S K A T E B O A R D
M A G A Z I
N
E
M A G A Z I
N
E
#30 #29
2015 julho/agosto maio/junho Bimestral Distribuição gratuita
S K A T E B O A R D
MIKEY TAYLOR \ SWITCH CROOKED-GRIND \ BLABAC PHOTO
DCSHOES.COM
AURA S.A. - 212 138 500
brandon Westgate - gap to lip introducing the element fall 2015 collection photos by element advocate : brian gaberman @elementbrand
elementbrand.com
6
Pedro Raimundo “Roskof” editor fotografia Luís Moreira
A Rentrée Visto que Setembro é a época das rentrées, aqui na SURGE também decidimos aderir a esse movimento quase perpétuo que, por estas alturas, a comunicação social nos apresenta... com toda aquela gente bronzeada de volta ao trabalho, energias recarregadas e prontos para fazer mais e melhor. Ainda bem para eles! Ok, vamos lá fazer aqui a nossa. Mas, esperem. Não nos sentimos muito revigorados. De facto, ao olhar aqui para a malta... estamos todos com ar de cansados. Ahhh, ok, já percebi. Enquanto o país fechou para férias, o mundo do skate não parou. Na verdade, e como vais poder ver nas páginas desta revista, não só esteve mais animado do que nunca, mas também foi farto em aventuras. Da Mongólia às Canárias, esta edição tem viagens para todos os gostos. Algumas cá dentro, algumas sem dinheiro, algumas à boleia, algumas que poderiam ter corrido mal mas correram bem, mas sempre com um factor comum: aproveitar o que estrada tem. Assim não admira que nos sintamos cansados, mas com um um sorriso na cara. O skater e realizador Ty Evans disse numa entrevista recente: “o skate é a fonte da juventude” e não podemos estar mais de acordo. Estejas na adolescência, no vintes, nos trintas ou nos “entas”, basta pores os pés na tábua e sentes-te sempre revigorado. Se juntares a isso sair da rotina e partir, então é mais do que a fonte da juventude, é também uma autêntica vacina contra a inércia. Por isso, meus amigos, aqui na nossa rentrée, mais do que falarmos do que aí vem, mais do que lançar desafios, mais do que assumirmo-nos prontos para o regresso ao trabalho, vamos recordar este verão que passou, vamos inspirar-nos nos protagonistas destas histórias, naqueles que em vez de selfies fotografaram as paisagens e nos que, enquanto grande parte do mundo estava com os pés de molho, se encontravam colados ao alcatrão. A rentrée? É apenas um conceito que nos tentam impingir. Se és skater, o teu espírito é jovem e tens o mundo para explorar, quem sabe se o próximo a inspirar-nos não és tu? Boa viagem!
JON SCIANO O L L I E TO WA L L R I D E
T E A M M O D E L / I N S P I R E D B Y: JOHNSON / C ARROLL / MARIANO / HO WARD B I E B E L / A LV A R E Z / F E R N A N D E Z / H A W K PEREZ / GILLET / BRADY / JENSEN / SCIANO S ANDO VAL / TERSHY / WALKER / E SPINOZ A SEE ALL COLORS AT L A K A I .CO M I N S TA : @ L A K A I LT D Distribuição www.marteleiradist.com
212 972 054 - info@marteleiradist.com
8
Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127 Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com Fotógrafos residentes: Luís Moreira João Mascarenhas Publicidade: pub@surgeskateboard.com Colaboradores: Rui Colaço, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela, Ruben Claudino, Rui Miguel Abreu. Tiragem Média: 8 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros
o’Marisquiño XV Se a SURGE tivesse 15 anos teríamos 15 artigos deste evento em Vigo. Como só temos 6 é caso para dizer que se os últimos 6 artigos sobre o evento não te convenceram, estás a precisar de uns óculos novos.
Fernando Klewys Foi preciso ele voltar à estrada para mais uma aventura, para o convencermos a deixar-nos saber mais sobre a viagem que começou isto tudo… sem dinheiro, sem horários, sem destino, a verdadeira odisseia dos tempos modernos.
Na Estrada com o Pop - Tour Dilabor Qual terapia de grupo, qual quê? Queres ter harmonia no meio de um grupo de skaters em viagem? Leva um cão tão esperto como o Pop e garantimos uma boa poupança em aconselhamento psicológico.
#pleasecharge Nestes dias em que muita gente quase fala só por hashtags, felizmente no skate as coisas continuam iguais. Perguntem ao team da Converse Europa.
A Caminho de Lado Nenhum Depois de três horas às voltas para conseguir sair de Lisboa em direção a sul, foi um milagre estes rapazes terem chegado a lado nenhum…
I Genghis Khan´t Wait to go Back Não sabes quem foi e de onde veio o Genghis Khan? Não te preocupes, a malta da Carhartt explica-te tudo… mas, a sério, não sabes quem foi o Genghis Khan?
Capa: Em filmagens para um filme chamado “Banquete”, será que podemos chamar a este pop-shovit por cima do corrimão, do Aníbal Martins, a cereja no topo do bolo? Enquanto decidem, vamos ali à mesa enfardar mais um bocadinho… fotografia Roskof
O Ruben Gamito deu este backside ollie depois de um dia a dar aulas de skate num colégio. Se calhar não deve ter ouvido que não se deve levar trabalho para casa… fotografia João Mascarenhas
10
CRÓNICA DO
D R .
M A N
K A - T E
fotografia Luís Colaço
Dr. Manka-te drmankate@surgeskateboard.com
PASSAR OS GENES... Já há algum tempo que queria passar os meus ricos genes. A realidade é que se não o fizesse seria um desperdício. Um puto com os meus genes nunca é demais neste mundo. Além de ser mais bonito que o Brad Pitt, ter o style do Gino Iannucci e habilidade do Guy Mariano, além de tudo isso, sempre tive jeito com a redondinha. Na verdade, só não fui um dos melhores jogadores de sempre do grande SLB, porque fui dispensado de um treino de captação que fiz no Almada. Um otário dum treinador não viu o meu valor e correu comigo! Um puto que chuta com os dois pés, com uma precisão extraordinária, acabar dispensado é no mínimo absurdo! Só para relembrar que o Figo foi dispensado do Piedade e passados alguns anos foi considerado o melhor jogador do planeta. Só para terem noção... Descobri o skate pouco tempo depois desse triste episódio no Almada Futebol Clube e fui feliz até aos dias de hoje, por isso nada a lamentar! Bem, voltando ao início. Já há muito que queria ter um filho. Como verdadeiro tuga que sou, já andava a sonhar com um puto carregado com o melhor de mim, para ser a nova sensação do Benfica. Só faltava mesmo fazê-lo, porque depois disso o sucesso era garantido! Nem que fosse para desfilar style em cima de um skate, caso encontrasse pelo caminho treinadores incompetentes... Um mini “eu” estava na calha... comecei os preparativos! Informei-me com os grandes sábios da coisa, li muito, pesquisei intensivamente para não vacilar no momento da concepção. O momento era importantíssimo. Podia estar em jogo o novo Eusébio branco ou o Gino tuga! Comprovei o que já há muito tinha ouvido falar. Para fazer um rapaz, no momento decisivo, as nádegas não podem tocar-se! Parece confuso, mas não é. Então é assim: durante a relação sexual vale tudo, mas no momento mais intenso, no momento do clímax, as tuas bordas não se podem tocar. Queres ter filhos e não filhas? Fixa isto. Está escrito nos livros. É infalível! Treinei muito, até ao ponto de me sentir à vontade e controlar os glúteos como ninguém! Tinha chegado o momento! Depois de um dia atribulado no trabalho, cheguei a casa já tarde e cansado. Mas estava totalmente focado. Não podia haver distrações. Estava tudo combinado com a Maria. Era o dia! Sem vacilos! Depois de um belo jantar tardio, dois dedos de conversa, televisão no sofá para fazer a digestão. Siga para a cama! Missão! Bem... obviamente que não vou entrar em grandes pormenores... O que posso dizer é que muitas vezes julgamos ter tudo controlado, mas existem sempre aqueles dissabores, pequenos pormenores que fazem a diferença... Neste caso, o pequeno pormenor foi não ter fechado a porta do quarto... e no momento do clímax o meu cão saltou para cima da cama, levando a minha concentração e fazendo as minhas nádegas tocarem ligeiramente... Alguém conhece o treinador de futebol feminino do Benfica? Dr. Manka-te
12
B O L E À
Uma noite numa casa destas e toda a gente se transforma‌
I A C O M
D I
L A B O R
O
N A
P O P …
E S T R A D A
texto e fotografia Roskof
Sempre que chego a casa depois de um tour de skate, por estranho que pareça não me lembro de muito do que passou. Não fiquem já aí a pensar coisas, não tem nada a ver com aquele mito urbano “o que se passa no tour fica no tour”. Creio é que quando passamos alguns dias na estrada, com skates por companhia, entramos noutro estado cognitivo. A minha própria namorada fica chateada comigo - “então não me contas nada? Não se passou nada?” - diz ela. Mas a verdade é que deixamos de preocupar-nos com o futuro, esquecemos o passado e apenas desfrutamos do que estamos a vivenciar. E por incrível que pareça, há poucas sensações tão libertadoras como não pensar. Numa viagem com alguns skaters a embarcar na estrada pela primeira vez, essa sensação ainda se manifesta mais. Como para eles tudo é novo e fresco, acabas por te contagiar com essa magia. Quando, à mistura, ainda juntas um animal de estimação mais esperto que algumas pessoas, as coisas tornam-se quase místicas. Com o cão, mais conhecido por Pop, no lugar do passageiro, o Bernard e o Laurence Aragão, o Gonçalo Vilardebó, o Daniel Pinto ”Canina”, o Diogo Carmona, o Vasquinho Montalvão e o Manel, embarcámos numa viagem ainda sem destino escolhido. A única coisa que sabíamos é que seria para norte. A estrada levou-nos até Coimbra, cidade dos estudantes e hospitais (uma boa combinação, especialmente na altura da Queima das Fitas) e com alguma tradição no skate nacional. Perguntámos ao Pop se poderíamos skatar em Coimbra, ele disse que sim, deixou-nos no centro e seguiu o seu caminho, talvez à procura de uma cadela estudante. Claro, como era ainda cedo, na primeira manobra do tour o Bernard Aragão conseguiu acordar um sem-abrigo com um crooked pop out. O que ele foi fazer! Enquanto os vizinhos tentavam expulsar-nos do spot, o sem-abrigo chamava em voz alta pela polícia. Dizia ele que nós tínhamo-lo acordado e que tinha o direito de dormir… rapidamente o Bernard deu a manobra e lá expulsaram os skaters do local, de modo a que o sem-abrigo pudesse dormir descansado na entrada do prédio. Até o Pop, que entretanto chegava da sua volta, abanava a cabeça…
14
Á BOLEIA COM O POP...
No spot seguinte as coisas correram melhor, com algumas manobras no Pátio da Inquisição, de onde também nos queriam expulsar... mas como comemos uns bitoques no restaurante e perceberam que a malta era boa para o negócio deixaram-nos ficar por ali, os espertos! Mas as coisas em Coimbra não acabaram muito bem. Antes de seguirmos o nosso destino, havia um último spot que queríamos skatar, mesmo na rua principal da cidade. Já há muito que queria tirar lá uma foto e estava convencido que era desta. O problema foi quando os “guardiões da baixa”, como eles se intitulavam, apareceram a expulsar a malta. Diziam eles que se estivéssemos a jogar à bola não havia problema, mas skate nem pensar. Por isso, já sabem, se quiserem espetar uma boladas na cabeça de alguém, Coimbra é vossa cidade, eles até agradecem! O Pop deixou-os a falar sozinhos e nós seguimo-lo. Próxima paragem: Albergaria-a-Velha, onde acabaríamos a passar a noite na casa da família do Manel. Claro que 30 minutos antes de chegarmos pensávamos que íamos acampar, até ele dizer-nos: “a minha família tem uma casa em Albergaria, podemos lá ficar na boa”. Ficámos todos com aquelas caras de parvos - “então, só agora é que dizes?” - ”ninguém me perguntou” - respondeu. Bom, mas pelo menos íamos ter direito a uma cama e descanso… ou não? Quando chegámos à casa ficámos impressionados. De estilo senhorial, dava para sentirmos o peso da história passada ali. Quando a noite chegou as coisas mudaram de figura: aquelas imagens, todos aqueles objetos parecia que nos observavam... quando, de repente, alguém diz: “não é melhor irmos acampar?” O que haviam de dizer! A partir desse momento as histórias de terror, fantasmas e afins jorraram das nossas bocas como água nas Cataratas do Niágara. Claro que o Manel e o Vasquinho, quanto mais falávamos, mais arregalavam os olhos. Até que chegou ao ponto de já estarmos todos com os nervos em franja. Se alguém desse um grito ou algum objeto caísse, certamente tínhamos saído todos para a rua a gritar que nem uns perdidos… claro que apesar de não falar, por dentro o Pop ria-se da nossa triste figura.
Se este corrimão fosse de espuma o Bernard Aragão já não acordava os inquilinos. Estes arquitetos modernos não percebem nada de skate - Crooked pop-out Pensámos em remover a cabeça, em baixo, no photoshop, mas achamos que com este front-feeble do Canina está-se tudo a marimbar para o cabeçudo
16
Á BOLEIA COM O POP...
Chegados a Coimbra quase de madrugada, este wallie do Daniel Pinto também serviu para nos acordar à séria Há muito que este spot merecia uma manobra destas! Gonçalo Vilardebó, frontside flip transfer - Albergaria-a-Velha
Felizmente ninguém se lembrou de passar a noite a assombrar os colegas por divertimento e lá nos fizemos à estrada. Ílhavo ali ao lado era o nosso destino. Tínhamos já combinado com o Pedro Mano e o Kiko para skatar no novo museu. E que spot é. Curbs perfeitos de metal, chão do melhor mármore... marquem já na vossa lista de spots a visitar. E foi neste spot que o Pedro Mano nos sugeriu o sítio para acampar nessa noite: a Praia Fluvial do Alfusqueiro, perto de Águeda. Parecia-nos bem, mas primeiro tínhamos que skatar o rail branco em Aveiro e depois ir comer uns hambúrgueres no Ramona. É que se fores a Aveiro e não fores ao Ramona é como ir a Roma e não ver o Papa, ou como ir ao Parque das Gerações e não ver o Duarte Pombo. Infelizmente o Ramona estava fechado, mas como nessa tarde o Canina tinha destruído o rail branco como se estivesse possuído por um demónio, não nos importamos muito, faríamos a festa no Alfusqueiro. Esta praia fluvial é como tantas outras: um paraíso neste nosso país. Sinceramente, não sei como é que nas férias não trocamos todos as praias sobrelotadas por estes recantos… mas de todos quem desfrutou mais das águas límpidas do Alfusqueiro foi o Pop. Com aquele cenário e com a quantidade de bicharada ali à volta estava completamente eléctrico. Em contraste, nós estávamos todos a precisar de um bocado de descanso. No dia
18
Á BOLEIA COM O POP...
seguinte decidimos dar um pulo a Macedo de Cavaleiros, onde fica uma das melhores praças nacionais para andar de skate. Infelizmente a única coisa que fomos lá fazer foi, mais uma vez, sermos identificados pela polícia. O único que fez alguma coisa de jeito em Macedo foi o Carmona, ainda fez muitas miúdas felizes, com autógrafos e selfies para o facebook. Bragança seria o nosso próximo destino, mas fomos mesmo lá só ver as luzes, a chuva que entretanto começava a cair não nos deu grandes hipóteses. Esse fim de tarde cinzenta seria o presságio do dia seguinte, em que nos limitámos a guiar horas pelo Norte à procura de algum spot coberto onde gastar os últimos cartuchos desta viagem… mas nada. “Siga para Lisboa”, disse o Pop. Juro, ele fala! Balanço desta primeira viagem com a malta da Dilabor? Temos aqui gente que quer fazer coisas interessantes, temos novos talentos a caminho, temos spots e locais maravilhosos por esse país fora e ficou provado que animais têm sempre lugar em qualquer tour de skate… e, claro, o Pop também. Gostamos especialmente que tenham colocado bancos em frente a este spot. Dá sempre para mandar uns bitaites enquanto a malta skata mais um spot em albergaria - Bernard Aragão - BS Noseblunt
20
texto e fotografia SURGE
Ir de férias e, sem querer, chegar à final num campeonato destes… qualquer um queria. Gustavo Ribeiro, transfer backlip fakie
Temos que admitir que há campeonatos e campeonatos, mas no caso de o’Marisquiño, em Vigo, achamos sinceramente que deviam arranjar outro nome. Não que deixe de haver a competição de skate, nada disso, mas que arranjem outro nome. “Festival” também já está cansado, mas por exemplo arraial. É isso! Arraial parece-nos bem, mais que bem. Ora vamos lá ver o que acontece num arraial: a malta da terra junta-se, - em Vigo também -, skaters e amigos do skate de toda a Europa juntam-se, há música, comida e bebida, - ora em Vigo isso é o que não falta. Num arraial, claro, também não podem faltar as personagens locais: pois em Vigo há-os para todos os gostos; no fim do arraial alguém tem de apanhar as canas, em Vigo apanhámos as “canhas” é quase a mesma coisa. Ok, já perceberam a coisa, certo? O fim de semana de o’Marisquino é uma autêntica festa e, claro, “aqui” ao lado não poderíamos faltar. Já lá vão 15 anos deste evento que continua sem paralelo na Península Ibérica e a única pergunta que colocamos aqui na Surge é “como é que os skaters portugueses não vão todos a Vigo nestes dias?” Bom, agora que a prova faz parte do calendário do World Cup Skateboarding pode ser que a coisa mude de figura. Mesmo assim, fomos poucos mas bons: os irmãos Ribeiro estiveram bem, o Jorge Simões, assim como o Bruno Senra, o Pedro Fangueiro, o Kimpas e mais alguns skaters da zona norte. E acreditem que no leque de skaters que participaram nesta edição não era fácil destacarem-se. Afinal não é todos os dias que podes competir com Pat Duffy, Danny Cerezini, Scott Decenzo ou Alex Mizorov. Mas na final com os melhores dez, fomos, com a França, os únicos países com 2 representantes na derradeira fase da prova. Esperem, mas já estamos na final? Ainda falta falarmos de muita coisa, vamos lá voltar atrás, ao início do fim de semana.
22 O’MARISQUIÑO
A Ana Lúcia não sofre de agorafobia, de certeza! Feeble como deve ser, sem ligar às multidões
A viagem Pois claro, faz sempre parte alguma aventura, mas neste caso não foi muito agradável: depois de um pneu explodir – literalmente - na autoestrada e depois de uma noite passada no carro à porta da Norauto em Coimbra, cortesia dos nossos amigos da Assistência em Viagem, quando, finalmente, chegámos a Vigo, o cheiro dentro do bólide da Surge não era dos melhores. Graças a deus pelos ambientadores automóveis à venda em todas as bombas de gasolina. A desculpa Os irmãos Gabriel e Gustavo Ribeiro arranjaram a melhor desculpa de sempre para os levarem a Vigo: convenceram a mãe a ir de férias ao Gerês, logo ali ao lado e depois iam só a Vigo ver o campeonato. Resultado: ficaram lá o fim de semana todo com a malta, participaram no campeonato e o Gustavo passou às finais com o nível mais alto de skate dos últimos anos… belas férias, hein! O Som Neste fim de semana ninguém dorme em Vigo. Mas literalmente. É que mesmo que queiras, as festas pelas ruas da cidade só desligam os sistemas de som às 8 da manhã: Nós, alojados num 15º andar pensávamos que íamos estar bem... só para nos enganarmos redondamente e sermos forçados a seguir a velha máxima: “se não podes vencê-los, junta-te a eles” Ana Lúcia A skater de Sintra esteve em grande nesta edição de o’Marisquino: não só ganhou o prémio da maior e mais ruidosa claque privada do campeonato, como a competir contra Letícia Bufoni(s) e companhia conseguiu o quarto lugar e levou 250€ para casa. O flip para 50-50 no corrimão à primeira tentativa na final levou o público ao rubro. Só podia ser uma mulher tuga!
Os miúdos de agora… dão estas manobras só para aquecer os pés… Pedro Fangueiro 360 lipslide, só porque sim…
24 O’MARISQUIÑO
As ruas Desenhadas durante os sonhos molhados de alguns arquitetos skaters, as ruas e praças de Vigo são, nestes dias, invadidas por jovens do “monopatim” de todo o lado. Qualquer local para onde olhes vês malta a andar de skate. Acreditamos mesmo que vemos mais pessoas em cima das tábuas do que a pé. A final Com dois skaters portugueses na final, as nossas esperanças eram grandes. Com a elite do skate europeu também ali, seria uma boa oportunidade para se destacarem. Infelizmente, talvez traídos pelos nervos, as coisas não correram da melhor maneira... mas deixaram-nos orgulhosos à mesma. Bom trabalho, Gustavo e Bruno! Aurelien Giraud Este jovem tem direito a destaque, não só por com apenas 17 anos ter “limpo” alguns dos melhores skaters mundiais mas também pelo incrível arsenal de manobras, consistência e versatilidade. Se achas que dar aéreos por cima de cabeças, aterrar e na rampa seguinte dar bigerspin flips e a seguir manobras de flip para manual é para todos, ainda não viste este menino a andar. Antevisão 2016 Ok, não somos descendentes de Nostradamus, mas podemos antever uma coisa para o ano: vai haver nova edição, mais festa e mais skaters portugueses em Vigo, por isso não te esqueças e junta-te à malta… mesmo que sejas alérgico ao marisco!
Depois de ter passado a noite num carro com mais dois gajos malcheirosos, o Bruno Senra deu frontside flip disaster para desentupir o nariz… a sério, tentem lá esta que vão ver... ficam com as narinas completamente desentupidas!
Skater: Daniel Liñan
Fotógrafo: André Pires Santos
MOSTRA O TEU ESTILO www.niobo.pt
A
C A M I N H O
D E
L A D O
N E N H U M
Sempre que está a chegar a altura do calor e os meus amigos começam a tirar férias, começa a tornar-se absolutamente necessário reunir um pequeno grupo para fazer uma viagem. Não tinha nenhum destino concreto em mente, mas também, depois de um ano inteiro a planear o dia seguinte e o a seguir a esse, é um alívio sair de casa uma semana sem saber onde é que vamos estar dali a um dia, ou dois, ou três. Desde há já algum tempo que me sinto atraído pelo sul e isso pareceu-me um bom ponto de partida.
texto e fotografia Luís Moreira
fotografia Luís Moreira, João Mascarenhas entrevista Roskof
28
A CAMINHO DE LADO NENHUM
Depois de acordar a assar sob o sol da Estremadura espanhola, o Bruno Senra dá frontside flip para se refrescar. Sim, era esse o calor que estava Jorge Simones como dizem os espanhóis. Ah, mas este switch fs ollie é em Quartieira? Então é Simões, mesmo…
Arranjar mais oito pessoas dispostas a ir para onde calhar, dormir numa tenda onde calhar e comer o que calhar não é assim tão complicado quanto isso. Alias, é até bastante fácil. Poucos dias depois, eu, o Juan Salas, o Paulo “Nitro” Pinho, o Gonçalo “Pico” Maia, o Jorge Simões, o Bruno “BP” Senra, o Tiago Pinto, o Telmo Gonçalves e o Adilson Pedro tínhamos oito dias reservados na agenda (como se alguém neste grupo tivesse uma agenda) e estávamos ansiosos que o primeiro desses dias chegasse! Eu, o Juan, o Nitro, o Pico e o Jorge partimos de comboio do Porto em direção a Almada, onde combinámos ir buscar a carrinha e apanhar os quatro gandins que haviam de acompanhar-nos na viagem. Apanhámos o comboio às 8:52 no Porto para, na pior das hipóteses, estarmos todos prontos para arrancar de Almada às 14 horas. Tal como planeámos eram 19:30 e estávamos a sair de Almada pelas estradas nacionais rumo a um Sul um pouco abstrato mas promissor. Depois de termos comprado a primeira refeição (que consistiu, como grande parte das outras, em sandes variadas) num supermercado em Albufeira, sentamo-nos lá ao lado e fizemos um banquete a céu aberto, seguido de uma skatada até altas horas exatamente no mesmo sítio onde tínhamos estado a comer. Na manhã seguinte acordámos na Praia do Cavalo Preto, na Quarteira, fomos procurar um double set para o Jorge, o BP e o Adilson atacarem e após essa missão cumprida seguimos caminho. Sabíamos que o melhor seria mantermo-nos perto da costa por várias razões: dormir nas praias é fácil, refrescar o corpo nas praias é fácil e consolar a vista nas praias é fácil. Com isto em mente seguimos para Espanha, mas não passámos para o lado de lá sem antes fazer uma das paragens mais divertidas e inesperadas da viagem, após um grito do Juan que dizia qualquer coisa deste género: “Aquela merda é um Aquapark abandonado!! Temos que conseguir entrar lá!”. Conseguimos. Todos se divertiram a skatar as coisas engraçadas que lá havia, ou simplesmente a descer os escorregas sentados no skate. Ainda trouxemos connosco algumas recordações do sítio. Grande parte delas eram bolas insufláveis, mas ainda assim valeu bem a pena.
30
A CAMINHO DE LADO NENHUM
Naturalmente acabámos por chegar a Espanha e a primeira paragem em território andaluz não foi nem podia ser um spot de skate. Estávamos a precisar de um mergulho e parámos na primeira praia que vimos mal passámos a fronteira. Chamava-se Playa de Isla Canela, onde era possível caminhar, à vontade, uns 300 metros mar adentro sempre com água pelos joelhos. Talvez por isso essa tenha sido uma das praias com água mais quente em que eu estive até agora. Foi também aí que tomamos o nosso primeiro banho com sabonete, ignorando, como não podia deixar de ser, as placas do chuveiro da praia. À noite, após uma boa skatada noturna em Huelva e uma busca interminável por um bom sítio para dormir, durante a qual, entre outras coisas, encontrámos um carro roubado (ou com muito aspeto disso), dormimos na praia de Matalascañas, na esplanada do Chiringuito Pedro José. Houve, até, quem dormisse nas espreguiçadeiras do coitado do Pedro José. Ele não pareceu importar-se muito com isso e apenas nos pediu, por volta das 9:30 da manhã, que desviássemos as tendas para ele montar a esplanada. Devíamos ter ido desayunar ao seu chiringuito para agradecer mas não fomos. Toda a gente sabe que as mulheres não cagam. Por favor, era o que mais faltava. Contudo, os homens (sejam homens crescidos ou putos pequenos) precisam de cagar e quando estão em viagem, ou pelo menos neste tipo de viagens, essa necessidade teima em aparecer sempre nas piores alturas e foi por isso que ao ver uma cadeira de plástico pousada ao lado da nossa carrinha, o Jorge, com o seu habitual movimento de pé destrutivo que desintegra qualquer tábua sem grande esforço aparente, abriu um buraco no meio da cadeira. Depois de acomodarmos a mesma na carrinha (e como é que isso foi possível é ainda hoje para mim um mistério) seguimos viagem com uma cadeira.. hmm.. uma cagadeira portátil a bordo. Continuámos junto à costa no sentido Leste e à medida que as águas mediterrâneas se iam tornando mais presentes na nossa paisagem, parecia que tudo se tornava mais vibrante. Tivemos a sorte de sermos acompanhados durante toda a viagem por uma lua quase cheia, ou seja, todas as noites quando chegávamos, já tarde, a uma praia para dormir éramos presenteados com uma intensa paisagem e luz mais do que suficiente para nos conseguirmos orientar quando tínhamos que descer falésias e percorrer caminhos perigosos. Quando acordamos dentro de uma tenda em pleno verão sentimo-nos a assar, abafados e a suar por todo o lado. A solução é teoricamente muito simples e passa apenas por despir o que tivermos vestido e sair da tenda. No entanto, o entorpecimento causado pelo calor, as poucas horas de sono e, eventualmente, uma leve ressaca, impossibilitam-nos de passar à prática e deixamo-nos sempre permanecer naquele estado miserável durante muito mais tempo do que seria desejável. Depois de ganharmos coragem para nos levantarmos, cambaleamos em direção ao mar e simplesmente deixamo-nos cair e é aí que automaticamente pensamos no quão estúpidos fomos por não termos feito aquilo muito mais cedo. Independentemente do número de vezes que este episódio se possa repetir, a atitude vai ser invariavelmente a mesma.
Melhor do que uma manobra, são 3 de seguida… Adílson Pedro
Para além de ter um rabo bem jeitoso, o Gonçalo “Pico” Maia também dá uns bons front heels. É o sonho de qualquer mulher!
32
A CAMINHO DE LADO NENHUM
Alguns dos momentos mais divertidos da viagem passaram-se precisamente enquanto viajávamos. Independentemente do sítio onde nos encontrássemos, a porta da carrinha ia sempre aberta e tinha as nossas toalhas esvoaçantes presas à bagageira como a capa de um super herói. Por onde quer que passássemos deixávamos toda a gente a olhar, em parte pelo aspeto do nosso veículo mas, principalmente, porque todos na carrinha gritavam uns com os outros ou mesmo com as pessoas que simplesmente víamos passar. O Pico, para além de ter levado um nécessaire com espelho, levou também um isqueiro que foi batizado de Warrior por ter sobrevivido durante muito mais tempo do que o esperado e por ter reaparecido várias vezes quando todos o julgavam perdido. A frase “Passa-me o isqueiro!” foi completamente substituída por “Passa-me o Warrior!”, coisa que originou momentos de galhofa que nunca mais acabava. Infelizmente o Warrior não chegou ao final da viagem. O seu falecimento por esgotamento de gás a dois dias do final deixou-nos de luto durante alguns minutos. Guardámo-lo cuidadosamente no porta-luvas junto com mais um monte de merdas das quais ninguém queria saber e no dia seguinte fizemos o seu funeral perto de Motril. Nada de muito requintado. Um simples buraco na terra, uma lápide onde se lia “R.I.P. WARRIOR”, família e amigos a assistir e, claro, como não pode faltar em nenhum funeral, um punhado de beatas. O Juan é um condutor de primeira classe. Já fiz várias viagens longas de carro (sempre no lugar de passageiro) e de todas as pessoas com quem viajei ele é provavelmente o gajo com mais resistência ao volante de um carro que eu já conheci. Depois de andar de skate até às 2 ou 3 da manhã, ainda era menino de pegar na carrinha e conduzir durante três horas com quase todos os restantes a dormir.
Podem escrever as palavras de ordem onde quiserem, metam lá um skater e ele dá sempre outro uso ao local… Bruno Senra, Flip
34
A CAMINHO DE LADO NENHUM
Juan Salas, o condutor de serviço, a “conduzir” este fakie flip por bons caminhos Bruno Senra wallride
Procurávamos sempre sair das cidades quando queríamos dormir, pois a probabilidade de alguém (incluindo a polícia) nos vir chatear é muito menor. Isso fez com que encontrássemos vilas com spots diferentes do habitual e bastante divertidos de skatar. Durante os dias seguintes foi esta a nossa vida. Acordar na praia, dar mergulhos no Mediterrâneo, andar de skate, passear de carrinha e voltar à praia para dormir. Acho que não há queixas a registar da nossa parte. Houve um episódio que marcou esta viagem pela negativa. Estávamos em Almuñecar a ver o pôr-do-sol enquanto tomávamos banho e nos vestíamos para ir dar uma volta noturna por Granada quando o Adilson resolveu dar uma arrumadela à carrinha. Descalço. duas horas depois estávamos no hospital de Motril, a 50 quilómetros de Granada, depois de termos sido transferidos do Centro de Saúde de Almuñecar. Desenterrar o pedaço de espelho que ele espetou no pé não foi suficiente e, por ser dos poucos que fala castelhano calhou-me a mim entrar na sala de operações com o Adilson. A olhar para o pé dele enquanto a médica com a ajuda de um bisturi e uma pinça lhe tirava os pedacinhos de vidro que teimaram em ficar lá dentro a única coisa que me passava pela cabeça era: Porque raio é que o Pico não trouxe um nécessaire sem espelho?
36
A CAMINHO DE LADO NENHUM
Tiago Pinto, ollie, com aqueles olhos de quem vai entrar na montanha russa
38
A CAMINHO DE LADO NENHUM
Depois da mini-operação do Adilson, encostámos ao lado da praia e eu estava tão cansado que acabei por dormir mesmo ali. Não sei bem o que aconteceu depois de eu adormecer mas ouvi falar numa garrafa de vodka, sessões de apedrejamento, uma escalada à torre do nadador salvador e algumas sessões de luta livre. No dia seguinte começámos o nosso regresso a casa. Ainda fizemos algumas paragens pelo caminho para andar de skate, para comer, para ver a paisagem, ou para o Telmo rapar o cabelo. Sim, o Telmo andou a viagem toda à procura de uma tomada onde pudesse ligar a máquina de cortar cabelo e, finalmente, encontrou-a no skate parque de Sevilha e desfez-se assim de quatro ou cinco anos de cabelo. Vamos todos ter saudades daquelas praias com mar daquela cor que vemos nos filmes de surf. Mas que se foda o surf.
Ainda bem que o Telmo aqui ainda tinha o cabelo comprido, assim não tinha que ver aqueles corpos todos ao léu enquanto dava este 5-0
MARK APPLEYARD | THE MAHALO
Globe Shockbed™ insole and S-Trac™ for increased impact control, grip and flex. Designed and tested by Mark Appleyard.
@globebrand | GLOBEBRAND.COM | est. Australia 1994
40
I G E N G H I S K H A N ’ T W A I T T O G O B A C K 1 0
A N O S
D E P O I S ,
A
M O N G Ó L I A
R E V I S I T A D A
Foram precisos 25 anos, um mês e quatro dias, (sim, eu contei) desde o dia em que pus pela primeira vez os pés num skate, para partir no meu primeiro tour, imaginem lá! Oportunidades para ir antes não me faltaram, especialmente quando passei 18 anos a escrever para várias revistas de skate, para boas e para más. Simplesmente nunca tinha acontecido, exceto uma viagem de Nimes a Barcelona com o Tom Penny, o Benjaming Debertd e o Seb Charlot, em 1997. Mas não acho que testemunhar o Tom Penny a mudar de meias durante uma semana se possa chamar um tour. Para além disso fartava-me de ouvir histórias do género: “o não sei quantos precisa de ir ao pior bairro da cidade para satisfazer o vício” e ainda por cima e alimentando também aquele bocadinho “de esquerda” que todos os franceses têm, nunca me apeteceu passar semanas a escrever para “product placement”. Agora a sério, se quiserem pensar nisso em termos jornalísticos (sim, eu sei, é skate, não devíamos) os tours raramente têm alguma razão para acontecer, normalmente não se fazem para documentar algo que existia ali antes do tour. Eles vêm, eles conquistam e vão-se embora… qual é a real história de todo esse circo? Nenhuma!
fotografia Percy Dean, Cyril Wiener e Jerome Campbell texto Vincent Biais
42
10 ANOS DEPOIS, A MONGÓLIA REVISITADA
Mas, adiante. Estava eu conformado com a minha sina, imaginando as luxuosas mansões nas Caraíbas que a minha visão sem sentido do jornalismo me ia trazer, quando o meu telefone dourado tocou. 10 anos depois, os gajos que produziram o livro “Dirt Ollies” e o filme “Mongolian Tyres”, retratando as aventuras de um grupo de skaters perdidos na Mongólia, queriam revisitar o país e ver a sua evolução usando o skate como medida comparativa, ou se quiser soar como um autêntico pedante wanabee: como um “marcador arquitetónico”. Engraçado, nesta missão também levaríamos duas pessoas com zero de experiência no skate: Nicola Delon, um arquiteto, e Cyrille Weiner, um fotógrafo parisiense conhecido pelo trabalho com paisagens e fotografia arquitetónica. Para além deles levaríamos também alguns dos melhores skaters europeus: Sylvian Toneli, Joseph Biais, Jerome Campbell, Igor Fardin, Phil Zwijen, Deshi e o filmer Rogie, da Heroin, e claro o fotógrafo e lutador de MMA, Percy Dean. Como estava ansioso para comprar não só uma mansão, mas também o resort inteiro aí fui eu na minha primeira viagem de skate 100% paga por uma empresa do ramo. A minha primeira preocupação foi, claro, - tal como tinha ouvido naquelas histórias todas -, onde é que um grupo como este iria satisfazer os vícios no país com menos densidade populacional do mundo, 1.8 habitantes Phil Swijen, smith grind num estádio em que por Km2? Afinal, segundo rezam as histórias, a maior parte do os smiths nunca tocaram… achamos nós! tempo de um tour era passada nessas demandas. Bom, mas eu estava a caminho de uma grande desilusão: assim que aterrámos no chique aeroporto de Ulan Bator, ninguém me obrigou a ir à procura de substâncias estranhas, em vez disso estavam todos a contribuir para aquilo que foi uma dose industrial de demos, numa viagem que nos levou de Ulan Bator para Darkhan, Amarbayasgalant, Bulgan, Erdenet, Tsetserleg, Elsen Tasarkhai e Kharkhorum, no decurso de 3 semanas, sempre à procura de spots, a viver com uma família nómadas, a explorar sinistras cidades mineiras e a dormir nas dunas de um deserto. Mas antes de aprofundarmos esta história, vamos voltar a 2004 com uma pergunta muito simples? Porquê a Mongólia? Tudo começou dois anos antes, quando Jo Hempel, um estudante alemão de arqueologia e fotografia, visitou este país e descobriu um gigante skate parque no centro da capital, mesmo ao lado de um ringue de wrestling. Demorou dois anos até conseguir organizar uma viagem com skaters ocidentais e quando finalmente chegaram descobriram que o skate parque tinha sido demolido apenas 3 semanas antes. 10 anos mais tarde a Mongólia tornou-se num dos países do mundo com crescimento mais rápido, graças, claro, aos tesouros do seu subsolo, carvão, cobre, urânio e outros metais raros. Por vezes uma bênção, por vezes uma maldição, a história do crescimento anárquico desta sociedade produziu alterações traumatizantes na sociedade. Das estradas de terra em 2004 ao pó das construções desenfreadas de agora, esta década de revolução merece uma nova análise.
Jerome Campbell Wallide, ou melhor… netgrind?
Phil Swijen, flip for por entre as cuecas de alguém. Ah, desculpem, são lençóis Em troca de ensinarem-no a ir, literalmente, “cagar à mata” à maneira mongol, o Igor Fradin ensinou-lhes flips
44
10 ANOS DEPOIS, A MONGÓLIA REVISITADA
“Estava eu na minha quinta quando vi um belga a sair do chão”, disse o jovem mongol à família, mais tarde… Phil Swijen, ollie
E foi assim que em Julho nos encontrámos com jet-lag, depois de uma viagem de 13 horas, a skatar em frente a uma nova escola em Ulan Bator. E foi no seu espírito usual de destruir tudo que vê que o Phil Zwijen decidiu abrir as hostilidades desta viagem num duelo com um corrimão verde em Mach 2. Claro que o corrimão perdeu. Sempre à espreita, o Sylvian Tognelli, entretanto, usava todas as ferramentas de pesquisa ao seu alcance para descobrir spots e, claro, para ser convidado para uma festa por um match no Tinder… Revisitando alguns dos spots da primeira viagem, passámos num bank to wall, onde deixámos o dono do spot, com dinheiro para pintar aquilo uma dúzia de vezes, irritado. Bom proveito! Os poucos dias em Ulan Bator antes de partirmos para as estepes foram passados entre skatadas e o mercado negro da cidade, onde as meias se vendem ao lado das tendas nómadas. Mas conhecemos também alguns skaters locais como o Eddy Pureev, natural de Ulan Bator mas criado em Nova Iorque. Voltou para gerir uma ONG que ajuda jovens a praticar desporto e também a levar a cabo, todos os anos, a versão mongol dos X-games. A ajudá-lo tinha o seu primo Misheel, que aos 30 anos é o diretor de negócios da Forbes Mongolian Magazine… sim, ouviram bem, a Forbes! Mas como precisávamos de um tradutor de confiança para a nossa viagem convencemo-los a vir connosco. Quando apareceu para entrar no nosso autocarro de fato e gravata fartámo-nos de rir. Afinal era apenas o lobo vestido de cordeiro… nas semanas seguintes iria quase morrer em vários downhills e acompanhou-nos em todas as aventuras. Estava, então, o nosso team completo… abençoados pela presença do Misheel, fizemo-nos à estrada, mas ainda a sonhar com as Shanz 3. Shanz quê? Nada, era apenas uma girls band que todas noites tocava num clube local, entre os intervalos de horas de músicas inspiradas no Little Wayne e que apareciam com fatos de pele a cantar covers de Abba e músicas do Saturday Night Fever. Tudo sempre com uma guitarra tradicional da Mongólia chamada o Shanz… Para a estrada, então! Na Mongólia, a escolha de condutor é essencial. O nosso Davaanyam cresceu numa família de pastores de Khuuvur e teve que imigrar para a cidade depois de ter perdido o seu rebanho num “zud”, nome que eles dão aos invernos mais rigorosos. Metade Mad Max, metade Crocodilo Dunddee, depressa passou a fazer parte da equipa. Tal como ele se fascinava com o skate, também nós ficámos admirados com a sua capacidade de arranjar tudo e mais alguma coisa e com o seu conhecimento enciclopédico do caótico sistema de estradas da Mongólia. Mas, claro, também tínhamos o nosso “smooth operator”, de nome Davaa. Ele vive a vida sempre a 200, não se importa de fabricar bombas para matar mosquitos e nunca dorme em lado nenhum sem ser o seu querido Hyundai County “Sportime”
Jerome Campbell, backside smith stall 180 out Já ouviram aquele ditado, “sempre que um corrimão vira, segue com ele”? Não? Pois, acabámos de inventá-lo. Phil Swijen, feeble
46
10 ANOS DEPOIS, A MONGÓLIA REVISITADA
Levados pela condução destas duas personagens, as longas horas entre estepes infinitas, entre cidades e minas abandonadas foram também passadas a ouvir sempre a mesma música: Ohio Express “Yumy, Yumy, Yumy” e a desviarmo-nos de malas de viagem, que constantemente caiam do Hyundai. Também passámos horas a discutir os possíveis nomes para o novo livro/filme desta viagem. Alguns dos melhores que nos passaram pela cabeça: “I Genghis Khan’t Wait to Go Home”, “Camela Anderson”, “Unexpected Ponytail”, “Fuck Yourte”, “Cold Showers”, “Steppe by Steppe”, “Broken Back Mountain”, “Broken Hearts” and “Camel Toes”, “The Strange Case of Benjamin Mutton”, “Gers Just Wanna Have Fun,” e “Ulan Bastards.” Dito isto, o que é que descobrimos em relação à caótica e anárquica urbanização da Mongólia? Bom, amigos, isso será para o livro, por agora tudo o que precisam de saber sobre a nossa excelente aventura na Mongólia pode ser resumida com alguns destaques, deixem-me ver as minhas notas… Darkhan tem o parque público mais estranho da história, com uma estrada com 4 quilómetros para lado nenhum, apenas interrompida pelos 12 sinais astrológicos, não sei se para influenciar o “karma” da cidade. Também contém um dos melhores banks octogonais para andar de skate, na estação de comboio. Esta cidade também foi palco de uma épica sessão de karaoke, com o Percy Dean a rebentar com “Uptown Girl” e com uma dúzia de soldados a cantar o “The Eye of the Tiger”. No mosteiro local também skatámos algumas das estátuas, depois de o Mishell ter perguntado aos monges se podíamos. Semanas depois admitiu-nos que afinal não tinha pedido permissão, mas que precisava de ver alguém a skatar aquele spot! Na chegada a Bulgan, a chuva caía e parecia que as coisas não iam correr bem, mas quando descobrimos que a 50 metros do sítio onde iríamos dormir tínhamos uma praça perfeita, as coisas mudaram de figura. Mesmo assim, Bulgan ainda viu alguns episódios caricatos: o Deshi quase a ficar empalado num ditch, o caso da pele do Misheel a colar-se ao alcatrão e batalha entre o Joseph e um rail gigante num supermercado. Depois, o Ölziit e a família nómada onde ficámos a dormir, ensinaram-nos algumas coisas, como fazer estufado de borrego apenas com pedras do rio, como construir um Yurt (tenda familiar) e como usar um chapéu de chuva para “defecar” nas casas de banho, geralmente localizadas a 200 metros da tenda. E assim as 3 semanas passaram, com muito mais histórias. Ser acordado por camelos enquanto dormíamos no deserto? Feito! Ver o Igor Fardin a destruir os ditchs mais agressivos da história? Feito! Testemunhar o Jerome Campbell numa missão em todos os spots por onde passou e partir o pé a um quilómetro do aeroporto antes do regresso? Feito! Afinal, neste meu primeiro tour, houve muita coisa que me deixou surpreendido, como quantas cervejas o Deshi conseguia beber, o Silvayn que conseguia descobrir wifi em qualquer lado e o facto de toda a gente quer lutar com o Percy apenas porque em 2008, no único combate na jaula que fez, pôs o adversário em knock out em apenas 15 segundos. Tudo e mais alguma coisa foi mágico nestas minhas 3 semanas na Mongólia. Tão divertido que quase me arrependi de não ter ido satisfazer os nossos vícios.
Joseph Biais num ollie e Phil num frontisde ollie. Sabem o que dizem, os ollies andam sempre aos pares
Eles nem acreditavam que o rail ainda lá estava… Joseph Biais, front board só para saber se era realidade ou um sonho…
From Dirt to Dust book and Out of Steppe documentary available now! Photography: Percy Dean and Cyrille Weiner / Writing: Seb Carayol Cinematography: Stephen Roe / Featured Skateboarders: Joseph Biais, Jerome Campbell, Igor Fardin, Sylvain Tognelli, Yoshihiro “Deshi” Omoto and Phil Zwijsen
Ten years after, skateboarding the urban revolution of Mongolia (2004 –14)
www.carhartt-wip.com Jerome Campbell, BS wallride – Photos: Percy Dean & Cyrille Weiner
48
3shove Voralberg Hard Skatepark Austria
Durante cerca de 4 meses comentei com amigos a intenção que tinha em fazer uma viagem e eram poucos os que ouviam sem interromper com um “’tas parvo?”! Para não falar nos que mergulhavam em risadas. Claro que não falava a respeito de viagens banais, onde o indivíduo adquire um bilhete, prepara-se uma mala, aluga-se um quarto de hotel e coloca-se no bolso dinheiro suficiente para X dias. Tratava-se de algo maior, ousado, arriscado e imprudente. Daquelas que só de pensar me fazia ir buscar um casaco para amenizar o frio na espinha. Viajar sem dinheiro, durante um ano e à boleia pela Europa era o plano. Muitos de vocês certamente estão também a pensar num “’tas parvo”. Mas foi exatamente o que aconteceu. Estive a viajar por 14 países do continente europeu: Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polónia, República Checa, Áustria, Hungria, Eslovénia, Itália, Suíça e Dinamarca, sem 1 tostão no bolso.
F E R N A N D O K L E W I S
fotografia Fernando Klewys e os seus 42367 amigos texto Fernando Klewys
Bruno Felipe (Cabelo) Varial Hell Stalin Square
Conforme vão lendo estas palavras, não que eu seja bruxo, mas deverão estar a fazer perguntas como: Onde dormias? O que comias? Não houve nenhuma situação de perigo? Como subsistias? Tive dias incríveis, outros nem tanto. Andei mal cheiroso, mas também tomei banho. Dormi no mato e aconcheguei-me na cama. No inverno, não dormi uma noite sequer na rua. Dizem que sou uma pessoa de sorte e sou mesmo! Tive fome, mas também enchi a pança. Comi em restaurantes e fui buscar ao lixo! É incrível a quantidade de alimentos ainda bons que as pessoas deitam fora. Mas eu já tinha conhecimento de tais coisas. Até porque é muito obvio! E se almejas um dia fazer uma viagem assim, certamente já sabes que tudo isso poderá de facto acontecer. Às vezes perguntam-me qual a melhor maneira de ir à boleia. Mas na verdade, a todo tempo, a toda hora, em todo lugar, coisas incríveis são propícias acontecer. Nem tudo no ser humano é maldade. Nem tudo no ser humano é mentira. Entretanto, ao mesmo tempo somos nós, todos nós o oposto. Ou acreditamos no ser humano em plena paz, ou o ser humano nunca há de acreditar nele mesmo! É certo e lógico que nos meus pensamentos houve dúvidas, receios e medo também. Mas quando acreditas em algo e de maneira serena, mesmo que não faça muito sentido para os que te rodeiam, tudo há de correr pelo melhor. Às vezes idealizo sobre religiões e crenças e dói-me no fundo do sistema límbico (parte do cérebro que processa os nossos sentimentos e emoções), a falta de fé no ser humano, e o excesso de crença em algo que não faz parte deste mundo, mas que habita no planeta abstracto. O mal não é a existência de deuses e tão pouco religiões. Mas sim a falta de respeito pelo que o outro pensa, acredita, ou simplesmente por aquilo que escolheu ser. Eu escolhi viajar sem dinheiro numa procura mais completa do ser humano. Na busca de experiências de vida que a escola deste sistema controverso e corrupto nunca poderia ensinar. De como as pessoas agiam em locais diferentes, como viviam, como se relacionavam, como viam o seu próximo, ouvir línguas diferentes mesmo sem perceber nada, angariando filosofias e estilos de vida também. Naturalmente que o skate veio dar mais sabor a toda essa procura. Já se passou mais de 1 ano desde que regressei a casa e ainda hoje me escrevem a pedir conselhos de vários cantos do mundo no que diz respeito a este tipo de viagem. Mas quando zarpei de Lisboa, quis fazer tudo à minha maneira, tentando descobrir e aprender a cada passo dado. Se querem de facto um conselho, desprenderem-se de pré-conceitos e deixar os preconceitos de lado é, sem dúvida, o melhor e o primeiro passo a ser dado. Com muito amor e um pouco de determinação vão aprendendo a trilhar e a fazer a vossa história e não a repetir os passos de um outro qualquer. Qualquer, porque nada te faz a ti diferente de mim. Somos todos farinha do mesmo saco. A diferença está no intelecto e no respeito que atribuímos às opiniões de cada pessoa. E depois, não fui o primeiro e tão pouco o último a concretizar algo do género. E seria esplêndido se mais pessoas o fizessem. Quando o pessoal da SURGE entrou em contacto comigo, concederam carta-branca para escrever este artigo. - Obrigado, malandros! Então pensei que poderia fazer algo diferente em vez daquela mesmice de perguntas e respostas. Decidi resumidamente narrar uma das centenas de histórias que foram escritas nesta viagem. Dando livre arbítrio à vossa imaginação para que possam compreender a importância e o impacto que esta viagem teve na minha vida. No meu caso, nunca foi segredo o desejo de mergulhar na estrada. Só não havia adquirido, ainda, a coragem.
Rodrigo Maizena meu Brother sw fs flip big seven
Ante Ollie
flip Stalin Square
Quarta-feira, 5 de dezembro de 2012 - Vila Franca de Xira. Foi numa manhã fria que senti pela primeira vez um calafrio a assombrar. Não conseguia pensar muito bem, ou concentrar as ideias naquilo que estava eu prestes a fazer. Sem muita pressa e com mais calma do que aquela que realmente tinha, olhei uma, e outra vez mais para a minha mala de 60 litros que estava no chão da sala antes de conferir tudo o que estava dentro e fora. Saco-cama, casacos, roupas, ténis, botas, alguma comida e claro, o meu skateboard. Mais do que isto não tinha e mais considerava não precisar ter. Entretanto ali, naquele exacto momento, em pé a olhar para minha mala, pensava em tudo o que já havia sido dito e ouvido. E a única coisa que me vinha a cabeça era: Mas o que raio estou eu a fazer?! Enquanto repetia num grito calado vezes sem conta tal pergunta, agarrei na mala e levei-a às costas. O peso e o tamanho disforme fez-se sentir nos joelhos. Acho que eu parecia-me mais com um escoteiro com o nariz todo cagado, que nunca aprendera a fazer a mala, do que com outra coisa qualquer. Não percebia porque cargas d’água havia tantos ganchos e apetrechos que pensava terem zero, ou quase nenhuma, utilidade. Só depois de algum tempo na estrada é que fui perceber a ciência de tudo aquilo. Já com a mala às costas, senti outra vez aquele calafrio desgraçado a empurrar-me para fora de casa. Fui levado até Vila Franca de Xira pelos pais do André Costa (Def). O mister Jaime, mais conhecido por “General” a conduzir e a tia Fernanda, sempre a chamar a atenção do condutor para a estrada. Quando vi o carro afastar-se num adeus tímido, não pude fazer mais do que levar a mala ao chão e sentar-me. Ali fiquei mais de 1h a ver os carros passarem como se fossem autocarros, mas nunca o meu. Pensei em desistir, mesmo antes de ter começado, confesso. Quis ir para casa e guardar na gaveta aquela ideia marada. Mas… o que, de resto, tinha eu? Trabalho já não e uma casa tão pouco. Só me restava a estrada com aquele desejo encarecido e frenético de beijar-me os pés. Eu ao mesmo tempo via a estrada como uma mulher, infelizmente casada com um brutamontes que me partiria em dois em fração de segundos. Para condimentar ainda mais a situação, aquele mesmo calafrio que inicialmente apresentou-se como adrenalina, decidiu agora exibir-se em forma de medo e não fui capaz de apanhar se quer uma única boleia aquele dia. Fui ter a casa do Simão Meneses que estava a estudar em Coimbra e lá passei a noite. Na manhã do dia seguinte, fazia um frio impossível naquela zona. Mas o frio foi-se logo embora depois de caminhar alguns quilómetros. Caminhava a tentar de alguma maneira afastar o medo e incertezas. Depois de muito pensar, apanhei um comboio. O dia já havia dado a sua graça quando por fim cheguei à fronteira de Vilar Formoso. Sítio onde havia estado 4 meses antes daquele dia e onde surgiu a ideia de viajar à boleia pela Europa sem dinheiro. Estava na altura de regresso a casa, depois de uma viagem de InterRail e vi-me sem dias válidos de viagem e com menos de 25 euros no bolso. Gmunden Austria
Linus Barta Berlin
Mauricio Nava Tucknee Berlin
Julian KI
A única maneira possível de regressar a casa seria à boleia. Algo que nunca havia feito e que para meu espanto resultou melhor do que alguma vez poderia imaginar. Fora a triste parte de ter caminhado cerca de 28km mediocremente a criar coragem para meter o meu belo corpinho dentro do carro de um desconhecido. Ao contrário da primeira vez que ali estive, frio, vento e chuva eram os meus melhores amigos e não tencionavam abandonar-me. Na minha cabeça pensamentos sugavam o raciocínio. Ninguém quer viajar à boleia com aquele tempo e só depois é que fui descobrir a razão do porquê. Já me encontrava ali há cerca de 1:30h a levar com aquela chuva preguiçosa, quando por fim fez-se luz. Um camião que estava estacionado iniciou trajeto. A conduzir, um jovem na casa dos 40 anos que respondia pelo nome Beto. Disse-me que estava a caminho de Valladolid e que poderia dar-me boleia até àquela zona. Eu estava a caminho de Paris e assim seriam mais de 230 km já no primeiro dia. Agradeci pela generosidade do camionista antes e depois de subir à cabina. Tentei apresentar-me calmo e fugir aos pensamentos menos bons. Tratou-me por louco quando disse que estava a caminho de Paris. Fez ele ainda questão de acrescentar que o clima em Portugal no inverno não era nada mau se comparado com o norte de Espanha e arredores. Depois das apresentações de pessoa para pessoa terem chegado ao fim, manteve-se um silêncio ruidoso. Era noite e a chuva caía lentamente com o deslizar do camião estrada fora. No leitor de CD tocava Money dos Pink Floyd… Não consegui classificar aquele momento entre sarcasmo e ironia. Mas ri-me à mesma da situação. Fez-me esquecer por um momento aqueles pensamentos. O Beto disse que eu poderia dormir com ele no camião pouco antes de chegarmos a Valladolid. Agradeci a oferta, mas disse que não. Indaguei dizendo que Paris ainda estava longe e não podia dar-me ao luxo de dormir. Ele insistiu acrescentando: - É como quiseres amigo! Eu tenho que parar numa área de serviço em Valladolid para descanso. Amanhã sigo viagem. Se quiseres podes dormir na cabina comigo. Tenho um beliche e podes sempre dormir no de cima. - Agradeço imenso, Beto, mas pretendo mesmo é seguir viagem. - Vais a Paris não vais?! - Sim, vou, mas talvez apanhe alguém que vá a conduzir durante a noite! - Paris ainda esta longe, Fernando, (disse carregado de um semblante benévolo) e lá fora está frio e vento, como podes reparar. Eu passo por Paris e posso levar-te comigo sem problema algum! - Espera. Você está a caminho de Paris?! - Vou para Alemanha e Paris fica a caminho! Devemos lá chegar dentro de 3 dias a depender do trânsito e assim teria companhia, pá! - Isto é mesmo a sério?! De verdade mesmo? Vou chegar a Paris mesmo à “first try”?! - Sim é, Fernando! E também não são todos os dias que tenho uma companhia num trajeto tão longo! - Então siga, caramba! ‘Bora a Paris!
Rodrigo Maizena Sw fs flip Big seven Barcelona
Nassin Cabalerial Berlin
Não deixei de ficar relutante quanto a isso e ainda menos se distanciou o medo de dormir num camião com uma pessoa que eu não conhecia de lado algum, até então. Mas não havia muitas escolhas. Optei por ficar com ele no camião, até porque com aquele tempo ficar lá fora não era sequer opção. Eu dizia que pretendia seguir viagem, entretanto só pensava no frio. Não era eu quem queria sair do camião e sim a desconfiança a tomar conta das minhas pernas. A certa altura, já havia uma atmosfera bastante amigável por ambas as partes. O Beto é casado, tem uma filha e trabalha feito louco para manter a casa e a família, como muitos camionistas que vivem mais a estrada do que a própria família. Porém, o Beto tinha uma vantagem gigantesca sobre o stress. Gostava com amor do trabalho que exercia. Tinha realização pessoal e autoestima. É isso que acontece quando se faz aquilo que se quer e não a obrigação do fazer. E com esses ingredientes trabalhava até calejar a alma para dar condições aos seus, mesmo com todas as dificuldades e distâncias. Estive com o Beto durante três dias. Ele até chegou a fazer almoço no terceiro dia numa espécie de micro cozinha que havia no lado direito da parte traseira do camião. Depois do almoço (massa com frango) seguimos viagem. Vi-me a pensar na busca mais completa do ser humano a menos de 30 quilómetros do meu destino. E essa procura encontrou-se logo na primeira boleia. Então dei-me conta de que não havia necessidade alguma em sentir medo, ou ficar relutante a respeito deste, ou daquele que me apanhasse à orla da estrada, ou numa área de serviço. Carreguei comigo colado ao peito essa explosão de confiança aplicada ao desconhecido durante todo o trajeto, desde o primeiro ao último dia desta viagem que mudou por completo o Fernando que eu próprio conhecia. Dando lugar àquela procura primária do ser humano, o encontro e conhecimento do próprio eu. Com este pensamento, agradeci ao meu mais novo grande amigo, Beto, com um abraço. Despedimo-nos e ele seguiu viagem para Alemanha. O Beto foi, e continua a ser, entre as pessoas que me deram boleia, o mais memorável. Para trás havia ficado Portugal. Pisei pela última vez o solo mais perto de casa logo ali na Fronteira de Vilar Formoso. Não conseguia perceber a alegria e o furor que sentia enquanto caminhava pelas ruas de Paris. Limitei-me simplesmente a sentir e aproveitar ao máximo daquele momento. Ali era só eu, sozinho no meio da multidão. Comecei a assobiar sei lá o quê, ao mesmo tempo que os meus pés beijavam o passeio por onde caminhava. Via o chão a sorrir-me, como uma exuberante jovem solteira sem nenhum brutamontes para me irritar os calos. Depois de caminhar durante algum tempo com aquele sorriso parvo no canto dos lábios, sentei-me num banco enquanto via as pessoas passarem. Não como os carros que passavam quando estava sentado em Vila Franca de Xira. Mas com um olhar vívido e ao mesmo tempo atónico numa mistura complexa de sentimentos.
ollie
O que seria o skate sem um cromo em cima, todo suado, sujo e cheio de escoriações e ossos partidos? Não é, e jamais poderia vir a ser, mais do que um simples objeto. O skate só é o que é devido ao sentimento que exercemos sobre ele. Esse mesmo objeto, não passa de um instrumento de realização pessoal. E o crítico, ou criticado, será sempre eu, ou você. Já de volta a Portugal, vi que a cena do skate estava muito dividida e que pareciam todos abutres a tentar obter patrocínios, reconhecimento, ser campeão nacional e coisas afins. Até ouvi dizer “vou treinar” em vez de BORA SKATAR! No que diz respeito a esse sentimento em particular, resolvi apenas estar com os meus amigos e skatar. Aprendi a respeitar todas as vertentes dentro deste mundo que move e que dá sustento ao eu interior de cada skater, em vez de permanecer crítico como se fosse um daqueles senhores que vão a restaurantes avaliar o que se come, informando em quais restaurantes ir, ou os que não valem sequer a pena passar a porta. Mas é claro que às vezes é preciso dizer algumas verdades para o pessoal abrir a pestana. Também é certo que existem grupos mais undergrounds que estão a fazer algo diferente, e a tentar ressuscitar a verdade perdida do SKATEBOARD em Portugal. Um bom exemplo disto são os Djzebenzas, que são os que mais me dão pica para skatar. Não apenas por serem os malucos com quem sangro as canelas todos os dias, mas por verem o Skate fora do “sistema”. Levei algum tempo até alcançar a visão que tenho hoje deste simples objeto. Mas nunca a fazer distinção por gostares de ser uma espécie de publicidade ambulante com logos na t-shirt do tamanho da cara, por viver num skate parque, por skatar a rua todos os dias, ou por preferir isso, ou aqueloutro. Isso é-me indiferente e cada um faz o que quer. Ninguém é de ninguém e isso aplica-se também às vontades. Para mim o que realmente importa é a pessoa em si, desde que não seja um arrogante conflituoso. Quando regressei a Lisboa, exatamente um ano depois (05/12/2013), já estava implantada em minha mente a ideia de uma nova aventura. Essa ideia teve como alicerce os mais de 370 Km percorridos entre Salzburgo e Viena (Áustria) de bicicleta. Ideia que partiu do Rui Major que estava a viver em Salzburgo, que com muito entusiasmo e de boa vontade ofereceu-me teto e comida por três dias. Eu como não estava atrasado, agarrei na bicicleta e comecei a pedalar. Quatro dias depois já estava em Viena. Pretendia fazer Portugal de Norte a Sul, o que não foi possível devido ao trabalho. Depois de um ano a viver outra vez como pássaro na gaiola, pedi demissão do laboratório de prótese dentaria onde trabalhava. Tenho estado a saltar de casa em casa como um canguro há mais de 3 meses, a viver uma semana em casa de um amigo e uma semana em casa de outro. A vantagem é que tenho mesmo bons amigos e que mesmo sem nada (dinheiro) me fazem sorrir e nunca me deixaram passar mal. Não digo que o dinheiro seja algo de mau porque não é. Má é a importância que lhe damos. Fui para o Barreiro durante um mês ajudar na construção do skate parque (Boobie Trap) sem nunca pensar em receber nada em troca e fi-lo mesmo por amor ao SKATE! Foi bom aprender com os que lá estiveram. Com os que receberam pelo trabalho e mais ainda com os que não. Entretanto voltei uma vez mais à estrada. Em vez de pedalar de norte a sul do país, vou ligar Lisboa a Atenas exclusivamente em bicicleta. São mais de 4.000 km a percorrer e tenho a consciência de que há de ser ainda mais difícil do que a primeira viagem que fiz, devido ao esforço físico e também por me lançar uma vez mais sem dinheiro. Espero que não estejam a pensar num outro “’tas parvo”!!! Porquê é exatamente isto que vai acontecer! Podem seguir a essa nova busca e expansão do ser no Instagram @fernando_klewys e também na pagina do facebook, “Around Europe”. No mais, deixo aqui os meus mais sinceros agradecimentos à equipa da SURGE por terem aberto as portas para que eu pudesse partilhar convosco essa experiência. Beijos e Abraços. Fernando Klewys.
Distribuição www.marteleiradist.com
212 972 054 - info@marteleiradist.com
60
Como todos sabemos, os ingleses sentem-se bem à vontade nas Canárias. Tão à vontade que até andam aos saltos por todo o lado… Harry Lintell - ollie
fotografia Alberto Polo texto Pali Negrin
#
P L E A S E C H A R G E
C o n v e r s e
E u r o p a
n a s
C a n a r i a s
62
#PLEASECHARGE
Os pais do Remy Taveira são de Chaves, ele nasceu em Paris e está aqui a dar um tail tap nas Canárias. É um autêntico euro-trotter
Paul Grrund - 50-50 gap out. É caso para dizer “por favor, à carga”!
Porquê as Canárias? De certeza que já leste muitos artigos de tours em que a justificação dada para o destino são as condições atmosféricas, e então? O que é que queres? Para skatar convém não chover e claro que é sempre mais agradável quando te partes todo a tentar uma manobra quando está quente do que quando está um gelo do caraças. Assim como as aves migratórias procuram lugares mais agradáveis, também nós, skaters, fazemos exatamente o mesmo. Por isso, o team europeu da Converse escolheu este destino para uma das viagens do projecto #Please Charge. Sabendo que em breve teriam de correr a Europa para acabar o vídeo, as Canárias apareciam como o destino mais inteligente para iniciar a viagem. Las Palmas, de onde é natural o Carlos Cardeñosa, recebeu Remy Taveira, Harry Lintel, Jerome Campbell, Paul Grund e Greg Cuadrado, a quem se juntou outro skater natural das ilhas e rider da Converse Iberia, o Octávio Barrera. Ok, já sabes por que é que estamos nas Canárias? Passemos a outros assuntos.
Depois de ter visto tantas mamas falsas no Tinder, o Harry Lintell entusiasmou-se - Backside bigspin
As baixas! Diz-se que as coisas más convém serem tratadas o quanto antes e assim relatamos já o pior que se passou nesta viagem: o Filipe Bartolomé, skater espanhol da nova geração, que faz parte do team europeu da Converse, não conseguiu vir devido a problemas no tornozelo… como guia, o Carlos Cardeñosa ficou tão entusiasmado que no primeiro dia também torceu o tornozelo (a lesão maldita do skate, como é conhecida por muitos). Mesmo assim quando virem o vídeo final, de certeza que vão ficar surpreendidos com o skate destes dois meninos. A mão de obra! Os assuntos da Converse na Ibéria são sempre resolvidos pelo Pali Negri, skater e team manager de Portugal e Espanha. Por isso, claro que sua presença era inevitável. Foi ele, também natural das Canárias, que recrutou a malta necessária, inclusive este fotógrafo veterano de skate, que andava desaparecido há algum tempo. Depois de tempo demais a fotografar outras coisas, Alberto Polo acompanhou-nos nesta viagem especial. Após anos dedicados à fotografia de música, eis que está de volta para imortalizar manobras de skate. Depois de saberes quem fe z as fotos que estás a ver, vamos agora falar do vídeo, a cargo do francês Ben Chadourne e do inglês James Cruiksand. Convém dizer que sobre o Ben temos de sublinhar além das suas características como câmara, ou qualidades como editor de imagem: ele skata muito, mesmo. E quando assim é há pontos positivos… e negativos, como estar em spots perfeitos e não poder skatá-los. Oh, Ben, como nós te entendemos. Podes sempre trocar as rodas de filmar por rodas normais e ainda te divertes.
64
#PLEASECHARGE
O Octavio Barrera tem um bar em Barcelona. Fechou-o e foi para as Canรกrias. Jรก nรฃo hรก respeito pelos clientes! Frontside Noseslide
Verdadeiro trabalho de equipa é assim… o Harry deu backside bigspin, o Jerome Campbel, frontside bigspin. Coitados dos bigspins
Coisas que se passam! E se destacámos o Ben e o sangue quente de skater que lhe corre pelas veias, temos que destacar o Harry Lintel, o membro do team com mais entrega e dedicação. Este rapaz nunca se cansa de skatar e com um controlo na tábua que lhe permite produzir e muito. Algumas das manobras logo à primeira tentativa. Foram muitas as vezes que nos impressionou nesta viagem, mas há uma que temos que destacar: à passagem por Las Palmas e pelas transições naturais que já viram milhares de manobras. Assim que chegámos, o Harry começou logo a filmar lines. Já tínhamos visto muitos skaters usar as curvas como quarters, alguns acid drops, mas o skater britânico foi bem mais além, usando os curbs em cima e depois lançando-se de ollie para a transição… à primeira! Como se tivesse passado a vida toda a skatar ali… uma autêntica fera! Há muitos mais momentos de destaque nas sessões de skate desta viagem, mas o que faz um tour ser único, mais do que as manobras de skate, são, sem dúvida, as situação caricatas e até anedóticas vividas por quem se faz à estrada. Nesta viagem ficámos hospedados num Hotel Ecológico, cujos donos ficaram muito felizes quando souberam que a equipa da Converse iria ali passar uma temporada. Claro que quando receberam a notícia pensavam que iam receber atletas de elite… quando perceberam que eram skaters e alguns deles bem sensíveis à dopagem, as coisas mudaram de figura. Pelos vistos a instalação hoteleira tinha sido alvo de uma recente limpeza karmica. Claro que não deve ter resultado muito bem. A malta estava mais preocupada em triunfar no Tinder do que bater recordes desportivos. O James, o Harry e o Jerome estavam sempre em despique na rede social, mas não conseguiram nada a não ser umas boas risadas. Num dos casos, o James arranjou uma foto de uma ferramenta xxl numa revista erótica, enviou a uma amiga e pelos vistos o embuste resultou: de volta recebeu uma imagem de umas mamas gigantes! Seriam verdadeiras, ou também uma foto de revista? Ninguém sabe… a única certeza é que esta viagem às Canárias rendeu muito boas imagens para o vídeo, que já está online em www.dogwaymedia.com. Ainda não o viste? De que é que estás à espera?
66
25 maneiras naturais de pôr a cabeça a andar à roda
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
1 - Muckefuck Urethane Vert Attack - 59 mm - €38.00 | | 2 - Muckefuck Urethane Tobi Fleische - 53 mm - €38.00 | | 3 - Muckefuck Urethane Igor Fardin - 54 mm - €38.80 | | 4 - Muckefuck Urethane Cattaneo - 56 mm - €38.00 | | 5 - Muckefuck Urethane Advita - 55 mm - €38.00 | | 6 - Bones STF Bingaman Bogey 83B V2 - 51mm - €32.25 | | 7 - Bones STF Murawski Bitten V3 83B - 54mm - €32.25 | | 8 - Bones STF Gravette Bonkers 83B V2 - 51mm - €32.25 | | 9 - Bones Berger Team Vato OP V3 - 54mm - €32.25 | | 10 - Bones ATF Mudder Fudder 80A - 52mm - €32.25 | | 11 - Spitfire Streets 80HD - 54mm - €35.90 | | 12 - Spitfire Formula Four 99D Ishod Wair - 53mm - €35.90 | | 13 - Spitfire Fire in The Sky 80HD - 54mm - €35.90 | | 14 - Spitfire Bighead Tonal Blue - 52mm - €35.90 | | 15 - Spitfire Charged D Busenitz - 52mm - €35.90 | | 16 - Element Reverse Park 98A - 55mm €35.90 | | 17 - Element Prey 101 - 50mm - €35.90 | | 18 - Element Action Street 101A - 52mm - €35.90 | | 19 - Element Delirium Street - 53mm - €35.90 | | 20 - Element Bill Street 101A - 50mm - €35.90 | | 21 - Ricta Speedrings 81B - 54mm - €35.90 | | 22 - Ricta Scorpions 81B - 55mm - €35.90 | | 23 - Ricta David Gonzales NRG 81B - 53mm - €35.90 | | 24 - Ricta Tom Asta Slix 81B - 52mm - €35.90 | | 25 - Ricta Nyjah Huston Slix 81B - 51mm - €35.90
NIKESB.COM
Kickflip Wallride
ZOOM ALL COURT CK
68
G
-
M
Z
N
U
N
fotografia Fabien Ponsero, Chris Pfanner, Gabe Morford, Loic Benoit, Sammu Karvonen e Alex Irvine
D
I
E
A
Ö
I
G
E
R
N
W
N
-
-
L
N
texto Tura
V
L / B R I
R
-
E G
G
E
E
N
L
Z
X
B
I N
B
R
H U A C 3 0
U
C
K
V i e n n a
-
S
m a y
N
T W C S
s t
-
B r e g e n z
E R S T S E E N A R I O
Sem regras, sem desafios, sem vencedores, sem derrotados… A nossa primeira ideia em relação ao nome deste tour foi Wild Wurts Walts, que depressa foi recusada por ser demasiado difícil de pronunciar. Mas o plano estava traçado, juntar pessoal de vários teams e de maneira a que se encontrassem todos na mesma viagem. Foi uma ideia um pouco inspirada na Battle of Normady que organizámos há alguns anos com o Paul Labadie, mas desta vez não iríamos ficar no mesmo sítio durante uma semana, íamos andar por todo o lado.
-
j u n e
L i n z
-
7
t h
Dan Van der Linden - Backside ollie
2 0 1 5
G m u n d e n
-
W ö r g l
/ B r i x l e g g
-
I n n s b r u c k
70
THE WURST CASE SCENARIO
Grant Taylor, frontside air tailbone
Peter Hewit, boneless
Daan Van Der Linden, sadplant
Porquê a Áustria? Porque o Paul vive aí já há alguns anos e por ser a casa do Chris Pfanner, um dos organizadores desta loucura. O objetivo era chegar a Bregenz, no oeste da Áustria, passando por Linz e começando em Viena, onde ficaríamos 4 dias. Cada team teria uma carrinha e estariam livres para skatar pela cidade durante o dia e à noite… toda a gente se juntava para festejar… ui! Também tínhamos planeado algumas vídeo prémières e concertos pelo caminho, o que, como devem calcular, não terá sido das melhores ideias (organizar 4 festas por semana e tentar ser produtivo). Mas podia ter corrido pior. E porque não há nada melhor no skate que fazer tours, aqui fica o Wurst Case Scenario! Hubba ao Pequeno-Almoço Logo no segundo dia, o infame hubba de Meiselmarkt, em Viena, ficou marcado como local de encontro diário, por isso foi decidido organizar logo no dia seguinte um Best Trick em que seria distribuído um prémio angariado pelas pessoas que se encontravam ali, a astronómica quantia de 17,60€. Com tanto dinheiro e glória à mistura, foi o Steve Forstner que levou o “título” para casa, com um cavemen boardslide. Claro que logo a seguir gastou o prémio em cerveja para oferecer a todos, uma tática também conhecida por manter a coesão social de um grupo e por ser recorrente em reuniões dos alcoólicos anónimos. Mas mesmo assim as sessões mais produtivas neste hubba não tiveram lugar neste dia e não
tiveram direito a prémios, como vais poder ver em algumas fotos impressas algures perto deste texto. Dallas, não Texas Por falar em coesão social, o melhor momento da semana aconteceu na casa dos sogros do Dallas Rockham, localizada a uma hora de Linz, mesmo no meio de um postal ilustrado austríaco. A família cozinhou-nos um goulash caseiro (com salsichas, claro) e deu-nos cerveja suficiente para nos afogar a todos. Isto, depois de dias a comer kebabs de 2.5€ nos passeios de Viena, pareceu-nos o paraíso. Uma refeição à mesa, o lume aceso e no dia seguinte mergulhar no riacho que passa na quinta, logo pela manhã, quase nos fez esquecer que tínhamos skates nas carrinhas. A cereja no top do bolo foi quando a família ofereceu a cada um dos 43 malucos ali em casa uma pequena almofada bordada com o logo da quinta. Ah, e ter apenas wifi na zona entre as casas de banho exteriores e a vacaria (sim, com vacas verdadeiras) foi pretexto para algumas das melhores fotos de sempre do Instagram. Cerveja Quando na Áustria toda a gente nos quer convencer que Red Bull é a autêntica bebida dos campeões, a verdade é que os skaters bebem 1000 vezes mais cervejas que Red Bull. De qualquer maneira, como ambas vão bem com salsichas e como a quantidade bebida de ambas foi ridícula talvez devêssemos ter chamando a este tour “The Beer Case Scenario”.
72
THE WURST CASE SCENARIO
Mickael Germond, backside ollie
Dallas Rockvam, backside tailslide
Sebi Dorfer, wallie layback
Karl e Walter (condutores) O Karl e o Walter foram duas das mais importantes personagens deste Wurst Case Scenario. Karl é um rapaz de meia-idade, ruivo e reformado, assim para o gordinho, que praticamente nunca viajou mas que não recusou esta oportunidade quando lhe oferecemos a quantidade certa de cerveja. Claro que o seu trabalho era primeiro levar a casa pelo menos uma dúzia de skaters um pouco alterados em segurança e isso cumpriu com distinção. 10 anos mais novo é o seu amigo Walter, um rapaz simpático, nascido aventureiro mas que tem que ter mais cuidado com a bebida e com o temperamento. Mas sem ambos esta viagem não teria sido a mesma coisa. Se pudéssemos compará-los, o Karl é como um antigo carro de bombeiros e o Walter é uma carrinha nova pintada de preto mate, mas com sérios problemas no filtro de óleo. Os Americanos Graças ao Chris Pfanner conseguimos que a malta da Anti-Hero se juntasse ao nosso tour. Quando anunciámos os teams europeus ninguém nos ligou nenhuma, mas quando ouviram o nome Anti-Hero toda a gente disse: WOW! Os Americanos chegaram a Viena 3 dias depois de toda a gente por causa do campeonato da Vans em Itália e… logo no primeiro dia o Andrew Allen torceu o pé, no dia seguinte o Frank Grewer abriu o queixo no famoso hubba e, claro, com dois soldados abatidos logo assim, a moral deles não estava muito elevada, talvez por isso só os tenhamos encontrado quase uma semana mais tarde, em Linz. A malta da Radix, a skate shop local, estava tão excitada de ter 50 skaters a caminho da cidade que anunciaram uma grande demo no skate parque local. Os americanos chegaram duas horas depois de toda a gente e assim que o Grant Taylor pôs o pé no skate toda a gente parou só para o ver andar. O Pat Mclain tentou aliviar um pouco a pressão posta no Grant mas não havia nada que ninguém pudesse fazer contra uma multidão aos gritos cada vez que o Grant Taylor acertava uma manobra. O Grant de certeza pensou que se aquilo iria ser uma demo com todos os teams porque raio teria ele de fazê-la sozinho… No dia seguinte o Dallas convidou-os para um jantar na quinta, mas quando nos apercebemos que eles não iriam aparecer ficámos desiludidos e começamos a falar mal dos americanos mal-agradecidos…
Chris Pfanner, flip
74
THE WURST CASE SCENARIO
Pete Ruikka, boardlside
Miki Tähtinen, fsflip
Vincent Coupeau, frontside grind
No dia seguinte era suposto acamparmos todos no bowl de Brizleggs, mas desta vez foram os europeus que não apareceram porque ficámos retidos em Worgl por causa dos nossos condutores um pouco embriagados e era apenas a 20 quilómetros… desta vez seriam os americanos a odiar-nos e talvez com razão, mas conseguimos passar os último dias todos juntos em Bregenz com muito skate e, claro, festa… Os Austríacos É difícil saber quantos austríacos é que se juntaram ao nosso tour, todos os dias apareciam novas pessoas, por isso o team da Yama nunca era o mesmo, a equipa original era de 6 pessoas mas devem-se ter trocado aí uma dúzia de vezes. Claro que, sendo a Yama, qualquer sessão onde os rapazes desta marca austríaca estivessem presentes era uma festa, não fossem todos como um gang de gajos cheios de tattoos em tronco nú e sempre carregados de cervejas. Se já viram o último “Mad Max” sabem do que estou a falar. Todos os polícias são fixes Estranhamente a polícia austríaca foi sempre super simpática para nós, sempre calmos, falavam connosco educadamente para deixar os spots e às vezes até nos deixavam tentar mais algumas vezes… claro que isso mudou assim que entrámos na Alemanha, carros e malas revistadas a pré-molar, cães, multas e, claro, atrasos de horas… mas mesmo assim ainda nos trataram bem quando se aperceberam de que não pertencíamos ao Black Bloc e de que não íamos a caminho da reunião do G8 em Munique para criar problemas. O fim do mundo Spoff é o nome do maior spot DIY em Viena. Começado em 2012 no meio de linhas de comboio e autoestradas, seria um spot demasiado perdido para ser notado, certo? Errado! Em 2015 os skaters foram informados de que em breve as máquinas iam passar ali e acabar com esta obra-prima construída pelos “locais”. Por isso tivemos que passar por lá ainda a tempo de prestar tributo a um dos melhores skate parques da Áustria, antes que fosse tarde de mais. E o que é que 50 skaters fazem mesmo antes do fim do mundo? Sim, bebemos uns copos, skatamos até não conseguirmos ver e a seguir ainda fazemos um churrasco… e só abandonamos o local quando a última cinza se apaga.
Rikk Fields, kickflip
Mas, adiante, não estamos muito orgulhosos, afinal estes dias foram mais uma série de ressacas com algum skate no meio, mas… sem remorsos. Quando olhamos para todas as pessoas que conhecemos, todos os sítios onde fomos e as fotos que conseguimos, quase podemos considerar que foi um sucesso… certo? SAMU KARVONEN (Gajo que faz tudo na ITÂ) Disseste-me que não sabias bem o que ia acontecer até chegares à Áustria, o que esperavas do tour? Sim, acho que faltámos ao briefing nalguma altura, não sabíamos bem onde era para ir, que transporte teríamos e qual o plano geral, mas confiámos 100% em vocês e não nos preocupámos muito. Esperávamos ver o tour da Anti-Hero e ficamos um bocado tristes por não ter acontecido, talvez para a próxima… esta diferença entre os europeus e os americanos ainda parece muito grande para alguns. Para ti qual foi o melhor momento da viagem? De todas as 3 vezes que andei de skate? Não sei, mas foram das melhores férias de verão que tive, estive com bons amigos, a andar de skate e a divertir-me… mesmo a viver o sonho. E o pior? Tentar dormir quando mais ninguém quer é escusado e beber mais cervejas e ficar acordado também não vai adiantar de muito, é o meu eterno problema. Concordas comigo quando digo que se calhar a malta teve festa a mais nesta viagem? Bom, isto foi mais como umas férias de verão, muitos de nós não recebemos dinheiro para andar de skate e pagámos os nossos voos, por isso o nosso objetivo era produzir 3 minutos de vídeo em troca de tudo o que vocês fizeram por nós, o que acho que correu bem. ALEX IRVINE (Fotógrafo) Qual a diferença deste tour para todos os outros que tenhas feito? Bem, este parecia mais focado em beber logo pela manhã em vez de skatar, acho que também nunca tinha estado tanto tempo sem tomar duche e só a mergulhar em rios. Em cada sessão de skate havia pelo menos 100 pessoas!
Rikk Fields, lipsilde fackie
76
THE WURST CASE SCENARIO
Lukas Than, roll in vienna Eniz Fazliov, fs smithgrind Que membro da tua equipa era o mais irritante? Acho que devia ser eu, porque era sempre o que tentava persuadi-los a ir com calma nas bebidas e nos mergulhos em rios e a focarem-se no skate. CHRIS PFANNER (popstar local) A tua posição neste tour era um pouco estranha, tinhas de tomar conta dos americanos e ao mesmo tempo tinhas todos os teus amigos austríacos ali, como é que conseguiste lidar com isto? Foi um bocado difícil mas no fim tudo correu bem. Eu convidei o team da Anti-Hero para a Áustria, por isso a responsabilidade de guiá-los e proporcionar-lhes um bom tempo era minha. Sempre quis que os meus amigos da Yama conhecessem o pessoal do meu team e, finalmente, aconteceu, por isso fiquei super contente. No início senti um pouco a pressão de ver se estava tudo bem, mas depressa cheguei à conclusão que o melhor era divertir-me ao máximo e deixar as coisas rolarem, afinal era esse o conceito do Wurts Case Scenario. E as diferenças entre este tour e os que tens feito nos Estados Unidos? Não foi muito diferente, toda a gente numa carrinha, carregados de cerveja e alguma erva, sempre a dizer baboseiras, a rir que nem uns perdidos e a skatar tudo o que nos aparecia pela frente. Ainda por cima ainda consegui parar em casa dos meus pais com a malta toda, foi demais!
Christian Sterkl, fs flip vienna
O team da Anti-Hero é bastante bem treinado em acampar, quem é o melhor e quem é o pior? Pois, esta viagem não foi o nosso primeiro rodeo, por isso já toda a malta estava habituada a acampar e, claro, ninguém se queixou, só em algumas ocasiões quando alguém largava umas bufas quando estávamos à volta da fogueira. O mais novo membro da equipa, o Daan, apareceu sem qualquer material de campismo, por isso tivemos que comprar-lhe um saco cama e uma tenda que ele nunca conseguia montar sozinho. Vamos dar-lhe mais umas oportunidades a ver como se sai nas próximas viagens! Achas que devemos fazer isto novamente para o ano? Claro que sim, temos definitivamente que fazer, vamos tornar isto numa tradição… talvez só mudemos de país. Yeah!
Elias Assmuth, ollie to street vienna
78
THE WURST CASE SCENARIO
Teams Antiz Julien Bachelier Thanos Panou Gabriel Engelke Michel Mahringer Quentin Boillon Mickaël Germond Frank Eniz Fazliov Dallas Rockvam Tommy May
Rob Maatman Sebi Dorfer Yama Muki Rüstig Lukas Than Dustin Vonach Benjamin Ostwald Christian Sterckl Elias Assmuth Anti Hero Frank Gerwer Andrew Allen
Chris Pfanner Grant Taylor Peter Hewitt Daan Van Der Linden Pat Mclain Itä Samu Karvonen Pete Ruikka Teemu Korhonen Miko Hassinen Ron Modig Miki Tähtinen
Witchcraft Rikk Fields Jake Collins Vincent Coupeau Steve Forstner Dr: Fuchs Números do Tour 8 Nacionalidades 5 Video premieres ((Itä’s «way below average», Frido’s «Cornerstore» (x3), Antiz’ «out of the blue»)
Samu Karvonen BackSmith
3 Concertos dos Zerscheltts (banda punk de BarcelonA) 1 Calcanhar torcido (Andrew Allen) 7 Carrinhas de marca alemã 1 Gulash 3 DIY spots
Agradecimentos Vans, Dakine, Nixon, Volcom e Ashes griptape.
80
C A R L A F I L I P E
“ S U P P O R T Y O U R S K A T E
L O C A L S H O P ”
Na obra de Carla Filipe não é difícil encontrar exemplos de uma estreita relação desta artista com o Porto, a cidade que escolheu para viver, e de um compromisso assumidamente ecológico com este habitat, com os indivíduos e com as organizações que o constituem. Um episódio recente desse envolvimento foi o desenho que Carla Filipe realizou para ser reproduzido numa tábua da marca própria da Kate Skateshop. Carla Filipe defende que um artista, em vez de se deixar cativar pela oscilação dos interesses mercantilistas, pode “[…] escolher o lugar que quer habitar e tornar esse lugar o seu centro.” Por opção ou por força das circunstâncias o Porto passou a ser o “centro” de Carla Filipe (nascida em 1973, na Póvoa do Valado). É nesta cidade, para onde foi estudar, que continua a viver e a desenvolver o seu trabalho artístico, dividida entre a construção da sua obra – apresentada em exposições individuais ou coletivas – e a colaboração em projetos locais muito distintos, por exemplo os cartazes realizados para as noites que Pedro Centeno (Phantasma) e Pedro Santos (DJ Lynce) organizam no Bar Passos Manuel, o mapa que desenhou para a livraria Inc., ou o envolvimento na organização de espaços de exposição alternativos geridos por artistas, como o Salão Olímpico, Uma Certa Falta de Coerência, Espaço Campanhã ou Apêndice. Esta faceta do seu fazer artístico, profundamente implicada na dinâmica coletiva da comunidade a que pertence, é justificado pela própria artista (no livro da cauda à cabeça, Museu Coleção Berardo e Archive Books, 2014) nos seguintes termos: “Esta minha relação com o micro, com o local, é uma forma de participar, de colocar em ação o que considero uma gestão possível.” A colaboração de Carla Filipe com a Kate Skateshop do Porto concretizou-se numa edição limitada de um desenho, especialmente concebido para ser serigrafado numa tábua de skate, tal como se pode constatar no texto que foi difundido durante a divulgação da iniciativa: “O projeto de Carla Filipe para a tábua de skate da marca Kate tem por base o cruzamento de expressões globais específicas desta cultura, como o famoso ‘Sk8 or die’, com exemplos do refinado calão local, como ‘Esbanja aí!’. A estas juntam-se referências a vários spots para a prática do skate no país, ou o sorriso de satisfação de um skater de dente partido, tendo como fundo a reprodução da textura de um chão impresso da cidade do Porto.”
“PARA MIM, TANTO O UNIVERSO DO SKATE COMO O DA ARTE EXIGEM UMA ENTREGA E UM ESTILO DE VIDA, COM QUE NOS COMPROMETEMOS TOTALMENTE.” Carla Filipe, 2015
fotografia Carla Filipe texto Nuno Ferreira de Carvalho
82
CARLA FILIPE
Desertar-UK ano:2003-06 Contudo, a especificidade deste projeto parece não se esgotar nesta preocupação em compreender e reinterpretar a amálgama de referências que caracterizam este grupo, com o qual Carla Filipe se cruza esporadicamente, em determinados locais da sua cidade. Como é frequente no seu trabalho, também neste caso a abordagem de Carla Filipe foi muito para além de uma análise de cariz etnológico, neutra e distanciada, tendo considerado outros fatores, intrínsecos ao entrosamento numa comunidade, como sejam as próprias relações interpessoais (determinantes para a possibilidade do projeto), ou a noção de uma economia própria de uma iniciativa fundada localmente (crucial para a concretização do mesmo): “A produção das tábuas foi possível graças ao Nuno Centeno, o meu galerista [galeria Múrias Centeno] que se prestou a comprar o desenho. O Nuno já foi skater… existe um código de fidelidade para os skaters… é algo que fica para sempre (…) A minha relação com isto [o projeto] passou pela Rita Garizo (da Kate Skateshop) que me convidou para fazer uma tábua.” Mas também, o enquadramento do projeto num sistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão do mundo: “(…) a Kate é mais do que uma loja, tem um papel participativo. Eu acredito que é com essa participação na comunidade que se pode resistir às pressões do capitalismo.”
84
CARLA FILIPE
“ O Povo Reunido, jamais será” 2009 cartaz, pormenor Espaço Campanhã , Porto
Esta edição de tábuas com o gráfico da Carla Filipe (disponível nas dimensões 7.875, 8.0, 8.125, 8.25) – a primeira de uma série que a Kate pretende levar a cabo com artistas – tem duas tiragens limitadas, uma de cinquenta exemplares e outra de seis tábuas numeradas e assinadas, vendidas a 40 e 100 Euros, respetivamente.
LOJAS OFICIAIS: STATION (Barreiro/Setubal/Sintra/Montijo), OUTLAW (Lisboa), L. Point (V.F.Xira), STORM (Chaves), Planet Shoes (V.Pouca Aguiar), SNEAKERS POWER (Vila Real), XTREME (Aveiro/Porto/Coimbra), MAMBOS Store (Parede), MUVE Store (Evora/Beja), SNAIL Shop (Albufeira/Faro/Quarteira)
VENDAS: rogerio@tribestation.com T. 933796560
86 ANTIESTÁTICO
Até o Einstein concordaria que um halfcab heel + gap out + descida a 200 logo a seguir é a equação certa para uma boa manobra. Adilson Pedro - Monte da Caparica fotografia Luís Moreira
O Tiago Lopes já chama a Barcelona a sua segunda casa. Com backside flips assim à vontade, também não admira. fotografia Paulo Tavares
88 ANTIESTÁTICO
Se fosse aquele famoso amigo angolano que foi às compras a Ghuan Zu a dar este backlip, diria… ”tipo nada”. Mas, felizmente, foi o nosso Tiago Pinto fotografia Roskof
À primeira vista o Joao Allen parece um menino bem comportado que até vai a igreja, só não sabem é o que ele vai lá fazer... ollie fotografia João Mascarenhas
90 ANTIESTÁTICO
Pedro Mano Wallride fotografia Luís Moreira
PHOTO: DOMINICK
JAMIE THOMAS
ZEROSKATEBOARDS.COM FACEBOOK.COM/ZEROSKATEBOARDS INSTAGRAM: @ZEROSKATEBOARDS TWITTER: @ZEROSKATEBOARDS DISTRIBUIÇÃO MARTELEIRADIST.COM 212 972 054 - INFO@MARTELEIRADIST.COM
Skills R. de Santa Margarida 155, 4710 Braga TSHIRT CHAPÉU
S U P O R T A A T U A S K A T E S H O P
Tribos Urbanas Rua Gago Coutinho Nยบ26 2400 leiria TSHIRT IMAGEM TSHIRT BORDADO
S U P O R T A A T U A S K A T E S H O P
Korner Largo Dr. Vieira Araújo, Loja nº13, Centro Comercial Rio Lima Ponte de Lima SWEAT ZIP CAPUZ LONGSLEEVE 3/4
Kate Rua de Santo Ildefonso, n25 4000 Porto TSHIRT SWEAT
Tribos Urbanas Rua do Viso nยบ24 Maia, Porto, Portugal SWEAT SWEAT
S U P O R T A A T U A S K A T E S H O P
Rua Cândido dos Reis nº 51A, Cacilhas 2800-270 Almada
Bana Estrada de Sassoeiros, Lote 3, Loja Dta 2775-530 Carcavelos TSHIRT KISS TSHIRT LOGO
The Cons One Star Pro
Made by Eli Reed
Made by you
Rider: Dan Plunkett Photography by Atiba Jefferson Distribuição marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com
SINCE 1922