate visto que toda a gente passa os dias de ressaca? Sinceramente, estou-me a cagar para a queima das fitas, não gosto de confusão nem da música que se faz lá, a queima das fitas não me afeta o skate em nada. À parte do skate, o que é que curtes fazer? Que planos tens para o futuro. Queres ser Presidente da República, ou és dos que não precisa de tanto para ser feliz? À parte do skate curto ouvir música, passear e estar com amigos. Não tenho planos para o futuro. Últimas palavras e agradecimentos? Queria agradecer-vos a vocês por me terem dado esta oportunidade, à minha família, aos meus amigos e à Liberate Your Self pelo apoio que me tem dado.

Uma entrevista ao Tiago sem o seu “amado” Vale das Flores não podia mesmo ser…backside no comply360 para a rampa



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Para alguns, o nosso planeta é algo mesmo pequeno, para essa raça de viajantes que muitos de nós invejamos, mas cujos passos não temos coragem de seguir, é um bom punhado de histórias por contar, algumas boas, outras nem por isso. O Laurence Keefe é uma dessas pessoas. De uma pequena aldeia no sul de Inglaterra, ser viajante e aventureiro foi um passo que o levou quase por necessidade a pegar numa máquina fotográfica para capturar momentos que se não víssemos diríamos inacreditáveis… soldados no Afeganistão a andar de skate com kalashnikovs, por exemplo! O mundo, sem dúvida, ainda tem muitas surpresas para oferecer-nos...

intro Surge texto e fotografia Laurence Keefe

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CAPTURAS LAURENCE KEEFE

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Kirill Korobkov, Coreia do Norte, 2013 Uma das propostas mais estúpidas para uma viagem que eu alguma vez ouvi - Ir numa excursão à Coreia do Norte para tentar tirar uma fotografia de skate. Mas porque não?… Uma equipa de três gajos: Fotógrafo Patrik Walner, jornalista de skate russo Kirill Korobkov (que usou jardineiras de bombazine a viagem toda!) e eu, o skater, dirigiram-se em fevereiro de 2012 para o Reino Eremita para a festa do centésimo aniversário do Kim Il Sung numa viagem guiada de três dias, com a esperança de nos conseguirmos escapar da excursão para tirar uma fotografia de skate sempre que houvesse oportunidade. Para resumir a história, nós conseguimos e isso apenas envolveu fazer o pessoal todo da excursão esperar por nós, chatear os nossos guias/ polícia secreta, entrar num autocarro trancado para roubar os nossos próprios skates ignorando uma mulher histérica e tentar andar de skate na terra com um skate meio partido e um pé torcido. Bons tempos! Algumas razões para não visitar a Coreia do Norte: 1. É caro. 2. O dinheiro que gastas lá ajuda a financiar o regime mais grotesco do mundo no que toca a direitos humanos. 3. Sentes-te desconfortável e, no limite, o tempo todo que estás lá. 4. Diarreia.


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Banguecoque, 2014 Imaginem a minha satisfação quando, ao passear de skate nos becos escuros e puídos de Banguecoque, uma das cidades mais insanamente movimentadas e caóticas da Ásia, e descobri um grupo de skaters transsexuais meio nus. Como são automaticamente rejeitados pelos media de skate, criaram de forma orgânica o seu próprio estilo. Cannon Balls e Hang10’s de salto alto e biquíni… Boa noite!


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CAPTURAS LAURENCE KEEFE

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Afeganistão, 2013 A viagem ao Afeganistão foi a única em que eu senti que estava realmente em perigo. Estes gajos eram os nossos guarda-costas pessoais, destacados para esse efeito pelo Governador da Província Norte, através de um contacto de um amigo nosso. Tudo isto para nos proteger enquanto skatávamos as ruas afegãs. Viveram vidas completamente diferentes das nossas e decididamente não tiveram infância, mas pareceram-nos mesmo felizes por ver o que nós estávamos a fazer e por poderem brincar, talvez, pela primeira vez. O que foi incrível, mas ao mesmo tempo uma das coisas mais estúpidas de que alguém se pode lembrar de fazer, que é pôr-se em cima de um skate com uma Kalashnikov carregada ao ombro.


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Walker Ryan e Patrik Wallner. Palestina, 2015 Não consigo perceber como é que alguém teve uma ideia tão incrivelmente estúpida como a de construir um enorme muro de cimento para dividir pessoas que, de outra forma, poderiam facilmente viver em paz entre elas. É triste ver e refletir sobre os fracassos da humanidade, mas pelo menos lembrámo-nos de o usar de forma diferente! Foi interessante ver o Walker a filmar uma line suave e fluida num dos spots mais agrestes, sob uma das atmosferas mais tensas do mundo.


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CAPTURAS LAURENCE KEEFE

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Iran, 2014 O irão é um país rígido. O álcool é ilegal. Os homens são proibidos de usar calções, coletes ou gravatas (porque é um símbolo ocidental) e as mulheres são obrigadas a um lenço na cabeça em qualquer circunstância e devem estar cobertas de forma a que não se veja pele para além das mãos e da cara. Se tiveres alguma aparência fora do vulgar como por exemplo piercings ou rastas, serás rotulado como suspeito e podes mesmo ter problemas com a polícia. Se tiveres tattoos, possivelmente as pessoas vão perguntar-te todos os dias se és satânico e podes mesmo ser preso sob suspeita de envolvimento num culto. A internet e as notícias são censuradas e muitos livros são banidos. Há também muitas restrições para as mulheres. As mulheres são separadas dos homens em todos os transportes públicos, proibidas de viajar na mesma carruagem que um homem ou na metade da frente dos autocarros. Em muitos cafés há uma zona especial para mulheres chamada “área familiar” e elas são proibidas de fumar shisha (tabaco aromatizado fumado em cachimbo de água). Os castigos pela infração destas regras não são uma piada. As mulheres podem ser condenadas a sessenta ou setenta chicotadas, ou mesmo prisão por não cumprirem as regras de vestuário. Podes também ser executado por estar bêbado em público. Parece que a Mona (skater local) isso não a impediu de tatuar um hippie jump no antebraço. Respect!

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Gosha Konyshev. Ilha de Socotrá, 2015 Já estive em muitos sítios onde não esperava encontrar nada para skatar, mas no geral há sempre alguma coisa e com regularidade, para minha surpresa, spots incríveis. Infelizmente isso não aconteceu na Ilha de Socotrá, situada no Mar Arábico. Acho que posso dizer que esse foi o único sítio onde estive que, na verdade, não tinha spots, nem mesmo ruas pavimentadas nas minúsculas aldeias… Por isso, andámos de skate em cavernas!

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S K A T E S H O P entrevista Roskof fotografia Roskof, Ivan Vicente, Bernard Aragão

Muitos de nós não vamos saber como é a sensação de construir a nossa própria casa, mas nesta entrevista podemos sempre saber como foi construir uma verdadeira “casa” para os skaters do Parque das Gerações.


Não é todos os dias que vemos uma skateshop construída de raiz pelos donos. Vocês já tinham a Pop montada numa outra localização, porquê e como é que surgiu a ideia de porem as mãos na massa? A POP Skate Shop nasceu com a construção do Parque Das Gerações e o objetivo sempre foi movê-la para dentro do PDG. Assim que surgiu essa hipótese pusemos mãos à obra.

Vocês foram pedreiros, carpinteiros, eletricistas, canalizadores e pintores, como é que se desenrascaram? Já tinham umas noções, foram aprendendo, ou também tiveram ajuda de malta mais qualificada? Após a fase de estudo e planeamento, tínhamos noção que só o valor do material já era bastante elevado e que o valor para a mão-de-obra ficava além das nossas possibilidades. Por isso adotámos o espírito DIY (Do It Yourself) e como diz um velho ditado português: “A necessidade aguça o engenho”! Ah, claro que nada disto seria possível sem a grande ajuda de todos os nossos amigos, desde: o nosso tio Gonçalo, que é um experiente

Todos sabemos que para construir algo no nosso país temos que levar com vários “filmes”, houve algum momento em que durante a idealização e construção estivessem quase a perder as “estribeiras”? Ou foi um processo calmo? Não foi fácil! As burocracias neste país são sempre mais que muitas e ao mesmo tempo era um grande investimento que não podia ser feito sem ser premeditado. Foi cerca de um ano de papeladas, estudo e planeamento antes de começarmos a construção, mas uma vez que arrancámos com a obra já não havia volta a dar e foi sempre a bombar a 200%.

e talentoso carpinteiro, o nosso amigo Eng. Zé Luís, que ajudou com todo o planeamento de obra e escolha de materiais e métodos a seguir, o Arq. Luís Fortes, mais conhecido por “Ninja Nairans” que projetou a obra e ajudou com as soldagens, o Miguel Ferraz, que para além de muita ajuda nas mais variadas áreas, concebeu e implementou todas as janelas e portas da loja, o Miguel e Zé Santos, que trataram de toda a parte elétrica da loja, a Ana, que nos trouxe sempre as melhores iguarias para nos manter com energia e motivados, assim como o Vasco, Rafa, Roseiro, Slap, Fred, Fernando, Benny, Guelas e muitos outros que ajudaram nas mais diversas tarefas.


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POP SKATESHOP

Ao mesmo tempo que montaram a loja também renovaram o team da Pop, quem são os novos skaters e acham que esta é uma parte importante para que o projeto da Pop cresça? Parece que cada vez são menos os apoios aos skaters nacionais, como é que encaram o futuro para esta nova geração de skaters ? Sem dúvida alguma que é importante! Não são só as paredes e o teto que fazem uma Skate Shop, mas também toda a malta que a representa, juntamente com todo o trabalho desenvolvido. A família POP é composta por: Alex Furtado, Bernard Aragão, César Lacerda, Duarte Pombo, Francisco Carmona, Keanu, Laurence Aragão, Manel Santos, Rafael Aragão, Thaynan Costa, Tiago Lopes, Tomás Pinto, Vasco Montalvão e Zé Cardoso. A economia portuguesa não está muito famosa, o que afeta sempre a indústria do skate e por sua vez os apoios que daí possam surgir. No entanto, cada vez são mais e melhores os skate parques pelo país e acreditamos que se a malta se unir e apoiar as marcas/entidades que fazem trabalho a nível do skate nacional, mais apoios e iniciativas surgirão. A nova geração vem aí com muita pica e força e, sem dúvida, que dará um “boost” na “skate scene” nacional! Na vossa loja claro que a Dilabor tem um lugar de destaque e é um facto que cada vez é mais importante para as comunidades locais terem uma marca que os represente. Como é que têm corrido as coisas com a marca e como é que a vêm a evoluir no futuro? A Dilabor tem cerca de um ano e meio de existência e tem tido uma grande aceitação, o apoio da comunidade tem sido cada vez maior e a marca tem crescido gradualmente. Criámos a Dilabor para fazer um trabalho em prol do skate nacional e não estarmos somente dependentes de distribuidores e marcas internacionais, que muitas vezes não despendem budget para marketing em Portugal. Queremos que a marca ganhe cada vez mais expressão e força e temos imensas ideias e projetos para o futuro. Em relação às outras marcas presentes no mercado nacional, como foi a resposta a este vosso projeto? Perguntamos isto porque geralmente as pessoas cá querem ver primeiro as coisas concretas antes de se chegarem à frente com algum apoio. Acham que a reputação de ser uma loja de skaters para skaters teve alguma influência neste caso? Ainda está tudo muito no começo, mas a resposta inicial foi positiva! É um conceito um pouco inovador em Portugal e, para alguns, mais difícil de compreender. Sem dúvida que a grande maioria das marcas quer provas dadas antes de investir, mas também já temos algum historial e é para isso que trabalhamos, para cada vez abrirmos mais portas. Como loja de skaters para skaters, queremos trabalhar com marcas que façam marketing a nível nacional, pois só assim é que o skate em Portugal crescerá saudavelmente. Sabemos que durante a construção vocês literalmente dormiram todas as noites numa tenda na obra, para que não houvesse roubos de materiais durante a noite. Isto diz muito da dedicação que colocaram para que isto acontecesse, como é que foi essa experiência de acampar durante meses a fio num skate parque? De certeza que deve ter havido algumas boas histórias…

Acampar é sempre fixe, quanto mais num belíssimo skate parque como o PDG! haha A parte mais chata era que não era só à noite, tinha que estar sempre alguém a guardar a obra 24/7, não podíamos dar-nos ao luxo de nos ausentarmos e de nos roubarem o material. Fora isso ainda curtimos à grande as noites de Verão com altas churrascadas e guitarradas com amigos que nos vinham visitar. Quando chegávamos à tenda, tal era o cansaço que “capotávamos” logo! Mas o Pop dormia connosco e como cão de guarda de serviço alertava-nos sempre que havia alguma visita inesperada. Ainda houve uns maluquinhos que tentaram a sua sorte, inclusive quase que roubaram um par de ténis. Mas nada que uma perseguição e uns golpes, estilo Bruce Lee não tivessem resolvido. haha No dia da inauguração para além da comunidade skater vimos que a vossa família também estava presente em peso, o que é que eles acharam desta vossa ideia? De certeza que, para a vossa mãe, ver os filhos a dormir numa tenda à noite e a trabalhar nas obras durante o dia não deve ter sido fácil… A nossa mãe sempre nos avisou que se não estudássemos íamos trabalhar nas obras hahaha (esta piada tornou-se um cliché na obra). A nossa família já sabe que somos muito focados e de ideias fixas e para se concretizar algo há que arregaçar as mangas e pôr mãos à obra! Apoiaram-nos do princípio ao fim em tudo o que puderam, especialmente nas importantes questões de logística como: comida e roupa lavada. Um grande obrigado a toda a família! Qual a sensação que melhor descreve o que sentiram no fim do dia da inauguração? Muito cansaço acumulado hahaha Mas atenção que apesar de todo o processo ter sido bastante trabalhoso e cansativo também nos deu imenso gozo. O dia da inauguração foi em “countdown” a finalizar os acabamentos até ao último segundo (um clássico, mesmo à portuguesa)! Mas depois, quando estava tudo pronto e parámos um pouco para contemplar a obra e ver toda a gente que apareceu a curtir num espírito festivo, foi altamente emotivo e gratificante! Últimas palavras e agradecimentos Antes de mais queremos agradecer-vos por esta oportunidade! Queremos também agradecer a toda a gente que contribuiu para a construção, sem o vosso apoio não teria sido possível! Foram mais que muitas as pessoas que ajudaram ao longo dos meses, podíamos enumerar nomes, mas dessa forma ocupávamos a revista toda hahaha. Um grande obrigado a todos, do fundo do coração! Vocês sabem quem são! E, por fim, agradecer também a toda a gente que apoia a nossa causa! Vocês é que nos dão força para continuar! Keep on rolling and having fun! It’s all about the POP!!!


6th Annual

Bright European Skateboard Awards

Vote on Instagram with a like: @freeskatemag December 19th till 23rd We need your voice for European Skateboarder of the Year, European Female Skater of the Year, Rookie of the Year, Brand of the Year, Film of the Year and Shop of the Year. Watch all the clips and vote: www.freeskatemag.com www.awards.brightskateboarding.com


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A definição de Utopia é algo tão diferente quanto as mentes humanas que existem, existiram ou irão existir, pois, sem dúvida, para qualquer um de nós, a fantasia, o idílico, nasce sempre das nossas próprias necessidades enquanto pessoas. Este projeto, que nos levou até às Minas de São Domingos, na fronteira entre Portugal e Espanha, um local que certamente nunca estaria na lista de spots a visitar por parte de qualquer skater, provou-nos que mesmo no local errado, na hora errada, mas com o espírito certo podemos viver, nem que seja por alguns momentos, a nossa fantasia. Abandonas há décadas, exploradas há séculos, as estruturas que ainda fragilmente se aguentam de pé voltaram à vida para a produção de um vídeo com o Ruben Gamito e parceria entre a Surge e a DPFC Design com a imprescindível ajuda do nosso amigo João Sales. Brevemente vais poder desfrutar deste vídeo no conforto da tua casa, entretanto podes viver um pouco da nossa Utopia nas páginas desta revista…

Gamito MInas


P texto Roskof fotografia Roskof

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UTOPIA - MINAS SÃO DOMINGOS


Ruben Gamito, flip

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Ruben Gamito, backside wallride grab out



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Ruben Gamito, crooked pop-out



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Por estes dias o Adilson está a recuperar de uma operação ao ombro, mas todos os dias nos manda mensagens a dizer “’tou com uma pica para skatar que nem aguento”. Preparem-se, que quando este menino estiver de volta não há alturas de canteiros que o parem. Crooked nas alturas - Almada fotografia Roskof



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O Aléxis ainda perguntou aos pescadores se precisavam de ajuda para puxar as redes, mas como eles não responderam... seguiu com a sua vida… backside nosepick pop-out - Costa da Caparica fotografia Roskof


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Juan Salas - Backside nosedrive num dos raros momentos em que não está a estudar tudo sobre camiões, semirreboques e outros monstros das estradas fotografia Renato Laínho


Cruising panning Colaboraçao com Nelson Duarte fotografia Renato Laínho


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Num destes dias decidimos ir à Califórnia tirar umas fotos e, acreditem, foi rápido. Foi só apanhar o ferry para Tróia e já está…Francisco Perdigão Backside Wallride fotografia Roskof



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O que é que se pode fazer num corrimão onde toda a gente já deu tudo? Pois, é isto… Kevin Baekkel a fechar mais uma manobra em Alfragide -Early Grab Front Board sequência Roskof


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A sério, o que é que estás a fazer a olhar para esta fotografia do novo DIY em Ponte de Lima, em vez de estares a entrar no carro com os teus amigos para ires até lá acima? Ivan Miji - Frontside Indy fotografia Renato Lainho


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Renato Lainho num Layback Front Board fotografado por Renato Lainho… confuso? É o Renato Lainho, não canses a cabeça…


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Num mundo de formas e padrões, a nossa visão conta mais que nunca… Rodrigo Gomes, Ollie fotografia Ruben Claudino


@globebrand | GLOBEBRAND.COM | est. Australia 1994

Fries’ new guest colorway of David Gonzalez’s Eagle SG. Globe’s Shogun cupsole adds greater support and flexibility with an added deep footbed for impact control.

FRIES TAILLIEU | THE EAGLE SG


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texto e fotos Jorge Matreno

Se há um lugar no planeta onde todos os skaters querem ir, nem que seja uma vez na vida, é provavelmente a Califórnia e quando me refiro a esta região é claro que falo em Los Angeles. Esta viagem foi mais um dos convites inesperados que tive este ano. Claro que este seria irrecusável, mas ao início cheguei a pensar que não poderia embarcar... esse lado “racional” durou apenas alguns minutos e comecei a arranjar um plano para conseguir estar ausente de Lisboa duas semanas e a solução rapidamente apareceu.

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GUSTAVO RIBEIRO

Se há imagem clássica do skate na Califórnia são as manobras por cima das bocas-de-incêndio. O Gustavo não quis deixar passar a possibilidade de ter uma dessas só para si… Flip

O convite foi feito pelo Gustavo Ribeiro que decidiu ir aos Estados Unidos para participar no Damn Am, no Woodward, que como todos devem saber é a Disneylândia dos skate parques. Viajar para os Estados Unidos não é nada barato, uma vez que íamos lá era de aproveitar da melhor maneira... Sendo assim, estendemos a nossa estadia por mais dias para conseguir “raspar” a superfície de L.A.: ficámos com a sensação de que embora fizemos umas boas centenas de quilómetros de carro em redor desta área metropolitana, desfrutámos de uma minúscula parte. Foi extremamente complicado decidir por onde começar. No primeiro dia andámos feitos “turistas” a conhecer Hollywood e as redondezas. Ao início é uma sensação um tanto ou quanto estranha andares por estas bandas, pois se existem lugares onde tudo te é familiar sem que nunca lá tenhas ido, este é um deles, graças a toda a ficção que aqui se produz, seja ela cinema ou televisão. Tive mesmo de mentalizar que não era ficção a minha presença ali e controlar a vontade de querer fotografar como um turista japonês dos anos 90. Rapidamente fizemos contacto com alguns dos skaters locais e o Carlos Zarazua foi um deles. O Gustavo combinou uma skatada com este “local” de North Hollywood logo no segundo dia, que foi, sem dúvida, um dos mais intensos que tivemos. Ao tentar explicar-nos que achava os Europeus

super nervosos a conduzir na estrada, acaba de dizer isto, pisa o acelerador do carro a fundo e cerca de 100 metros mais à frente “espeta-se” num camião de uns jardineiros… no mínimo insólito, este comentário, e no pior timming possível. De qualquer forma foi só chapa e tudo se resolveu. O acidente e toda aquela sensação estranha que fica no ar, em minutos desaparece. O Carlos queria levar-nos a skatar no campus da universidade, um lugar simplesmente incrível e onde o Gustavo mostrou logo que estava com uma “pica” incrível. No primeiro spot do campus em que foi possível andar, não se fez acanhado e com poucas tentativas sacou logo uma das grandes manobras da viagem. Embora seja a Meca do skate mundial, L.A. é um lugar onde é muito complicado skatar spots de rua, especialmente durante a semana e na baixa da cidade (Downtown). A maioria do que é bom, ou está repleto de “skatestoppers”, ou então és expulso num instante. E acredita que assim que viras a esquina encontras um novo e icónico spot, que passaste a vida toda a ver nos vídeos . Mesmo fora do centro torna-se complicado skatar e caso não tenhas noção, grande parte dos bons spots que existem por lá são dentro de escolas, que também não podes “visitar” nos dias úteis. As escolas funcionam mesmo de verão, com atividades e aulas. Bem que passámos no famoso liceu de Hollywood High, mas só para ver, do lado de cá da grade.


Aquele letreiro anuncia tanta coisa menos o feeble do Gustavo… que desperdício de espaço.


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GUSTAVO RIBEIRO


Numa cidade com tanto carro, tanta gente e tanta confusão, quando encaixas num smith voltas a estar em silêncio contigo mesmo…

A meio da nossa primeira semana, o Gustavo quase que lhe dá uma “coisa”, com um convite do Steve Berra! Era um dos donos do BERRICS a perguntar se queria ir lá skatar! Pois é… quando pensas que já estás a desbundar este lugar ao máximo e te parece impossível melhorar... eu bem que tentei imaginar o que este puto deveria estar a sentir num momento destes. A sucessão de situações era cada vez mais intensa, inesperada e sempre a melhorar, não consigo perceber como é que ele foi capaz de dormir naquela noite, eu tenho a certeza que não seria capaz! Esta cidade tem um enorme senão, que são os carros e o trânsito, mas se tens que te deslocar é essencial teres um. E não te basta um carro, necessitas obrigatoriamente do abençoado GPS. Sem isso, esquece. Para o enredo ficar mais complexo, imagina teres de encontrar o Berrics no dia em que esqueces GPS e não poder ir buscá-lo. As coisas mais improváveis acontecem quando menos esperas, mas sendo o português especialista em desenrascar-se, a

solução foi rápida e graças ao Gustavo, que nos levou ao “paraíso” sem nos enganarmos no caminho… provavelmente foi a “fé” que nos levou ao lugar de culto dos skaters, onde qualquer um de nós se sente feliz e em paz com o universo! A nossa viagem estava a meio e era altura de sair de L.A. por uns dias. Woodward fica para norte, a cerca de 200 quilómetros, que para os “américas” é logo ali. De caminho foi altura de conhecer o deserto do Mojave e no carro contar com mais um amigo nestes 3 dias de viagem: o Ivan Monteiro, do Brasil a juntar-se para os dias de competição do Damn Am. Os 3 dias no Woodward foram épicos, mas depois de uma missão bem-sucedida no Damn Am era altura de regressar a L.A. e para as ruas, agora em força, para aproveitar os dias restantes a skatar... mas assim que terminado o plano, teve logo de ser reajustado: a malta do Berrics volta a convidar o Gustavo para uma sessão no skate parque, desta vez com direito a filmagens.


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GUSTAVO RIBEIRO

Entretanto fazia-se mais uns bons quilómetros de carro para conhecer a área ao máximo: o L.A. Courthouse é simplesmente um dos melhores “playgrounds” desta cidade, pelo caminho é sempre bom ir até Venice Beach e Santa Mónica... e tudo mais que nos aparecia à frente. Quanto a skatar, as nossas rondas pelas ruas estavam a complicar-se: durante os dias de semana era difícil. O conhecimento local é muito importante para saber onde os spots ficam e não te podes esquecer que, às vezes, ligar o ponto A ao ponto B, não é como em Portugal, onde o fazes numa questão de minutos. O trânsito nesta cidade é de tal dimensão que muitas estradas têm 6 faixas e em algumas delas os engarrafamentos são constantes, até mesmo a altas horas da noite. Sendo assim e com o convite de podermos skatar mais vezes no “santuário”, não desperdiçámos essa oportunidade que foi “alta” experiência: pensa que, quando estás cansado, sentas-te, bebes qualquer coisa e ficas a ver o Nyjah Huston a filmar mais um “Bangin’”, ou então tratas de conhecer pessoal novo, quem sabe se não é o Trevor Colden que senta ao teu lado e mete conversa contigo.

começou a dar sinais. Era altura de o Gustavo abrandar o ritmo, as filmagens no Berrics deixaram este “guerreiro” quase K.O.. A visita a Malibu veio mesmo a calhar para recuperar forças e meter os “pés de molho” no oceano Pacífico. Foi também bom sentir um ritmo diferente da correria da cidade, mesmo para nós que só ali estávamos há alguns dias. L.A. é gigante e uma das zonas mais populosas do planeta. Tens tanta informação para assimilar em tão pouco tempo, que a tua cabeça não consegue parar. Fazes o teu dia ter mais de 24 horas, para que não deixes nada do que queres fazer para trás. Estes dias foram épicos, aproveitados ao máximo. Nem mesmo a viagem de regresso ao aeroporto foi desperdiçada... era sábado e um dos spots de onde tínhamos sido expulsos uns dias antes recebeu uma segunda visita, para terminar um assunto pendente, que foi resolvido com sucesso. Era em Washington Avenue que, simbolicamente, a nossa viagem terminava. O Gustavo foi um grande companheiro durante toda a viagem e não sei como agradecer o convite para esta viagem de sonho. Agora ficam as boas memórias e esperar que um dia seja possível lá voltar!

Com tantos dias a dar o máximo e uma tarde inteira a filmar, o cansaço Cada vez que a terra treme na Califórnia um novo spot surge. 360 flip, aproveitando o que mãe natureza nos dá de vez em quando…



GUILH ERME ZENIL DO

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retrato Sam Nolan sequência Roskof

5 bandas favoritas - AC/DC - Matt Corby - Lutan Fyah - Travis Scott - Limp Bizkit Mas ouço música de todos os géneros 5 comidas sem as quais não passas - CBO do Mac - Bitoque - Francesinhas - Sushi - Fonge (prato tradicional angolano) 5 spots nacionais - Rail do Millenium - Rail do Metro de Olaias - Rail da Árvore Azul em Queluz - Praça do Comércio - Praça da Figueira 5 skaters nacionais - João Allen - Bruno Senra - Raphael Castilho - Aníbal Martins - Tiago Lopes 5 manobras que nunca deste, mas gostavas - Flip backside overcrooked - Front blunt flip out - Switch frontside feeble - Nollie over crooked - Backside 360 5 coisas que nunca farias numa rede social - Mostrar a minha vida íntima…. ahahah sei lá, não faço ideia 5 viagens de sonho - Dubai - Japão - Bali - Amazónia - Austrália 5 empregos de sonho para quando fores grande - Arquiteto - Designer gráfico - Skater profissional - Músico - Sonhador 5 coisas que tens mesmo de fazer antes dos 99 anos - Dar a volta à Europa de bicicleta - Saltar de para-quedas - Conhecer a cultura dos índios nativos na Amazónia - Sorrir mais - Viver até aos 99 anos


É sempre bom quando sais de casa e tens este spot à porta, dá sempre para inventar umas brincadeiras novas. Transfer Boardslide shove-it out em Belas


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Este spot é daqueles que parece uma coisa, mas afinal é outra… basicamente, se te desviares, nem que seja um cm do sentido das pedras, vais comer granito com os dentes… Nollie heel, com precisão cirúrgica.

THIAGO MONTEIRO Sempre admirámos os skaters brasileiros que escolhem o nosso país para procurar uma vida melhor. Mesmo com a nossa língua comum, sabemos que as coisas para eles nunca são fáceis e se para nós aqui na periferia da Europa já custa mostrarmo-nos ao resto do mundo do skate, para alguém que chega muitas vezes sem contactos nenhuns, ainda pior. O Thiago abdicou de tudo o que tinha no Brasil para procurar novo futuro e com muito trabalho tem evoluído como skater e como pessoa. Com apenas um dia para andar de skate por semana, tem mostrado isso mesmo, não só na rua, como também nos campeonatos onde participa, o que nos leva a pensar: e se ele conseguisse dedicar-se mais ao skate?



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THIAGO MONTEIRO

Oi Thiago, tudo bem? Conta-nos, então, como é que começou esta tua aventura com o skate nos pés? Olá, muito prazer. O meu nome é Thiago Monteiro. Bom, tudo começou com uns amigos na brincadeira na rua de casa há 11 anos. Os meus amigos Liniker Carvalho e Diego Bertolani apareceram na rua e chamaram-me para brincar com eles. Eu na inocência de criança fui e no decorrer da brincadeira apaixonei-me pelo tal brinquedo chamado skate. Logo em seguida fui para casa e pedi aos meus pais para me comprarem um. A minha mãe respondeu logo: você ‘ta louco, menino, isso é muito caro não é coisa de criança brincar. Não vamos comprar porque não temos dinheiro; Eu chorei muito nesse dia, fiquei até doente, mas mesmo não tendo o meu próprio skate, continuava a andar com os meus amigos. Certo dia, estava eu a brincar com meus amigos na rua, apareceu um adolescente a oferecer um skate usado para vender, na época por 20 reais. Um skate bem simples com rolamentos bilhas. Eu disse logo que queria, mas que não tinha dinheiro para pagar tudo de uma vez. Fui pagando de real em real ate completarem os 20,00 reais. Então, tendo o meu skate, comecei a conhecer muitos outros skaters da minha cidade, que se chama Cabreuva, no interior de São Paulo. (Dentinho, Leandro, Aleff Felipe, Carlinho Neguinho, Kaio De Souza , Augusto Pravatti ,Saulo Freitas, BiBi, Lucas Ribeiro, Gabriel dos Santos, Maurício Ferreira, João Rodrigues, Juninho Rodrigues, André Código 3, Daniel Souza), entre muitos outros que agora não me lembro. Comecei a andar todos os dias e a participar em campeonatos, o que fez com que a minha família começasse a ver as minhas conquistas, trazendo troféus e medalhas para casa... aí o meu pai começou a ter outra visão e a ajudar-me a ir aos campeonatos. Só que, na verdade, ele dava o dinheiro a um amigo meu que se chama Kaio de Souza para ele me levar aos campeonatos, mas como eu era tão pequeno não pagava os bilhetes, passava nos autocarros como se fosse criança e o Kaio pagava a bilhete dele. Rs Tudo começou assim... Como é que tomaste a decisão de vir para Portugal? Não deve ter sido fácil abandonar família e amigos e vir para aqui sozinho. Lembro-me de me contares que vendeste tudo o que tinhas no Brasil para fazer esta mudança de vida... aqui a maior parte da malta não sai de casa dos pais antes dos 30, como é que correu e como é que encaraste essa mudança? Essa decisão foi muito simples e muito rápida. Como todos os skaters têm o sonho de sair de casa dos pais e conhecer o skate noutros lugares, esse também era o meu sonho: sair do Brasil. Mas o problema era que eu tinha medo de sair, já que era uma grande responsabilidade fazê-lo sem conhecer ninguém do outro lado. Esse era um dos meus maiores medos. Um dia, no facebook, o meu amigo Philippe Mosquito partilhou um rap chamado “A voz de um Favelado”, composto por um grupo chamado Função Racional. Como eu gostei bué saquei a música e logo em seguida adicionei o compositor que se chama César Barbosa (Tarim). Vi que ele era brasileiro e que morava em Portugal, na zona de Lisboa. O primeiro contacto foi conhecê-lo e dizer-lhe que gostei do som e quando tivesse mais sons novos era para me mandar e tal... cena de fãs, né? rs Passado umas semanas comecei a perguntar como era o estilo de vida em Portugal e contei-lhe que o meu sonho era sair do Brasil para conhecer outros

países. Além de o Tarim ser compositor de rap, ele também andava de skate... Foi aí que surgiu uma oportunidade de eu sair e vir para casa dele. Ele disse logo disse que me ajudaria a arranjar um emprego e me ajudaria na morada. Foi uma surpresa. Tomei logo a decisão e disse-lhe que em menos de um mês viria. Como eu no Brasil morava sozinho num T0 foi só vender tudo o que eu tinha. Vendi tudo, os móveis, a minha motorizada... tinha acabado de sair do trabalho e aproveitei o dinheiro todo para investir na minha viagem. Passado um mês já estava em Portugal. Falando de família e amigos, não foi nada fácil abandonar tudo assim em tão pouco tempo. As despedidas foram tão poucas que quando cá cheguei os meus amigos ficaram chocados por não me ter despedido deles lol. Agora com 1 ano e 3 meses a residir em Portugal ainda penso em voltar para visitar todos e também reencontrar aqueles de quem não me despedi (apenas visitar). A primeira vez que falámos trabalhavas num restaurante. Passado algum tempo estás a trabalhar numa Lar de Idosos, como é que isso aconteceu e como está a correr essa nova etapa? Trabalhei num restaurante de Sushi há 10 meses com um horário terrível: das 10:30 da manhã até as 15:30, depois um intervalo de 4 horas (ia sempre andar de skate), voltava ao trabalho às 19:30 e saía às 2 da manhã, com uma folga por semana (quinta-feira). 11:30h/dia. Esse foi o meu primeiro trabalho e foi praticamente preciso para correr atrás de minha legalização no país. Atualmente trabalho num lar de idosos, sou auxiliar de geriatria, com um horário fixo das 8h às 18:00, com uma folga na semana (rotativa). Esta nova etapa a cuidar de idosos nunca me imaginei, mas para mim nada é impossível. Estou lá há dois meses e esta experiência está ser incrível. Estou a gostar muito, não só pelo horário que faço mais também pelo trabalho em si. Tenho aprendido muito, a conhecer as nossas reações e nossas rotinas quando estamos mesmo a ficar velhinhos. Quando fomos fotografar disseste que como só tinhas um dia de folga por semana a pressão para acertar manobras nesse dia era maior, mas pelo que já vi de ti, até em campeonatos, acabas por ser bastante consistente. Como é que isso acontece, descarregas 6 dias de trabalho num dia de skate, ou foste sempre assim? Sim, sem dúvida, há pressão em todos momentos, pois além de saber que só tenho um dia de folga e saber que vou trabalhar no dia seguinte, também sei que só uma semana depois dá para voltar a tentar e isso mexe com o psicológico de qualquer um. Então, parto sempre com tudo planeado para fazer um bom trabalho. Em relação a campeonatos sempre fui técnico e consistente, e sempre fui uma pessoa que andava de skate mas também trabalhava, por isso acostumei-me com este ritmo. A única razão para não teres sido Campeão Nacional na categoria Amador foi seres Brasileiro. Como é que encaras isso? Achas que devia haver alguma alteração de formato? Pá, para mim, sem dúvidas, foi mesmo inexplicável, porque no Brasil e nos Estados Unidos também há campeonatos federados onde não há essa interpretação. Sim, sem dúvidas, poderia ter uma alteração de formato.


O Thiago deu este Nollie Inward Heel Front Nose com tanta calma, que pensei que tinha adormecido no final‌


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THIAGO MONTEIRO

Todos sabemos que o Brasil é umas das maiores potências mundiais no skate, Portugal ainda tem muitos quilómetros para percorrer até ter uma cena de skate saudável... o que gostas mais e o que gostas menos do skate em Portugal? Pergunta difícil, viu !! Mas se calhar o que mais gosto do skate em Portugal são os spots, e o que eu não gosto é da cultura do skate em Portugal.

Como é que ela reagiu quando lhe disseste irias passar a única folga que tens na semana a tirar fotos de skate em vez de estares com ela? Como todas namoradas se sentem, um pouco ciumenta por trocá-la por um dia de sessão e um pouco excluída e inconformada com o acontecimento (risos). Mas, é claro, ela também tem um grande orgulho e respeito pelo meu trabalho como skater.

Pelo que pude ver pelo dia que passámos a fotografar, em spots de onde fomos expulsos, mal a pessoas viam que eras brasileiro tornavam-se logo muito agressivas contigo, inclusive contaste-me que há pouco tempo levaste pancada. Já sentiste mais vezes essa discriminação ou achas que é mesmo só por teres o skate nos pés? Eu não sei o porquê, mas sempre tive essa descriminação aqui em Portugal. Em todos momentos em que fui filmar sempre houve essa descriminação e sempre houve diferentes tipos de “expulsão”. Umas delas foi essa gravíssima em que o gajo me agrediu numa das sessões e isso não acabou bem. E não é por teres o skate no pé e sim por ter o sotaque brasileiro. Lógico que em muitos casos também foi descriminação contra o próprio skate.

Onde é que te vês daqui a 10 anos? Um skater profissional com minha família construída e com minha empresa própria. Últimas palavras e agradecimentos? Primeiramente agradecer a Deus por me colocar nesse Rumo do skate, e agradecer à loja Twin Tail de São João do Estoril por estar a ajudar-me, dando aquela força de sempre, mais importante, incentivando-me em cada dia que passa. Agradecer também à revista SURGE por dar-me essa grande oportunidade de participar nesta edição. Com a maior satisfação estou cá a dar esta entrevista. ÚLTIMAS PALAVRAS: se você tem um sonho corra atrás, ele com certeza se realizará. Obrigado a Todos. G’anda Abraço.

Muitos skaters brasileiros, quando se mudam para Portugal, passado algum tempo rumam a outras paragens na Europa. Sei que agora também já tens cá uma namorada, achas que vais ficar por cá ou nunca se sabe? Nunca se sabe! Mesmo com não sei quantas pessoas a chamar-lhe nomes, a mandá-lo para casa e afins, o Thiago provou que consegue trabalhar bem sob pressão… Pop-Shove-it Nosegrind - Carcavelos


SINCE 1922 Rider: Ronnie Sandoval

Distribuição marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


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TOMÁS LOPES

intro Surge entrevista e fotografia Roskof

A primeira vez que vimos o Tomás a andar de skate foi num dos seus vídeos caseiros. Sim, literalmente, caseiros, já que era no pátio lá de casa que passava as tardes a filmar, a construir curbs e corrimões. Estávamos, então, no início da Surge e muitos vídeos chegavam até nós das mais diversas formas. Logo nos chamou a atenção, não pelas manobras, mas pelo gosto e dedicação, bem visíveis nas imagens. Hoje em dia o Tomás mantém a mesma dedicação e gosto pelo skate, mas já sem partir os azulejos lá de casa. Um dos novos valores do skate da região oeste prova-nos que o skate fora dos grandes centros está bem vivo e com spots a condizer.


Nem as famosas linhas defensivas onde os franceses levaram tareia conseguiam parar este Switch Heel em Torres Vedras.


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TOMÁS LOPES

A primeira vez que ouvimos falar no Sobral de Montagraço foi num famoso anúncio televisivo a uma marca de detergentes, mas a partir de agora vai ser pelos inúmeros spots de skate que ali estão à nossa espera… Front Crooked


QUEM É O TOMÁS E COMO É QUE PEGASTE NUM SKATE PELA PRIMEIRA VEZ? Sou um rapaz de 18 anos, de Torres Vedras. Comecei a curtir skate desde muito cedo, por volta dos 7 anos. Não sei ao certo como comecei a andar porque não conhecia ninguém que andasse, mas sempre gostei de adrenalina e nunca achei muita piada aos desportos mais convencionais. Mal conheci o skate percebi que era aquilo que gostava mesmo de fazer. A ZONA OESTE SEMPRE TEVE GRANDE TRADIÇÃO NO SKATE NACIONAL, TORRES VEDRAS, SANTA CRUZ SEMPRE TIVERAM BONS GRUPOS DE SKATERS, COMO É QUE ESTÃO AS COISAS AÍ NO OESTE SELVAGEM NESTES DIAS? Por aqui ainda há vários grupos de skaters e também se nota alguns putos a começar a andar e a evoluir bastante rápido. Estando um pouco afastados dos grandes centros urbanos acho que o pessoal daqui leva o skate mais na diversão. LEMBRO-ME DE TERES ENVIADO VÍDEOS PARA ALGUMAS MARCAS DESDE MUITO CEDO, A SKATARES EM CASA, COMO É QUE FOI ESSA EVOLUÇÃO? ERAS DOS QUE PASSAVAM OS DIAS EM CASA A SKATAR SOZINHO, OU TINHAS ALGUM GANG ESPECIAL? Já nem me lembrava disso! Ahahah! A minha casa era tipo o spot onde ia andar com o pessoal todos os dias. E foi aí que comecei a evoluir mais. Nunca curti muito skatar sozinho, até mesmo na escola tinha o meu gang e passávamos os intervalos inteiros a skatar. SABEMOS QUE ÉS PATROCINADO DA MANEL SPORT, UMAS DAS PRIMEIRAS LOJAS A VENDER MATERIAL DE SKATE EM PORTUGAL E APOIAR SKATERS NOS ANOS 80, COMO É QUE É FAZER PARTE DESSA FAMÍLIA? É algo muito fixe porque é uma loja local em que toda a team se dá super bem e é um grupo de amigos. Sempre me apoiaram desde muito novo e abriram-me bastantes portas no mundo do skate. HÁ POUCO TEMPO FIZESTE UM VÍDEO PARA A GLOBE QUE FOI ALGO BASTANTE DIFERENTE DO QUE SE COSTUMA FAZER NO PANORAMA NACIONAL. COMO É QUE SURGIU A IDEIA?

PODEMOS ESPERAR MAIS PROJETOS DESSE GÉNERO DA TUA PARTE? Eu e o Bernardo Bacalhau já queríamos fazer um vídeo assim há algum tempo. Surgiu a ideia de gravar num spot abandonado bem perto de casa, com o intuito de mostrar que não se skata apenas em spots perfeitos. Fomos editando o vídeo e recebendo feedback do Nuno Príncipe, da Globe, e aperfeiçoámos tudo até ao resultado final. O vídeo foi publicado na página de facebook da Globe, o que deu maior visibilidade a mim enquanto skater e ao Bernardo como editor de vídeo. Sem dúvida que curtia fazer mais projetos desse género para fugir um bocado à regra. Mas como próximo projeto gostava de começar a filmar uma videopart. SABEMOS QUE QUEM NÃO VIVE NOS GRANDES CENTROS URBANOS POR VEZES TEM MAIS DIFICULDADE EM SER NOTADO, COMO É QUE VÊS O PANORAMA DO SKATE NACIONAL, COSTUMAS ACOMPANHAR A CENA, IR A CAMPEONATOS E ESSAS COISAS, OU PREFERES FICAR NA TUA E CURTIR MAIS COM A TUA MALTA? Tento sempre ir ao máximo possível de campeonatos, porque consigo ver como está o nível de skate nacional e ajuda-me sempre a ganhar mais visibilidade, tendo já obtido bons resultados. Claro que também curto skatar com o meu pessoal e procuramos sempre ir a novos spots para fugir da rotina. UMA DAS QUEIXAS QUASE CRÓNICA QUE OS SKATERS PORTUGUESES FAZEM SEMPRE É QUE NÃO HÁ MUITOS SPOTS DE STREET, MAS PELO DIA QUE TIVEMOS JUNTOS, BONS SPOTS, NOMEADAMENTE NA ZONA OESTE NÃO FALTAM. PORQUE É QUE ACHAS QUE O PESSOAL ESTÁ SEMPRE A QUEIXAR-SE? OU ACHAS QUE ELES PREFEREM PASSAR OS DIAS NOS SKATE PARQUES E ISSO É SÓ UMA DESCULPA? Eu acho que Portugal tem bons spots, mas o pessoal fixa-se demasiado nos mais conhecidos nos grandes centros urbanos e acaba por se esquecer de outras zonas do país. E pelo facto de terem skate parques relativamente perto de casa, o pessoal acaba por preferir porque é muito mais acessível e fácil de evoluir.


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TOMÁS LOPES

O QUE É GOSTAVAS DE VER ACONTECER NO SKATE NACIONAL BREVEMENTE? E O QUE É QUE NÃO FAZIA FALTA NENHUMA? Acho que devia haver mais eventos de convívio a nível nacional e não apenas competições. E, claro, o desenvolvimento do mercado do skate também para maior apoio das marcas. O que não fazia falta nenhuma?! A calçada portuguesa. Ahahaha! À PARTE DO SKATE, O QUE É QUE COSTUMAS FAZER E JÁ AGORA AQUELA PERGUNTA CLÁSSICA TIPO PAIZINHO, O QUE É QUE QUERES SER QUANDO FORES GRANDE? AHAH Fora do skate passo a maioria do tempo na escola e nos fins de semana aproveito para sair com o pessoal. Ainda não sei bem, mas talvez algo a ver com design gráfico e, se fosse possível, ter sempre alguma ligação com skate na minha profissão. ÚLTIMAS PALAVRAS E AGRADECIMENTOS? Quero agradecer a todo o meu pessoal que skata comigo por toda a pica, a ti e a toda a equipa da Surge por tornarem isto possível, aos meus pais e aos meus patrocinadores, Globe, ManelSport e Artful por todo o apoio.

Este novo jardim de Torres Vedras tem spots para dar e vender. O Tomás não se fez rogado e agradeceu a oferta da cidade com este Backtail


Não venham com coisas, o arquiteto que desenhou o “Kais” em Santa Cruz anda de skate de certeza… não sabemos é se dava um Tailside Fakie assim.


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Alimenta-se no analógico e anda de ouvido em riste no que tem para revelar o digital. A sua produção é um reflexo da evolução tecnológica, mas pretende reativar um serviço que lançou em Portugal há uma dezena de anos bem contada, de gravação de discos de vinil à unidade. Reunirá DJ Oder o melhor de 2 mundos? Uma coisa é certa, este Dj e produtor com base na Invicta corre mundo através da sua música, tocada por nomes como Steve Aoki, Jay Z, Pendulum, Ed Rush... só para abrir a lista...

entrevista Sílvia Ferreira

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QUAL FOI A PAIXÃO QUE NASCEU PRIMEIRO, A DA MÚSICA, OU A DOS DISCOS? É uma pergunta engraçada, não é algo em que tenha refletido muito, mas penso que o amor pela música veio primeiro porque só depois é que comecei a procurar discos para dar início à minha coleção. Foi o gosto pela música, por sons diferentes, que me influenciaram e continuam a influenciar. ESSAS INFLUÊNCIAS, EM QUE ALTURA COMEÇARAM A SER MAIS VINCADAS? Desde a adolescência. Inicialmente foi um gosto pela cultura hip-hop, a arte do scratch, enquanto Dj, no meu percurso inicial. Depois foi um processo evolutivo até ao drum’n’bass que é o que trabalho. COMEÇASTE COMO DJ DE HIP-HOP, O DRUM´N’BASS SURGE QUANDO? Desde muito cedo. Estudei numa escola que era de artes, havia ali muita troca de música e foi sempre algo que fez parte do meu percurso. Mas mesmo trabalhando só com um género não gosto de me fechar, gosto de construir com vários géneros de música. SENDO MUITO ECLÉTICO NESSA RELAÇÃO COM A MÚSICA, ONDE É QUE TE “ALIMENTAS” E PROCURAS INSPIRAÇÃO? Muito do trabalho tem a ver também com o processo evolutivo da própria tecnologia, com o que vai aparecendo e que influencia a qualidade da música feita em estúdio... e que depois influencia bastante o trabalho de um produtor. Depois, influências musicais são diversas. Todas as semanas gosto de ouvir o que há de diferente, o que vai saindo dentro de diferentes géneros. Por exemplo, no funk, embora seja dos anos 70, gosto de descobrir preciosidades, por exemplo solos de bateria... o drum’n’bass aproveitou muitos desses solos de bateria, pode dizer-se que serviram de base... assim como do hip-hop nos anos 90. O mundo do drum’n’bass de hoje muitas vezes continua baseado no funk dos anos 70. Gosto de procurar samples de bateria que possam ser renovados, remixados para uma visão atual. À parte disso, vou bebendo influências do reggae da Jamaica, hip-hop... gosto de ir buscar coisas antigas para poderem respirar outra vez.


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DJ ODER

E ONDE PROCURAS? Antigamente saía muito à rua para procurar nas lojas, nas casas da família, amigos, onde pudesse encontrar esse tipo de sons... também porque fazia hip-hop e sem samples não dá para criar coisas novas. Hoje em dia é mais sons que são criados por mim. Agora ando mais na net porque o youtube tornou-se uma verdadeira biblioteca musical. Também o whosampled.com é uma base de conhecimento, de influências, de produtores de quem gosto. Também ajuda a ter uma visão mais alargada daquillo que se vai fazendo. COMO É QUE ACONTECEU A TUA IDA PARA LONDRES? Londres é a capital, a cultura drum’n’bass nasceu lá. Hoje em dia todas as editoras, todas as plataformas, as maiores referências são de lá. Na altura em que decidi que ia trabalhar com música toda a minha vida foi um passo que decidi tomar. O ir para lá para absorver tudo, ir a lojas, procurar discos, saber das novidades. O que me chamou para Inglaterra foi o drum’n’bass, mas também fui pelo todo, pela junção de várias coisas: a música, a cultura, conhecer ângulos diferentes, alargar horizontes. Estive cerca de oito meses em várias cidades... Nottingham, Bristol... foi algo que me influenciou naquilo que eu ia fazer para a frente... a cultura drum’n’bass lá é muito forte. Até o reggae, são culturas que estão muito presentes... ligas o BBC Radio 1 e está a dar drum’n’bass, o que não acontece em Portugal, ou nos Estados Unidos. APROVEITANDO A DEIXA, COMO É QUE VÊS O PANORAMA DO DRUM’N’BASS EM PORTUGAL? É diferente. É um estilo importado. Não tem a mesma força, ou a mesma variedade de plataformas. Mas tanto no Porto como em Lisboa houve momentos em que o drum’n’bass esteve muito dinâmico. Houve vários produtores, Dj’ s e promotores a puxar pela cultura... até penso que houve alguma saturação. Houve muitos Dj’s que mudaram de vida porque a cultura não ofereceu espaço para tanta gente. Pode agradar a muita gente, mas ao mesmo tempo também é um estilo de um nicho de mercado, ou seja, tem muitas sonoridades que abrange, pode ter influência de muitos outros géneros, - até ser música mais melancólica, por exemplo, - é nesse sentido que consegue chegar a muitos lados. Talvez seja isso que me faz agarrar-me a esse género. NO TEU CASO, “O DRUM’N’BASS PERSISTIU” TAMBÉM DE CERTO MODO IMPULSIONADO PELA TUA INTERNACIONALIZAÇÃO? Penso que foi porque sempre tentei ter uma sonoridade que fosse mais apelativa para o maior número de pessoas, que fosse uma música festiva, contagiante e que conseguisse chegar a todos... não me fechei. Penso que a diferenciação vem de uma sonoridade mais abrangente. Nunca teria esperado ter um Steve Aoki, ou o Jay Z a tocar a minha música, como aconteceu, e acho que isso também demonstra a linha condutora que eu tento ter, uma linha de música que consiga chegar a mais pessoas. Percebi que o meu trabalho poderia chegar a bastante gente diferente. E esse apoio que tive na altura é diferente do meio em que estou inserido normalmente. Ter pessoas que são de fora da minha área a tocarem a minha música significa também que não me fechei num circuito de drum’n’bass. Gosto de ter influencias diferentes, de mais géneros e talvez tenha sido isso que diferenciou, porque não é toda a gente que gosta desta música frenética. COMO É QUE FOI OUVI-LOS TOCAR A TUA MÚSICA? Foi algo que marcou o percurso que tenho feito como Oder, mas ajudou a dar-me motivação e mostrou que que se continuar a trabalhar, novas oportunidades continuarão a surgir.


QUAL É A PRÓXIMA META? Acabar o meu álbum. Estou a polir os últimos pormenores e a compilar os esquemas todos, a montá-lo mentalmente. Sairá ainda este ano. É aquilo a que me estou a dedicar mais. O primeiro single acabou de sair numa editora britânica, que é a Formation Records. Também para este ano tenciono trazer o serviço de gravação de volta. Isto é uma área à parte do meu trabalho de Dj e produtor. A zona 6 foi um serviço que eu criei entre 2006 e 2012, que era único no país e que estou a reativar. PORQUE É QUE DECIDISTE FAZÊ-LO? Primeiro que tudo coleciono música em vinil e sempre tive um gosto especial e abracei essa cultura. Era algo que queria fazer. Tínhamos uma loja onde gravávamos o vinil, vendíamos jazz, hip-hop, música portuguesa... a gravação em vinil era algo que não havia em Portugal e pensei que podia ser uma mais valia para Dj’s e produtores... e agora vamos voltar com isso. HAVIA MUITA PROCURA? Sim e continua a haver. Gosto de manter essa cultura do vinil viva e há muita gente interessada. Na altura achei que ia gravar hip-hop, drum’n’bass e isso foi aquilo que gravei menos. Trabalhei com artistas plásticos, teatros... É um equipamento antigo, difícil de calibrar. É um processo em tempo real que tem a ver com temperaturas, gramagens, que podem influenciar o processo de gravação... Estou só a aguardar umas peças e quando estiver tudo calibrado, arranca. COMO É QUE VAI PROCESSAR-SE? É uma sonoridade que vem em formato digital e vai funcionar pela net. Envias os ficheiros online e gravo em vinil. COMO FAZES A TUA GESTÃO DESTA CARREIRA EM 3 ANDAMENTOS? Atualmente vou-me dividindo, um dia ou 2 numa área... é consoante o que estou a produzir... também tenho que preparar o programa semanal que tenho na Meo Music... tenho que arranjar tempo para me desdobrar, porque também há atuações ao vivo... é sempre uma vida um bocado ativa.

www.soundcloud.com/djoder/ www.facebook.com/djoder/


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O epíteto que ostenta o nome poderá induzir-nos a uma tal personagem majestática, de fino e cuidado trato com q.b. de pose de artista. Mas Bruno Reis Santos gosta das coisas simples da vida. Gosta de comer. Gosta de beber. E gosta do que romanesca e eufemisticamente a pedido do próprio aqui designamos de “fazer amor”. À parte disto, aquilo que verdadeiramente acontece na alternância entre Lord Mantraste e Bruno Reis Santos é uma viagem de autoconhecimento de que brotam rasgos de adivinhação, até ao dia da chegada da personagem (ou do próprio) ao derradeiro destino, quando nada houver mais a descobrir...

imagens cedidas pelo artista entrevista Sílvia Ferreira

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MANTRASTE

Wild Style, 2016 Found object MANTRASTE

capa de livro, Desmobilizados


ilustração, “mais tempo”

Podemos conjeturar muito em torno do teu nome artístico, mas qual é a real origem do Lord Mantraste? É menos entusiasmante do que parece. Quando estava na universidade fazíamos uma fanzine a falar mal dos colegas de casa – do tipo, que um não usava piaçaba... – coisas corriqueiras do dia-a-dia, da cidade, das pessoas, quase como um manifesto. E como não podíamos usar os nossos nomes reais, Lord Mantraste vem daí. Outro era o Inspetor Lampreia, Damascão Negro... fui usando o nome e fiquei assim.

influencia uma base importante da nossa estrutura. O meu avô era comunista, os manuais escolares do meu pai eram de uma linguagem gráfica muito mais dura. É mais seco, mas permite alguma ironia. Mas é apenas uma maneira de me exprimir. Ainda não tento fugir dela porque me sinto bem nessa forma de expressão. Mas também não penso muito nisso. O truque é não pensar muito nisso. É como se se pensar muito em como é que se anda, caímos. Mas como eu disse, a vida é uma pesquisa. Andamos à procura de algo.

E como é que nasceu Dizem que foi de Cesariana no Hospital de Caldas da Rainha.

Gostas de explorar imagens com dupla interpretação... porquê? Acho que a nível pessoal sempre gostei da dualidade. Aquilo que é verdade para mim pode não ser verdade para ti. Uma imagem que pode parecer alegre, pode ser mais pesada. É como o Cândido, de Voltaire. Fazemos sempre o melhor possível. Se pensarmos não há apenas uma maneira de olhar para uma flor... imagina, pedem-me uma ilustração de um cavalo: posso fazer o cavalo a arder, num trator... e pensamos, será que eu fiz a coisa certa? Mas eu fiz o melhor possível. Porque eu trabalho com expectativas, mas tenho sempre que agradar a mim próprio.

o

artista?

E foi um parto difícil? Era para nascer antes do tempo previsto. Ficou só afetada a cabeça, de resto tudo ok. Se eu fosse bom da cabeça não fazia isto. O Lord Mantraste também é uma personagem? O que o Lord Mantraste faz nem eu percebo. A verdade é esta. Como é que eu hei de explicar isto de modo brando? Eu nem sei bem o que faço, as coisas vão aparecendo feitas e eu limito-me a aceitá-las. É como se andasse à procura de algo e quando encontrar, vou deixar. Por vezes o Lord Mantraste acaba por ser maior do que o Bruno. ...É uma desculpa para fazer isto e não me sentir mal. Gosto de fazer coisas que nem sempre são aceites, ou que as pessoas não compreendem e prefiro usar este nome. Ou seja, há coisas que se fizesse em nome próprio a minha mãe ia ficar triste. E Fica menos.

assim

não

fica?

A tua inspiração vem muito da cultura popular, mas não só...? A cultura popular influencia-me, mas eu não vivo no século passado, vivo no presente. Gosto é da marca mais gráfica e a minha infância acaba por me influenciar, a infância

... aí entra a ironia? Sim. No meu trabalho e na minha vida. Acaba por ser uma constante, acho que gozar connosco próprios e com os nossos problemas às vezes ajuda. Acho que a ilustração acaba por ser uma jornada de autoconhecimento. Já aconteceu não te sentires bem com algo que te pedem? Como geres essas expectativas? Na ilustração um tema livre é um desafio ainda maior porque é quase adivinhação. Quando tenho mais liberdade exploro mais a coisa, exploro técnicas novas e não raras vezes as pessoas acham que fiz isso porque me estou a cagar. Mas não me posso preocupar muito com o que os outros pensam, porque já tenho que lidar comigo próprio e já sou uma pessoa muito complicada.


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MANTRASTE

Dizes que és “um homem feito de frases”. O que significa isso? Sei lá, imagina que tens um muro branco, caiado. Mas se pensarmos sobre o muro vês que tem alicerces... às vezes ouves frases que te fazem sentido... passamos pelos momentos que temos que passar, os problemas colocam-se-nos porque temos que os viver de algum modo e há frases que em determinados momentos nos marcam. Sou a minha própria memória. Com o objetivo de ser uma pessoa melhor, sinto que sou um homem feito de frases, como o muro é feito de tijolos. Há azares disfarçados de sorte e há azares que são sorte e é uma maneira boa de ver as coisas. Não ver só como são, mas esperar para ver o que elas nos trazem. O meu objetivo é ser bruxo. Aí está. A ilustração é nós exprimirmo-nos e acho que as coisas vão se esgotando. Se calhar um dia vou ver isto como uma obrigação e desisto... e acho que está-me no sangue... vou morar para o meio do mato e tornar-me curandeiro. É uma coisa que pouca gente repara, mas está em algum do meu trabalho. A ilustração está muito próxima da adivinhação e de certo modo acho que é um processo natural. Venceste o concurso das Sardinhas para as Festas de Lisboa 2011, foste distinguido pela revista sábado para melhor capa de ilustração e design 2015. O que é que achas que te distingue como artista? A taça do 3º lugar de tiro ao alvo com pressão de ar é a minha distinção preferida. Acho que o que me distingue é a minha visão. Porque eu só faço o que faço porque não encontro o que quero ver. É uma maneira de falar, de me exprimir, quase como se estivesse a canalizar algo. Se não o fizesse ficava a doer, ficava a magoar-me. Ou então é porque sou burro. Quem é que escolhe esta profissão? Por amor de deus. Tiraste o curso em Caldas da Rainha, impôs-se a mudança para Lisboa? Como foi esse processo? A imposição talvez seja uma desculpa, foi mais para me por à prova, sair da minha zona de conforto e continuar a evoluir. Atualmente trabalhas só com ilustração e também dás aulas sobre o assunto. Como é que vês o teu futuro? Vejo na bola de cristal. Mas evito. Tento deixar as coisas andarem e logo vejo o que dão. Agora estou a preparar um livro. capa de livro, Crash Que livro é? Ainda não sei bem o nome. É um pouco diferente do que costumava fazer. É um bocado presunçoso dizer isto porque é como se fosse um género de livro de S. Cipriano, ou então vou assumir mesmo os nomes “Sebenta do Diabo” ou “Como Plantar Figueiras do Diabo”, ainda não sei. Podemos esperar uma nova vertente tua? Menos ilustração e mais artista, talvez. Vou estar-me a cagar para os outros, acho que vou ser eu próprio. Gosta da limitação da ilustração, mas sinto que por vezes também temos que falar por nós próprios e não ser tanto o que os outros pensam. Ultimamente tenho feito muito trabalho para os outros... e por vezes também tenho que me ilustrar a mim, para não me esquecer de quem eu sou.

www.sebentadodiabo.tumblr.com www.facebook.com/Lordmantraste


Poster


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O O

T A L

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fotografia Kevin Metallier texto Olivier Dézèque

Pequeno à parte antes de descolarmos para Teerão. O ministério dos negócios estrangeiros avisa os turistas acerca do caráter dogmático do país - passageiros que viajam para o Irão devem estar vigilantes e ser discretos no seu comportamento - no entanto mais ou menos 2000 herdeiros do império Persa são skaters genuínos e entusiastas! Provocar as autoridades, tábua de salvação, liberdade individual, ou mera paixão pelo desporto? Por esta hora, os wallrides são feitos em cima dos posters que consagram os heróis pré fabricados da nação.


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O TAPETE VOADOR COM ROLAMENTOS

Nassim Lachhab Kickflip - Isfahan


Jaakko Ojanen Rockn Roll - Isfahan

O projeto inicial não é aterrar como conquistadores e revelar grandiosas performances de skate ocidentais, mas sim conhecer e trocar experiências com os skaters locais, movidos por esta prática urbana relativamente recente. No ocidente consideramos que a apropriação de subculturas como os desportos extremos, o grafiity, ou a música por parte de uma audiência advém do declínio das fundações da Idade Industrial. Valores como a religião, família e trabalho foram dando lugar a um capitalismo selvagem, ao mesmo tempo que nos eram oferecidos novos desafios. E foi de um destes desafios que nos surgiu o skate como algo merecedor de ser levado a sério. Mas e o skate no Irão? Curiosamente encontrámos a cidade de Teerão completamente integrada nas estruturas do modernismo e da industrialização, com uma sociedade predominantemente política e onde ao mesmo tempo sobra influência do poder religioso. Uma forma de ultra protecionismo e fundamentalismo, sobre a qual pesam os valores familiares e comunitários. É uma cultura que promove a harmonia entre os cidadãos, ao mesmo tempo que os força a assimilar história, propaganda e por vezes bastões! Mesmo assim, uma mão cheia de “fanáticos” percorrem as praças públicas com as suas tábuas e com os seus trucks de ferro. Seja em Ispahan, Shiraz Tearão, ou Yazd, encontra-los a rolar, talvez inspirados pela mitologia persa e pelos simbólicos tapetes voadores.


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O TAPETE VOADOR COM ROLAMENTOS

Jaakko Ojanen Switch Ollie Tearão


Existem visões, testemunhos, a maior parte deles censurados pelo bloqueio estatal à internet - os mais curiosos usam um VPN, uma ferramenta que altera os Ip’s dos computadores para assim conseguirem aceder a uma porta onde ainda é possível deslumbrar um universo alternativo à propaganda que diariamente lhes entra por casa a dentro. Além do futebol e do basebol, dois desportos para os quais a república islâmica tem seleções nacionais, tudo o resto é cortado, o skate incluído. Mesmo assim são cada vez mais os miudos que com os seus skates causam ruído, perto de escadas, praças, ou bancos, intrigando quem por perto passa. Ao mesmo tempo vemos que uma nova geração de miúdos com vontade de criar coisas começa a florescer nas ruas de Persepolis, como o Alireza Ansari ou MJ Rahim, que abriram as suas próprias skateshops, criaram as suas próprias marcas e conseguiram apoios do Estado para construir um skate parque. Em Teearao tens um skate parque digno de competir com qualquer construção nos Estados Unidos. Ao contrário dos clichés que ouves, o Irão é um país rico. Enquanto que os nossos skaters europeus, Jaako Ojanen, Nassim Lachhab e Carlos Cardenosa estão a trabalhar nas suas manobras em frente à mesquita de Ishafan, o Alireza exlica-nos: “ouvir Rock and Roll aqui é proibido, se fores apanhado a dançar em público vais preso, mas ao mesmo tempo deixam-nos skatar em mesquitas”. Ele diz que uma das razões para isso acontecer foi a Red Bull ter financiado uma competição de skate no Irão e de essa ter tido destaque durante semanas na televisão e jornais do país. Até o governo ficou espantado com o impacto dessa prova e durante algum tempo, em vez de só edificarem murais em honra dos Ayhatollah, passaram a colocar alguns obstáculos pelas ruas de algumas cidades. Sinais dos tempos?


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O TAPETE VOADOR COM ROLAMENTOS


Jaakko Ojanen Ollie no deserto iraniano


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O TAPETE VOADOR COM ROLAMENTOS

Jaakko Ojanen - Nollie 360 flip hippy jump


Carlos Cardenosa - front 50 Tearão

Ao mesmo tempo qualquer comportamento fora da norma, como penteados extravagantes, ou estilos americanizados são logo corrigidos à força. O Alireza diz que eles pensam que é algo apenas para crianças, não encaram o skate como contracultura. Até deixaram criar a Federação de skate Iraniana. Alguns skaters iranianos andam bem de skate, mas ainda nem sabem o potencial que os seus spots de street têm. Observam sempre muito curiosos a nossa equipa de skaters profissionais e qualquer abordagem é sempre feita com muita timidez ou distância. A barreira da língua não é fácil de ultrapassar. O Alireza, nosso guia e skater, é essencial para esta jornada de mais de 3000 quilómetros por desertos áridos que cada vez são mais procurados pelo turismo internacional. Geralmente somos sempre bem recebidos e em qualquer cidade os skaters contam-nos o sonho que têm de se tornarem skaters profissionais, viajar pela Europa e Estados Unidos a viver de um talento que só alguns têm. Por falar em América, convém lembrar que se tivéssemos trazido skaters americanos para esta viagem, as coisas tinham sido bem mais complicadas, tanto a entrar, como a sair do país. Para que saibam, qualquer americano que visite o país é acompanhado 24 horas por polícia à paisana, que tem como função reportar qualquer atividade suspeita e as despesas efetuadas pelo cidadão americano. Todos os produtos de skate vindos dos Estados Unidos têm também de passar primeiro pelo Dubai que funciona como entreposto de skates para grande parte do Médio Oriente.


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O TAPETE VOADOR COM ROLAMENTOS

No nosso hotel em Ispahan depois uma boa session, um grande mal-entendido acontece quando um de nós aperta a mão a uma empregada do hotel para lhe agradecer. Um informação util: não toquem em mulheres no Irão, não oiçam música, especialmente hip-hop ou Rnb, é super mal visto. Estas regras aplicam-se a todos os espaços públicos. Por trás das portas de casa as coisas são diferentes e as festas podem ser bem selvagens, podes beber Jack Daniels e ouvir Wu-Tang, mas sempre longe dos olhos da “boa” consciência coletiva. O Nassim, um dos nossos guias é muçulmano, mas mesmo assim não consegue perceber o dialeto ou o alfabeto desta zona, estamos longe de território árabe. Aqui é a Pérsia antiga e nesta zona de facto é contra toda a ideologia que reina no Médio Oriente existindo até uma certa fobia sobre os que residem nos países vizinhos. Depois de uma sessão de skate, tivemos o privilégio de observar o exército iraniano em posições fortificadas num quartel na zona. Silos de mísseis, baterias antiaéreas, sofisticados tanques e caças prontos a atuar ao primeiro sinal de perigo nas fronteiras.

Nassim Lachhab Switch Heel Teheran


Boris Proust - Backsmith no Bazar


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O TAPETE VOADOR COM ROLAMENTOS

Fala-se que o governo está a fabricar as primeiras armas nucleares, o que é algo que não nos deixa muito descansados. Enquanto comprávamos os souvenirs de última hora, o exército veio cumprimentar-nos. Claro que não deveríamos andar por ali, especialmente de câmaras na mão... e depois de uma discussão acesa com os nosso guias, pagámos uma multa de algumas dezenas de euros para nos deixarem ir. Não, nós não somos espiões... Skate e liberdade no Irão são como cubos de gelo no deserto… é improvável, mas possível. Carlos Cardenosa - Flip Frontside Nosegrind (Roca, esta sequência está ao contrário)


Distribuição marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


C U R R E N

C A P L E S


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