SURGE Skateboard Magazine, 20th issue

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2013

Número 20 - maio/junho

Bimestral

Distribuição gratuita



AURA S.A. - 212 138 500





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Que se f#*@m! Pois é, hoje acordei assim e nem foi preciso despertador, mas foi a primeira coisa que me veio à cabeça depois de ter visto muita coisa no skate nacional durante este ano… algumas boas, outras nem por isso. Mas depois de ultimamente ter desabafado e escrito algumas linhas nesta secção da revista nem sempre muito positivas, sabe-me que nem ginjas acordar de manhã e sentir-me assim… afinal que razão tenho eu para me queixar? Faço o que gosto, com as pessoas de quem gosto e quanto mais tempo passo no skate mais gosto disto. Ok, precisamos de muita paciência, de engolir alguns sapos, de dar umas descascas de vez em quando... e até já telefones voaram directamente à parede… mas olhando para trás, foram todas estas coisas, situações, skatadas, manobras, quedas, todas estas pessoas e personagens (e acreditem que nisso o skate português é fértil), que me fizeram rir que nem um perdido, ou chorar que nem um desalmado, que me fizeram ficar completamente agarrado a esta coisa a que os “outros” gostam de chamar “brincadeira de putos”. Sim. Putos, graúdos, brancos, pretos, às bolas, às riscas, somos maus e também cheiramos mal dos pés, mas sempre que agarramos na tábua sentimo-nos parte de uma família e, apesar de todas as politiquices que possa haver, nada me dá mais prazer do que ver a nossa família a crescer e cada vez mais activa… cada vez mais unimo-nos para criar algo onde antes não havia nada… sejam spots DIY, skate parques, ou mesmo só espírito, como acontece com as crews: os Ementa, os Reality Slap, a malta de Leiria, do Porto, de Braga, de Tomar, de Viseu, de Olhão, de St. André, das Caldas, de Lisboa, de Almada, de Évora, todos os nossos colaboradores, os que nos escrevem e que andam de skate por esse Portugal fora. São vocês que nos inspiram aqui na Surge e é a vocês que temos que agradecer por podermos fazer aquilo de que gostamos. Estão a ver aquela imagem do soldado que é o único a marchar com o passo certo no meio de um pelotão de centenas?… isso somos todos nós. E nestes dias cinzentos que se vivem em Portugal temos de estar cada vez mais orgulhosos disso… os “outros” ainda nos dizem: “ainda não largaste o brinquedo?...” pois tenho um pensamento para eles... Pedro Raimundo “Roskof”

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Quando o mundo à nossa volta está em chamas, buscamos tranquilidade perto das coisas de que mais gostamos… fotografia Renato Laínho



Capturas Rhino

Imagens e outras recordações de Portugal do mítico fotógrafo da Thrasher

Converse Cons Space Barcelona Se quando foi criada a mistura da nitroglicerina tivessem colocado os seguintes ingredientes: skate, música e arte... em vez de algo destrutivo teríamos uma fonte de criação

Primeiro Foco Aníbal Martins

Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127 Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com Publicidade: pub@surgeskateboard.com

Aventuras, desventuras, família e muito mais, no caminho do Ruben Rodrigues para o novo filme da Element Europa

Barcelona Shuffle

Quando estás farto de fazer planos, o melhor mesmo é deixar as coisas rolar… no caso do skate sabes que só pode correr bem

O miúdo mais tímido da Ementa Sb afinal também manda umas larachas

Kate & Fillhos Empreitadas Lda.

Colaboradores: Rui Colaço, João Mascarenhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano.

Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais.

Tiragem Média: 8 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal

Quase todos nós, skaters, já ouvimos alguém dizer: “se não largas isso e te dedicas ao trabalho qualquer dia vais viver para debaixo da ponte”. O Taveira aproveita a dica e mostra com este boneless que a ponte não é um spot assim tão mau fotografia Renato Laínho

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Hold it Down

O verdadeiro exemplo de uma empresa de construção familiar… esperem, não são família? Não faz mal… o que conta é o espírito

www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros Capa: Engraçado como este spot esteve anos ali perto da Ribeira das Naus e ninguém lhe ligou nenhuma. Era o típico “aquilo não dá para skatar”. Anos depois e recolocado na Cidade Universitária, vem, com este flip do Raphael Alves, reclamar o seu merecido lugar no skate nacional fotografia Mascarenhas


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c1rcaportugal@ciabrasil.pt


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Boas noites, Dr. É meia-noite e um quarto... eu estava sem nada para fazer e como não me apetecia bater uma pívia, lembrei-me de lhe escrever. Pois é, eu ando muito chateado com a minha terra. Sou de Santa Maria da Feira e nós por aqui não temos um skatepark. A nossa comunidade skater é razoavelmente grande e promessas, já ouvimos muitas, mas skatepark, nem vê-lo. Temos muitos skaters habilidosos por cá, que têm de gastar dinheiro em transporte sempre que querem skatar bem. A Câmara já prometeu mais que uma vez um skatepark, mas parece que tudo o que lhe interessa é a educação e a cultura. Ainda para mais nesta altura, em que a Viagem Medieval está à porta. Enfim, já mais que uma vez tentámos falar com a vereadora... e os nossos rails, comprados com o nosso dinheiro, já foram roubados duas vezes. Os spots começam a escassear na nossa cidade e, gradualmente, a azia também aumenta. Escrevi só mesmo para desabafar... um abraço a toda a equipa da Surge e continuem o excelente trabalho. Frost. Meu amigo, essa história já é antiga. Na maioria das vezes as Câmaras Municipais estão se cagando. Tudo muda quando se apercebem que a comunidade do skate é relativamente grande e que isso se pode converter em votos. É por aí que vocês têm que ir. Juntem esforços. Mostrem que são muitos. Juntem assinaturas e façam barulho! Normalmente em alturas em que se aproximam eleições resulta! Não desistam. Mais cedo ou mais tarde, todos os esforços resultarão em algo grandioso. Não terem skate parque não é desculpa para deixar de andar de skate... nunca se esqueçam. Pensa nisto. Vai lá bater a tua Beijo na bunda Dr. Manka-te

Boas Sr. Doutor, Eu sou o Hugo Braga. Vivo no Porto e passo muito tempo na Ericeira também. Tenho 18 anos e sempre adorei skate, mas nunca me dediquei a isso. Nos últimos tempos tenho tido uma vontade enorme de começar a skatar e queria saber se achas que ainda vou a tempo de começar e se tens algumas dicas para mim. É que vejo miúdos tão pequenos a andar que me pergunto se vale a pena começar agora. Abraço Doutor, fica bem. Boas Hugo Braga. Não gosto muito do teu apelido. É uma coisa pessoal. Com esse apelido não me surpreende que faças essa pergunta da peida! Meu animal, com 18 anos ou com 88 podes fazer tudo o que te apetecer. Se tens uma enorme vontade, como dizes ter, não me perguntes o que acho sobre isso, simplesmente faz! Na vida vamos sempre a tempo, só quando morres é que já não dá! Vai andar de skate, porra! Porto e Ericeira... dois locais fabulosos para começares. Avança animal! Abraço Dr. Manka-te Boas doutor, Sou conhecido aqui na Amadora por “Patrão”! Escrevo para a Surge para desabafar... parece que o skate está a voltar a ser moda. Já se vê os rapazinhos a ir com aqueles skates do chinoca para a escola para impressionar as raparigas. Bem, dá-me uma volta ao estômago saber que eles só andam para o estilo e não saberem o que realmente é o espírito do skate... e que, por acaso, aqui na Amadora têm bons spots e dois skateparks para começar a andar. Pena que só andem com o skate no braço. Enfim, abraços à Surge que tem me dado muita pica para skatar naqueles dias nublados. Como é que é Boss?! O skate está na moda, é verdade! Ainda ontem vi um gimbras fazer uma figura ridícula de skate longboard à beira mar. Ele até pode enganar uns quantos e até engatar umas miúdas com o seu estilo bailarina, mas que era triste de se ver, lá isso era! Boss, não te preocupes com essa malta. Faz parte! Na Amadora sempre existiram verdadeiros skaters. Faz parte da história. Continuará assim e isso é que é importante. Não interessa a quantidade, mas sim a qualidade. Não andes de skate só em dias nublados, não sejas menino! All day every day! Beijo na bunda Patron Dr. Manka-te

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intro e entrevista Roskof fotografia Rhino

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As coisas que às vezes acontecem ao balcão de um bar! Estava já ali há meia hora para ser atendido, quando chega um americano ao meu lado... como estávamos os dois a “gramar a pastilha” para nos atenderem, começámos a falar. Ele perguntou de onde eu era, eu disse “Portugal” e que estava ali a fazer um trabalho para a SURGE. Ele responde-me “fixe… tenho aqui uma na mochila, apanhei-a no evento da Converse… estive há pouco tempo em Portugal e adorei aquilo” – disse ele de seguida. Eu conhecia a cara dele de algum lado, mas estava um bocado a leste, quando ele me disse que se chamava Rhino… um dos míticos fotógrafos da Thrasher e um dos meus favoritos. Ok, ao vivo às vezes as pessoas são um bocado diferentes... afinal aquando da sua visita a Portugal com o Grant Taylor, Pedro Barros, Peter Hewitt e Jake Phelps, não tinha conseguido estar com eles e ver a mítica session de Belmonte. Curioso: hoje e depois dessa sua visita, já temos muitos skaters que querem vir a Portugal só para skatar aquele skate parque. Acabámos a nossa cerveja e ele disse que curtia ter umas fotos na SURGE… quando cheguei a casa já tinha um email dele com fotos e disponibilidade para responder a umas perguntas… obrigado “bartender” por nos deixares a secar…

Wes Kremer Chet Childress

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Para grande parte dos fotógrafos, um emprego na Thrasher é um sonho tornado realidade. Foi sempre algo que também ambicionaste, ou as coisas aconteceram naturalmente através da tua persistência e trabalho? Realmente acho que tudo aconteceu naturalmente. Desde que comecei a andar de skate, em 1976, que fiquei viciado na única revista que existia, a Skateboarder Magazine. Como todos os miúdos, ficava completamente “colado” àquelas imagens. Bem mais tarde na minha vida decidi começar a tirar umas fotos de skate... como muitos dos meus amigos também eram skaters, foi com eles que aprendi, com o método de tentativa e erro.

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Claro que viver no sul da Califórnia também foi uma vantagem para mim... depois foi enviar fotos sem parar para a Thrasher, até ao dia em que me convidaram para trabalhar. Como em tudo no skate também há muitas modas que vão e vêm. Como fotógrafo alguma vez te sentiste obrigado a fotografar algo com que não te identificasses minimamente, ou isso é algo que não te incomoda? É claro que queres sempre fotografar algo ou alguém de quem gostes e algumas vezes vi-me na posição de fotografar algo que preferia nem sequer ver. Mas desde que não seja uma daquelas


Aaron Homoki drop Darren Navarrete Indy Air

sessões que te desgasta, não costuma acontecer muitas vezes. Hoje em dia a maior parte dos skaters já sabe o que vale ou não a pena fotografar. Além disso, com as máquinas digitais as coisas estão muito mais fáceis e podes sempre usar algumas das fotos em catálogos ou algo do género. Mas, claro, é sempre melhor sermos honestos com os skaters e dizer-lhes a verdade, quando não estás a “sentir” a foto. O King of the Road é uma das coisas mais loucas no skate... tu já tens o nome associado a umas poucas edições dessa odisseia anual organizada pela Thrasher.

página 21 Capturas Rhino

Como é que te consegues focar para trabalhar no meio de toda aquela loucura? O King of the Road é, sem dúvida, uma das viagens mais loucas que podes fazer, mas também é um tempo bem passado. Basicamente toda gente sabe o que tem de fazer durante esses dez dias. O meu trabalho é sempre documentar o que se passa. Antigamente também tentava ganhar pontos, guiar a carrinha, planear os spots, fazer tudo e mais alguma coisa... mas como já lá vão umas edições, agora deixo essas coisas para os team managers. Nestes dias dedico-me só mesmo a documentar o que se passa. Se puser o pé na poça não há pontos!


REALMENTE HÁ CAMPEONATOS ÀS “CARRADAS”... STREET LEAGUE, X-GAMES ETC... ALGUNS CAMPEONATOS SÃO FIXES, MAS AQUELES EM QUE AS GRANDES CORPORAÇÕES SE ENVOLVEM APENAS PORQUE QUEREM FAZER PARTE DE ALGO “COOL”,PESSOALMENTE, ESTOU-ME A CAGAR PARA ELES.

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Pedro Barros Nosegrind - Baixa da Banheira

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Peter Hewitt Boneless - Odivelas

Como sabes, as coisas não estão fáceis para as revistas impressas. Cá em Portugal muito gente nos chateia para passarmos a revista só para online... Na Thrasher também recebem comentários desses? Se te dissessem isso o que responderias? Essa questão aparece sempre principalmente em alturas de crise e com a “inundação” na net de conteúdos de skate... mas a Thrasher faz um ótimo trabalho na revista impressa. Pessoalmente eu estou sempre à espera que saiam novas revistas da gráfica, essa é a minha maneira de saber o que se passa no mundo do skate todos os meses. Dá-me muito mais prazer folhear e ver boas fotos e textos inspiradores ali mesmo nas minhas mãos. Tudo do que vejo na net não consigo fixar nada e depois nunca consigo encontrar o que procuro nos arquivos, vês uma vez e já foi. A verdade é que uma foto impressa tem sempre muito mais valor.

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Visitaste-nos aqui em Portugal com “malta da pesada” e foram skatar a Belmonte, um dos sítios mais difíceis de skatar em Portugal. Sabias que toda a gente aqui dizia que era impossível skatar aquele parque? Devias ter visto a cara das pessoas quando viram as fotos e o vídeo das skatadas... na tua opinião, para criar uma boa cena de skate local são mais importantes as pessoas ou os spots? Na verdade são as duas coisas, a primeira vez que vi esse skate parque foi num vídeo de BMX. O Jake Phelps também o viu e foi ele que organizou tudo para irmos até Portugal. O parque no vídeo parecia uma loucura e, na verdade, é mesmo! Muitos obstáculos não fazem sentido e outros pareciam impossíveis de skatar, mas eu sabia que se levássemos o Grant Taylor e o Pedro Barros eles iam conseguir skatar aquilo... e assim foi. Aquilo é mesmo agressivo, fundo, o coping é mole, as transições são estranhas, mas até não é muito mau. Não sei é porque decidiram gastar tanto dinheiro num


Chris Haslam

skate parque daqueles numa vila tão pequena. Mas, de qualquer maneira, às vezes é assim, os piores skate parques são os mais divertidos para skatar... é mesmo só trazer as pessoas certas, que eles encarregam-se de destruir qualquer rampa! Como fotógrafo de skate quem são as pessoas para quem sempre olhaste para te inspirarem? Enquanto crescia eram sempre os skaters mais velhos da vizinhança, o pessoal que andava nos skate parques mais antigos da Califórnia. Claro que também a malta que aparecia nas revistas na altura: Alva, Duane Peters, Olson, Salba... em relação à fotografia sempre gostei muito de alguns pioneiros das revistas de skate como o James Cassimus, Glen E. Friedman, Wynn Miller e Warren Bolster. Quando miúdo aquelas cores brilhantes e céus azuis ficaram gravados no meu cérebro enquanto “ estudava” a Skateboarder Magazine... (risos)

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Já há muito que vês em primeira mão os melhores skaters do mundo a fazerem o que sabem melhor... muita gente diz que o nosso lifestyle está a mudar, alguns dizem que o skate agora é só baseado em campeonatos etc... que caminho é que vês o skate a seguir? Realmente há campeonatos às “carradas”... Street League, X-Games etc... alguns campeonatos são fixes, mas aqueles em que as grandes corporações se envolvem apenas porque querem fazer parte de algo “cool”, pessoalmente, estou-me a cagar para eles. Eu percebo que os skaters possam fazer bom dinheiro neles, mas pessoalmente procuro outras coisas no skate. Os mesmos campeonatos, os mesmos skaters, os mesmos vencedores em diferentes partes do mundo... isto vai ficar uma grande seca muito em breve!


Ryan Reyes front feeble Pedro Barros Lien Melon Lisboa

Fotógrafo de skate não é exatamente um lifestyle descontraído, vês-te a fazer isto durante muito mais tempo, ou tens um plano B? (risos) Nunca tive foi um plano A. Definitivamente não é relaxante, mas no fim do dia é sempre algo divertido e um desafio ao mesmo tempo, por isso espero nunca precisar de mais nenhum plano. Que conselhos tens para os novos e velhos skaters portugueses? Vão até Belmonte e skatem aquilo antes que seja destruído, aprendam a fazer cimento e tapem essa praga da calçada nos spots de skate em Portugal!

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texto Roskof fotografia Luís Moreira

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“Ir a Roma e não ver o Papa”. Esta foi a reação de todas as pessoas com quem falei quando lhes contei que tinha estado no fim de semana do Street League e X-Games em Barcelona e que não tinha lá posto os pés… em resposta também não lhes adiantei muito... a alguns terei feito aquele sorriso maroto, a outros nem isso. Afinal, experiências como estas não irei viver assim tantas vezes, porque razão deveria partilhar tudo isso com eles?… só queriam saber como é que era possível não ter marcado presença naquele que foi “apenas” o maior campeonato de skate realizado na Europa até à data…


O BP aqueceu para os concertos com uns bons frontside ollies

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Filipe Bartolomé front rock

A verdade é que quando fui convidado pelo Pali Negrin, team manager da Converse, para ir a Barcelona para este evento, também fiquei curioso. Como é que iria ser? Algo completamente diferente do espírito do Street League, mas realizado ao mesmo tempo e na mesma cidade. Quando embarquei na viagem com o Bruno Senra, claro que ele estava em “alta” com a perspectiva de poder ir ver todos os seus ídolos ao vivo. Foi curioso, depois desses dois dias na Catalunha, ver como a sua própria maneira de ver o skate mudou. E não era para menos. Assim que chegámos ao espaço CONS, montado no Porto de Barcelona, levámos com um bombardeamento visual, spots DIY, camiões com rampas, palcos, gruas, barcos, músicos, instalações artísticas... ou, como costumamos dizer, “tudo e mais um par de botas” ali instalado para criar uma experiência diferente, quase como um parque de fantasia para o desfrute de todos os que apostassem na alternativa ao circo, do skate montado no outro lado da cidade. Quando chegámos já lá estava o team da Converse a destruir as rampas. O Bp quando olhou para rampas pela primeira vez, disse-me “epá não sei consigo skatar isto”... ao fim do dia já voava por todo o lado e ainda deixou, literalmente, a pele naquelas rampas, mais uma prova de que às vezes é preciso levarem-nos para fora de pé para aprendermos a nadar.

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Mas o CONS Space, mais do que algo feito para nos arrebatar, estava concebido para ser vivido. E foi isso mesmo que disse ao Luís Moreira, que andava a acompanhar a comitiva nortenha em Barça já há alguns dias… liguei-lhe ao início da tarde e disse...”tens que vir para aqui já, vais-te passar com isto”. Quando ele chegou de táxi à porta do recinto, a sua primeira expressão confirmou o que lhe tinha dito… “xxiiii brutal”… acho que foi a primeira coisa que lhe saiu da boca, claro que a segunda foi “onde é que se come?” Mas até isso estava tratado como deve ser pela malta da Converse… nada mais, nada menos do que comida à descrição e bar aberto para todos. Claro que num evento de skate, música e arte, bar aberto é sempre algo um bocado

página 31 Converse em Barcelona

perigoso, mas como viria a provar-se, quando o espírito é positivo, tudo corre bem… afinal, quantas vezes podemos skatar, comer e beber com os artistas que horas mais tarde vamos ver no palco? Para ajudar à festa, a Converse ainda arranjou autocarros de borla, a sair do lendário Macba para todos os que quisessem viver o CONS Space. Sempre que um destes parava à porta, a reação de todos os que saíam era exatamente igual à do Moreira umas horas antes… tanto em relação ao espaço, como à comida! Quando a noite caiu sobre o Porto de Barcelona, as coisas começaram a aquecer, claro que pode ter também sido pela chegada da restante comitiva lusa que, à boa maneira portuguesa, animou ainda mais a festa.


Remy Taveira, skater luso francês tem o melhor sotaque “avec” de sempre. Isso e estes backside nosepicks

Tom Remmiliard backside smith horas antes de liderar o GVSE… grupo vocal de skaters endiabrados

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Com o vento que estava, podiam ser duas destas rampas, uma em cima da outra, que o Ben Reamers conseguia dar os frontside inverts à mesma. É o que se chama aproveitar os elementos

Filipe Cordeiro pivot grind 270 out segundos antes de nos informar que tinha ganho o Street League… a sério! página 33 Converse em Barcelona


Quando dei por eles estavam todos em cima do palco no concerto dos Spank Rock. Ainda pensei que o Jorginho, o Cordeiro, o Luís e o Bp tivessem sido promovidos a coristas da banda, mas afinal quando me juntei lá em cima percebi porque é se devem dedicar mais ao skate que à música... se bem que isso não os impediu de passar a viagem no autocarro de volta ao centro da cidade a cantar como uns desalmados. Quando desembarcámos no centro da cidade a sensação era a de termos estado numa qualquer dimensão diferente durante este dia e noite. Ali no Macba a andar de skate às tantas da manhã estavam ainda centenas de pessoas absorvidos no quotidiano normal do skate em Barcelona e naquele campeonato... Street qualquer coisa…

Esta senhora da limpeza continua ainda hoje sem saber o perigo que lhe passou ao lado. O Tom Remmiliard passou-lhe a centímetros, em velocidade de cruzeiro… ela olhou para trás, sorriu e continuou na sua vida como se nada fosse... enquanto todos nós ficámos com palpitações no coração

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O Mascarenhas ligou-nos a dizer que ia tirar a foto do backsmith do Aníbal às 14.30… 20 minutos mais tarde ligou-nos a dizer… “está feito, já vos envio a foto”… assim dá gosto…

entrevista e fotografia Mascarenhas

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Este 5-0 é tão cremoso e bem cheiroso como os seus “cremes de nigga”

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Fazes parte da Ementa SB, és o único “nigga”, a malta trata-te bem, ou nem por isso? Sou o único “nigga” por isso se eles não me tratarem bem chamo os meus “tropas”, mas é na “désconts”. Estás com 17 anos se não me engano, achas que o skate passa pelo teu futuro ou acreditas mais nos estudos? Eu quero que o skate faça sempre parte do meu futuro. Vou acabar agora o 12º ano e antes de ir para a faculdade vou ficar um ano só a skatar e aí logo decido se o meu futuro vai ser só skate, ou se vou para a faculdade e tento conciliá-la com o skate. Num tour com a Ementa quem é a pessoa mais chata, a mais mal cheirosa, a mais impertinente, a que come mais, a que dorme mais, e a que skata mais? A pessoa que dorme mais é, sem dúvida, o Emídio aka Dormídio A que come mais é o Gorev A pessoa mais chata, mal cheirosa e a que skata mais é o BP ahaha Impertinente... Não há cá disso

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Das vezes que fui fotografar contigo apercebi-me que tens um pouco fama de preguiçoso e que és uma verdadeira noiva, é verdade? Demoro um bocadinho mas, vocês sabem, eu sou nigga! Tenho os meus cremes!! Eheh A cena do vídeo do Bp que apareceu na Go-s tv, tu dás-lhe um tiro na cabeça mas, mesmo assim, o gajo continua a falar pelos cotovelos. Se pudesses davas-lhe mesmo um tiro na cabeça? Nunca na vida, ele é um dos meus melhores amigos! Mas uns calducos...


Se a carrinha amarela dos Ementa é do “Esquadrão classe A”, então o Aníbal é a versão miniatura do Mr. T! frontside flip

Uma coisa em que reparei em todos os que andam na carrinha amarela do Esquadrão classe A é que são uns grandes viciados no instagram. Tu curtes a cena? Ou achas que o instagram é mais estragando? Curto bue o instagram, apesar de não ir lá muitas vezes. Mas, sim, há alguns que levam o “insta” muito a sério e estou a falar do Rapha, do Gorev e do Né. Acima de tudo, sinto sempre um bom espírito entre ti e os teus amigos na skatada. Vocês apoiam-se muito uns aos outros, sentes-te sortudo por ter amigos assim para skatar? Eu acho que qualquer pessoa devia sentir-se sortuda por ter amigos assim. Eles realmente ajudaram na minha evolução, quer seja como pessoa, quer seja como skater e admito que se não fossem eles, hoje não estaria aqui a fazer esta entrevista.

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O Bs smith foi bastante fácil, ou não? Pelo menos a mim pareceu-me. Achas que às vezes duvidas das tuas capacidades enquanto skater? Sim, duvido um bocadinho. Eu acho que é normal mas tenho que começar a acreditar mais em mim. Agradecimentos Acima de tudo queria agradecer à Ementa Sb e à minha família, agradeço também a todo o pessoal que costuma skatar comigo e que me dá pica.

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entrevista e fotografia Mascarenhas

Aí está mais uma prova de que “debaixo da ponte” não é algo necessariamente mau, 360º flip

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Qual é para ti o significado de Hold It Down? Hold it down significa aguenta-te, agarra-te, até ao fim, à vida, a tudo. Tem muito a ver também com a equipa europeia estar mais unida, “stay strong”. E como é fazeres parte de um grupo de skaters europeus como o da Element? Sinto-me bem por ser reconhecido pelo meu nível de skate e é sempre aquela “sensação de puto” estar num team europeu, então puxa sempre por nós para evoluirmos mais. Mas já os conheço há uns anos e agora somos uma grande família. Por isso é um pouco normal, por sermos todos amigos. Filmar para o “Hold it Down” com pessoal assim não deve ser fácil. Sentes alguma pressão para dar manobras pesadas, como as que tens vindo a dar? Mais ou menos. A malta anda muito, mas eu sinto pressão comigo mesmo, em querer dar o meu melhor e às vezes ser difícil de acertar as manobras... mas faz parte. Sinto que tenho a minha oportunidade e quero fazer o melhor que posso, para nunca ter deixado nada por fazer. Recentemente tive o prazer de ir contigo numa aventura de 3 dias a Madrid, simplesmente para dares uma manobra que tinhas em mente. Tivemos bastantes dificuldades... queres falar disso? Basicamente foi mais uma batalha que tive. Meti o toque em mente, disse a mim próprio que ia dar e tive que tentar até acertar. Aproveitar a oportunidade mais uma vez. Mas parecia estar tudo contra nós! Desde chuva, frio, granizo, eu a tentar há horas durante 3 dias, carro rebocado, sem dinheiro... mas no fim consegui dar o 360 e voltámos para casa todos contentes, com uma história para contar e a noção de que nunca devemos desistir dos nossos objetivos. Temos que acreditar que somos capazes. Aguentar até ao fim.

Se não me engano tens 28 anos e continuas a mandar-te para gaps incríveis. És daqueles que diz que a idade vai pesando, ou sentes-te cada vez com mais força? Sim, eu sou daqueles que diz que quanto mais velho mais sábio ficas, mais força tens, não sei... se metes na cabeça que estás velho, estás acabado. Acho que todos temos que fazer o melhor da nossa vida, tentar ser melhor a cada dia que passa. Não deixar o tempo passar. E uma coisa que aprendi também é que nunca é tarde para nada. Só tens que pensar no que é queres fazer com a tua vida: ou a vives, ou tentas viver da maneira que sonhas, ou então é um desperdício não aproveitar o que o mundo nos dá. Mas temos que ser verdadeiros e nunca desistir. Já tens um filho com 5 anos, a responsabilidade pela educação que lhe dás vai aumentando... sentes-te capaz de lhe dar um bom futuro e uma boa educação? Sim, claro que sim. Educação em primeiro lugar. Tenho muita paciência para o meu filho, tento sempre explicar-lhe tudo a qualquer hora, estar o mais presente possível. Tentar ser o melhor pai que um filho possa ter, mas sem o mimar demais... e educá-lo para ser forte e prepará-lo para a vida.

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Como se diz na “gíria” skater: isto é um “flipão”

página 45 Ruben Rodrigues


Qualquer dia o Ruben vai levar o seu filho a este spot e dizer-lhe: “filho, foi aqui que o pai aprendeu grande parte das manobras de corrimão” nollie backside lipslide

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Estão a ver as consequências que uma pequena pedra podia ter no sítio onde o Ruben bate este ollie? É para pensar na vida...

E o puto já curte skate como o pai? Já curte, nem que seja na ps3 a jogar skate, ahahah. Mas vamos os dois para o skate parque sempre que podemos. Vai ser engraçado um dia vê-lo dar flips, mas à parte do skate vou apoiá-lo no que ele quiser ser. O importante é descobrirmos a nossa paixão e ir atrás dela. E eu lá estarei para o apoiar. No outro dia disseste-me que ias à estreia do “Hold it Down”, em Berlim. Pertencer a um grupo assim e fazer filmes destes tem destas coisas... curtes a parte de viajar muito, ou por vezes torna-se cansativo? Claro que sim, viajar pelo mundo à “pála” do skate, da tua paixão, do teu esforço, é sempre motivante. Por isso, por mais cansativo que seja, nunca é demais.

página 47 Ruben Rodrigues


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Em Portugal costumas filmar com o Piteira, ele parece-me um gajo porreiro e tem aquele humor que toda a gente conhece, admiras isso nele? E que tipo de confiança existe entre vocês para trabalharem tanto juntos? Somos grandes amigos e admiro muito a sua parte criativa, o humor parvo dele hahah e como ele trabalha. Já nos conhecemos há muito tempo e temos uma grande confiança um com o outro. Ele esteve sempre presente nos bons e nos maus momentos é um verdadeiro amigo e uma grande pessoa. Uma coisa que reparei quando comecei a fotografar contigo é que tu vais a imensas “demos” por todo o país. Senteste uma fonte de inspiração para os mais novos? Não sei. Eu tento passar a minha mensagem de que é possível viver dos nossos sonhos. E imagino às vezes que se um evento daqueles das demos tivesse ido à minha escola quando eu era puto, eu ia delirar. Por isso tento sempre dar o meu melhor e tento passar a melhor mensagem possível, neste caso através do meu skate. Agora que terminaste o “Hold It Down” vais fazer algum tipo de férias ou vais continuar no ataque? Férias só quando estou todo dorido e mal consigo andar de skate ahahah Quero continuar a evoluir e fazer o máximo que conseguir da minha vida.

O Ruben diz que quanto mais velho fica, mais força tem... com switch heelflips destes não duvidamos nem por um segundo…

página 49 Ruben Rodrigues


Depois de ter sido o primeiro skater a dar ollie neste double-set, volta a deixar a sua marca neste clássico spot da Expo… switch frontside flip A quem queres agradecer? Quero a agradecer ao Piteira e à namorada dele, a Sofia, por me aturarem e estarem lá sempre naqueles momentos difíceis. A todos os meus amigos, aos meus pais por me porem neste mundo, ao Gui por dar sempre aquela força. Quero agradecer também às pessoas que amo por fazerem parte da minha vida e acreditarem em mim. Skate life. Aos meus patrocinadores, Element, Dvs shoes, Eastpack, Independent ,Nixon, Von Zipper, Connexion Wheels. 2013

página 50 Ruben Rodrigues



fotografia Mascarenhas modelos Taya, Denise e Vasco top DC Elle Ruby Wine crew sweat DC Sparkle Ruby Wine

2013

tĂŠnis DC womens Creeper Leopard Print


t-shirt DC Underfloor heather black calças DC Slim worker pant rubber ténis DC Primo SE dark blue

ténis DC womens Primo Le Black Gum

página 53


camisa DC Cataytic Indigo top DC Madge Black

t-shirt DC sparkle majolica blue

2013


calções DC intervention

calças DC Slim worker pant bordeaux ténis DC Studio S black turtle

página 55 Depois


Camisa DC Flatland light indigo Calรงas DC Black Mirror Ruby Wine

casaco DC Gudgeon Estate Blue

top DC /Arkitip more chance mezcalina print

2013

pรกgina 56 Depois



texto Roskof fotografia Roskof e Nuno Capela

Se há algo que há muito me faz espécie é não perceber porque é que Lisboa, a capital europeia do sol, uma das cidades com mais potencial turístico no mundo, não aproveita o skate como motivo de promoção. Ok, temos a calçada que é o pesadelo de todos os que andam sobre rodas na cidade, das meninas de salto alto e da 3º idade, que deixa todos os anos várias clavículas e pernas partidas nesta forma de arte Portuguesa. Mas apenas isto não seria justificação para que não se aproveitasse o skate como forma de promoção, dinamização entre os jovens e divulgação além fronteiras em praticamente nenhuma capital europeia, exceto a nossa. Por isso foi com a agrado que recebemos a notícia de que a Câmara Municipal da cidade se ia juntar à Skape e à Yorn para realizar esta primeira edição do Yorn Intendente Skate Jam. O próprio nome trazia algo de novo: está provado que os skaters e os spots de skate contribuem para a reabilitação de zonas urbanas. Podemos deixar marcas nos bancos de mármore, mas é sempre uma alternativa mais simpática aos vagabundos a mijar e a drogar-se nas ruas. Fica aqui uma sugestão de um estudo a fazer para os nossos académicos.

2013


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Renato Aires backtail transfer

Jo達o Allen backside lip sardinha style

Osiris crew 2013


Chad Bartie heelflip lipslide 21 de junho. A data marcada para o início desta 1º edição não podia ser melhor: começar um fim de semana de skate com a celebração do nosso dia mundial do skate e logo com uma descida pela Almirante Reis foi algo que colocou não só todos os skaters da cidade, como também grande parte dos que viram as centenas a descer a avenida, em alerta para que algo de diferente se ia passar na cidade nesses dias. O espaço do Largo do Intendente até este fim de semana tinha tudo menos reputação de sítio agradável, nem para os moradores nem para os turistas e nem para os jovens… não me consigo esquecer de um comentário de um residente mal cheguei à quadra no primeiro dia do campeonato…”até que enfim que este espaço serve para alguma coisa de jeito” eu sorri de volta e pensei para mim mesmo: espero que continue… mas de certeza que sim, não pode ser de outra maneira: os skaters compareceram em força, o público também, os comerciantes locais agradecem e também as mais carismáticas personagens do Intendente reconheceram que este fim de semana para eles foi uma festa. Até os skaters do team da

Osíris, que foram convidados para júris do campeonato e para dar uma “demo” no último dia me diziam: “wow, esta cidade é muito fixe… temos que voltar”. No entanto não foi só com a cidade que a malta da Osiris ficou impressionada: vários skaters da categoria amador levaram tábuas novas para casa, oferta do team, e o Jorge Simões causou tão boa impressão que levou os 2500E do primeiro lugar para o Porto e até os próprios skaters da Osiris o convidaram para andar na “demo” com eles. Mais tarde, na entrega de prémios, estavam os mais altos responsáveis da cidade. Não adiantaram muito, mas deu para perceber que ficaram impressionados pelo bom ambiente que o skate e o público levaram àquela zona, dona de uma piores reputações possíveis… tal como nós, skaters. Será que, como aquela zona da cidade, também os skaters vão ser vistos de maneira diferente daqui em diante? Gostaria de pensar que sim…

Ruben Gamito backside melon

Ninja crew

Jorge Simões backside hurricane página 61 Yorn Intendente Skate Jam


texto e fotografia Luís Moreira

Os spots DIY, Do It Yourself, faz tu mesmo, ou como lhes quiserem chamar, não são novidade nenhuma atualmente e fico muito contente por poder dizer isto. Nuns sítios mais do que noutros, começa a ver-se cada vez mais iniciativa por parte dos skaters no que toca a construírem alguma coisa para seu próprio benefício. É mais comum, como é lógico, nas áreas onde há menos sítios decentes para skatar. Se viveres numa cidade apinhada de bons spots, naturalmente, a vontade e necessidade de gastar dinheiro em cimento e começar a fazer alguma coisa é menor.

2013


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Mouga… ollie no novo par de “xuxas” do spot

2013


Gostamos sempre muito destas fotos atrás dos arbustos. Dão sempre um ar exótico e selvagem aos spots, mesmo que sejam construídos com cimento e entulho… Gui wallride O Porto, como toda a gente sabe, apesar de ter muitos spots espalhados pela cidade, não tem um skate parque decente e o pessoal nem sempre quer skatar só em Praças com bancos, apesar do que possa transparecer para os outros sítios. Nenhum de nós tinha experiência nenhuma em construção com cimento. No entanto, também nenhum de nós é desprovido da capacidade de aprendizagem e, assim sendo, depois de encontrarmos o sítio perfeito para construir, foi fácil começar. Começámos por ir recolher uma placa de mármore para fazer o primeiro curb, só mesmo para vos mostrar como o pessoal aqui gosta de skatar um pouco de tudo… ou então porque nos pareceu o obstáculo mais fácil de construir para quem não está habituado a trabalhar com cimento e também porque a placa de mármore, (Toni, corrige-me caso aquilo em vez de mármore seja uma [nome marado de geologia]), estava mesmo ali à mão. Duas da manhã, pé de cabra na mão, mármore no carro, alguém a telefonar à polícia e aparentemente a anotar a matrícula, sair dali imediatamente!!

Quando temos uma manobra na cabeça, nada como construir o spot ideal para dá-la… Nuno Cardoso, half-cab flip boardslide reverse

página 65 Kate & Filhos Empreitadas Lda.


No dia seguinte já lá estávamos todos cheios de pica para construir o nosso curb, porque no Porto há falta deles e é bom skatar obstáculos diferentes de vez em quando. O Gaia tirou dinheiro da nossa caixa de poupanças da Kate, que de há mais ou menos um ano para cá se destina exatamente a este tipo de coisas, foi à Maxmat comprar cimento e, pronto, construímos o primeiro curb. Apesar de ninguém nos ter consagrado heróis da nação por isso, ficamos cheios de vontade de continuar a construir e uma semana depois já tínhamos mais um bank com curb, dois pole jams e uma mama. Tínhamos que construir uma mama, quanto mais não seja para dizer que no nosso spot há mamas! Ou pelo menos uma. Como toda a gente, conforme fomos avançando, fomos melhorando a nossa habilidade com o cimento, até ficar minimamente decente. O spot está longe de estar terminado e espero sinceramente que nunca fique pronto. Espero que haja sempre ideias e vontade para podermos construir coisas novas e, principalmente, espero que não se lembrem de começar lá uma obra que nos obrigue a sair dali. Coisa que me parece pouco provável nos próximos tempos e agradeço isso à nossa querida amiga crise. Quando começámos a construir tentámos fazer as coisas um tanto ou quanto sigilosamente, para ninguém nos estragar os obstáculos enquanto ainda estavam com cimento fresco. No entanto, houve uma (ou várias) fugas de informação e fomos descobertos(!) o que fez com que começássemos a ter lá constantemente pessoal, que apesar de não ir estragar o cimento, ia para lá simplesmente para estar alapado com o rabo no chão a fumar charros e a colar o pistão a tarde inteira. Isso chateou-nos um bocado porque para além de não contribuírem em nada para o spot, faziam exatamente o oposto, porque faziam com que a vizinhança começasse a olhar para aquilo de forma diferente. Uma coisa é ver pessoal a skatar, construir e divertir-se e outra completamente diferente é ver pessoal a chegar lá, sentar-se em círculo e ficar lá horas sem fazer absolutamente nada. A polícia chegou a ir lá algumas vezes mas o assunto não deu em nada em nenhuma delas. Quando vi pela primeira vez o espaço, imaginei que todos íamos ter o maior espírito de entreajuda do mundo e que íamos ter uma história incrível para contar. No entanto, para além da sabotagem por parte de elementos externos – tais como ressacas que deixaram seringas pelo spot e roubaram uma calha de ferro de um bank e um pole jam para vender na sucata – não foi bem assim. Houve, entre nós, muitas discordâncias, discussões e inclusive alguma porrada. O que faz com que isto seja apenas uma pequena história sobre um grupo de chabalos (com B!) que se estão a cagar para o Rui Rio da mesma forma que ele caga para eles há anos e que decidiram por mãos à obra, já que ninguém põe por eles.

2013

Vê-se logo que este spot foi construído com a ajuda do Toni, um futuro geólogo de renome… olhem só para a quantidade de pedras diferentes utilizadas… backsmith

Pessoal do Porto e arredores, se quiserem contribuir para que o spot vá ficando cada vez melhor, podem passar na Kate Skateshop e deixar o vosso contributo na caixinha e/ou começarem a aparecer lá e a ajudar o pessoal com a construção. Pessoal de fora, caso queiram vir cá skatar ou caso queiram contribuir também de alguma forma, contactem whoskate@ gmail.com. A malta agradece!


Ok, sempre que forem a este spot, olhem atrás dos arbustos! Está lá sempre um fotógrafo. Pico… switch backside nose blunt

Chamam-lhe tio, avô, pai, padrinho... pois agora embrulhem lá esta… Nuno Gaia frontblunt 360 shove-it

página 67 Kate & Filhos Empreitadas Lda.


texto e fotografia LuĂ­s Moreira

2013


Sabem quando tĂŞm o leitor de mp3 em modo shuffle? Imaginem isso mas em vez de ser o leitor de mp3, ĂŠ uma viagem de uma semana a Barcelona.

pĂĄgina 69


Com o Jorginho em modo shuffle, podia ter saĂ­do qualquer manobra neste spot, mas desta vez foi um backside nosegrind pop-out

2013


Combinámos ir ver o Street League a Barcelona e passar lá uns dias a skatar. Eu fui de avião com o João Neto e quando lá cheguei o Jorginho já lá estava há uns dias. O Romeo tinha chegado na noite anterior, de boleia. Foi de boleia de Madrid até Barcelona e quando lá chegou, sozinho, resolveu passar a noite num banco de jardim. O normal. Uns dias mais tarde chegou o Cordeiro, depois o Cardoso e o Pico, acabei por encontrar lá também o BP, o Rafa e mais algum pessoal da Ementa. Passei 6 noites em Barcelona, dormi sempre em sítios diferentes e nunca sabia ao certo onde é que ia dormir a seguir. 5 hostels diferentes, pois andávamos sempre à procura do mais barato e a casa de um amigo do Cordeiro. Cheguei, até, a partilhar cama com o Jorginho. Daqui a uns anos vai haver por aí muitas groupies com inveja. Barcelona é uma cidade conhecida por muitas coisas e uma delas é o bom tempo, mas como nesta viagem nada correu como era suposto, apanhámos tempo de país tropical. Ora fazia sol, ora estávamos num spot a começar a skatar e começava a chover torrencialmente, ninguém conseguia perceber. Mal cheguei ao MACBA no primeiro dia, a tentar uma manobra nas 5 escadas, caí e espetei uma pedra, quase do tamanho de um berlinde, na mão. É uma daquelas coisas que não acontece a ninguém. Escusado será dizer que a partir daí, sempre que caía, rebentava o resto do corpo todo porque não podia, nem queria, tocar com a mão no chão.

página 71 Barcelona Shuffle


O Romeu, para arranjar patrocínio da pastelaria em Barcelona, apostou com o dono este ollie à primeira

Planeei ir ver a final do Street League e por isso não fui nos dias de eliminatórias. No entanto, como esta viagem estava completamente em modo shuffle, no dia da final do Street League, mesmo quando eu estava a preparar-me para ir para lá, o Roskof liga-me a dizer que está a haver um evento brutal da Converse perto do porto de mar e era fixe ir lá tirar umas fotos... e pronto, não houve Street League para ninguém. Mas sinceramente, que se foda o Street League. O evento da Converse foi sempre a partir tudo! Num dos hostels, conhecemos uma miúda americana que ia para o Nepal e que estava a tomar uma data de coisas para se proteger contra as doenças comuns de lá... precisava de tomar uma vacina e pediu-nos a nós para lha darmos. Mau resultado. E não vê que fotografia não tem nada a ver com enfermagem? Acabei por lhe entornar a vacina pelo braço abaixo, ou seja, deitar-lhe 70€ fora. Mas pronto, quero continuar a pensar que o que conta é a intenção. O Romeo arranjou logo patrocínio de uma pastelaria, o Jorginho, que tem patrocínio do Metro de Barcelona, transformou-nos logo em patrocinados também... conhecemos pessoal altamente nos hostels, como por exemplo o Tony, de África do Sul, que quando deixava um pacote de leite no frigorifico, escrevia o seu nome em todas as faces do pacote, ou seja, 6 vezes o nome dele escrito num pacote de leite, e o Perro, um amigo que o Romeo fez em Madrid, amigo do qual ele não sabe o nome verdadeiro. Quando estávamos

2013


a ir para Barceloneta vimos o making of do que provavelmente vai ser o pior videoclip de sempre, que incluía um anão com óculos fluorescentes. Descobrimos que está na moda ser vendedor de droga e de guarda-chuvas ao mesmo tempo, pois num dia de chuva, um senhor abordou-nos com a seguinte pergunta: “Paraguas?” Ao que nós respondemos: “No, gracias”. E aí ele fez a sua pergunta de recurso, muito famosa em Barcelona: “Maria, Hash, Coke?”. Todos estes acontecimentos completamente aleatórios fizeram desta viagem uma semana bastante estranha, mas mesmo muito boa! O skate podia ter sido mais, se não fosse a chuva e, no meu caso, ter espetado um calhau na mão. Mas mesmo assim, ainda se deram muitas manobras e a diversão, essa, como em qualquer viagem com pessoal do skate, foi sempre em quantidades industriais. No caminho para este 360 flip por cima do rail, o Raphael Alves deu um dos maiores tralhos que alguma vez vimos... rua a descer e um bocado de alcatrão em falta… 5 metros a voar para aterrar de cabeça… mesmo assim está aqui a manobra… respect!

página 73 Barcelona Shuffle


texto e fotografia LuĂ­s Moreira

2013

Afonso Nery bs 270 lip CAR@#$O!


Jorge Simões feeble a caminho do tri...

Já passaram uns anos desde a última vez que fui a uma etapa do Circuito Nacional de skate e se têm sido todas tão animadas como esta última é caso para dizer que tenho andado mesmo a dormir. Desta vez a ida ao campeonato foi muito facilitada, pelo menos ao pessoal do Porto e arredores, já que a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim disponibilizou um autocarro para levar e trazer gratuitamente todos os que quisessem ir. O novo formato competitivo que o Radical Skate Clube adotou para este Nacional deixou o pessoal bastante animado e com muita pica. Tem algumas semelhanças com o Street League, cuja avaliação tem em conta as runs, como é habitual, e uma prova em que cada skater tem 6 tentativas para dar as suas 3 melhores manobras numa determinada secção do skate parque. No dia das eliminatórias, apesar de ter havido boas manobras, os skaters das várias categorias optaram por não arriscar muito nas runs, para pontuarem o suficiente para passar às finais. À noite fomos dar uma volta até ao centro da cidade e ainda houve umas grades de minis para distribuir pelo pessoal... o momento mais engraçado e insólito da noite para mim (e acredito que para a maioria das muitas pessoas que lá estavam) foi quando o Diogo Miranda e o Rafael Loureiro passaram rua abaixo a correr completamente nus e apenas com uma t-shirt enrolada à volta da cabeça para não serem reconhecidos. Peço desculpa mas acabei de vos chibar!! Quando chegou a hora de regressar a casa, a maioria como não tinha casa, regressou, naturalmente, ao skate parque. Montaram as tendas ou estenderam os sacos-cama no chão e, entre grelhadores, hambúrgueres, e, tanto quanto sei, até uma sessão de skate nudista, nada faltou para animar o pessoal.

página 75


2013


tão lindos!

Quando às 10 da manhã cheguei ao skate parque, o cenário não se parecia nada com o do dia anterior nem com o de uma final de campeonato. Alguns ainda estavam a dormir, outros andavam a vaguear e estava um tempo bastante cinzento. Mas tudo mudou mal o sol começou a aparecer. O pessoal saltou todo dos sacos-cama, os que estavam a vaguear começaram a skatar com força, o Afonso Nery em cinco minutos deu um bigspin fs boardslide no corrimão do double set e logo a seguir, à segunda tentativa, deu um grande bs 270 para lipslide que deixou toda a gente de boca aberta, inclusive ele próprio! As runs dos Iniciados tiveram um nível bastante bom. Destaque para o Tomás Canha que, depois de dar um “granda malho” de costelas no curb e prestes a desistir da run, continuou a andar e levou o segundo lugar para casa. O skater com a run mais consistente foi o Telmo Antunes, que arrecadou o primeiro lugar da categoria nesta primeira etapa. Na categoria Amador o primeiro lugar foi para o Aníbal Martins, que para além de ter feito uma run muito consistente e com muito boas manobras, andou muito bem na fase das secções. O Jorge Simões levou mais uma vez para casa o primeiro lugar na categoria Pro com uma run bastante consistente e variada e com alguns enganos felizes pelo meio. Na fase das secções optou por não arriscar muito e deu manobras seguras... e pelos vistos a estratégia resultou. O Duarte Pombo também andou muito bem e apostou nos bangers no corrimão e no curb do double set... esteve quase a acertar um flip fs fifty no corrimão a descer, que não sei se não teria dado a volta ao resultado. No geral houve runs muito sólidas, mas parou tudo quando o Pedro Roseiro rebentou com o Red Bull Best Trick ao dar um flip absurdo para o bank. Foi, sem dúvida, o grande momento do dia para mim... aliás, fiquei parvo quando vi que ele não gostou muito da forma como deu e foi dar uma segunda vez. O Bruno Senra também fez das suas e deu um grande fs flip para disaster. E esteve muito perto de dar um incrível fs flip para noseblunt. O Toni deu um nollie bigspin bs disaster com muito estilo, mas o Roseiro não deixou dúvidas! Que venha a próxima...

Pedro Roseiro flip para o bank€

página 77 DC Skate Challenge Viseu




2013


fotografia Luís Colaço

ASKA 23 ANOS DE SKATE EM ALMADA O SONHO COMANDA A VIDA

“Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos motivados possa mudar o mundo. Na verdade, foi sempre assim que o mundo mudou!” – Margaret Mead A criação da Associação de Skate de Almada faz bem jus ao mote acima. Quando, em finais dos anos 80 do século passado, um grupo de amigos começou a dar-se, à volta de uma paixão comum chamada skate, nenhum pensou nas consequências dessa paixão e dessa amizade. As coisas foram acontecendo, sem que nos apercebêssemos... as tardes nos “pátios do M. Bica” traziam cada vez mais gente ao nosso spot favorito e a vida dos moradores desses prédios transformava-se num inferno sonoro cada vez maior... as queixas começaram a ser cada vez mais frequentes e a necessidade de arranjar um espaço próprio tornou-se imperativa! Aliada a uma vontade de também organizar eventos, surgiu a necessidade de se criar uma “figura jurídica” para abarcar este enorme grupo e... nada melhor do que uma associação para o efeito!... mas falar é fácil!... e fazer?!... criar uma associação?... e as chatices que isso dá?!... as burocracias?!... bem, a realidade é que, entre os mais velhos, lá arranjámos a paciência necessária e uns estatutos “emprestados” para adaptar, angariámos o dinheiro necessário para pagar a escritura e, em janeiro de 1990, a ASKA nascia oficialmente! Lembro-me que, para além de mim, do Bruno Tirapicos, do Roka, do professor Rui Castro Lobo e do seu amigo Faísca, não havia mais elementos do grupo maiores de idade, por isso tivemos de recorrer aos pais, irmãos, namoradas e amigos... mas fez-se! E a verdade é que, a partir daí, tudo ficou mais fácil na relação com entidades oficiais, com a Câmara Municipal de Almada à cabeça, a acarinhar e até ajudar a ASKA a organizar eventos, criar oportunidades e desenvolver projetos, sobretudo no concelho. O melhor exemplo disso é a construção do Bruno’s Skateparque, só possível pela existência de uma associação oficial, para além de uma insistência e movimentação sem precedentes desse grupo de amigos junto da Presidente da Câmara, que abraçou e transformou esse sonho de uma “cambada de putos” em realidade... bem haja! Deu trabalho?... claro que sim!... mas valeu a pena e estou certo que voltaríamos todos a fazer o mesmo! Afinal... se não dá luta, como podemos reconhecer o sabor da vitória?!... e com isto temos a associação de skate mais antiga de Portugal, com 23 anos e a contar... de cada vez que penso nisso aflora-se-me um sorriso na cara... nem que seja pela alegria de poder dizer isto ao meu filho... e ao Paulo e à Dulce Pereira, do Radical Skate Clube!... he, he, he! Boa exposição e parabéns à ASKA! Keep rolling!... Miguel Pedreira (sócio nº 4) página 81





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