DO ANO
O
L
EDIÇÂO
ESPECIA
PERDIDOS... TIAGO LOPES MODERN RUINS
S PAS AD
C1RCA PORTUGAL ENTRE O ALENTEJO E O RIBATEJO
PRIMEIRO FOCO
EMENTA SB 2012
Número 17 - novembro/dezembro
Bimestral
Distribuição gratuita
AURA S.A. - 212 138 500
geral@nautisurf.com
Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com
ilustração Luis Cruz
panorâmica O Fim do Mundo… outra vez! Caso estejam a ler esta revista, é bom sinal… afinal os Maias não estavam tão alinhados com o Universo como nós pensávamos, algo provavelmente derivado ao excesso de Tequilla, ou a outras substancias psicotrópicas existentes na América Central. Por outro lado, caso estas linhas não cheguem a ser publicadas, estamos todos no além com aquela cara de caso a olhar uns para os outros e a pensar “afinal todos gozávamos e, olha, cá estamos…” de qualquer maneira, para todos nós este ano de 2012 ficará marcado, senão pelo fim do mundo, pelo fim do skate… não que tenha muito a ver, mas para um skater o fim do skate é o fim do seu mundo! Sim, é verdade: o skate morreu… outra vez! Pelo menos é o que todos dizem. Mas “todos quem?”, perguntam vocês. Pelo que temos ouvido aqui na Surge, grande parte dos intervenientes no “mercado” do skate... ”o skate já não está na moda”, dizem… ou seja, seguindo este raciocínio, tudo o que não está moda está morto… curiosamente, da boca dos skaters não temos ouvido grande coisa sobre esse assunto. Outro facto engraçado é que, tal como a variedade de datas anteriores previstas para o mundo acabar, também o skate já morreu pelo menos uma dúzia de vezes. Na nossa memória ainda está a clássica capa de uma revista americana em 1993, com uma campa a dizer “Aqui jaz o Skate”… (não, não vos digo qual a revista, pesquisem). Realmente 2012 não foi o nosso ano. Para além da morte do skate, ainda temos que resignar-nos a um fator completamente dominador de toda a nossa existência… não estamos na moda! Como é que vamos conseguir sair desta? Como é que vamos viver!? Não querendo fazer previsões como as dos nossos amigos Maias, aqui na Surge achamos todos a mesma coisa, quem gosta de skate vai continuar a andar, quem não gosta vai deixar, quem se está a lixar para moda vai continuar nesse registo e todos os que andam preocupados com fim do mundo vão arranjar uma nova data para o juízo final… Bom 2013, aproveitem enquanto podem!
2012
Pedro Raimundo “Roskof”
“Trepar pelas paredes” é mais uma daquelas expressões que tem um significado diferente para os skaters. Pedro “Kimpas” Machado Hardflip Wallride fotografia Renato Lainho
2012
Dr. Mankate
Não há spa nenhum de 5 estrelas melhor que a banheira do doutor… hidromassagem a gás e ervas aromáticas
Primeiro Foco
14 anos e já muita vontade, Tiago Lopes na nova rubrica da Surge
Ementa SB – Modern Ruins
mais do que skaters, mais do que uma crew, mais do que amigos… Ementa SB… um estado de espírito
Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127 Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com Publicidade: pub@surgeskateboard.com
Colaboradores: Rui Colaço, João Mascarenhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris. Tiragem Média: 10 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: DOM – Publishing Solutions, SA Morada: Av. Dr. Francisco Sá Carneiro Núcleo Empresarial de Mafra, Pav. 17 2640-486 Mafra • Portugal página 15
Prémière Pretty Sweet
Uma noite de gala à la skate: tudo ao molho e fé em Deus
Perdidos, corridos e achados,
Tour C1RCA Portugal por montados... coutadas...
22º Aniversário Radical
como se costuma dizer… “são muitos anos a virar frangos”
DIY
Uma crónica visual por Richard Gilligan sobre o “faça você mesmo”, à nossa maneira
Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros
Capa: Nesta altura em que o skate não está na moda, nada como ter na capa alguém que sabemos que se está completamente a marimbar para isso. Quem o conhece sabe. Mouga Wallie Handplant fotografia Renato Lainho
Dá a tua opinião sobre a revista. Envia-nos as tuas ideias ou sugestões. Manda fotos de spots novos na tua zona e do rabo da tua melhor amiga… sei lá… escreve por tudo e por nada… se aqui o Dr. Mankate curtir, publicamos a tua carta na revista e se tiveres sorte, pode ser que te toque alguma coisa… Abraços e beijos na bunda. Dr. Mankate drmankate@surgeskateboard.com 2012
www.mankatetainha.com
Oi Doutor O caso é grave. Não tenho andado muito de skate. A vida do trabalho tem-me deixado pouco tempo livre. Trabalho em vendas. Ando sempre a correr de um lado para o outro, na esperança de ganhar mais uns trocos. A profissão é exigente e cansativa. Sei que umas voltinhas de skate ajudavam a baixar os níveis de stress e limpavam a alma, mas quando chego a casa só me apetece descansar. Sofá e zapping são os meus melhores amigos... Mas o problema não é esse. Sei bem que a vida é assim. Tenho que trabalhar e o trabalho cansa! O problema é a minha mulher. Ela trabalha por turnos e muitas vezes dispõe de tempo livre durante o dia. Agora decidiu andar de skate. Acreditas nisto? Tem vindo a andar regularmente. Muitas vezes quando regresso do trabalho, ela não está em casa. Foi andar de skate... Já tem um crew e tudo! Ela e umas amigas decidiram agora que são do skate. O caso é grave Doutor! Ando a sentir-me a mulher da casa! O que faço? Abraço para a malta da surge, Joaquim Olá Joaquina! Tens razão. Vai para aí um problema gravíssimo! O trabalho cansa, é verdade amiga! O sacana que inventou o trabalho só podia ser estúpido. Se não tens tempo e gostas de coçar a micose nos tempos livres, não há nada a fazer. Tens que te aguentar! Não sejas invejosa e apoia e suporta o desporto do teu homem, ups, desculpa, mulher! Compra um dildo para praticares atividades radicais no sofá, enquanto a tua Maria dá uns backtails por aí... Nem sei mais o que te dizer. Curte aquele canal, o 24kitchen... sei lá! Beijo na bunda, Joaquina. Dr. Manka-te
Boas pessoal, Sou o Pedro Morais e sou de Idanha-a-Nova. Como vocês sabem, recentemente abriu um skate parque em Castelo Branco. É um sonho tornado realidade para toda a malta daqui que gosta ripar de skate. Eu e o meu grupo de amigos vamos lá todos os fins de semana. Todos aqui da zona estão felizes com a construção do parque. Pais, mães, filhos, velhos, novos, polícias... etc.! Parece mentira!
fotografia Luís Colaço
página 17 Dr. Manka-te
É um skate parque brutal! Escrevo para a Surge, para agradecer publicamente a todos os que tornaram isto possível. Muito obrigado. Viva Castelo Branco! Viva o skate! Viva a Surge! Como é que é malandro! Ai os polícias estão contentes, não é? Calma, que isso depressa passa... Aqui a malta da margem sul do Tejo sente uma pequena dor de cotovelo... o vosso skate parque é uma maravilha. Seus leiteiros! Ficava melhor em Almada, isso é certo! Tiveram sorte, vocês! A nossa câmara municipal está se cagando. Gostam mais de gastar milhares em luzes de Natal do que ajudar o pessoal do skate. Aproveitem, seus cagões albicastrenses! Hehehehehehe Beijos na bunda! Dr. Mankate
Olá Sou um fã da Surge. Apesar de não andar de skate, gosto bastante da revista. Pratico wakeboard há vários anos. A modalidade tem evoluído de forma muito parecida ao skate, apesar de ser praticada na água. Não existe nenhuma revista de wake em Portugal, por isso vou me entretendo com a Surge. As manobras são influenciadas pelo skate, por isso vou ganhando pica com vocês! Continuem, por favor! Muito obrigado. Pedro Dias, Abraço Boas companheiro Wakeboard é muito louco! Gostava de experimentar essa treta. Vê lá se convidas o pessoal, pá! Tenho visto umas cenas desse desporto de betos da guita. Altas manobras! Parece mesmo skate na água, é bacano. Combina aí qualquer cena, que nós contribuímos com 2 euros para a gota. Fico contente por a Surge te ajudar a evoluir. Beijo na bunda Dr. Mankate
www.facebook.com/pages/LRG-Portugal/ www.carsportif.com info@carsportif.com
www.myspace.com/lrgportugal www.twitter.com/carsportif
T: 261 314 142
2012
entrevista Mascarenhas fotografia Mascarenhas, Paulo Macedo
PRIMEIRO FOCO
Não são só os writters de graffiti que podem deixar a sua marca nos spots. Tiago a marcar este corrimão com um frontboard
página 21
2012 2012
Acabadinho de chegar do Tampa, deves estar cansado, conta como correu aquilo por lá e o que achaste da viagem? Sim! Depois de tantas horas de viagem e escalas é impossível não ficares cansado, mas para ir a Tampa e estar presente num evento daqueles, vale muito a pena. Foi o segundo ano que estive lá. Correu bem. Principalmente curti o momento e diverti-me imenso; o nível é sempre muito alto, tem um ambiente em que respiras sempre skate em todos os cantos. Gostavas de ir viver para os EUA e viver do skate por lá ou preferes aqui a tuga? Sim. Um dos meus objetivos é poder ir viver para os EUA. É outra realidade, mas também muito mais exigente e difícil. Portugal é sempre o teu país, mas viveres o skate a sério é lá. Tu ainda tens 15 anos, certo? Como é para ti, tão novinho, estar num team juntamente com o Ruben Rodrigues e o Ruben Gamito? Não, ainda tenho 14. Felizmente tive a oportunidade de entrar
Flip
página 23 Primeiro foco
muito novo para uma grande equipa, com grandes skaters. Para isso devo agradecer ao Gui a aposta arriscada que fez na altura, mas que foi igualmente uma aposta no meu desenvolvimento. Estar na equipa com os Ruben, além de ser uma grande responsabilidade, foi o sonho de andar com skaters que admirava e admiro. Quais são os teus objetivos no skate? E como concilias o skate com a escola? O grande objetivo é poder seguir aquilo que mais gosto, o Skate, e tentar atingir o patamar de profissional, para isso tenho que continuar a evoluir. A escola é algo que tenho que seguir. Conciliar as duas coisas torna-se mais difícil porque queria estar todo o tempo a skatar, mas não sendo possível, é aproveitar ao máximo todo o tempo disponível.
Se o teu futuro não passar pelo skate, o que gostavas de fazer quando cresceres, se bem que ainda és novinho para pensar muito nisso, ou não? Sinceramente não me vejo a fazer outra coisa e penso que se tudo correr bem é isso que vou fazer durante os próximos anos. O futuro logo se vê! Eu fotografei contigo poucas vezes, mas já reparei que és um miúdo com objetivos. Quando estás a skatar, o que é que te leva a atirares-te para spots de “homem”? Sim. Tenho os objetivos bem traçados como já disse, mas para que isso aconteça tenho que evoluir e isso só acontece se estiver sempre a tentar ultrapassar os limites a que me proponho. Já vi a foto do teu ollie em Barcelona. Aquilo é grande até para um pro. Conta lá como foi esse dia. Sim, o spot é enorme! Fui lá com uns amigos brasileiros porque
tínhamos visto o vídeo da Nike... o Youness Amrani abre a vídeo parte dele ali. Quando lá cheguei, disse para mim mesmo: “eu dou isto!” Mas ao mesmo tempo fiquei a pensar… será que consigo passar? Respirei fundo e tive que ir o mais rápido possível. Depois de bateres o ollie, não há como voltar atrás. Sentes a sensação de estar a voar. Quando aterrei, foi a explosão de toda a gente que lá estava. Foi muito bom! Uma sensação incrível. O teu pai apoia-te bastante, pelo que vi. E dá-te umas boas lições de humildade. Acreditas nos conselhos dele? Olha que nem todos têm pais desses!! Sim. O meu pai apoia-me muito e tenho a noção de que ele tem sido muito importante. Às vezes não gostamos dos sermões, mas depois paras e pensas e vês que até tem razão... e tentas melhorar.
Como o Tiago ainda é um rapaz novo vamos ter de esperar uns anos para lhe chamar o “homem elástico”. Quando virem o vídeo deste ollie vão perceber porquê fotografia Paulo Macedo
2012
pรกgina 25 Primeiro foco
Hardflip
A quem queres agradecer pelo apoio? Antes de mais aos meus pais, por tudo o que fazem por mim, para que eu possa viver os meus sonhos. Depois, aos meus patrocinadores que têm sido impecáveis comigo: Element, Etnies, Ericeira Surf Shop. Por fim, a todos os meus amigos que me dão força e me acompanham, não é preciso dizer quem, eles sabem quem são! 2012
página 26 Primeiro foco
PRETTY SWEET texto e fotografia Roskof
Se são raras as ocasiões na vida em que vemos um homem de barba rija a chorar em público, então na estreia de um filme ainda menos devem ser. Ok, mas não era um filme qualquer. Após 5 anos de filmagens, a última produção da Girl films, realizada pelos lendários Spike Jonze e Ty Evans, era ansiosamente aguardada há muito, ou não tivessem também eles colocado online um famoso cronómetro em contagem decrescente, que acredito, deve ter contribuído para o aumento dos níveis de ansiedade de muito boa gente. Mas eis que chegou o momento em que pudemos, finalmente, libertar toda essa tensão acumulada nos ossos. Quando as centenas de pessoas que compareceram no Teatro do Bairro, numa das mais desagradáveis noites do ano em Lisboa, viram e ouviram a fantástica introdução do filme, não conseguimos distinguir entre uma estreia de um filme e um concerto rock. Os próprios responsáveis da segurança vieram perguntar-nos se era normal, pois não estavam habituados a que o público estivesse aos gritos, aos pulos e de mãos no ar no princípio de um filme! Respondemos que não, não era normal, mas que já estávamos à espera… e, sim, também nós gritámos, pulámos e arrepiamo-nos várias vezes durante a hora e meia de skate e magia visual proporcionada pela malta da Girl e Chocolate, o que, acreditem, não foi nada fácil, pois estávamos, também, de vigia aos “piratas” que pudessem estar a filmar o ecrã com smartphones, ou câmaras escondidas. Mas tudo correu bem. Sinceramente, achamos que a malta levou com uma “bojarda” visual e sonora de tal ordem, que nem se lembrou que podia
2012
levar logo um bocado do filme para casa (o que, acreditem, podia ser um grande problema). Enquanto os créditos rolavam no ecrã, a expressão mais vista na cara das pessoas era igual à que fazemos quando acabamos de correr uns bons quilómetros: a maior parte suspirava, outros abanavam a cabeça como se não acreditassem e, sim, houve “velhos” que se emocionaram e vimos lágrimas a correr. Não era para menos, também a última parte do filme pertenceu ao Guy Mariano, que continua a provar que os 36 anos de idade não querem dizer nada, quando se tem um talento único. A última manobra do Guy ficará para a história do skate como uma das mais técnicas de sempre e, por mais que a repitamos no nosso leitor de dvd, é algo do outro mundo. Por falar em manobras técnicas, na afterparty também houve muitos que, devido ao excesso de talento “com os copos”, deram manobras de outra categoria no bar do Teatro do Bairro e foram gentilmente convidados a ir arejar à chuva… um clássico nos eventos de skate. Assim como houve prémios que foram enviados pelo ar para serem apanhados pelos skaters com mais de 1,80m. Desculpem, putos, para a próxima prometemos que trazemos uns escadotes.
O dvd blue-ray Pretty Sweet, com mais de uma hora de imagens extra, já se encontra disponível nas melhores skate shops nacionais.
deixem entrar que está a chover!!
Roseiro e Canina… Bana e DC represent
Aquilo estava um bocado apertado…
Tomás Pinto na “boa” com o Paz
O… Mauro Barros!
Aí uns 300 anos de skate nos pés destes meninos… Dressen, Miguel Almeida e Marco Roque
Aviso à malta…
Os melhores sorrisos do skate nacional… Rómulo e Telmo Galliano
página 29 Pretty Sweet
2012
Toniglota
Marteleira e Tiago Pinto
João Neto “carago”
Mais um aviso…
Ruben Pinto e Nery sénior… que lendas!
Brasil connection… Wagner Gallo e Bruno Javazz
Não são só os estádios de futebol que têm vários anéis
Gamito e su sinorita
Ui!
O Gonz português... página 30 Pretty Sweet
PERDIDOS, CORRIDOS E ACHADOS C1RCA PORTUGAL ENTRE O ALENTEJO E O RIBATEJO
texto Sílvia Ferreira fotografia Mascarenhas Podemos resumir esta tour a quatro palavras: frio, corridos, perdidos e achados. E pronto. Foi isto. Esta foi a segunda tentativa de fazer a tour. A primeira, decidimos marcar num fim de semana em que a meteorologia tinha emitido alerta amarelo para todo o país – o que não é grande coisa para atividades que não se coadunam com chuva, como é caso das tours de skate. Mas como gostamos de situações adversas, teimámos e arrancámos com a nossa saída em tempo de inverno. Safámo-nos com apenas um dia de chuva, mas “rapámos” um frio de morte. Foi bom. Dizem que enrijece os ossos.
2012
Adoramos quando as fotos coincidem com a estação. Bernard Aragão num belo crooked de outono
página 33
2012
Tomás Petreques depois de ter comido metade do chão de Santarém ao pequeno-almoço, acabou o dia a jantar este fronside feeble
A partir daqui só precisamos de usar a segunda palavra da tour e fica explicado o que aconteceu nos dias seguintes. Expulsos. Da Câmara Municipal Portalegre (mas com delicadeza). Expulsos. Dos CTT de Portalegre (pela polícia). Expulsos. Do supermercado de Portalegre (pelo segurança, que depois nos disse que ia dar uma volta-que-demorava-30-minutos-mas-não-mais). Já no Centro Comercial (de Portalegre) pensávamos que íamos ser expulsos, depois de assistirmos a uma abordagem suicida do segurança, que ensaiou um arranque “dos 0 aos 20” em 5 segundos e se atirou para a frente do Bernard, que seguia a grande velocidade em direção ao curb. “Depois disto”, pensei, “é arrumar as trouxas e deixar Portalegre para trás”. Fui falar com o segurança para explicar o que estávamos a fazer e foram duas surpresas “de uma cajadada”. Primeiro, “convidou-me” a ir falar com o administrador do Centro, depois o administrador do Centro autorizou a nossa sessão! Grandes e prósperas vendas ao Centro Comercial Fontedeira, são os votos de todo o team! Claro que depois disto ainda tive que ouvir: “quanto não vale trazer uma mulher em tour”... teoria que, verão mais à frente, virá a ser absolutamente refutada em Santarém pelo nosso Toni... Com a sorte a melhorar, fomos apanhados pela PSP (outra vez) em flagrante, no monumento da rotunda, à entrada de Portalegre. E para nosso espanto... não fomos corridos!
página 35 Perdidos, corridos e achados
2012
Mais um bocado de velocidade e o Pedro Chalabardo aterrava este backside ollie no rio S么r
p谩gina 37 Perdidos, corridos e achados
Petreques, nosebone autorizado pela segurança do supermercado… não se vê isto todos os dias
2012
E perdidos? Começou à noite. O Mascarenhas tinha estado em Portalegre num jantar romântico com a esposa e teimou que queria levar-nos ao mesmo restaurante, vejam bem! Com temperaturas negativas, demos voltas e voltas (a pé, refira-se) em busca do dito, até que o homem diz: “se calhar foi noutra terra”! Como? Teve sorte, batemos com o nariz na porta da casa de pasto alguns minutos depois. Os “segredos de porco” andavam escondidos, mas lá os achámos... e estavam bonzinhos. Já na terra dos fenómenos, andámos horas à procura de um spot... que era em Almeirim. No Cartaxo, também andámos horas à procura de um outro, que era mesmo... no Cartaxo... menos mal. Mas como não andámos perdidos no Cartaxo, os nossos fotógrafo e filmer decidiram perder peças importantes da sua artilharia. O primeiro perdeu um flash, mas houve quem perdesse um tripé, que neste caso era um objeto bem maior!
página 39 Perdidos, corridos e achados
É tão bom darmos uma manobra e vermos o nosso belo reflexo na água... Petreques ollie
2012
Voltando atrás no tempo e na palavra de ordem, em Santarém também fomos expulsos. Pelo dono do rail do restaurante. Mas com uma conversa do Toni, que não chegou a revelar em que se baseou, de repente éramos bem-vindos! Lembram-se da história lá atrás?... quem não gostou nada da conclusão desta história foi o Luís Moreira, cujos dedos ficaram sem mexer durante um bom bocado, graças ao skate do Petreques, que levou o truck à frente no voo que fez em direção às mãos do câmara (mas como diz o outro, antes em direção às mãos, do que em direção à máquina!). Antes disso, o Petreques também foi expulso do coreto, mas pelo corrimão. A imagem é esta: corrimão dá choque no skate; skater projetado, qual bola de ténis atirada ao ar, seguido de pontapé no rabo; queda de “fronha” e lateral esquerda de chapa na pedra, três metros mais à frente... erva na boca e não mexe... ficou arrumado... o assunto do corrimão, pelo menos neste dia. Mas também... que é que mandou vir “ferros” ao pequeno-almoço, quando os outros ainda estavam a alongar? Outra dúvida existencial extremamente perspicaz foi levantada ao pequeno almoço pelo Luís Moreira. Pergunta ele, e muito bem: “porque é que uma garrafa é um garrafa??” O que é que define esse objeto como tal? E perante o nosso olhar de espanto, ainda acrescenta: “A sério. Eu, no outro dia, fartei-me de pensar o que é que faz de uma porta uma porta e não cheguei lá!” Isto está bonito, está!
pรกgina 41 Perdidos, corridos e achados
2012
Toni Nosepick pop out no spot do Entroncamento, que afinal é no Cartaxo… ou era noutra terra?
página 43 Perdidos, corridos e achados
O Bernard foi apanhado em flagrante pela PSP num wallride. Multa: aulas de skate aos senhores polícias...
O único sítio de onde não fomos expulsos, acho, foi do parque ribeirinho de Ponte de Sôr. Houve apenas uma advertência de uma simpática senhora que nos disse que o Sr. Presidente tinha feito um parque para nós brincarmos e que, por isso, não devíamos brincar ali. Com a brincadeira toda que deu para fazer naquele local, – o Chalabardo, por exemplo, achou que ali devia desafiar o gap mais alto –, o Moreira (quem mais?) ainda se ia esquecendo da bateria e carregador da máquina, mas foi salvo “pelo gongo” e recuperou as peças... mas não por muito tempo... no dia seguinte ficaram esquecidas num café em Santarém! Conclusão desta tour: alguém mande vir um dicionário e uma check list para a próxima e, já agora, que a próxima seja no verão!
2012
página 44 Perdidos, corridos e achados
texto Laís Reis fotografia Mascarenhas
A R I E F U ALB A 3ª ETAP
2012
NGE E L L A H TE C A K S C -D
Pedro Roseiro backlip em hora de ponta no skate parque de Albufeira… e nós a pensar que essas coisas no Algarve só no verão
A viagem começa cedo: Skate na mochila e siga… migração do skate português para Albufeira e, em pleno outono, a cidade algarvia brindou-nos com sol! Logo na sexta-feira deu para sentir como ia correr a 3ª Etapa do DC Skate Challenge. Mal chegámos ao skate parque, já o Paulo, do Radical, andava a limpar tudo com um mega-secador. Aos poucos a malta que estava a chegar ia tirando os skates dos carros e começou a montar “as barracas”... quando de repente: Bang! Switch bs lipslide do Roseiro a descer o rail. Pronto. Deu para ver como ia ser o fim de semana. O skate parque de Albufeira é enorme e é complicado conseguir ver tudo. Mas o Ollie, que estava com o dono, Ricardo Fonseca, ajudou e motivou também quem passava, ou a ladrar ou simplesmente mostrando o focinho simpático. (Por outro lado, no final do campeonato, ninguém foi “discutir” a nota atribuída pelo Fonseca, estava com o seu pequeno guarda-costas). Para iniciar o campeonato, os pequenos (só de tamanho) começaram em grande e a abusar dos rails e escadas grandes. Grandes toques que aos poucos iam enchendo os olhos de quem ali estava. Tenho que fazer uma pequena observação à evolução do Tiago Pinto, que está com um nível de skate muito bom, bem como à dos gémeos, sem medo de se atirarem para grandes rails (só sei quem é quem quando começam a skatar, pois um é goofy e outro regular).
página 47
França a provar porque é que aos 36 ainda ganhou o “old man bowl contest” em Tampa… smith a sair do bowl Gustavo Ribeiro feeble Ruben Gamito melon
A R I E F ALBU LLENGE A H C E T KA A - DC S P A T E ª 3
2012
Miúdas giras em campeonatos de skate são mais raras que cheques das finanças na nossa caixa de correio… Como diria um antigo jornalista da nossa praça…”e esta, hein?” Gamito em pose
Categoria amador: mais uma vez o Afonso Nery, BP, Daniel Pinto e Aníbal Martins, mostraram toda a sua técnica, daqui a pouco esta rapaziada vai estar a dar trabalho na categoria Open. Nas finais, já com uma horinha de sol a menos e um pequeno susto (o Tiago Pinto partiu um dedo da mão) Gustavo Ribeiro venceu nos Iniciados. Nos Amadores, Nery e o BP skataram muito e foi difícil saber quem ganhava, também para os júris. Desta foi o Afonso, que ainda fez sucesso com as miúdas... nos Profissionais, o nível é muito alto e a final baseou-se em quem errava menos: o Jorginho mostrou quem manda. O grande França, que voou pelo skate parque, ficou em segundo lugar! E o Pombo-thrasherMadonna-style, fez juz à badana que usava e skatou muito, acho que inspirado numa tal Buffoni …. Pombo “Buffoni” ficou em terceiro lugar.
página 49 Dc Skate Challenge
No best trick, Albuquerque deu um hurricane no rail, e o rail era alto! Antes disso, o Tiago Lopes deu um belo bs board flip out e o Roseiro acerta um bs tail no rail. Ok, Hurricane wins, e “ainda estou a espera da cerveja, ó Rodrigo”, afinal ele faturou a guita do best trick.
A R I E F U ALB NGE CHALLE E T A K S A - DC 3ª ETAP
Para o Rodrigo Albuquerque a lua cheia não é só sinal de mais miúdas atrás dele, mas também de noseblunts
2012
página 51 Dc Skate Challenge
Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com
fotografia Mascarenhas texto Ementa sb
2012
pรกgina 53
FOI NO VERÃO DE 2002, EM CONJUNTO COM UMA DÚZIA DE AMIGOS, QUE O RAPHAEL CASTILHO E O EMÍDIO SILVA COMEÇARAM A SKATAR O ASFALTO NA CIDADE DA AMADORA. QUATRO ANOS DEPOIS, QUANDO A DÚZIA DE AMIGOS JÁ TINHA SIDO REDUZIDA QUASE A METADE, COMEÇOU A DAR-SE UM NOME À “COISA”.
2012
NĂŠ, ollie transfer Viola, pivot fakie
pĂĄgina 55 Modern ruins
OS NOMES MAIS ESTAPAFÚRDIOS FORAM ATIRADOS PARA O AR, ATÉ QUE UM DELES SE DESTACOU IMEDIATAMENTE. FOI A PARTIR DESSE MOMENTO QUE TODOS NÓS COMEÇÁMOS A CONHECER ESTE GRUPO DE AMIGOS COMO “O PESSOAL DA EMENTA”. DESDE ENTÃO, O GRUPO PASSOU A ESTAR MAIS UNIDO QUE NUNCA, SKATE TRIPS PARA LADO NENHUM E MUITO TEMPO OCUPADO A NÃO FAZER NADA. SKATE, AMIZADE E DIVERSÃO ERA TUDO AQUILO QUE LHES INTERESSAVA. 2012
Rafa front blunt
pรกgina 57 Modern ruins
AO LONGO DOS ANOS, O EMÍDIO REALIZOU ALGUNS FILMES (COMO O “TORRADA E GALÃO”, O “FAVAS COM CHOURIÇO” E O “EMENTA SB DO DIA”) QUE REFLETIAM PERFEITAMENTE A AMIZADE QUE UNIA ESTE GRUPO BASTANTE PECULIAR.
2012
Bp noseblunt
pรกgina 59 Modern ruins
EM JANEIRO DE 2010, O DAVID CABRITA VEIO COMPLETAR O GRUPO E COMEÇOU A DESENHAR UMA IMAGEM E A DESENVOLVER UM CONCEITO QUE REFLETISSE AQUILO QUE ERA A EMENTA SB ENQUANTO GRUPO DE AMIGOS, ATRAVÉS DE ILUSTRAÇÕES E CAMPANHAS, COMO A “EMENTA DO DIA”. POUCO TEMPO DEPOIS, A EMENTA SB REUNIU UM OUTRO GRUPO, DESTA VEZ UM GRUPO DE ARTISTAS, OS “THRASH ARTISTS”. COMEÇARAM A DESENVOLVER-SE CADA VEZ MAIS PROJETOS E CAMPANHAS, O “TRADITIONAL POSTER” OU OS “PAPERFORKS”.
2012
AnĂbal Martins frontside flip
pĂĄgina 61 Modern ruins
Bp wallride
FINALMENTE, NO TERMINAR DESTE ANO, A EMENTA SB LANÇOU A CAMPANHA “MODERN RUINS”, UMA CAMPANHA QUE TERÁ UMA DURAÇÃO DE 2 A 3 ANOS E QUE EXPLORA A CAPACIDADE QUE O SKATE POSSUI PARA DAR UM NOVO SENTIDO À ARQUITETURA MODERNA, ATRAVÉS DE SÉRIES DE INSTALAÇÕES URBANAS, EVENTOS E EXPOSIÇÕES.
2012
Fernando Klewys
Thaynan Costa, nosegrind
pรกgina 63 Modern ruins
NESTE ARTIGO, A EMENTA SB APRESENTA AS PRIMEIRAS DE QUATRO INSTALAÇÕES ASSINADAS POR DOIS DOS SEUS THRASH ARTISTS, DAVID CABRITA E ANDRÉ COSTA. AO LONGO DOS PRÓXIMOS DOIS ANOS, HAVERÁ NOVAS INSTALAÇÕES, EM CONJUNTO COM OUTROS MEMBROS DA SUA COLETIVIDADE DE ARTISTAS, ENTRE OS QUAIS, JOÃO CRUZ, GABRIEL GARCIA, GEMENIANO CRUZ, OU, INTERNACIONALMENTE, O SANTI ZUBIZARRETA E O DILLON FROELICH.
2012
andré “def” costa frontboard
página 65 Modern ruins
TAL COMO O GRUPO DE 10 AMIGOS QUE SE TORNOU CONHECIDO EM PORTUGAL POR EMENTA SB, OS THRASH ARTISTS ESTÃO TAMBÉM UNIDOS PELO SKATE E PELA MESMA RELAÇÃO DE AMIZADE QUE DEU INÍCIO A TODA ESTA HISTÓRIA. NOS DIAS DE HOJE A EMENTA SB É UMA MARCA DE VESTUÁRIO MAS, APESAR DE MARCA, CONTINUA A RESPIRAR E A VIVER TODA A CULTURA DE ONDE NASCEU, PROMOVENDO SEMPRE UM LIFESTYLE DE AMIZADE, DIVERSÃO E INFORMALIDADE. COMO DIZ O NIKITA GOREV, A EMENTA SB VAI SER SEMPRE NA “DÉSCONTS”.
2012
Emídio airwalk Viola feeble fakie
página 67 Modern ruins
2012
Nikita Gorev hurricane
pรกgina 69 Modern ruins
2012
texto Surge
DIY
UM LIVRO DE FOTOGRAFIAS, POR RICHARD GILLIGAN
O DIY está na moda? Mas não são as modas algo passageiro? Este primeiro livro de fotografia de Richard Gilligan, fotógrafo colaborador da Slap, Sidewalk, Kingpin e Transworld, recém-editado pela 19/80 Editions e pela Carhartt, deixa antever que, longe de ser uma moda, o “Do ItYourself” é, por todo o mundo, uma prática enraizada, sinal de que reivindicar só não basta, é preciso fazer. E o sabor é diferente. Para melhor. É mudar de plano. É substituir a habitual queixa do [os outros] “não fazem, não temos” por: “vamos contribuir e fazer nós”, fora de tudo o que nos ditam. Porque não?
página 73
Este “DIY” reúne fotografias procuradas por Gilligan ao longo dos últimos 4 anos, em diversos países: EUA, Áustria, Irlanda, Suécia, França, Polónia, Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra... e mostra-nos que basta uma simples vedação de uma horta, um espaço cimentado debaixo de um viaduto, ou uns metros de corredor junto à casa, para construir “o spot”. Podem ser espaços temporários – grande parte é ilegal – mas o gozo que dão justifica a sua efemeridade. Faz também parte do processo de evolução e criatividade. Avançamos, sempre. Não é assim que o skate deve ser?
2012
pรกgina 75 DIY
2012
Logo na introdução de “DIY”, o prefácio começa por demonstrar que por muito que se escreva, por mais fotos que vejamos, o skate não é passível de apreender de outro modo que não através de si mesmo. Se não andarmos nunca conseguiremos senti-lo em pleno. Será o mesmo com o DIY?
página 77 DIY
DIY O “DIY” está à venda nas skate shops. 160 p. www.richgilligan.com
2012
página 78 DIY
www.carsportif.com info@carsportif.com T: 261 314 142
Se o Julian Furones não fosse espanhol diríamos que este era um frontside ollie à “grande e à francesa” fotografia Fabien Ponsero
2012
ANTI ESTร TICO pรกgina 81
ANTI ESTÁTICO Não sabemos quantos quilómetros teve o Pedro Dilon que fazer desde o Brasil até à Baixa da Banheira para este backside 50 50… mas suspeitamos que valeram a pena fotografia Mascarenhas
2012
pรกgina 83 Anti-estรกtico
… podem não acreditar, mas o Renato Lainho alugou um helicóptero para poder fotografar este nosebluntslide do Tiks… a sério!
ANTI ESTÁTICO 2012
O Nuno Relógio passou uma noite inteira numa “traineira” em alto mar, supostamente a trabalhar. Segundo a versão da tripulação, não parou de falar deste backside tailslide a noite toda… fotografia Mascarenhas
página 85 Anti-estático
O Tommy Sandoval é um verdadeiro viajante, já conhece três polos, o polo norte, o polo sul e o polo 2 em Coimbra… switch flip fotografia Roskof
2012
ANTI ESTร TICO
pรกgina 87 Anti-estรกtico
2012
ANTI ESTÁTICO
Jorge Simões backside disaster numa estrada abandonada, algures no deserto californiano… estávamos a brincar! É ali para os lados de Rio Tinto… fotografia Renato Lainho
página 89 Anti-estático
Paulo e Dulce Pereira
Nuno Afonso
Depois de vencer o ollie on fire, o Gamito ainda assou um leitão no espeto…
Zoão
2012
Ruben e Neuza
texto e fotografia Roskof
22º
ANIVERSÁRIO RADICAL SKATE CLUBE Temos que admitir, 22 anos a aturar skaters não é fácil para ninguém. Apesar disso e conhecendo eu o Paulo, a Dulce e a Neuza há quase tantos anos, nunca os ouvi queixar uma única vez. O que, num país onde a maior parte das pessoas adota como passatempo nacional estar sempre a queixar-se de algo ou de alguém, é algo que continua a surpreender-me. E acreditem que eles tinham bem razões para isso. Nestes 22 anos levaram com egos de skaters, pais, mães, amigos e conhecidos e lidaram sempre da melhor maneira com o caos organizado em que por vezes se torna o ambiente de um campeonato de skate. A minha própria história no skate devo-a ao RSC. Provavelmente nem o Paulo nem a Dulce se lembram, mas quando os conheci, há mais de 20 anos numa demo de skate em Alcobaça, juntamente com o Diogo e Bernardo Ósorio, o Estrelinha, o Miguel Almeida, o Paulo Alex, foi um ponto de viragem na minha vida. Já andava de skate desde os 10 anos, mas nem sabia que era possível levantar o skate do chão. O filme “Loucos do skate” só chegou ao videoclube lá da terra pouco depois da demo. Alguns anos mais tarde, foi também num campeonato do Radical que conheci o Nuno “dos óculos”, de Almada, que me disse que ia fazer uma revista e me perguntou se não queria tirar fotografias. Eu disse logo que sim, apesar de nem saber como pôr um rolo na máquina… por isso também a Surge deve a sua existência, em parte, ao trabalho feito pelo RSC. 22 anos é muito tempo e sem dúvida que um aniversário assim merece ser festejado em grande. E foi mesmo. Todos os que não quiseram faltar à festa, no Ski Skate Amadora Parque, desfrutaram de um dia em cheio, com campeonato de melhor manobra, ollie on fire e uma retrospetiva em vídeo de alguns dos melhores momentos destes anos, com imagens clássicas: melhores anos do Ricardo Fonseca, o Tut, Lipi, a malta de Almada, o Marteleira vestido de Pai Natal, os anos do França, do Marco Antão, do Nuno Afonso, a malta da Tribos Urbanas, o Hélder Lima e o Gamito com meio metro de altura, o Rodrigo Russo e muitos mais… podíamos ter passado o dia inteiro a ver imagens assim que não me fartava. Ao fim do dia a malta juntou-se para cantar os parabéns e ainda houve tempo para uma cerimónia, com entrega de uma lembrança a algumas das pessoas que fizeram parte da história dos últimos 22 anos do RSC e do skate nacional. Tal como o Paulo disse ao microfone, muito mais do que 22 pessoas deviam receber uma lembrança… quanto a mim, fui um dos que recebi, mas sempre que olho para ela aqui na estante da redacção, sinto que devíamos ser nós, os skaters, a dar-lhes um prémio. Obrigado pelos bons tempos, RSC.
Lendas
página 93
texto e fotografia Mascarenhas
GOSTAR OU GOSTAR Ultimamente ouço falar muito no facebook como meio de divulgação. E ouço, ainda, que é o principal meio de divulgação dos dias correntes. Talvez tenham razão, o facebook pode ser uma ferramenta poderosa, seja qual for o seu propósito no tipo de mensagem que queremos passar. Mas falando de skate, ainda não há muito tempo, todos os skaters dependiam de revistas e de vídeos em DVD, (para não falar do tempo do VHS), para se informarem do que estava a acontecer no mundo do skate. Hoje em dia vemos fotografias e vídeos em websites e em redes sociais até perder de vista, ou até caírem no esquecimento de tanta informação, que cada vez se torna mais difícil de filtrar. Existem campeonatos em livestream e foto-reportagens nos websites no mesmo instante em que foi acertada a manobra. E nem me vou dar ao trabalho de escrever sobre o instragram... a relevância que muitos dão às revistas impressas pode ter diminuído, mas isso só quer dizer uma coisa: que a fotografia existe, cada vez mais, simplesmente, para relatar o quê e onde, ignorando toda a arte envolvida, esquecendo como essas imagens ajudaram a moldar e influenciar a nossa subcultura. Este registo do Filipe Cordeiro seria uma fotografia perdida no esquecimento para sempre, se fosse postada numa rede social, ou talvez atingisse 100 “gostos”. Mas impressa numa revista, a fotografia torna-se num objeto que, quer seja para pôr na cesta dos jornais ao lado da sanita, ou para pôr na estante e colecionar junto de muitas outras, passa a fazer parte da história do skate em Portugal. Ou seria melhor conseguir 150 “gostos”? Decidam vocês...
2012
Filipe Cordeiro - Frontside Ollie
Nテグ
pテ。gina 97