2014
Número 27 - setembro/outubro
Bimestral
Distribuição gratuita
AURA S.A. - 212 138 500
fotografia Roskof
panorâmica Ainda bem que só havia aquela… Longe deste tempo em que chegamos a uma skateshop e só nos parece que as marcas de skate foram buscar inspiração para os gráficos aos logótipos de detergentes para a loiça, houve uma altura em que o simples facto de escolher um desenho de uma tábua podia mudar a nossa vida. Eu que o diga, que ganhei a alcunha de Roskof ainda em puto... e até ao meu filho já chamam mini-roskas. Mas, voltando ao princípio, na altura, a única loja que vendia material de skate perto da minha aldeia ficava na Nazaré, do nome dela já nem me lembro, mas assim que vi a tábua da Santa Cruz na montra, não consegui passar mais nenhuma noite descansado, nem tão pouco dei descanso até que os meus pais me comprassem a tábua. Era vermelha com uma cara bem ao estilo dos anos 80 e com umas letras garrafais a dizer Rob Roskopp. Eu não fazia a mínima ideia de quem seria, mas o gráfico era brutal e o nome tinha a sua piada, Roskopp fazia-me lembrar Roskof, aquele termo que entra no nosso vocabulário para designar algo de qualidade duvidosa ou mesmo merdosa. Passadas algumas semanas consegui convencer os meus pais a comprar-me a tábua e nunca mais me esqueço da ansiedade nos quilómetros que fizemos até à Nazaré para a ir buscar: será que já tinha sido vendida, será que ia chegar lá e voltar para casa com as mãos a abanar? Quando vi que ela ainda estava na montra... estava longe de imaginar que aquela tábua seria tão importante para a minha vida. Nesse sábado à noite a Rob Roskopp já dormiu no meu quarto. Estava ansioso por
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ir para a escola, que, na altura, era o único sítio que tínhamos com piso para andar de skate. Claro que, mal cheguei à escola com uma tábua a dizer em letras garrafais Roskopp, não demorou mais do que 2 minutos para que os meus colegas passassem de Roskopp para Roskof… que melhor desculpa para chamar nomes a um miúdo, do que quando ele se põe a jeito? Nos primeiros dias não achei piada nenhuma à alcunha que tinha ganho por causa da tábua vermelha, mas lembro-me de ter sido das primeiras vezes em que me pus a pensar naquilo que precisaria de fazer para me sentir bem com esse nome depreciativo... e com o tempo aprendi a usar isso como algo a meu favor… “então, este puto, toda a gente lhe chama Roskof e o gajo ri-se na nossa cara e ainda anda por aí todo contente de manhã à noite com o skate nos pés… como é que pode ser?” Lembro-me de chegar ao pé de colegas meus e fazer questão de lhes dizer… agora não me tratem por Pedro, mas sim por Roskof… todos riam durante os primeiros minutos, mas depois começava-me a rir eu da cara deles. Sem dúvida que o skate me ensinou muitas coisas na vida, algumas importantes, outras nem por isso, mas esta foi a primeira: não te leves a ti ou aos outros muito a sério e desfruta do que tens. E isso nunca vou esquecer… obrigado, Rob Roskopp! Pedro Raimundo “Roskof”
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Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127 Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271 Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com Publicidade: pub@surgeskateboard.com
1ºFoco Adilson Pedro
Colaboradores: Rui Colaço, João Mascarenhas, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Luís Moreira, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela.
Bem melhor que os passatempos dos programas de fim de semana na televisão, este do Fuel Tv levou dois skaters aos Estados Unidos e nem foi preciso chamadas de valor acrescentado, só mesmo uma boa skatada.
Tiragem Média: 8 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros
Geralmente o deadline para um vídeo costuma colocar os skaters entre a espada e a parede. Neste caso, para o Bruno Senra, a dias de terminar as filmagens para o vídeo da CONVERSE Ibérica, essa pressão não é nada de especial, vejam a descontracção deste backside smithgrind. fotografia Rodrigo Porogo Santos
Capa: Se há coisa que o skate não tem é glamour, é muito mais caracterizado por aquele velho cliché, “sangue, suor e lágrimas”… estas costas são de um dos melhores skaters portugueses. Queres um dia chegar ao nível dele? Não te preocupes em ser bonito, andar vestido com roupa de marca e material topo de gama… preocupa-te mais em andar de skate e, até, em ganhar gosto pelo chão. fotografia Roskof página 13
Estes putos de 15 anos já são maiores que nós e com mais pop… cuidado com eles
Oversleep
Japoneses, Tailandeses, Americanos a skatar em Portugal, a Official é, oficialmente, uma marca multicultural
Boa Vida
Retrato de um bom plano de reforma para qualquer skater e não só…
Dr. Manka-te
Mais um texto clássico, capaz de ser exposto ao lado da Odisseia de Homero ou da última edição do Almanaque “Borda de Água”
Waiting for Another Flight
Boom Vegas - Volcom Europe nos States O que acontece em Vegas fica em Vegas, o que se imprime na Surge fica impresso… ou algo assim
CONSULTÓRIO DO DR. MANKA-TE
fotografia Luis Colaço
SKATE, DROGAS E ROCK N´ROLL.
Uma coisa que sempre me fascinou foi a quantidade de malucos que vinham parar ao skate! Mas porquê? Sempre me interroguei... Qual seria o fascínio de toda aquela malta, com pinta de janados, pela tábua com 4 rodas? Nunca cheguei a uma conclusão. Não consigo entender e acho que ninguém tem uma explicação. Há coisas que não se explicam. São assim, porque são. O que é certo é que desde os primórdios do skate que isso acontece. Era raro um skater vir de uma família sólida e bem estruturada. Só os maiores variados é que andavam de skate. Personalidades completamente maradas, sempre com aquele pensamento de “que se foda tudo”. As drogas e o álcool também andavam normalmente de mão dada com o pessoal do patinete, fazendo aquela combinação bacana... Por exemplo os z-boys, grandes pioneiros do skate nos anos 70, eram uns drogados do cacete! Malucos do caralho, queriam era festa, putas e vinho verde... e skate o dia todo! Esse grupo de putos californianos dominou completamente o skate nos EUA, tornaram-se verdadeiras estrelas de rock e o seu estilo de vida terá influenciado e atraído um número infindável de loucos à cena. Os profissionais de skate nos anos 80 eram mais do mesmo. Hosoi e companhia limitada, davam na fruta como gente grande! Puta da loucura! Pânico! Caos! Lindo! Mas claro que tinha de começar a dar merda... Muitos foram os que se desgraçaram e destruíram as suas carreiras profissionais. Alguns morreram. Outros foram presos, etc... muitos estiveram apenas afastados alguns anos e conseguiram voltar, mostrando agora um profundo arrependimento por terem permitido que a vida louca lhes tirasse tanto tempo de diversão em cima de um skate. Todos reconhecem que o skate, por si só, é o mais importante de tudo! Tanto nos anos 80, 90 e ainda nos dias de hoje acontece, não com tanta regularidade, mas acontece. Hoje em dia as coisas são diferentes. Não que tenha deixado de existir um número anormal de apanhados do clima que andam de skate, mas já não são só esses que praticam o desporto mais bonito do mundo. Hoje todos andam. Desde o puto mais atinado, à miúda mais gira lá da escola... As drogas, o álcool, a festa, a loucura fazem parte do skate... como de outro desporto qualquer. Uma vez li numa entrevista do Rob Dyrdek que o que torna o skate melhor que qualquer outra coisa é que não existem regras. Ninguém te vai proibir de andar de skate porque optaste fazer um dia uma porcaria, como consumires drogas ou andares 2 meses bêbado. Aqui não existem políticas de testes às drogas ou a qualquer outra coisa. Fazes o que quiseres! Como em todo o lado, no skate existirão sempre aqueles que são contra as drogas e álcool, existirão sempre aqueles que fumam umas ganzas e bebem uns copos de vez em quando... e claro que existirão sempre os doidos varridos, sempre de “roda no ar”...
Beijo na bunda Dr. Manka-te
Dr. Mankate drmankate@surgeskateboard.com
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entrevista Rui “Dressen” Serrão fotografia Luís Moreira / Roskof
PRIMEIRO FOCO
ADILSON PEDRO Para quem diz que só anda em corrimões de vez em quando, este boardslide está com um estilo bastante descontraído, não acham?
Vamos começar pelo básico, nome, idade, de onde és e quantos anos de sk8? Sou o Adilson, sou o Adilson... o que é que me perguntaste mais? Ah ok, sou o Adilson, tenho 15 anos, sou de Almada, moro no Monte Kpata (Bairro Amarelo, Pica-pau city) e ando de sk8 há 3 anos. Mas nesses 3 anos estiveste várias vezes parado, conta-nos lá o que é que aconteceu? Parti o pé e tive de levar 2 parafusos, estive 6 meses parado. Depois, passados uns tempos voltei a parar 3 meses para mos tirarem. Em março passado, um dia antes de ir aos prémios da Surge, no Porto, fui internado para me tirarem o apêndice e parei mais umas 5/6 semanas... e já parei mais umas vezes com outras lesões. página 19
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Como é que o skate surgiu na tua vida? Eu quando era bué puto ia com a minha mãe – ela trabalhava ao pé da Praça do Mac – e via lá a malta toda a andar. Quando ficava em casa do meu pai, aos fins de semana, ia para o cabeleireiro da minha ex-madrasta e também via lá malta a descer ruas... e pedi um skate ao meu pai. Fomos a uma loja dos Chineses e comprámos um... depois estava sempre a andar lá no bairro.
Como é que vês o skate, um estilo de vida? Achas que poderás um dia chegar a Pró, ou não pensas nisso? A única coisa que sei fazer na vida, infelizmente, é andar de skate. O skate é tudo, uma forma de vida! Estou sempre a pensar em skate, saio de casa a pensar em skate, quando chego já estou a pensar noutra skatada, seja em calçada, ou alcatrão ranhoso.
Se o skate não tivesse surgido na tua vida o que é que achas que estarias a fazer agora? Não sei... a minha mãe estava sempre a dizer que eu ia ficar grande e devia de ir para o basquetebol e se calhar era isso que fazia porque também curto.
Quer dizer que vais tentar chegar a Pro? Claro que gostava de um dia ser, não vou mentir e dizer que não, quem não gostava? Mas agora só penso em andar, em me divertir. Mas ninguém sabe o dia de amanhã.
Mas não andas numa cena de tambores? Andava, era um grupo de percussão que se chama “Stucata”. Agora só ajudo às vezes. Cheguei a ir 3 vezes com eles à Alemanha.
Quem, ou o que é que te inspira a andar de skate? Gosto bué de ir andar com os meus amigos, ver um vídeo antes de ir andar. Curto bué do Nyjah, dá-me uma grande pica. Sei que há bué gente que não curte do gajo, mas eu curto e quando acabo de ver um vídeo dele, ligo logo para os meus amigos para irmos andar, porque estou cheio de pica.
Voltando ao skate, que tipo de cenas gostas mais de andar? O que é que te dá mais pica? Curto bué sair com os amigos para outros lados. Curto bué de andar em Curbs, uns railzinhos de vez em quando. Mas numa viagem recente ao Porto andavas lá louco, a fazer outras coisas, conta lá? Era a descer grandes ruas, dar grandes slides com uma grande bisga, sempre a abrir.
Eras capaz de lhe mamar na boca? HAHAHAHA porque é que eu sabia que me ias fazer essa pergunta? Não, não era.
Em vez de estar a trabalhar para uma carreira no basquetebol e na percussão, este Gandim anda a skatar pelas estações de comboio às tantas da noite… esta juventude está perdida! 50-50 pop-out em Corroios
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É verdade que nunca mais vais cortar a rasta? hahahah Não, vou deixar crescer, mas só até à zona dos cotovelos. Porque é que destróis tudo onde passas, seja skates, ou spots? Porque sou bué agressivo, não consigo controlar a força e sou bué bruto. Depois vou tenso para as manobras... e é isso hehehe. Quantas horas passas agarrado ao telemóvel, quantas horas por dia? 23 horas hahahah. O que é para ti ser um Gandim? Tchii Grande pergunta, ser um Gandim para mim... nem sei bem como responder a essa pergunta. Pah sou um gandim, sou de Almada, essa cena... Gandaia é a minha loja, é a loja que sempre me ajudou... nem sei explicar heheh Últimas palavras? Quero dizer ao pessoal para se divertir, sempre com pica. Quero agradecer à minha mãe que nunca me falha e tem me apoiado sempre, ao meu cota Dressen, Dulce, Roka, Careca, Gandaia e a todos os meus amigos.
Noseslide num dos muitos spots que “não existem” na Póvoa
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Quem o conhece sabe que heelflips são com ele. Se não o conheces olha para esta foto e vais chegar à mesma conclusão
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texto e fotografia Roskof
Oversleep, aí está uma expressão em inglês para a qual não consigo encontrar equivalente na língua portuguesa. Deixem-me explicar: Oversleep, em inglês é a expressão usada para descrever o que acontece naqueles dias em que dormimos tanto que acabamos por acordar mais cansados do que quando nos deitámos… será que podemos usar a palavra sorna? Humm, não me parece que se encaixe lá muito bem, mas deixemos a explicação para mais tarde, vamos ao que interessa: a visita de alguns dos skaters da Official a Portugal…
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Acabados de passar 3 semanas em Barcelona, aquela cidade de que os skaters nunca ouviram falar, foi com a surpresa de terem uma carrinha de 9 lugares à espera deles que os recebemos no aeroporto de Lisboa, afinal depois de 3 semanas a carregar com os skates e equipamento de imagem a pé e no metro de Barcelona, a visão de um transporte onde a malta pudesse ir toda junta foi algo que, sem dúvida, colocou um sorriso na cara do americano, Marquise Henry, do japonês, Yokiashi Toeda, do Tailandês, Geng Jakarinn e dos também americanos, Tory Hereforfd e James Kapps. Claro que os filmers, Anthony Claravall, Eric Lesar e Zack Mack ficam especialmente contentes com esta situação. Sim, para 5 skaters vieram 3 filmers e nenhum fotografo, reflexo dos tempos e das situações, pois todos os skaters vieram recolher imagens para vídeo parts no site da Thrasher. Uma coisa que me surpreendeu logo nos primeiros 5 minutos com eles foi que, de imediato, estavam todos a tentar falar alguma coisa de português... geralmente pedem só para lhes explicarmos como é que se podem meter com miúdas, ou as clássicas palavras que não gostamos que digam sobre a nossa mãe... como vi que estes 4 dias iriam ser de intercâmbio cultural, também pus na cabeça que iria tentar aprender alguma coisa de japonês e tailandês. Resultado: aprendi a chamar nomes em Japonês só porque achei piada às palavras… quando forem ao Japão e quiserem levar com um parto de sushi pela cara digam, zenzen yabakanai e está feito, depois podem perguntar: “hospital dokodeska”… quer dizer “onde fica o hospital”. Só coisas importantes numa viagem, como podem ver. Em tailandês também aprendi algumas palavras, mas são extremamente complicadas de escrever e, por outro lado, quando o Geng me disse que arranjava casa em Bangkok por 150€ pensei: “tailandês, logo aprendo quando o for visitar”.
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Tal como o autocarro ali ao lado, o James Capps também levou este feeble até ao fim da linha
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O Marquise Henry tem tanto controlo nos pés que chegámos a suspeitar que os seu pés eram bíonicos… shove-it-nosegrind nollie flip out
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Entre as suas aulas de Japonês à malta, o Toeda ainda encontrava tempo para skatar… nollie backside flip, num dos muitos dias chuvosos desta viagem
NĂŁo sabemos como se diz mega-pop em JaponĂŞs, mas achamos que pode traduzir-se por switch-crooked mais alto que a cintura
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Num sentido inverso ao dos nossos antepassados, o Genf Sakkarin veio diretamente do Sudoeste Asiático para o Terreiro do Paço para dar este five-o para switch crooked
Voltando à nossa história, fiquei bastante impressionado com o apartamento que esta malta tinha reservado pela net e, principalmente, com os donos que estavam na Austrália, mas que foram suficientemente simpáticos para colocarem os pais, que não falavam uma palavra de inglês, no apartamento à espera deles com uma garrafa de vinho na mão… hospitalidade portuguesa no seu melhor... ou então são técnicas avançadas de influenciar criticas nos sites de aluguer de apartamentos. Combinámos logo a skatada do dia seguinte para cedo e foi nessa manhã que ouvi pela primeira vez nesta viagem o termo oversleep. Tudo porque tinham ficado todos em casa à noite, excepto o Zack Mack. Este filmer de San Diego tinha saído à noite 3 semanas seguidas em Barcelona e em Portugal queria fazer o mesmo, diz ele que só assim consegue conhecer o verdadeiro Portugal e os portugueses mais genuínos… são pontos de vista, mas a verdade é que enquanto nessa manhã o resto da malta mostrava uma cara de sofrimento, o Zack Mack, que tinha saído sozinho numa terça-feira à noite em Lisboa, estava fresco que nem uma alface… foi o primeiro a chegar cá abaixo e disse-me… they overslept… ou sejam tinham descansado demais e vinham todos com ar de zombies a descer as escadas. Nos dias seguintes o filme repetiu-se: enquanto a malta sofria, Zack Mack saia todas as noites e estava sempre pronto para a ação. Mesmo quando visitámos Leiria e Santa Cruz, ele perguntava como é que era a noite nesses sítios e, sinceramente, até havia motivos para festejar, pois tanto num sítio como noutro as skatadas tinham sido bastante produtivas. Eu disse-lhe “guarda as tuas energias, que a vossa última noite vai ser dura”. Uma amiga nossa tinha-nos arranjado passes para uma festa VIP na capital… muito fashion. Claro que chegando à festa vindos de um dia de skate, todos suados e sujos, tomámos o clássico “banho à francês”, que consiste em descarregar 1 litro de perfume pela cabeça e todos assumimos “aquela” postura. Estamos neste ambiente superfashion, super bem inseridos, apesar de termos sido os únicos na festa inteira a quem ninguém tirou uma única foto, ou entrevistou… se calhar o banho à francês não resultou lá muito bem. Também se tivéssemos sido entrevistados, a única coisa que nos iria sair da boca seriam algumas palavras de calão japonês, que neste último dia de viagem já tinha sido eleito como língua oficial da tour.
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O mais engraçado seria no dia seguinte. De todos, o último a sair de Portugal foi Zack Mack, não porque o seu voo tenha sido mais tarde do que os outros mas sim porque, finalmente, e após 4 semanas seguidas, enquanto o voo que tinha marcado se fazia à pista, o Zack Mack ressonava numa cadeira no aeroporto. O oversleep finalmente tinha-o apanhado… é tramado! Não consigo descrever-vos a satisfação da malta quando o Marquise deu este front-blunt, em Santa Cruz, com a maior das facilidades. O resto do dia foi passado lá em baixo na praia a festejar
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texto e fotografia Seb Carayol
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Houve uma grande vantagem em começar a andar de skate em 1989. Era o fim de uma era, a festa tinha acabado. Uma a uma, as luzes néon dos anos 80 estavam a apagar-se. As “três grandes” estavam em decadência, o tempo dos ossos e caveiras do passado tinha tido o seu protagonismo no skate mas já não apelava às pessoas. Não levou muito tempo para reparar que o skate estava a voltar ao underground, àquela zona onde, sem compromissos, a criatividade poderia ser expressa livremente. A pouco e pouco encontrei-me fascinado pelos gráficos que a nossa geração começava a ter debaixo dos pés. Ao mesmo tempo, os artistas por trás deles não estavam apenas a decorá-los e a vender, mas tinham algo para dizer. De repente, as tábuas tornavam-se manifestos provocadores, falavam de sexo, política, racismo, drogas, religião e política internacional. Uma nova vaga de artistas estava a tomar conta
da cena e estavam deliberadamente a provocar reações no público. O Skate voltava a ser uma contracultura. Será que foram estes agentes provocadores que impediram que o skate se transformasse no novo ski? De onde tinham saído estes rapazes teimosos e a sua constante vontade de chatear e provocar? O que é que isto nos disse sobre o estado da sociedade em geral e quem é que ainda hoje carrega a bandeira da subversão através dos gráficos de skate, passado quase um quarto de século? Ao longo dos anos fiz a mim mesmo esta pergunta centenas de vezes e, afinal, tudo o que foi preciso foi arranjar paz de espírito para ir atrás destas pessoas. Determinantemente, embarquei numa missão para chegar ao fundo disto, encontrei-me com artistas, alguns novos, alguns velhos e muitas vezes com os pró-skaters envolvidos nestas escandalosas tábuas. Cada um destes gráficos tem uma história, ouçam-nas com cuidado, elas falam mais alto do que a imagem. página 35
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Marca: Variflex Skateboards Modelo: John Lucero Bondage Chick Ano:1984 Artista: XNO
Marca: World Industries Modelo: Randy Colvin Censorship Ano: 1991 Artista: Marck Mckee
Se nos pusermos a pensar nisso, os anos 80 tiveram, definitivamente, a sua “dose” de gráficos agressivos, que fizeram a preocupação de muitos pais. Enquanto as caveiras, ossos e vómitos passavam uma mensagem, será que realmente se destinavam a mostrar alguns tabus da sociedade da altura? Nem por isso. No entanto, a primeira tábua do John Lucero na Variflex fez isso mesmo, sendo suficientemente agressiva para poder ser qualificada. Curiosamente uma volta do destino aconteceu quando o artista “Pushead”, que na altura trabalhava para a Zorlac e era um dos mais famosos desenhadores de ossos e caveiras, recusou a proposta do Lucero para desenhar a sua primeira tábua. No entanto deu-lhe o contacto de um artista no Tennessee, chamado XNO prometendo-lhe que ele iria fazer um bom trabalho com a tábua. O Lucero recorda “o XNO enviou-me uma caixa cheia de livros de comics e fanzines que produzia, mal os recebi fiquei super impressionado, enviei-lhe um template da tábua, ele desenhou uma cena punk bondage, muito esquisito e perguntei-lhe: que tal por uma gaja do bondaje por cima deste punk?… A Variflex aprovou e foram impressas cerca de 200 tábuas… apenas para que muitas lojas as devolvessem logo de seguida, muitos lojistas disseram que este era o gráfico mais nojento de sempre” Ainda hoje o Lucero nos maravilha!
A mãe de todas as tábuas escandalosas, esta tábua do Randy Covin foi a primeira a mostrar explicitamente nudez frontal. O artista que a desenhou, Marc Mckee, lembra-se perfeitamente de ir com o dono da World Industries buscar os sacos de plástico pretos feitos à medida, para que as tábuas pudessem ser enviadas e expostas nas lojas. Selaram os sacos a vapor e colocaram um autocolante a avisar que assim que o saco fosse aberto a tábua não poderia ser devolvida. Mas na tábua que ele hoje tem em casa, o autocolante apenas diz “censura é uma grande merda”. Qualquer que tenha sido o autocolante, a essência e a mensagem que a tábua passa são bastante similares. A inspiração para este gráfico veio de um poster da Penthouse, edição de setembro de 1990. Mais tarde, Marc Mckee voltaria a usar a Penthouse para inspiração para outras tábuas famosas.
Marca: Boom-Art /Holenite Pool Modelo: The Disneyland Memorial Orgy 1967 Ano: 2012 Artista: Wally Wood
Marca: Consolidated Skateboards Modelo: Its a Man Ano: 2000 Artista: Todd Bartrud
Quando Walt Disney faleceu, a 15 de dezembro de 1966, o Paul Krassner decidiu prestar o seu tributo ao herói da América. Agarrou em alguns amigos e viajaram até a Disneyland, mas na altura os seus cabelos compridos e atitude não estavam, ainda, na moda e Paul e os seus amigos foram impedidos de entrar na Disneyland nesse dia. Krassner decidiu então contra-atacar, pediu ao ilustrador Wally Wood um desenho para publicar na sua lendária revista de pensamento livre “The Realist”. Um desenho satírico com várias personagens da Disney a quebrar todas as regras. A ilustração tornou-se um sucesso instantâneo e foi usada por muitos ao longo dos anos. Fundador da MAD Magazine, em 1932, o próprio Wood nunca admitiu a autoria da Disneyland Memorial Orgy. Esta história sempre fascinou Dominique Baconnier, dono da Boom-art/Holenite Skateboards, em França. Em 2012 conseguiu um acordo com Kressner e, assim, o Disneyland Memorial Orgy ganhou uma nova vida, desta vez no circuito do skate.
Birdo, o dono da Consolidated Skateboards tem grande orgulho em fazer as coisas de maneira diferente, isto inclui, claro, o gosto em destruir tudo o que existe de bom gosto na sociedade. “Tenho um sentido de humor esquisito” diz, quase a desculpar-se. “Esta apareceu do nada na minha cabeça”. Depois de lhe ter explicado a ideia, o artista residente, Todd Bartrud, agarrou num bloco e fez um primeiro esboço. Esse desenho foi tão bem feito que ainda hoje está exposto nas paredes dos escritórios da marca. “O desenho inicial do Todd era com um homem completamente vestido e que se parecia com o Abraham Lincoln… e pensámos em fazê-la a dizer: “Parabéns é um Abraham Lincoln” mas a Leticia Ruano e eu, mais tarde, achamos que devíamos seguir, antes, a ideia original e foi o que fizemos” A tábua foi impressa por duas vezes, uma com cor-de-rosa e a outra com vermelho e levantou todo o género de rumores, sendo um dos mais famosos, o que dizia que esta tábua era dedicada ao Kyle Berard, pró da World Industries na altura. “As pessoas estão sempre a falar-me desta tábua” diz Bartrud. “O John Lucero disse-me várias vezes que este era o seu gráfico favorito, presumo que seja dos que eu desenhei”.
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Marca: 101 Skateboards Modelo: Eric Koston Day at the Zoo Ano: 1992 Artista: Sean Cliver
Marca: Blind Skateboards Modelo: Security guard Ano: 2012 Artista: Marc Mckee
A violência é mostrada em todo o lado, mas, e quando a retratas na situação mais inesperada? Este era um tópico muitas vezes realçado pela 101, a lendária marca do não menos lendário Natas Kaupas. “O Natas muitas vezes fazia os esboços e depois enviava-os para mim ou para o Marc Mckee, para tornarmos a sua visão num gráfico real”, explica Sean Cliver. “Para nós era divertido ilustrar estes gráficos horizontais com cenas que não pareciam deste mundo”. Numa nota interessante, sendo os gráficos das tábuas de skate um reflexo do tempo em que se inseriam, não podemos deixar de olhar para eles e ver a influência dos receios do imaginário coletivo dos anos 90.
À parte do seu skate, o pró da World Industries na altura, Ronson Lambert, era conhecido pela quantidade astronómica de multas por andar de skate. Assim, para o seu primeiro gráfico a ideia era logo fazer algo relacionado. Os primeiros esboços continham muitas alterações em relação ao resultado final, foram feitas varias versões, cada uma mais maluca que a outra. Antes de usar esta imagem, tanto o Ronson como a marca refletiram bastante, pois receavam que pudesse ser encara como homofóbica, por ter o sinal enfiado no reto do segurança. A mensagem era mais “que se foda a autoridade” e com a imagem do segurança com a arma sacada notoriamente a exagerar na reação a um grupo de miúdos que só andavam de skate. O Marc chegou a perguntar a opinião à malta do Skateboard Museum, em Berlim, a que obteve a seguinte resposta: ”tens que a fazer”.
Marca: Cliché Skateboards Modelo: American Icons 2 Ano: 2011 Artista: Marc Mckee
Marca: Blind Skateboards Modelo: Jason Lee Ano: 1990 Artista: Marc Mckee
Sendo um fã dos gráficos dos anos 90, itens que coleciona religiosamente, o diretor de marketing da Cliché, Al Boglio, decidiu pedir ao Marc que redesenhasse uma das suas lendárias tábuas de 1990. 20 anos mais tarde é interessante ver como mudaram as obsessões da América aos olhos do artista, apesar de no conteúdo serem bastante parecidas. Os media, as drogas, a religião e violência, fatores dominantes hoje, como na altura e, certamente, no futuro. Também é interessante ver na perspetiva do Marc como a explosão da tecnologia contribui como veículo extra para comportamentos extremos.
Marca: Skatemental Modelo: Alien Vs Predator Ano: 2008 Artista: Donny Miller Um clássico exemplo de como conjugar a inspiração cinematográfica num dos mais incríveis gráficos de sempre. Esta tábua da Skate Mental é, sem dúvida, a mais lendária da marca. Já com gráficos e frases incríveis escritos nas tábuas, como os famosos UZI Does it e Suck My Deck, Brad Staba, o dono da marca apaixonou-se por este gráfico mal o Donny Miller lha mostrou. “Ainda por cima quando fizemos este gráfico ele ainda estava vivo… uma coisa incrível aconteceu-me em Copenhaga, estava a por lixa numa destas tábuas quando vi na televisão dinamarquesa que o Michael tinha morrido. Agarrei num bocado de lixa, raspei a cara dele e transformei o gráfico no fantasma do Michael”, disse o Brad. Não sabemos se a família chegou alguma vez a ver este gráfico, mas só pudemos supor que iriam apreciar esta vibrante homenagem.
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Marca: Consolidated Skateboards Modelo: Berieve Ano: 1997 Artista: Moish Brenman
Marca: Toy Machine Modelo: Bury the Hatchet Ano: 2010 Artista: Ed Templeton
Nos anos 90, uma das mais icónicas tábuas feitas pela Alien Workshop utilizava a imagem de um alien e uma simples palavra, Believe. Tão icónica que se tornou objeto de gozo anos mais tarde para o artista Moish Brenman, na Consolidated Skateboards. “Eu nunca quis ser um artista conhecido mas este gráfico, sem dúvida, ficou famoso, apesar de a Alien a ter visto antes da produção e de nos ter pedido para não o fazer. Até poderia dizer que foi feito para chatear a malta da Alien Workshop, mas na verdade fizemo-lo como critica à invasão das tábuas baratas feitas na China. Foi algo que pensámos que era engraçado, mas eles não pensaram assim, chamaram-nos de racistas e pediram-nos para não as fazer. Eu, no entanto, sou chinês e acho piada.”
Em grande parte dos gráficos que faz para a sua marca, Ed Templeton gosta de usar motivos religiosos. “A maior parte do mundo vive a sua vida baseada nos ideais religiosos, é uma coisa muito séria, como será que irão passar a eternidade? É melhor que se portem bem, se quiserem ter um lugar no céu, e, claro, todas as religiões acham que só elas estão certas e, até, que se deve matar os que pensam diferente deles. Estas ideias sempre me incomodaram e estou sempre a ver exemplos disso nas ruas... e é isso que gosto de por nos gráficos da Toy Machine” Esta tábua nem é nada controversa, “até os católicos gostam”, diz Templeton. “Provavelmente só não faria um gráfico com Maomé, porque a minha vida não vale uma safira impressa numa tábua de skate, de certeza que me davam uma sentença de morte e que quero estar bem longe dessas coisas. Obrigado, religião!“
Marca: Consolidated Skateboards Modelo: XTREME CEOS Ano: 2006 Artista: Anónimo
Marca: Skate Mental Skateboards Modelo: Taliban This Ano: 2011 Artista: Darren Young
Com estes gráficos, a Consolidated levou a sua campanha “Don’t Do It” a outro patamar, com um ataque bem pessoal. Nesta série de tábuas, a marca fez caricaturas de ex-executivos autênticos da Nike Skateboarding. ”Estes gráficos são da altura em que lançámos a paródia The Drunk shoe”, diz o dono da marca, Birdo. “Nem chegámos a produzir estas tábuas, o nosso advogado aconselhou-nos a não o fazer e só produzimos 3 de cada, que acabariam por ser vendidas num leilão por mais de 2500$ cada, o que foi incrível pois o leilão serviu para arranjar dinheiro para as despesas de saúde do ex-pro de skate, Ray Underhill, que sofria de cancro”. Incrível também foi a identidade do comprador, nem mais nem menos que Randy Bodecker, um dos próprios executivos da Nike retratados nas tábuas, que disse mais tarde “Acredito que toda a gente tem o direito a expressar a sua opinião e nunca acreditei que o que nós fizemos fosse mau para o skate. Chegámos a abordar várias vezes a Consolidated para fazer coisas em conjunto, mas eles nunca demonstraram interesse. Têm as suas ideias. Também não percebo por que nunca as lançaram, de qualquer maneira ajudámos uma pessoa que precisava e também, certamente, foi a única hipótese de ter um pró-model meu.”
São dois mundos que geralmente nunca se cruzam na vida real, geopolítica e vídeos de skate, no entanto, a Skate Mental conseguiu realizar esse milagre. A tarefa coube ao artista Darren Young, que se inspirou no design do clássico filme de skate da Powell&Peralta, “Ban This” e fez um upgrade ao gráfico, com os exóticos sabores de pólvora da guerra do Afeganistão. Brad Staba diz que estava em casa a fumar algo também exótico e a ver reportagens sobre as cavernas de Tora Bora, onde os rebeldes afegãos se escondiam, quando lhe surgiu esta ideia. No entanto, esta foi a última tábua da Skate Mental com este tema, a partir daqui só tábuas com o 2Pac a tomar banho num Jacuzzi com Cangurus. Diz o Brad que é para que o frágil equilíbrio geopolítico da terra se mantenha.
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ANTI ESTÁTICO
Na boa tradição algarvia de destruir as Scuts, a esta hora o Nuno Relógio deve estar a receber a multa em casa por este swicth-frontside flip sem pagar portagem fotografia Mascarenhas
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ANTI ESTÁTICO
Qual é paisagem que não fica bem com uma manobra de skate lá pelo meio? Já sabes a reposta… nenhuma! Pedro Carreira, switch frontside flip para a descida fotografia Ruben Claudino
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ANTI ESTÁTICO
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Antes da sua temporada de lipslides na neve, o JoĂŁo Allen vai treinando lipslides no cimento fotografia Mascarenhas
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ANTI ESTÁTICO
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Tiks backside smith no meio da selva tropical de Famalicão… ou algo parecido fotografia Renato Lainho
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ANTI ESTÁTICO
Pedro Schvetz tem dos nomes mais complicados de pronunciar, felizmente os seu frontside flips por cima dos corrimões saem com bastante fluência fotografia Roskof
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texto surge / João Sales fotografia João Sales / Roskof
Há iniciativas que nos despertam curiosidade. E quando há iniciativas que metem ao barulho um Bowl construído numa paisagem paradisíaca, num sitio que tem “Boa Vida” escrito no nome, essa curiosidade ganha uma dimensão astronómica. Então o título “Boa Vida Bowl Jam”… Foi em final de outubro, verão de S. Martinho antecipado: campeonato de skate, música ao vivo, danças africanas, workshops de yoga e boa comida. O Pedro Roseiro levou para casa o primeiro prémio, que incluiu 800€ de prize money e uma prancha de surf, seguido pelo Gui e Ruben Gamito que ocuparam o segundo e terceiro lugares. A festa prolongou-se noite dentro na Churrasqueira local, com mais música ao vivo e... cerveja! Boa Vida, em resumo!
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O Gui continua a ser dos mais consistentes skaters de transição nacionais - fs ollie para tailtap Andrés Riviello, argentino, vive na Europa há alguns anos. Faz Snowboard, tem a sua própria empresa de luvas, Hand Made Ltd., trabalhou durante anos como shaper de pistas de neve. Num breve telefonema, uma voz de pronúncia castelhana e algo apressada pedia ajuda para construir um bowl. Fiz-me à estrada e qual não é o meu espanto quando vejo uma mansão enorme, com uma vista lindíssima, onde estava um grupo de estrangeiros a colocar relva no jardim. Do bowl nem sinal... Andrés sentou-me à mesa com o seu sócio, Sebastian Andretich, argentino recém-chegado a Portugal e que deixara para trás negócios na restauração. Vendeu tudo para abraçar o projeto “Boa Vida Social Clube”. Conheci o investidor do bowl, João Pedro, o proprietário do restaurante bar da Arrifana. Uma pessoa que apoiou esta iniciativa desde o primeiro dia. João Caldas, o carpinteiro e skater que saiu de Amesterdão para viver uma vida tranquila no Vale da Telha foi também bastante importante no processo de construção. O projeto consiste numa coisa muito simples: receber pessoas e dar-lhes o melhor que a vida tem. A 5 minutos da praia, um paraíso do surf, rodeado de silêncio, perfeito para meditar e fazer yoga, cultivar os próprios alimentos, ter sempre boa música para dançar, relaxar e conviver. Ótimos motivos para usufruir deste paraíso. Enquanto no bowl a onda era mais Reggae, nas ruas do Vale da Telha, o Bernard Aragao era mais Rock and Roll
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O controlador do drone teve que tomar medidas de emergĂŞncia senĂŁo o stalefish do Roseiro ainda causava estragos
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Ahhh, backsmiths em cooping de pool, deve haver poucas sensações melhores… João Sales
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Este nosebone do Gamito foi tão alto que lhe deu tempo para assobiar aí umas 15 vezes
Pusemos as mãos à obra. Em duas semanas ainda houve alguns momentos de tensão. Acidentalmente o berbequim enrolou-se nas minhas calças e ficou preso. Gritei, o Sebastian tentou socorrer-me apertando o interruptor involuntariamente... o que provocou o dobro da lesão. O drama só terminou quando alguém desligou a ferramenta infernal da tomada. Ao longo do tempo em que ali trabalhei e convivi fui constatando que o Vale da Telha é um segredo bem guardado, com um ambiente criado por boa gente, uma vasta comunidade estrangeira que se entreajuda tal como numa aldeia à moda antiga. João Sales
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texto e fotos Jelle Keppens
É difícil visitares sítios onde nunca tenhas ido para andar de skate, por isso, porque hás tu de incomodar-te em ir à procura do desconhecido, sabendo que podes, até, não encontrar nada para skatar? Não me interpretem mal, estou sempre à procura de aventura, mas as coisas correm sempre um bocado melhor quando estão um tudo nada alinhavadas. Por isso, aproveitámos a hipótese de levar o team europeu da VOLCOM aos Estados Unidos e, depois de muita pesquisa em conjunto com alguns dos nossos colegas americanos, a decisão foi seguir para Albuquerque, no Novo México, e dai agarrar numa carrinha, geradores e skates e fazermo-nos à estrada.
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Blunt dum lado, front-blunt do outro, é assim que nós gostamos, Alain Goikoetxea à esquerda, Enid Fazliov à direita
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1º Paragem… “O que acontece em Vegas fica em Vegas”. Ou pelo menos é que se costuma dizer... mas tudo o que aqui fizemos foi skatar e isso não estamos a esconder de vocês. Qualquer outra pessoa passaria os dias a tentar a sorte nos casinos, a visitar os clubs de strip, o clássico de Las Vegas... e até tínhamos a desculpa perfeita, era o 18º aniversário do Daan Van der Linden. Mas não para estes rapazes, são skate-rats puros e duros. Passámos o dia a skatar dicthes e acabámos a jantar num restaurante muito estranho onde um grupo de homens mais velhos que se estava a fazer a uma senhora, passado algum tempo ficou mais interessado em nós, que nelas… estamos em Vegas, lembram-se? Comemos a sobremesa e alguns de nós saímos da mesa. O Ant Travis estava tão distraído que deixou em cima da mesa a câmara Red que tinha pedido emprestada ao Russel Oughten. Nós vimos tudo e decidimos esconder a câmara debaixo da mesa e mais tarde na carrinha, só para lhe dar um “abre olhos”. Ele nem reparou que tinha deixado a câmara no restaurante, só a meio caminho para outro spot é que lhe bateu… ligou para o restaurante… e nada. Lição aprendida, depois de lhe darmos na cabeça como gente grande, ainda conseguimos entrar à socapa numa escola onde o Daan skatou um rail gigante para celebrar o seu aniversário. página 63
Deixámos Vegas nessa noite e guiámos a noite toda para Flagstaff, na Route 66. Como não fica muito longe do maior monumento da América, o Grand Canyon, decidimos visitá-lo. Seria estúpido não o fazer, assim como também o é o tamanho dele. É difícil ter a percepção do tamanho imenso daquele acidente geológico. De repente uma trovoada abateu-se sobre nós e o cabelo de umas miúdas que ali estavam começou a elevar-se para os céus tal era a electricidade estática. Fizemos questão de nos pormos a andar dali o mais rápido possível. Acordámos no dia seguinte em Albuquerque, um lugar conhecido pelos seus famosos ditches. Quem não se lembra do Slash de skate, a “duzentos”, num ditch, com o melhor estilo de sempre? Quando conhecemos o nosso guia, o Jake, aquele foi o primeiro spot que nos mostrou. Mas não é só por isso que a cidade é famosa, passámos por esta estação de serviço gigante e parámos para perguntar se era a famosa estação de serviço do Mr. White, mais conhecido por Eisenhower... sim, estás a adivinhar, o careca de Breaking Bad. O Jake disse-nos que toda a série tinha sido filmada em Albuquerque e quando demos por ela já estávamos numa tour a todos os lugares de Breaking Bad... épico!
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Depois deste flip para o bank, o Dave Van der Linden foi multado por excesso de velocidade no estado do Nevada. Pelos vistos, lรก vale tudo menos sair de manobras a 200
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O maior Chili do Mundo Depois de dois dias cheios de manobras, fomos até à fronteira com o México para passar a noite em Las Cruces, no motel que tem o maior Chili do mundo. Sim, aqueles pimentos vermelhos picantes como o caraças! De facto, era uma escultura gigante de um chili e está à entrada do motel. Acho que o Axel a lambeu, porque de manhã, quando acordou, sentia-se mal e não conseguia reter nenhuma comida no estômago. Tempo Extra em Tucson O Arizona é quente, lembro-me de a água na piscina do motel ser como a água da banheira e quase como um jacuzzi, até quase quente demais para conseguir relaxar. O Axel já se sentia melhor e ainda conseguiu desfrutar de uma cerveja na piscina. Encomendámos pizza e fomos visitar o Aaron Suski que iria mostrar-nos a sua terra natal durante uns dias. Depois de estarmos a skatar um spot e chegarmos à conclusão de que estava demasiado calor, o Suski levou-nos a visitar um campo de cactos com 375 anos. Entretanto, o Axel tinha-se começado a sentir mal outra vez e não conseguia comer ou beber nada. Como chegou ao ponto de não se conseguir levantar, decidimos ligar ao 112. Os bombeiros apanharam-no e foi directo para o hospital, onde descobrimos que o seu apêndice tinha rebentado! Teve que ser operado de urgência. Dois dias depois ainda não tinha recuperado e não tinha muito bom ar, claro que não o deixámos sozinho, o Christian, team manager, tomou bem conta do seu rapaz. Quando estás num hotel durante dias sem fazer nada ficas aborrecido muito rápido, por isso eu o Yves Marchon tentámos uma missão que consistia em visitar uma loja de fotografia alguns quarteirões abaixo, só para voltarmos completamente desidratados... no Arizona precisas mesmo de um carro, senão não te consegue mexer. A única opção é sair à noite e foi isso que fizemos, visitámos um bar em que o dono se chamava God, sim, ele mudou o nome mesmo para God. O sítio era incrível, as paredes estavam cheias de fotos do God com actores e celebridades, pelos vistos tinha sido um duplo famoso em Hollywood, mas a coisa mais fixe no bar era o alarme que tinha ligado na máquina de preservativos que se encontrava na casa de banho das mulheres, assim sempre que alguma mulher comprava um, o alarme toca e toda a gente sabe quem é. Uma noite clássica. 2014
Ainda estamos a tentar perceber se foi por ter lambido o maior chili do mundo que o Axel conseguiu propulsão para este 5-0 grab
Num dos spots mais míticos da história do skate, a nova geração também é bem-vinda. Dave Van Der Linden frontside ollie no Badlands
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Depois de 5 dias em Tucson e à espera que o Axel melhorasse, tivemos que deixá-lo para trás e continuar a tour. Destino seguinte: Tempe Phoenix. O nosso contacto era o Joe Hammeke, mas como demorámos mais dias ele já tinha partido noutra missão. Felizmente arranjou-nos alguém para desenrascar, que nos levou até à melhor pool de sempre. O problema é que era num bairro de mexicanos. Para podermos chegar à pool tivemos que passar por várias casas, onde toda a gente estava a fazer churrascadas. Foram todos super simpáticos e quando lá chegámos vimos um pool brutal. Para o Alain foi uma sensação única, ser o primeiro a grindar aquele cooping.
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Não admira que o apêndice do Axel tenha explodido, literalmente. Com flipões destes qualquer órgão interno se vai ressentir
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Apesar de não haver registos de tempestades desse género no Novo México, a partir de agora já há registo de “Hurricanes” pelo Alain Goikoetxea Não admira que no oeste americano houvesse tantos ladrões de bancos, aquilo é só banks por todo o lado. Enid Fazliov nollie heelflip
Sadlands Havia um único spot para o qual já tinha trazido as coordenadas, (nem sequer tinha dito a ninguém na viagem que queria visitar este spot mítico), e só quando estávamos mesmo a chegar à zona é que disse ao resto da crew. Chegámos perto e vimos dois skaters que estavam de regresso, pedimos-lhes mais direcções, saltámos vedações, andámos pelo mato e, finalmente, ali estava ele, o santo graal do skate, Baldy Pipeline, o território do Salba. Infecção Estás agora a pensar no que aconteceu ao Axel depois de termos saído de Tucson? Pois continuou a não conseguir comer e ficou ainda pior, os médicos descobriram uma infecção e teve que ser operado de novo, antes de poder regressar a casa. Dali foi direto para Los Angeles e, depois, um voo em primeira classe para a Bélgica onde descobriram que os médicos em Tucson tinham feito merda e teve que ser operado novamente. Levou 6 semanas a recuperar. Quando a nós, regressámos a Las Vegas e desde aí foi “Boomvegas” até ao fim da viagem!
Gostamos sempre quando se plantam árvores de modo a dar sombra à malta do skate… Axel, backside 50
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Enquanto o Roseiro dava este ollie, o Laurence tirava a foto e fazia de polícia sinaleiro. Ainda bem que a malta do skate é “multitasking”
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texto e fotografia Laurence Aragão / Pedro Roseiro
A nossa viagem à East Coast Norte Américana foi possível graças à vitória do Roseiro no passatempo do Fuel TV “Nine Club”, com um BS 50-50 num corrimão a descer 18 degraus. Foi, sem dúvida, a manobra mais impressionante que alguma vez presenciei e esse momento vai marcar-me para o resto da minha vida. O Roseiro podia levar uma pessoa com ele e convidou-me para fazer parte desta aventura excecional à América. Apesar de eu na altura não estar recuperado de uma rotura de ligamentos no tornozelo esquerdo, não hesitei em responder-lhe que sim e com todo o entusiasmo pus mãos à obra para que a minha presença tornasse a viagem o mais produtiva possível, fosse através de filmagem, fotografia ou planeamento ou gestão.
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O prémio do passatempo do Fuel TV deu-nos direito aos voos, estadia e dois bilhetes para ir ver o ensaio geral/treinos do SLS e a grande final Super Crown. Depois de uma breve conversa com o Fuel TV, conseguimos estender os voos e prolongar o itinerário da viagem. A nossa viagem aumentou de três noites para onze e passou a englobar três cidades. Era a nossa primeira vez em solo Américano e ambos estávamos muito entusiasmados e cheios de curiosidade para ver se a América era como nos mostram na televisão e nos filmes. Depois de um longo dia de viagem com alguns contratempos, passadas dezasseis horas chegámos, finalmente, ao hotel em Newark, New Jersey. Aí aproveitámos os dias para explorar a cidade e skatar o máximo de spots que encontrámos, com o Roseiro a mostrar, como sempre, o seu à vontade em cima do skate: curbs, ledges, gaps, escadas e corrimões... só pude concluir que, mesmo com o piso bastante áspero e cheio de “cracks” - pelos qual a East Coast é conhecida devido à erosão feita pela neve no Inverno -, o Roseiro não ia parar de mostrar o seu alto nível de skate. Na noite de sábado, tivemos o prazer de nos sentarmos na fila da frente para ver os treinos do Street League, o que foi uma ótima experiência, pois foi a primeira vez que estivemos com aquela “Prozada” toda e ao mesmo tempo conseguimos ver de perto como tudo funciona por “detrás da cortina”. Domingo à noite, depois do último dia de skate pelas ruas de Newark, fomos assistir à esperada Super Crown da SLS. Ficámos impressionados pela consistência e experiência demonstrada pelos “Pros”, factos de que já tínhamos noção mas que ao vivo ainda têm mais impacto, especialmente num estádio repleto de fans com ovações por cada manobra dada ou tentada. Na manhã seguinte, depois de fazermos o check-out do hotel, apanhámos um autocarro, rumo a Filadélfia, Pensylvania, uma cidade com uma enorme história de skate, com muitos spots míticos, lendas do skate, uma enorme “skate scene” e muito boa onda. Para além de todos estes aspetos positivos da cidade, a principal razão pela qual escolhemos “Philly” como o nosso segundo destino, foi porque tínhamos conhecido há uns meses em Lisboa, o Brandon Gomez, skater nascido e criado lá. O Brandon está a viver em África do Sul, pois trabalha para a incrível ONG Skateistan (www. skateistan.org), mas tivemos a sorte de encontrá-lo em visita a amigos e família e não hesitou em, simpaticamente, abrir-nos a porta. Como nem tudo são boas notícias, uma semana antes de chegarmos à América, quando se deslocava de “cruiser” à noite pelas ruas de Filadélfia, o Brandon passou num enorme buraco que havia no meio da estrada, uma das rodas do skate ficou presa e ao cair partiu a rótula do joelho esquerdo em duas. Apesar de estar de canadianas, não quis que deixar-nos sozinhos, por isso alugámos um monovolume em conjunto para que nos pudesse guiar pelos spots mais emblemáticos da cidade. Tivemos uns fabulosos cinco dias, skatámos o famoso spot “Three Block”, alguns skateparks maravilhosamente concebidos, o melhor e maior DIY do mundo, o “FDR” e um DIY indoor bowl (iniciativa dos skaters locais que dividem a renda e as despesas do espaço e do bowl que construíram, de forma a terem um sítio onde skatar no inóspito inverno de Filadélfia e onde cada um dos vinte contribuintes mensais tem uma chave do espaço para entrar às horas que quiser). Provámos o delicioso “cheese steak” e na última noite fomos fazer uma breve visita ao famoso “LOVE Park” que tem estado vedado aos skaters desde que esteve fechado há uns anos... mas ainda se vai skatando o “LOVE” mais à noite e no inverno, quando a polícia não anda por lá. Como já era de esperar, o Roseiro não ia deixar passar a oportunidade e deixou lá a sua marca… Para fecharmos a viagem em grande, rumámos a NYC, a “cidade dos sonhos”. Outra vez sem um “guia”, foi mais difícil encontrar os spots e skatá-los sem sermos “kickados” ou sem estarem cheios de pessoas. Mesmo assim o Roseiro arranjou forma de conseguir footage de qualidade nos poucos spots que “conseguimos”. Ainda tivemos o azar de chover a potes num dos dias e o plano que tínhamos para os spots mais simbólicos de downtown, teve de ficar para outra viagem... ainda conseguimos passar no famoso L.E.S. Skatepark. Com este último dia de skate arrumado devido ao mau tempo, aproveitámos para ir comprar uns presentinhos às nossas namoradas e familiares e um pequeno presente como forma de agradecimento ao Pedro Vaz, o simpático primo da minha namorada, Nini, que nos arranjou o apartamento onde ficámos.
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Depois do rail que deu para ganhar a viagem aos “States”, este 5-0 junto da parede e às escuras foi, como diz alguma malta do futebol, “peaners”
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No caminho para deixarmos umas garrafinhas de vinho português, voltámos a cruzar-nos com o primeiro spot que havíamos avistado na chegada à ilha de Manhattan: um set de escadas seguido de outro perpendicular à direita, com um corrimão a acompanhar toda a plataforma, ou seja, um gap em comprimento por cima do rail com uma aterragem num curto passeio, no qual circulavam multidões em todas direções, e com um enorme desnível na saída para a estrada, que obrigava o Roseiro a fazer um género de chinese ollie, mal aterrasse o gap para finalizar no alcatrão da famosa “3rd Avenue”, onde não paravam de passar carros nas cinco faixas em direção ao centro de Manhathan. Como se todos estes fatores não fossem por si só complicados, para tornar o spot ainda mais caótico, o Roseiro depois da aterragem, tinha ainda que desviar-se de um caixote de lixo e de um poste do semáforo. Queríamos acabar a nossa tour da melhor forma e esta era a oportunidade. Depois de meia dúzia de ollies no flat, ele já estava pronto para se fazer ao gap. Ao final de sete tentativas e como é seu costume, o Roseiro já tinha apanhado a manha do spot e o ollie “já cá cantava”, como se de um simples spot de aquecimento se tratasse! Reparei, depois, que a capa da edição da “Transworld Skateboarding” que saiu logo a seguir à nossa viagem é um Kickflip do Brad Cromer neste mesmo spot, dado à noite para evitar o enorme tráfego de carros e peões, concluo eu. E fico a imaginar o que é que o nosso Roseiro tinha lá dado se tivéssemos tido tempo para skatar o spot com mais calma…
Agradecimentos: ao Pedro Roseiro pela oportunidade e amizade, ao Fuel TV pelo apoio e iniciativa, à Joana namorada do Roseiro pela compreensão, ao Brandon Gomez por ter sido um ótimo anfitrião, à minha namorada Nini e ao seu primo Pedro Vaz pelo apartamento em NYC, ao Tomás Fernandes por nos ter disponibilizado algum do seu material fotográfico e à Surge Skateboard Mag pela oportunidade de partilhar esta experiência com todos vós :) Skateboarding for life! REALITY SLAP!!
Laurence Aragão backside smith na meca do DYI, na costa Leste Enquanto há malta que presta tributo aos amigos através de memoriais com peluches, o Laurence prefere um bom fakie wallride tucknee… parece-nos bem 2014
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texto surge fotografia Roskof
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Enquanto muitos deixavam a sua marca na pele de outros, o Rodrigo Albuquerque deixava a sua marca na mini-rampa, com este frontside nosegrind
O nosso outro vício…
Se há coisa que os skaters percebem bem é o vício das tatuagens. Afinal: ambas as coisas não são lá muito fáceis, são, muitas vezes, dolorosas e exigem bastante trabalho e dedicação... e, quando se consegue o objetivo, seja numa manobra ou numa tatuagem, também a satisfação é comum. Talvez por isso a malta do skate se tenha sentido em casa durante os três dias da décima edição do Tattoo & Rock Festival. Aliás, tal como em edições anteriores. E não, não foi apenas pelo Best Trick que se realizou no último dia. Como não podia deixar de ser, quando se celebram 10 anos de festival, a ocasião exige pompa e circunstância e foi mesmo isso que se passou, com boa música, as clássicas Miss Pin Ups, o show de Burlesque do Cabaret Exotic e, claro, com a animação do Gimba e da Menina Marieta dos Radio Royal e Royalettes, que quase nos levaram às lágrimas com o seu sentido de humor corrosivo mas “limpinho”… o sketch dos “reclames” já ficou gravado na cabeça da malta da Surge como um clássico. página 79
Miúdas giras, música, tattoos e muito mais. Precisavas de mais algum motivo para passar lá?
Voltando ao skate: a mini-rampa esteve sempre aberta a todos os skaters durante os três dias, embora quem tenha visto o best trick no domingo pudesse pensar o contrário, tal era a “fome” para andar, entre os que participaram. Se soubéssemos, teríamos sugerido à organização a contratação de um polícia sinaleiro... ou talvez colocar uma das Miss Pin Ups a controlar o “trânsito” tivesse mais sucesso... No fim do Best Trick, mais uma vez, o Pedro Roseiro mostrou que consegue skatar tudo em todo o lado e levou o prize money e uma tattoo para casa… se fossemos nós a sugerir-lhe uma tatuagem dir-lhe-íamos para tatuar “patrão”… e ao Bruno Senra sugeríamos-lhe que tatuasse “Perigo sobre rodas”, visto que o seu skate saiu disparado da mini-rampa, passou por cima de 3 stands e acabou nas costas de um rapaz que tinha, pelo menos, 4 vezes o tamanho dele… felizmente, skaters e tatuadores vivem o mesmo espírito, e o BP, afinal, vai tatuar um “pró ano estou cá batido outra vez”.
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