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2000 – Juliana da Costa Feliz

Juliana da Costa Feliz

Formada em 2000, na época em que o vestibular era quatro dias de provas e concorridíssimo. Mestre em Estudos de Linguagem pela UFMS. Acaba de se graduar em Letras pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro (UNESA). Feliz é professora do curso de Publicidade e Propaganda e coordena a pós-graduação em Assessoria de Comunicação da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande.

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Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

“O que te motivou a fazer Jornalismo? Eu escolhi Jornalismo porque eu queria defender direitos sociais, direitos humanos. Tinha pensado em fazer Direito, mas eu estaria defendendo mais direitos individuais que coletivos. Por isso optei por Jornalismo e por eu gostar de escrever e de ler. Sempre tive mais o talento para escrita desde o tempo da escola. Eu não tinha talento para outras coisas. Eu vivi muito o curso, participava e organizava eventos, estava envolvida com os professores, sempre envolvida nos projetos, era de ficar o dia inteiro na Universidade. Me formei e fui trabalhar na Secretaria de Reestruturação e Reajuste, onde fazia um boletim informativo para os funcionários públicos. Trabalhei seis meses na Gazeta Mercantil. Morei na Inglaterra com meu marido. Quando voltei, retornei para o mesmo trabalho de antes e comecei a trabalhar mais com assessoria. Montamos uma cooperativa de assessoria de imprensa, a Comunicativa, que reuniu vários jornalistas, publicitários, pessoas na área de eventos, e funcionou super legal, durou 2 anos. Começamos a atender bons clientes na cidade, até porque não tinha ainda muitas assessorias, mais ou menos em 2002. Trabalhei na Gira Solidário, que é uma organização que trabalha na área dos direitos das crianças e adolescentes. Era a jornalista responsável, trabalhava com uma equipe. Fiquei lá por 10 anos. Comecei a dar aula em 2006 na UFMS, como substituta, e em 2008 fui voluntária no primeiro semestre. Na Estácio, comecei em 2008. Tinha

feito uma especialização em Imagem e Som. Em 2007, ingressei no Mestrado no curso de Letras, em Linguagem e Semiótica, ambos na UFMS. Fiz minha pesquisa falando de violência sexual contra a mulher no Jornal Primeira Hora, de matérias de estupro relacionadas à sessão “Garota da Hora”. Trabalhei em vários lugares, mas tive uma experiência em jornal impresso, que eu fiquei dois dias. O editor pediu para eu copiar umas matérias de outros sites para pôr no jornal. Não achei legal e no outro dia pedi minha demissão. Quando eu estava fazendo o curso de Jornalismo, imaginei que fosse trabalhar em televisão, em jornal, mas a minha vida foi caminhando para outros lados e aceitei. Hoje vejo que foi melhor para mim.

Como era a estrutura física da UFMS na sua época de aluna? Como era a redação, os laboratórios?

Quando eu entrei, Comunicação e Artes eram em um departamento só. O curso ficava onde era o Projele hoje. Tínhamos aula ali e na unidade 6. O curso nunca tinha o espaço só dele, ficava espalhado, um pouco aqui e um pouco ali. Eu lembro que tínhamos uma sala bem fechada que era chamada de BatCaverna, dividida com o espaço de fotografia. A gente tinha câmeras Pentax 10, câmeras manuais. Tinha que saber trabalhar com obturador, fotografávamos em preto e branco e fazíamos a revelação manual. As matérias do Projétil eram com essas fotografias. Hoje está tudo muito fácil para os alunos. A gente fazia o gabarito do Projétil. Os computadores tinham acabado de chegar e ainda tinham máquinas de escrever. A redação era onde é hoje o laboratório do Jornalismo Científico. Tinham computadores bem antigos. Ao lado, havia uma salinha menor que era do Licerre, e as máquinas de escrever ainda ficavam ali. O estúdio de TV não existia. Quando eu estava fazendo o curso, estava na fase de terminar o laboratório de TV, que é o estúdio que tem hoje. Na época, era algo incrível, que não sonhávamos. A sala chamada Maria Francisca, se não me engano era o estúdio de TV, muito improvisado, para poder trabalhar. O estúdio de rádio era bem pequenininho, ficava em frente à sala Maria Francisca, que era um cubículo. Eu participei da Rádio Alternativa, junto com o Professor Robson Ramos. A gente dividia a turma em equipes, fazia um resumo das notícias mais importantes do dia e lia. Trabalhávamos o dia inteiro e depois ainda íamos para a aula. O Projétil, a minha turma fez uma coisa bem diferente: fizemos o primeiro Projétil colorido e semanal, conseguimos fazer 4 em um mês. Minha turma era muito boa. A parte de TV era o professor Cancio. Ele fazia os

telejornais conosco. No final do ano, tinha exibição de todos os telejornais produzidos. Era tipo um evento. Eu não vejo que o curso tenha faltado alguma coisa para mim, vivi tão intensamente, estudei muito, até porque eu queria entrar. Foi uma conquista dar aula com os professores. Sempre vou sentir que nunca estarei à altura do curso de tão importante que ele foi.

Como era a grade curricular? Quais professores davam aula? Eu lembro da professora de Teorias da Comunicação, a Desiree Cipriano. O Oswaldo Coimbra, a professora Ruth Vianna, que estava fazendo doutorado fora, ela deu aula de Comunicação Rural. Fomos para a base do Pantanal umas quatro vezes. Montamos uma rádio na base da Universidade. Lembro do professor Ramires, de Edição. Jorge Ijuim, professor de Comunicação Comparada. Ele tirava foto de todos os alunos, um por um. Tinha uma chamada que era ficha do aluno. Fichava todo mundo, anotava se entregou trabalho, as notas, se o aluno faltava. Para acompanhar o desenvolvimento de cada um, ele tirava uma foto da sala inteira e recortava essas fotos e fazia essas fichas. Tinha o professor Morandi, substituto que deu aula de Assessoria para mim. De Filosofia foi a Ana Lucia Valente. A professora de Psicologia, Sônia Urt, hoje é do mestrado em Educação. O professor de inglês era o professor Kurien, que era indiano. A grade era totalmente diferente do que é hoje, era anual. No primeiro ano, eram as disciplinas mais básicas das Humanas e, no terceiro ano, já vinham as práticas. As aulas de Educação Física eram para os alunos não ficarem só estudando, aí eles praticavam um esporte. Eu fiz natação durante um ano. De optativa tinha Produção Audiovisual com o professor Hélio. Tivemos uma vivência das matérias que fizemos, coisas que tinham antigamente que hoje eu vejo que se perderam. Não um texto só voltado para o lead, para o mercado. As saídas que os professores nos proporcionavam de ir para aldeia, para comunidade quilombola, isso foi importante. É o que nos diferencia dos demais. Porque se não tiver isso, o que nos torna diferente dos alunos das outras instituições? A UFMS está formando pessoas que pensam, que questionam, que estão mais voltadas ao lado acadêmico. O curso já formou vários profissionais que hoje são professores de Jornalismo em vários estados do Brasil. Depois que caiu o diploma, teve uma queda vertiginosa. Muitas Universidades particulares fecharam seus cursos porque não conseguiram mais formar turma. Uma coisa que eu vejo se perdendo é o jornalismo humanizado, voltado para as questões sociais. Mas vejo que um jornalista que se forma em um curso tão antigo tem que

aprender o Jornalismo tradicional. Sentar com a fonte olho no olho na hora de entrevistar.

Teve alguma coisa inusitada ou fato importante da sua época de acadêmica?

Meu TCC foi algo muito importante na minha vida. Foi sobre os catadores de papel da Coopervida, que montaram uma cooperativa. Foi o primeiro TCC que quebrou o protocolo da história do curso de Jornalismo, onde os professores não saíram para dar nota, deram ali mesmo. Nós fizemos em quatro alunas porque era multimídia. Fizemos um site com entrevistas perfil dos catadores. Na época, quase ninguém fazia isso. Fizemos um documentário de dez minutos, um material alternativo de divulgação deles, spots de rádio e mais a monografia, trabalhando a questão sociológica dos catadores, dessa mudança de você estar excluído da sociedade e depois fazer parte de uma sociedade organizada como é a cooperativa. O professor Licerre foi o orientador.

Quais foram os maiores desafios para aprender o Jornalismo?

A gente fazia com o que tinha, se virava para fazer, não era empecilho. Não ficava dependendo de nada do curso. Eu lembro que na época que a TVU começou, ela tomou conta e isso foi muito ruim. Eles chamavam alunos de outros cursos para apresentar programas, gente de fora ao invés de dar o espaço para nós. Virou uma TV da reitoria. Víamos a falta de qualidade dos programas e não tinha espaço, tinha que brigar para poder fazer um trabalho para pôr na TV. Rádio e Projétil, fazíamos com o que tínhamos, comprávamos o papel fotográfico porque a Universidade não dava. Câmera, eu também não aguentava esperar para emprestar. Não gostava de ficar dependendo das coisas que a Universidade dava porque era tudo muito ruim. Hoje vocês estão no paraíso. Não é o melhor que podia ser, mas é muito mais do que nós tínhamos.

Quando voltou para UFMS, quais foram as maiores mudanças que te surpreenderam?

Em 2006 e 2007, eu já achei que tinha melhorado bastante coisa, mas na parte de infraestrutura. A grade, eu não acho que está boa, era melhor. Agora é amontoado, misturado. Já tinha base, preparação, era primeiro o Projétil e depois TV e rádio. Já tinha trabalhado Técnicas de Reportagem e Entrevista. Ia para a prática sabendo fazer isso. Por ter virado semestral, não sei se funciona. Tínhamos um tempo maior, e era feito com mais qualidade. Hoje, as coisas são feitas com outro ritmo. Demoramos a ter acesso à

internet na redação, hoje tudo entra, na minha época não era assim. Ali você estava trabalhando com o texto. Vejo que o curso desenvolveu em várias áreas. Fico triste por outras coisas, que considero que Universidades particulares estão à frente. Professor não vai, por qualquer motivo falta. Eu acho que isso perde em qualidade. Aqui temos uma exigência muito grande. Acho que minha turma, em 97, tinha um nível de cobrança muito maior. Até qualidade de TCC. Eu participei de bancas e vi que caiu muito, trabalhos superficiais, sem base e profundidade teórica. Não sei se é a safra de alunos que está vindo ou professores que não cobram. Inclusive matéria do Projétil, matérias fracas, sem contexto social, político, matérias de programas de variedades. Me deixou triste de pensar “nossa, esse é o curso que eu sai?!”

Você percebe a diferença de perfil do acadêmico atualmente?

Os alunos da minha época eram muito mais militantes ou queriam muito a profissão, queriam transformar a sociedade, não era discurso, eles acreditavam na profissão. Hoje, não sei se é a forma de ingresso, o Enem, que o aluno queria fazer Direito, mas a pontuação não dava e acabou fazendo Jornalismo. Não está ali pelo desejo de ser jornalista. Tem exceções. Na minha turma, entraram 40 e formaram 36. O curso de jornalismo era um curso de menor evasão. E porque agora formam 20? Onde está o problema? Será que é a forma que estão entrando? É o desinteresse pela profissão? No vestibular, você tinha uma única opção. Hoje, tem alunos que dizem “eu não gosto de escrever, não gosto de ler”. Como você vai fazer Jornalismo? Tem alunos brilhantes, mas tem alunos que você pensa que está ocupando a vaga pública.

Como foi receber a notícia que o diploma tinha caído?

Ah, foi horrível. Eu era coordenadora do curso aqui na Estácio. Em 2008, não abriu mais turma aqui, vinham cinco ou seis alunos interessados. Migravam para Publicidade, e os que queriam Jornalismo iam embora. Tem aluno que queria fazer Jornalismo e acabou mudando a área. Foi um golpe não só contra a profissão, mas contra a sociedade inteira. E ainda estamos colhendo fruto ruim disso.

O que você trouxe da faculdade para sua profissão?

Acrescentou muito. Eu tinha uma visão um pouco romântica do Jornalismo, hoje menos. O que me marcou foi a vivência com professores antigos, com histórias de vários lugares que vieram. Mas era um curso que tinha pensamento ideológico. Eles acrescentaram muito como pessoa e como profissional. Coisas ruins aconteceram, mas eu trouxe coisas boas. Respeito e

admiro os professores que tive. Ijuim, Licerre, Ramires, Edson, Coimbra, marcaram muito e, para mim, são o coração do curso. Sei que tem grandes profissionais entrando. Eu não queria que essa história se perdesse no tempo, que não se lembrasse no futuro. Eles foram o início. A memória é a base, o alicerce do que o curso é hoje. Cada um põe seu tijolinho na história. Esses precursores e até professores que eu não conheci, que vieram depois, têm seu valor e isso não pode ser esquecido. Se isso existe hoje é

”graças a eles. Se não tivesse tido esse início, esse desejo de fazer um curso de Jornalismo no MS, os jornalistas eram de fora, os professores eram de fora. Imagina se até hoje estivéssemos importando os profissionais.

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