SURGE Skateboard Magazine, issue 23rd: "Toniglota, o Poliglota"

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Toni Live to skate Ordos entrevista

Uma vida em exposição

Uma cidade só para ti 2013

Número 23 - novembro/dezembro

Bimestral

Distribuição gratuita



AURA S.A. - 212 138 500





geral@nautisurf.com




panorâmica Ah, é verdade, existe uma indústria do skate! Sabiam que existe uma indústria do skate em Portugal? Não?… se calhar suspeitavam, mas nunca ninguém vos tinha dito. Sim, existe. E apesar de, quando comparada com a mega, espetacular, espampanante e glamourosa indústria do Surf, ser classificada por muitos como insignificante, a verdade é que temos mais força do que muitos pensam e só não somos mais fortes porque realmente não queremos… ou não sabemos como trabalhar para isso. Um dos exemplos disto é a relação entre os patrocinados de skate em Portugal e os seus patrocinadores. Se andas de skate, se tens amigos skaters ou frequentas skate parques, de certeza que já ouviste o clássico “epá, o meu patrocinador não me envia material”, “não tenho ténis”, “não tenho tábuas”... a lista de queixas chegava para cobrir a A1, de Lisboa ao Porto. Do outro lado da barricada tens as marcas, os distribuidores e agentes, também com as suas queixas, “farto-me de dar material e nem me enviam nada, nem vídeos, nem fotos”, “não sei o que é feito deles”, “combinamos x material para o ano e em 3 meses já o levaram todo” …e a lista continua em ambos os lados das trincheiras. E enquanto skaters e marcas andam distraídas com estes fait-divers, existem marcas de outros ramos que aproveitam ao máximo e potenciam a magia do nosso desporto. Não é à toa que o skate aparece em anúncios de grandes marcas e quase sempre ligado à inovação. Eles sabem que o skate e tudo o que está à sua volta exercem na juventude, e não só, algo de magnético. Ah pois, também não sabiam? Agora, skate também já não é só para miúdos. Trintões, quarentões e até já alguns cinquentões são vistos de tábuas nos pés por esse Portugal fora.

Certamente haverá algumas das queixas de ambos os lados que são fundamentadas, mas a razão pela qual nunca são verdadeiramente resolvidas é porque muito pouca gente leva a sério o que anda a fazer. “Ora vamos lá ver, meto umas fotos do material que recebi na net e já trabalhei que chegue para a marca este mês”… já ouvi muitos patrocinados com esta conversa, ou então, como também está muito na moda, “faço um vídeo de sobras” ou “leftovers”, como lhes chamam… claro que se esquecem é de filmar à séria, para um trabalho com qualidade… pois, trabalhar dá trabalho. Do outro lado, claro que também têm coisas mais importantes para fazer do que estar sempre em cima dos seus skaters. Ou, se vendem 10 não podem oferecer 20, afinal estamos em crise e para manter uma empresa aberta e pagar salários hoje em dia no nosso país não é pêra doce. Enquanto isso, continuamos a dar o melhor de nós a outros. É certo que também há muita coisa boa, a indústria do skate não se resume a esta relação, aliás, o skate é vasto, engloba tanta coisa que é impossível descrever tudo aqui... mas também é um estilo de vida, com todas as dificuldades e alegrias daí resultantes. A indústria existe, podes não querer fazer parte dela, mas ela vai sempre fazer parte do skate. Pedro Raimundo “Roskof”

ilustração Luís Cruz

2013



Pogo

Equilíbrio

Toni

Live to skate

Polacos e portugueses à guerra na autoestrada? Não se preocupem, é apenas mais uma tour de skate. Se consegue falar 10 minutos sobre uma pedra da calçada, imaginem numa entrevista inteira

Primeiro Foco

Taveira, o skater, não o maroto!

Em Coimbra a única praxe de jeito é mesmo dropar pela primeira vez a nova mini-rampa da cidade Várias paredes com a história do skate português e mundial, queres melhor?

Ordos

Thaynan Costa e amigos tomaram conta de uma cidade. Literalmente.

O.G. de Souza

Pernas para quê? Skate sente-se no coração

Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127 Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com Publicidade: pub@surgeskateboard.com

2013

Colaboradores: Rui Colaço, João Mascarenhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela.

Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais.

Tiragem Média: 8 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal

fotografia Luís Moreira

www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros Capa: Como é que será classificado em termos geológicos este front-board pop-out do Toni?… uma preciosidade?

O que para muitos é apenas um buraco, para um skater pode ser muito mais. fotografia Renato Lainho



fotografia Luís Colaço

Dr. Mankate drmankate@surgeskateboard.com

2013


O skate e o racismo. O que será que estes dois temas têm a ver um com o outro? Nada. Absolutamente nada. Nadinha! Então mas se nada têm a ver, porque será que estou a escrever sobre isso? Por isso mesmo! O skate não alinha com o racismo. Não vai nisso. Não lhe liga nenhuma. Não lhe dá importância. Nem fala sobre esse assunto. Para o skate, não existe. É um facto! Há muitos anos atrás, ainda no século passado, o skate começou a dar-me as primeiras lições de vida. Sem me aperceber, lá estava ele a ensinar-me, todos os dias. O meu primeiro companheiro do skate, aquele que eu ia chamar a casa para vir andar, era cigano. Cigano puro! Andava de skate com sapatos e sem lixa na tábua. Ele era uma comédia. Muito nos divertimos. Com o passar do tempo ele deixou de andar e eu continuei. Já tinha o vício no corpo, não conseguia parar. Mas a amizade ficou, apesar de cada um seguir o seu caminho. Ainda hoje, quando nos cruzamos na rua, ficamos à conversa a recordar aqueles tempos. Racismo nessa altura existia. Mas eu sabia lá o que era isso. Ainda hoje não sei. Sou como o skate... não lhe ligo nenhuma. Certamente existirão desportos onde o racismo não existe. Mas não são muitos. Vejamos, por exemplo, o futebol. O desporto rei para a grande maioria dos habitantes do nosso planeta. Quase todas as claques têm movimentos nazis. Quase todos os meses o racismo vem à baila. É comum atirar-se bananas para dentro do relvado, com o intuito de gozar e espezinhar jogadores pretos! Por esta altura do texto, vocês devem estar a pensar...”Dr. Manka-te, estavas a ir bem, mas acabaste de escrever preto e não negro! Má onda, a tua! Já borraste a pintura toda!” Não, meus amigos! Eu digo preto! Sempre disse. Custa-me dizer negro. A mim, negro soa-me a racista. Sei lá. Até pode ser paranoia minha, mas não gosto nada de ouvir chamar negros aos pretos. Eu sou branco. Eles são pretos. Simples! Tenho muitos amigos pretos. Cresci com uma montanha deles. Estupidamente, ou talvez não, nunca discutimos este assunto, do negro ou preto. Talvez porque nos tratávamos pelos nomes. Não por preto ou branco. Talvez por isso, não sei bem. Sei que em Portugal se chamam os pretos de negros. Acho que foi a forma educada e simpática que a sociedade arranjou para tratar os pretos. A mim parece-me racista. Não me soa bem... Na América, por exemplo, um preto é chamado de black man e um branco de white man. Não é simples? A mim parece-me que sim. Nigger ou Nigga já é ofensivo... Aqui é ao contrário... bem, esta conversa dava pano para mangas! O que é certo e para mim verdadeiramente importante é que no skate não existem estas merdas! Não são precisas campanhas contra o racismo, como acontece no dito desporto rei. Não se atiram bananas para o recinto de um campeonato de skate, quando um preto está em prova! Não existem movimentos nazis, nem nada que se assemelhe a isso... No skate, pretos, brancos, amarelos, ou azuis convivem desde sempre, lado a lado, sem nunca a palavra racismo vir à baila. No skate, racismo não é coisa do passado, nem do futuro. No skate, racismo nunca existiu. Não consigo perceber porquê. Deve haver uma explicação, já que o racismo está presente em todo o lado. Porque não no skate? Não sei a resposta. Não há respostas para tudo. Neste caso, ainda bem que é assim. Quantos desportos podem dizer o mesmo? Beijo na bunda a todos Dr. Manka-te

página 15 Dr. Manka-te


texto e fotografia Francisco Melim

Pogo Skateboards Polónia, Skate, amigos, aventura e originalidade. Eis os ingredientes para uma tour inesquecível! Cansaço, viagens de um lado para outro, música, construção, abusos, guerra de cascas de banana em plena auto-estrada, álcool e mais algumas coisas que acontecem em tour e ficam em tour!

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Andava eu com 2 desgraçados, que em vez de quererem estar sempre a skatar queriam era beber, um deles comentava comigo: - “Nós temos uma lesão no joelho, só skatamos bem e sem nos aleijarmos se bebermos...” achei estranho, mas afinal era mesmo verdade. A situação fez-me remontar, se não me engano, a 2011: fui com o Thaynan Costa, que só queria acertar os toques em troca de um Bic Mac. Neste caso, era o manager deles - o Piotr - sempre a dizer - “Vá tens 3 tentativas, se acertares dou-te uma grade de cerveja.”

2013


Estamos a ver que os polacos gostam muito de backsides. Alex, “disaster back e backsmith”

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POGO Todos os dias havia uma coisa nova a acontecer, o que incluiu estarmos chateados uns com os outros por causa da falta de material... ténis, tábuas... Pelo que se veio a perceber, o Piotr pensava que eles só iam andar de skate parque, porque 3 tábuas para cada um deles, servirem para 3 semanas de tour... complicado, digo eu! Sabem o que é ver um Polaco feito louco no meio da auto estrada a businar e às curvas porque no país dele não se pode fazer esse tipo de coisas? Eu também não sabia. E irmos num carro, e os Polacos ao nosso lado a tentarem mandar latas de cerveja para dentro da nossa viatura, no meio da auto-estrada?.... e esta interação entre dois carros também incluiu fazer uma espécie de guerra de cascas de banana, no meio do trânsito...

Ao contrário de muitas esquinas por essas cidades fora, esta, na cerâmica, é sempre bem frequentada. João Allen, Miller Flip transfer

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Mikolaj blunt fake

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Como disse, havia sempre algo diferente todos os dias com que nos podíamos rir! Chorar a rir! O melhor mesmo é que também houve skate, muito e do bom... isso fez desta, uma tour inigualável.

Depois de arranjar a maior parte dos spots onde skatou, o Mikolaj foi até à Expo para dar este backside boneless. Podia ter ficado mais um tempo por cá e restaurado, também, este skate parque. Já merecia uma remodelação...

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página 22 Anti-estático


Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com


Um dia destes o Miguel, de Coimbra, ligou-me para se encontrar comigo. Queria umas dicas para fazer uma míni rampa. Explicou-me a ideia, o espaço e o conceito da coisa. Disponibilizei-me de imediato, pois não é todos os dias que podemos realizar os sonhos de um amigo. O Miguel é um dos skaters mais velhos da cidade do Mondego. Trabalhou alguns anos na skateshop SSB e juntou-se ao Zé, que é Professor de Educação Física, para dar aulas de skate.

texto e fotografia João Sales

EQUILÍBRIO 2013


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O desafio seria construir uma míni rampa num espaço que já foi, nada mais, nada menos, que uma fábrica de pirolitos. Se não sabem o que é, perguntem aos vossos pais ou avós. Agora, no mesmo lugar que servia de banco de livros, o Miguel e o Zé investiram tudo o que tinham, de alma e coração, para o transformar no espaço físico da sua escola de skate: a Equilíbrio. Este local não servirá apenas para ensinar manobras, mas sobretudo para reunir várias gerações de skaters e amigos e para criar laços com pessoas de qualquer origem. Terá uma pequena loja para dar apoio em material técnico, com skates, protecções, calçado e alguma roupa. A dinâmica será uma constante, entre aulas, workshops, exposições, projeções de vídeo e tudo aquilo com que a criatividade puder contribuir para a evolução do skate em Coimbra. A mim, que ajudei a criar a infra-estrutura, cabe-me gritar aos sete ventos que mais um sonho se tornou realidade e que merece todo o nosso respeito e contributo para o fazer crescer e manter.

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texto e fotografia Kevin Metalier

2013


Numa cidade construída no meio do deserto, este flip do Antony Lopez parece uma miragem. Será?

Lembram-se do Tony Hawk Pro Skater 1? Aquele que deu nome à saga e com o qual se passava horas só a ver a demo que vinha com a playstation? Lembram-se da alegria de controlar um boneco 3D numa vila deserta, com spots perfeitos por todo o lado, onde se pode levar o skater em manual no meio da estrada quilómetros a fio? Bom, depois fizeram o Tony Howk 2, 3, 8, 35, 865, aí é que deu merda. Ainda por cima com a saída do GTA, em que se atropelava transeuntes! Tenho que admitir que também não estava mal esgalhado! Tudo isto para dizer-vos que acabámos de descobrir o “fantasma” que persegue qualquer skater que se preze. É um novo nível secreto do Tony Hawk Pro Skater, existe apenas na China, mas é bem real e chama-se Ordos! Com a participação de Antony Lopez, Korahn Gayle, Alex Mizurov, Thaynan Costa, Daniel Pennemann e eu próprio.

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LONGE DE TUDO Que périplo! Carro, avião, avião, autocarro, avião, táxis, terminais, estações, aeroportos... são pelo menos 24 horas para chegar a Ordos. Quando chegámos parecia que estava tudo a dormir, o aeroporto estava vazio, nem um gato mexia, nada. Pelo menos não havia filas para apanhar um táxi. Só não conseguimos livrar-nos da “intrujice” de boas vindas, típica dos taxistas... fizemos primeiro a volta à China, antes de chegar ao destino... está longe de ser a última vez que isto me acontece, mas deixei de lutar contra isso... agora baixo as calças e lanço um sorriso! Que bom!

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JING JANG***** De vez em quando há na vida escolhas difíceis de fazer e estávamos perante uma dessas situações... duas possibilidades se nos ofereciam: dormir num hotel de 5 estrelas ou dormir num outro hotel de 5 estrelas. A vida é dura, não é? A verdade é que normalmente transformamo-nos em puzzle humano em casa de algum skater porreiro que, gentilmente, nos cede um pedaço de chão. De resto, eu por norma acabo com a cabeça encostada aos azulejos da cozinha. Neste caso, queria parecer-me que isso não ia acontecer! Cada um de nós tinha a sua cama king size e três almofadas gigantes, que fariam hibernar qualquer gajo com insónias. Tínhamos um ecrã gigante que dominava a suite, um painel digital para escolher o ambiente que queríamos no quarto, uma segunda tv em frente da banheira e um telefone na casa de banho para poder passar as “chamadas de negócios” ao mesmo tempo que “despachamos a mercadoria”. O Kèv ainda conseguiu treinar os seus dotes graças ao piano de cauda que estava num hall gigante mesmo ao lado da cascata... não sei se estão a ver? E quase me esquecia do “pequeno”-almoço, um buffet gigantesco que reunia o repertório completo dos diferentes pequenos-almoços disponíveis no planeta Terra. Convém lembrar que estamos no interior da China e que não há nada ali à volta num raio de quilómetros, exceto erva e rochedos.

Daniel Panenmam, flip com pop de cavalo da Mongólia. Lá está…deve ser algo local.

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APRESENTAÇÃO Antony Lopez: a representar tudo o que é à base de bonés New Era, o Ghetto-rap e as calças baggy; Korahn Gayle: a representar a parte afro dos anos 80, garrafas de whisky e braços de ferro; Alex Mizurov: tábua nova, a mala bem recheada; Thaynan Costa: ocupa-se da imagem do Brasil, de morfar Big Macs no Mac da esquina e de traumatizar os rails; Daniel Pannemann: especialista em precisão alemã, uma entrada em cena impecável, um pop de cavalo... mas esta criança é irrepreensível? NÃO HÁ MULTIDÃO Ao que parece, Ordos conta 300 000 habitantes? Basta-nos espreitar pela janela para perceber que estes números devem estar insuflados! Foram raros os transeuntes com que nos cruzámos nesta vila. Florestas de arranha-céus, centros comerciais, parques gigantes, todos completamente vazios! De tal maneira não há ninguém, que à meia-noite e de uma assentada só apagam-se todas as luzes públicas. Portanto, se fores passear o cão em Ordos, leva uma lanterna... pode dar jeito. Na realidade, as únicas pessoas que aqui vivem são os varredores e a malta das obras, que se mata a construir novos edifícios. O PARAÍSO DO SKATE Ordos reúne todos os parâmetros para que haja grandes sessões de skate todos os dias. Para começar, estão entre 20 a 24º - Ótimo -, estamos em pleno deserto, logo o tempo é seco, todos os spots são em mármore, as praças são gigantes, perfeitas para quaisquer combinações de manual. Depois, as únicas pessoas com que te cruzas não conhecem o skate, pelo que o simples facto de dares uns flips fá-las desmancharem-se a rir. Graças a isso pudemos skatar um bank durante duas horas, tomando balanço desde o interior dos escritórios e com o segurança a segurar-nos a porta. Por outro lado, desloquei o tornozelo, o que me valeu o prazer de descobrir a vila em cadeira de rodas (ora aí está algo que não existe no Tony Hawk).

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PARTY TIME Há uma jovem que nos aborda com um flyer de uma “soirée rock n’roll tour” no bar que fica mesmo por trás do hotel, aliás, o único bar em toda a vila. Como quiseram criar um ambiente “alternativo”, colaram uns autocolantes, puseram uma bandeira francesa a esconder as casas de banho, uma rede de pesca agarrada ao muro, e já está! Pequeno aviso à navegação: quando estás na China deves, obrigatoriamente, beber o teu copo de penalti... e este aviso pode evitar-te que tenhas quer virar o copo num só golo, ou pior, beber bagaço de arroz chinês. Tão forte que 3 gotas são o suficiente para decapar um forno de restaurante que nunca tenha sido limpo. Quanto mais a noite avança, mais o bar se torna problemático. Um homem com uma bela barriga aproxima-se para brindar connosco. Chega-se ao pé de mim, estende-me a mão e, numa infelicidade do destino, os seus testículos vêm repousar nos meus joelhos. São coisas que acontecem. Acontece que este gentilhomem é também o patrão do hotel, a rapariga do bar, coincidentemente, é sua filha, o pianista da banda é seu filho, enfim, esta noite foi uma festa em família. Não pagámos uma cerveja ou um whisky... somos os únicos clientes, mas isso é irrelevante, eles teimam em pagar-nos a noite. O cenário é mesmo à chinesa... humm... caras não muito expressivas, uma secretária, um som de karaoke que se ouve em fundo. Até o baterista está a ler uma partitura enquanto toca!

É pena que aquelas torres estejam todas vazias. Quem lá morasse teria um excelente ângulo deste backside noseblunt do Koranh Gayle

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JEREMY HUGUES, O NOSSO CÂMARA Vir à China com o Jeremy é ter a certeza de que não passamos despercebidos. Primeiro, os caras-pálidas não abundam em Ordos (não vi a sombra de um ao longo de 15 dias). Então ruivo, de cabelo encaracolado e com uma grande barba, imaginem... apenas por passar provocava risadas nas ruas. No SPA a mesma coisa (sim, tivemos direito a massagem chinesa todos os dias), a massagista não resistia a tocar os seus cabelos e as suas pestanas. Delirava. E a mesma coisa acontecia com o Korahn e o seu cabelo em corte de vassoura. MADE IN CHINA A Vila está feita à imagem do “savoir-faire” chinês. Por vezes as ruas aparentam ser maquetas miniatura, mas em grande... não sei se estão a ver a imagem? No exterior tudo é belo... mas é mesmo só no exterior. É tudo meio falso, falsificado, inspiram-se em decors muito nobres mas depois aquilo é tudo descartável... aqui os spots acabam por ser tipo pastilha elástica, “mastiga e deita fora”. O Thaynan partiu pelo menos 3 rails durante a nossa estadia. Estou em crer que, aqui, se correres com muita genica consegues atravessar os muros... mas, enfim, essa é a minha interpretação da coisa. Pequeno parêntesis que não tem nada a ver com o resto: comer um prato de esparguete com pauzinhos é uma cena tão irritante, que todos os dias pensávamos que ainda bem que houve alguém com clarividência suficiente para inventar o garfo. E pronto, é isto. OS CHINESES Todos os dias é uma luta para nos entendermos. Qualquer pequeno pedido é uma eternidade para nos perceberem. E a comunicação por gestos é tão diferente, que é extremamente fácil entrar em desespero. Chega mesmo a ser bizarro! Numa das vezes entrámos no táxi, com 50 quilos de bagagem, o Kèv imita um avião – com o corpanzil que tem, que é mesmo propício a isso –; o Jeremy mostra-lhe o logótipo do vídeo da Cliché, “Bon Voyage”, que não é mais do que um avião gigante; e não é que o gajo não percebeu para onde é que queríamos ir? É de arrancar cabelos! A comunicação dos chineses é mesmo uma cena só deles. Resultado: quase perdemos o nosso voo de regresso a Pequim. Dito isto, os chineses são adoráveis, sempre sorridentes e prontos a ajudar – dentro das suas possibilidades. O PASSATEMPO DO DANIEL O seu passatempo favorito durante a nossa estadia era esconder-se por trás do ecrã do computador da rececionista por volta das 3 da manhã e esperar até que a pobre começasse a passar pelas brasas em frente ao computador, para lhe gritar os bons dias e quase matá-la de susto. Ahhaha É muito engraçado, o nosso Daniel.

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Com massagens no SPA todos os dias, também nós dávamos frontsides 360 assim por cima dos corrimões… ou isso, ou se fossemos o Alex Mizurov página 35

Depois de ter partido 3 corrimões nos dias anteriores, o Thaynan decidiu saltar por cima deles. Frontside flip na hora de ponta do Banco.


Este foi o único corrimão que o Thaynan conseguiu skatar sem partir. Frontblunt

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ORDOS PARA A MALTA QUE NÃO SKATA Ora, aí é que a porca torce o rabo. Sem skate, sem falar chinês, se for em pleno inverno com -30º, não vos vamos mentir, é claramente menos interessante. Na verdade é meio caminho andado para uma depressão nervosa. Ainda mais sabendo que o Google, o Youtube e o Facebook estão censurados e que estamos no meio do deserto... arriscamos dizer que o tempo era capaz de passar devagar. Excepto, claro, no caso de serem arquitectos. Aí estão na vossa praia. Rabiscam qualquer coisinha num guardanapo de papel, entregam a um construtor civil e, garanto-vos, dentro de três anos está feito! Bom, vou deixar-vos, vou aproveitar para ir ao karaoke, comer amendoins chineses... isso, sim, vai relaxar-me.

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entrevista Luís Moreira fotografia Renato Laínho e Luís Moreira

Basta passar dez minutos com o Toni para perceber que ele nunca se cala. Consegue fazer uma descrição de dez minutos sobre uma pedra que fez encravar o seu skate numa descida. Vai mais longe do que isso, até. Consegue começar uma conversa com uma pessoa e a meio dessa conversa trocar de interlocutor sem que o último faça a mínima ideia de que é que ele está a falar. O Toni não se importa, desde que tenha alguém a ouvir, quer dizer, mesmo que não tenha ninguém a ouvir, desde que possa falar, está tudo bem. Quando chega a hora de skatar a sua pica consegue superar a sua vontade de falar. Com um skate muito enérgico e espontâneo, o Toni consegue ver spots em tudo que é esquina e skata-os com uma garra incrível. Mas pronto, é melhor deixar a conversa para o Toni, que disso ele tem de sobra!

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“Toniglota” é o verdadeiro poliglota, cinquenta-cinquenta de parte de trás ou como ele diz, backside 50-50

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Idade, tempo de skate, patrocínios e skaters preferidos. 25 anos; 12 anos de skate; Kate Skateshop, C1rca Shoes, Clandestina Skateboards, Yellowood; Daweon Song, “Brandão Portão do Oeste” (Brandon Westgate), David Gravette, Jorge Simões, Tiago Oliveira, Luan de Oliveira, Bob Burnquist, David Gonzalez e Gramt Taylor. Como é que o skate apareceu na tua vida? Com cerca de 5 anos, ganhei um skate como primeiro prémio numa coleção de autocolantes de micro machines, e nessa altura foi algo a qual me agarrei imenso. Embora fosse apenas mais um brinquedo, eu já gostava imenso pois era “aquele brinquedo”. Então, bem melhor do que um carrinho de rolamentos na altura. Entretanto, vi os primeiros vídeos de skate no jogo “Tony Hawk’s Pro Skater 2”. Mais tarde, quando vi o Almost Round 3 fiquei fascinado ao ver o Daweon Song. Aquela parte é incrível e até hoje, esse “ninja” (como eu lhe chamo) nunca me dececionou. Continua a ser o meu skater favorito e grande fonte de inspiração.

O Toni no Porto é tão respeitado que até fecham ruas para que ele possa dar swicth ollies de um lado para o outro... respect!

Conta lá como é que surgiu a tua alcunha Toniglota Para não se tornar aborrecido, vou ser sucinto: N’O Marisquiño’, em Vigo, depois de um jantar low cost, provavelmente “à grande e à Portuguesa”, fomos todos em “manada” até às xurrucas, local da “fiesta loca”, e depois de uns copos a mais, e o já nosso conhecido ambiente frenético, típico desta zona durante o fim de semana, o pessoal começa uma hip-hop session e entre improvisos surgiu esse personagem… eheheh Resumindo: Eu, aparentemente a sentir a cena, represented in several languages. So after that solo me querian llamar toniglota! Penso que foi assim…

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Esta sequência de um 50-50 pop-out está tão bem montada como os macramés do Toni

”Ela já só me queria.” Faz uma análise detalhada desta frase. Portanto, “Ela” refere-se a um elemento do sexo feminino. “já” refere-se ao momento em questão. “só” depois de conjugado com os demais “me queria” formula a parte do “só me queria” que, por sua vez, se refere ao facto de “Ela” apenas me querer (a mim). Isto tudo, apenas porque olhou para mim com o chamado “Olhar 21” (gírias brasileiras), que é como quem diz “ah e tal já só te quero!” eheheh Epá, sou convencido, admito… mas há coisas que têm mais piada entre amigos e, de pequenos defeitos (ou feitios), o pessoal faz a festa à mesma. Como é que surgiu essa tua panca pelos macramés? Desde pequenino que, entre viagens de lés a lés neste país, com a minha mãe e irmã, ficava a ver os “gypsis” que faziam peças de mil e um feitios. De acampamento em acampamento fui vendo mais arte e, sendo algo que sempre me fascinou, fui aprendendo umas coisas… afinal de contas sempre gostei de dar presentes com mais significado, isto é, feitos por mim próprio. Sempre convivi com pessoal de artes durante o meu ensino secundário e, mais tarde,

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em estudos de faculdade no Brasil acabei por trocar conhecimento, pela aprendizagem de dois ou três nós que até então desconhecia… a partir daí foi sempre a dar nós. É algo que me dá gozo fazer e ainda ganho uns trocos… eheheh Fala-me um pouco da tua carreira de judo. Porque é que deixaste? O judo foi dando lugar, a pouco e pouco, ao skate. O judo é algo que fez parte da minha vida durante muito tempo e, de certa forma, continua a fazer. É uma forma de estar acima de tudo e representa para mim muitos ensinamentos para uma vida mais tranquila. O que é que andas a fazer em termos académicos e/ou profissionais? Sou licenciado em Geologia. De momento estou à procura de emprego, quer na área, quer fora da mesma. Estou a pensar emigrar, pois vejo este país cada vez pior para quem tem vontade de fazer acontecer e não vê meios, mas isso “são outros quinhentos”.

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Numa praça feita de calçada, claro que um geólogo sente-se em casa… bluntslide


Em relação ao estado do país e o seu futuro, tens alguma coisa a dizer? Acima de tudo, que tenho imenso orgulho em ser português. Contudo, não vejo este país ser levado a bom porto… nem este país, nem grande parte das políticas comerciais europeias relativas ao “Euro” e à dita “União” Europeia que veio apenas favorecer os mais espertos e, no meio disto tudo, vamos tendo uns “bons diplomatas” que falam caro e ficam bem nas fotografias com os seus fatos Armani e sapatos comprados por “balúrdios” no estrangeiro com as suas reformas vitalícias, que não lhes chegam para terem comida na mesa durante um mês inteiro… epá, isto dava panos para mangas… 2013


Ainda não encontrámos uma palavra no vocabulário do Toni do tamanho deste ollie transfer 50-50 E em relação ao skate? Achas que Portugal é um bom país para se ser skater? Comparando com alguns sítios em que vivi no Brasil, posso dizer que isto aqui é “um cantinho à beira mar plantado” no que toca à prática do skate. Em termos de arquitetura vamos tendo cada vez mais variedade de obstáculos e o skate português, e europeu claro, acaba por ser um estilo de skate muito mais criativo, consequentemente, a meu ver. Contudo, desde que haja piso para andar, bom ou mau, é uma sensação ótima poder andar de um lado para o outro com o skate. Além de ser algo de que não abdico, é um bom meio de transporte e “faz bem à saúde” eheheh página 45


Achas que as marcas em Portugal podiam ajudar mais os skaters a evoluirem? Se sim, como? Sim. Ora bem... a meu ver o mercado de skate em Portugal tende a começar a ser bem trabalhado nos últimos anos, apenas. As marcas de um modo geral patrocinam os skaters com material técnico, roupa ou outros... no entanto, não se envolvem muito no espírito de equipa, salvo raras excepções. Não realizam tours, não acompanham os skaters... não investem tanto como poderiam investir. Esse investimento por vezes é visto apenas como valores dados e o chamado retorno... só que na realidade é complicado perceber que retorno dá um skater a uma marca, quer ela seja de material técnico ou de roupa, mas que é bastante quando as marcas se integram junto dos seus apoiados e criam uma equipa sólida e com um bom espírito familiar. Quando assim é as coisas tendem a funcionar, porque num barco, se remar um para cada lado o mesmo não sai do sítio, fica só às voltas... relativamente aos meus patrocinadores não me posso queixar... todos eles me apoiam como deve ser. Deixo um agradecimento especial, desde já, à Kate SkateShop, C1rca, Clandestina Skateboards, Yellowood e à MuckeFuck Wheels, que recentemente aceitaram patrocinar-me também.

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Como é que surgiu essa ida ao Brasil? O que andaste a fazer por lá? (Epah fui para lá por causa do turismo sexual, não se vê logo???) eheheh Viajei para o Brasil (Rio Grande do Norte) com a finalidade de estudar um semestre num país longe de casa (risos). Porém, este não foi o meu principal objectivo... o Brasil, como a grande maioria das pessoas hoje dia terá noção, é um país de grandes oportunidades e, no meu caso, enquanto estudante de Geologia tornou-se uma grande mais-valia. Pois além de É claro que o Toni veio do ser um país naturalmente abençoado com as mais belas e variadas paisagens, é um país judo para o skate! Vejam lá geologicamente riquíssimo. Desde recursos metálicos, como o ferro (sendo um dos maiores bem este kick no no-comply exportadores mundiais) passando pela exploração de minerais com a finalidade de venda como matéria-prima para a posterior lapidação como jóias, até aos recursos renováveis... para não falar da língua, que por si só já ajuda imenso, claro. Em suma, o Brasil tem imensos recursos... é daí que advém o seu poder económico junto dos seus parceiros externos.


O Toni não anda calçado de Armani, mas mexe os pés como qualquer dançarino de classe, nosemanual para backside noseblunt página 47


Tendo em conta o clima de austeridade extrema para o qual nos empurram diariamente, como é que vês a construção de skate parques gigantes, como o do Parque das Gerações? Enquanto cidadão, achas que é dinheiro bem gasto? Muito sucintamente, acho preferível investir em obras desse género, dedicadas ao desporto, do que apenas meter ao bolso com auto-estradas, carros blindados, submarinos, fogo-deartifício, estádios de futebol (que nunca atingiram a sua lotação, por exemplo), entre muitos outros exemplos de dinheiro público mal gasto, que poderia dar. Resta agora às autarquias locais em questão, junto dos entendidos da matéria, claro, unirem esforços no sentido de aumentar o número de adeptos desta modalidade, que tende a ser cada vez maior em Portugal. Devem ser criados eventos de modo a dar dinâmica à coisa, por assim dizer, que consequentemente poderá tornar-se sustentável. A existência de lojas, escolas de skate, concertos... ou seja, uma agenda cultural relacionada com a cultura de skate é, a meu ver, fundamental para um bom funcionamento de uma infra-estrutura de tal envergadura...

Depois de investigação geológica no Brasil o Toni voltou trabalhado ferro de várias maneiras, drop para smith

Que música é que te dá pica para skatar? Hip-hop, Trip hop, metal, rock, e umas brasileiradas de vez em quando para animar a malta!!! eheheh Qual foi a manobra que mais te custou a dar para esta entrevista? Porquê? O backside blunt no parque Itália, pois não é um spot para skatar muitas vezes, isto é, a menos que gostem de bife. E como dá para perceber pelo “menu do spot” só há “calçada à portuguesa”!!! Quando viste o “All Eyes On” do Jorginho no The Berrics, o que é que sentiste quando ele associou o teu nome à sua vontade de começar a skatar? Acima de tudo, fiquei mesmo feliz pelo puto. Pois conheço-o desde os seus 8 anos, sensivelmente, e acompanhei toda a evolução dele e sempre tentei fazer com que ele pudesse vir skatar com o pessoal, pois ele era ainda muito novo. Vejo nele o irmão mais novo que nunca tive e sinto-me extremamente feliz por saber que eu, que nem um ollie decente sabia executar, marquei a vida dele desta maneira. Hoje em dia, além de meu amigo, e um bom amigo, é um dos meus skaters favoritos e dos que mais me motiva a dar o melhor de mim! Depois desta entrevista, o que é que vem aí? Algum vídeo para sair? Tenho andado a juntar umas filmagens, sim. Quero ter uma boa parte quando sair o filme de uma grande team e grande família, acima de tudo… Aguardem!!!

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Para um fanático da PS3, este front feeble do Tiago Pinto no mundo real não está nada mal

PRIMEIRO FOCO Ora bem, temos que começar pelo básico sobre ti... Sou o André Taveira, nasci no Porto, em 1991, comecei a skatar há 6 anos com dois amigos. Um deles deu-me um skate com a tábua estalada e descobri que era Goofy. Após esse dia, o Skate fez sempre parte de mim e da minha rotina! Acabei o 12º há cerca de um ano e desde aí só arranjei um trabalho temporário, ou seja, tem sido sempre a ripar. Então o skate foi caso de ‘’contágio-imediato’’! Como descreves aquilo que te faz ter tanta pica? Sim, o skate foi muito contagiante e, com o tempo, eu só queria aprender, evoluir e skatar mais e mais rápido. Quanto mais depressa, melhor!! Ao longo dos anos, como é que encaraste o skate? Ao longo dos anos fui pensando que é algo que quero fazer para o resto da vida. O skate, para além de ser uma ótima atividade física e maneira de viver, é um grande elo entre pessoas muito diferentes.

Hoje já é algo muito habitual skatar de manhã, à tarde, à noite, ou até os três, se o corpo aguentar. Como é um dia de skate habitual para ti? É acordar cedinho, cheio de pica para andar, comer qualquer coisa e skatar o dia todo até não dar mais, se for no skate parque, ou em street é igual. Mas uma boa transição é sempre ótima para qualquer altura de uma skatada.

Fala-me do teu estilo de skatar. Quando comecei a andar fui estudar para o Porto e a Casa da Música foi o meu spot habitual. Desde logo curti mais as transições e velocidade do que as manobras mais técnicas. Passados dois anos comecei a skatar quase sempre no skate parque da Maia, que é o lar da comunidade skater da qual faço parte. Curto variar spots e se faltarem ideias, sei que basta falar com o Renato Laínho, que ele tem sempre uma foto ou projeto em mente.

TAVEIRA entrevista e fotografia Mascarenhas

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Quais são, para ti, as melhores e piores coisas do skate? Podes ir para todo o lado sem depender de ninguém, apenas de ti, do teu skate e da meteorologia, claro! Saltar escadas, em vez de subir, grindar bancos de jardim, ripar pelo asfalto fora, até que a chuva ou um ferimento imponham um fim. Procurar spots com os amigos e encontrar coisas únicas. Combinar mega-skatadas em que somos 30 a partir um spot! O pior é estar a skatar em algum spot e ser expulso pela bófia, ou seguranças. A qualquer momento há sempre alguém pronto a causar um conflito, porque não vê as coisas da mesma maneira que nós. Neste tempo, sempre foi fácil o teu percurso como skater? No meu percurso tive bastantes pessoas que me incentivaram, ao mesmo tempo não tive muitas pessoas que me apoiaram, mas as que o fizeram foram cruciais para o meu evoluir e para nunca desistir do skate. Agradeço imenso ao Eddy, da Clandestina, a ti, ao Renato

Laínho, e aos meus pais (para eles, no início, o skate era para me magoar) – sempre que ia skatar e tinha que ligar aos meus pais, eles já sabiam o que se tinha passado, mas com o tempo aceitaram e apoiaram. Hoje em dia dizem que não vai ser o skate que me irá alimentar. Como ultrapassaste as mazelas do skate? No início tive imensos problemas com as entorses, mas com tanta pancada, lá fortaleceu. Tive um médico que estava tão farto de me ver a ir ao hospital que me engessou a perna. Curtias viver do skate, mas não tens patrocínios. Que tens a dizer sobre isto? Quando digo ‘’viver do skate’’, não me refiro a nível monetário (apesar de não descartar nunca essa distante hipótese) mas de Felicidade e Amizade, Aventuras e Auto-realização.

Em Portugal vê-se que a maior parte das marcas/ entidades interessadas por vezes em patrocinar, carecem de atitude e honestidade para conseguirem algum dia evoluir de maneira a proporcionarem melhores condições para aqueles que usam como ‘’Agentes de Marketing’’ – especificamente os skaters e os filmers.

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Quando queres mesmo dar uma manobra (seja pela razão que for) e sais do spot derrotado, sem tê-la acertado... o que sentes? O meu primeiro pensamento quando uma cena não está a sair é ‘’tenho que acreditar que consigo dar isto!’’ Às vezes é o cansaço, material partido, dores, irreflexão do próprio ato, uma buzinadela de alguém

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que ia a passar, uma simples gota de água que cai do céu seguida de muitas, ou um simples e pequeno calhau. Um gajo por vezes luta mesmo até ao fim, para sair derrotado, mas toda a raiva, desespero, mazelas, horas, ou tábuas, acabam por compensar quando somos encharcados pela real sensação de concretização quando damos a manobra!

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entrevista e fotografia Mascarenhas

Quando vi o Og pela primeira vez foi no “Skate na Veia”, mas há os que o conhecem há mais tempo e que o admiram como o verdadeiro master que é, como é o caso do meu amigo Figgy, que já o segue desde que ele começou a skatar... Acontece que, numa certa noite, num certo primeiro andar, numa conversa com o João Allen surgiu o nome de Og de Souza. E foi aí que o Allen disse: “Olhem, sabem com quem é que vou estar amanhã? Com o Og!” É claro que, naquele momento, eu e o Figgy ficámos com os olhos a brilhar. Tínhamos que ir conhecê-lo. Foi uma pequena skatada, de menos de 45 minutos, mas foi o suficiente para lhe reconhecer um grande carácter e uma personalidade cativante.

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Apresenta-te, para quem não conhece o master, Og. O meu nome é Og de Souza, ando de skate há 30 anos e tenho 38 anos de idade. Venho do Brasil, do estado de Pernanbunco de Olinda e sou um streeteiro nato, skate na veia. Quando é que o skate entrou na tua vida? Eu comecei a skatar aos 7 anos, mas aos 3 anos tive poliomielite por não ter tomado a vacina e tive paralisia... depois comecei a usar muletas, mas como o bairro onde eu vivo começou a ser alcatroado e a ter muitas estradas novas, aí eu montei um skate para mim com 7 anos de idade e até hoje eu continuo a andar de skate. O que te fez gostar tanto de skate? E vês-te como uma inspiração para outros? O que eu gosto mais do skate não é a cena de competição, tentar fazer bons resultados, ou sair nos media. Para mim o mais legal no skate é reparar que quando chego a um skate parque para andar, todo o mundo curte ver-me a andar, as minhas manobras e o jeito que eu ando... e veem que não existem barreiras, nem limites. Isso faz com que o meu skate fique cada vez mais forte. Apesar de ter já 30 anos de skate e de ser já chamado de master, eu continuo a desfrutar do skate do mesmo jeito que no início. Para mim, pegar no skate todos os dias e ir dar uma manobra já está valendo tudo. Sei que já andaste de luvas, agora já não as usas? Não, agora deixei de usar... mas comecei a usar luvas porque na minha terra o chão fica muito quente, até dá para fritar um ovo naquele chão. Mas agora já não uso luvas, gosto mais de sentir o skate directamente nas minhas mãos.

360 flip fakie enquanto os putos pensam… ”como é que ele faz aquilo?”

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Backside 5-0, literalmente com as mĂŁos na massa

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Falando agora dos teus planos... o que te fez vir visitar Portugal? É a tua primeira vez cá, certo? Sim, desta vez não passei apenas pelo aeroporto e decidi visitar Portugal, mais concretamente Lisboa... e agora estou desfrutando do skate parque de Chelas e, para ser sincero, eu não estou nada acostumado ao clima, porque na minha terra o clima é quente, eu vivo no inferno e aqui ‘ta frio pá caralho. Mas, na boa, estou achando o máximo a Lisboa, que é muito bonita e diferente do resto da Europa... até porque aqui todo o mundo fala português e é bem mais fácil comunicar com as pessoas. Queres agradecer a alguém por esta viagem a Portugal? Sim. Agradeço à Slide in e à Surge por me ter dado a oportunidade de contar um pouquinho da minha história e passar para vocês como é a minha vida... e, claro, a todos os portugueses por me terem recebido tão bem. Valeu. Skate na Veia.

Bluntfakie



O amor tem destas coisas e por causa delas podes acabar a skatar em sテュtios bem distantes de casa. Renato Aires, skater de テ考havo, num smith 180 out na margem sul do Tejo fotografia Roskof

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O Gui sacrificou um par de calças por causa deste wallride. Umas calças a menos, uma foto a mais. fotografia Renato Laínho

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Sabiam que o Tiago Oliveira é tatuador? Esta manobra dava, sem dúvida, um belo efeito tatuada num braço, switch nose manual fake 360 flip out fotografia Luís Moreira

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Com aqueles spots e aquele sol não admira que o skate seja mais fácil no Algarve… Fabio Vieira, frontside noseslide fotografia Mascarenhas

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Da última vez que tinha ido à Praça do Mac, em Almada, um pombo cagou-me nas batatas. Desta vez, vi o Kiko a dar este bluntslide transfer para noseslide… estamos a evoluir! sequência Roskof

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Enquanto os “agarrados” ao jogo aguardavam que o Casino do Estoril abrisse, o Pedro Chalabardo dava este 5-0 mesmo nas suas caras… malta, vejam, isto é que é um vício saudável! fotografia Roskof

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Como diz o Filipe Cordeiro, “as palmeiras são das melhores árvores para dar pivot-fakies. Isso e cocos” fotografia Mascarenhas

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Como qualquer miúda que se preze, a Laís também gosta de rock and roll

fotografia Mascarenhas

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Deixem-me falar um pouco sobre mim. Chamo-me Gabor Nagy, ando de skate desde ‘94 e trabalho como fotógrafo de skate há 10 anos, na Polónia. Quero contar-vos a história por trás destas duas fotos. Em ambas, o skater teve de lutar consigo próprio, com os seguranças, polícia e com a dificuldade dos spots… é mesmo assim, o skate nunca foi fácil, mas aqui na Europa de Leste as coisas são ainda um pouco mais difíceis. Estas duas fotos são de um skater português, o João Allen, que visitou a Polónia recentemente e deixou-me uma muito boa impressão, não só pelo seu skate, como também pela personalidade excecional.

texto e fotografia Gabor Nagy

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Muitos foram, poucos tentaram, João Allen foi o primeiro a skatar este spot a sério… 50-50 página 75


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A primeira imagem foi feita num forte em Gdansk. Nos anos 90 foi um local de encontro de muitos dos skaters da cidade, mas hoje em dia é apenas mais um local invadido por alcoólicos, junkies e prostitutas. O local é cercado por um fosso, sem água mas bem largo, pois foi construído para parar tanques. Para conseguirmos lá entrar tivemos de trepar por um poste até ao telhado... quando chegamos lá acima é que vimos, por debaixo de uma camada de musgo, um aviso onde estava escrito: “electricidade, perigo de morte”… logo ao lado descobrimos o caminho para chegar ao bank que queríamos skatar... “que sítio lindo, é como andar de skate em Chernobyl”, pensei eu. Para ajudar, também convém dizer que, apesar de abandonado, existem ainda câmaras de vigilância da polícia a funcionar, caso seja necessário investigar algum dos actos ilícitos ali praticados. Por isso, skatar ali poder-nos-ia custar muito dinheiro e chatices... mas como podem ver, a manobra foi dada e estamos vivos. A imagem seguinte foi feita numa universidade, às tantas da noite. Nunca ninguém tinha tentado este spot porque praticamente nem dava para ganhar balanço e, mesmo que tentasse, o corrimão era coberto, embora não de onde vens... e neste dia estava a chover… já tinha visitado este spot com diferentes teams de skaters europeus e ninguém sequer tinha tentado. O João Allen deu a manobra ao fim de poucas tentativas… é o maior!

Depois de uma autêntica batalha para chegar a este spot, o ollie para o bank do João Allen é uma vitória merecida

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texto e fotografia Roskof Se existe alguém em Portugal cujo nome é quase sinónimo de skate, essa pessoa é, certamente, o Luís Paulo, um dos pioneiros do skate nacional e figura incontornável do nosso estilo de vida, no nosso país. Poderia escrever aqui linhas e linhas sobre o Luís e de como ele influenciou e continua a marcar

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gerações de skaters portugueses, mas vamos deixar isso para outros “quinhentos”. “Live to skate” é a terceira e, até à data, a maior exposição organizada pelo Luís Paulo, baseada na sua riquíssima coleção pessoal. Patente no Museu do Desporto, é uma autêntica viagem pela história do skate, não só nacional,


Como o Luís Paulo, também nós não nos fartamos de ver estas tábuas na parede.

mas também mundial. Tenho de confessar que apesar de já ter visto várias exposições sobre skate, esta, sem sombra de dúvida, está entre as melhores, e em qualquer parte do mundo seria apreciada como eu a apreciei. Tive o privilégio de ter o Luís a explicar-me peça a peça e, com o seu talento nato para contar histórias, facilmente me perdi no tempo enquanto

recordava ou descobria factos novos sobre o skate nacional. Sabiam que nos anos 70 se fabricavam em Portugal skates quase exclusivamente para exportação? Pois, eu também não sabia. Muito menos que foi num desses skates produzidos na Fundição de Oeiras que o Luís Paulo ganhou o bicho do skate… um pé numa prancha de plástico e assim se mudou uma vida. página 79


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Mas a exposição tem mais, muito mais, desde séries inteiras de alguns dos mais famosos artistas plásticos ligados ao skate, como V.C Johnson, Sean Conover... até a artigos cedidos ao Luís por alguns dos mais famosos skaters mundiais. Todas as estéticas, todas as fases do skate, desde os primórdios até aos dias de hoje, estão representadas. Claro que a evolução do skate em Portugal também está muito bem representada e foi nesses artigos que esta mostra me tocou mais. Posso soar um bocado lamechas, mas quase me emocionei quando na secção dedicada às revistas e fanzines nacionais vi várias capas fotografadas por mim... na Toast, na Difere, na Movimento… deve ser uma daquelas coisas que nós dá quando vemos “coisas” e fotos de amigos nossos expostos num museu. Depois de dar a volta à exposição, montada na maior sala do Museu do Desporto, o Luís ainda se virou para mim e disse: “anda ali ver uma coisa”. Numa outra divisão tinha, ainda em caixas, dezenas de artigos que não tinham sido expostos por falta de espaço: fotos, trucks, tábuas, rodas, t-shirts de skate pelas quais quando era adolescente teria matado para ter... “e ainda tenho lá mais coisas em casa” – disse, de seguida. Mais do que uma exposição, “Live to Skate” é mesmo, como o próprio nome indica, uma montra para a vida, estados de espírito e história de qualquer pessoal que ande ou goste de skate, arte e desporto… se tivesse agora 12 anos, esta tarde no Museu do Desporto iria, sem dúvida, marcar a minha vida. Como já estou quase nos 40 sinto-me honrado por fazer parte de algo assim e de ter contribuído. Obrigado, Luís! “Live to skate” está em exposição no Museu Nacional do Desporto, Palácio Foz - Praça dos Restauradores, em Lisboa, das 10h às 17h, até dia 15 de Março. Entrada 2E.

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c1rcaportugal@ciabrasil.pt


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