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2001 – Gesiel Rocha de Araújo

Gesiel Rocha de Araújo

Formado em abril de 2002. Sua turma era originalmente prevista para terminar em 2001, mas por conta de duas greves que ocorreram durante a graduação, houve esse atraso no término do curso. Foi repórter especial e editor de economia do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, trabalhando como assessor de imprensa parlamentar durante o mesmo período. Atualmente desenvolve comunicação interna na Vale em Corumbá.

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Onde trabalha atualmente? Teve experi-

“ências em veículos de comunicação? Minha experiência com veículos de comunicação, mesmo após mais de doze anos de formado, é muito limitada. Eu fiquei três meses trabalhando em uma revista impressa de Campo Grande, a Metrópole, que não existe mais. E, depois, quatro meses nas funções de repórter especial e editor de economia, mundo e agronegócios do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul. O restante da minha vida profissional foi dividida em trabalho na comunicação interna do Governo do Estado, e assessor de imprensa parlamentar, na Assembléia Legislativa. Depois fiquei mais de dois anos morando na Europa, não exercendo atividade de Jornalismo. Quando eu voltei para MS, trabalhei no jornal e logo em seguida assumi a função de chefe de comunicação da Prefeitura de Corumbá, fazendo comunicação institucional em órgão público. Atualmente, trabalho na mineradora Vale, em Corumbá, ocupando o cargo de relações institucionais para o MS. Eu me divido entre Corumbá e Campo Grande, fazendo relacionamento institucional da empresa nos dois municípios. Eu assumi a função em que estou hoje, fazendo relacionamento institucional sem nenhuma conexão, portanto, com veículos de comunicação, ou mesmo com qualquer prática jornalística. Digo isso porque não considero o período em que estive em assessorias de imprensa ou comunicação como uma prática jornalística.

Foto: Arquivo pessoal

Eu sou da opinião de que as assessorias de comunicação ou imprensa não são Jornalismo. São funções e profissões perfeitamente exercidas por jornalistas. Eu entendo que são os profissionais mais qualificados para exercer essas funções, porém não as considero Jornalismo.

O que te motivou a fazer Jornalismo?

Eu acredito que é o que motiva a maior parte dos jornalistas, das pessoas que gostam e fazem Jornalismo. Sempre gostei muito de escrever, tive muita facilidade, uma espécie de dom natural para escrever. Uma paixão muito grande pela possibilidade de contar histórias de pessoas simples e humildes, principalmente. Também, uma vontade de contribuir com a sociedade em termos de tentar mostrar aquilo que eu via que estava errado. E também um desejo intrínseco de viajar, de conhecer outros cenários, outras culturas, outros ambientes em geral. Gostando de escrever, gostando de experimentar novas culturas, enfim, adquirir sempre mais conhecimento sobre coisas diferentes e não fazer a mesma coisa sempre. Essa, pelo menos, era a ideia inicial. E, também, gostando muito de contar histórias. Eu, na verdade, sempre quis ser jornalista. Com dez, onze anos de idade, me lembro que comecei a pensar em exercer uma profissão e já tinha fascínio pela ideia. Acreditava ser um profissional que tinha toda a condição de conhecer coisas novas do mundo. Infelizmente, durante o curso, principalmente nos últimos anos, vamos tomando mais consciência do que é a profissão, do que é a função de jornalista. Vamos observando que não é bem daquele jeito que imaginávamos. E essa noção vem quando se forma e pensa, “e agora? O que eu vou fazer para ganhar a vida?” E vê que ser jornalista, na verdade, é muito mais sofrido e muito menos possibilitador de experiências diversificadas do que imaginávamos. Por isso, nunca tive a coragem e disposição de exercer o Jornalismo plenamente.

Como era a estrutura física do curso?

O que eu me lembro é que foram quatro anos com muita transformação. Nós tivemos anos bons, anos ruins, anos com péssima estrutura, anos com boa estrutura. Então foi muito variado. Haviam anos que nós tínhamos três, quatro professores doutores excelentes, com grande bagagem. E anos que nós tínhamos quase só professores substitutos recém formados, praticamente na mesma condição que nós. Iniciamos o curso com uma estrutura de certa forma bastante deteriorada, bastante defasada, praticamente sem computadores nas redações. Embora houvesse chegado uma ilha de edição de vídeo recentemente, mas

ainda era tudo muito arcaico, ultrapassado, porque já se usava o digital e até então tudo era analógico. Mas, de um modo geral, tínhamos uma boa estrutura de pessoal, porque, pelo menos no primeiro ano, nós tivemos bons professores de muito gabarito teórico, intelectual. Já no nosso segundo ano, ganhamos um laboratório de informática novinho, uma redação nova. Mas o nível dos nossos professores caiu demais. Nós passamos a ter muitos professores substitutos. Vários professores do curso se afastaram para fazer doutorado ou até foram transferidos. E nós perdemos muito em qualidade da docência do curso. Nosso terceiro ano, um ano inteiramente prático, com muito laboratório de rádio, de TV e redação. O trabalho com o Projétil, com uma equipe bem entrosada de docentes, formada pelos professores Edson Silva, Mario Ramires e Marcos Morandi, que embora substituto, teve uma boa participação, sobretudo na área de redação para o Projétil. Nós tivemos uma grande condição de aprender muito. Tivemos a possibilidade de aprender muito da prática jornalística. Foi um ano pesado, um ano puxado. A estrutura, embora não fosse tão boa, nos permitiu aprender muito daquilo que precisava aprender para ir para o mercado. Nós tivemos um professor excelente de rádio, chamado Robson Ramos, que era substituto. Era uma pessoa com muita experiência na área, com muita condição de ensino e que nos ensinou coisas fantásticas na área de Radiojornalismo. No quarto ano, nós voltamos a ter uma situação semelhante a do segundo ano. As matérias voltaram a ser mais teóricas, muita coisa segmentada, como Jornalismo Empresarial, Comunicação Rural, Assessoria de Imprensa, enfim. Muitas dessas matérias eram dadas por professores substitutos. Não havia muita prática. E a maioria de nós já estava com a cabeça no projeto experimental, já estava trabalhando em alguma coisa, naquele clima de saída da faculdade. Mas, mesmo assim, ainda conseguimos fazer um bom ano, fechar o curso de uma forma muito interessante, muito integrada, muito unida e com um grande aprendizado. Portanto, em termos de técnica, sempre achei muito tranquilo e acho até hoje o aprendizado e exercício do Jornalismo. É triste saber que basicamente a única coisa que o jornalista precisa conhecer do ponto de vista técnico, que é escrever bem, a maioria ainda não sabe. E ter senso de cuidado, de apuro, de qualificação, de busca por conhecer, por saber melhor, por estar sempre se qualificando.

Quais professores te deram aula?

Quanto aos professores, não vou me lembrar de todos, mas alguns marcaram. No primeiro ano: Ana Lúcia Valente. No segundo ano, nós já

tivemos o Edson Silva, Mario Ramires, Jorge Ijuim, Márcio Licerre, Marcos Morandi, que inclusive deu nome à nossa turma. No quarto ano, tivemos professores como Márcia Chiad, Monique Klein. Teria que ver os arquivos antigos para lembrar de outros, porque já são entre dezesseis e doze anos. Eu fui orientado pelo professor Edson Silva no projeto de conclusão de curso. Um professor muito importante que tivemos, que foi meu co-orientador de projeto, o Mauro Silveira, ficou bastante marcado na história do curso.

Como foi sua experiência na faculdade?

O curso de Jornalismo nunca foi um curso que exigiu muito, em comparação com outras profissões, como as Engenharias, Medicina, Direito, enfim. Foi um curso muito tranquilo, relativamente muito fácil. Eu tive a possibilidade de vivenciar muita coisa. Pude fazer muitas disciplinas extracurriculares. E por três anos, iniciação científica. Participar de projetos de extensão. Participar de inúmeros congressos e eventos diversos, tanto na Universidade como fora. Tive a oportunidade de participar do Centro Acadêmico. Tive uma vivência universitária realmente muito intensa.

Quais foram os desafios para se aprender Jornalismo?

O Jornalismo é uma profissão que, do ponto de vista técnico mesmo, exige muito pouco. Eu digo que a obrigação do jornalista é escrever bem, é saber daquilo que está escrevendo e seguir algumas regras muito elementares. Ouvir os dois lados, só dizer aquilo que realmente foi checado e apurado, ter todos os cuidados com o tratamento da informação. Você há de convir comigo que não é nada comparado a construir uma ponte, um edifício ou operar o peito ou a cabeça de uma pessoa, ou mesmo levar uma peça judicial, uma peça jurídica para um tribunal, coisas assim. Não menosprezando a nossa profissão, mas vamos ser honestos que não é lá grande coisa. Para mim, aprender Jornalismo, que já gostava de escrever e gostava de contar histórias, não foi muito desafiador. Eu entendo que ser ético é fundamental para ser um bom profissional, para se manter íntegro consigo mesmo. E esse talvez seja o principal desafio, principalmente no que é o desafio seguinte, participar desse mercado que se tornou extremamente prostituído, destituído de qualquer noção de profissionalismo de valorização. Porque, por mais que seja um curso relativamente fácil, que tenha uma demanda técnica muito inferior às demais profissões, está extremamente desvalorizado. O profissional de Jornalismo hoje, é visto como quase nada, já que qualquer um pode exercê-lo. E não estou dizendo que isso tem a ver com a exigência do diploma. Para quem realmente quer ser jornalista, quer exercer essa profissão

no dia-a-dia e quer se manter ético, é realmente um grande desafio, porque essas coisas dificilmente andam juntas. A situação em que nos colocaram é de horas exaustivas de trabalho, de um estresse sobrenatural, tanto que o Jornalismo é constantemente colocado nas listas das profissões mais estressantes do mundo. Tem a remuneração mais vergonhosa e pífia que existe para uma profissão de nível superior. Tanto que qualquer profissão, hoje, de nível superior, tem um piso maior e uma remuneração média para recém formados e, principalmente, para profissionais seniores, muito maiores do que o Jornalismo. E, se você me perguntasse se eu faria Jornalismo de novo, eu diria imediatamente: “jamais!” Porque foi uma profissão na qual eu realmente não me realizei, não me encontrei, não tenho nenhum aspecto que eu possa dizer que valeu a pena. Estou falando em termos de Jornalismo propriamente dito, não de outras possibilidades que a Comunicação Social oferece. Eu entendo que o jornalista que está disposto a sair da faculdade e se manter como profissional, para trabalhar nos veículos convencionais ou mesmo nos novos sites, blogs, seja lá o que for, ele está fadado a uma vida de sofrimento e privações. Infelizmente, tenho que dizer isso para ser honesto. Você não tem vida pessoal, você não tem tempo para si mesmo, você não tem tempo para lazer, não tem condição de viajar, que é a coisa mais espetacular do mundo. Eu diria “fez Jornalismo, escolheu a Comunicação, então busque os caminhos alternativos que existem”. Eu acho que ter a noção da ética no exercício da profissão é muito complicado, principalmente do ponto de vista dos veículos que nós temos no nosso Estado, e, se formos olhar de forma mais ampla, em todo Brasil e em todo o mundo. Você, por exemplo, hoje, se sujeitar a escrever para veículos que pura e simplesmente têm o propósito de defender os interesses de seu proprietário, como é o caso do nosso maior jornal do Estado. É uma situação muito complicada e que coloca muito conflito para aqueles que exercem o Jornalismo de fato. Muitos fatos marcaram a minha passagem pela faculdade, é claro. Acho que o que mais chama a atenção foi a união da minha turma. Uma turma que até hoje se comunica constantemente por todos os meios eletrônicos possíveis. Que se reúne para se confraternizar, para comemorar as datas importantes do curso. E que se mantém muito conectada. É uma turma realmente agradável, gostosa, harmoniosa. Claro que quebrava muito pau discutindo questões de cunho jornalístico, teórico, político também. Mas

”que sabia se respeitar e conviver de uma forma gostosa, muito harmoniosa e unida.

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