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2016 agosto/setembro/outubro Trimestral Distribuição gratuita
S U R G E
S K A T E B O A R D
M A G A Z I N E
FELIPE GUSTAVO COLOR-WAY
TH E N E W JAC K
WITH
FELIPE GUSTAVO \ SWITCH FLIP \ BLABAC PHOTO
DCSHOES.COM
AURA S.A. - 212 138 500
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Pedro Raimundo “Roskof” editor
fotografia Luís Cruz
Aí vamos nós! Bem-vindos à era em que os skaters serão reconhecidos em todo o mundo como atletas de elite, como exemplos a seguir de integridade física e moral, como estandartes da paz e harmonia entre os povos, como heróis da nação e cavaleiros da justiça... finalmente, o skate é um desporto olímpico! Acabaram-se as chatices com a polícia, acabou-se o ser expulso de spots, acabaram-se os moradores a ameaçar-nos com paus, ou a mandarem baldes de mijo para cima de nós pela janela, acabaram-se aquelas bocas da família, “então não vês que já não tens idade para brincar aos skates?” Agora vamos ser todos encarados como verdadeiros atletas! Raios, a partir de agora vão ser os moradores a convidar-nos para ir lá a casa skatar. “Não queres vir skatar aqui ao meu pátio e estragar-nos o nosso canteiro, ou grindar o corrimão da entrada, seria um orgulho para nós.” Caraças, já imagino a primeira receção no aeroporto do primeiro atleta português medalhado na “categoria x” da modalidade! Vão ser milhares de pessoas, vamos finalmente ser condecorados pelo nosso presidente, vão ser entrevistas, presenças e, claro, milhares de euros a jorrar para o skate nacional e não só, vão ser milhares de novas escolas de skate, centenas de treinadores, preparadores físicos, managers, conselheiros motivacionais, clínicas especializadas em traumas de skaters e, claro, vamos ter skate parques em cada freguesia deste nosso país. Raios, de certeza que o skate vai ser uma disciplina obrigatória na escola! Que pena tenho que isto não tenha acontecido quando era novo, assim escusava de ter mentido à minha mãe quando chegava a casa todo partido e lhe dizia que a tinha torcido o pé a jogar à bola na escola, ou a ir de bicicleta a casa da avó, só para ela não me tirar o skate. Teria sido tão mais fácil a minha adolescência se o skate fosse já na altura um desporto a sério, em vez de uma brincadeira para putos que nunca se deram muito bem com equipas, treinadores, suplentes, ou com pessoas que só eram os maiores quando estavam em rebanho. Aposto que até com as miúdas teria sido mais fácil, afinal aquelas secas que nós lhes espetávamos quando íamos skatar serviriam um grande e belo propósito: a conquista de uma medalha olímpica! Infelizmente eu e os skaters de outras gerações nunca vamos poder subir ao pódio e ouvir o hino, vamos ter que contentar-nos com medalhas um pouco diferentes, com a medalha de horas a skatar no pátio de alcatrão da escola, com a medalha de insultos ouvidos por todo o género de pessoas, forças da lei incluídas, com a medalha de trabalhos nas férias para podermos conhecer skaters e spots noutros países, com a medalha de salto ao muro, com a medalha de horas em barracões abandonados cheios de pó, com a medalha de construção de rampas com madeiras “desviadas” das obras, com a medalha de visitas ao “endireita” lá da terra, com a medalha de horas a filmar os amigos com aquela câmara do tio, com a medalha de horas a passar vídeos de skate de cassete para cassete, ou, até, com a medalha de horas passadas a ensinar aquele puto lá da rua a dar flips. Como diz o Vasco Santana num dos “clássicos” do cinema Português: “Chapéus há muitos”... pois medalhas também. E não é pelo facto de as dos Olímpicos serem feitas de metais preciosos que são mais valiosas do que as tuas, ou as minhas... no que dia em que pensarmos que o skate é só um desporto, aí é que estamos tramados.
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Distribuição www.marteleiradist.com 212 972 054 - info@marteleiradist.com
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Ficha Técnica Propriedade: Pedro Raimundo Editor: Pedro Raimundo Morada: Rua Fernão Magalhães, 11 São João de Caparica 2825-454 Costa de Caparica Telefone: 212 912 127
número 33 disponível online em www.surgeskateboard.com
Número de Registo ERC: 125814 Número de Depósito Legal: 307044/10 ISSN 1647-6271
Pior tour de sempre
Diretor: Pedro Raimundo roskof@surgeskateboard.com
Nós bem os avisámos, mas eles não ouviram. Agora queixam-se... ou talvez não!
Diretor-adjunto: Sílvia Ferreira silvia@surgeskateboard.com
Primeiro Foco – Luís Oliveira
Diretor criativo: Luís Cruz roka@surgeskateboard.com
O skate no Norte está bem e recomenda-se e o Luís faz parte da nova vaga que vai dar-nos pano para mangas... será que também utilizam esta expressão lá cima?
Fotógrafos residentes: Luís Moreira João Mascarenhas
Entrevista Nuno Cardoso
Publicidade: pub@surgeskateboard.com
Poucos anos depois da primeira entrevista na Surge, um dos mais trabalhadores skaters do Norte volta com manobras de nos pôr a cabeça a andar à roda... preparem-se!
Colaboradores: Rui Colaço, Renato Laínho, Paulo Macedo, Gabriel Tavares, Luís Colaço, Sem Rubio, Brian Cassie, Owen Owytowich, Leo Sharp, Sílvia Ferreira, Nuno Cainço, João Sales, Rui “Dressen” Serrão, Rita Garizo, Vasco Neves, Yann Gross, Brian Lye, Bertrand Trichet, Jelle Keppens, DVL, Miguel Machado, Julien Dykmans, Joe Hammeke, Hendrik Herzmann, Dan Zavlasky, Sean Cronan, Roosevelt Alves, Hugo Silva, Percy Dean, Lars Greiwe, Joe Peck, Eric Antoine, Eric Mirbach, Marco Roque, Francisco Lopes, Jeff Landi, Dave Chami, Adrian Morris, Alexandre Pires, Vanessa Toledano, Nuno Capela, Ruben Claudino, Rui Miguel Abreu, Telmo Gonçalves.
Monster CPH Open 2016 Foi simples, foi duro, foi uma dor de cabeça no dia a seguir. Um campeonato clássico.
Golden Odyssey Birmânia: um país em mudança retratado sobre 4 rodas…
Tiragem Média: 8 000 exemplares Periodicidade: Bimestral Impressão: Printer Portuguesa Morada:Edifício Printer, Casais de Mem Martins 2639-001 Rio de Mouro • Portugal Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusivé comerciais. www.surgeskateboard.com Queres receber a Surge em casa, à burguês? É só pedir. Através de info@surgeskateboard.com assinatura anual em casinha: 15 euros
Capa: Enquanto ali ao lado, na marina de Carcavelos, as tiazócas bebiam uns gins ao sunset, o Alexander Risvad dava este noseslide frontside nollie flip out... sem dúvida, mais barato e mais revigorante que qualquer bebida alcoólica
Gustavo Ribeiro mostra que não é preciso ter 17 anos para grindar corrimões de 17 escadas. Frontside 50-50
fotografia Roskof
fotografia Jorge Matreno
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Pior Tour
de Sempre!
texto e fotografia Luís Moreira
No início deste ano comecei a planear uma viagem de skate pelos Balcãs com mais oito gajos numa carrinha e tendas para dormir nas matas e praias. Conduzir sem parar até à Eslovénia e depois andar por lá pelos países que quiséssemos. De um dia para o outro arranjei os oito gajos. Passados quatro meses já só tinha dois: O Nitro e o Kiko. Problemas económicos, emocionais e políticos foram tirando pessoas do plano até este ser impraticável e por isso decidimos torná-lo um pouco mais modesto e focámo-nos no sul de Espanha.
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PIOR TOUR DE SEMPRE!
Entre o passeio e o corrimão onde o João Allen deu estre transfer lipslide havia um muro, mas com o calor derreteu
A melhor coisa nos spots onde podes mergulhar depois da manobra é que podes fazer chichi na água sem ninguém se aperceber... João Allen, tailslide para o charco
Para não repetir o percurso da viagem do ano passado, que deu origem ao artigo e vídeo “A caminho de lado nenhum” e ao “A lado de nenhum caminho”, planeámos conduzir sem parar de Olhão até perto de Granada e começar a skatar spots de lá para a frente. Demorámos quatro dias a lá chegar. Planeámos ter ido até Valência e acabámos por não passar de Múrcia. Tínhamos guardadas montes de imagens de spots onde queríamos ir e acabámos por ir a muito poucos. Planeámos passar uma semana nas calmas e só nos faltou andar à porrada. O calor e os planos têm destas coisas.
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PIOR TOUR DE SEMPRE!
A malta em Espanha estava à espera de uma invasão, mas construiu os bunkers ao contrário... ao menos sempre dá para serem utilizados para o skate... Juan Salas, wallride
João Allen powerslide
Fazer uma viagem pelo Sul de Espanha em agosto é uma idiotice ainda maior do que o andar de skate em si. Demasiado calor. Nunca tive tanto calor na minha vida, como em Sevilha a andar de skate com os termómetros da cidade a marcarem 47º. Se calhar devíamos ter seguido a sugestão do Allen e ter ido para o País Basco. Mas não seguimos e foi nisto que deu.
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PIOR TOUR DE SEMPRE!
Se o Luís Moreira não tivesse 2 metros de altura, este ollie até parecia alto, assim é fácil demais
Eu, o Juan, o Vaz, o Cardoso, o Nitro e o João Castela arrancámos do Porto de manhã, apanhámos a carrinha em Lisboa e fomos buscar o Allen, depois o Kiko a Setúbal e o Jamie a Olhão. Seguimos. Os dias seguintes foram carregados de calor, skate até ao limiar da desidratação, horas à procura de praias onde pudéssemos garantir uma boa noite de sono e mergulhos no mar à pressa para a seguir irmos picar o ponto.
O Edney tem algumas das melhores fotos do tour que não podemos mostrar, mas esta toda a gente pode ver... nollie backside num dos melhores spots da Península
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PIOR TOUR DE SEMPRE!
A sério, isto é arte urbana?! Sr. Arquiteto assuma lá que anda de skate e sempre quis ter um brinquedo destes... Kiko Perdigão, tailslide
Um flamengo dança-se sempre a dois. Esperem, ou é um tango? João Allen e Juan Sales, a bailar em Sevilha
Depois de ganhar o prémio 3ª idade do Ano, o Nuno Relógio teve de arrancar com a malta para Espanha para afogar as mágoas... 360 flip
Entre as coisas que me vão ficar gravadas na memória desta viagem estão as skatadas com 42º de temperatura, as cervejas na carrinha enquanto fazíamos mosh e cantávamos ao som de desde Slayer a Irmãos Catita, - passando por tudo o que possa existir pelo meio incluindo a “pretty fly for a white guy”, - procurar até à exaustão um sítio para a dormir, ao ponto de serem três da manhã e estarmos a subir uma montanha por um caminho sem saída com a polícia atrás de nós para perguntar o que andávamos ali a fazer àquela hora, estar a acordar de manhã e ver um dos membros da nossa equipa a demorar cinco minutos a caminhar vinte metros porque o álcool o puxava para trás com a força de um trator, fazer horas e horas de estrada a não ver mais nada para além de estufas e mar, numa das combinações paisagísticas mais bizarras que vi na minha vida, o quase andarmos à porrada por causa da carrinha e os incríveis mergulhos no rio Guadalquivir às 21h, com 38º. No próximo ano quero ir com menos planos e, se possível, com menos calor.
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PIOR TOUR DE SEMPRE!
Com tanta coisa a distrair-nos nesta foto quase nem reparávamos que o João Allen estava ali... tailslide
O Raphael Castillo deixou a banda fazer a festa, dançou no bailarico, deixou a malta desmontar as coisas e depois foi lá dar este noseslide. Que senhor!
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PRIMEIRO FOCO
LuĂs Oliveira
entrevista e fotografia James Gomez
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PRIMEIRO FOCO LUÍS OLIVEIRA
Vamos, Luís, apresenta-te! E aproveita e conta-nos de onde vem a tua alcunha de Vampiro? Sou o Luís Oliveira, tenho 21 anos e sou de Braga. A minha alcunha vem desde quando eu era mais novo porque tinha os dentes muito afiados e uma marca de nascença no lábio. Na altura o pessoal dizia que era sangue e que trincava pescoços e, pronto, ficou vampiro até aos dias de hoje (risos). E como é que ocupas o teu dia-a-dia? Normalmente costumo ter aulas, mas sempre que saio da escola vou andar de skate. Às quintas, sextas, sábados e domingos vou sempre skatar com a malta até às 18h. Depois trabalho das seis à meia-noite. Aproveito para “descansar” enquanto trabalho e quando há pica ainda vou skatar depois do trabalho. E andas a estudar concretamente para fazer o quê? Estou a tirar um curso de cozinha e pastelaria, mas gosto mais de cozinha. Como é que aconteceu aquele momento mágico, da primeira vez em que te cruzaste com um skate? Eu tinha amigos na escola primária que andavam de skate e já na altura pensava: “eu gostava de poder fazer aquelas manobras, de deslizar nos muros e corrimões”. Foi esse pensamento desde puto que me fez pedir um skate à minha mãe. Ela deu-me o skate e desde aí que nunca mais parei. Já houve muitos malhos e arranhões pelo caminho, mas, como costumam dizer, “o skate é arte e cair faz parte”.
Como é para ti um bom dia de skatada e quem são as tuas companhias de eleição para esse dia? Uma boa skatada para mim é aquela em que estou com os meus amigos aqui em Braga: o João Nuno, o André Santos, o José Rego, o Pedro Gomes e o Pedro de Abreu. Este pessoal é sempre a andar a tarde toda, a disparar manobras, cheios de pica, a socializar, a rir, a brincar, a “pegar” uns com os outros e, sobretudo, a levar a amizade muito a sério. Isso sim, é uma boa skatada. Qual é para ti o lugar perfeito para skatar? Para mim o lugar perfeito para skatar é uma boa sessão de street ou um bom park, gosto dos dois e não tenho preferência. O skate é conseguir adaptar-me em qualquer sítio. E há alguma coisa que queiras concretizar através do skate? Sim, quero ser reconhecido mundialmente como o Jorginho (risos). Mas falando de sonhos no skate e além do skate for fun, é claro que gostava de ter a minha pro model, mas para isso ainda falta muito (risos). Na minha opinião é bom ter sonhos e objetivos. Isto é, sonhos todos temos, não é verdade? Cabe a cada um dar o litro e o melhor de si próprio e, quem sabe, através de muito esforço e muita dedicação, consiga concretizar os meus sonhos.
Claro que para alguém com a alcunha do Luís tinha de haver uma foto à noite... 360flip
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PRIMEIRO FOCO LUÍS OLIVEIRA
Para quem não sabe, Braga, para além de bons skaters, tem spots “a dar c’um pau” este é mais um deles... ollie da fonte
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PRIMEIRO FOCO LUÍS OLIVEIRA
Quais são os teus spots favoritos? Isso é difícil, tenho muitos spots em que gosto de andar, por exemplo: a Praça dos Poetas, em Barcelos, a Câmara de Matosinhos, no Porto, a Praça da Estrela, em Vigo (que é aqui ao lado) e, claro, o mítico Macba, em Barcelona. E skate parques? O skate parque da Póvoa do Varzim que, para mim, é dos melhores de Portugal, e também o da Gafanha da Nazaré (Ílhavo/Aveiro). Quais são os teus skaters nacionais e internacionais de eleição? Os skaters nacionais em que mais me foco são: o Jorge Simões, o João Neto, o Bruno Senra e o Gustavo Ribeiro. A nível internacional: o Luan de Oliveira, o Nyjah Huston, o TJ Rogers e o Paul Hart. E manobras, quais são as que mais curtes dar? Manobras que adoro dar: 360º flip, bs big spin, fs tail slide, bs tail slide, flip bs tail slide, bs crooked, bs smith e flip bs lip. Musicalmente, gostas de quê? Wu-Tang Clan, 2Pac, Biggie Smalls, Gucci Mane, Three 6 Mafia e mais uns quantos. E pitéu? Gosto de um bom Bacalhau à Brás, um bom Pica no Chão, e claro, kebabs (risos)! As melhores skate videoparts de sempre, para ti? Filmes de skate que adoro são: o Fully Flared, o Almost - Cheese and Crackers e o Helas Caps. Tens agradecimentos para alguém? Sim, claro! Principalmente à minha mãe, que sempre acreditou em mim e nunca pôs obstáculos na minha vida, um beijo para ela, que a amo! Para o James Gomez que me acompanhou nesta entrevista, um muito obrigado do fundo do coração! À D.R.U.G.S Clothing por apostar e acreditar em mim, à Street Spot Dist por me manter “fresh” com a Nomad Skateboards e Souljah Grip e aos meus amigos que param comigo no dia a dia, sem eles não sou nada. Um muito obrigado à minha família e a todos aqueles que acreditam em mim. “Tamos juntos”.
Para um futuro pasteleiro, este ollie para a rampa não está nada mal... agora só nos falta provar os seus pastéis de nata
Já ouviram falar do Campo da Vinha? Não é esse, seus bêbados! É este onde o Luís está a dar este 50-50
WWW.CARHARTT-WIP.COM JOSH PALL – FRONTSIDE NOSESLIDE • PHOTO: MAXIME VERRET
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Como é habitual nas primaveras de qualquer skater alemão eis que chegava a altura de escapar mais uma vez do nosso inverno sem fim. Depois das nossas recentes viagens a destinos mais extravagantes como Abu Dhabi em 2014 e ao Vietname em 2015, este ano decidimos escolher uma grande cidade europeia. Depois de alguma consideração nós escolhemos Lisboa. Por isso, embalados e com grande expectativa focamo-nos no plano para Portugal.
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TITUS SPRING BREAK EM LISBOA
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C O M I D A
Além das infinitas possibilidades de spots, outro destaque desta viagem é, sem dúvida, a cozinha de Portugal. Nunca nos sentimos dececionados e cada noite de carnes, peixe frito e legumes frescos fazia-nos água na boca. Recomendo especialmente o “Toma Lá...”, que se tornou no nosso restaurante local já que era mesmo ali ao lado do nosso apartamento. Quase todas as noites nós entrávamos lá e as nossas reservas de energia eram novamente carregadas. O vinho da casa (“Rocim”, nascido em 2012) ficou tão popular entre a malta que que um caixote dessa pomada fez o seu caminho para a Alemanha connosco. Vai ser bem tratado. Durante o dia podes saborear o café mais delicioso e o melhor pão de sempre. Geralmente ficamos dececionados com os assados fora da Alemanha, mas, felizmente, não em Portugal. A maioria das sanduíches foi decorada com rúcula fresca e queijo fresco. Em resumo, pode dizer-se que a situação alimentar numa tour de skate provavelmente nunca foi tão boa como em Lisboa. Passadas semanas, alguma malta, depois do vinho, salmão fresco etc.. só nos perguntava: quando voltamos?!
360 rens, Jost A
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TITUS SPRING BREAK EM LISBOA
skate va de o skato la a f e d s quan nt s-lhe támo de vez em s. Flip fro n u g r la e s o a P c . s m u e ice ão, de em r do L a alar, n fesso ondeu: “f tão à vont o r p é p a ll s t a e ele r se sin ic Sch Yann s alunos e z por isso na r o e o com les”. Talv da Mad e la o m c o s c , na e board
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Tal como acontece com qualquer tour existe sempre uma grande expectativa. Sempre que te metes a ver clips de outras teams e skaters do país para onde vais começas logo a visualizar manobras e muitas vezes ficas um pouco dececionado, ou os spots não são bem o que tu pensas ou simplesmente nem dão para skatar. Tudo isto não se aplica a Portugal. Particularmente surpreendente foi a abundância de spots. Um conselho, qualquer tour a Lisboa terá sempre que ser no mínimo de duas semanas de modo a poderem desfrutar dos spots que esta cidade vos oferece... para te deslocares definitivamente precisas de um carro, uma vez que muitos dos spots não são exactamente em Lisboa. Um destaque absoluto foi a escola em “Cascais” tem um pouco de tudo para todo o género de skaters, Ficámos particularmente impressionados por não termos sido expulsos e passar quase um dia inteiro lá descansados. E ainda teria sido bom o suficiente lá para skatar lá por vários dias. No geral, Lisboa e arredores tem sempre algo para oferecer para cada estilo, gosto e skate. O único inconveniente é a típica calçada Portuguesa, que consiste em milhares de pequenas pedras... mas depois de um curto período de familiarização pode ser utilizada para skatar sem grandes problemas. Na minha opinião, Lisboa é uma das 5 melhores cidades da Europa no que toca a spots e por isso deve estar na lista de prioridades de qualquer skater.
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TITUS SPRING BREAK EM LISBOA
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N O T U R N A
Com o nosso apartamento localizado bem perto do “Bairro Alto”, alguns rapazes foram persuadidos a visitar alguns dos milhares de bares da zona. Quase todas as noites as ruas estavam repletas de turistas, estudantes e moradores. E, claro, com pouco dinheiro conseguias desfrutar de uma cerveja fresca em boa companhia. Destaque para a discoteca “Lux”. Na última noite toda a equipa acabou ali e ficámos rendidos, tanto pela boa música, como pelo terraço no último piso, com vista para a cidade e para a baía, onde apetece ficar até amanhecer. No entanto, definitivamente temos que ter cuidado para não cair todas as noites nas tentações da cidade, caso contrário o skate certamente poder ser afetado. Por razões de segurança, o “Bairro Alto” deve ser evitado!
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P A I S A G E M A imagem da cidade está claramente marcada pela sua baía e pelas suas pontes. Especialmente a “Ponte de 25 de Abril”, que faz-nos lembrar do “Golden Gate Bridge”, devido à sua construção. A partir da ponte tens uma vista incrível para o rio e para a cidade, o que fez com que cada passagem fosse memorável. A única coisa chata é que tínhamos que pagar por cada viagem. Outro destaque na nossa visita foi “Parque Natural de Sintra”. Mal vimos aquelas paisagens com montanhas, lagos, árvores centenárias, sentimo-nos logo como crianças outra vez. Por causa da chuva e da névoa vimos cenários incríveis e aproveitámos logo para as nossas fotos da equipa e retratos. Se tiverem oportunidade, os parques em Sintra devem ser visitadas.
Em conclusão, a viagem a Lisboa foi, provavelmente, uma das tours mais bem-sucedidas da Titus. E levámos para casa um pouco de amor por Portugal. Mal podemos esperar para voltar!
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texto Roskof fotografia Roskof, Maksim Kalanep, Marcell Vendman
M C PO HN S OT PE ER N
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Isto há coisas do caraças... estava na Surge a ver o teaser do CPH Open 2016, com o Ishod Wair e o Eric Koston a skatar pela cidade escandinava e a pensar como seria fixe ir a Copenhaga para este mítico evento, quando recebo uma chamada do Rui Ventura, da Monster Energy, a perguntar-me se queria acompanhá-lo à capital da Dinamarca. Pensei para mim mesmo, “bom, devo ter feito alguma coisa de jeito nesta vida para ter sorte assim”. Faltava só a parte seguinte, que seria convencer a “patroa” a deixar-me ir e ficar ela a tomar conta sozinha de um puto de três anos e outro com 3 semanas. Depois de lhe ter perguntado e de ela ter ficado em silêncio absoluto durante uma hora lá chegou ao pé de mim e disse-me... “vai lá, vais divertir-te, estás a precisar”. És a maior”, pensei, e pus-me logo a fazer malas e a pensar que era desta que ia ver a Pequena Sereia.
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MONSTER ENERGY CPH OPEN 2016
Já lá iam 4 anos desde a minha última ida ao CPH e o evento não tem parado de crescer. Mas o que impressiona mais não é o facto de ser o evento com mais pro-skaters por metro quadrado, mas sim chegares à cidade e veres que Copenhaga, seguindo o exemplo de outras cidades na Escandinávia, optou por uma política bastante diferente em relação aos skaters. Mais do que bem-vindos, qualquer espaço público construído na cidade tem sempre qualquer coisa projetada com o intuito de ser skatável. E que melhor maneira de aproveitar esses espaços do que ter os melhores skaters do mundo a correr os vários spots da cidade durante 3 dias, até à grande final a ser realizada no CPH skatepark, o indoor da cidade? E, claro, a melhor maneira de percorrer a cidade à boa maneira nórdica é com a nossa amiga bicicleta, o único problema de andar de “bina” é mesmo quando regressas das afterpartys ao hotel. É que aqueles mini-lancis das ciclovias funcionam como ímanes e todos as manhãs ouvíamos alguém a queixar-se dos tralhos no caminho para casa. Ossos doridos à parte, vamos lá falar do que se passou na competição, apesar de só termos chegado no segundo dia.
E VAN
SM ITH
literalmente no hall de entrada da Câmara Municipal de Copenhaga... se fosse cá, deixavam?
Flip
BO BBY
WOR REST
Ah e tal, para um campeonato tens de montar megaestruturas... pois, neste nĂŁo, apenas usar os spots da cidade.
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MONSTER ENERGY CPH OPEN 2016
Legenda para quê?
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LIFBERG
Backside tailslide oververt
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RROS
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Smithgrind
faz com que qualquer rampa monstra pareça fácil... mas, acreditem amigos, não é!
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MONSTER ENERGY CPH OPEN 2016
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LEX
OL SON
christ air
Não sabemos se o Alex Olson é religioso, mas que dá uns bons Christ Airs, isso dá
Y
URI
FAC HINI
O nome de Pedro Barros estava na boca de toda gente devido à destruição provocada por ele no infame Faelden Park, casa de uma das transições mais harcore do planeta, onde mais uma vez provou que poderia ser astronauta sem problema: gravidade? Isso é para meninos! Pelo que ouvimos dizer, a malta foi toda celebrar nessa noite para Christiania, o famoso bairro da cidade onde tudo é legal e onde também existe um dos mais famosos bowls de madeira da Europa, o Wonderland (porque será?), onde o Eric Dressen organizou a Salad Bowl Jam. Tenho de admitir que fiquei triste de não poder ter estado presente, mas vinguei-me depois ao tirar 345 fotos com Eric Dressen e ao passar algumas horas a chatear-lhe a cabeça a dizer que tinha em Portugal um amigo com o mesmo nome por causa dele. Desculpa, Eric, sei que sou chato!
shifty flipão... desculpem, é que é mesmo!
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Este switch fs 360 do TJ Rogers foi das coisas mais hardcore que vimos em Copenhaga. É que em muitas das tentativas não aterrava no canal por milímetros
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RO
GERS
Gabriel Fortunato, frontshove it “ da hora”, como os nossos amigos dizem lá no Braza...
Switch Fs 360
GA BRIEL
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TUNATO
Fs Pop Shove-It
Os dois dias seguintes seriam passados a percorrer as ruas da cidade. Eu, mais 500 skaters e público, sempre em romaria de um lado para o outro. Spots com curbs, double-sets, corrimões, os dias foram passados a ver os melhores skaters do mundo a fazer o que sabem melhor num ambiente descontraído. Garanto que neste evento não há cá grades, senhas, fitas, cartões, ou vips, a única coisa que interessa é mesmo estares com a malta. Se quisesses poderias estar a pedir o autógrafo ao Nyjah Houston num momento e a seguir poderias estar a comer uma sandocha com o Luan, ou a falar de astronomia com o Evan Smith.
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O menino prodígio de Malmo a dar cartas ali ao lado de casa... flip tranfer, rápido demais para qualquer obturador fotográfico
flip transfer
NY JAH Palavras para quê? Nyjah, a máquina a fazer das suas
HU TON
STE
Há skaters com classe e depois há o
FAN
JAN OSKI
bs overcrooks
no comply fs tailslide
E eis que chegávamos à grande final no CPH Skatepark, o lendário indoor em que tudo, ou quase, é permitido e que, para além da final, é também palco da clássica afterparty depois da entrega de prémios. Apesar de ter concorrência de peso, o Nyjah Houston provou, mais uma vez, que consegue skatar daquela maneira imparável em qualquer tipo de evento, ou terreno. E suspeito que só não ganhou também a Death Race porque não participou. A “creature” norueguesa, Kevin Baekkel, limpou a Death Race. Depois lá nos preparámos para o final de tarde, altura da afterparty que é conhecida por fazer vítimas... enquanto o Phil Zwizen, Cory Kennedy e Marius Sylvanen destruíam o best trick, ali ao lado o resto da malta fazia mosh na tenda com o sound system montado ao som de Wonderwall, dos Oásis! A sério, mosh com Oásis! Era este o espírito que se vivia naquela última noite em Copenhaga. No dia seguinte pensava que poderia ir ver a Pequena Sereia mas, tal Hans Christian Andersen, ainda havia mais uma história para viver.
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MONSTER ENERGY CPH OPEN 2016
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KEN NEDY
A malta da organização tinha reservado um bar à beira-rio para um domingo à tarde relaxante e onde iriam gastar-se os últimos cartuchos e bebidas que tinham sobrado destes 4 dias de festa. Pensámos, “ok, vamos lá beber um copo por volta das 3 da tarde e a seguir vamos, então, ver a Pequena Sereia”. Pois, estas são as piores, aquelas de que não estás à espera e quando dás por ti é 1 da manhã e estás a caminhar sozinho no meio do nada. Felizmente encontrei o Jack Fardell e a esposa na mesma situação e lá conseguimos apanhar um táxi depois de 6 km a pé numa floresta dinamarquesa. Agora, sim, percebo porque o melhor contador de histórias do mundo é dinamarquês. Ali no Norte, peripécias não faltam. Quanto à visita à Pequena Sereia terá de ficar para o ano, é sempre uma boa desculpa para voltar ao CPH Open.
Cory Kennedy, backside noseblunt transfer, enquanto o Dan Plunkett executa algum tipo de danรงa tradicional da Florida
backside noseblunt transfer
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Enquanto ao longe gastaram milhĂľes para que a malta saia dos cruzeiros para um sĂtio giro, ao perto o Nuno Cardoso usou bem menos para criar uma bem mais bonita imagem... nosegrind pop-out
Entrevista Nuno Cardoso fotografia Luís Moreira/Renato Laínho entrevista João Neto/Nuno Gaia Intro Francisco “França” Lopez
Numa das minhas viagens ao Porto vi o Nuno Cardoso a skatar na Câmara de Matosinhos. Ele devia ter 15 ou 16 anos e, já na altura, se destacava pelo seu estilo de skate muito técnico, calculado e elaborado. Os anos foram passando, fui-me mantendo atento à sua skatada e fui descobrindo mais sobre ele. Até cheguei a receber uma “sponsor me tape” dele à moda antiga, só com street skate e nem um skate parque, e isso chamou-me ainda mais a atenção. Como deviam fazer os putos hoje em dia! Passado um ano ou dois o Nuno entrou para o Team DC. A proximidade entre nós aumentou e comecei a conhecê-lo ainda melhor. Sempre com um sorriso na cara e boa disposição, é um companheiro de skatada brutal, mesmo fora do seu ambiente preferido - mármore, curbs e manual pads. Atira-se a um quarter com a gana toda, para se divertir e tirar o que melhor o skate tem para oferecer: “FUN”! Amante de música, vegetariano, licenciado em gestão, construtor de DIY’s e com um caráter excecional, é um skater do car#%&$ hehe. Para mim, ele é uma das provas de que, quando queremos, tudo se pode tornar possível.
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Olá Nuno! Que idade tens, de onde és, há quantos anos andas de skate e quais são os teus patrocínios? Outras coisas que aches importantes? Olá! Tenho 25 anos, sou do Porto e ando de skate há mais ou menos 13 anos. Neste momento sou patrocinado pela Kate Skateshop, DC Shoes, LRG Clothing e Anchor Hardware. Se quiserem, podem seguir-me no Instagram e no Snapchat @nunoafcardoso ahaha !! Como é que começaste a andar de skate? O que te levou a pegar no skate e a dedicares-te de corpo e alma? Lembro-me de ter mais ou menos 8 anos e ver o Portugal Radical. Adorei ver skate e por volta dessa altura comprei o jogo do Tony Hawk para a Playstation. Tinha um skate e ia dando umas voltas, nada de especial, até que um grande amigo meu levou o skate para a escola quando tínhamos 11 ou 12 anos. Nessa altura começámos a andar juntos. Éramos 3 e os nossos pais levavam-nos a alguns spots e skateparks, como o de Matosinhos ou o de Ovar. Nenhum de nós sabia jogar futebol e acho que foi essa uma das razões para nos termos juntado à volta duma alternativa. Passado algum tempo conheci o Pico, o Alex Neto, o Kani, o Alex Candeias, o Miguel Tenreiro... Eles já andavam melhor e alguns deles conheciam o João Neto e o Gaia, que skatavam com um grupo completamente diferente. Foi nessa altura que comecei a evoluir e a partir daí nunca mais parei. Divertia-me muito mais em cima dum skate do que a fazer outras coisas e foi exactamente essa a razão de ter continuado.
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No meu caso, os meus pais sempre quiseram que fizesse outra coisa. Lembro-me do meu pai perguntar mil vezes se não preferia ir para o basket. Passaste pelo mesmo ou os teus pais sempre te apoiaram? Os meus pais sempre me puseram a fazer milhões de coisas, como golf, judo, ténis, vela… Eu acabava sempre por desistir passado algum tempo e a minha mãe queixava-se de eu nunca levar nada até ao fim. Quando comecei a andar de skate, achavam que estava obcecado e diziam que devia escolher um desporto que pudesse fazer para sempre, porque o skate não ia durar muito tempo. Demoraram um bocadinho a perceber que eu tinha descoberto aquilo de que realmente gostava, mas sempre me apoiaram, fosse com material ou a levar-me a spots e campeonatos. A verdade é que nunca mais parei. Realmente divirto-me a skatar, enquanto que as outras coisas que experimentei rapidamente se tornavam numa obrigação. Tinha de ir ao treino de judo, tinha de ir para o golf… E muitas vezes não me dava prazer nenhum. Costumam chamar-te a atenção com o típico comentário “já não tens idade para isso”? Os meus pais aceitam perfeitamente que eu ande de skate e nunca me disseram isso, mas claro que já ouvi esse comentário vindo doutras pessoas. Quando conheces alguém que te pergunta o que gostas de fazer e dizes que andas de skate, às vezes a pessoa fica a olhar para ti a pensar que és um alien. Vai acontecendo cada vez acontece menos, porque o skate começa a ser mais conhecido e, da mesma maneira que é normal alguém dizer que é surfista, começa a ser normal ser-se skater.
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NUNO CARDOSO
Desde que acabaste a licenciatura em Gestão, o que tens andado a fazer? Começaste a trabalhar nessa área, tens outros projetos ou tem sido só skate? Quando acabei a faculdade quis tirar um ano para viajar e andar de skate. Foi nesse ano que fui com o Jorge Simões para os Estados Unidos durante 2 meses. Estivemos em Los Angeles, Miami e Tampa. Foi incrível ver a realidade do skate lá e poder andar em spots que não existem na Europa, como as escolas com as mesas de picnic ou as skate plazas da Californa Skateparks. Nesse ano estive também em Barcelona. No fim dessas aventuras, estava na altura de começar a trabalhar e acabei por ir para a Red Bull Media House na Áustria. Quando voltei para Portugal, comecei 2 projectos: a diospiro, com a minha irmã, que é uma plataforma de alimentação e estilo de vida saudável, e comecei a trabalhar numa aplicação direccionada para skaters com o João Neto. Tenho andado a experimentar algumas coisas e estou a descobrir aquilo que realmente quero fazer a nível profissional, mas o skate continua e há de continuar. Estiveste a trabalhar na sede da Red Bull Media House. Como é que surgiu a oportunidade e como foi a experiência? Quando acabei a faculdade queria trabalhar numa empresa com a qual me identificasse. Nunca quis ir para uma consultora, como é muito normal para quem acaba Gestão, nem aceitar um trabalho só porque é melhor do que nada. Sou persistente e passei muito tempo online a ver as vagas da Red Bull e da GoPro, por exemplo. Acho que à Red Bull me candidatei umas 10 vezes. Acabei por conseguir uma entrevista por Skype para estagiar na Media House, em Salzburg, como assistente de produção de Action Sports para a Red Bull TV. Fui aceite e fiz as malas! Adorei a cultura da empresa e as pessoas que conheci.
Estive a trabalhar em eventos fora da Áustria, como a Simple Session na Estónia ou o Freeride World Tour na Suíça, e foi uma experiência incrível. Voltei para Portugal porque não me estava a dar bem em Salzburg. É uma cidade muito pequena - que parece saída dum filme da Disney - que tem invernos duríssimos e onde não se passa grande coisa. Como ainda estou numa idade em que tenho poucas responsabilidades e me posso dar ao luxo de andar de um lado para o outro, cheguei à conclusão que sair dali era a decisão certa naquele momento. O skate como tem corrido? Quando ficamos mais velhos, as coisas começam a mudar. Para alguns o skate já não dá aquela pica de miúdo em que passas 8h a andar. Já pensas noutras coisas, tens outras atividades para fazer com mais responsabilidade, ou estou enganado? O skate tem corrido bem. Tem sempre altos e baixos, mas sinto que estou a evoluir e a divertir-me. Não ando 8 horas por dia, mas continuo a andar o máximo de tempo possível, a filmar e a ir a campeonatos. Recentemente lancei uma série de tábuas com a Kate Skateshop, estive a trabalhar nesta entrevista e agora vai sair uma parte minha com filmagens dos últimos anos. Pelo meio vou publicando filmagens no Instagram e fazendo umas compilações. No curso de gestão o Nuno aprendeu bem a gerir o stress de skatar corrimões. Nesta altura há outras coisas que começam a ser mais importantes, porqueSmithgrind só andar de skate não paga contas, e não me iludo com o sonho de que isso ainda vai acontecer algum dia. Tenho objectivos profissionais nos quais quero investir, mas também não abdico de poder andar de skate, porque é uma das coisas que mais gosto de fazer. É tudo uma questão de equilíbrio e a verdade é que, quando planeamos o que queremos fazer e temos prioridades bem definidas, conseguimos arranjar tempo para tudo.
És das pessoas mais organizadas que conheço e tens tempo para fazer um pouco de tudo. Como é que consegues isso? Skate, estudos, trabalhos... Não é fácil gerir tudo! Gosto de trabalho bem feito e de cumprir os meus compromissos. Em relação aos estudos, sempre detestei tirar más notas e os meus pais também sempre foram muito exigentes. Ao mesmo tempo, nunca achei que ficar em casa horas a fio a estudar fosse produtivo. Estudava aos poucos, mas com montes de antecedência. Lembro-me de ‘competir’ com alguns dos meus melhores amigos para ver quem conseguia as melhores médias e isso fazia dos estudos um jogo. Simplesmente queríamos fazer um bom trabalho e divertiamo-nos com isso. Na faculdade fazia o mesmo, mas já comecei a ter objectivos mais concretos, como conseguir ter bolsa para não pagar propinas, e planeava bem os meus dias para saber quando é que tinha de fazer o quê. Mesmo em épocas de exames conseguia sempre ir andar de skate e ter tempo para me distrair. Manter o ritmo ajuda-me a conseguir fazer tudo o que quero. Hoje em dia, tenho um quadro branco na parede do quarto onde tenho calendários semanais, mensais e anuais, tenho as minhas finanças organizadas no Excel e uso reminders no telefone para tudo. Gosto de ter um bom overview de tudo aquilo que se passa, não só para poder conjugar várias coisas, mas também para limpar a cabeça e não ter de me preocupar com poder esquecer-me de alguma coisa. No momento certo alguma coisa vai relembrar-me do que tenho para fazer. Apesar de ter tudo muito sistematizado, deixo sempre margem para as coisas acontecerem naturalmente. No fundo, o que realmente faz com que consiga fazer tudo é a definição de objectivos claros e o gosto que tenho em fazer as
coisas acontecer. Tento assumir a responsabilidade de tudo o que se passa na minha vida em vez de arranjar desculpas que não me levam a lado nenhum. Não é fácil uma pessoa começar a fazer isto dum dia para o outro. Tem que ser uma construção gradual e adaptada às necessidades de cada um. Já não me custa nada chegar ao fim do dia e por as despesas no Excel ou chegar ao fim-de-semana e planear a semana seguinte, mas isto é o que fui construindo ao longo dos anos e funciona para mim. Não é uma fórmula universal. Qual foi a foto desta entrevista que te deu mais trabalho? Houve algum episódio engraçado? Provavelmente a do Fs Smith. O Pico tinha-me enviado uma foto dum corrimão em Braga e, um dia que andava por aqueles lados, resolvi ir ver se valia a pena voltar ao spot para tirar uma foto. Andei um bocado às voltas e encontrei outro corrimão, onde acabei por tirar esta foto. O rail tem as melhores medidas que alguma vez vi e, naquele dia, o chão não me pareceu assim tão mau. Voltei lá com o Rena e quase que desisti de sequer tentar porque o chão de cima é péssimo. Como tinha ido até Braga, acabei por tentar e rebentei-me todo. Acho queCab Noseblunt 270... bom, já são caí de todas as maneiras possíveis e imaginárias, abri as mãos, a canela erotações a mais para a nossa cabeça as costas, magoei-me no joelho e fiquei com um calcanhar pisado! Foi das maiores batalhas que tive recentemente, não pela manobra em si ser difícil, mas pelo chão do spot ser um terror, tanto em cima como em baixo. Mas o Smith acabou por sair! A única coisa que não saiu depois daquela luta foi a foto. Não tínhamos flashes e tivemos de voltar noutro dia. Queria mesmo voltar a andar ali - ou talvez não - mas no segundo dia acabamos por conseguir tirar uma boa foto e ficou o assunto resolvido!
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NUNO CARDOSO
Varial Heel manual
Sempre a sua cidade... Fakie 5-0, na baixa do Porto
Este ano foste com um grupo bem diversificado de skaters a Marrocos, um país com uma cultura completamente diferente da europeia. Como é que foi a experiência? Muitas aventuras? Os spots? As raparigas (ahah)? Já viajei bastante, mas nunca tinha estado em países que não tivessem uma cultura ocidental. Quando começámos a falar numa tour na carrinha da Surge, sugeri logo irmos para Marrocos, porque ia ser uma viagem completamente diferente do habitual. Não sabia ao certo que spots íamos encontrar, mas isso não me preocupava muito sinceramente. Queria era conhecer uma cultura diferente, conhecer as pessoas, a comida, os mercados, a arquitectura e as paisagens. Sabia que nos íamos divertir! Quando andamos na Europa, as diferenças entre os países não são enormes. Por isso, mal chegámos a Tânger, percebi que tínhamos feito a escolha certa: tudo era diferente e adorei a sensação. Todos os dias foram uma aventura. Desde andar à procura de spots, a encontrar sítios para dormir, a arranjar almoços e jantares, nada acontecia sem peripécias. Corremos tudo até Agadir e encontramos muitos spots, alguns bem diferentes do habitual. Quanto às raparigas, não chegámos a conhecer marroquinas, mas o Gamito e eu fomos muito bem recebidos pelas turistas alemãs ahaha. Podia escrever um artigo inteiro sobre esta viagem, mas o Roskof é que ficou encarregue dessa tarefa. Por isso vejam na Surge o artigo e o vídeo que, se ainda não saiu, está para sair! O estilo de vida saudável está na moda. Vemos cada vez mais pessoas vegetarianas ou a fazer exercício físico, como running, musculação ou yoga.
Explica-nos como surgiu o teu interesse nestes temas e as razões que te fazem continuar. Hoje em dia, estes temas que estão a ganhar notoriedade, mas acredito que vieram para ficar. Lentamente as pessoas estão a tomar consciência de que, se tiverem alguns cuidados no dia-a-dia, conseguem sentir-se muito melhor e não andar sempre cheias de sono a ressacar o próximo café! Em nossa casa, sempre se comeu muita fruta e legumes, e não me lembro de alguma vez ter havido uma garrafa de Coca-Cola no frigorífico. A minha mãe sempre tentou que tivéssemos uma alimentação saudável e lembro-me de ter começado a beber smoothies de fruta ao pequeno almoço com mais ou menos 13 anos. Foi também por volta dessa altura que uma das minhas irmãs chegou de Londres a fazer smoothies verdes. A primeira vez que vi aquilo achei que ela estava maluca, mas rapidamente mudei de opinião quando provei e percebi que eram incríveis. Vi naquilo a solução para que a minha mãe não me estivesse sempre a dizer que tinha de comer mais legumes! Aos poucos fui-me interessando por alimentação e fui reduzindo o meu consumo de carne, até que, aos 17 anos, deixei de comer por completo. Sabia que, por um lado, conseguia ter uma alimentação mais saudável e, por outro, não estava a contribuir para uma indústria que trata os animais como lixo. Também fui procurando produtos biológicos locais e evitando ao máximo comida processada. Sinto-me bem, com mais energia, recupero mais rápido das lesões, raramente fico constipado e não me lembro da última vez que estive na cama doente. Acredito que o que me fez conseguir chegar até aqui foi o estar alinhado com a minha família e o facto de todo o processo ter sido muito gradual. Se tentarmos mudar dum dia para o outro, não vai funcionar.
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NUNO CARDOSO
Querem dar manobras destas em corrimões de street? Sigam os conselhos do Nuno: tratem bem o corpo e a mente... é meio caminho andado. Nosegrind Nollieflip
A minha relação com a preparaçao física veio mais tarde, apesar de ter começado a fazer yoga aos 11 anos. Quando fiz erasmus em Milão, passei por um inverno cheio de neve em que andei muito poucas vezes de skate. No início da primavera, senti que não aguentava 20 minutos seguidos a andar de skate sem ter de fazer uma pausa. Comecei a correr para aumentar a resistência, mas rapidamente percebi que a corrida, por si só, não é a solução ideal. Ao voltar para o Porto inscrevi-me num ginásio e comecei a fazer treinos em que usava principalmente o peso do meu corpo e instabilidade. Senti logo diferença na estabilidade dos tornozelos e joelhos e na minha capacidade de andar de skate mais tempo. Hoje em dia continuo a treinar e sinto que me ajuda a evitar lesões, a aumentar os meus níveis de energia e o meu bem-estar em geral. Procuro variar entre exercícios de força, equilíbrio, resistência e flexibilidade e, ao combinar treinos regulares com uma boa alimentação, estou a aumentar o número de anos em que me vou conseguir manter activo, seja a skatar, surfar ou simplesmente a poder mexer-me sem me queixar de dores nas costas ou nos joelhos. Adoro fazer desporto e vou fazer tudo o que puder para me manter em forma o máximo de tempo possível. Gosto do processo, porque sinto que estou a evoluir e isso dá-me motivação para continuar. Dá-nos a tua opinião sobre a presença as grandes marcas - Nike, Adidas, New Balance - na indústria do skate. Gostas do trabalho que estão a desenvolver? A minha opinião acerca deste tema é simples: se as grandes marcas entraram, é porque havia espaço. Havia coisas por explorar. É verdade que o investimento gigante da Nike fez com que as marcas pequenas ficassem com dificuldades em competir, tendo algumas aberto falência. Mais do que qualquer outro nesta indústria, o mercado das sapatilhas é muito complicado para empresas pequenas, porque os custos fixos de produção são enormes. Moldes para cada modelo, cada modelo em vários tamanhos, combinações complexas de materiais, entre outros. Tudo somado faz com que seja muito difícil para uma marca, com meios limitados, apresentar um produto que consiga competir com a oferta duma empresa grande com capital para investir. Num mercado competitivo, as empresas têm de se reinventar constantemente ou, caso contrário, não conseguem sobreviver. Hoje em dia fala-se mais da presença da Nike, da Converse, da Adidas e, mais recentemente, da New Balance na indústria do skate e dos efeitos negativos que isso está a ter, mas não nos podemos esquecer de duas coisas: primeiro, a Nike está no skate desde o início dos anos 2000. Não entrou ontem. Segundo, todas estas marcas entraram da maneira certa: contratam skaters para ficarem responsáveis pelos projectos, criam teams e dão condições aos patrocinados para fazerem aquilo que mais gostam, fazem vídeos e promovem milhares de eventos. Até restauram spots emblemáticos e tornam possível que os skaters voltem a usufruir destes espaços. Também é comum argumentar-se que tudo o que estão a fazer é em busca de crescimento e de lucros, e não por amor à camisola. Mas será que não estão todas as empresas à procura do mesmo? Vejamos o exemplo da DC e da Vans, duas marcas que começaram no skate. Ambas evoluiram e começaram a ter linhas de lifestyle, linhas de surf, snowboard, e até motocross e rally. Conseguiram adaptar-se e criar estruturas que lhes permitem continuar no mercado. E continuam, ambas, a ser autênticas. Simplesmente têm mais meios de gerar receitas, porque a verdade é que todas precisam de dinheiro para sobreviver e para poder investir. No geral, esse modelo de negócio é o que vai subsistir: o mainstream gera receitas que permitem o investimento no core. Todas estas marcas estão a fazer com que o skate cresça e que, um dia, possa estar no mesmo patamar que outros desportos como o surf, por exemplo. Ao fazer com que o skate se desenvolva, vai haver mais condições para as pessoas poderem evoluir, mais oportunidades para se poder viver do skate e mais
fundos para financiar projectos. Ao haver mais dinheiro no skate, vai haver mais espaço para que novas marcas core possam existir e já se começa a ver isso a acontecer. Hoje em dia estão a aparecer imensas marcas novas como a Huf, a Fucking Awesome, a Palace, a Magenta, a Polar, e por aí fora. Acredito perfeitamente que isto se deva ao aumento do investimento no skate a que estamos a assistir. As pessoas que ficam a conhecer o skate - sendo ou não praticantes - podem gostar das propostas de valor dessas marcas e isso faz com que elas possam continuar os seus projectos como deve ser. Não podemos ter uma mentalidade tão pequena que nos faça querer fechar o skate ao mundo. Seria o mesmo que uma pessoa de 50 anos se recusar a usar a internet, porque ver televisão ou ouvir rádio é que é bom. O skate está a evoluir e nós também. Um exemplo muito básico: eu adoro juntar-me com os meus amigos e ver o Street League, da mesma maneira que há milhões de pessoas que vibram quando se juntam para ver um jogo de futebol. Actualmente os skaters podem ver eventos de skate em directo e às vezes até vejo campeonatos com o meu pai! Onde é que isso é mau? O mercado está mais competitivo e quem realmente quiser ter uma marca - seja esta direccionada para o mercado core ou mainstream - tem que trabalhar mais e melhor, sem dúvida. Mas os benefícios vão aumentar para todos, ao mesmo tempo que o skate vai manter a sua identidade. Ninguém tem interesse que o skate a perca. O que achas do skate passar a estar presente nos Jogos Olímpicos? A minha opinião sobre este tema vai ao encontro da minha posição em relação à presença de grandes marcas no skate: o que ajuda o skate a crescer irá criar espaço para que o core possa continuar a existir. Eu sou a favor do desenvolvimento do skate e acredito que se irá fazer um bom trabalho em relação à entrada do skate para os Jogos Olímpicos. O skate é uma coisa incrível e, por isso mesmo, quero partilhá-lo com o maior número de pessoas possível. Lutar contra o crescimento do skate é tentar travar o vento com as mãos. Pode haver crescimento com pés e cabeça, desde que quem esteja a tomar decisões saiba o que está a fazer. Cabe-nos a nós manter o espírito de filmar nas ruas, saltar vedações, construir os nossos próprios spots e encontrar um equilíbrio entre o core e o mainstream. A meu ver, existem duas razões para que haja um grande número de skaters que são contra a presença do skate nos Jogos Olímpicos. Em primeiro lugar, o ser humano, por natureza, é resistente à mudança. Em segundo, são raras as pessoas - e arriscaria dizer inexistentes - cuja identidade provém exclusivamente delas próprias. Vamos buscar a nossa identidade a factores externos, como uma cultura, uma actividade ou um grupo social. No caso do skate, muita gente encontrou uma maneira de fugir ao status quo e de criar uma identidade à parte e fora do comum. Quando veem aquilo que lhes confere a sua identidade a mudar, sentem-se ameaçadas e resistem. O crescimento do skate vai contra aquilo que as atraiu inicialmente. Trata-se de uma relação emocional forte, que amplifica a resistência. No entanto, o skate é livre e vai continuar a ser, como sempre foi. Quem preferir andar em spots DIY vai poder continuar a fazê-lo, e quem quiser ser um atleta e passar os dias enfiado num skatepark a treinar para competições, também. Cada um pode encarar o skate como bem entender, mas a verdade é que o seu crescimento irá trazer benefícios para todos. Acredito que os desportos radicais nunca vão alcançar o nível de popularidade dos desportos tradicionais, porque são significativamente mais difíceis e têm um risco inerente muito maior. Todos conseguem dar um chuto numa bola, mas são raros os que se conseguem por em cima dum skate à primeira, já para não falar de acertar manobras que exigem meses ou anos de treino.
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Nollie Shove-it Nose Manual Nollie Backside flip out... bom, esta mão tem de tirar férias depois de escrever as legendas desta entrevista!
São muito mais complexos e, por isso, nunca irão ser comparáveis, por exemplo, ao futebol. Isto faz com que exista uma exclusividade característica deste tipo de desportos, que contribui para que a sua essência e autenticidade se mantenham. Sou a favor que desportos como o skate e o surf se tornem modalidades olímpicas, porque continuarmos a ver lançamentos do disco ou 100 metros barreiras não tem grande piada! É um evento incrível e que deve ser reinventado para se manter actual. Não me sinto ameaçado por estas mudanças e vejo nelas grandes oportunidades para o skate se desenvolver. Tenho a certeza que, a longo prazo, serão os Jogos Olímpicos a adaptar-se ao skate e não o contrário. Entretanto, podemos todos continuar a ir andar para a rua. Isso nunca vai mudar! Como achas que está o skate em Portugal? As marcas têm investido no skate e promovido eventos? Acho a tua opinião importante, porque as empresas podem ver alguns conselhos de quem conhece a comunidade skater e ficar com uma perceção do que esta sente em relação ao trabalho da indústria. Portugal é um mercado pequeno, mas vai crescer e as marcas que começarem a investir agora podem ter muito a ganhar no futuro, caso o crescimento esperado realmente aconteça. Quem se afirmar actualmente como fazendo parte da indústria, irá ser aceite no futuro, por já cá andar há anos. Vai ter experiência para trabalhar o skate decentemente e irá trazer valor para o público, o que acaba por se traduzir em benefícios próprios. No entanto, ainda se investe pouco no skate em Portugal. Principalmente nesta fase, há cada vez menos produções nacionais com equipas de patrocinados, menos tours e menos eventos. Tem havido menos gente a andar mas, como qualquer mercado, o skate tem altos e baixos e não tarda nada volta a haver uma fase de crescimento, à semelhança do que está a acontecer lá fora.
Assistimos a uma geração que desapareceu repentinamente - vejo muito pouca gente da minha idade a andar - mas, ao mesmo tempo, está a ser criada uma nova e com um skate muito forte. Vemos novos skateparks e novas escolas de skate a aparecer, como por exemplo a Kate SkateSchool, que tem feito um trabalho incrível na dinamização do skate no Porto, ao por miúdos novos a andar, ao fazer campos de férias e a mostrar-lhes como o skate funciona. Quando esta geração crescer, vamos observar outro grande boom no skate, que acredito que irá acontecer por volta de 2020, juntamente com os Jogos Olímpicos de Tóquio. Nessa altura, quem está a começar agora já vai ser mais velho, vai participar em campeonatos e vai ter uma exposição muito maior do que as gerações actuais, aumentando exponencialmente a divulgação do skate. Estamos numa fase menos boa, mas é exactamente nestas alturas que se começa a investir no futuro. Os teus planos para o futuro estão relacionados com o skate ou tens outras ideias? Gostava de trabalhar no skate, mas não sei se o meu futuro profissional não me vai levar por outros caminhos. Adoro a área de tech e web e pretendo, um dia mais tarde, estar ligado ao mundo das startups relacionadas com estes temas, idealmente como marketeer, product manager ou business developer. São áreas onde posso capitalizar tanto os conhecimentos mais analíticos como os mais criativos. Há tantas coisas que eu adoro fazer, que não vejo que tenha necessariamente de ter uma profissão ligada ao skate. Se algum dia trabalhar nesta indústria, óptimo. Caso contrário, o skate vai continuar a ser o meu refúgio e vejo isso como uma coisa positiva. O que é certo é que vou continuar a andar de skate. Não vejo como é que isso algum dia poderia mudar!
Shove-it nosegrind revert à beira mar plantado... não havia um poema assim?
Neste momento, o meu objectivo é ganhar experiência e aprender como é que se transforma uma boa ideia numa empresa bem sucedida no dias de hoje e no futuro que se está a construir. Estou concentrado em aprender o máximo possível e quero continuar a estudar constantemente, como tenho feito, através do meu trabalho na gestão de marca da Somersby, livros, podcasts, cursos, conversas... A quantidade de informação que temos disponível hoje em dia é incrível e quero aproveitá-la ao máximo, para que um dia possa ter o meu próprio projecto e trabalhá-lo da melhor maneira. Paralelamente a isso, quero continuar a participar em projectos humanitários através de voluntariado, como já faço desde o início deste ano no CASA Centro de Apoio ao Sem Abrigo. É importante sermos ambiciosos e termos grandes ideias que pretendemos realizar, mas ajudar quem mais precisa não só nos permite ajudar a construir uma sociedade melhor, como também nos mantém gratos por tudo aquilo que temos. Agradecimentos Quero agradecer todo o apoio dos meus pais, irmãs e família, dos meus amigos, dos meus patrocinadores - KATE Skateshop, DC Shoes, LRG Clothing e Anchor Hardware - da Bárbara Magalhães do Centro de Medicina Desportiva do Porto, que me desempena sempre que é preciso, e de toda a gente que me ajudou ao longo dos anos, tanto no skate como na minha vida em geral. Quero também agradecer à Surge pela oportunidade de estar aqui outra vez! Por último, tenho um agradecimento especial a fazer ao Pedro Silvestre. Chinelo, muito obrigado pela mudança que começaste!
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O Thaynan Costa não tem parado de viajar por esse mundo fora. De facto, a única maneira de apanhar este rapaz quieto é numa página de revista. Crooked tail-grab Pop-out fotografia Dave Chami
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Se a vida te dá limões faz limonada, se te dá corrimões curvos faz a curva e continua... profundo! Bruno Senra, 50-50 até à arvore fotografia Roskof
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O Kevin Baekkel veio tirar uns dias de férias a Portugal, com os amigos da loja dinamarquesa “Circus Circus”, pela ocasião da final europeia do Shop Riot, e, como podes ver por esta sequência, foram uns dias bem relaxantes… boardslide a direito e no triple kink da praia de Carcavelos sequência Roskof
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Ó Jorge Simões, não vês que isso é um local de trabalho, não é para andar de skate... ah, espera o teu trabalho é andar de skate! 50 pop-out fotografia Ruben Claudino
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Os lisboetas podem queixar-se do caos no trânsito com estas obras todas, mas uma coisa é certa, os skaters não tem razão de queixa, estão a surgir novos spots por todo o lado. Pedro Roseiro, flip - Alcântara fotografia Roskof
Um bocado mais inclinado e este rail era um varĂŁo de strip. Gabriel Ribeiro, frontfeeble fotografia Ruben Claudino
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Intro Surge Entrevista André “Maze” Neves
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Ex-B-boy, MC, Produtor. Há mais de 20 anos que Mundo Segundo coleciona um chorrilho de histórias no panorama do hip hop nacional, alternando entre o papel de protagonista e incitador. Parte do coletivo Dealema, criador do “Nova Gaia Hip Hop Sessions”, o genuíno embaixador do movimento hip hop tuga quer verdadeiramente criar uma escola. Em todos os sentidos da palavra.
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MUNDO SEGUNDO
Para alguém que tenha descoberto o Rap nesta década e apenas conheça o que tem sido feito recentemente, quais os produtores e MCs que te marcaram e que são essenciais investigar? Dj Premier, Pete Rock, Rza, Dj Muggs, Marley Marl, Q Tip, J Dilla, entre muitos outros, mas estes são essenciais e obrigatórios.
Quando nos conhecemos lembro-me que tu e o Guze já andavam de skate há algum tempo, quais eram os skaters que vos influenciavam mais na altura? Pedro Killer, Zé Mini (RIP), Danny Way, Pat Duffy, Mike Carrol, Colin Mckay, Rodney Mullen, entre outros. Tens algum filme de Skate favorito? Sim. O Plan B, o primeiro. Estás atento ao Skate no Porto? O que achas do nível do sk8 nacional, atualmente com skaters a dar cartas no estrangeiro? Vou tentando estar, mas não tanto como antigamente, claro. A nível nacional neste momento é cem vezes superior ao de há duas décadas, é realmente delicioso ver os rapazes de hoje em dia a destroçar manobras! O que achas de iniciativas como a escola de skate da Kate skateshop? Acho muito positivo e importante para o futuro do skate em Portugal. Já falámos algumas vezes sobre um dos teus projetos de vida, que seria abrir uma escola de Hip Hop, queres falar sobre isso? Sim, é um projeto que tenho de um dia poder ter uma escolinha onde possa passar às novas gerações o legado e a história do Hip hop na sua verdadeira essência.
Lembro-me do teu ritmo de produção ser compulsivo, de perderes várias vezes centenas de beats do fastracker e mais tarde com a MPC continuares no mesmo ritmo de meses seguidos a produzir, qual é agora o teu método e ritmo de produção? Agora sou um pouco mais seletivo e ponderado, só vou produzir quando tenho algo em mente que realmente me inspira, tento não ter tempos mortos no estúdio e aproveito para fazer outras coisas sem ser música, mas que também me dão muito prazer. Como é que a experiência ao vivo com banda influencia a forma como produzes agora os teus discos? Agora tenho outro tipo de dinâmica nos beats, o que permite outro género de flows e interpretações nos versos. Também tenho sempre de escolher beats que tenham um tom possível para ser interpretado pela banda pois por vezes os samples com o pitch mudado perdem o tom certo e torna-se impossível de reproduzir fielmente com instrumentos.
Sempre tiveste um papel de divulgador e promotor da cultura durante todos estes anos, que impacto nos tempos correntes teve todo o trabalho que desenvolveste nas Nova Gaia hip Hop Sessions? Acho que educámos o público da maneira certa e talvez por isso os concertos de Hip Hop no Porto sejam vistos como os melhores do país a nível da intervenção do Público. Quando começámos, o Mariño teve um papel muito importante para nós, não só como divulgador e educador, mas ao passar as nossas maquetes. Eu com a Oblá fm e agora no Ginga Beat, sinto-me a retribuir essas oportunidades, tu certamente sentes o mesmo... como está a ser o desafio Skills Radioshow na Nova Era? Está a ser muito gratificante pois era algo que já queria fazer há muito tempo, e agora posso dar a conhecer um espetro muito maior do Hip Hop, para além daquele que o público em geral conhece e ainda posso entrevistar pessoas que admiro e dar a conhecer o seu trabalho.
Que projetos tens na calha para este ano e para 2017? Os mais iminentes neste momento são o disco de Mundo Segundo e Sam the Kid e um disco a solo. Muita gente não sabe, mas atualmente e já perto dos 40 continuas bastante ativo, jogas basket e futebol várias vezes por semana... qual a importância do desporto na tua vida? É uma forma de me manter são, tanto fisicamente como mentalmente, é algo que valorizo bastante na minha vida e não dispenso. Queres deixar uma mensagem a todos os Skaters que estão a ler esta entrevista? Sejam felizes nunca percam tempo e procurem algo na vida que realmente vos satisfaça!
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Não é rapaz de fazer planos. Na vida, como na arte, o inesperado é algo não só que o fascina, mas que insistentemente procura. Seja na experimentação de materiais e técnicas, seja na alternância entre o seu trabalho individual e o coletivo Germes Gang. Ricardo Passaporte subverte as regras [quase] sempre a seu favor.
fotografias cedidas pelo artista entrevista Sílvia Ferreira
www.ricardopassaporte.com
LIDL Customer, 2016 Acrylic airbrush on canvas
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RICARDO PASSAPORTE
Wild Style, 2016 Found object
Grafitti, Fotografia, Pintura, Escultura... é um percurso com ordem cronológica, ou como é que te defines atualmente enquanto artista? Quem é o Ricardo Passaporte? Nunca tinha visto essa ordem cronológica dessa forma, mas até faz algum sentido. Quando comecei a pintar todos os dias foi provavelmente por causa do graff, depois tive uma fase em que pintava todos os dias e tirava fotos, só mais tarde é que comecei a focar-me no atelier. Hoje em dia continuo ativo em todas essas práticas, umas mais, outras menos. Apresentas várias abordagens artísticas, exploras diferentes técnicas, diversos meios, mas... como é que tudo começou? Honestamente sinto que sou livre de fazer o que quiser, não tenho de ficar preso a uma técnica ou a uma ideia. Acho que é importante estar a fazer uma cena que me faça sentido naquele espaço de tempo, quando deixar de fazer sentido tenho toda a liberdade para passar para seguir em frente. Eu desde pequeno que via o meu avô a pintar e ficava super fascinado com os livros de fotografia do meu bisavô, de certeza que veio daí. És um artista sempre em busca de diferentes materiais. Procuras encontrar um novo estilo, inusitado, diferenciador? Funciona muito por fases, houve uma fase entre 2012/2014 em que tive uma vontade gigante de experimentar materiais e desenvolvi o Fire Painting e o Foam Painting e agora estou mais focado em pintura e instalação, o que não faz com que eu não volte a pegar nessas séries mais antigas. Não vejo essas séries com um início e um fim, acho sempre que eventualmente vou voltar a pegar nelas. O que é que te levou a experimentar o Fire Painting? O Fire Painting veio mesmo da necessidade de eu querer resultados rápidos e em que eu não conseguia controlar a técnica e o resultado final a 100%, era algo que no fim também me surpreendia de alguma maneira. A ideia de pintar uma tela durante um mês aborrece-me. O formato espontâneo e inesperado nessa técnica fascina-te, é esse o teu modo de estar na vida, ou procuras sempre ter uma quota-parte planeada? Infelizmente acaba também por ser o meu modo de estar na vida e só funciona bem no trabalho. Pode parecer um bocado cliché, mas viver a vida cheia de planos já não se usa. Fizeste mestrado em Design de Moda e atualmente conjugas o teu trabalho artístico com uma outra ocupação em horário “tradicional das 9 às 5”. Como é que fazes esta gestão? Pela primeira vez, em 28 anos de vida, tenho de ter horários reais, isso acaba por ser bom para mim porque faz-me tentar aproveitar melhor o tempo. Na verdade, acho que me meti nesse “horário tradicional” para me educar um bocado e não dar por mim a acordar ao meio dia ou a estar a desenhar ou a pintar às 5 da manhã.
Installation view at Galeria da Boavista, Lisboa
B.T.S 4, 2016 Acrylic spray on canvas
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RICARDO PASSAPORTE
Installation view at Galeria Alegria, Madrid
Já somas muitas exibições do teu trabalho em diferentes países, como Inglaterra, Bélgica, Espanha, Itália, EUA... Como vês a profissão de artista plástico, “dentro e fora de portas”? É complicado, tens de apostar tudo e tens de estar sempre focado nisso, não pode ser um hobby que fazes só quando te apetece. Não é um emprego em que ligas quando entras a uma certa hora e desligas quando sais, tens de viver isso todos os segundos, seja em Portugal, seja lá fora. Que evolução prevês dentro do panorama artístico nacional? Eu sou péssimo a prever coisas. Parece que nos últimos anos tem havido uma aposta maior na cultura em Portugal, provavelmente porque Portugal está a ficar na moda. Obviamente isso tem as suas vantagens e desvantagens, mas, sinceramente, sinto que existe um programa cultural cada vez mais relevante. Num mundo perfeito, com pintarias o cenário desejável em Portugal para artistas em ascensão? E que conselhos dás a quem está “a arrancar”? Reestruturava todo o ensino, acho que os estudantes de arte acabam os cursos totalmente à toa da realidade. Acabam o curso e depois? Fazem o quê? Não sabem como se mexer e os que sabem, só sabem a nível nacional. O único conselho é não irem atrás do que está a “bater”, serem originais.
O coletivo Germes Gang, de que fazes parte, funciona para ti como um alter ego, onde se pode ser mais provocatório? Sentes que nesse formato há outra liberdade para criar? Obviamente, Germes Gang não tem regras, é violência, é ironia, é non-sense, é amor, é gang-bang, é tudo. Com Germes Gang não tenho de ser politicamente correto, tenho de ser inteligente de outra maneira. É pura diversão. É um trabalho mais cru e incisivo? Que mensagens procuras passar? É um trabalho mais relaxado na maneira que não me interessa realmente o impacto que vai gerar. Tanto posso estar a desenhar um acidente de carro como um Homer Simpson de cadeira de rodas, como um gang-bang… são ideias infinitas. Mensagem zero. O que é que estás a preparar para o futuro? Agora em outubro vou ter uma exposição individual num Artist Run Space em Pescara, em Itália, para o próximo ano já tenho marcado uma exposição individual na galeria Ruttkowski68 em Colónia e outra individual na Galeria Annarumma, em Nápoles. Com Germes Gang, vamos lançar agora mais dois livros com a editora Stolen Books.
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Uma viagem surpreendente por Myanmar
Texto e fotografia Kevin Metallier
BIRMANI
A felicidade está numa vida harmoniosamente disciplinada... é esta a moeda nacional birmanesa. Estas palavras entoam uma melodia tão intoxicante quanto somos esmagados ao entramos em contacto com a dura realidade. A mesma em que a desigualdade e a corrupção ainda vêm à tona, num país ainda assustado pelos recentes abusos históricos. Se por um lado a madrugada de uma nova era não esteja assim tão longe de iluminar todo um povo, a sombra de uma ditadura militar, uma liberdade imposta, em constante flutuação durante mais de meio século, ainda mantêm Myanmar na escuridão. Aqui fica a história da imersão no coração de um destino fascinante, às vezes perturbador, que ainda não entra na caixa imposta pela estandardização económica...
Texto e fotografia Kevin Métallier
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Max Garsson – Ollie
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THE GOLDEN ODISSEY
Em muitos aspetos Myanmar é um país controverso no plano político internacional, sofredor de grandes maleitas e decisões governamentais desastrosas, de que continua a padecer. Desde logo no próprio nome. Passou a chamar-se Myanmar em 1989 (um termo que remete para os primeiros habitantes do mundo), sendo que muitos países, como a Tailândia, o Canadá ou a França, não reconhecem oficialmente este novo título e continuam a chamá-lo Birmânia, nome herdado dos tempos coloniais britânicos. Desde o golpe que abalou o país em 1962, o povo birmanês tem enfrentado uma ditadura Marxista orquestrada pelos militares do exército. Com uma desigualdade crescente, o trabalho forçado é prática comum, os direitos humanos são recorrentemente violados, o poder judicial não é independente do poder político, os partidos da oposição são banidos... uma situação política catastrófica coloca a Birmânia entre os piores países do mundo em termos de liberdade individual, estando relegada para o terceiro lugar da tabela dos Estados mais corruptos do planeta no ano de 2010 (dados da Agência Internacional
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Max Garsson – Frontside 5050
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para a Transparência). Um quadro negro que, apesar de tudo, deixa vislumbrar umas pinceladas de luz com a libertação de Aung San Suu Kyi. Em prisão domiciliária em Yangon durante anos, decretada pelos militares no poder, a Prémio Nobel da Paz começou a desenhar o retorno do país à democracia, com a ajuda do seu partido NLD (Liga Nacional para a Democracia), desde 2011. NLD, que chegou a ter uma vitória esmagadora nas últimas eleições parlamentares em 2015, e que deverá permitir que se continue na senda da política de abertura e liberalização. A transição democrática pacífica alcançada pela popular San Suu Kyi parece ter começado gradualmente a criar uma réstia de esperança para o povo Birmanês.
George Poole - Frontside Smith pop-out
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THE GOLDEN ODISSEY - UMA VIAGEM SURPREENDENTE POR MYANMAR
Chris Haslam – Flip Fakie
Korahn Gayle - Ollie
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Enfiada entre a Índia, a noroeste, a China, o Laos e a Tailândia a Este, a Birmânia é um país banhado de espiritualidade, vive e cresce invariavelmente com as suas crenças budistas, sendo praticante da corrente Theravada, que usa rituais populares relacionados com espíritos, com influências animistas pesadas. Esta doutrina massiva levou os militares a tomar decisões ditadas - por incrível que pareça - por astrólogos! Entre as decisões mais estranhas está a súbita mudança de direção de condução na estrada: deixou de conduzir-se na faixa da esquerda (herdado da era colonial britânica) para passar a conduzir-se na faixa da direita. Da noite para o dia, milhares de birmaneses tiveram que passar a conduzir à direita, com veículos equipados com volantes à direita. Uma alteração súbita imposta pelo regime autoritário, que ainda hoje causa aberrações em termos de segurança rodoviária, (incluindo quando um veículo tenta ultrapassar outro, pela esquerda, com o volante à direita), perceção das prioridades e outras situações absurdas como a saída dos passageiros do autocarro inexoravelmente... para o meio da estrada em vez de para o passeio. Entre outros absurdos decididos pelo regime ditatorial: a criação em 2005 de uma nova capital, Naypyidaw (que significa “os restos mortais do rei), construída no meio da selva, 300 quilómetros a norte da velha Yangon. Mais um retoque do poder militar ao encontro das enigmáticas previsões das estrelas. Esta nova capital, seis vezes maior do que Nova Iorque, cuja construção começara envolta em grande secretismo em meados dos anos 90 e que viria a custar a modesta quantia de 4 biliões de dólares, alberga agora administrações e ministérios do país, mas continua praticamente deserta. Completamente “fora de mão” para estrangeiros, a nova capital pinta um cenário pós-apocalíptico saído diretamente de um filme de David Lynch. Avenidas gigantes com 16 vias virtualmente vazias, prodigiosos resorts desocupados, campos de golf imensos pobres em praticantes, edifícios monumentais praticamente irreais... Naypyidaw é igualmente extravagante e esquisita. Fomos até lá desenterrar alguns spots, todos igualmente improváveis, infelizmente sem sucesso. A Casa do Rei não é definitivamente a casa do skater.
George Poole -Grind
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THE GOLDEN ODISSEY - UMA VIAGEM SURPREENDENTE POR MYANMAR
Com uma herança forçada por um passado atormentado, a República da União de Myanmar, nome oficial atribuído pela junta militar em 2010, há muito que está à margem da modernidade, presa em si mesma. Muitas áreas do país têm acesso proibido há anos pelos militares e ignoradas pelo resto do mundo. Paradoxalmente, este isolamento forçado tem-se tornado em uma das forças do país, do ponto de vista turístico. Um número significativo de locais históricos preservados surge gradualmente como joia que eclode à luz do mundo. A aventura birmanesa é uma peregrinação até um sabor único, inesperado, uma ferida vívida no tempo, em que se amontoa uma horda de passageiros ansiando por descobertas autênticas e mágicas. No coração da planície de Bagan, os visitantes maravilham-se com a luz da madrugada antes de silhuetas de chapéu cónico saírem do meio do nevoeiro. Sonho e realidade entrelaçados em contemplação meditativa. Milhares de pagodes e templos de beleza sem idade erguem-se por entre uma evasiva frota de balões carregados pelo vento antes de serem engolidos um a um no horizonte. À medida que o sol continuava a trepar pelo céu, perseguindo as últimas nuvens de algodão, crentes e turistas calcorreiam descalços as ruas de calçada, perturbando a intimidade frágil de templos centenários. Mais a este, os barcos de pesca dançam uma valsa agitada no lago acetinado de Inle. Um verdadeiro Jardim de Éden aquático é a fonte de nutrição de um povo inteiro. Os aldeões das redondezas e os viajantes de outras paragens amontoam-se pelos mercados que pululam onde quer que ecoe o barulho de gente. Em toda a volta, casas de madeira em palafitas entronadas no meio dos campos de arroz meticulosamente ordenados. Rapidamente assoberbados pelo esplendor que nos rodeia, somos embalados pelas ondas do nosso barco que parece não querer parar. Até aproveitámos a oportunidade para conversar com o vento enquanto a Golden Shwedagon Pagoda, (considerada a mais bonita do mundo), a uns poucos quilómetros de distância, parece encher de brilho a enublada Yangon. Neste santuário de espiritualidade Budista, toneladas de folhas de ouro cobrem cada cm2 das stupas e de incontáveis estatuetas sagradas. Na serenidade dos templos, monges de todas as idades comungam com os espíritos. Cabeças rapadas, lábios apertados, pés descalços, vestidos com um simples vestido mandarim, como se fugidos de outra era, ensinam-nos inconscientemente como reconciliar-nos com o tempo perdido, com o passado e com o presente. Guiam-nos pela voz da sabedoria; a nós, homens com pressa, sempre com pressa.
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Korahn Gayle - Switch Heelflip
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Se Myanmar é famosa pela sua magnífica herança arquitetónica, lugares de culto únicos ou pela sua majestática natureza, já não é tão famosa no que respeita à cultura de skate. A prática de skate parece-nos, na verdade, bastante embrionária. Como de costume durante a preparação deste tipo de viagem, uma das principais preocupações é a existência de hipotético material urbano skatável. Felizmente tivemos a valiosa assistência de uns praticantes indígenas, Yé Wint Ko e um certo Ali Drummond. Este último, exilado de Inglaterra, que por sorte veio estabelecer-se em Yangon em 2009 e decidiu ficar. Aí aprendeu a língua, familiarizou-se com um estilo de vida diferente e conheceu alguns skaters locais com quem partilha a mesma paixão. Como ele explica: “Contrariamente ao que se pensa, o skate surgiu na Birmânia nos anos 90, com um pequeno grupo de praticantes. Nessa altura, antes do advento da internet e por causa do isolamento do país do mundo ocidental, era quase impossível conseguir equipamento decente, boas tábuas, revistas ou vídeos. A cena do skate cá não cresce e é obrigada a evoluir sozinha. Os locais até inventaram os nomes para as manobras que não sabiam. Assim um Ollie aqui tornou-se um “Golfinho” (por causa do seu movimento
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fora da água) ...” o Ali apresentar-nos-ia à sua cidade adotada e aos poucos spots nela escondidos. Durante as nossas sessions nas ruas eram às dúzias os transeuntes que ficavam a olhar para nós como “burros para um palácio”. Por vezes juntava-se tanta gente que até causava perturbações no trânsito. Alguns dias antes da nossa chegada a Yangon, um novo skate parque seria inaugurado. Uma iniciativa promovida pelo Ali e pelo seu grupo de amigos skaters, juntamente com a ajuda da organização internacional Skate Life, responsável pela construção de parques na Bolívia, India e Jordânia. Depois de longas negociações com o presidente da Câmara da cidade, finalmente foi-lhes entregue um pedaço de terreno para iniciarem a construção. No entanto esse será o único apoio que o Estado lhes dá, todos os fundos necessários chegaram por meio de doações independentes. O Ali está convencido que este skate parque é o sonho de todos os skaters locais tornado realidade e que irá ser importantíssimo em termos de oportunidades para as camadas mais jovens.
Matt Debauche - Fs Feeble
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Durante estas semanas por terras da Birmânia fomos guiados pela graciosidade deste país e pela sua beleza rara. Se ainda tem muitas feridas por sarar, agora tem o destino nas suas mãos. Acabados de escapar de uma ditadura feroz e ainda não engolidos pelo capitalismo selvagem, cabe aos seus habitantes escrever um novo capítulo cheio de esperança, como os nossos amigos skaters de Yangon. Como diz um famoso provérbio budista “é quando deixamos de ficar cegos pelo desejo, ganância e interesse, que descobrimos o acesso à serenidade”. Patrick Rogalski - Backside Flip
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Laser Barcelona
A Laser foi fundada em 2010 em Barcelona, inspirada em sítios do nosso quotidiano e lugares ‘esquecidos’ da cidade, no mar mediterrâneo e nas montanhas de Montserrat, na facilidade que temos em mover-nos de skate e de bicicleta, na arte e na música em geral. É uma marca independente, que reflete o nosso estilo de vida e na qual pusemos toda a nossa energia e dedicação. Começámos a estampar t-shirts e sweats e hoje em dia produzimos tudo em pequenas fábricas por Portugal e Barcelona, com ‘custom fits’, tecidos técnicos e de qualidade, para que qualquer pessoa de qualquer idade possa usar uma peça clássica e duradoura. Continuamos a estampar no nosso estúdio que está por debaixo da loja, que abrimos há dois anos e vendemos em lojas por toda a Europa, EUA e Japão. Em Portugal podem encontrar-nos na Collective em Trofa e online em www.laser-bcn.com Raquel Fialho
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